sexta-feira, 24 de maio de 2024

7ª Semana do Tempo Comum - Matrimônio: um caminho de santidade.

4 sinais que você está agindo como um fariseu e como parar agora

Confiei no vosso amor, Senhor. Meu coração por vosso auxílio rejubile, e que eu vos cante pelo bem que me fizestes! (Sl 12,6)

Jesus responde aos seus interlocutores sobre a questão do divórcio, firmando-se sobre o valor do amor entre os esposos e da unidade da família querida por Deus. Os esposos cristãos, olhando para o Senhor “rico em misericórdia e compassivo”, saberão crescer na fidelidade e serão testemunhas do amor sem medidas para toda a comunidade. Celebremos com o compromisso de crescer no amor de Deus, sendo honestos e coerentes em nossas palavras e ações.

Primeira Leitura: Tiago 5,9-12

Leitura da carta de São Tiago9Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. 10Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. 11Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes falar da perseverança de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu – pois o Senhor é rico em misericórdia e compassivo. 12Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra forma de juramento. Antes, que o vosso “sim” seja sim e o vosso “não”, não. Então não estareis sujeitos a julgamento. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 102(103)

O Senhor é indulgente, é favorável.

1. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, / e todo o meu ser, seu santo nome! / Bendize, ó minha alma, ao Senhor, / não te esqueças de nenhum de seus favores! – R.

2. Pois ele te perdoa toda culpa / e cura toda a tua enfermidade; / da sepultura ele salva a tua vida / e te cerca de carinho e compaixão. – R.

3. O Senhor é indulgente, é favorável, / é paciente, é bondoso e compassivo. / Não fica sempre repetindo as suas queixas / nem guarda eternamente o seu rancor. – R.

4. Quanto os céus por sobre a terra se elevam, / tanto é grande o seu amor aos que o temem; / quanto dista o nascente do poente, / tanto afasta para longe nossos crimes. – R.

Evangelho: Marcos 10,1-12

Aleluia, aleluia, aleluia.

Vossa Palavra é a verdade; / santificai-nos na verdade! (Jo 17,17) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 1Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu esse mandamento. 6No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra cometerá adultério contra a primeira. 12E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. – Palavra da salvação.

Reflexão
No Evangelho de hoje, o Senhor nos fala daquilo que é e sempre foi a doutrina de sua Santa Igreja acerca da indissolubilidade do matrimônio. Embora o mundo ranja os dentes e queira, por todos os meios, que os cristãos capitulem e cedam de uma vez por todas à tentação do divórcio e das uniões livres, a Igreja Católica sempre defendeu corajosamente o altíssimo valor atribuído à instituição matrimonial por seu divino Fundador: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra”, sentencia Ele, “cometerá adultério contra a primeira”. Eis um princípio fundamental da moral cristã, válido para todos os tempos e que já na época de Jesus causou escândalo nos que, pela primeira vez, ouviam a verdade proclamada pelo próprio Verbo encarnado: “E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. Que o mundo de hoje não entenda os ensinamentos de Cristo não é algo que nos deva surpreender, pois os mesmos contemporâneos do Senhor se fizeram de surdos às suas palavras. Ainda que a dureza do nosso coração continue a mesma, vinte séculos após os acontecimentos registrados no Evangelho de hoje, o matrimônio continua sendo, conforme os desígnios de Deus, um caminho de salvação e santificação, uma forma especialíssima que os esposos têm de viver e representar aquela aliança de amor que une Cristo à sua Igreja. Vinculados pelos laços matrimoniais, marido e mulher instituem uma comunidade de vida que, por exigir sacrifício, abnegação e entrega total e paciente ao outro, expressa e possibilita as formas mais elevadas e puras de caridade cristã. Que o Espírito Santo, cuja graça é derramada abundantemente sobre os esposos na celebração do matrimônio, dê a todos os casais a força de se manterem fiéis ao compromisso assumido, a fim de que o mundo inteiro testemunhe que, em Cristo e por Cristo, as exigências do casamento cristão são não apenas possíveis, mas fonte de verdadeira alegria e felicidade.


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domingo, 19 de maio de 2024

Solenidade de Pentecostes - Em Pentecostes, Cristo se reveste de um novo Corpo.

Temos culpa na Paixão de Cristo?

 O Espírito do Senhor encheu a terra inteira; ele, que abrange todo o universo, conhece também cada palavra, aleluia (Sb 1,7).

Vindos de diferentes realidades e iluminados pelo mesmo Espírito de Deus, celebremos a solenidade de Pentecostes. O sopro divino desce sobre nós e nos congrega na mesma fé e numa só família, na alegria e na fraternidade. Renovados pelo Espírito criador, nós nos fortalecemos na missão, como Igreja em percurso sinodal, e nos colocamos a serviço do bem comum.

Primeira Leitura: Atos 2,1-11

Batizados no mesmo Espírito, formamos um só corpo, na diversidade de dons e culturas, e somos enviados a anunciar a paz e o perdão.

Leitura dos Atos dos Apóstolos 1Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 103(104)

Enviai o vosso Espírito, Senhor, / e da terra toda a face renovai.

1. Bendize, ó minha alma, ao Senhor! / Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande! / Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras! / Encheu-se a terra com as vossas criaturas! – R.

2. Se tirais o seu respiro, elas perecem / e voltam para o pó de onde vieram. / Enviais o vosso espírito e renascem, / e da terra toda a face renovais. – R.

3. Que a glória do Senhor perdure sempre, / e alegre-se o Senhor em suas obras! / Hoje, seja-lhe agradável o meu canto, / pois o Senhor é a minha grande alegria! – R.

Segunda Leitura: 1 Coríntios 12,3-7.12-13

Leitura da primeira carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 3ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 20,19-23

Aleluia, aleluia, aleluia.

Vinde, Espírito divino, e enchei com vossos dons os corações dos fiéis; / e acendei neles o amor, como um fogo abrasador! – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – 19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Neste domingo, transcorridos cinquenta dias após a Páscoa, celebramos a solenidade de Pentecostes. Depois de ressuscitar num domingo, Jesus apareceu aos discípulos durante quarenta dias; mas Ele mesmo disse “é conveniente para vós que eu vá”, a fim de enviar o Espírito Santo. Hoje o Paráclito desce sobre os Apóstolos, reunidos no Cenáculo com Maria Virgem. Tem início, assim, um novo período da história, o tempo da Igreja.

A Igreja está fundamentada no mistério de Pentecostes, porque ela é o novo Corpo do qual Jesus se revestiu. A expressão pode parecer ousada, mas está presente no último capítulo da Vida de Cristo, de Fulton Sheen. O capítulo intitula-se: “Cristo se reveste de um novo Corpo”. Fulton Sheen poderia tê-lo chamado de “Pentecostes”, mas preferiu esse título mais instigante. Isso porque em Pentecostes tem início a Igreja, o Corpo místico de Cristo, continuação, na história, do mistério da Encarnação. Reflitamos um pouco a esse respeito.

É comum ouvirmos algumas pessoas dizendo: “Se eu vivesse dois mil anos atrás, quando Jesus veio ao mundo, não teria dificuldade de crer nele. Agora, porém, Jesus está tão longe… O que sobrou foi uma Igreja corrompida, cheia de pecados. É triste saber que Jesus, tão santo, viveu dois mil anos atrás, enquanto nós o que temos hoje é a Igreja”. 

