quinta-feira, 31 de março de 2022

Liturgia Diária - Escutar para crer.

 PE. JOÃO CARLOS - MEDITAÇÃO: A VERDADE VAI LIBERTAR VOCÊS

Leitura (Êxodo 32,7-14)

Leitura do livro do Êxodo.

Naqueles dias, 32 7 o Senhor disse a Moisés: “Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito.

8 Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito.

9 Vejo", continuou o Senhor, "que esse povo tem a cabeça dura.

10 Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande nação.”

11 Moisés tentou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo-lhe: “Por que, Senhor, se inflama a vossa ira contra o vosso povo que tirastes do Egito com o vosso poder e à força de vossa mão?

12 Não é bom que digam os egípcios: ‘com um mau desígnio os levou, para matá-los nas montanhas e suprimi-los da face da terra!’ Aplaque-se vosso furor, e abandonai vossa decisão de fazer mal ao vosso povo.

13 Lembrai-vos de Abraão, de Isaac e de Israel, vossos servos, aos quais jurastes por vós mesmo de tornar sua posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e de dar aos seus descendentes essa terra de que falastes, como uma herança eterna.”

14 E o Senhor se arrependeu das ameaças que tinha proferido contra o seu povo.

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 105/106

Lembrai-vos de nós, ó Senhor,

segundo o amor para com vosso povo!

Construíram um bezerro no Horeb

e adoraram uma estátua de metal;

eles trocaram o seu Deus, que é sua glória,

pela imagem de um boi que come feno.

 

Esqueceram-se do Deus que os salvara,

que fizera maravilhas no Egito;

no país de Cam fez tantas obras admiráveis,

no mar Vermelho, tantas coisas assombrosas.

 

Até pensava em acabar com sua raça,

não se tivesse Moisés, o seu eleito,

interposto, intercedendo junto a ele

para impedir que sua ira os destruísse.

Evangelho (João 5,31-47)

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!

Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que nele crer encontre vida eterna (Jo 3,16).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: 5 31 "Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.

32 Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim.

33 Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

34 Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos.

35 João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz.

36 Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço - testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.

37 E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face.

38 e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou.

39 Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.

40 E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida.

41 Não espero a minha glória dos homens,

42 mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.

43 Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo.

44 Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?

45 Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança.

46 Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito.

47 Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?"

Palavra da Salvação.

Reflexão

As obras e sinais que Deus realiza exteriormente têm por finalidade despertar nossa atenção para o que Ele, interiormente, está o tempo todo a nos dizer; são, nesse sentido, uma alerta mais clamoroso, destinado a dispor nosso espírito a escutar a sua voz, suave e silenciosa, que nos fala ao coração. Por isso, Jesus repreende hoje os judeus incrédulos, que rejeitam o testemunho evidente dos milagres porque, duros de alma, estão surdos à palavra do Pai: "Vós nunca ouvistes sua voz", diz o Senhor, "nem vistes sua face, e sua palavra não encontrou morada em vós, pois não acreditais nAquele que Ele enviou." 

Este mesmo princípio se aplica, por exemplo, ao caso das Escrituras: se não escutarmos o verbo interior que, em sussurros, Deus comunica ao nosso coração, de nada nos adiantará ler e reler a Bíblia, dada aos homens como testemunho exterior, acessível a todos, do Verbo encarnado. O Evangelho que a Igreja nos propõe nesta quinta-feira de Quaresma vem, pois, reforçar a necessidade de pedirmos sempre mais fé, de rogarmos a Deus que nos dê a graça de crer sem ver, de ouvir sem sentir, de amar sem nada esperar. Ouçamos a voz tão clara quanto silenciosa do Cristo e, como homens maduros na fé, deixemos que Ele transforme nossas vidas até a raiz, a fim de sermos configurados às suas dores e, um dia, à glória de sua Ressurreição.

 

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quarta-feira, 30 de março de 2022

Liturgia Diária - “Eu não posso fazer nada por mim mesmo”

 Jesus Ensina Àqueles Que Ouvem

Leitura (Isaías 49,8-15)

Leitura do livro do profeta Isaías.

49 8 Eis o que diz o Senhor: "No tempo da graça eu te atenderei, no dia da salvação eu te socorrerei, (Eu te formei e designei para fazer a aliança com os povos), para restaurar o país e distribuir as heranças devastadas,

9 para dizer aos prisioneiros: ‘Saí!’ E àqueles que mergulham nas trevas: ´Vinde à luz!´ Ao longo de todo o trajeto terão o que comer. Sobre todas as dunas encontrarão seu alimento.

