quinta-feira, 30 de novembro de 2017

LITURGIA DIÁRIA - JESUS ESTÁ LHE CHAMANDO !

Resultado de imagem para Mateus 4,18-22
1a Leitura - Romanos 10,9-18
Leitura da carta de são Paulo aos Romanos.
10 9 Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
10 É crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação. 11 A Escritura diz: “Todo o que nele crer não será confundido”. 12 Pois não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam, 13 porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados, como está escrito: “Quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas novas?” 16 Mas não são todos que prestaram ouvido à boa nova. É o que exclama Isaías: “Senhor, quem acreditou na nossa pregação”? 17 Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo. 18 Pergunto, agora: “Acaso não ouviram? Claro que sim! Por toda a terra correu a sua voz, e até os confins do mundo foram as suas palavras”.
Palavra do Senhor.

Salmo - 18/19A
Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.

Os céus proclamam a glória do Senhor,
e o firmamento, a obra de suas mãos;
o dia ao dia transmite essa mensagem,
a noite à noite publica essa notícia.

Não são discursos nem frases ou palavras,
nem são vozes que possa ser ouvidas;
seu som ressoa e se espalha em toda a terra,
chega aos confins do universo a sua voz.

Evangelho - Mateus 4,18-22
Aleluia, aleluia, aleluia. Vinde após mim, disse o Senhor, e eu ensinarei a pescar gente (Mt 4,19). 
Imagem relacionada
 
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
4 18 Jesus, caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
19 E disse-lhes: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens”. 20 Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram. 21 Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam com seu pai Zebedeu consertando as redes. Chamou-os, 22 e eles abandonaram a barca e seu pai e o seguiram.
Palavra da Salvação.

 E assim começava a Igreja. A igreja humana, que iria transformar o mundo. Atendendo ao convite de Jesus, eles deixaram as redes e o seguiram.Alguém poderia perguntar. E o sustento das suas famílias? Os pais dos pescadores, passaram a usar mais empregados. E nada falta a quem se dedica a trabalhar pelo Reino de Deus. Nunca diga. Eu não tenho tempo para me dedicar aos serviços da paróquia, para me dedicar às pastorais. Quem diz isso, tem uma fé morna, ou não tem fé em Deus. Pois quem realmente está embebido do amor de Deus, sabe muito bem que tudo dará certo. Ao invés de lhes faltar algo para a sua sobrevivência, muito pelo contrário, NÃO LHES FALTARÁ NADA!  TERÁ 100 VEZES MAIS NESTA VIDA E AINDA A VIDA ETERNA!

Eu lhes garanto por experiência própria!
Jesus hoje está nos chamando para sermos pescadores de homens, pescadores de almas para Deus, para a salvação eterna.
Ás vezes precisamos parar um pouco, deixar tudo o que estamos fazendo, para ouvir Deus que nos fala, e em seguida darmos a nossa resposta positiva ao seu chamado.
           
Meu irmão, minha irmã. Pare um pouco agora. Feche os olhos e pense. Sinta a presença suave de Deus em sua volta, ou do seu lado. Será que Deus não lhe está chamando para um nova missão?          
Acredite. Você pode ser chamado(a) a qualquer momento. E talvez seja agora mesmo que isso esteja lhe acontecendo!