A verdade é que, se vivêssemos naquela época, tampouco acreditaríamos em Jesus. Se nos escandalizamos hoje com as fraquezas presentes na Igreja, que é o Corpo místico dele, como não nos haveríamos de escandalizar, dois mil anos atrás, com as fraquezas do corpo físico de Cristo? Sim, Jesus é o Filho de Deus; nós, porém, o veríamos crucificado, ensanguentado, desfigurado, irreconhecível. Foi um escândalo para todos, e também seria para nós.

Por que tantos judeus se negaram a crer em Nosso Senhor? Porque o viam apenas como homem, com as fraquezas próprias de um corpo humano. Ele sangrou, sofreu e finalmente se entregou à morte. Ora, como é possível que Cristo, sendo Deus, morra na Cruz? Como é possível que, sendo de condição divina, tenha ao mesmo tempo um corpo frágil, estraçalhado, pregado ao madeiro? Eis o grande escândalo do corpo de Cristo.

Entretanto, Jesus subiu aos céus ressuscitado, em corpo glorioso, e de lá enviou o Espírito Santo para que esse corpo permanecesse na história. Esse Corpo é a Igreja. 

Sob a mesma perspectiva, olhemos agora para a conversão de São Paulo. Jesus subiu aos céus sem que Saulo, ao que tudo indica, o tivesse visto alguma vez. Encarregado de levar os cristãos presos a Jerusalém, Saulo cai por terra a caminho de Damasco e ouve perguntarem-lhe do meio de uma luz fulgurante: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”; “Quem és tu, Senhor, para que eu te persiga?”; “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9, 3ss).

Saulo poderia ter dito: “Não, Senhor, persigo os que creem ti”. No entanto, Jesus trata-os como se fossem Ele mesmo. Quem, ao tropeçar e bater o pé num móvel da sala, reage dizendo: “Foi só o dedão”? Ninguém. Se o pé se machuca, o corpo inteiro sente-se afetado. Saulo estava pondo membros do Corpo de Cristo na cadeia, por isso Jesus, a Cabeça, queixou-se: “Por que me persegues?” É a experiência da Igreja. Em Pentecostes, vem à luz o Corpo místico de Cristo.

Não se trata de um corpo físico em sentido biológico. A partir da Ascensão, o corpo físico de Jesus está no Céu e, sacramentalmente, nos sacrários da terra, escondido sob a aparência de pão. A Igreja não é o corpo físico de Jesus, é o Corpo místico. Também não se trata de uma associação, como um clube ou uma empresa. As associações humanas são corpos morais, que se sustentam e se perpetuam pela vontade dos associados de permanecerem unidos uns aos outros. O Corpo místico de Cristo não é obra de vontades humanas. Não somos mera instituição humana. A Igreja é o Corpo místico de Cristo; logo, sua alma é o Espírito Santo.

Se os Apóstolos, antes de Pentecostes, tivessem decidido fundar a Igreja com as próprias forças, estariam fundando qualquer coisa, menos a Igreja. A Igreja é uma instituição fundamentalmente divina. Não é a vontade do homem, mas o Espírito Santo quem faz a Igreja.

A Igreja militante é um organismo presente no mundo; é uma sociedade visível, mas diferente de todas as outras. É fruto da ação do Espírito divino derramado sobre os Apóstolos e a Virgem Maria. O Paráclito é para a Igreja o que a alma é para o corpo humano.

A ciência, escreve Fulton Sheen na obra Vida de Cristo [1], já descobriu quais são os elementos que compõem o corpo humano. Ora, reuni-os todos e entregai-os a um grupo de cientistas. Embora conheçam cada um desses elementos, eles não serão capazes de produzir em laboratório um só dedo. Afinal, o que faz um corpo ser propriamente humano é a alma. O que faz um embrião, a célula concebida no tubo uterino de uma mulher, ser humano é a alma em virtude da qual aquele corpinho vai-se desenvolvendo como qualquer ser vivo.

O corpo vivo cresce de dentro para fora. O que não é vivo cresce de fora para dentro. Um edifício, por exemplo, constrói-se assim: primeiro se erguem as paredes e só depois se faz o acabamento. Ora, a Igreja é um Corpo vivo. Ela começa com os Apóstolos; mas não lhe basta ter os elementos — Pedro, André, Tiago, João etc. —, pois é necessário unificá-los pela alma infundida nesse Corpo. E a alma da Igreja é o Espírito Santo.

Em Pentecostes, o Paráclito, princípio vivificante da Igreja, foi derramado sobre ela em forma de línguas de fogo, de modo que a Igreja se tornou, a partir de então, uma realidade visível. Quando São Pedro abriu as portas do Cenáculo, e a multidão que estava do lado de fora ouviu o anúncio do Evangelho, a Igreja verdadeiramente nasceu. Antes havia elementos dispersos, ainda em preparação, que foram reunidos num só e mesmo Corpo vivo pelo Espírito Santo.

A Igreja é uma união de seres humanos com o Ressuscitado num organismo vivo que atravessa a história. Pelo Espírito Santo, estamos unidos a Jesus Cristo como membros ao Corpo. Ele, nossa divina Cabeça, reina glorioso no Céu; nós, membros ainda padecentes na terra, vivemos da vida dele por obra do Espírito Santo que nos foi dado, pelo qual nos chegam as graças atuais de que necessitamos todos os dias: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). Eis o mistério da Igreja. 

Há quem diga: “Eu creio em Deus e em Jesus Cristo, mas eu não creio na Igreja”. Isso não dá certo. O movimento dos inimigos de Cristo, exposto já por Pio XII, é assim: de início afirmam: “Jesus sim, Igreja não”; dali a pouco, fazem a ressalva: “Deus sim, Jesus não, porque temos de unir as religiões”; e enfim proclamam: “Deus não”. Esse é o caminho do Anticristo, que leva a um verdadeiro satanismo [2].

Quem tem fé em Jesus, mas não na Igreja, pode ter acesso a Cristo unicamente por meio da Bíblia? Ora, a história atesta que não haveria Bíblia, se antes não houvesse Igreja. Os três primeiros séculos do cristianismo, com efeito, foram muito conturbados. A Igreja era perseguida externamente pelo Império Romano e dilacerada internamente por uma religião parasita chamada gnose [3]. O gnosticismo foi de longe o maior problema da Igreja nos três primeiros séculos, muito maior do que a perseguição romana. Porque os romanos perseguiam os cristãos, mas o sangue dos mártires, como diz Tertuliano [4], era semente de novos fiéis; o gnosticismo, no entanto, como um parasita dentro da Igreja, esse, sim, estava sugando-lhe a vida.

Em que consiste o gnosticismo? É a promessa de um acesso privilegiado à “verdadeira” doutrina cristã à margem da Igreja e da hierarquia eclesiástica: “Nós, gnósticos, temos a doutrina profunda. Já os bispos, uns ignorantes semi-analfabetos, de nada sabem. Nós é que temos conhecimento, a gnose”. E começaram a produzir dúzias de livros. Entre eles, o “evangelho” de Maria Madalena, listado por Dan Brown, autor de O Código da Vinci, entre os apócrifos excluídos da Bíblia por apresentarem um Cristo demasiado humano [5].

