domingo, 31 de março de 2024

Páscoa do Senhor - Nossa fé deve ressuscitar com Cristo.

 156. Reflexão para o Domingo da Ressurreição - Jo 20, 1-9

Ressuscitei e sempre estou contigo, aleluia; pousaste tua mão sobre mim, aleluia; admirável é tua sabedoria, aleluia, aleluia (Sl 138,18.5s).

Com grande alegria nos reunimos para celebrar o acontecimento central de nossa fé: a ressurreição de Jesus Cristo. Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos, aleluia! Jesus permanece conosco para sempre; a morte já não tem poder sobre ele. É na Eucaristia que encontramos o suporte para testemunharmos a vida nova do Ressuscitado.

Primeira Leitura: Atos 10,34.37-43

Façamos, com Maria Madalena e os discípulos, a experiência da pedra removida e do túmulo vazio. Ressuscitados com Cristo e suas testemunhas, deixemo-nos guiar pela Palavra de Deus.

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, 34Pedro tomou a palavra e disse: 37“Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: 38como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava com ele. 39E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. 40Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se 41não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. 42E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu juiz dos vivos e dos mortos. 43Todos os profetas dão testemunho dele: ‘Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos pecados'”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 117(118)

Este é o dia que o Senhor fez para nós: / alegremo-nos e nele exultemos!

1. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! / “Eterna é a sua misericórdia!” / A casa de Israel agora o diga: / “Eterna é a sua misericórdia!” – R.

2. A mão direita do Senhor fez maravilhas, / a mão direita do Senhor me levantou. / Não morrerei, mas, ao contrário, viverei / para cantar as grandes obras do Senhor! – R.

3. A pedra que os pedreiros rejeitaram / tornou-se agora a pedra angular. / Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: / que maravilhas ele fez a nossos olhos! – R.

Segunda Leitura: Colossenses 3,1-4

Leitura da carta de São Paulo aos Colossenses – Irmãos, 1se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, 2onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. 3Pois vós morrestes e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. 4Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 20,1-9

Aleluia, aleluia, aleluia.

O nosso cordeiro pascal, / Jesus Cristo, já foi imolado. / Celebremos, assim, esta festa / na sinceridade e verdade (1Cor 5,7s). –  R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João1No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”. 3Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou. 9De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos. – Palavra da salvação.

Reflexão 

Nosso Senhor Jesus Cristo, ao ressuscitar dentre os mortos, não voltou atrás simplesmente, como se recuperasse o antigo corpo de morte com que padeceu por nossos pecados; ao contrário, vindo novamente à vida, o que Ele fez foi tomar um corpo transformado, divinizado, glorioso, agora impassível e não mais sujeito à morte — vencida que foi esta, e de uma vez por todas. Cumpre-se na madrugada de sábado para domingo, pois, aquilo que predissera o profeta Isaías a respeito do fim glorioso de que gozaria o Servo Sofredor: 

“Ei-lo, o meu Servo será bem sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo — tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano —, do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dele os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que jamais ouviram.” (Is 52, 13-15)

Esta mesmíssima profecia é repetida pela boca do Apóstolo, em seu hino cristológico aos Filipenses, quando diz — depois de indicar o mesmo itinerário da Cruz de Nosso Senhor — que “Deus o exaltou sobremaneira e deu-lhe o nome mais excelso, mais sublime, e elevado muito acima de outro nome” (Fl 2, 9). Considerando que Jesus era verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é evidente que as Escrituras estão a falar, nessas passagens, do modo como seria glorificada a humanidade do Salvador, já que, por sua divindade, o Cristo já havia desde sempre vencido a morte, o pecado e Satanás. Era necessário, porém, que na plenitude dos tempos a vitória do Céu sobre o Inferno se manifestasse também na carne de Adão, já que por ela havia caído na desgraça todo o gênero humano.

O que vem fazer o Senhor, portanto, com sua Ressurreição, senão devolver-nos a graça, a vida divina que por nossos pecados havíamos miseravelmente perdido? De fato, ensina-nos São Paulo, em passagem contundente de uma de suas cartas, “se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15, 17). Vencendo claramente a morte, que foi o castigo infligido aos nossos pais pelo pecado, o que Nosso Senhor fazia, na verdade, era pisar sobre a cabeça da serpente maligna, destruindo, a um só e mesmo tempo, o mal do pecado, o seu autor e a sua consequência mortífera.

Assim como, porém, um remédio só traz a saúde a quem dele bebe — e o cálice da salvação só salva os que dele tomam parte (DH 624) —, o mistério da Ressurreição precisa ser aplicado concretamente na vida de cada batizado, pois só assim pode render frutos. Nosso Senhor realmente morreu e ressuscitou para a nossa salvação (propter nostram salutem, como rezamos no Credo), mas, como Ele mesmo diz, “quem não crer já está condenado” (Jo 3, 18), pelo que só através da fé, pois os justos de Deus vivem por ela (cf. Rm 1, 17), podemos entrar verdadeiramente em contato com a carne gloriosa do Senhor e receber a sua graça, a sua virtude, a sua força. 

É exatamente para reavivar a fé em seus discípulos, virtude que neles fôra sepultada com o corpo de Cristo no entardecer da Sexta-feira Santa, que Jesus Ressuscitado lhes aparece, ainda por quarenta dias, antes de ascender aos céus e sentar-se à direita do Pai. Durante todo esse período, para o qual a liturgia da Igreja alarga a celebração da Páscoa do Senhor, a grande lição que fica para nós, cristãos aparentemente longínquos do século XXI, é que a presença de Cristo pela fé e pelos sacramentos é muito mais poderosa e eficaz do que qualquer convívio meramente físico com o Salvador. Quando O comungamos, por exemplo, ou fazemos um ato de fé nEle, tenhamos certeza, a sua santíssima humanidade toca real e profundamente o mais íntimo de nosso ser, elevando-nos cada vez mais à participação na vida trinitária, na natureza do próprio Deus (cf. 2Pd 1, 4).