O Mar da Galiléia tinha muito peixe e os pescadores tiravam dali o sustento para suas famílias, pois o peixe era o alimento básico naquela região. Os pescadores atendendo o chamado de Jesus largaram tudo. Rede, família e o seguiram imediatamente. O evangelista não conta como ficaram aquelas famílias, com relação ao seu sustento, depois que os pescadores seguiram Jesus. Provavelmente, os irmãos, os pais continuaram o trabalho da pesca e pela graça de Deus, nada faltou para eles.    
Jesus hoje está nos convidando a largar tudo e segui-lo. A largar, principalmente esta vida de pecado, a renunciar tudo que até hoje nos iludiu com uma falsa aparência de felicidade, mas que na realidade não passou de ilusão que nos conduz a infelicidade ao longo do tempo.
E depois desta mudança de vida, desta conversão de direção para a direita, Jesus nos escolhe para seguir os seus passos, para imitá-lo e fazer o que ele fez: Mostrar para as pessoas que Deus existe e quer que construamos um mundo melhor, através da evangelização. Na verdade não seria bem imitar Jesus. Seria adaptar o seu projeto, seu método nos dias de hoje,  de acordo com a nossa realidade.
Mas como faremos isso? (Maria fez a mesma pergunta ao ser anunciada pelo anjo).  Jesus vai cuidar de tudo, viu o que ele disse? Eu os farei pescadores de homens. E fará isso através de outras pessoas que aparecerão em seu caminho.
Após nos converter, nos embeber de Jesus como uma esponja se embebe e água, vamos mostrá-lo aos nossos irmãos pela palavra e pelo exemplo. Quando você se põe em postura de oração perto dos seus filhos, perto dos seus irmãos menores, você está evangelizando pelo exemplo, porque os pequeninos vão imitar você. Eles repetem nas suas brincadeiras, as coisas que os adultos fazem ao seu redor. Se assistirem brigas e desamor, eles também vão imitar isso. Cuidado!
Jesus evangelizou pela palavra e pelo exemplo. Ele  Fez discursos, e fez coisas que escandalizou aqueles que haviam deturpado a vontade do Pai, os líderes religiosos. Ao comer com os pecadores, Jesus ensinou em atitudes, que na casa do Pai havia muitas moradas. Ao perdoar Madalena, Ele mostra em ato que o pecador arrependido merece o perdão, e que a mulher não é uma escrava, e sim uma filha de Deus.
A evangelização começa em casa. Mas Jesus hoje está convidando especialmente você que ainda não está engajado na vida da Igreja. Você que abriu este Blog e está lendo esta mensagem.  É! Você mesmo! Que tal largar tudo de errado que você vem fazendo e seguir Jesus? E depois de estar firme com Ele em sua vida, que tal apresentar-se na sua paróquia, ao seu padre, e dizer que quer fazer parte da comunidade, dando de si aquilo que você sabe fazer? Pastoral dos pobres, Pastoral da saúde, Pastoral da catequese etc.
Jesus chamou você hoje através deste Evangelho. Vamos, não fique aí parado(a)!  Segue-O como fizeram os pescadores! 

E assim começava a Igreja. A igreja humana, que iria transformar o mundo. Atendendo ao convite de Jesus, eles deixaram as redes e o seguiram.
Alguém poderia perguntar. E o sustento das suas famílias? Os pais dos pescadores, passaram a usar mais empregados. E nada falta a quem se dedica a trabalhar pelo Reino de Deus. Nunca diga. Eu não tenho tempo para me dedicar aos serviços da paróquia, para me dedicar às pastorais. Quem diz isso, tem uma fé morna, ou não tem fé em Deus. Pois quem realmente está embebido do amor de Deus, sabe muito bem que tudo dará certo. Ao invés de lhes faltar algo para a sua sobrevivência, muito pelo contrário, NÃO LHES FALTARÁ NADA!  TERÁ 100 VEZES MAIS NESTA VIDA E AINDA A VIDA ETERNA!
Eu lhes garanto por experiência própria!
Jesus hoje está nos chamando para sermos pescadores de homens, pescadores de almas para Deus, para a salvação eterna.
Ás vezes precisamos parar um pouco, deixar tudo o que estamos fazendo, para ouvir Deus que nos fala, e em seguida darmos a nossa resposta positiva ao seu chamado.          
Meu irmão, minha irmã. Pare um pouco agora. Feche os olhos e pense. Sinta a presença suave de Deus em sua volta, ou do seu lado. Será que Deus não lhe está chamando para um nova missão?
           
Acredite. Você pode ser chamado(a) a qualquer momento. E talvez seja agora mesmo que isso esteja lhe acontecendo!

