KLAUBER CRISTOFEN
PIRES
Prestem
atenção na imagem acima. Foi extraída da Folha de São Paulo. Pois, sabem os
leitores qual nome foi atribuído a esta foto pela editoria daquele jornal?
“intolerância1.jpg”! Trata-se da seleção brasileira bicampeã olímpica de vôlei,
rezando em agradecimento a Deus
pela vitória merecida e suada. Falando sério: elas merecem
isto?
Tendo sido movido pela curiosidade ao ter lido o artigo “Já Notaram?”, do filósofo Olavo de Carvalho, fui lá conferir o link que hospeda o texto sob o título “Brasil é ouro em intolerância“, de autoria do jornalista André Barcinski, que acusa os atletas brasileiros de pregarem a intolerância por rezarem a Deus, operando uma mal-disfarçada inversão da defesa da liberdade religiosa justamente com a intenção de tolhê-la.
A começar, o “tolerante” invoca a condição do estado
laico do estado brasileiro e a constitucional liberdade religiosa para
questionar se por acaso “alguém perguntou a todas as atletas e aos membros da
comissão técnica se gostariam de rezar o “Pai Nosso”?” Eis aí uma boa pergunta!
Aliás, justamente por ser tão procedente, ele mesmo, como jornalista, deveria
tê-la feito antes de sair por aí indagando sobre a hipotética heterogeneidade do
grupo com base unicamente na sua verve especulativa.
Se, estatisticamente, somos
quase 90% de cristãos em nossa população, por que tanto alarde ou preocupação
com o remotamente possível fato de haver algum ateu ou budista no grupo dos
atletas do vôlei feminino que de per se não se importa com a oração
grupal?
Ora, jamais conheci algum ateu que não deixasse muito
clara a sua posição. Duvido que um ateu se sujeitaria a participar da oração
grupal! Desta forma, não se mostra um tanto suspeito que o “tolerante”
jornalista da Folha saia por aí defendendo os direitos civis dos próprios
titulares que, se não forem meramente
os fantasmas da sua ideologia laicista, preferem não reivindicá-los?
Mas, esperem aí? Porque o “tolerante” recorreu ao
argumento de que o Brasil é um “estado laico? Por acaso já vivemos todos em um
regime socialista, isto é, somos todos funcionários públicos sob as ordens de
algum “grande timoneiro”? Ora, uma coisa é o estado ser laico, mas nem eu nem os
atletas estamos a serviço dele, justamente porque dispomos da liberdade
religiosa!
No afã de atribuir aos atletas brasileiros a pecha de
intolerantes, o “tolerante’ omite do público que eles estão rezando para si
mesmos, no pleno gozo de suas liberdades civis, entre elas, a liberdade de
expressão, a liberdade de associação e a liberdade religiosa! Como podem, pois,
ofender a religiosidade ou a irreligiosidade alheia?
Em um dos parágrafos, o “tolerante” aplaude a Fifa e a
Dinamarca por terem feito reclamações contra atletas brasileiros que demonstram
em público suas convicções religiosas. Note-se, contudo, como nem uma, nem
outra, esta última vítima constante de atos de verdadeira e violenta
intolerância por parte da crescente comunidade muçulmana imigrante, saíram em
protesto pelo fato dos muçulmanos rezarem para Alá ou portarem suas vestes
típicas. Parece muito claro, então, que o discurso da intolerância só vale para
cristãos.
Agora vejamos este trecho do Sr Barcinski: “Liberdade
religiosa só existe quando não se mistura religião a nada. Nem à política, nem à
educação, nem à ciência e nem ao esporte.”. Como diz um motejo popular aqui
no Pará: “- Tá, cheiroso!”.
Não bastante, peço a atenção dos leitores para avaliarmos
o primor de candidez de outro lídimo “tolerante”, o Sr. Daniel Sottomaior,
presidente da ATEA (Associação Brasileira de Ateus e
Agnósticos).
Não há absolutamente uma linha no seu artigo intitulado
“Oração da Vitória” que não espelhe a sua visão napoleonicamente
esquizofrênica.
Porém, antes de discorrer sobre o seu texto, eu lançaria
a pergunta a quem quiser responder: Se alguém não
acredita em Deus, por que necessita agremiar-se em uma associação com a
paradoxal finalidade de afirmar… uma negação?
