Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:
Irmãos: 11Vós
sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito,
agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé.
12A noite já vai adiantada, o dia vem chegando; despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz.
13Procedamos
honestamente, como em pleno dia; nada de glutonerias e bebedeiras, nem
de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. 14Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.
- Palavra do Senhor - Graças a Deus.
Anúncio do Evangelho (Mt 24,37-44)
— Aleluia! Aleluia! Aleluia.
— Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei! (Sl 84,8)
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: 37“A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. 38Pois
nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e
davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 39E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem.
40Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. 41Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada.
42Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor.
43Compreendei
bem isto: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão,
certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada.
44Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.
— Palavra da Salvação - Glória a vós, Senhor.
Reflexão
Meditação. — 1. Hoje, a Igreja celebra o 1.º Domingo
do Advento, iniciando assim um novo ano litúrgico, na espera do
Salvador que há de vir. Esperar o Senhor não pode ser uma atitude meramente passiva,
mas uma preparação constante a fim de que busquemos a conversão e o
recebamos da melhor forma em nossos corações. Para isso, é indispensável
vivermos a oração e a penitência, dois instrumentos que Deus nos deu
para buscarmos a mudança de vida.
A necessidade da oração e da penitência se impõe quando compreendemos
o verdadeiro sentido do sacrifício, a partir dos ensinamentos da
Igreja.
Quando Deus criou os primeiros seres humanos, Adão e Eva, deu-lhes a
seguinte missão: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a”
(Gn 1, 28). Nesse sentido, o ser humano recebeu a incumbência
de dominar as criaturas, sendo “senhor” das coisas criadas, a fim de
que, assim, pudesse oferecê-las a Deus como sacrifício de amor. O projeto de Deus, desde o início, estava vinculado à vivência do sacrifício,
enquanto ato de abrir mão daquilo que é seu para oferecer amorosamente a
Deus. Nisso consistiria a realização do ser humano. Todavia, Adão e Eva
quebraram esse projeto ao se apegarem ao fruto proibido. Em
vez de dominar as criaturas e oferecê-las a Deus como oblação, eles
tomaram-nas para si e apegaram-se a elas a ponto de se tornarem
escravos.
Infelizmente, essa é a condição de toda a humanidade, a partir do
pecado original. Nós, que fomos criados para exercer um senhorio na obra
da Criação, tornamo-nos escravos das criaturas, sendo dominados por
elas, quando deveria acontecer o contrário. Assim, constatamos que,
frequentemente, a comida, a bebida, o sexo, o dinheiro e os bens
materiais dominam nossa vontade e condicionam nossas escolhas.
Para sermos libertos dessa escravidão, precisamos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, que veio a este mundo e encarnou-se por meio do
esvaziamento de si mesmo (kenosis), conforme relata a Carta de São Paulo aos Filipenses: “Embora fosse de condição divina, não se apegou
ciosamente ao seu ser igual a Deus. Porém, esvaziou-se de sua glória e
assumiu a condição de um escravo, fazendo-se aos homens semelhante” (2,
6).
Diferentemente de Adão e Eva, Cristo não se apegou; em vez disso, Ele se fez homem para ser senhor do universo e oferecer tudo a Deus no sacrifício da cruz. No Calvário, Jesus ofereceu toda a Criação em ação de graças (eucaristia) a Deus Pai, vencendo assim o demônio e a morte, a fim de libertar a humanidade da escravidão do pecado.
2. O problema é que ninguém mais enxerga essa realidade. No Advento,
somos chamados a nos unir ao sacrifício de Cristo, pela oração e pela
penitência. Mas como isso acontecerá se as pessoas não param para
refletir sobre o sacrifício? De modo geral, a maioria dos católicos nem
mesmo percebe por que Cristo veio ao mundo.
Tudo o que Jesus fez, em sua vida pública, foi preparar os seus
discípulos numa grande “Liturgia da Palavra”, a fim de que eles
estivessem prontos para viver a “Liturgia Eucarística” do sacrifício do
Calvário, e colher os frutos do seu verdadeiro e único sacrifício.