O Mar da Galiléia tinha muito peixe e os pescadores tiravam dali o sustento para suas famílias, pois o peixe era o alimento básico naquela região. Os pescadores atendendo o chamado de Jesus largaram tudo. Rede, família e o seguiram imediatamente. O evangelista não conta como ficaram aquelas famílias, com relação ao seu sustento, depois que os pescadores seguiram Jesus. Provavelmente, os irmãos, os pais continuaram o trabalho da pesca e pela graça de Deus, nada faltou para eles.    
Jesus hoje está nos convidando a largar tudo e segui-lo. A largar, principalmente esta vida de pecado, a renunciar tudo que até hoje nos iludiu com uma falsa aparência de felicidade, mas que na realidade não passou de ilusão que nos conduz a infelicidade ao longo do tempo.
E depois desta mudança de vida, desta conversão de direção para a direita, Jesus nos escolhe para seguir os seus passos, para imitá-lo e fazer o que ele fez: Mostrar para as pessoas que Deus existe e quer que construamos um mundo melhor, através da evangelização. Na verdade não seria bem imitar Jesus. Seria adaptar o seu projeto, seu método nos dias de hoje,  de acordo com a nossa realidade.
Mas como faremos isso? (Maria fez a mesma pergunta ao ser anunciada pelo anjo).  Jesus vai cuidar de tudo, viu o que ele disse? Eu os farei pescadores de homens. E fará isso através de outras pessoas que aparecerão em seu caminho.
Após nos converter, nos embeber de Jesus como uma esponja se embebe e água, vamos mostrá-lo aos nossos irmãos pela palavra e pelo exemplo. Quando você se põe em postura de oração perto dos seus filhos, perto dos seus irmãos menores, você está evangelizando pelo exemplo, porque os pequeninos vão imitar você. Eles repetem nas suas brincadeiras, as coisas que os adultos fazem ao seu redor. Se assistirem brigas e desamor, eles também vão imitar isso. Cuidado!
Jesus evangelizou pela palavra e pelo exemplo. Ele  Fez discursos, e fez coisas que escandalizou aqueles que haviam deturpado a vontade do Pai, os líderes religiosos. Ao comer com os pecadores, Jesus ensinou em atitudes, que na casa do Pai havia muitas moradas. Ao perdoar Madalena, Ele mostra em ato que o pecador arrependido merece o perdão, e que a mulher não é uma escrava, e sim uma filha de Deus.
A evangelização começa em casa. Mas Jesus hoje está convidando especialmente você que ainda não está engajado na vida da Igreja. Você que abriu este Blog e está lendo esta mensagem.  É! Você mesmo! Que tal largar tudo de errado que você vem fazendo e seguir Jesus? E depois de estar firme com Ele em sua vida, que tal apresentar-se na sua paróquia, ao seu padre, e dizer que quer fazer parte da comunidade, dando de si aquilo que você sabe fazer? Pastoral dos pobres, Pastoral da saúde, Pastoral da catequese etc.
Jesus chamou você hoje através deste Evangelho. Vamos, não fique aí parado(a)!  Segue-O como fizeram os pescadores!


 
 
  José Salviano

E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?




Mt 16,13-20

O episódio que nos é proposto ocup Vquando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. 

Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida, senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.

É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio.
Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc 8,27-30).
Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.

O nosso texto pode dividir-se em duas partes

A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade.

A segunda, de carácter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem dele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Batista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”).
Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso.
Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum.
Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus.

Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal 29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14), ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projectos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.

Na segunda parte (vers. 17-20), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus” – vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).

O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”.
A entrega das chaves equivale à nomeação do “administrador do palácio” de que falava a primeira leitura: o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus.

Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).

Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne à volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”. É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

Considerar os seguintes dados:
• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Defini-l’O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é apenas uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim.
A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim?

• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?

• A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.
 
 
 
 
 

