sexta-feira, 30 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - QUE SEJAMOS REINTEGRADOS E ACOLHIDOS NA CASA DO PAI

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1a Leitura - Gênesis 17,1.9-10.15-22
Leitura do livro do Gênesis.
17 1 Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro;
9 Deus disse ainda a Abraão: “Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras. 10 Eis o pacto que faço entre mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar: Todo homem, entre vós, será circuncidado. 15 Disse Deus a Abraão: “Não chamarás mais tua mulher Sarai, e sim Sara. 16 Eu a abençoarei, e dela te darei um filho. Eu a abençoarei, e ela será a mãe de nações e dela sairão reis.” 17 Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e começou a rir, dizendo consigo mesmo: “Poderia nascer um filho a um homem de cem anos? Seria possível a Sara conceber ainda na idade de noventa anos?” 18 E disse a Deus: “Oxalá que Ismael viva diante de vossa face!” 19 Mas Deus respondeu-lhe: “Não, é Sara, tua mulher que dará à luz um filho, ao qual chamarás Isaac. Farei aliança com ele, uma aliança que será perpétua para sua posteridade depois dele. 20 Eu te ouvirei também acerca de Ismael. Eu o abençoarei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extraordinariamente sua descendência: ele será o pai de doze príncipes, e farei sair dele uma grande nação. 21 Mas minha aliança eu a farei com Isaac, que Sara te dará à luz dentro de um ano, nesta mesma época.” 22 Tendo acabado de falar com ele, retirou-se Deus de Abraão.
Palavra do Senhor.

Salmo - 127/128
Será assim abençoado todo aquele que respeita o Senhor.
Feliz és tu se temes o Senhor
e trilhas seus caminhos!
Do trabalho de tuas mãos hás de viver,
serás feliz, tudo irá bem!

A tua esposa é uma videira bem fecunda
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira
ao redor de tua mesa.

Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião
cada dia de tua vida.
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Evangelho - Mateus 8, 1-4
Aleluia, aleluia, aleluia. Cristo tomou sobre si nossas dores, carregou em seu corpo as nossas fraquezas (Mt 8,17).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
8 1 Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu.
2 Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, podes curar-me”. 3 Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê curado”. No mesmo instante, a lepra desapareceu. 4 Jesus então lhe disse: “Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Deus quer que tenhamos uma vida plena e cheia de graças, apesar do pecado que nos impede de usufruir de tudo quanto o Ele anseia nos conceder. Assim, pois, Jesus na sua palavra nos mostra que todas as coisas que nos acontecem, têm um sentido diante do plano do Pai. A despeito do nosso pecado, da nossa inclinação para a iniquidade, Deus nos atrai para si para nos purificar e nos dar novamente a vida que Ele deseja nos conceder. No entanto, Ele sabe que precisamos de humildade para caminhar e sermos como Ele, perfeitos e santos, por isso, espera pela nossa oração e pelo nosso pedido. Ele sabe que nós necessitamos reconhecer o nosso ser pecador dependente da sua misericórdia. Por isso, Jesus no Evangelho curou a homem que se humilhou e pediu: “Senhor, se queres, tu tens poder de me purificar”. A lepra é o pecado que nos faz viver à margem da vida em Deus e nos paralisa, nos deforma e nos torna sujos.  Se queres: é esta a condição! Deus sempre vai querer o melhor para nós, no entanto, o melhor será sempre a nossa libertação do pecado. O pecado é quem nos desarmoniza com Deus, conosco e com o nosso próximo. Deus nos perdoa de acordo com o nosso coração, mas precisamos dar o testemunho cumprindo com o que Jesus mandou: “ mas vai mostrar-te ao sacerdote....” Quando o nosso coração está contrito e arrependido nós sabemos que o Senhor nos perdoa, no entanto, o sacerdote é quem, em nome deste perdão que o Senhor nos concede, nos faz participar novamente do seio da Igreja como um passaporte para que sejamos reintegrados (as) e acolhidos (as) na casa do Pai. – O que você entende por: vai mostrar-te ao sacerdote? – Para você o que significa a confissão dos pecados? – Você tem humildade suficiente para se apresentar diante do padre e reconhecer a sua culpa?
 
 
 
 
 
Helena Serpa

A MÚSICA NA MISSA

Descubra o sentido da música em cada parte da Missa.