Na verdade, o evangelho de Maria Madalena é um escrito tardio do séc. III, que a Igreja fez bem em não incluir no cânon bíblico, pois é uma invenção gnóstica. Qual, porém, foi a grande “contribuição” de Dan Brown? Dar a conhecer aos ignorantes o que nós, católicos, sempre soubemos: só existe Bíblia, enquanto conjunto de livros inspirados por Deus, porque a Igreja Católica discerniu quais livros são inspirados. Sabemos disso há dois mil anos. Nunca o escondemos de ninguém. Foram os protestantes que, faz meio milênio, resolveram ter Bíblia sem a Igreja. Isso não é possível. Ou se crê na Igreja que nos deu a Bíblia, ou não há explicação para a origem da própria Bíblia [6]. 

“Mas a Igreja Católica”, dizem alguns, “está repleta de pedófilos, de pecadores, de ladrões, de assassinos, de gente sem-vergonha. Longe de mim crer nisso”. É um escândalo idêntico ao dos judeus, dos fariseus e dos sumos sacerdotes que não creram que Jesus é o Filho de Deus feito homem, por terem-no visto sangrar e morrer com um corpo humano cheio de fraquezas. Ora, do mesmo modo que o corpo físico de Cristo, antes da Ressurreição, tinha fraquezas — tanto que morreu crucificado —, assim também o Corpo místico, embora santo e imaculado, tem membros fracos e pecadores neste mundo. 

Todo aquele que quiser ter contato com Jesus ressuscitado deve abrir-se à presença encarnada do Corpo místico dele na história, que é a Igreja. É dela que recebemos a Bíblia, os sacramentos, a sã doutrina, o exemplo e a intercessão dos santos; em suma, todos os nossos tesouros. E se Jesus não tem dois corpos, a Igreja só pode ser única.

Pentecostes nos chama, portanto, a renovar a nossa fé: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”. É una, porque Jesus não tem dois corpos. É santa porque, embora os membros tenham pecados, o Corpo de Cristo é imaculado. É católica, porque em todos os tempos e lugares é a guardiã da fé em sua integridade. É apostólica, porque nossa fé é a mesma pela qual os Apóstolos derramaram o sangue. Os Doze, tímidos dentro do Cenáculo, de lá saíram em Pentecostes cheios do Espírito Santo, homens valorosos, prontos para derramar o próprio sangue, tingindo suas vestes no sangue do Cordeiro. Se eles morreram pela fé, também nós temos de morrer por ela. 

Muitos acusam a Igreja de violência e intolerância por não aceitar a “diversidade”. A resposta é simples. Para os católicos, a fé não é algo pelo qual se deve matar, é algo pelo qual se deve morrer. Estamos dispostos a dar a vida para não deixar de ser membros do Corpo místico. Pentecostes é, por assim dizer, o “aniversário” da Igreja Católica. Derramado sobre os membros, o Espírito Santo dá forma ao Corpo de que Cristo é revestido, a Igreja, pela qual Ele continua vivo entre nós ao longo dos séculos. 

Renovemos, pois, neste domingo nossa fé na Igreja. Renovemos ainda o nosso Batismo e a nossa Crisma, nos quais recebemos o Espírito que nos faz membros do Corpo de Cristo, ungidos como Ele. Por isso somos cristãos. Rezemos pela Igreja, que padece perseguições tanto externas (cristãos encarcerados ou martirizados) quanto internas (heresias que, como parasitas, sugam a vida da Igreja). Rezemos e mais uma vez renovemos a vontade de, cheios do Espírito Santo de amor, pertencer ao Corpo místico de Cristo ressuscitado, a santa Igreja Católica.

 

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Notas

  1. Cf. Fulton J. Sheen, Life of Christ, c. 62. Nova Iorque: Image Books, 1977, p. 444. Cf.
  2. Pio XII, Discurso aos homens da Ação Católica, de 12 out. 1952 (AAS  44 [1952] 832). Leia-se também, em nosso Blog, o artigo “A destruição arquitetada por um anjo”, de 25 jun. 2014.
  3. Para uma exposição sumária do movimento gnóstico, assista à aula “O gnosticismo e o arianismo”, nn. 7–11, do curso Introdução ao Método Teológico.
  4. Cf. Tertuliano, Apologeticum, 50.13 (ML 1,535A; CSEL 69 [1939] 12059s): “Plures efficimur, quotiens metimur a vobis: semen est sanguis Christianorum.”
  5. Cf. Dan Brown, The Da Vinci Code, c. 58. Leia-se também, do nosso Blog, “A verdade sobre os apócrifos”, de 13 nov. 2020.
  6. Ver, a propósito, a aula “Uma Bíblia sem Igreja?”, do curso Por que não sou protestante.
 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

7ª Semana da Páscoa - A graça de amar.

 A graça de amar

Jesus nos ama, por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, aleluia (Ap 1,5s).

Quem ama a Jesus verdadeiramente é fiel a ele até as últimas consequências e zela pelo bem de todos os seus irmãos e irmãs. Não se deixa levar por emoções momentâneas, mas leva no coração a forte convicção de ter depositado sua vida nas mãos do Senhor. Celebremos a Páscoa de Cristo, renovando nosso compromisso de amá-lo firmemente e sem reservas.

Primeira Leitura: Atos 25,13-21

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, 13o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia e foram cumprimentar Festo. 14Como ficassem alguns dias aí, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: “Está aqui um homem que Félix deixou como prisioneiro. 15Quando eu estive em Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos dos judeus apresentaram acusações contra ele e pediram-me que o condenasse. 16Mas eu lhes respondi que os romanos não costumam entregar um homem antes que o acusado tenha sido confrontado com os acusadores e possa defender-se da acusação. 17Eles vieram para cá e, no dia seguinte, sem demora, sentei-me no tribunal e mandei trazer o homem. 18Seus acusadores compareceram diante dele, mas não trouxeram nenhuma acusação de crimes de que eu pudesse suspeitar. 19Tinham somente certas questões sobre a sua própria religião e a respeito de um certo Jesus que já morreu, mas que Paulo afirma estar vivo. 20Eu não sabia o que fazer para averiguar o assunto. Perguntei então a Paulo se ele preferia ir a Jerusalém, para ser julgado lá. 21Mas Paulo fez uma apelação para que a sua causa fosse reservada ao juízo do augusto imperador. Então ordenei que ficasse preso até que eu pudesse enviá-lo a César”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 102(103)

O Senhor pôs o seu trono lá nos céus.

1. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, / e todo o meu ser, seu santo nome! / Bendize, ó minha alma, ao Senhor, / não te esqueças de nenhum de seus favores! – R.

2. Quanto os céus por sobre a terra se elevam, / tanto é grande o seu amor aos que o temem; / quanto dista o nascente do poente, / tanto afasta para longe nossos crimes. – R.

3. O Senhor pôs o seu trono lá nos céus, / e abrange o mundo inteiro seu reinado. / Bendizei ao Senhor Deus, seus anjos todos, / valorosos que cumpris as suas ordens. – R.

Evangelho: João 21,15-19

Aleluia, aleluia, aleluia.