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

LITURGIA DIÁRIA - JESUS SEMPRE QUER NOS VER DE PÉ

 Resultado de imagem para MARTIRES DA IGREJA
1a Leitura - Daniel 5,1-6.13-14.16-17.23-28
Leitura da profecia de Daniel.
5 1 O rei Baltazar deu uma festa para seus mil nobres, em presença dos quais pôs-se a beber vinho.
2 Excitado pela bebida, mandou trazer os vasos de ouro e de prata que seu pai Nabucodonosor tinha arrebatado ao templo de Jerusalém, a fim de que o rei, seus nobres, suas mulheres e suas concubinas deles se servissem para beber.
3 Trouxeram então os vasos de ouro que tinham sido arrebatados ao templo de Deus em Jerusalém. O rei, seus nobres, suas mulheres e suas concubinas beberam neles
4 e, depois de terem bebido vinho, entoaram o louvor aos deuses de ouro e prata, bronze, ferro, madeira e pedra.
5 Ora, nesse momento, eis que surgiram dedos de mão humana a escrever, defronte do candelabro, no revestimento da parede do palácio real. O rei, à vista dessa mão que escrevia,
6 mudou de cor; pensamentos tétricos assaltaram-no; os músculos de seus rins relaxaram-se e seus joelhos entrechocaram-se.
13 Daniel foi então introduzido diante do rei, o qual lhe disse: "és realmente Daniel, o deportado de Judá, que meu pai trouxe aqui da Judéia?
14 Ouvi dizer a teu respeito que o espírito dos deuses habita em ti e que se encontram em ti uma luz, uma inteligência e uma sabedoria singulares.
16 Ora, asseguraram-me que tu és mestre na arte das interpretações e das soluções de enigmas. Portanto, se puderes ler esse texto e me dar o seu significado, serás revestido de púrpura, usarás ao pescoço um colar de ouro e ocuparás o terceiro lugar no governo do reino".
17 Respondeu Daniel ao rei: "Guarda teus presentes; concede-os a outros! Lerei, todavia, este texto ao rei e dar-lhe-ei o significado.
23 Tu te ergueste contra o Senhor do céu. Trouxeram-te os vasos de seu templo, nos quais bebestes o vinho, tu, teus nobres, tuas mulheres e tuas concubinas. Deste louvor aos deuses de prata e ouro, bronze, ferro, madeira e pedra, cegos, surdos e impassíveis, em lugar de dar glória ao Deus de quem depende o teu sopro (vital) e todo teu destino.
24 Assim, por ordem sua, essa mão foi enviada e essas palavras foram traçadas.
25 O texto aqui escrito (se lê): MENÊ, TEQUEL e PERÊS.
26 Eis o significado dessas palavras: MENÊ - Deus contou (os anos) de teu reinado e nele põe um fim;
27 TEQUEL - foste pesado na balança e considerado leve demais;
28 PERÊS - teu reino vai ser dividido e entregue aos medos e persas.
Palavra do Senhor.

Salmo - Dn 3
Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

Lua e sol, bendizei o Senhor!
Astros e estrelas, bendizei o Senhor!

Chuvas e orvalhos bendizei o Senhor!
Brisas e ventos, bendizei o Senhor!

Fogo e calor, bendizei o Senhor!
Frio e ardor, bendizei o Senhor!


Evangelho - Lucas 21,12-19
Aleluia, aleluia, aleluia.
Permanece fiel até a morte e a coroa da vida eu te darei! (Ap 2,10)
 Imagem relacionada

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 21 12 disse Jesus aos seus discípulos: “Antes de tudo isso, vos lançarão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença dos reis e dos governadores, por causa de mim.
13 Isto vos acontecerá para que vos sirva de testemunho.
14 Gravai bem no vosso espírito de não preparar vossa defesa,
15 porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários.
16 Sereis entregues até por vossos pais, vossos irmãos, vossos parentes e vossos amigos, e matarão muitos de vós.
17 Sereis odiados por todos por causa do meu nome.
18 Entretanto, não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.
19 É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação”.
Palavra da Salvação.

Todo bom cristão sabe que muitos dos santos que conhecemos sofreram o martírio ao fim da caminhada; sabemos também que alguns foram crucificados, decapitados, mutilados, queimados, (…) Muita coisa mudou mas algumas ainda são as mesmas…Quem por ventura, mesmo andando corretamente, não se sentiu alvo da maldade e da inveja dos que se acham reis desse mundo? Quantos de nós já se perguntou o porquê de tantos olhares invejosos, discordâncias sem motivo, brigas sem razão, disse-me-disse, intrigas, partidarismos ao nosso redor? Quantas vezes nos sentimos atacados sem saber o motivo? Quantas pontas ou pedaços de flechas ainda existem em nosso coração nos fazendo remoer dores do passado?Apesar de tudo algo precisa ficar  ressoando no nosso pensamento: a vontade irrevogável de LEVANTAR e CONTINUAR!Sou fã da série Rocky Balboa, mas não pela violência das cenas, mas pelo que é dito nas entrelinhas da vida daquele personagem que aprendeu apanhando da vida. O protagonista, em seu sexto filme, diz ao seu filho em uma cena, uma frase que cai bem para essa reflexão: “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”Todos aqueles que não desistem de LEVANTAR e CONTINUAR podem até ser premiados com cabelos brancos, com o sofrimento estampado no rosto cansado e abatido, mas ninguém que tem fé se abate ao sofrimento; ninguém que persevera na esperança fica sem o conforto; ninguém que respondeu com sabedoria a maior das perseguições deixou de ser valorizado por Deus.“(…) Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!“. (Mateus 5, 3-5)Quedas e desânimos serão inevitáveis, mas a cada fraquejada devemos voltar ainda mais convicto do que queremos para nós. De certa forma os sofrimentos, as angustias, nos tornam mais fortes e preparados. O aprendizado de CONTINUAR ANDANDO gera em nós O DESTEMOR. Mas quando não conseguimos superar as adversidades, seja pela fraqueza ou pela falta das forças, entramos num processo que nos levarão, paulatinamente sempre a fugir, a reclusão, ao pânico, e patologicamente a depressão.Costumo dizer que Jesus sempre quer nos ver de pé, pois é através de nossos olhos que Ele vê a nossa sinceridade, a nossa força, nossa gana. Pedras SEMPRE existirão no meio do caminho como diria Carlos Drummond de Andrade, mas as pedras escondem um prêmio para quem teve coragem de levantar após cada dificuldade enfrentada.Não tenhamos medo. Um imenso abraço fraterno.