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1- Ritos iniciais
Canto de Entrada: é o “cartão de visita”. Deve ser feito um grande esforço para que ele tenha algo a ver com o tema daquela Missa. Se isso não for conseguido, deve ser um canto alegre, de louvor, que anime o povo a ir atrás de Jesus.
Santíssima Trindade: prepara o coração para o início da Missa e invoca a Trindade Santa, Um Único Deus em Três Pessoas distintas.
Ato Penitencial: deve ser um canto de arrependimento pelos pecados e pedido de piedade, de acordo com o texto do Missal Romano. O grande perigo desse canto reside em só cantarmos e não nos penitenciarmos. É necessário pedir que todo o orgulho caia por terra naquele momento e que o canto saia do mais profundo do nosso ser, purificando-nos totalmente.
Hino de Louvor (Glória): depois de sermos perdoados, devemos explodir de alegria no canto do glória. Não podemos cantá-lo no Advento e na Quaresma porque são tempos de penitência, mas no restante dos domingos do ano devemos cantar. Para estar de acordo com a liturgia esse canto precisa ser um louvor à Trindade Santa, de acordo com o texto do Missal Romano.
2- Rito da Palavra
Salmo Responsorial: não é qualquer Salmo. A oração não deve ser mudada porque ela é uma resposta à primeira leitura. Se não der para cantar o Salmo é melhor lê-lo, de acordo com o Lecionário.
Aclamação ao Evangelho: este não pode deixar de ser cantado. Devemos anunciar a Boa Nova que será proclamada e festejara. É como se Jesus entrasse em nosso coração como entrou em Jerusalém triunfante! Por isso motivemos o povo! É hora de cantar Aleluia!
3- Rito Eucarístico
Canto das Oferendas: é um momento de entrega. Devemos entregar nossos corações, vozes e instrumentos a Deus. Se possível, um canto interligado com o tema do dia.
Santo: o mais importante da Missa. É o maior louvor! Para se ter uma idéia, Hosana significa mil vezes aleluia! É o momento em que os anjos descem do céu para participar da Ceia do Senhor e preparar a Mesa Santa! Deve ser de acordo com o texto do Missal Romano.
Pós-Consagração: é um momento de sublime adoração. Não é um canto obrigatório, portanto o Padre deve ser comunicado antes do inicio da Missa e autorizar ou não a resposta ao “Eis o Mistério da Fé”.
Se possível é muito bom cantar as respostas da Oração Eucarística, principalmente em festas mais solenes.
4- Rito da Comunhão
Pai Nosso: há uma enorme diferença quando cantado por toda a comunidade. Quando assim o fazemos, nos tornamos mais unidos, nos sentimos mais filhos. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
Abraço da Paz: é o momento de distribuirmos a paz, somente ao que está ao nosso lado. Não é obrigatório.
Cordeiro: deve conter os dizeres do Cordeiro de Deus do Missal Romano. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
Canto de Comunhão: é chegado o momento de receber Jesus. A música deve continuar até o último fiel receber Jesus Eucarístico. Depois deve haver silêncio.
Pós-Comunhão: deve ser um canto suave e de reflexão, que pode ser de acordo com o Evangelho do dia. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
5- Ritos Finais
Canto Final: é para o povo sair da Igreja com a liturgia na cabeça e no coração. Não precisa ser cantado por todos os fiéis mas deve receber o mesmo tratamento do Ministério de Música.





(via Fé Explicada)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - NA ROCHA OU NA AREIA

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1a Leitura - Gênesis 16,1-12.15-16 ou 6-12.15-16
Leitura do livro do Gênesis.
16 1 Sarai, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filho; mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada Agar,
2 disse a Abrão: “Eis que o Senhor me fez estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para ver se, ao menos por ela, eu posso ter filhos.” Abrão aceitou a proposta de Sarai. 3 Sarai tomou, pois, sua escrava, Agar, a egípcia, passado dez anos que Abrão habitava a terra de Canaã, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido. 4 Este aproximou-se de Agar e ela concebeu. Agar, vendo que tinha concebido, começou a desprezar a sua senhora. 5 Então Sarai disse a Abrão: “Caia sobre ti o ultraje que me é feito! Dei-te minha escrava, e ela, desde que concebeu, olha-me com desprezo. O Senhor seja juiz entre mim e ti!” 6 Abrão respondeu-lhe: “Tua escrava está em teu poder, faze dela o que quiseres.” E Sarai maltratou-a de tal forma que ela teve de fugir. 7 O anjo do Senhor, encontrando-a no deserto junto de uma fonte que está no caminho de Sur, 8 disse-lhe: “Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais?” “Eu fujo de Sarai, minha senhora”, respondeu ela. 9 “Volta para a tua senhora, tornou o anjo do Senhor, e humilha-te diante dela.” 10 E ajuntou: “Multiplicarei tua posteridade de tal forma, e será tão numerosa, que não se poderá contar.” 11 Disse ainda mais: “Estás grávida, e vais dar à luz um filho: dar-te-ás o nome de Ismael, porque o Senhor te ouviu na tua aflição. 12 Este menino será como um jumento bravo: sua mão se levantará contra todos e a mão de todos contra ele, e levantará sua tenda defronte de todos os seus irmãos.” 15 Agar deu à luz um filho a Abrão, o qual lhe pôs o nome de Ismael. 16 Abrão tinha a idade de oitenta e seis anos quando Agar lhe deu à luz Ismael.
Palavra do Senhor.


Salmo - 105/106
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom.
Daí graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!
Quem contará os grandes feitos do Senhor?
Quem cantará todo o louvor que ele merece?

Felizes os que guardam seus preceitos
e praticam a justiça em todo o tempo!
Lembrai-vos, ó Senhor, de mim lembrai-vos,
pelo amor que demonstrais ao vosso povo!

Visitai-me com a vossa salvação,
para que eu veja o bem-estar do vosso povo,
e exulte na alegria dos eleitos,
e me glorie com os que são vossa herança.
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Evangelho - Mateus 7, 21-29
Aleluia, aleluia, aleluia.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 7 21 disse Jesus: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
22 Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?’ 23 E, no entanto, eu lhes direi: ‘Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!’ 24 Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25 Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26 Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27 Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína”. 28 Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina. 29 Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

O Evangelho de hoje nos leva a refletir sobre o nosso papel de cristãos comprometidos com a Palavra de Deus. Sabemos que a vontade do Pai para nós se revela por meio da Sua Palavra, no entanto, somente, a vivência concreta dos conselhos evangélicos far-nos-á cidadãos, (ãs) do reino dos céus. Dessa maneira, precisamos estar conscientes de que para entrar no reino dos céus não nos basta “orar” com palavras bonitas ou suplicar e louvar, mas viver segundo a vontade do Pai, assim diz Jesus.    Nem sempre o que desejamos e o que estamos fazendo é da vontade do Pai.  Muitas vezes, a vontade de Deus se revela   quando contrariamos a nossa própria vontade, pois, descobrimos que a Sua Palavra nos manda agir diferentemente daquilo que desejamos. A vivência da Palavra de Deus, portanto, é quem nos leva a construir a casa sobre a rocha para que nunca desabe. A casa edificada sobre a rocha é a vida do homem que caminha à luz da Palavra de Deus! Deus é a Rocha, é o Amor e todo aquele que se ajusta à Sua vontade, terá uma vida firme e confiante e as tempestades, os terremotos e os ventos não o abalarão. A Rocha é a Palavra de Jesus Cristo. A areia é a ilusão dos ensinamentos do mundo. Se não permanecermos firmes na vivência da Palavra de Jesus, se não concretizarmos com as nossas ações o que proferimos com os nossos lábios estaremos construindo a nossa história sobre falsos fundamentos e na hora da tempestade a nossa vida ruirá e vivenciaremos o fracasso. O alicerce é interior, está, pois, sedimentado dentro do nosso coração, por isso, ficaremos mais fortes interiormente quando quebrarmos as nossas estruturas próprias para seguir o projeto de Deus. Através da oração, o Senhor vai nos plasmando e nos transformando.  As dificuldades da nossa vida são momentos preciosos para saber se estamos firmes sobre a ROCHA. -  Em que alicerce você está construindo a sua vida? - Quem lhe tem ensinado a viver? – A sua vida já tem sido provada pelas chuvas e ventos fortes? - Você sente firmeza nos pés nas horas  das dificuldades?- Você acha que a sua vida está firmada sobre a Rocha  ou você é um “homem sem juízo” ? - Em que a Palavra de Deus tem o (a) instruído?
 