10 Não sentirão fome nem sede; o vento quente e o sol não os castigarão, porque aquele que tem piedade deles os guiará e os conduzirá às fontes.

11 Tornar-lhes-ei acessíveis todas as montanhas, e caminhos atingirão as alturas.

12 Ei-los que vêm de longe, ei-los do norte e do poente, e outros da terra dos sienitas.

13 Cantai, ó céus; terra, exulta de alegria; montanhas, prorrompei em aclamações! Porque o Senhor consolou seu povo, comoveu-se e teve piedade dos seus na aflição.

14 Sião dizia: ´O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me´.

15 Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca".

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 144/145

Misericórdia e piedade é o Senhor.

Misericórdia e piedade é o Senhor,

ele é amor, é paciência, é compaixão.

O Senhor é muito bom para com todos,

sua ternura abraça toda criatura.

 

O Senhor é amor fiel em sua palavra,

é santidade em toda a obra que ele faz.

Ele sustenta todo aquele que vacila

e levanta todo aquele que tombou.

 

É justo o Senhor em seus caminhos,

é santo em toda obra que ele faz.

ele está perto da pessoa que o invoca,

de todo aquele que o invoca lealmente.

Evangelho (João 5,17-30)

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!

Eu sou a ressurreição, eu sou a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá (Jo 11,25s).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

Naquele tempo, 5 17 Mas Jesus respondeu aos judeus: "Meu Pai continua agindo até agora, e eu ajo também".

18 Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas afirmava ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.

19 Jesus tomou a palavra e disse-lhes: "Em verdade, em verdade vos digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o Filho.

20 Pois o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e maiores obras do que esta lhe mostrará, para que fiqueis admirados.

21 Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.

22 Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho.

23 Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que o enviou.

24 Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida.

25 Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.

26 Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo,

27 e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem.

28 Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz:

29 os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados.

30 De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou".

Palavra da Salvação.

Reflexão

Ontem, Jesus curou um paralítico; em seguida, os fariseus começaram a repreendê-lo por tê-lo feito em dia de sábado; hoje, o Senhor lhes responde, dizendo: “Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho”. Ontem, víamos a necessidade de sairmos da inação e pormos mãos à obra a fim de sermos salvos; hoje, Jesus nos mostra que espírito deve animar os nossos esforços, ao dizer de si mesmo, enquanto homem: “Eu não posso fazer nada por mim mesmo […], porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. E se a humanidade de Cristo nada podia sem Deus, que poderemos nós? Porque, como Ele dirá na Última Ceia, “quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). 

Que querem dizer esses dois nadas, o nada de Cristo com respeito ao Pai, e o nosso nada com respeito a Cristo? São dois nadas, mas uma é a resposta: tanto para Cristo, enquanto homem, quanto para nós, que não passamos de simples homens, tudo o que se pode fazer é devido à graça de Deus. É ela que precede, excita e ajuda; é ela que auxilia, acompanha e termina; é por ela que tudo fazemos do que fazemos de bom, e é por ela que são boas aos olhos de Deus as obras que Ele nos concede realizar. A diferença é que Cristo recebeu tal cúmulo de graça, que se tornou Ele mesmo fonte da graça, ao passo que nós recebemos dele, e somente dele, graça sobre graça (cf. Jo 1, 16), segundo a medida que ao Espírito Santo aprouve distribuir-nos. Disto se segue que, por sua abundância de graça, Cristo não poderia estar mais unido a Deus: a sua plenitude era e é infinita em toda linha, incapaz de ser aperfeiçoada; nós, ao contrário, podemos sempre ser mais agraciados e estar cada vez mais unidos a Deus, através da humanidade de Nosso Senhor. Com efeito, deu o Pai ao seu Unigênito uma humanidade sacrossanta, que nada poderia fazer sem a graça, para que nós, que já nada podemos sem Deus, em tudo passássemos a depender desta humanidade, já que é por meio dela, cheia de graça e de verdade (cf. Jo 1, 14), que de agora em diante nos desce do céu “toda dádiva boa e todo dom perfeito” (Tg 1, 17). Que saibamos cultivar uma intensa devoção à divina-humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, instrumento de nossa redenção, meio de união com Deus e penhor da nossa glorificação futura.  


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terça-feira, 29 de março de 2022

Liturgia Diária - Paralíticos, porque preguiçosos.