O Espírito Santo, o Paráclito, / haverá de lembrar-vos de tudo o que tenho falado (Jo 14,26). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Jesus manifestou-se aos seus discípulos 15e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”. 17Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas. 18Em verdade, em verdade te digo, quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir”. 19Jesus disse isso significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho de hoje, Jesus pergunta três vezes a S. Pedro, que três vezes, por medo e fraqueza, o tinha negado: “Simão, filho de João, tu me amas?” A insistência dessa pergunta, dirigida também a nós, deve levar-nos a considerar sempre a nossa indigência, a nossa incapacidade de amar, se nos fiarmos apenas de nossas próprias forças, de nossa vontade tão inconstante e pronta para abandonar até os mais firmes propósitos. De fato, sem a intervenção da graça, derramada em nossos corações pelo Espírito Santo, cuja vinda auguramos ansiosamente, não podemos amar nem a Deus nem ao próximo com aquele amor realmente digno desse nome, isto é, com verdadeira caridade cristã. Isso nos pode soar duro e talvez “exagerado”, mas se trata de uma verdade clara e transparente, se nos dispormos a enxergá-la nos movimentos mais íntimos de nossa alma. Se formos sinceros com nós mesmos, iremos constatar que tudo o que fazemos de bom, inclusive os atos mais discretos da virtude mais “insignificante”, encontram sua raiz naquele que opera em nós tanto o querer como o fazer (cf. Fp 2, 13). Mesmo o simples desejo de amar a Cristo depende de uma moção prévia da graça, de um sopro, leve e gratuito, do Espírito Santo. Que Deus, por sua misericordiosa liberalidade, se digne conceder-nos todas as graças de que necessitamos para amá-lo sobre todas as coisas, com um puro e sobrenatural amor, que só Ele, fonte de todo bem, pode fazer brotar dentro de nós. — Dá-nos, Senhor, o amor com que queres que te amemos!

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segunda-feira, 13 de maio de 2024

7ª Semana da Páscoa - “Eu venci o mundo!”

 Dom Gualberti: é preciso "restituir direito de cidadania a Jesus Cristo" -  Vatican News

Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas até os confins da terra, aleluia (At 1,8).

A fé em Jesus, assumida pelo batismo, é provada em meio às tribulações e perigos que rondam a vida dos cristãos. Somos exortados a permanecer unidos a ele e entre nós, para que experimentemos sua paz e lutemos contra as estruturas do mal presentes no mundo, vencendo-as assim como ele venceu: fazendo o bem e glorificando o Pai.

Primeira Leitura: Atos 19,1-8

Leitura dos Atos dos Apóstolos 1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões montanhosas e chegou a Éfeso. Aí encontrou alguns discípulos e perguntou-lhes: 2“Vós recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?” Eles responderam: “Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!” 3Então Paulo perguntou: “Que batismo vós recebestes?” Eles responderam: “O batismo de João”. 4Paulo disse-lhes: “João administrava um batismo de conversão, dizendo ao povo que acreditasse naquele que viria depois dele, isto é, em Jesus”. 5Tendo ouvido isso, eles foram batizados no nome do Senhor Jesus. 6Paulo impôs-lhes as mãos, e sobre eles desceu o Espírito Santo. Começaram então a falar em línguas e a profetizar. 7Ao todo, eram uns doze homens. 8Paulo foi então à sinagoga e, durante três meses, falava com toda convicção, discutindo e procurando convencer os ouvintes sobre o Reino de Deus. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 67(68)

Reinos da terra, cantai ao Senhor.

1. Eis que Deus se põe de pé e os inimigos se dispersam! / Fogem longe de sua face os que odeiam o Senhor! / Como a fumaça se dissipa, assim também os dissipais, † como a cera se derrete ao contato com o fogo, / assim pereçam os iníquos ante a face do Senhor! – R.

2. Mas os justos se alegram na presença do Senhor, / rejubilam satisfeitos e exultam de alegria! / Cantai a Deus, a Deus louvai, cantai um salmo a seu nome! / O seu nome é Senhor: exultai diante dele! – R.

3. Dos órfãos ele é pai e das viúvas protetor; / é assim o nosso Deus em sua santa habitação. / É o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados, / quem liberta os prisioneiros e os sacia com fartura. – R.

Evangelho: João 16,29-33

Aleluia, aleluia, aleluia.

Se com Cristo ressurgistes, procurai o que é do alto, / onde Cristo está sentado, à direita de Deus Pai (Cl 3,1). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 29os discípulos disseram a Jesus: “Eis, agora falas claramente e não usas mais figuras. 30Agora sabemos que conheces tudo e que não precisas que alguém te interrogue. Por isso cremos que vieste da parte de Deus”. 31Jesus respondeu: “Credes agora? 32Eis que vem a hora – e já chegou – em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só. Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo. 33Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!” – Palavra da salvação.

Reflexão
 
Que o Senhor tenha vencido o mundo, como Ele nos diz hoje no Evangelho, não é algo por si mesmo evidente. As manchetes dos jornais e os anais da história parecem desmentir estas palavras de Jesus, e a própria história da Igreja, com escândalos e perseguições, se apresenta às vezes como pedra de tropeço inclusive para os que desejam abraçar a fé. A vitória de Cristo, no entanto, é não somente real como também mais profunda e penetrante do que o mundo pode imaginar, cujos desvarios fazem tanta batalha à pureza, cuja sede de morte acossa a todo momento a vida, que os cristãos fazem sempre questão de defender. E "esta é a vitória que vence o mundo", diz S. João, "a nossa " (1Jo 5, 4); de fato, quem "é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1Jo 5, 5). Pois sempre que cremos, o Cristo está em nós e, por força de sua graça, auxilia-nos a resistir a tudo o que há no mundo (cf. 1Jo 2, 16), à concupiscência da carne, à concupiscência dos olhos e à soberba da vida. A sua presença pela nos impele; o seu toque de Ressuscitado nos move a encarar a morte e a perseguição do mundo a fim de conquistarmos, mesmo sob a humilhação de uma aparente derrota, a vida e a glória eternas. Recorramos à intercessão do mártir hoje comemorado, Rolando M.ª Rivi, cuja morte às mãos dos comunistas foi mais uma batalha em que a raça eleita de Jesus Cristo, por amor a Deus e fidelidade ao Evangelho, venceu a loucura dum mundo que jaz na sombra do pecado.


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domingo, 12 de maio de 2024

Solenidade da Ascensão do Senhor - Jesus está no meio de nós e caminha conosco.

 HOMILIA DO 7º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B | Diocese de Crato

Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu, aleluia (At 1,11).

Aclamamos o Senhor por sua Ascensão, sua volta ao convívio do Pai. Sentado à direita de Deus, Jesus continua a olhar pela humanidade. Para que nós, seus seguidores, tenhamos consistência no testemunho, Ele nos promete o envio do Espírito Santo. A Igreja reafirma hoje seu compromisso de anunciar o Evangelho, utilizando-se também dos meios mais modernos para promover uma comunicação plenamente humana. Celebremos esta Eucaristia em comunhão com todas as mães, neste dia a elas dedicado.

Primeira Leitura: Atos 1,1-11

Antes de voltar à casa do Pai, Jesus conclui sua missão e convida seus seguidores a dar continuidade à obra por ele iniciada. Ouçamos com atenção a Palavra de Deus.