Senão, vejamos: imaginem por um curto lapso que eu seja
vegetariano, e um grupo de amigos combina uma confraternização em uma
churrascaria. Eu vou, sirvo-me apenas dos vegetais no buffet, e todos curtimos
aquele maravilhoso encontro. Afinal, no quê os amigos preferirem comer carne
pode me ofender? Ou ainda: não sou ligado em futebol, mas os meus amigos
conversam sobre futebol e usam as camisas dos seus times prediletos. Em quê isto
pode afetar o meu desprezo por este esporte?
Na verdade, em
ambas as situações, eu somente poderia ficar ofendido por ter as minhas
pretensões totalitaristas contidas: eu não quero comer carne, e não quero que
ninguém coma! Eu não gosto de futebol, e também ninguém, por meus exclusivos
critérios, deve gostar!
O sujeito começa por atribuir a Deus de “um hipotético
sujeito poderoso o suficiente para fraudar uma competição olímpica” e pergunta:
“merece ser enaltecido publicamente? Por acaso, a competição foi fraudada? Pior
ainda: Será que as atletas do vôlei, bicampeãs olímpicas, desejariam
honestamente que Deus fraudasse as competições para dar-lhes a vitória? Pelo
visto, tal como o jornalista Barcinski, o Sr Sottomaior considerou suficientes
suas próprias convicções pessoais antes de perguntar a
elas.
Eu mesmo não sei o que cada uma diria, mas como cristão,
poderia responder ao militante ateu da seguinte forma: que Deus não fraudou as
dores de Jesus nos seus momentos de agonia, mas deu-lhe forças espirituais para
suportar sua provação. Assim, ao agradecer pela vitória, estou agradecendo por
outras coisas que me fazem sentido: estar vivo, ter saúde, ter tido
oportunidade, autoconfiança, perseverança, disciplina, coragem, paciência,
liderança…
O trecho em seguinte merece um trato
especial:
“Os problemas começam quando a prática religiosa se
torna coercitiva, como é a tradição das religiões abraâmicas. Os membros da
seleção de vôlei poderiam ter realizado seus rituais em local mais apropriado. É
de se imaginar que uma entidade infinita e onibenevolente não se importaria em
esperar 15 minutos até que o time saísse da
quadra”.
Quem, Sr Sottomaior, das atletas do vôlei e de toda a
equipe, foi coagido a rezar? Que ramo das religiões abraâmicas obriga alguém a
aderir à prática religiosa? Posso até concordar que entre os muçulmanos assim se
dê. Mas quanto ao Brasil e a todos os países ocidentais de formação cristã, bem
como Israel? Então eu lhe pergunto: Se ou no dia em que a Atea tiver poderes
para dispor sobre a liberdade religiosa alheia, poderemos usufruí-la
plenamente?
Ademais, é fato que Deus não se importaria em esperar
quinze minutos, mas qual o problema de terem feito sua oração naquele instante?
Acaso nossas vidas devem ser pautadas pelas suas
convicções particulares? Quem sabe,os cristãos deveriam enviar à Atea ou
ao SrBarcinski as planilhas com as rotinas de suas vidas para serem aprovadas
previamente…
Se até aqui o Sr. Sottomaior ainda havia quebrado seu
próprio recorde de encaixar o mundo no buraco do próprio umbigo, leiam esta:
“Com a sua atitude, a seleção olímpica do país deixa de representar a mim e aos
milhões de brasileiros não cristãos”. Arrego! Sob o mesmo raciocínio,
strictu sensu, as atletas do vôlei são mulheres, e por isto, também não
me representam. Mas esperem aí: chutando que as mulheres brasileiras componham
50% da população, então as nossas magníficas bicampeãs representam o Brasil
muitíssimo mais como cristãs (> 90%)! Ou representariam mais como
estereótipos do que o ateísta do texto em comento determinasse que fossem, a seu
bel grado?
Só pra finalizar: o sujeito ainda coloca em questão a
seguinte argumentação: “Além disso, o Comitê Olímpico Brasileiro é
financiado por recursos públicos –2% da arrecadação bruta das loterias
federais”.Sr Sottomaior, eu lhe pergunto novamente: “- e daí?” O Estado
brasileiro patrocina oficial e ostensivamente invasores de terras, o aborto, o
gayzismo, o desarmamentismo, o clientelismo e quiçá, a sua Atea, e nada disso a mim representa ou a muitos mais milhões de
brasileiros. Elas, as meninas do vôlei, fizeram muito jus ao patrocínio
que receberam, mas a oração, como nem poderia deixar de ser, foi um ato privado.
Deixe os cristãos exerceram a sua religiosidade com a
liberdade que a Constituição nos garante, assim como você tem a sua de ser
ateu.
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