 

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sábado, 30 de março de 2024

Sábado Santo - Vigília Pascal - Noite de glória, noite de luzes!

 Grupos de Jesús – Domingo de Pascoa – B (Marcos 16,1-7) - Grupos de Jesús -

Em comunhão com as comunidades cristãs do mundo todo, celebramos a Páscoa de Jesus, sua passagem da morte para a vida. Exultantes no Senhor ressuscitado, recordamos as maravilhas de Deus na história. Vivamos, em profunda alegria, as quatro partes desta que é a mãe de todas as vigílias: celebração da luz, liturgia da Palavra, liturgia batismal e liturgia eucarística. 

Apagadas as luzes e reunido o povo em torno do fogo aceso, com a presença do presidente e dos ministros, inicia-se a celebração da luz.

CELEBRAÇÃO DA LUZ

A Vigília Pascal se inicia com a celebração da luz, que contém três partes: a bênção do fogo, a procissão do círio pascal e a proclamação da Páscoa. Participemos com devoção desta solene celebração.

O presidente saúda a assembleia e explica o sentido da vigília com estas ou outras palavras:

Sentido da vigília

Meus irmãos e minhas irmãs, nesta noite santíssima, em que nosso Senhor Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos dispersos por toda a terra a se reunirem em vigília e oração. Se comemorarmos a Páscoa do Senhor ouvindo sua Palavra e celebrando seus mistérios, podemos ter a firme esperança de participar do seu triunfo sobre a morte e de sua vida em Deus.

Primeira Leitura: Gênesis 1,1.26-31 - mais breve

As leituras proclamam as grandes maravilhas de Deus ao longo da história da humanidade, as quais continuam a ser motivo de alegria e ação de graças.

Leitura do livro do Gênesis1No princípio Deus criou o céu e a terra. 26Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e segundo a nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais de toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. 27E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou: homem e mulher os criou. 28E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. 29E Deus disse: “Eis que vos entrego todas as plantas que dão semente sobre a terra e todas as árvores que produzem fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. 30E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez. 31E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: sexto dia. – Palavra do Senhor.

II leitura (Gênesis 22,1-2.9-13.15-18 mais breve)

III leitura (Êxodo 14,15-15,1)

IV leitura (Isaías 54,5-14)

V leitura (Isaías 55,1-11)

VI leitura (Baruc 3,9-15.32-4,4)

VII leitura (Ezequiel 36,16-28)

 

Salmo Responsorial: 117(118)

Aleluia, aleluia, aleluia.

1. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! / Eterna é a sua misericórdia! / A casa de Israel agora o diga: / “Eterna é a sua misericórdia!” – R.

2. A mão direita do Senhor fez maravilhas, † a mão direita do Senhor me levantou, / a mão direita do Senhor fez maravilhas! / Não morrerei, mas, ao contrário, viverei / para cantar as grandes obras do Senhor! – R.

3. A pedra que os pedreiros rejeitaram / tornou-se agora a pedra angular. / Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: / que maravilhas ele fez a nossos olhos! – R.

Salmo responsorial 103(104)

Salmo responsorial 15(16)

Salmo responsorial (Ex 15)

Salmo responsorial 29(30)

Salmo responsorial (Is 12)

Salmo responsorial 18B(19)

Salmo responsorial 41(42)

Segunda Leitura: Romanos 6,3-11

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 3será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? 4Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. 5Pois, se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. 6Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o corpo de pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado. 7Com efeito, aquele que morreu está livre do pecado. 8Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. 9Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. 10Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive. 11Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Marcos 16,1-7

1Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. 2E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. 3E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?” 4Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra já tinha sido retirada. 5Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado ao lado direito, vestido de branco. E ficaram muito assustadas. 6Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. 7Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

Os anjos anunciam a Ressurreição [1].Ponto 1. — “Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, disseram-lhes eles: ‘Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?’” (Lc 24, 5). São dignas de ser repreendidas, por não crerem no testemunho dos anjos. É por isso que, embora alegres, correm amedrontadas, isto é, felizes por tudo o que tinham visto, mas com medo de que talvez não seja verdade. É a mesma contradição que experimentam aqueles que, movidos embora por piedosos afetos de credulidade, não chegam a dar o passo da fé, por pensarem ser demasiado bom para ser verdade que Deus, feito homem, morra e ressuscite, só para que nós, criaturas dignas de morte, vivamos para sempre e com Ele ressuscitemos. E no entanto é verdade: “Alegrai-vos! Não tenhais medo”. É verdadeira a nossa fé, são fundadas as nossas esperanças, é certa a nossa vitória, se crermos profundamente em quem por nós tanto trabalhou e sofreu, só para nos alegrar com a boa-nova desta noite: “Lá vós o verei”  (Mc 16, 7).

Ponto 2. — “Ele ressuscitou. Não está aqui” (Mc 16, 6). Antes de saírem às pressas, deram-lhes os anjos um sinal inequívoco da ressurreição: “Não está aqui”. Com este argumento se prova também a nossa ressurreição espiritual. É como se nossa própria concupiscência, não um anjo veraz, fora forçada a dizer-nos hoje: “Não estais mais sepultados aqui nesta imperfeição, neste mau afeto, nesta imperfeição, nesta frouxidão de espírito”. Alegra-te, se é esta a tua condição; do contrário, esforça-te para que seja, pois não te faltam as graças daquele que, para não morreres, desceu aos infernos, e, para viveres, tornou glorioso à vida: “Não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24, 6).

Ponto 3. — “Ide depressa e dizei aos discípulos que Ele ressuscitou dos mortos” (Mt 28, 7). Em nome de Cristo dão os anjos esta ordem às mulheres. Não mereciam os Apóstolos, contudo, receber tão grata notícia, já que o tinham abandonado covardemente. Cristo porém olha mais para os extremos do seu próprio amor que para as exigências do nosso mérito, amando até os que o não merecem. Que isto nos sirva hoje também de consolo, a nós, que somos tão indignos do amor de Nosso Senhor: “Não entreis em juízo com o vosso servo” (Sl 142, 2), mas “tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade” (Sl 50, 3).