 
 

 Helena Serpa

A GRANDE MISERICÓRDIA DE DEUS


"Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse, Eu não te esquecerei" (Is 49, 15).
Deus é Pai. Nessas três palavras está contida toda a grandeza da divina misericórdia. E, para ser mais preciso, devo acrescentar: Deus não é apenas um pai, mas um pai e uma mãe ao mesmo tempo.

Ninguém é pai ou mãe como Deus

O amor paterno é aquele que se aplica sobre quem não existe ainda, desejando ardentemente dar- -lhe a vida. É o amor que envolve a criança com sua força, depois de tê- -la gerado; o amor que vela a todos os instantes do dia e da noite, previne todos os perigos, apoia todos os pequenos passos desse ser frágil que tenta andar, dirige-o, suportao, faz-se pequeno com esse pequeno, à espera da hora de fazer-se heroico e de imolar-se, se for preciso; o amor que às vezes pune, muitas vezes mais perdoa, e não pune senão para fazer merecer o perdão; o amor que ama até o fim e que, menosprezado, insultado, amaldiçoado, acompanha, apesar de tudo, até o extremo e com um olhar de terno apego, o filho mau e culpado; o amor, enfim - último traço que remata a pintura - que esquece sua honra de pai ultrajado, seus direitos profanados pela mais negra ingratidão, pela mais indigna conduta, para correr, ele, o ofendido, rumo ao ofensor, se vê de longe o filho pródigo voltando para ele arrependido.

Eis o amor paterno, tal qual a natureza o dá aos verdadeiros corações de pai nesta Terra.

Mas Deus tem sua maneira de ser pai e mãe ao mesmo tempo, que excede infinitamente tudo isso. Nemo tam pater, tam mater nemo: ninguém é pai, ninguém é mãe como Ele. E Ele mesmo nos diz, por meio da mais brilhante voz dos profetas do Antigo Testamento, Isaías: "Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse, Eu não te esquecerei" (Is 49, 15).

Amor sob a lei do temor e sob a lei do amor


Nada é mais instrutivo, sob este ponto de vista, que a história do profeta Jonas. Incumbido por Deus de fazer aos ninivitas o anúncio dos castigos divinos, o profeta primeiro se esquiva de sua missão e procura fugir para o ocidente dos mares, quando deveria partir para o oriente. Conduzido à força a Nínive, pela vontade do Alto, ele começa a percorrer as ruas da grande cidade, gritando com força e convicção: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída" (Jn 3,4). Mas o Senhor pretendia destruir essa cidade somente se ela perseverasse em sua malícia.

Ora, os ninivitas fizeram penitência sob o cilício e a cinza. Deus então os perdoou, e isso causou ao profeta grande cólera: "Eu bem o sabia" - exclama ele - "e por isso eu queria fugir para Társis. Eu sabia bem que Vós me faríeis ameaçar em vão e que pouparíeis esse povo. Porque Vós sois um Deus clemente, misericordioso, paciente, de uma compaixão extrema. Agora, Senhor, tirai-me a vida, porque é-me penoso viver depois do que acabo de ver" (Jn 4, 1-3).
"Pensas tu que é justa tua cólera?" (Jn 4,4) - responde-lhe simplesmente o Eterno. E Ele conduz Jonas para fora da cidade, do lado do nascente. Jonas ali se instala sob um espesso feixe de hera, miraculosamente pre parada por Deus para resguardá- lo dos raios abrasadores do Sol. Mas, durante a noite o Senhor faz secar a planta protetora, de maneira que o Sol, tornando a subir ao céu de manhã, dardeja seus raios sobre a cabeça do profeta. Grande aflição deste, que de novo deseja a morte. "Ah, bem!" - diz-lhe o Senhor - "tu te afliges e te irritas pela perda de uma planta que não plantaste, nem cultivaste, e Eu faria perecer toda esta multidão de homens de Nínive dos quais sou o Criador e o pai?" (Jn 4,10).
Eis como, sob a Lei do temor, Deus entendia seu papel de pai. Mas, sob a nova Lei, seu amor de Pai, sua misericórdia, vão revestir-se de uma forma capaz de lançar nossos espíritos e nossos corações em maravilhamentos sem fim. Ele irá - mistério adorável e três vezes incompreensível - ao ponto de abafar, se podemos dizer assim, o amor sem nome que une-O no Céu a seu Verbo, a seu Filho, e entregá-Lo a nós como vítima, para que, em seu sangue, se opere nossa Redenção.

Na Nova Aliança, Deus nos enche de benefícios e graças

A Encarnação, a Redenção, esses prodígios de amor do qual - diz- nos o Apóstolo - ninguém nesta terra jamais saberá toda a altura, toda a largura, toda a profundidade, eis a verdadeira medida da misericórdia de Deus por nós! Será demais, então, repetir com o Salmista que grande é a misericórdia divina, grande a multidão de suas compaixões?