 Joao 5,1-16 - “Queres ficar curado?” - YouTube

Leitura (Ezequiel 47,1-9.12)

Leitura da profecia de Ezequiel.

Naqueles dias, 47 1 o anjo conduziu-me então à entrada do templo. Eis que águas jorravam de sob o limiar do edifício, em direção ao oriente (porque a fachada do templo olhava para o oriente). Essa água escorria por baixo do lado direito do templo, ao sul do altar.

2 Fez-me sair pela porta do norte e contornar o templo do lado de fora até o pórtico exterior oriental; eu vi a água brotar do lado sul.

3 O homem foi para o oriente com uma corda na mão: mediu mil côvados; a seguir fez-me passar na água, que me chegou até os tornozelos. Mediu ainda mil côvados e me fez atravessar a água, que me subiu até os joelhos.

4 Mediu de novo mil côvados e fez-me atravessar a água, que me subiu até os quadris.

5 Mediu, enfim, mil côvados; e era uma torrente que eu não podia atravessar, de tal modo as águas tinham crescido! E era preciso nadar, era um curso de água que não se podia passar (a vau).

6 "Viste, filho do homem?" - falou-me, e me levou ao outro lado da torrente.

7 Ora, retornando, avistei nas duas margens da torrente uma grande quantidade de árvores.

8 "Essas águas", disse-me ele, "dirigem-se para a parte oriental, elas descem à planície do Jordão; elas se lançarão no mar, de sorte que suas águas se tornarão mais saudáveis.

9 Em toda parte aonde chegar a corrente, todo animal que se move na água poderá viver, e haverá lá grande quantidade de peixes. Tudo o que essa água atingir se tornará são e saudável e em toda parte aonde chegar a torrente haverá vida.

12 Ao longo da torrente, em cada uma de suas margens, crescerão árvores frutíferas de toda espécie, e sua folhagem não murchará, e não cessarão jamais de dar frutos: todos os meses frutos novos, porque essas águas vêm do santuário. Seus frutos serão comestíveis e suas folhas servirão de remédio".

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 45/46

Conosco está o Senhor do universo!

O nosso refúgio é o Deus de Jacó.

O Senhor para nós é refúgio e vigor,

sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;

assim não tememos se a terra estremece,

se os montes desabam, caindo nos mares.

 

Os braços de um rio vêm trazer alegria

à cidade de Deus, à morada do Altíssimo.

Quem a pode abalar? Deus está no seu meio!

Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.

 

Conosco está o Senhor do universo!

O nosso refúgio é o Deus de Jacó!

Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus

e a obra estupenda que fez no universo.

Evangelho (João 5,1-16)

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!

Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo a alegria de ser salvo! (Sl 50,12.14)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

5 1 Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

2 Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.

3 Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.

4 De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.

5 Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.

6 Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: "Queres ficar curado?"

7 O enfermo respondeu-lhe: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu antes de mim".

8 Ordenou-lhe Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito e anda".

9 No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando. Ora, aquele dia era sábado.

10 E os judeus diziam ao homem curado: "É sábado, não te é permitido carregar o teu leito".

11 Respondeu-lhes ele: "Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda".

12 Perguntaram-lhe eles: "Quem é o homem que te disse: ´Toma o teu leito e anda?´"

13 O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.

14 Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: "Eis que ficaste são; já não peques, para não te acontecer coisa pior".

15 Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.

16 Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses milagres no dia de sábado.

Palavra da Salvação.

Reflexão

No Evangelho de hoje, Jesus cura o paralítico que jazia junto à porta das Ovelhas. E que nos quer ensinar Ele com mais este sinal? Pois os milagres de Cristo — como sabemos — não têm por finalidade apenas devolver a saúde física àqueles a quem foram historicamente destinados, mas também restituir-nos a saúde da alma aos que não tivemos a dita de o ver em sua primeira vinda na carne. Antes de tudo, devemos notar que este sinal do Senhor tem a ver com três coisas: com o pecado, a preguiça e o trabalho

Com a preguiça, porque, em trinta e oito anos de doença, o paralítico nada parece ter feito para ser curado: não gritou, não clamou, não chamou um amigo nem acudiu a ninguém em toda a Jerusalém que o introduzisse nas águas milagrosas. Com o pecado, porque essa mesma preguiça parece ser o motivo por que Jesus, depois de o curar, o repreende seriamente: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. Com efeito, em trinta e oito anos de paralisia, que pecado há-de ter cometido esse homem senão o de resmungar do seu mal, mas sem mover um dedo para encontrar quem o curasse? E com o trabalho, porque quis o Senhor realizar este prodígio em dia de sábado, para mostrar uma vez mais que para as obras de caridade não há descanso e, ademais, que não deve o homem ficar à espera de tempos melhores para se converter, pois a hora de arrepender-se é sempre agora: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. 