Referências

  1. Tradução adaptada de Nicolaus von Avancini, Vita et doctrina Jesu Christi, apud Joannem Blaeu, & viduam Alex. Harttung, 1673, p. 188. O ponto n. 1, totalmente adaptado, é de autoria da equipe CNP.
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sexta-feira, 29 de março de 2024

Sexta-feira Santa | Paixão do Senhor - Cruz, uma loucura de amor por mim.

 A PAIXÃO DE CRISTO (2004) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo  sobre cinema

Fiel ao Pai e à humanidade, Jesus assume a cruz e nela consuma a própria vida. Unamo-nos a ele, Servo sofredor, e o acompanhemos em seu julgamento e condenação. A celebração, que fomenta em nós a solidariedade com os sofredores, é marcada pelo despojamento e pelo silêncio e consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração de Cristo na cruz e rito da comunhão.

Primeira Leitura: Isaías 52,13-53,12

A liturgia da Palavra é o momento central desta celebração. Jesus enfrenta as consequências de sua fidelidade ao projeto do Pai e torna-se fonte de salvação para a humanidade.

Leitura do livro do profeta Isaías13Ei-lo, o meu Servo será bem-sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. 14Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo – tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -, 15do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dele os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que jamais ouviram. 53,1Quem de nós deu crédito ao que ouvimos? E a quem foi dado reconhecer a força do Senhor? 2Diante do Senhor, ele cresceu como renovo de planta ou como raiz em terra seca. Não tinha beleza nem atrativo para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse. 3Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos; passando por ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos caso dele. 4A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! 5Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura. 6Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós. 7Foi maltratado e submeteu-se, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca. 8Foi atormentado pela angústia e foi condenado. Quem se preocuparia com sua história de origem? Ele foi eliminado do mundo dos vivos; e por causa do pecado do meu povo, foi golpeado até morrer. 9Deram-lhe sepultura entre ímpios, um túmulo entre os ricos, porque ele não praticou o mal nem se encontrou falsidade em suas palavras. 10O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. 11Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o Justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas. 12Por isso, compartilharei com ele multidões e ele repartirá suas riquezas com os valentes seguidores, pois entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 30(31)

Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.

1. Senhor, eu ponho em vós minha esperança; / que eu não fique envergonhado eternamente! / Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, / porque vós me salvareis, ó Deus fiel! – R.

2. Tornei-me o opróbrio do inimigo, / o desprezo e zombaria dos vizinhos / e objeto de pavor para os amigos; / fogem de mim os que me veem pela rua. / Os corações me esqueceram como um morto, / e tornei-me como um vaso espedaçado. – R.

3. A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio / e afirmo que só vós sois o meu Deus! / Eu entrego em vossas mãos o meu destino; / libertai-me do inimigo e do opressor! – R.

4. Mostrai serena a vossa face ao vosso servo / e salvai-me pela vossa compaixão. / Fortalecei os corações, tende coragem, / todos vós que ao Senhor vos confiais! – R.

Segunda Leitura: Hebreus 4,14-16; 5,7-9

Leitura da carta aos Hebreus – Irmãos, 14temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. 15Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. 16Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno. 5,7Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. 8Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. 9Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 18,1-19,42

Louvor e honra a vós, Senhor Jesus.

Jesus Cristo se tornou obediente, / obediente até a morte numa cruz; / pelo que o Senhor Deus o exaltou / e deu-lhe um nome muito acima de outro nome (Fl 2,8s). – R.

N (Narrador): Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 1Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia aí um jardim, onde ele entrou com os discípulos. 2Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus costumava reunir-se aí com os seus discípulos. 3Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus e chegou ali com lanternas, tochas e armas. 4Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e disse:

P (Presidente): A quem procurais?

N: 5Responderam:

G (Grupo ou assembleia): A Jesus, o Nazareno.

N: Ele disse:

P: Sou eu.

N: Judas, o traidor, estava junto com eles. 6Quando Jesus disse “sou eu”, eles recuaram e caíram por terra. 7De novo lhes perguntou:

P: A quem procurais?

N: Eles responderam:

G: A Jesus, o Nazareno.

N: 8Jesus respondeu:

P: Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem.

N: 9Assim se realizava a palavra que Jesus tinha dito: “Não perdi nenhum daqueles que me confiaste”. 10Simão Pedro, que trazia uma espada consigo, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. 11Então Jesus disse a Pedro:

P: Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que o Pai me deu?

N: 12Então os soldados, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o amarraram. 13Conduziram-no primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o sumo sacerdote naquele ano. 14Foi Caifás que deu aos judeus o conselho: “É preferível que um só morra pelo povo”. 15Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote. 16Pedro ficou fora, perto da porta. Então o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu, conversou com a encarregada da porta e levou Pedro para dentro. 17A criada que guardava a porta disse a Pedro:

L (Leitor): Não pertences também tu aos discípulos desse homem?

N: Ele respondeu:

L: Não!

N: 18Os empregados e os guardas fizeram uma fogueira e estavam se aquecendo, pois fazia frio. Pedro ficou com eles, aquecendo-se. 19Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus a respeito de seus discípulos e de seu ensinamento. 20Jesus lhe respondeu:

P: Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. 21Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que falei; eles sabem o que eu disse.

N: 22Quando Jesus falou isso, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo:

L: É assim que respondes ao sumo sacerdote?

N: 23Respondeu-lhe Jesus:

P: Se respondi mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?

N: 24Então Anás enviou Jesus amarrado para Caifás, o sumo sacerdote. 25Simão Pedro continuava lá, em pé, aquecendo-se. Disseram-lhe:

G: Não és tu, também, um dos discípulos dele?

N: Pedro negou:

L: Não!

N: 26Então um dos empregados do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha cortado a orelha, disse:

L: Será que não te vi no jardim com ele?

N: 27Novamente Pedro negou. E, na mesma hora, o galo cantou. 28De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de manhã cedo. Eles mesmos não entraram no palácio, para não ficarem impuros e poderem comer a Páscoa. 29Então Pilatos saiu ao encontro deles e disse:

L: Que acusação apresentais contra este homem?