 

  



Alexandre Soledade


O ANTICRISTO E SEUS DISFARCES

O Anticristo não se dará a conhecer como tal. Do contrário, poucos haveriam de segui-lo. Como, então, ele arrebanhará seguidores nesta nova época da história?
 https://dyqnik0vds4aw.cloudfront.net/uploads/post/imagem_header/1114/os-sinais-desktop.jpg
Durante a última semana do ano eclesiástico, a Liturgia da Igreja dirige o nosso olhar para o juízo final e os sinais que o acompanharão. No Fim dos Tempos, ensina o Catecismo da Igreja Católica, o Anticristo logrará enganar a muitos, instaurando uma falsa religião em que o homem, fazendo-se Deus, pensará ter encontrado a solução para todos os males desta vida, embora à custa da verdade salvífica do Deus que se fez homem.
Nesta nova matéria, o Venerável Fulton Sheen descreve-nos, com visão quase profética e muitíssimo atual, como será essa derradeira e não tão distante impostura religiosa.
O texto que tornamos disponível abaixo é uma versão reduzida e adaptada de um sermão pregado por Fulton Sheen, via rádio, em 1947. O texto completo desta pregação se encontra logo a seguir, no decorrer da matéria.

O novo momento histórico em que estamos entrando poder-se-ia chamar o período religioso da história humana. Por “religioso”, contudo, não queremos dizer que os homens se voltarão para Deus, senão que, pelo contrário, a indiferença ao absoluto, traço distintivo do período liberal da civilização, dará lugar a uma busca apaixonada por outro absoluto. De agora em diante, lutar-se-á não mais por colônias e direitos nacionais, mas por almas. Não haverá espadas meio embainhadas, lealdades pela metade nem vagas reivindicações de uma ingênua tolerância. Não haverá sequer grandes heresias, já que elas pressupõem alguma aceitação, ainda que parcial, da verdade.
As frentes de batalha já têm sido claramente demarcadas e não há mais dúvida sobre o que está em jogo. De agora em diante, os homens estarão divididos em duas religiões, entendidas aqui como sujeição a um absoluto. O conflito do futuro será travado, pois, entre o Absoluto que é o Deus-homem, de um lado, e o absoluto em que se converteu o homem-deus, de outro; entre o Deus que se fez homem e o homem que se proclamou deus; entre os que são irmãos em Cristo e os que conluiam com o Anticristo.
O Anticristo, porém, não se dará a conhecer como tal; do contrário, poucos haveriam de segui-lo. Ele não trajará vermelho, não terá cheiro de enxofre nem um tridente ou uma cauda pontiaguda como o Mefistófeles de Fausto. Essa caricatura serviu-lhe para convencer a muitos de que ele não existe, pois o diabo sabe que tanto maior será o seu poder quanto menos acreditarmos em sua existência. É precisamente quando o ignoramos que maior é o poder que ele exerce sobre nós. Deus, com efeito, definiu-se como “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14); o diabo, ao contrário, como “eu sou aquele que não sou”.
Em nenhuma passagem das Sagradas Escrituras se encontra qualquer referência à imagem popular do demônio como um bufão vestido de vermelho. A Bíblia o descreve como um anjo decaído, como o “príncipe deste mundo” (cf., por exemplo, Jo 12, 31; 16, 11), cuja principal ocupação é tentar persuadir-nos de que não há outro mundo além deste. Sua lógica é simples: se não existe nenhum céu, tampouco existe um inferno; ora, se não há inferno, então não existe pecado; mas se o pecado não existe, tampouco haverá um juiz; portanto, se não há julgamento, o que é bom é mau e o que é mau é bom.
Mas, além disso tudo, Nosso Senhor adverte que o Anticristo será tão parecido com Ele que até os eleitos se enganarão a seu respeito (cf. Mt 13, 22) — e é claro que nenhum desses diabos de gibi seria capaz de ludibriar um eleito.