Leitura dos Atos dos Apóstolos 1No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo 2até o dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus. 4Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias'”. 6Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino em Israel?” 7Jesus respondeu: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. 8Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria e até os confins da terra”. 9Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. 10Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 46(47)

Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta!

1. Povos todos do universo, batei palmas, / gritai a Deus aclamações de alegria! / Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo, / o soberano que domina toda a terra. – R.

2. Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta. / Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa, / salmodiai, ao som da harpa, ao nosso rei! – R.

3. Porque Deus é o grande rei de toda a terra, / ao som da harpa acompanhai os seus louvores! / Deus reina sobre todas as nações, / está sentado no seu trono glorioso. – R.

Segunda Leitura: Efésios 1,17-23

Leitura da carta de São Paulo aos Efésios – Irmãos, 17o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. 18Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos 19e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. 20Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. 22Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, 23que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Marcos 16,15-20

Aleluia, aleluia, aleluia.

Ide ao mundo, ensinai aos povos todos; / convosco estarei, todos os dias, / até o fim dos tempos, diz Jesus (Mt 28,19s). – R.

Conclusão do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos 15e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. 20Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

Meus irmãos e minhas irmãs, hoje é Domingo, dia do Senhor, solenidade da ascensão de Jesus. Eu penso que a mensagem de fundo da solenidade de hoje seja esta: é hora de crescer, é hora de caminhar com as próprias pernas, é hora do espaço ao Espírito Santo.

Isso me fez recordar um hábito que eu tinha quando criança com a minha mãe. Nós morávamos na roça, e quando íamos à cidade [inclusive eram situações de muito medo, imagina uma criança sair da roça para ir à cidade], eu me recordo que, para enfrentar esses medos, eu pedia para minha mãe segurar na minha mão, mas, depois, também que ela me soltasse nos momentos em que eu estava um pouco mais seguro. Era uma espécie de jogo de aperta e desaperta a mão. Esse foi um fato marcante.

Com o passar do tempo, eu entendi que já não precisava mais segurar na mão da minha mãe, e eu já tinha condições de ir sozinho e voltar sozinho. Isso que ficou marcado em mim foi a certeza da presença, mesmo na ausência, da minha mãe. E Jesus é o eterno presente, tanto que Ele é Onipresente, Ele está em todos os lugares e está conosco em todas as situações.

Ele está conosco, mesmo que, na tribulação, não sintamos a presença d’Ele

O que a solenidade de hoje nos aponta e que nós vamos celebrar no outro domingo é Pentecostes. Por isso era preciso Jesus dar esse espaço no meio dos Seus discípulos, era preciso levá-los agora a uma maturidade, a compreender a Sua nova forma de presença. Justamente o Espírito Santo viria para ocupar, preencher esse espaço, esse vazio, e nos assegurar eternamente a presença de Jesus.

É o Espírito Santo quem nos recorda tudo o que Jesus disse, pois Ele mesmo que nos garantiu: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”. Por isso não fiquemos paralisados, olhando para um lado, para o outro, para cima, para baixo, como nos lembra a primeira leitura de hoje, buscando explicações para os fatos. Mas confiemos em Jesus e sigamos a nossa vida sem desanimar, sem infantilismos, mas crescendo cada dia na fé e na confiança do Senhor. Ele está conosco! Mesmo que em alguns momentos de tribulação não sintamos afetivamente a Sua presença, essa é uma certeza de fé: Jesus está no meio de nós!

Sobre todos vós, desça a bênção do Deus Todo-poderoso. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!


Padre Donizete Heleno Ferreira

sábado, 11 de maio de 2024

6ª Semana da Páscoa - A essência da oração cristã.

 Sem oração, o Evangelho é um fardo

Povo adquirido por Deus, anunciai os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas à sua luz maravilhosa, aleluia (1Pd 2,9).

A prece da comunidade cristã, feita em nome de Jesus ao Pai, nasce da intimidade com ele, a qual envolve o propósito de assumir seus sentimentos e atitudes. Reunidos para celebrar seu mistério pascal, fonte de vida para toda a humanidade, renovemos o compromisso de não excluir ninguém do caminho da salvação.

Primeira Leitura: Atos 18,23-28

Leitura dos Atos dos Apóstolos23Paulo permaneceu algum tempo em Antioquia. Em seguida, partiu de novo, percorrendo sucessivamente as regiões da Galácia e da Frígia, fortalecendo todos os discípulos. 24Chegou a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria. Era homem eloquente, versado nas Escrituras. 25Fora instruído no caminho do Senhor e, com muito entusiasmo, falava e ensinava com exatidão a respeito de Jesus, embora só conhecesse o batismo de João. 26Então, ele começou a falar com muita convicção na sinagoga. Ao escutá-lo, Priscila e Áquila tomaram-no consigo e, com mais exatidão, expuseram-lhe o caminho de Deus. 27Como ele estava querendo passar para a Acaia, os irmãos apoiaram-no e escreveram aos discípulos para que o acolhessem bem. Pela graça de Deus, a presença de Apolo aí foi muito útil aos fiéis. 28Com efeito, ele refutava vigorosamente os judeus em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus é o Messias. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 46(47)

O Senhor é o grande rei de toda a terra.

1. Povos todos do universo, batei palmas, / gritai a Deus aclamações de alegria! / Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo, / o soberano que domina toda a terra. – R.

2. Porque Deus é o grande rei de toda a terra, / ao som da harpa acompanhai os seus louvores! / Deus reina sobre todas as nações, / está sentado no seu trono glorioso. – R.

3. Os chefes das nações se reuniram / com o povo do Deus santo de Abraão, / pois só Deus é realmente o Altíssimo, / e os poderosos desta terra lhe pertencem! – R.

Evangelho: João 16,23-28

Aleluia, aleluia, aleluia.

Saí do Pai e vim ao mundo, / eu deixo o mundo e vou ao Pai (Jo 16,28). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 23“Em verdade, em verdade vos digo, se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará. 24Até agora nada pedistes em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa. 25Disse-vos estas coisas em linguagem figurativa. Vem a hora em que não vos falarei mais em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. 26Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que vou pedir ao Pai por vós, 27pois o próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e acreditastes que eu vim da parte de Deus. 28Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
O Senhor nos exorta hoje a rezar ao Pai em seu nome. O Evangelho deste sábado nos serve, assim, para diferenciarmos a oração verdadeiramente cristã da oração pagã. Neste última, quem reza pretende mudar a vontade de Deus, procurando subordiná-la à satisfação dos próprios desejos ou expectativas mediante toda sorte de táticas e sortilégios (repetição mágica de palavras, fixação da mente no objeto desejado, os chamados “pensamentos positivos” ou, até mesmo, a prática de “despachos” e macumbas). Na oração cristã, ao contrário, o que pedimos sobretudo é que seja feita a vontade soberana de Deus, e não o nosso capricho pessoal: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”, ensina-nos Jesus no Pai-nosso. Aqui, porém, parece haver uma pequena contradição: se Deus tudo sabe e a sua vontade cumpre-se infalivelmente, por que Ele quer, afinal, que peçamos o cumprimento de seus desígnios? A resposta a essa aparente dificuldade encontra-se, antes de tudo, na pessoa mesma de Cristo, que, sendo Deus encarnado, não deixava nunca de rezar ao Pai celeste, a quem é igual em poder e majestade. Ora, se o próprio Senhor Jesus, Filho unigênito, se dignava rezar é porque o homem encontra na oração algo de salutífero e necessário: é para o nosso próprio bem que Deus nos manda rezar, já que é em virtude da oração que Ele determinou conceder-nos boa parte das graças da nossa salvação. Mas esta oração, para estar em sintonia com a do Coração de Cristo, deve brotar de uma alma disposta a mudar a si mesma, e não a Deus; a sujeitar-se ao que for do agrado do Pai; a deixar-se guiar por Aquele que sabe o que realmente nos convém. Que o Espírito Santo, cuja descida em Pentecostes celebraremos em poucos dias, nos outorgue hoje o dom da oração e de um coração dócil às suas divinas moções. — Ó Espírito Santo, ditai-nos os gemidos da oração!
 