N: 30Eles responderam:

G: Se não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti!

N: 31Pilatos disse:

L: Tomai-o vós mesmos e julgai-o de acordo com a vossa lei.

N: Os judeus lhe responderam:

G: Nós não podemos condenar ninguém à morte.

N: 32Assim se realizava o que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer. 33Então Pilatos entrou de novo no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe:

L: Tu és o rei dos judeus?

N: 34Jesus respondeu:

P: Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim?

N: 35Pilatos falou:

L: Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?

N: 36Jesus respondeu:

P: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui.

N: 37Pilatos disse a Jesus:

L: Então tu és rei?

N: Jesus respondeu:

P: Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz.

N: 38Pilatos disse a Jesus:

L: O que é a verdade?

N: Ao dizer isso, Pilatos saiu ao encontro dos judeus e disse-lhes:

L: Eu não encontro nenhuma culpa nele. 39Mas existe entre vós um costume, que pela Páscoa eu vos solte um preso. Quereis que vos solte o rei dos judeus?

N: 40Então, começaram a gritar de novo:

G: Este não, mas Barrabás!

N: Barrabás era um bandido. 19,1Então Pilatos mandou flagelar Jesus. 2Os soldados teceram uma coroa de espinhos e a colocaram na cabeça de Jesus. Vestiram-no com um manto vermelho, 3aproximavam-se dele e diziam:

G: Viva o rei dos judeus!

N: E davam-lhe bofetadas. 4Pilatos saiu de novo e disse aos judeus:

L: Olhai, eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que não encontro nele crime algum.

N: 5Então Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto vermelho. Pilatos disse-lhes:

L: Eis o homem!

N: 6Quando viram Jesus, os sumos sacerdotes e os guardas começaram a gritar:

G: Crucifica-o! Crucifica-o!

N: Pilatos respondeu:

L: Levai-o vós mesmos para o crucificar, pois eu não encontro nele crime algum.

N: 7Os judeus responderam:

G: Nós temos uma Lei, e, segundo esta Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus.

N: 8Ao ouvir essas palavras, Pilatos ficou com mais medo ainda. 9Entrou outra vez no palácio e perguntou a Jesus:

L: De onde és tu?

N: Jesus ficou calado. 10Então Pilatos disse:

L: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?

N: 11Jesus respondeu:

P: Tu não terias autoridade alguma sobre mim se ela não te fosse dada do alto. Quem me entregou a ti, portanto, tem culpa maior.

N: 12Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus. Mas os judeus gritavam:

G: Se soltas esse homem, não és amigo de César. Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.

N: 13Ouvindo essas palavras, Pilatos levou Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, em hebraico “Gábata”. 14Era o dia da preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Pilatos disse aos judeus:

L: Eis o vosso rei!

N: 15Eles, porém, gritavam:

G: Fora! Fora! Crucifica-o!

N: Pilatos disse:

L: Hei de crucificar o vosso rei?

N: Os sumos sacerdotes responderam:

G: Não temos outro rei senão César.

N: 16Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram. 17Jesus tomou a cruz sobre si e saiu para o lugar chamado Calvário, em hebraico “Gólgota”. 18Ali o crucificaram, com outros dois: um de cada lado, e Jesus no meio. 19Pilatos mandou ainda escrever um letreiro e colocá-lo na cruz; nele estava escrito: “Jesus Nazareno, o rei dos judeus”. 20Muitos judeus puderam ver o letreiro, porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. O letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego. 21Então os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:

G: Não escrevas “o rei dos judeus”, mas sim o que ele disse: “Eu sou o rei dos judeus”.

N: 22Pilatos respondeu:

L: O que escrevi está escrito.

N: 23Depois que crucificaram Jesus, os soldados repartiram a sua roupa em quatro partes, uma parte para cada soldado. Quanto à túnica, esta era tecida sem costura, em peça única de alto a baixo. 24Disseram então entre si:

G: Não vamos dividir a túnica. Tiremos a sorte para ver de quem será.

N: Assim se cumpria a Escritura que diz: “Repartiram entre si as minhas vestes e lançaram sorte sobre a minha túnica”. Assim procederam os soldados. 25Perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. 26Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe:

P: Mulher, este é o teu filho.

N: 27Depois disse ao discípulo:

P: Esta é a tua mãe.

N: Dessa hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. 28Depois disso, Jesus, sabendo que tudo estava consumado e para que a Escritura se cumprisse até o fim, disse:

P: Tenho sede.

N: 29Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram numa vara uma esponja embebida de vinagre e levaram-na à boca de Jesus. 30Ele tomou o vinagre e disse:

P: Tudo está consumado.

N: E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Todos se ajoelham e faz-se breve pausa.

N: 31Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32Os soldados foram e quebraram as pernas de um e, depois, do outro que foram crucificados com Jesus. 33Ao se aproximarem de Jesus e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35Aquele que viu dá testemunho, e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. 36Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. 37E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram”. 38Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus – mas às escondidas, por medo dos judeus -, pediu a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos consentiu. Então José veio tirar o corpo de Jesus. 39Chegou também Nicodemos, o mesmo que antes tinha ido de noite encontrar-se com Jesus. Levou uns trinta quilos de perfume, feito de mirra e aloés. 40Então tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar. 41No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. 42Por causa da preparação da Páscoa e como o túmulo estava perto, foi ali que colocaram Jesus. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

Estamos na Sexta-feira Santa, dia em que Nosso Senhor vive sua Paixão salvadora por nós. É importante, ao celebrarmos hoje a Paixão de Cristo, ter sempre diante dos olhos o fato de que Jesus não nos amou de forma genérica. A Igreja sempre teve isso muito claro. Eu fui amado de forma específica por Jesus.

Isso se pode ver através de dois argumentos teológicos.

O primeiro é o fato de que o amor de Jesus é infinito; ora, quando se pega um amor infinito para o dividir ao meio, o que sobra é infinito de um lado, e infinito de outro, ou seja, ele não deixa de ser infinito. E, se o dividirmos entre a população da Terra, entre os bilhões ou trilhões de seres humanos que existem e existirão? Mesmo assim, continua sendo um amor infinito.