Mas como, afinal de contas, ele arrebanhará seguidores nesta nova época da história? Ele virá travestido de grande humanitário, portador de paz, prosperidade e abundância, não como meios de nos conduzir a Deus, mas como fins em si mesmos. De sua pena sairão livros sobre um novo conceito de Deus, escritos com o fim de mudar nossa maneira de viver, de estimular a fé na astrologia, a fim de que o responsável pelo pecado sejam, não as nossas decisões livres, mas as estrelas.
Ele explicará a culpa com jargões psicológicos, como um “erotismo” inibido, de sorte que os homens se envergonharão de não ser liberais e “mente aberta” aos olhos dos colegas. De fato, ele será tão “mente aberta” a ponto de identificar tolerância com indiferença ao que é certo e errado, verdadeiro e falso.
Ele espalhará a mentira de que os homens não podem ser felizes enquanto não melhorarem a sociedade e, assim, abastecerem o egoísmo, que é o combustível das futuras revoluções.
Ele fomentará a ciência, mas com o único propósito de fazer com que os fabricantes de armas usem as maravilhas da ciência como instrumento de destruição; ele estimulará os divórcios com a alegação de que é impossível viver para sempre com o mesmo “parceiro”; ele alimentará o amor a si mesmo e matará por inanição o amor ao próximo; ele usará a religião para destruí-la; ele chegará inclusive a falar de Cristo como de um dos “maiores homens da história”; ele dirá que sua missão não é mais do que libertar os homens das superstições e do “fascismo”, termo aliás que ele deixará sempre por definir; ele será simpático às crianças, mas dirá às pessoas com quem devem casar-se ou não, quem pode ser pai e quem não pode