1 - Grande, ela o é no espaço. Ela se estende a todos, não exclui ninguém. "Senhor" - diz o Salmista - "Senhor, vossa bondade chega até os céus" (Sl 35,6); "acima dos céus se eleva a vossa misericórdia" (Sl 107,5). Ora, da mesma forma que a abóbada celeste nos envolve a todos, e de todas as partes, assim é a divina misericórdia.

2 - Grande, ela o é no tempo. Salvo razões muito especiais, ela deixa aos homens, aos pecadores, o tempo de reconhecer sua culpa, de se converter, de se resgatar: "Eu não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida" (Ez 33,11).

3 - Enfim, falando como o reiprofeta, grande é a misericórdia divina na multidão de suas operações, de suas comiserações. Que chuva, que dilúvio de graças naturais e sobrenaturais ela derrama cada dia sobre o menor de nós! "A filosofia observa que, em nossa existência, o primeiro momento não acarreta necessariamente o segundo, e que a mão de Deus, por uma criação contínua, precisa nos manter incessantemente sobre este abismo do nada, do qual saímos e para o qual tendemos a retornar" (Mgr. Le Camus, Théologie populaire de N.S.J.C., 2ª Confér., Dieu).

Cada novo instante acrescentado à nossa vida, cada batida de nosso coração é, portanto, um benefício da misericordiosa Providência do Criador. Apesar do repouso no qual Ele entrou no sétimo dia, depois da Criação, sua misericórdia está sem cessar em atividade em torno de nós. Quem contará essas maravilhosas atenções e operações da misericórdia em relação a nós?

Ora, esses benefícios naturais, por mais abundantes que sejam, são talvez infinitamente menos numerosos que os socorros sobrenaturais prodigalizados à nossa alma: Graças atuais de luz, de força, de resignação, de compunção, que sei eu? Quem dirá o que foi preciso de graças para povoar o Céu de todos os santos que lá reinam com Deus, dos quais um grande número é de indignos pecadores? Para um só pecador - seja ele Santo Agostinho, ou seja qualquer um de nós - quem dirá o oceano de Graças com o qual Deus o inunda para reconduzi-lo a Si?

Oh! À vista desta grande, desta grandíssima misericórdia do Senhor, não hesiteis mais, almas pecadoras, ide até Ele com confiança. Quaisquer que sejam vossos pecados, mesmo vossos crimes, por mais arraigados que sejam vossos hábitos culposos, por mais desesperadoras que sejam vossas misérias, vinde, atirai tudo isso, e atirai-vos vós mesmos, nas mãos da divina misericórdia.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - CUIDADO COM OS FALSOS PROFETAS

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1a Leitura - Gênesis 15,1-12.17-18
Leitura do livro do Gênesis.
15 1 Depois desses acontecimentos, a palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão, nestes termos: “Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande.” 2 Abrão respondeu: “Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco.” 3 E ajuntou: “Vós não me destes posteridade, e é um escravo nascido em minha casa que será o meu herdeiro.” 4 Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: “Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas.”
5 E, conduzindo-o fora, disse-lhe: “Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz. Pois bem, ajuntou ele, assim será a tua descendência.” 6 Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça. 7 E disse-lhe: “Eu sou o Senhor que te fiz sair de Ur da Caldéia para dar-te esta terra.” 8 “O Senhor Javé, como poderei saber se a hei de possuir?” 9 “Toma uma novilha de três anos, respondeu-lhe o Senhor, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho.” 10 Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra; mas não cortou as aves. 11 Vieram as aves de rapina e atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as expulsou. 12 E eis que, ao pôr-do-sol, veio um profundo sono a Abrão, ao mesmo tempo que o assaltou um grande pavor, uma espessa escuridão. 17 Quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas. 18 Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão: “Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates:
Palavra do Senhor.

Salmo - 104/105
O Senhor se lembra sempre da aliança.

Dai graças ao Senhor, gritai seu nome,
anunciai entre as nações seus grandes feitos!
Cantai, entoai salmos para ele,
publicai todas as suas maravilhas!

Gloriai-vos em seu nome que é santo,
exulte o coração que busca a Deus!
Procurai o Senhor Deus e seu poder,
buscai constantemente a sua face!

Descendentes de Abraão, seu servidor,
e filhos de Jacó, seu escolhido,
ele mesmo, o Senhor, é nosso Deus,
vigoram suas leis em toda a terra.
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Evangelho - Mateus 7,15-20
Aleluia, aleluia, aleluia. Ficai em mim e eu em vós ficarei, diz Jesus; quem em mim permanece há de dar muito fruto (Jo 15,4s).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
7 15 Disse Jesus: “Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? 17 Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 20 Pelos seus frutos os conhecereis”.
Palavra da Salvação.