Então, quando olhamos para o amor infinito de Cristo na Cruz, devemos considerar e levar muito a sério que tudo, absolutamente tudo o que está sendo vivido na Paixão, está sendo vivido por mim. O amor de Cristo não é divisível.

Daí vemos por que os santos insistem em dizer que foi “por mim”, só “por mim”, que Ele morreu na Cruz. Eis a forma de vivermos espiritualmente essa realidade teológica incontestável, mas que para nós, seres humanos, psicologicamente se aplica melhor quando dizemos: “Eu sou a única pessoa pela qual Jesus morreu. Todo aquele sangue, todo aquele sofrimento, todo aquele amor é para mim”.

Ao mesmo tempo, podemos usar um segundo argumento teológico para entender quanto Jesus nos ama na sua Paixão. É o fato de que realmente, historicamente, verdadeiramente, Ele pensava em mim na hora da Paixão.

A Igreja sempre considerou que Jesus, ao sofrer a morte na Cruz, na sua alma humana tinha presente a cada um de nós individualmente. Essa doutrina consta inclusive de documentos magisteriais da Igreja. Jesus, Deus feito homem, me amou e pensou em mim; eu ainda não existia, mas Ele já tinha a minha vida diante dos seus olhos e pensava em mim especificamente. Foi por mim que Ele morreu.

Essa realidade, com essas duas explicações teológicas, é incontestável. É uma realidade que não podemos deixar de abraçar na Sexta-feira Santa. Todos os santos atestam isso. É por isso que São Paulo diz: “O amor de Cristo nos impele”, pelo pensamento de saber que Ele morreu e se entregou por mim.

Mas nesta Sexta-feira Santa precisamos pedir mais fé. Eu preciso verdadeiramente, com sinceridade, ao olhar para a Cruz de Cristo, adorar o amor infinito com o qual fui amado: “Jesus Senhor, eu creio no vosso amor, mas não creio o suficiente, porque, se eu cresse o suficiente, com a profundidade com que devo crer, a minha vida seria diferente; eu não estaria dando de ombros para o pecado, mas desejaria realmente mudar. Pois o meu pecado vos fez sofrer e tornou-me o causador de vossa morte”.

Isso mesmo. Não busquemos os responsáveis pela morte de Cristo em outro lugar, procuremos em nós mesmos. Foi por mim, e Ele não deixa de me amar, de me perdoar e de abrir para mim, com o santo sacrifício, as portas do Céu.

 

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quinta-feira, 28 de março de 2024

Quinta-feira Santa - Ceia do Senhor - Um Coração que se doa sem cessar.

 Um Coração que se doa sem cessar

Nós, porém, devemos gloriar-nos na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; nele está a salvação, nossa vida e ressurreição; por ele somos salvos e libertos (Gl 6,14).

Com a celebração da Ceia do Senhor, ingressamos no Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Somos convidados a entrar em comunhão com Ele – que nos amou até o fim e nos deixou os dons do sacerdócio e da Eucaristia -, a fim de podermos, espelhados em seu exemplo, vivenciar o amor aos irmãos e irmãs, semeando harmonia e amizade na sociedade.

Primeira Leitura: Êxodo 12,1-8.11-14

Leitura do livro do Êxodo – Naqueles dias, 1o Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: 2“Este mês será para vós o começo dos meses; será o primeiro mês do ano. 3Falai a toda a comunidade dos filhos de Israel, dizendo: No décimo dia deste mês, cada um tome um cordeiro por família, um cordeiro para cada casa. 4Se a família não for bastante numerosa para comer um cordeiro, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Deveis calcular o número de comensais, conforme o tamanho do cordeiro. 5O cordeiro será sem defeito, macho, de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um cabrito: 6e devereis guardá-lo preso até o dia catorze deste mês. Então toda a comunidade de Israel reunida o imolará ao cair da tarde. 7Tomareis um pouco do seu sangue e untareis os marcos e a travessa da porta, nas casas em que o comerdes. 8Comereis a carne nessa mesma noite, assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. 11Assim devereis comê-lo: com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. E comereis às pressas, pois é a Páscoa, isto é, a ‘passagem’ do Senhor! 12E naquela noite passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; e infligirei castigos contra todos os deuses do Egito, eu, o Senhor. 13O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes. Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora quando eu ferir a terra do Egito. 14Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar, por todas as gerações, como instituição perpétua”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 115(116B)

O cálice por nós abençoado / é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.

1. Que poderei retribuir ao Senhor Deus / por tudo aquilo que ele fez em meu favor? / Elevo o cálice da minha salvação, / invocando o nome santo do Senhor. – R.

2. É sentida por demais pelo Senhor / a morte de seus santos, seus amigos. / Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, / mas me quebrastes os grilhões da escravidão! – R.

3. Por isso oferto um sacrifício de louvor, / invocando o nome santo do Senhor. / Vou cumprir minhas promessas ao Senhor / na presença de seu povo reunido. – R.

Segunda Leitura: 1 Coríntios 11,23-26

Leitura da primeira carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 23o que eu recebi do Senhor, foi isso que eu vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. 25Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 26Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha. – Palavra do Senhor.

Evangelho: João 13,1-15

Glória a vós, ó Cristo, Verbo de Deus.