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sexta-feira, 10 de maio de 2024

6ª Semana da Páscoa - A vossa tristeza se converterá em alegria!

 Antes que Abraão existisse, eu sou”

Vós nos redimistes, Senhor, pelo vosso sangue, de todas as raças, línguas, povos e nações, e fizestes de nós um reino e sacerdotes para nosso Deus, aleluia (Ap 5,9s).

A vida é marcada por momentos difíceis e sofrimentos. Fortalecido pelas palavras do Mestre, o cristão se reveste de coragem para caminhar em meio às contrariedades deste mundo, que travam os passos dos que buscam praticar a justiça e a verdade. Celebremos a Páscoa do Senhor, invocando seu Espírito de fortaleza e sabedoria.

Primeira Leitura: Atos 18,9-18

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Estando Paulo em Corinto, 9uma noite o Senhor disse-lhe em visão: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, 10porque eu estou contigo. Ninguém te porá a mão para fazer mal. Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence”. 11Assim Paulo ficou um ano e meio entre eles, ensinando-lhes a Palavra de Deus. 12Na época em que Galião era procônsul na Acaia, os judeus insurgiram-se em massa contra Paulo e levaram-no diante do tribunal, 13dizendo: “Este homem induz o povo a adorar a Deus de modo contrário à Lei”. 14Paulo ia tomar a palavra quando Galião falou aos judeus, dizendo: “Judeus, se fosse por causa de um delito ou de uma ação criminosa, seria justo que eu atendesse a vossa queixa. 15Mas, como é questão de palavras, de nomes e da vossa Lei, tratai disso vós mesmos. Eu não quero ser juiz nessas coisas”. 16E Galião mandou-os sair do tribunal. 17Então todos agarraram Sóstenes, o chefe da sinagoga, e espancaram-no diante do tribunal. E Galião nem se incomodou com isso. 18Paulo permaneceu ainda vários dias em Corinto. Despedindo-se dos irmãos, embarcou para a Síria, em companhia de Priscila e Áquila. Em Cencreia, Paulo rapou a cabeça, pois tinha feito uma promessa. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 46(47)

O Senhor é o grande rei de toda a terra.

1. Povos todos do universo, batei palmas, / gritai a Deus aclamações de alegria! / Porque sublime é o Senhor, o Deus altíssimo, / o soberano que domina toda a terra. – R.

2. Os povos sujeitou ao nosso jugo / e colocou muitas nações aos nossos pés. / Foi ele que escolheu a nossa herança, / a glória de Jacó, seu bem-amado. – R.

3. Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta. / Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa, / salmodiai, ao som da harpa, ao nosso rei! – R.

Evangelho: João 16,20-23

Aleluia, aleluia, aleluia.

Era preciso que Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos, / para entrar em sua glória (Lc 24,46.26). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 20“Em verdade, em verdade vos digo, vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. 21A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo. 22Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. 23Naquele dia, não me perguntareis mais nada”. – Palavra da salvação.

Reflexão

No Evangelho de hoje, diz Jesus a seus discípulos: “Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. Propõem os autores diversas interpretações para este versículo. a) Para alguns, mais atentos ao sentido literal e histórico do texto, significa: “Dentro em breve, isto é, quando eu morrer crucificado, já não me vereis; mas, pouco tempo depois, ou seja, depois de minha Ressurreição ao terceiro dia, tornareis a ver-me”. b) Para outros, significa: “Daqui a pouco tempo, isto é, após minha Ascensão aos céus, já não me vereis; mas, pouco tempo depois, isto é, quando tiverdes terminado o curto tempo desta vida, tornareis a ver-me no meu Reino”.

À interrogação tácita dos Apóstolos sobre o sentido destas palavras responde o Senhor explicando ou, antes, confirmando o que dissera no v. 16: “Em verdade, em verdade vos digo: vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará” etc. Estas últimas palavras admitem duas leituras, em função da interpretação que se adote para o versículo precedente: a) para alguns, as lágrimas e lamentações dos discípulos indicam a sua tristeza pela morte de Cristo, ao passo que a alegria do mundo significa o triunfo aparente dos judeus; b) para outros, Cristo se refere às tristezas e dificuldades que os seus discípulos terão de suportar durante o tempo em que estiverem nesta vida, lutando contra as vaidades do mundo pela edificação do Reino de Deus. Em todo caso, o Senhor garante que “a vossa tristeza se transformará em alegria” (‘εἰς χαρὰν γενήσεται’), ou seja, numa alegria que ninguém jamais vos arrebatará (cf. Jo 16, 22); a alegria do mundo, por sua vez, converter-se-á numa tristeza que jamais terá remédio. Assim, Deus enxugará toda lágrima dos que aqui choraram, padecendo por seu amor, e entregará à segunda morte os que nesta vida riram de seus Mandamentos e se mofaram de seu Filho (cf. Ap 21, 4.8).

Nesse sentido, existe um paralelo entre a “derrota” do Senhor crucificado e a vida dos que o seguem: nesta terra, os cristãos e todo o Corpo da Igreja aparecem aos olhos do mundo como algo digno de desprezo, fadado ao fracasso e a toda sorte de perseguições; no entanto, assim como a nossa Cabeça ressuscitou gloriosa, triunfando da morte e de seus inimigos, assim também os seus membros hemos de passar pela páscoa desta vida, a fim de entrarmos gloriosos na outra, onde as lágrimas da nossa tristeza passageira se converterão em uma alegria sem ocaso nem defeito. — Portanto, não tenhamos medo nem desanimemos por causa das tragédias que se abatem sobre nós e sobre a Santa Igreja, porque em pouco tempo a nossa “tristeza se transformará em alegria”!

 

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terça-feira, 7 de maio de 2024

6ª Semana da Páscoa - O Paráclito, o pecado, a justiça e o julgamento.

 O Espírito Santo e o mistério da Igreja

Alegremo-nos e exultemos, demos glória a Deus. O Senhor, nosso Deus, o Todo-poderoso passou a reinar, aleluia (Ap 19,7.6).

Impulsionados pela força do “Defensor”, o Espírito prometido por Jesus, os missionários, mesmo encarcerados, continuam a anunciar a Palavra de Deus. Eles experimentam a convicção do salmista, que diz ao Senhor: “Havereis de me salvar com vossa destra”. Renovemos nossa total confiança no poder divino.