 Reflexão

Jesus não impôs a seleção dos seus seguidores. O convite é para todos. Por isso, a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, compõe-se de «bons e de maus». Naturalmente, não tardaram a surgir dificuldades na comunidade, e impôs-se o discernimento ou distinção dos espíritos.
Na Igreja, povo de Deus, surgiram profetas que gozaram de grande estima, mas também falsos profetas. Havia que saber distingui-los. O critério para essa distinção era o fruto que produziam. A imagem da árvore encontra-se noutros textos bíblicos, por exemplo, em Is 61, 3, Jr 2, 21, Mt 15, 3, Jo 15, 1-8. A árvore boa dá bons frutos; a árvore má dá maus frutos.
A página do Gênesis, que escutamos, é profunda e suscitou cuidada reflexão de Paulo. Abraão é apresentado como exemplo de fé: «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça», escreve o Apóstolo (Gl 3, 6; Rm 4, 3). No nosso texto, em que já podemos entrever o mistério de Cristo e da vida cristã, também descobrimos a esperança de Abraão, e a sua adesão ao mistério da caridade de Deus. O Patriarca escuta a palavra do Senhor: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande» (v. 1). Com esta palavra, Deus reaviva a fé de Abraão, que tem de ultrapassar as circunstâncias imediatas, que não parecem oferecer perspectivas de futuro: «Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer, de Damasco» (v. 2). Mas o Senhor insiste: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas» (v. 4). Imediatamente Deus faz sair Abraão da sua tenda para contemplar o céu estrelado: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» (v. 5). Abraão acreditou e a sua fé tornou-o justo.
As palavras de Deus, que em sentido imediato se referem a Isaac, em última análise preanunciam Cristo, o herdeiro de Abraão por excelência, e a multidão de filhos de Abraão, que hão-de ser todos os que vierem a acreditar em Cristo. É o que diz Paulo na Carta aos Gálatas: «Os que dependem da fé é que são filhos de Abraão» (Gl 3, 7).
Abraão acreditou em Deus. Nós havemos de escutar a palavra de Cristo para acreditarmos e encontrarmos a plenitude da vida. O texto do Gênesis, que hoje escutamos, não só evoca a palavra do Senhor, mas também a sua ação, que conclui a aliança. O sacrifício misterioso, acompanhado simultaneamente por uma manifestação de terror e de esperança, é sinal profético do sacrifício de Cristo, que estabelecerá a nova e eterna Aliança. Assim Abraão é já misteriosamente introduzido no mistério de Cristo, e sê-lo-
á ainda mais profundamente no momento do sacrifício de Isaac. Abraão escuta a Deus e, pela sua obediência, vê o dia de Cristo e enche-se de alegria, como dirá Jesus no evangelho de João.
O exemplo de Abraão guia-nos na direção certa, a da fé na palavra do Senhor e no fruto do Espírito, que transforma a vida em modo consequente à fé.
A primeira e mais importante aliança, para nós, é a do Batismo, que nos torna filhos de Deus e prontos a renunciar ao demônio e às suas seduções. O bom fruto que Deus espera de nós, e que testemunhemos a boa qualidade da árvore que somos, é a fidelidade constante aos nossos compromissos batismais: «Com todos os nossos irmãos cristãos confessamos… que Cristo é o Senhor, no qual o Pai nos manifestou o seu amor e que continua presente no mundo para o salvar» (Cst 9). Esta confissão de fé em Jesus Cristo Senhor só é possível se permanecermos unidos a Ele e recebermos d´Ele a seiva divina, que é o seu Espírito.





Dehonianos


ESTÁ NO FUNDO DO POSSO? NÃO SAIA DAÍ SEM APRENDER TUDO!

Sim, o fundo do poço é uma grande oportunidade.

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Não saia daí sem aprender tudo!
O fundo do poço é, definitivamente, um lugar indesejável. Mas algumas pessoas que passaram por lá ressurgiram com tanta força que, depois que deram a volta por cima, ficou até difícil de acreditar que realmente estiveram lá.
No fundo do poço, não tem mais espaço para vaidades ou futilidades. É um lugar de aprendizado e limpeza da alma.
Quem sai do fundo do poço tendo aprendido tudo que poderia aprender sai fortalecido, limpo, disposto a não cometer os mesmos erros, a fim de mudar sua história e, o principal, em vez de ficar se lamentando, sai agradecido por toda sua evolução.
Está no fundo do poço?
Então não queira sair daí sem aprender todas as lições.







(Flávio Augusto, Geração de valor)

terça-feira, 27 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - ...PÉROLAS AOS PORCOS

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1a Leitura - Gênesis 13,2.5-18
Leitura do livro do Gênesis.
13 2 Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro.
5 Lot, que acompanhava Abrão, possuía também ovelhas, bois e tendas,6 e a região não lhes bastava para aí se estabelecerem juntos. 7 Por isso houve uma contenda entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os dos rebanhos de Lot. Os cananeus e os ferezeus habitavam então naquela terra. 8 Abrão disse a Lot: “Rogo-te que não haja discórdia entre mim e ti, nem entre nossos pastores, pois somos irmãos. 9 Eis aí toda a terra diante de ti; separemo-nos. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para esquerda.” 10 Lot, levantando os olhos, viu que a toda a planície de Jordão era regada de água (o Senhor não tinha ainda destruído Sodoma e Gomorra) como o jardim do Senhor, como a terra do Egito ao lado de Tsoar. 11 Lot escolheu toda a planície do Jordão e foi para o oriente. Foi assim que se separam um do outro. 12 Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma.13 Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor. 14 O Senhor disse a Abrão depois que Lot o deixou: “Levanta os olhos, e do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. 15 Toda a terra que vês, eu a darei a ti e aos teus descendentes para sempre. 16 Tornarei tua posteridade tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade. 17 Levanta-te, percorre a terra em toda a sua extensão, porque eu te hei de dar.” 18 Abrão levantou as suas tendas e veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e ali edificou um altar ao Senhor.
Palavra do Senhor.


Salmo - 14/15
Senhor, quem morará em vosso monte santo?
“Senhor, quem morará em vossa casa?”
É aquele que caminha sem pecado
e pratica a justiça fielmente;
quem pensa a verdade no seu íntimo
e não solta em calúnias sua língua.

Que em nada prejudica o seu irmão
nem cobre de insultos seu vizinho;
que não dá valor algum ao homem ímpio,
mas honra os que respeitam o Senhor.

Não empresta o seu dinheiro com usura
nem se deixa subornar contra o inocente.
Jamais vacilará quem vive assim!

Resultado de imagem para Mateus 7,6.12-14
Evangelho - Mateus 7,6.12-14
Aleluia, aleluia, aleluia. Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 6 “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
12 Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas. 13 Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. 14 Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram”.
Palavra da Salvação.