Eu vos dou este novo mandamento, / nova ordem agora vos dou: / que também vos ameis uns aos outros, / como eu vos amei, diz o Senhor (Jo 13,34). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 1Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. 3Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, 4levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. 6Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” 7Respondeu Jesus: “Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”. 8Disse-lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. 9Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. 10Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos”. 11Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem todos estais limpos”. 12Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que acabo de fazer? 13Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. 14Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
Celebramos na noite de hoje a Missa in Coena Domini, também conhecida como Missa de Lava-pés. Hoje, o Senhor institui dois sacramentos, o sacerdócio e a Eucaristia, dois pilares da Santa Igreja que perpetuam, de distintos modos, a missão e a presença de Cristo no mundo. Na intimidade do Cenáculo, rodeado por seus discípulos, o Senhor lhes diz: “Já não vos chamo servos […], mas chamei-vos amigos” (Jo 15, 15). Não foram eles que o escolheram, senão Ele que, por livre eleição, os quis escolher (cf. Jo 15, 16). A vocação dos Apóstolos, contudo, não os exime da responsabilidade de responderem por si mesmos a esse chamado. Entre eles, com efeito, está Judas Iscariotes, escolhido como os outros, elevado à dignidade sacerdotal, a quem Jesus lavou os pés e deu a sagrada comunhão e que, no entanto, preferiu responder negativamente a tantas mostras de predileção. Em contraste com a figura do traidor vemos S. João, modelo para os sacerdotes de sempre. A exemplo dele, todo sacerdote deveria aprender a reclinar-se sobre o peito de Cristo, a fim de aprender das batidas do seu Coração Eucarístico o quanto Ele nos ama, a ponto de dar-se-nos de comer na Santa Eucaristia. É o evangelista S. Lucas quem o insinua, ao relatar a seguinte confidência do Mestre: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa” (Lc 22, 15). Mas nós, com triste frequência, retribuímos esse desejo ardente de Nosso Senhor com uma caridade remissa, afrouxada, preguiçosa. De pés arrastados, vamos à Missa como quem cumpre um dever aborrecido ou repete, por hábito e automatismo, as mesmas rotinas de sempre. Jesus, porém, desce todos os dias aos nossos altares sem espírito rotineiro, mas com uma vontade imensa, abrasadora, de entregar-se a nós como remédio e alimento espiritual. Com essas verdades no coração, saibamos unir-nos à companhia que a Igreja faz hoje ao seu divino Fundador no Horto das Oliveiras. Respondamos positivamente aos anseios do Coração Eucarístico de Jesus e consolemo-lo, ao menos por uma hora, das tristezas e amarguras que por nós Ele há de padecer nesta noite santa. 


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quarta-feira, 27 de março de 2024

Semana Santa - A desgraça de não se arrepender.

 Por que Jesus escolheu Judas?

Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, pois o Senhor se fez obediente até a morte, e morte de cruz. E por isso Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai (Fl 2,10.8.11).

Às vésperas do Tríduo Pascal, somos confrontados com a traição de Judas. A Eucaristia nos dê forças para cultivar sempre um relacionamento sincero e transparente com o Senhor e com as pessoas.

Primeira Leitura: Isaías 50,4-9

Leitura do livro do profeta Isaías 4O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. 5O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7Mas o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. 8A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. 9Sim, o Senhor Deus é meu auxiliador; quem é que me vai condenar? – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 68(69)

Respondei-me, pelo vosso imenso amor, / neste tempo favorável, Senhor Deus.

1. Por vossa causa é que sofri tantos insultos, / e o meu rosto se cobriu de confusão; / eu me tornei como um estranho a meus irmãos, / como estrangeiro para os filhos de minha mãe. / Pois meu zelo e meu amor por vossa casa / me devoram como fogo abrasador; / e os insultos de infiéis que vos ultrajam / recaíram todos eles sobre mim! – R.

2. O insulto me partiu o coração. † Eu esperei que alguém de mim tivesse pena; / procurei quem me aliviasse e não achei! / Deram-me fel como se fosse um alimento, / em minha sede ofereceram-me vinagre! – R.

3. Cantando, eu louvarei o vosso nome / e, agradecido, exultarei de alegria! / Humildes, vede isto e alegrai-vos: † o vosso coração reviverá / se procurardes o Senhor continuamente! / Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres / e não despreza o clamor de seus cativos. – R.

Evangelho: Mateus 26,14-25

Salve, Cristo, luz da vida, / companheiro na partilha!

Salve, nosso Rei, somente vós / tendes compaixão dos nossos erros. – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 14um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse: “O que me dareis se vos entregar Jesus?” Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16E, daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?” 18Jesus respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O mestre manda dizer: O meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos'”. 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21Enquanto comiam, Jesus disse: “Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair”. 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?” 23Jesus respondeu: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!” 25Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

Estamos na Semana Santa e hoje o Evangelho nos fala da traição de Judas, exatamente na quarta-feira, sempre lembrada como dia especial de penitência por causa dessa traição. Foi o dia em que Judas procurou o sinédrio para acertar o preço — trinta moedas, preço da venda de um escravo — através do qual Jesus seria entregue.

A Igreja sempre meditou profundamente esta realidade. Jesus escolheu cada um dos doze Apóstolos. Não podemos dizer que Ele não soubesse quem eles eram nem que tenha escolhido uma pessoa indigna. Não, Ele escolheu Judas porque Judas verdadeiramente tinha o chamado de ser um dos Apóstolos, mas não correspondeu a ele e, infelizmente, sejam quais forem as razões espirituais que o levaram ao ato de traição, Judas se perdeu, não tanto por causa do seu pecado quanto por sua falta de arrependimento.

É importante notar isso. Nós meditamos ontem que São Pedro também traiu Jesus, mas se arrependeu, por isso hoje temos em Roma a magnífica Basílica de São Pedro recordando a santidade e a grandeza do Príncipe dos Apóstolos.

Se Judas se tivesse arrependido, teríamos várias igrejas em sua honra no mundo inteiro… Judas, quem sabe, seria um desses santos de grandíssima devoção no mundo inteiro. Teríamos igrejas de “São Judas Iscariotes”!… Sim, Judas foi chamado à santidade; no entanto, fracassou clamorosamente.

Por quê? Por que tal fracasso? Foi por que, na sua fraqueza humana, ele sucumbiu e pecou? Não. Na verdade, foi porque ele se fechou à graça arrependimento e à do perdão. Foi o desespero. Judas pôs sua esperança em si mesmo, em sua capacidade de reerguer-se, quando lhe houvera bastado suplicar pela misericórdia divina. Bastara-lhe somente uma lágrima, uma única lágrima de arrependimento, para dizer, como diz São João na sua primeira carta: “Se teu coração te acusa de pecado, Deus é maior que o teu coração”.