Ele tentará os fiéis com os mesmos ardis com que tentara a Cristo. A tentação de converter em pão um punhado de pedras será agora a tentação de trocar a liberdade pela segurança, na medida em que o pão se torna uma arma política e só os que lhe seguem a cartilha terão direito a comer. A tentação de atirar-se imprudentemente da torre do Templo à espera de um milagre será agora um apelo para abandonar os nobres pináculos da verdade em que reinam a razão e a fé e atirar-se às profundezas em que vivem as massas, alimentadas com slogans e chavões publicitários.  
O Anticristo não quer que a hierarquia da Igreja proclame princípios imutáveis, mas que organizações de massa, sob a direção de um sujeito qualquer, se sirvam de métodos de propaganda para orientar o gosto e a preferência das sociedades: ele quer opiniões, não verdades; palpiteiros, não professores; pesquisas de opinião, não princípios; natureza, não graça — e será para agrilhoar-se com estas mentiras que os homens sacudirão o jugo de Cristo.
A terceira tentação, com a qual Satanás prometeu a Cristo todos os reinos da terra, caso Ele, prostrado em terra, o adorasse, converter-se-á na tentação de criar uma nova religião sem cruz, sem liturgia, sem vida futura; uma cidade do homem sem uma cidade de Deus; uma política, enfim, de caráter religioso — ou seja, uma religião que nos exija dar a César até mesmo o que é de Deus.
No coração de todo esse aparente amor pela humanidade, floreado com envolventes discursos sobre liberdade e igualdade, o Anticristo guardará um segredo, desconhecido de todos: ele não acreditará em Deus, pois a religião por ele professada não será, no fundo, mais do que uma fraternidade entre os homens sem a paternidade de Deus. Assim ele há de enganar inclusive os eleitos.
Ele fundará uma contra-Igreja, que será uma contrafação ridícula da Igreja de Cristo, porque ele, o diabo, é o macaco de Deus. A igreja do diabo, com efeito, apresentará as notas e características da Igreja, mas todas às avessas, esvaziadas de seu conteúdo divino. Ela será o “corpo místico” do Anticristo, que aparentará, externamente, ser o Corpo Místico de Nosso Senhor. O homem moderno, em sua desesperada busca por um Deus a que ele, contudo, se recusa adorar, procurará afoitamente, frustrado e solitário, pertencer a alguma “comunidade”, que lhe dê um sentido e lhe expanda os horizontes, ainda que à custa de diluir-se numa vaga coletividade. Nesse momento, serão paradoxalmente os mesmos motivos por que o homem moderno deu as costas à Igreja que o levarão a aceitar a contra-Igreja do diabo.
Com efeito, o século passado rejeitou a Igreja por ela ser infalível; negou-se a acreditar que um suposto Vigário de Cristo pudesse ser imune ao erro ao pronunciar-se sobre temas de fé e moral na qualidade de Pastor de toda a cristandade. O século XX, no entanto, alistar-se-á nas fileiras da contra-Igreja justamente por ser ela infalível: a sua “cabeça visível”, sediada agora em Moscou, pronuncia-se ex cathedra em matérias de economia e política, enquanto “Pastor” do comunismo mundial.
Ao longo dos últimos séculos, a Igreja foi duramente criticada por proclamar-se católica e universal, unindo a todos os homens sob um só Senhor, em uma só fé e por meio de um só Batismo. Mas ninguém — dirá o século XIX — pode considerar-se um bom cidadão, seja americano, francês ou alemão, se consente em ser pastoreado, ainda que misticamente, por uma autoridade espiritual. Contudo, será precisamente a “catolicidade” e a “universalidade” da contra-Igreja o que mais irá atrair o pobre espírito moderno: ela porá abaixo todas as fronteiras nacionais; desdenhará dos sentimentos patrióticos, libertando-nos dos deveres de piedade para com o próprio país; fará os homens sentirem orgulho, não de serem americanos, franceses ou alemães, mas de pertencerem a uma classe revolucionária sob a batuta de seu “vigário”, cujas ordens vêm, não mais do Vaticano, mas do Kremlin.
O século XIX rejeitou a Igreja sob o pretexto de que ela era “intolerante”, sempre pronta para excomungar o primeiro herege que rejeitasse as tradições apostólicas, sempre insistindo em que Cristo fundou uma só Igreja, sempre ensinando que a Verdade é una e que os dogmas, ou se aceitam de todo, ou se rejeitam por inteiro. Mas nesta hora diabólica em que vivemos, os filhos e netos dos que assim se opunham à Igreja aderem à sua contrafação justamente por ela eliminar os seus hereges, exterminar os seus trotskistas, excomungar os que não aceitam a doutrina de que talvez não haja um só rebanho e um só pastor, mas, sim, um só formigueiro e um único tamanduá.
O mundo liberal rejeitou a Igreja porque ela era muito “dogmática” e “intransigente”, com suas definições precisas de “união hipostática” e “Imaculada Conceição”; era muito “hierárquica”, com seus Bispos, os sucessores dos Apóstolos, alegando ser os guardiões da fé e dos costumes dos povos. Mas, curiosamente, milhões de pessoas têm-se filiado à contra-Igreja por essas mesmíssimas razões: amam a infalibilidade com que ela define os dogmas do materialismo dialético, do determinismo econômico, da mais-valia; amam sua hierarquia e veneram os líderes do partido como se foram Bispos, sucessores dos “apóstolos” — Marx e Lênin —, cuja missão é preservar o depósito da fé do partido até a consumação dos séculos.
Ora, uma vez que os sinais dos nossos tempos parecem apontar para uma luta entre dois absolutos, há duas razões para crer que o futuro será um tempo de grandes provações.