 Reflexão


Mateus apresenta-nos dois provérbios de difícil compreensão, por várias razões: vêm logo depois de Jesus nos ter proibido julgar os outros e nos ter mandado aplicar a medida com moderação, compreensão e perdão; não encontramos provérbios paralelos na literatura judaica que nos ajudem a compreender estes; apenas lemos no Talmud: «não entregueis a um pagão as palavras da Lei» e «não coloqueis coisas santas em lugares impuros», mas não ajudam muito no nosso caso. Os sacrifícios oferecidos no templo eram chamados «santos»; as pérolas, sob o ponto de vista comercial, eram preciosas. As palavras «santo» e «pérolas» provavelmente indicavam o Evangelho, a Boa Nova. Os «cães» e os «porcos», por sua vez, não eram os pagãos, como alguns dizem, mas todas aqueles que, pagãos ou não, desprezavam a Boa Nova, tal como os porcos desprezam as pérolas.
O evangelista aponta, depois, a regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v.12). Este princípio encontra-se noutras religiões, nomeadamente no judaísmo. Mas com uma diferença: no judaísmo é formulado negativamente: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a Ti» É uma diferença importante, porque, «não fazer» é sempre algo negativo. Mas a maior diferença é que Jesus eleva essa regra a princípio universal.
Depois, Jesus cita os provérbios das duas portas e dos dois caminhos, usados entre os moralistas da época para indicar o caminho da virtude, estreito e difícil, e o do vício, espaçoso e fácil. Mas Jesus introduz uma mudança: a porta e o caminho estreitos, da renúncia, do seguimento, da cruz, levam à vida; a porta e o caminho espaçosos, da satisfação dos apetites desordenados, levam à perdição. Há que escolher.
O desapego, a que a fé leva o crente, dá-lhe uma grande liberdade de espírito. Os ricos, muitas vezes, andam preocupados em conservar e aumentar as suas riquezas. Abraão, pelo contrário, está mais preocupado em ter boas relações com os seus vizinhos, do que em ter abundância de pastos, de água e de rebanhos. Quer evitar conflitos com o seu sobrinho Lot e, com grande liberdade de espírito, antecipa a regra de ouro proclamada por Jesus: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v. 12). Abraão diz ao sobrinho: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda» (vv. 8-9). Deixar ao outro escolher é o melhor modo de evitar conflitos. Mas não é uma decisão fácil, porque vemos melhor os nossos direitos, e os deveres dos outros, do que os seus interesses. Lot escolhe o fértil vale do Jordão, enquanto Abraão se contenta com a parte montanhosa e árida de Canaã. Podemos ver neste episódio uma aplicação ante literam do ensinamento de Jesus: «Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida» (vv. 13-14). Jesus é, como sabemos, o caminho, o caminho estreito, que passa pela Cruz, mas que chega à Vida, à vida divina que é Ele mesmo. Jesus é também a porta estreita do desapego, do abandono, da abnegação, que nos dá acesso à Felicidade, à Bem-aventurança, que, ao fim e ao cabo, é Ele mesmo, com o Pai e o Espírito Santo.
Lot escolheu o «caminho espaçoso», o caminho fácil, que, no seu termo, conduzia a Sodoma e a Gomorra, símbolos da corrupção e da perdição. Abraão optou pelo «caminho estreito», que levava a Canaã, a Terra Prometida: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre» (vv. 14-15).
Esta página leva-nos, mais uma vez, a meditar sobre a nossa situação neste mundo. Há sempre dois caminhos diante de nós: o que leva à vida e o que leva à morte. Há que optar por um deles. Em termos atuais, diríamos que temos de escolher entre o que nos agrada, o que nos satisfaz imediatamente, sem nos interessarmos pelos outros, e o que é justo e reto, o que é conforme à vontade de Deus e ao bem dos irmãos. Esta segunda opção pode parecer-nos dura e exigente no começo. Mas alarga-nos o coração e os horizontes. Leva à felicidade. Assim, vemos antecipadamente realizadas em Abraão as palavras de Jesus: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35).
A nossa vida de oblação exige a opção pelo caminho apertado e pela porta estreita, em união com Cristo, vivendo a oblação de Cristo. Mas, essa opção, antes de ser fruto do nosso esforço, da nossa generosidade e boa vontade, é fruto do amor de Deus, da graça, da oração: é dom do Coração de Cristo, é sustentada pela Espírito.







Dehonianos


VIVEMOS UM TEMPO DE SECRETA ANGÚSTIA: O AMOR É MAIS FALADO QUE VIVIDO

Este é um retrato da sociedade atual. Depende de você querer viver assim... ou não.

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O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.
O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.
Em tempos de Facebook e Twitter, não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar.
Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos; as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”
Zygmunt Bauman






(via Revista Pazes)

segunda-feira, 26 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - JULGAMENTO E MEDIDA

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1a Leitura - Gênesis 12,1-9
Leitura do livro do Gênesis.
12 1 O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.
2 Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. 3 Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti.” 4 Abrão partiu como o Senhor lhe tinha dito, e Lot foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos, quando partiu de Harã. 5 Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã, e partiram para a terra de Canaã. Ali chegando, 6 Abrão atravessou a terra até Siquém, até o carvalho de Moré. Os cananeus estavam então naquela terra. 7 O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: “Darei esta terra à tua posteridade.” Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido. 8 Em seguida, partindo dali, foi para a montanha que está ao oriente de Betel, onde levantou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente e Hai ao oriente. Abrão edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o seu nome. 9 Continuou depois sua viagem, de acampamento em acampamento, para Negeb.
Palavra do Senhor.


Salmo - 32/33
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
Feliz o povo cujo Deus é o Senhor
e a nação que escolheu por sua herança!
Dos altos céus o Senhor olha e observa;
ele se inclina para olhar todos os homens.

Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem
e que confiam, esperando em seu amor,
para da morte libertar as suas vidas
e alimenta-los quando é tempo de penúria.