Em contraste com a preguiça do doente, que nada fez em quase quatro décadas, e com o legalismo vazio dos fariseus, que pretendiam pôr entre parênteses até mesmo o amor, vemos a atividade incessante de Deus, que não deixa de operar e olhar por nós um único instante de sua imóvel eternidade. Mas se Deus não cessa de vir em nosso favor, por que nos deixamos arrastar pela moleza, sentindo tédio das obras de salvação, mas amando sem cansaço as obras do mundo? Roguemos a Cristo, pois, que nos tire da nossa acídia e tibieza, que arranque dos nossos corações essa grave tristeza — tristitia aggravans — que nos paralisa para amar e trabalhar com Cristo e por Cristo na obra da nossa salvação.

 

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segunda-feira, 28 de março de 2022

Liturgia Diária - A Palavra de Deus está no coração do homem.

 Evangelho de hoje (Jo 4,43-54) - Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário do  Nordeste

Leitura (Isaías 65,17-21)

Leitura do livro do profeta Isaías.

Assim fala o Senhor: 65 17 "Pois eu vou criar novos céus, e uma nova terra; o passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito,

18 mas será experimentada a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e seu povo ao júbilo;

19 Jerusalém me alegrará, e meu povo me rejubilará; doravante já não se ouvirá aí o ruído de soluços nem de gritos.

20 Já não morrerá aí nenhum menino, nem ancião que não haja completado seus dias; será ainda jovem o que morrer aos cem anos: não atingir cem anos será uma maldição.

21 Serão construídas casas onde habitarão, serão plantadas vinhas cujos frutos comerão".

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 29/30

Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes!

 

Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes

e não deixastes rir de mim meus inimigos!

Vós tirastes minha alma dos abismos

e me salvastes quando estava já morrendo!

 

Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,

dai-lhe graças e invocai seu santo nome!

Pois sua ira dura apenas um momento,

mas sua bondade permanece a vida inteira;

se à tarde vem o pranto visitar-nos,

de manhã vem saudar-nos a alegria.

 

Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade!

Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!

Transformastes o meu pranto em uma festa,

Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!

Evangelho (Jo 4, 43-54)

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; então o Senhor, nosso Deus, convosco estará! (Am 5,14)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

Naquele tempo, 4 43 "passados os dois dias, Jesus partiu para a Galileia.

44 (Ele mesmo havia declarado que um profeta não é honrado na sua pátria.)

45 Chegando à Galileia, acolheram-no os galileus, porque tinham visto tudo o que fizera durante a festa em Jerusalém; pois também eles tinham ido à festa.

46 Ele voltou, pois, a Caná da Galileia, onde transformara água em vinho. Havia então em Cafarnaum um oficial do rei, cujo filho estava doente.

47 Ao ouvir que Jesus vinha da Judéia para a Galileia, foi a ele e rogou-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava prestes a morrer.

48 Disse-lhe Jesus: "Se não virdes milagres e prodígios, não credes".

49 Pediu-lhe o oficial: "Senhor, desce antes que meu filho morra!"

"50 Vai, disse-lhe Jesus", o teu filho está passando bem! O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu.

51 Enquanto ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhe disseram: "Teu filho está passando bem".

52 Indagou então deles a hora em que se sentira melhor. Responderam-lhe: "Ontem à sétima hora a febre o deixou".

53 Reconheceu o pai ser a mesma hora em que Jesus dissera: "Teu filho está passando bem". E creu tanto ele como toda a sua casa.

54 Esse foi o segundo milagre que Jesus fez, depois de voltar da Judéia para a Galileia.

Palavra da Salvação.

Reflexão

 No Evangelho de hoje, Jesus lamenta-se da incredulidade do povo, que precisa de milagres e prodígios para crer. Mas a que sinais o Senhor alude aqui? É preciso recordar, antes de tudo, que existem dois tipos de revelações: uma externa e geral; outra interna e especial. A primeira são os sinais e acontecimentos visíveis com que Deus se manifesta à humanidade; assim são, por exemplo, as curas de Cristo, a abertura do Mar Vermelho, a própria presença da Igreja no mundo etc. A segunda é a iluminação ou o toque interior que a Palavra de Deus opera no coração de quem se abre à ação da graça; é como uma brisa, um sussurro suave que o Espírito dirige a cada homem e que, se for ouvido e bem acolhido, é suficiente para converter-nos à verdade da fé. 