Em primeiro lugar, para pôr fim à dissolução a que estamos assistindo. Se não houvesse catástrofes, a impiedade alastrar-se-ia sem freios. De fato, o que a morte é para um pecador, uma catástrofe o é para uma civilização má e corrupta. Por que Deus poria à porta do paraíso terrestre um anjo cingido de uma espada flamejante senão para impedir que nossos primeiros pais, depois da Queda, tornassem a entrar no Éden para comer da árvore da vida e, assim, imortalizassem a própria iniquidade? Deus não há de permitir que a injustiça se arraste pela eternidade afora. Revoluções, desintegração, caos, tudo isso é um aviso de que estamos errados, de que os nossos sonhos têm sido vãos e perversos.
A vingança da verdade moral é a ruína dos que a repudiam. O caos em que se revolve o tempo presente é, pois, o argumento negativo mais contundente a favor do cristianismo. As catástrofes testemunham o poder de Deus em um mundo sem sentido, já que por meio delas o Senhor reduz a nada uma existência sem sentido. A destruição que se segue à apostasia torna-se, deste modo, o triunfo do sentido, uma reafirmação de que há, sim, um propósito.
Adversidade: eis aí a palavra que melhor exprime a condenação divina do mal, o selo do julgamento divino. Assim como o inferno não é um pecado, mas sua consequência, assim também os tempos de tribulação não são um pecado, mas o salário do pecado (cf. Rm 6, 32). Sob o véu das catástrofes descobre-se que o mal, em realidade, é auto-destrutivo: é impossível que nos afastemos de Deus sem nos fazermos a nós mesmos uma grande violência.
A segunda razão por que as crises são necessárias é para evitar que a Igreja e o mundo se identifiquem. Nosso Senhor quis que os seus seguidores fossem diferentes em espírito daqueles que não O seguem: “Não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (Jo 15, 19). Embora seja essa a vontade divina, é verdade, infelizmente, que a linha divisória entre os que seguem ou não a Cristo é com frequência pouco nítida. Em vez do preto e do branco, o que vemos é um borrão cinzento. Mediocridade e transigência são, pois, as notas características de muitos cristãos modernos: como os pagãos com quem vivem, eles se entregam aos mesmos divertimentos; educam os filhos no mesmo espírito mundano e ateu; assistem aos mesmos programas; abrem as portas de casa para certos costumes pagãos, como o divórcio, segundas uniões; permitem, enfim, que o comunismo destile seu veneno na política e no cinema.
Já não há mais o conflito, a oposição que, ao menos em tese, nos deveria caracterizar. O mundo nos influencia mais do que nós o influenciamos. Não há mais a fuga sæculi, a fuga do mundo. De modo que São Paulo pode dizer-nos sem injúria o que outrora dissera aos fiéis de Corinto: “Que união pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunidade entre a luz e as trevas? Que compatibilidade pode haver entre Cristo e Belial?” (2Cor 6, 14s).
O que São Paulo diz aqui, noutras palavras, é que os que foram encarregados de construir um centro de saúde adoeceram e, portanto, já não têm mais como curar ninguém. Ora, uma vez que a fusão entre o espírito cristão e o espírito pagão é um fato consumado — como ouro misturado com metais menos nobres —, não há meio de purificar a mistura a não ser lançando-a na fornalha e separando os elementos amalgamados. Eis o que farão as provações. É preciso, portanto, que o mal se instale para rejeitar-nos, desprezar-nos, odiar-nos, perseguir-nos, para que assim possamos, afinal, decidir de que lado estaremos, a quem seremos leais e fiéis. Como poderíamos distinguir as árvores rijas e firmes das débeis e fracas sem que o vento soprasse? Diminuiremos, sim, em número; mas aumentaremos em qualidade. Cumprir-se-á então o que dissera Nosso Senhor: “Quem não ajunta comigo, espalha” (Mt 20, 30).
Mas, embora nos refiramos aqui ao advento do Anticristo e a sua oposição a Nosso Senhor, não é pela Igreja que tememos; é pelo mundo. Não é a infalibilidade que nos preocupa, mas o abismo do erro em que se lança o mundo. Não tememos que Deus um dia venha a ser destronado, mas que a barbárie volte a governar o mundo. Não é a transubstanciação que desaparecerá, mas talvez os lares; os Sacramentos não deixarão de existir, mas talvez a lei moral. A Igreja não pode ter outras palavras para a mulher que se lamenta e bate no peito além daquela de Nosso Senhor em direção ao Calvário: “Não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos” (Lc 23, 28).
Em seus dezenove séculos de existência, a Igreja sobreviveu a outras grandes crises, e ela continuará a lamentar os males dos tempos atuais.  
A Igreja tem as suas Sextas-Feiras Santas, as quais porém não são mais do que um prelúdio de seus Domingos de Páscoa, pois permanecem de pé as promessas divinas: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18); “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20); “Todo o que cair sobre esta pedra ficará despedaçado” (Lc 20, 18).
Nunca antes na história houve tão forte argumento a favor do cristianismo: os homens têm-se dado conta de que suas misérias e angústias, suas guerras e revoluções, aumentam quanto mais negam a Cristo. Porque o mal se destrói a si mesmo; só o bem é capaz de perdurar.





 Fulton J. SheenTradução:  Equipe Christo Nihil Praeponere 
Referências
  • Traduzido e adaptado de “Signs of Our Times” (sermão via rádio pregado em 26 de janeiro de 1947). In: Light Your Lamps, 8.ª ed., 5-17. Huntington: Our Sunday Visitor, 1958.