No Senhor nós esperamos confiantes,
porque ele é nosso auxílio e proteção!
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!
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Evangelho - Mateus 7,1-5
Aleluia, aleluia, aleluia. A palavra do Senhor é viva e eficaz: ela julga os pensamentos e as intenções do coração (Hb 4,12).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
7 1 Disse Jesus: “Não julgueis, e não sereis julgados.
2 Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. 3 Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? 4 Como ousas dizer a teu irmão: ‘Deixa-me tirar a palha do teu olho’, quando tens uma trave no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgares; e sereis medidos com a mesma medida com que medirdes”!  Esta deve ser para nós uma regra de ouro! Jesus nos ensina a ter coerência nas nossas atitudes e no julgamento que fazemos em relação às ações dos outros. Muitas vezes ficamos inquietos e apreensivos tentando compreender se alcançaremos um bom lugar perto de Deus e como é que seremos julgados. No entanto, nós percebemos que não é difícil avaliar a nossa situação após a nossa morte. Trocando em miúdos podemos, então, deduzir que a regra de ouro para nós é, o “a começar em mim”. Tudo o que nós esperamos dos outros, precisamos também viver.  Quando olhamos para o outro e logo “enxergamos” as suas falhas, nós inconscientemente estamos descobrindo também as nossas limitações, por isso, o erro do outro chama tanto a nossa atenção e tem tanto peso para nós.   Precisamos, pois estar conscientes de que todos nós temos limitações, mas também temos a capacidade para grandes transformações. Desse modo, as advertências de Jesus nos servem para que olhemos menos para os defeitos dos nossos irmãos e irmãs e descubramos em nós mesmos (as) o que precisa ser transformado para o bem e a edificação do reino de Deus através das nossas atitudes. – Como você tem medido as ações do seu próximo? – Você tem meditado sobre si mesmo (a)?   – Você se acha autossuficiente e incapaz de cometer “grandes pecados”? – O que você considera um grande pecado? – Você tem o costume de fazer julgamentos mesmo que sejam somente no seu pensamento? – Como você acha que será julgado (a)? Assim como você julga?  
 
 
 
 
 
Helena Serpa


EXISTE CRISE DE IDENTIDADE? O QUE É ISSO?

O conceito de identidade da pessoa humana é elaborado a partir de contribuições genéticas, mas também econômicas, sociológicas, filosóficas, teológicas

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Para se falar da crise de identidade, é preciso primeiro entender o significado de identidade. Fala-se em identidade ontológica, psicológica, genética, sexual, relacional e social. O ser humano é um complexo extraordinário que o constitui como pessoa humana. As diversas identidades da pessoa humana (genética, ontológica, psicológica, metafísica) encontram-se na pessoa e estão inextricavelmente entrelaçadas.
A identidade da pessoa humana não é simplesmente representativa, seu conceito é elaborado a partir de contribuições genéticas, sociológicas, filosóficas e teológicas. O conceito de identidade foi empregado, pela primeira vez, por Erik Erikson (1902 – 1994), em sua obra ‘Juventude e Crise de Identidade’, publicado em 1968, sendo que o termo “identidade” se refere à totalidade da pessoa e integra os componentes biológicos, psicológicos e sociais.
A identidade, entretanto, não é estática, ela evolui de acordo com as modificações que o ser humano, desde seu nascimento e infância, passa para atingir uma identidade adulta, ou seja, um eu maduro, uma identidade integrada. A falta de integração de todas as partes desse eu (masculino/feminino, bom/mau, superego admirado/superego desprezado) consequentemente cria um falso eu.1

A identidade é individual

Sendo a identidade um conceito mutável e dinâmico, atravessa diversas fases de reestruturação em coincidência com alguns períodos da vida do indivíduo, que podem ser críticos e que exige reestruturação da identidade.2 A identidade é um dos aspectos mais importantes de um indivíduo. Cada pessoa desenvolve a sua. Possuímos características distintas, as quais nos diferenciam dos outros e estão relacionadas à nossa história de vida pessoal. Na identidade de pessoa, há aquilo que é o ser, a essência, que permanece, e a história que é dinâmica e evolui.
Desde que fomos concebidos no seio de nossa mãe, vamos tecendo nossa identidade. A identidade ontológica do ser humano não se altera, aquilo que ele é, pessoa, imagem e semelhança de Deus, com dignidade intrínseca, é estável, inalterável; o que realmente pode ocorrer é uma alteração de ordem psicológica, social e histórica.
Compreender a identidade ontológica do homem é reafirmar o caráter singular do respeito à sua identidade e dignidade como requisito para sua igual consideração como pessoa, livre de qualquer forma de manipulação. A identidade ontológica constitui um bem da pessoa, uma qualidade intrínseca de seu ser e, então, um valor moral sobre o qual funda o direito/dever de promover e defender a integridade da identidade pessoal e sua dignidade.
Entendemos que todo indivíduo é um ser único, irrepetível, com composição genética própria, distinta da dos demais indivíduos, e que a identidade genética seria então a base biológica da identidade de pessoa, porém, esta não se resume ao genético, pois tem como referencial tanto o aspecto biológico como o meio.

Formação da personalidade

Cada surgimento de uma pessoa no mundo é sempre uma nova criação. À identidade estática ou genética acrescentar-se-ão, desde o momento inicial da vida, outros elementos que vão modelar uma certa e original personalidade. A partir da concepção, estão dadas todas as possibilidades futuras que permitirão a projeção social de uma determinada personalidade social.
Tudo isso nos indica que o ser humano, em sua identidade de pessoa, é mais do que ter um genótipo humano, significa que ela tem uma identidade de pessoa ou antropológica, tem um aspecto transcendental. Por isso, é cada vez mais necessário salvaguardar a pessoa em sua totalidade, seu valor, bem como sua identidade única e irrepetível, que constitui o cerne, o núcleo do direito a ser respeitado em sua excelência.
É certo que a identidade pessoal é construída ao longo da história da pessoa com influências “externas”, como educação, família, cultura e meio ambiente; e tudo é resultado de uma ação plural coparticipada. O conceito de identidade da pessoa humana é elaborado a partir de contribuições genéticas, mas também econômicas, sociológicas, filosóficas, teológicas etc.