O mundo, porém, imerso em barulho e vaidade, não consegue prestar atenção a essa voz interior de Deus, e é por isso que Ele vem em socorro à nossa desatenção, manifestando-se de modo visível e claro a todas as inteligências. A morte de Cristo na cruz é, de todas essas manifestações, a mais gritante e clamorosa: ali, pregado ao madeiro, está o Amor de Deus por nós. Que estes sinais externos com que Deus nos ajuda possam fazer-nos escutar, de uma vez por todas, a Palavra interna que Ele nos sussurra ao coração, a fim de chegarmos à celebração da Páscoa renovados e com uma fé viva, atenta aos constantes apelos que a graça faz a quem lhe sabe dar ouvidos.

 

 

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domingo, 27 de março de 2022

4º DA QUARESMA - A alegria de Deus.

Esboços e sermões para pregadores do Presbítero Jânio Santos de Oliveira:  Os Sete passos do filho pródigo para a vitória

(roxo ou róseo, creio – 4ª semana do saltério)

Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações (Is 66,10s).

Com alegria nos reunimos para celebrar, na Eucaristia, o mistério pascal de Jesus. O Senhor nos acolhe de braços abertos e nos convida a provar a suavidade do seu amor. Reconciliados por Cristo com Deus, nosso Pai, participemos do banquete por ele oferecido, no qual partilhamos do seu perdão e da sua misericórdia.

Primeira Leitura: Josué 5,9-12

Leitura do livro de Josué – Naqueles dias, 9o Senhor disse a Josué: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. 10Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. 11No dia seguinte à Páscoa, comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. 12O maná cessou de cair no dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 33(34)

Provai e vede quão suave é o Senhor!

1. Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, / seu louvor estará sempre em minha boca. / Minha alma se gloria no Senhor; / que ouçam os humildes e se alegrem! – R.

2. Comigo engrandecei ao Senhor Deus, / exaltemos todos juntos o seu nome! / Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu / e de todos os temores me livrou. – R.

3. Contemplai a sua face e alegrai-vos, / e vosso rosto não se cubra de vergonha! / Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, / e o Senhor o libertou de toda angústia. – R.

Segunda Leitura: 2 Coríntios 5,17-21

Leitura da segunda carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 17se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. 18E tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. 19Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. 20Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. 21Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Lucas 15,1-3.11-32

Louvor e honra a vós, Senhor Jesus.

Vou levantar-me e vou a meu pai e lhe direi: / Meu pai, eu pequei contra o céu e contra ti (Lc 15,18). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 1os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. 3Então, Jesus contou-lhes esta parábola: 11“Um homem tinha dois filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam. 17Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. 22Mas o pai disse aos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. 28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. 31Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'”. 

Palavra da salvação.

Reflexão

A Liturgia de hoje nos oferece à reflexão uma das três grandes parábolas da misericórdia de Nosso Senhor: a parábola do filho pródigo, registrada em detalhes pelo Evangelista São Lucas. Notemos, antes de tudo, um aspecto comum a essas três narrativas. Nelas, é sempre a alegria que dá remate ao enredo: "Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida" (Lc 15, 6); "Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida" (Lc 15, 9); "[...] era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão [...] tinha-se perdido, e achou-se" (Lc 15, 32).

O pastorzinho rejubila ao encontrar, após tantas buscas, uma única ovelha tresmalhada; a pobre mulherzinha enche-se de satisfação ao achar uma insignificante dracma; o bom pai, sem conter-se de alegria, faz um grande banquete em comemoração pelo retorno daquele filho desviado e miserável. Assim também os Céus festejam, os anjos exultam, o coração do Pai se alarga de inefável gozo por um só pecador que, arrependido, deseja voltar à casa paterna (cf. Lc 15, 7.10).

Isso nos deve dar a certeza firme e confiante de que todos os esforços desta Quaresma, ao longo da qual buscamos, com coração sincero, mudar de vida, ser pessoas melhores etc., todos esses esforços de arrependimento e penitência são, sim, do agrado de Nosso Senhor. Que grande consolo saber que podemos, com gestos simples e diários de conversão e amor, dar tamanha alegria ao dulcíssimo Coração de Jesus! Que reconfortante saber que as nossas obras quaresmais, que as nossas mortificações e privações, que as nossas orações e esmolas — se feitas sem vaidade e alarde — dão imenso prazer ao nosso Pai celeste!