Nisso Satanás se nos mostra em sua característica mais mais terrível, a de “satã”, ou seja, de acusador. Primeiro, ele nos tenta e nos leva ao pecado; mas não é a queda a maior tragédia, não. Não estou, é claro, minimizando o pecado, que é um drama terrível. Mas a maior tragédia não é que Judas tenha vendido Jesus por trinta moedas. A maior tragédia é que, depois de ter pecado, ele não deu ouvidos ao defensor, ao Paráclito, mas ao acusador, a satã.

Meus irmãos, neste tempo de Semana Santa, em que nos aproximamos de Cristo e de sua Paixão, acusemo-nos diante de Deus dos nossos pecados; mas também, ao mesmo tempo que nos acusamos, professemos a fé em nosso Salvador, Jesus Cristo, e no Espírito Paráclito que é o Espírito Santo, que nos defende.

Recordemos também a Virgem Santíssima, que recebeu o título de Consoladora dos Aflitos. Também ela nos acompanha nesta Semana e intercede por nós.

Com esses grandes paráclitos, advogados nossos, apresentemo-nos diante do tribunal, acusemo-nos dos nossos pecados e recebemos a sentença da absolvição daquele que quer a nossa salvação.

 
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terça-feira, 26 de março de 2024

Semana Santa - A dureza de Judas.

 Um de vós me entregará”

Não me entregueis, Senhor, às mãos dos que me perseguem, pois contra mim se levantaram falsas testemunhas, mas volta-se contra eles a sua iniquidade (Sl 26,12).

Desde o ventre materno, somos amados por Deus e escolhidos para uma missão. Vigiemos para sermos fiéis ao amor do Pai e não trair a confiança dele em nós.

Primeira Leitura: Isaías 49,1-6

Leitura do livro do profeta Isaías1Nações marinhas, ouvi-me; povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer; desde o ventre de minha mãe, ele tinha na mente o meu nome; 2fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão  e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, 3e disse-me: “Tu és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado”. 4E eu disse: “Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa”. 5E, agora, diz-me o Senhor – ele que me preparou desde o nascimento para ser seu servo – que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor, esta é a minha glória. 6Disse ele: “Não basta seres meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 70(71)

Minha boca anunciará vossa justiça.

1. Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor, / que eu não seja envergonhado para sempre! / Porque sois justo, defendei-me e libertai-me! / Escutai a minha voz, vinde salvar-me! – R.

2. Sede uma rocha protetora para mim, / um abrigo bem seguro que me salve! / Porque sois a minha força e meu amparo, † o meu refúgio, proteção e segurança! / Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio. – R.

3. Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança, / em vós confio desde a minha juventude! / Sois meu apoio desde antes que eu nascesse, / desde o seio maternal, o meu amparo. – R.

4. Minha boca anunciará todos os dias / vossa justiça e vossas graças incontáveis. / Vós me ensinastes desde a minha juventude / e até hoje canto as vossas maravilhas. – R.

Evangelho: João 13,21-33.36-38

Honra, glória, poder e louvor / a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Salve, ó Rei, obediente ao Pai; / vós fostes levado para ser crucificado / como um manso cordeiro é conduzido à matança. – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, estando à mesa com seus discípulos, 21Jesus ficou profundamente comovido e testemunhou: “Em verdade, em verdade vos digo, um de vós me entregará”. 22Desconcertados, os discípulos olhavam uns para os outros, pois não sabiam de quem Jesus estava falando. 23Um deles, a quem Jesus amava, estava recostado ao lado de Jesus. 24Simão Pedro fez-lhe um sinal para que ele procurasse saber de quem Jesus estava falando. 25Então, o discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: “Senhor, quem é?” 26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho”. Então Jesus molhou um pedaço de pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Depois do pedaço de pão, satanás entrou em Judas. Então Jesus lhe disse: “O que tens a fazer, executa-o depressa”. 28Nenhum dos presentes compreendeu por que Jesus lhe disse isso. 29Como Judas guardava a bolsa, alguns pensavam que Jesus lhe queria dizer: “Compra o que precisamos para a festa” ou que desse alguma coisa aos pobres. 30Depois de receber o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era noite. 31Depois que Judas saiu, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo. 33Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Vós me procurareis, e agora vos digo, como eu disse também aos judeus: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir'”. 36Simão Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” Jesus respondeu-lhe: “Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas me seguirás mais tarde”. 37Pedro disse: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Eu darei a minha vida por ti!” 38Respondeu Jesus: “Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo, o galo não cantará antes que me tenhas negado três vezes”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

O Evangelho de hoje dirige o nosso olhar para uma personagem que, em regra, escapa à nossa reflexão habitual. Trata-se de Judas, filho de Simão Iscariotes. O traidor do Senhor, embora só o tenha "negociado" na Quarta-feira Santa (cf. Lc 22, 4s), já estava, evidentemente, em estado de pecado havia muito tempo. É o que nos indica este episódio da Última Ceia, quando Jesus lhe diz: "O que tens a fazer, executa-o depressa." O segundo versículo deste capítulo de São João também faz questão de ressaltar que o espírito do traidor há muito se afastara de Cristo: "Durante a ceia — quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas [...] o propósito de traí-lo [...]" (Jo 13, 2; cf. Lc 22, 3s). Também os seus constantes furtos testemunham que o seu lugar entre as colunas da Igreja devia ser passageiro: "Ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela" (Jo 12, 6), quia fur erat — porque era ladrão.

Tudo, pois, estava planejado; bastava-lhe apenas esperar pela ocasião oportuna para o trair, sem que a multidão, temida pelos chefes do povo, desconfiasse de algo (cf. Lc 22, 2.6). No entanto, o que talvez mais nos escandalize nesta cena é o fato de Judas haver comungado. Essa participação sacrílega é desmascarada logo em seguida pelo Senhor, que declara: "Aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho, é esse que me há de trair." Pão passado no molho: tal gesto de amor, sinal de estima e grande consideração entre os judeus, não foi porém capaz de amolecer o coração, agora incorrigível, de Judas. A tais extremos chegou a sua frieza, a sua indiferença para com Cristo, que melhor lhe seria nunca haver nascido (cf. Mc 14, 21): "Bonum ei si non esset natus homo ille." Jesus, com ciência divina, revela aqui a impenitência de Judas, a sua dureza de coração ('σκληροκαρδία'), o seu cabal ensurdecimento aos chamados da Graça.