Primeira Leitura: Atos 16,22-34

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, 22a multidão dos filipenses levantou-se contra Paulo e Silas; e os magistrados, depois de lhes rasgarem as vestes, mandaram açoitar os dois com varas. 23Depois de açoitá-los bastante, lançaram-nos na prisão, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança. 24Ao receber essa ordem, o carcereiro levou-os para o fundo da prisão e prendeu os pés deles no tronco. 25À meia-noite, Paulo e Silas estavam rezando e cantando hinos a Deus. Os outros prisioneiros os escutavam. 26De repente, houve um terremoto tão violento, que sacudiu os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as correntes de todos se soltaram. 27O carcereiro acordou e viu as portas da prisão abertas. Pensando que os prisioneiros tivessem fugido, puxou da espada e estava para suicidar-se. 28Mas Paulo gritou com voz forte: “Não te faças mal algum! Nós estamos todos aqui”. 29Então o carcereiro pediu tochas, correu para dentro e, tremendo, caiu aos pés de Paulo e Silas. 30Conduzindo-os para fora, perguntou: “Senhores, que devo fazer para ser salvo?” 31Paulo e Silas responderam: “Crê no Senhor Jesus e sereis salvos tu e todos os de tua família”. 32Então Paulo e Silas anunciaram a Palavra do Senhor ao carcereiro e a todos os da sua família. 33Na mesma hora da noite, o carcereiro levou-os consigo para lavar as feridas causadas pelos açoites. E, imediatamente, foi batizado junto com todos os seus familiares. 34Depois fez Paulo e Silas subirem até sua casa, preparou-lhes um jantar e alegrou-se com todos os seus familiares por ter acreditado em Deus. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 137(138)

Ó Senhor, me estendeis o vosso braço e me ajudais.

1. Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, / porque ouvistes as palavras dos meus lábios! / Perante os vossos anjos vou cantar-vos / e ante o vosso templo vou prostrar-me. – R.

2. Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, / porque fizestes muito mais que prometestes; / naquele dia em que gritei, vós me escutastes / e aumentastes o vigor da minha alma. – R.

3. Estendereis o vosso braço em meu auxílio / e havereis de me salvar com vossa destra. / Completai em mim a obra começada; / ó Senhor, vossa bondade é para sempre! / Eu vos peço: não deixeis inacabada / esta obra que fizeram vossas mãos! – R.

Evangelho: João 16,5-11

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu hei de enviar-vos o Espírito da verdade; / ele vos conduzirá a toda a verdade (Jo 16,7.13). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5“Agora, parto para aquele que me enviou e nenhum de vós me pergunta ‘para onde vais?’ 6Mas, porque vos disse isso, a tristeza encheu os vossos corações. 7No entanto, eu vos digo a verdade: é bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei. 8E quando vier, ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: 9o pecado, porque não acreditaram em mim; 10a justiça, porque vou para o Pai, de modo que não mais me vereis; 11e o julgamento, porque o chefe deste mundo já está condenado”. – Palavra da salvação.

Reflexão

No Evangelho de hoje, Jesus continua falando sobre o Espírito Santo, o Paráclito, que significa aquele que é chamado para estar conosco.

Jesus deixa claro como o Espírito Santo age como Paráclito em nossas vidas ao dizer: “E quando vier, ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento” (Jo 16, 8). Em palavras judiciais, seria como o advogado que vem e mostra o crime, que é o nosso pecado; a justiça, que é a santidade e a inocência de Deus; e o julgamento, ou seja, como julgar todas essas coisas.

Qual é o nosso crime? É rejeitar Jesus e não crer nele. Então, quando o Espírito Santo age em um coração verdadeiramente cristão, Ele concede a virtude da fé, que permite acreditar em Cristo. E certamente Ele se entristece ao ver que o mundo não crê; por isso age sobre os Apóstolos para que estes anunciem o Evangelho a todas as nações e, assim, as pessoas creiam.

E em que consiste a santidade, ou seja, a justiça? Em que consiste sermos santos como Jesus quer? Consiste em estarmos unidos a Deus. Jesus, ressuscitado, está junto de Deus, e nós também precisamos estar cada vez mais unidos a Cristo na fé e na caridade, de tal forma que sejamos uma só realidade com Ele. Essa união tão extraordinária é feita pelo Espírito Santo, o Divino Defensor, que está sempre conosco.

Pela fé dada pelo Espírito Santo, não iremos mais olhar para a Cruz de Cristo e ver apenas uma aparente derrota; mas, sim, o fracasso de Satanás e a vitória de Deus.

Portanto, se ainda não somos capazes de ver isso, peçamos ao Espírito Santo a graça de Ele nos mostrar que nas contrariedades, dificuldades e perseguições do dia a dia, já existe, erguido dentro de nós, um estandarte da vitória, que diz assim: “O chefe deste mundo já está condenado”.

 

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segunda-feira, 6 de maio de 2024

6ª Semana da Páscoa - Mártires ou idólatras.

 Sem o Espírito, nada entendemos

Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele, aleluia (Rm 6,9).

A hospitalidade é fonte de conforto e bom veículo para a propagação do bem. Os seguidores do Mestre nem sempre encontram corações hospitaleiros; porém, sustentados pelo “Espírito da verdade, que procede do Pai”, levarão à frente sua missão em todos os tempos e lugares, vencendo incompreensões e oposições. Abramos o coração para bem celebrar a Eucaristia.

Primeira Leitura: Atos 16,11-15

Leitura dos Atos dos Apóstolos11Embarcamos em Trôade e navegamos diretamente para a ilha de Samotrácia. No dia seguinte, ancoramos em Neápolis, 12de onde passamos para Filipos, que é uma das principais cidades da Macedônia e que tem direitos de colônia romana. Passamos alguns dias nessa cidade. 13No sábado, saímos além da porta da cidade para um lugar junto ao rio, onde nos parecia haver oração. Sentados, começamos a falar com as mulheres que estavam aí reunidas. 14Uma delas chamava-se Lídia; era comerciante de púrpura, da cidade de Tiatira. Lídia acreditava em Deus e escutava com atenção. O Senhor abriu o seu coração para que aceitasse as palavras de Paulo. 15Após ter sido batizada, assim como toda a sua família, ela convidou-nos: “Se vós me considerais uma fiel do Senhor, permanecei em minha casa”. E forçou-nos a aceitar. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 149

O Senhor ama seu povo de verdade.

1. Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / e o seu louvor na assembleia dos fiéis! / Alegre-se Israel em quem o fez, / e Sião se rejubile no seu rei! – R.

2. Com danças glorifiquem o seu nome, / toquem harpa e tambor em sua honra! / Porque, de fato, o Senhor ama seu povo / e coroa com vitória os seus humildes. – R.

3. Exultem os fiéis por sua glória / e, cantando, se levantem de seus leitos / com louvores do Senhor em sua boca. / Eis a glória para todos os seus santos. – R.

Evangelho: João 15,26-16,4

Aleluia, aleluia, aleluia.

O Espírito Santo, a verdade, / dará testemunho de mim; / depois também vós, neste mundo, / de mim ireis testemunhar (Jo 15,26s). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 26“Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. 27E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. 16,1Eu vos disse estas coisas para que a vossa fé não seja abalada. 2Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar julgará estar prestando culto a Deus. 3Agirão assim porque não conheceram o Pai nem a mim. 4Eu vos digo isso para que vos lembreis de que eu o disse, quando chegar a hora”. – Palavra da salvação.