Busquemos sempre agradar a Deus, em todas as nossas ações, em todos os nossos atos. Em recompensa destes santos esforços, o Senhor nos prepara diariamente um banquete: o banquete da Santíssima Eucaristia. Aproximemo-nos, pois, do Corpo e do Sangue do Senhor tendo bem presente esta realidade: Jesus se dá ali mesmo em sacrifício por nós; cheio de alegria pela volta de seus filhos pródigos, Ele se oferece à nossa indigência como alimento e sustento espiritual. Sejamos gratos por este dom, pelo qual o próprio Deus dá vida aos que estávamos mortos, reconduz ao caminho da salvação aos que estávamos perdidos.

 

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sábado, 26 de março de 2022

Liturgia Diairia - Os dois pilares da oração.

 Explicação da Parábola de Jesus: “O Fariseu e o Publicano”

Leitura (Oséias 6,1-6)

Leitura da profecia de Oséias.

6 1 “Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará.

2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença.

3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra”.

4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa.

5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago,

6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos.

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 50/51

Eu quis misericórdia e não o sacrifício!

 

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!

Na imensidão de vosso amor, purificai-me!

Lavai-me todo inteiro do pecado

e apagai completamente a minha culpa!

 

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,

e, se oferto um holocausto, o rejeitais.

Meu sacrifício é minha lama penitente,

não desprezeis um coração arrependido!

 

Sede benigno com Sião, por vossa graça,

reconstruí Jerusalém e os seus muros!

E aceitareis o verdadeiro sacrifício,

os holocaustos e oblações em vosso altar!

Evangelho (Lucas 18,9-14)

Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

Naquele tempo, 18 9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros:

10 “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano.

11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali.

12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’.

13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’

14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.

Palavra da Salvação.

Reflexão

O Evangelho da Missa nos apresenta a parábola do fariseu e do publicano que subiram ao Templo para orar. O fariseu é aqui pintando como o típico "falso beato", que cumpre à risca seus deveres religiosos, mas sem amor nem sincera devoção. Ele reza, jejua duas vezes por semana e paga com invejável pontualidade o dízimo de toda a sua renda. Crê-se modelo de penitência e caridade; chega até a dar graças a Deus por não ser como os outros homens, "ladrões, desonestos, adúlteros". Porque só ele é justo, só ele tem a conta limpa diante dos céus... Apesar de toda essa diligência no obedecer às normas habituais de piedade, falta a esse fariseu orgulhoso as bases mesmas de uma vida espiritual sadia e verdadeira, a saber: a e a humildade. Sem estes dois pilares, toda a nossa vida de oração não passa de árvore sem raiz, de casa sem alicerce firme.

Falta-lhe, em primeiro lugar, a virtude fé, que não pode crescer e desenvolver-se num coração em que reina, altivo e sobranceiro, o vício da soberba. Esse pecado, com efeito, nos leva atribuir a nós mesmos o que, na realidade, é próprio apenas de Deus, rico em graças e misericórdia. Se nos arrogamos méritos que não possuímos, se acreditamos ser a fonte de nossos próprios dons, se nos julgamos bons por força própria, que fazemos senão pôr em dúvida o amor e a grandeza do Senhor? Que é isso senão lançar ao chão o dom da fé? Daí à total falta de humildade não há sequer meio passo. Por isso, o fariseu, devido à sua arrogante soberba, não saiu do Templo justificado: ele, na verdade, não jejuava, nem orava, nem tampouco dava esmola verdadeiramente; apenas procurava a si mesmo, a sua glória mesquinha, a mera aparência de santidade.

Jesus nos exorta, assim, a fazermos nossa a atitude daquele publicano humilde que, sem a ninguém acusar, sem sequer levantar os olhos ao céu, saiu de sua oração mais justo e agradável a Deus. Reconheçamos — pecadores que somos — as nossas muitas e inegáveis faltas. Peçamos ao Senhor que nos dê uma profunda humildade e uma vontade firmíssima de nos emendar. Que o Evangelho de hoje nos estimule, pois, não só a confessar-nos com mais frequência, mas também, e sobretudo, a nos confessar melhor, colocando aos pés de Cristo, justo Juiz, todo o fardo de desobediências e infidelidades que vamos carregando ao longo da semana. A Virgem Maria, Refúgio dos pecadores, com certeza nos há de ajudar com suas súplicas onipotentes a sermos espíritos mais penitentes e almas de oração cada dia mais humilde: "Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!"

 

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