O Senhor nos exorta, assim, a não deixar o desespero acomodar-se em nosso peito. Embora ignoremos os santos desígnios do Pai, temos a garantia de que, se nos humilharmos com verdadeira compunção, se reconhecermos a nossa miséria com sincero arrependimento, não há pecado que não nos possa ser perdoado. Vivamos, pois, esta 3.ª-feira da Semana Santa em meio a muitos e fervorosos atos de esperança. Preparemo-nos com uma boa confissão para os sofrimentos pascais que se avizinham. Não deixemos de recorrer à Virgem Santíssima, Refugium peccatorum, que tem sob os seus maternais cuidados o nosso frágil e pobre coração: que ela afaste de nós o endurecimento de Judas e nos alcance a graça de podermos chorar amargamente — assim o fez São Pedro (cf. Lc 22, 62) — todas as faltas em que porventura viermos a cair.


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segunda-feira, 25 de março de 2024

Semana Santa - O amor, quanto maior, mais generoso.

 O amor, quanto maior, mais generoso

Julgai, Senhor, meus acusadores, combatei aqueles que me combatem. Tomai armadura e escudo e levantai-vos em meu socorro, Senhor, minha força e salvação (Sl 34,1s; Sl 139,8).

Jesus, o Servo de Deus, é ungido para a missão. Pelo batismo, também fomos ungidos para participar da missão profética, sacerdotal e régia de Cristo. O gesto profético de Maria, irmã de Lázaro, propague entre nós o perfume do amor e da fidelidade a Jesus.

Primeira Leitura: Isaías 42,1-7

Leitura do livro do profeta Isaías1“Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. 2Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. 3Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega, mas promoverá o julgamento para obter a verdade. 4Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos”. 5Isto diz o Senhor Deus, que criou o céu e o estendeu, firmou a terra e tudo que dela germina, que dá a respiração aos seus habitantes e o sopro da vida ao que nela se move: 6“Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, 7para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 26(27)

O Senhor é minha luz e salvação.

1. O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei? – R.

2. Quando avançam os malvados contra mim, / querendo devorar-me, / são eles, inimigos e opressores, / que tropeçam e sucumbem. – R.

3. Se contra mim um exército se armar, / não temerá meu coração; / se contra mim uma batalha estourar, / mesmo assim confiarei. – R.

4. Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes. / Espera no Senhor e tem coragem, / espera no Senhor! – R.

Evangelho: João 12,1-11

Honra, glória, poder e louvor / a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Salve, nosso Rei, somente vós / tendes compaixão dos nossos erros. – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 1Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Ali ofereceram a Jesus um jantar; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. 3Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. 4Então falou Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de entregar: 5“Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para as dar aos pobres?” 6Judas falou assim não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão; ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela. 7Jesus, porém, disse: “Deixa-a; ela fez isto em vista do dia de minha sepultura. 8Pobres, sempre os tereis convosco, enquanto a mim, nem sempre me tereis”. 9Muitos judeus, tendo sabido que Jesus estava em Betânia, foram para lá, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos. 10Então os sumos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11porque, por causa dele, muitos deixavam os judeus e acreditavam em Jesus. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
Hoje, Segunda-feira da Semana Senta, lemos no Evangelho o terno episódio da unção de Betânia. Jesus se encontra em casa de Lázaro, “que ele havia ressuscitado dos mortos”, e tem ali os seus pés ungidos com grande amor por Maria. Além de seu caráter simbólico, enquanto preparação para a sepultura em que, dentro de poucos dias, Jesus será depositado, esta unção guarda também claros paralelos com o Cântico dos Cânticos, livro em que o  Espírito Santo, para falar da relação de amor e fidelidade entre Deus e o seu povo, se serve da imagem de unções com perfumes preciosos. Assim, por exemplo, lemos logo no primeiro capítulo: “Enquanto o rei descansa em seu divã”, como Jesus sentado à mesa, “meu nardo exala o seu perfume” (Ct 1, 12). Essa linguagem de amor e intimidade que atravessa todo o episódio de Betânia contrasta também com o tom mesquinho com que Judas, o traidor, parece destoar do quadro geral. Judas, que fora muito amado por Cristo e dele recebeu, até o último instante, sinais de carinho e compreensão, está presente à cena, e em vez de sentir-se agradecido por ver seu Mestre receber tantas atenções e cuidados, por sua falta de fé, não pensa senão no próprio bolso: “Era ladrão” e “tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela”. De fato, apenas um ano antes, por ocasião da Páscoa, o Senhor já tinha revelado que um dos seus escolhidos, apesar de permanecer perto, já se havia apartado dele em espírito: “Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!…” (Jo 6, 70). Não é detalhe de somenos o fato de Jesus ter dito estas palavras durante o seu sermão eucarístico, pois foi precisamente por descrer da Eucaristia que a fé inteira de Judas naufragou, e com ela todo o amor que até o momento devotara a Cristo. Por falta de fé, Judas tornou-se incapaz de compreender a linguagem do amor, daquela generosidade que manifesta Maria ao “desperdiçar” quase meio litro do nardo o mais precioso; e, por não poder mais enxergar o valor do sacrifício a que leva a caridade, só tinha olhos para reconhecer o valor do dinheiro: “Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para dá-las aos pobres?” — Que nós, ao longo desta Semana Santa, não poupemos esforços nem façamos reservas “prudentes” na nossa entrega a Cristo. Amêmo-lo, e amêmo-lo generosamente, a exemplo de Maria de Betânia, sem medidas tacanhas, renovando nossa fé nos divinos mistérios, sobretudo na SS. Eucaristia.


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