Reflexão
No Evangelho de hoje, o Senhor fala-nos da vida da Igreja, conduzida pelo Espírito Santo à plenitude da verdade e fortalecida para dar testemunho de Cristo diante do mundo. É o Espírito Santo quem, em primeiro lugar, dá testemunho de Jesus dentro de nós, membros de seu Corpo místico; é isso que nos permite, em seguida, testemunhá-lo externamente, com nossas obras e palavras, para que todos nele creiam e glorifiquem o Pai que nos adotou em seu Filho. No entanto, apesar de o Espírito Santo ser, sim, nosso defensor e paráclito, isso não significa que estamos eximidos de enfrentar as dificuldades humanas com que depara todo cristão fiel aos deveres do Batismo. Porque estamos com Cristo e dele não nos queremos apartar, seremos execrados, levados aos tribunais, privados injustamente dos direitos mais básicos e, não raro, condenados à morte. Os que assim nos maltratarem chegarão a isto por não terem conhecido nem ao Pai nem o seu enviado. Nenhuma dessas tribulações, porém, deve fazer-nos perder a esperança e a fé na proteção contínua de Deus e do seu Espírito. Tudo o que a Igreja sofre desde o início (perseguições, calúnias, injustiças etc.) mostra que o caminho de todo cristão é o mesmo caminho de Cristo: caminho de dor, de sofrimento, caminho de abnegação, não de “suicidas” e insensatos, mas de quem está disposto a padecer pela verdade, pela honra e o amor do Pai. Conscientes de que a nossa vocação é a cruz e de que a nossa glorificação há de passar pelo Calvário, roguemos a Nosso Senhor que nos dê fortaleza e constância no seguimento de suas palavras e na confissão de seu santo Nome. Peçamos também à Virgem SS., Rainha dos Apóstolos e mártires, a graça de sermos fiéis ao seu Filho até o fim, contra toda tentação do diabo e perseguição do mundo.


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domingo, 5 de maio de 2024

6º Domingo da Páscoa - Unidos para uma alegria completa.

 Evangelho do Dia

Anunciai com gritos de alegria, proclamai até os confins da terra: O Senhor libertou o seu povo, aleluia! (Is 48,20)

Deus nos ama e nos deu a conhecer sua Palavra e sua salvação. Como comunidade de batizados, somos convidados a permanecer no amor de Cristo, nossa Páscoa. Animados pelo Espírito Santo, celebremos esta Eucaristia buscando nos fortalecer no amor e na doação em favor de nossos irmãos e irmãs.

Primeira Leitura: Atos 10,25-26.34-35.44-48

Deus revela seu amor a todos; derrama seu Espírito sobre a comunidade para que ela, guardando os mandamentos de Jesus, supere os preconceitos e produza abundantes frutos de amor.

Leitura dos Atos dos Apóstolos25Quando Pedro estava para entrar em casa, Cornélio saiu-lhe ao encontro, caiu a seus pés e se prostrou. 26Mas Pedro levantou-o, dizendo: “Levanta-te. Eu também sou apenas um homem”. 34Então, Pedro tomou a palavra e disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. 35Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. 44Pedro estava ainda falando quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra. 45Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os pagãos. 46Pois eles os ouviam falar e louvar a grandeza de Deus em línguas estranhas. Então Pedro falou: 47“Podemos, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas que receberam, como nós, o Espírito Santo?” 48E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Eles pediram, então, que Pedro ficasse alguns dias com eles. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 97(98)

O Senhor fez conhecer a salvação / e revelou sua justiça às nações.

1. Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / porque ele fez prodígios! / Sua mão e o seu braço forte e santo / alcançaram-lhe a vitória. – R.

2. O Senhor fez conhecer a salvação, / e às nações, sua justiça; / recordou o seu amor sempre fiel / pela casa de Israel. – R.

3. Os confins do universo contemplaram / a salvação do nosso Deus. / Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, / alegrai-vos e exultai! – R.

Segunda Leitura: 1 João 4,7-10

Leitura da primeira carta de São João – Caríssimos, 7amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8Quem não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 15,9-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Quem me ama realmente guardará minha palavra, / e meu Pai o amará, e a ele nós viremos (Jo 14,23). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 9“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 14Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Jesus continua se despedindo dos seus discípulos. No texto de hoje ele insiste que permaneçamos no Seu amor. E propõe como mandamento novo o amor. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando.

Assim como Ele por amor se tornou nosso amigo de verdade, assim nos convida a fazer o mesmo. Que todos continuemos unidos à Ele por meio do Seu próprio amor. E nele e por ele, a sermos amigos uns dos outros, a amar-nos uns aos outros. E é importante lembrar que amar uns aos outros não é apenas em palavras.

Como discípulo devo levar à frente a missão que me dá Jesus Cristo: o amor. Em que consiste este amor? Como vivê-lo num mundo em que é muito forte o egoísmo, o individualismo, e que a outra pessoa, muitas vezes é uma ameaça. Devo começar pela conversão. Devo orientar minhas energias para ir contra a corrente. Os bispos, na Conferência de Aparecida, concluíram: “A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e agoniado pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria.” (DA,32).

Por isso devemos rezar, pedir à Jesus como os discípulos de Emaús: Fica conosco Senhor para que a nossa alegria seja completa. Fica conosco, Senhor, acompanha-nos ainda que nem sempre tenhamos sabido reconhecer-te.Fica conosco, porque ao redor de nós as mais densas sombras vão se fazendo, e Tu és a Luz; em nossos corações se insinua a falta de esperança, e tu os faz arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na fração do pão para anunciar a nossos irmãos que na verdade tu tens ressuscitado e que nos tem dado a missão de ser testemunhas de tua ressurreição.

Fica conosco, Senhor, quando ao redor de nossa fé católica surgem as névoas da dúvida, do cansaço ou da dificuldade: tu, que és a própria Verdade como revelador do Pai, ilumina nossas mentes com tua Palavra; ajuda-nos a sentir a beleza de crer em ti.

Fica em nossas famílias, ilumina-as em suas dúvidas, sustenta-as em suas dificuldades, consola-as em seus sofrimentos e no cansaço de cada dia, quando ao redor delas se acumulam sombras que ameaçam sua unidade e sua natureza. Tu que és a Vida, fica em nossos lares, para que continuem sendo ninhos onde nasça a vida humana abundante e generosamente, onde se acolha, se ame, se respeite a vida desde a sua concepção até seu término natural.

Fica, Senhor, com aqueles que em nossas sociedade são os mais vulneráveis; fica com os pobres e humildes, com os indígenas e afro-americanos, que nem sempre encontram espaços e apoio para expressar a riqueza de sua cultura e a sabedoria de sua identidade. Fica, Senhor, com nossas crianças e com nossos jovens, que são a esperança e a riqueza de nosso Continente, protege-os de tantas armadilhas que atentam contra sua inocência e contra suas legítimas esperanças. Oh bom Pastor, fica com nossos anciãos e com nossos enfermos! Fortalece a todos em sua fé para que sejam teus discípulos e missionários! Estando conosco, a nossa alegria será plena!

 

Pe. Bantu Mendonça katchipwi Sayla