O homem e o Criador

Fazendo uma leitura atenta do pensamento de Lévinas e Dussel à luz da antropologia cristã, entendemos que a identidade do homem, em nível ontológico, vai se firmando na relação com o Criador e com o semelhante, é o encontro inteligente e afetivo do Criador com a criação e de toda a criação, a identidade que se firma como reflexo de sua ação no mundo e o torna responsável pelo futuro da humanidade.
A contribuição da teologia dá-se na elaboração do conceito de vida, no resgate da pessoa humana imagem e semelhança de Deus e no conceito de identidade da pessoa que não se prende apenas ao biológico, social, psicológico etc., mas que é elaborado também a partir de princípios teológicos.

E quando não tenho certeza de quem sou?

A identidade da pessoa está inserida em uma rede de relações próximas e distantes, nos sentidos vertical e horizontal e, em conjunto, todos necessitamos de proteção. No entanto, descobrir quais efeitos sobre as pessoas em particular e sobre a humanidade em geral, agora e no futuro, sobre os quais os cientistas sociais deveriam investigar exige reflexão prévia e cuidadosa análise dos resultados possíveis e seus prováveis significados para o ser humano.
Às vezes, deixamo-nos levar pelos condicionamentos sociais, até que, no final, conseguimos descobrir nossa própria identidade, uma identidade única, nossa, própria, que alimentaremos de forma positiva até o fim dos nossos dias. Mas o que acontece quando não temos muita certeza de quem somos? As dúvidas nos rodeiam, sentimo-nos inseguros e começamos a sentir que existimos sem existir. Uma série de pensamentos que dirigem a um vazio e a uma solidão aterradora.
O processo de construção de identidade é contínuo, e, ao longo do tempo, podemos nos deparar com situações conflitantes, gerando crises de identidade. Essas crises têm reflexo direto na forma como a pessoa se percebe, identifica-se ou não. O processo de crise pode desembocar em situações conflitantes da consciência de si, da perda da sua identidade, levando muitas pessoas a se colocarem em atitudes de ateísmo como desejo de emancipação e libertação.

Identidade sexual

A identidade sexual, considerada como um dos aspectos mais importantes e complexos compreendidos dentro da identidade pessoal, quando em desajuste, pode gerar crise na pessoa. De acordo com médicos e psiquiatras, sexo biológico, gênero, orientação e expressão são elementos que formam o comportamento sexual humano e estes devem estar relacionados, e o indivíduo se identifica em todos os aspectos com o seu “gênero de nascença”.
A crise de identidade pode levar esse indivíduo a não se identificar com o sexo biológico; daí, surgem os que chamam de multiplicação de gêneros, ou seja, o gênero com a qual uma pessoa se identifica ou se autodetermina, independe do sexo biológico. As distorções de pensamento contribuem para esse quadro, distorcendo o sentimento e o ponto de vista acerca de si mesmo.

O que nos leva a uma crise de identidade?

Para um dos maiores estudiosos do tema, o psicanalista Erik Erikson, crise de identidade é um tempo de exploração intensa das diferentes maneiras de olhar para si mesmo. Crises de identidade podem ser resultado de vários fatores como de ordem psicológica, espiritual, existencial, social, familiar, hormonal etc.
É possível obter mudanças significativas no quadro negativo que uma pessoa faz de si mesma por meio da terapia. Ao aprender a identificar corretamente o tipo de “pensamento desajustado”, a pessoa pode agir de forma construtiva sobre as distorções de pensamentos, que podem estar criando conflitos em determinada fase da vida.
A identidade de pessoa é a maneira de ser, como a pessoa se realiza em sociedade, com seus atributos e defeitos, com suas características e aspirações, com sua bagagem cultural e ideológica, é o direito que tem todo o sujeito de ser ele mesmo.
Podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo. A identidade é instável, contraditória, fragmentada, inconsistente, inacabada. Como afirma Stuart Hall, existe, hoje, uma crise de identidade, pois os quadros de referências tornaram-se instáveis, as identidades unificadas e estáveis então se fragmentando. Com essa análise, postula-se que não existe uma identidade, mas identidades.3

Sujeito fragmentado

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas nos últimos anos. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Essas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.4
Nesse contexto, Hall assinala que assim se instala uma crise de identidade, uma vez que o que antes estava centrado e estável, não o está mais; isso gera um sujeito fragmentado. Esse seria o sujeito pós-moderno: não possuindo uma identidade essencial ou permanente.5 A identidade torna-se uma “celebração móvel”, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. 6

Estabilidade psicológica

Queremos com isso dizer que o sujeito precisa de um conjunto de valores e princípios psicologicamente estáveis para manter-se indivíduo (indivisível ou constante) diante do mundo e dos outros (diferente); e para ver-se como indivíduo em meio às representações psicológicas e sociais que experimenta ou vivencia.
Por outro lado, interagindo com um contexto sociocultural diversificado, múltiplo e até mesmo instável, precisa desenvolver esquemas psicológicos de inserção mais ou menos bem sucedidos dentro desse contexto e sua trama, para que se veja sendo alguém e ocupando um lugar no mundo. Em suma, o sujeito precisa ter certa estabilidade psicológica para formar sua identidade e, ao mesmo tempo, conviver com o plural, o incerto e o mutável do contexto social pós-moderno.

 





Referências:
1 VERDE, J. B. e GRAZIOTTIN, A. Transexualismo: o enigma da identidade. São Paulo: Paulus, 1997, p. 20.
2 Cf. VERDE; GRAZIOTTIN, op. cit.
3 HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz T.(org) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
4 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005, p. 9.
5 Cf. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.
6 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005. p. 12-13.
Por Padre Mário Marcelo ( Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética),  
 via Canção Nova