Essa finalidade da vida de Jesus devia estar clara para todos os
católicos, que, por sua vez, deveriam assumir como fim último de suas
vidas a união a Cristo pelo oferecimento de sacrifícios de amor. Se, por
um lado, sofremos as consequências do pecado original, que nos faz
reféns do diabo e suas maldades; por outro, quando nos unimos a Nosso
Senhor — pelos sacramentos e pela vida cristã —, passamos a fazer parte do seu senhorio e conseguimos oferecer nossos sacrifícios a Deus.
É por isso lamentável que nós, católicos, estejamos sendo transformados por uma cultura anticristã. O sacrifício de Cristo desapareceu da consciência dos fiéis católicos.
Por exemplo, a Missa é vista por muitos como “banquete festivo”,
“celebração da partilha” ou “encontro da comunidade”, expressões
antropocêntricas que desconsideram totalmente o caráter sacrifical da
Celebração Eucarística.
Assim como o sacrifício desapareceu da consciência dos fiéis na hora
da Missa, também foi esquecido na vida cotidiana. Há 50 anos, por
exemplo, os católicos sabiam que, toda semana, tinham de viver uma
“pequena quaresma” (na sexta-feira) e uma “pequena páscoa” (no domingo).
Na sexta, vivia-se a penitência; no domingo, dia do Senhor, vivia-se
para a oração e o louvor a Deus. Essa consciência era tão firme e
empenhada que ditava as regras da sociedade e formava uma verdadeira
cultura. Até a economia era pautada pelos católicos, como quando, por
exemplo, as lanchonetes do McDonald’s tiveram de oferecer sanduíche de
sardinha às sextas-feiras para não perder a sua clientela. Tudo isso
caiu no esquecimento nas últimas décadas.
Diante desse triste cenário, precisamos recordar que o
sacrifício é parte essencial da visão católica da vida humana realizada
em Deus. É impossível viver de forma adequada o Advento,
ignorando essa realidade fundamental. Neste tempo litúrgico, estamos nos
preparando para o nascimento de Jesus. Para viver bem essa preparação, é
necessário compreender que Cristo veio a este mundo para oferecer o
verdadeiro sacrifício, ao qual devemos nos unir por meio da oração e da
penitência.
3. Este tempo do Advento deve auxiliar-nos a estabelecer em nossas vidas — de forma definitiva, equilibrada e alegre — um
ritmo constante de oração e penitência. Desde já, devemos educar os
nossos filhos para isso, ensinando-lhes que, com pequenos sacrifícios,
eles podem se unir ao sacrifício redentor de Nosso Senhor, pela salvação
da humanidade. Em termos práticos, cada família pode habituar-se a
sortear, entre seus membros, pequenos propósitos penitenciais — de acordo com a idade e as condições físicas de cada um — a fim de serem realizados durante o tempo do Advento.
Numa época em que muitas pessoas acreditam viver um “catolicismo alternativo” — no qual as verdades doutrinárias e os atos de fé são dissolvidos por ideologias relativistas e antropocêntricas —,
é necessário destacar que não podemos edificar o Reino de Deus com os
mesmos métodos com que é erigido o reino de Satanás, conforme adverte o
Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, no livro Ao sopro do Espírito. E os meios pelos quais edificamos o Reino de Cristo são a oração e a penitência.
Nosso Senhor, na Cruz, já fez o maior de todos os sacrifícios,
imensamente suficiente para a nossa salvação. No entanto, precisamos
aplicá-lo nas nossas vidas, participando dele por meio da oração e da
penitência.
Sigamos, pois, os ensinamentos da Virgem Santíssima em Fátima, ao
instruir os três pastorinhos a rezar e a fazer penitência. Esse é o
caminho que devemos percorrer, não apenas para iniciarmos o tempo do
Advento, mas a fim de aderirmos a um ritmo de vida verdadeiramente
católico.
Oração. — Senhor Jesus Cristo, Vós que vieste ao
mundo para oferecer o sacrifício perfeito e definitivo, auxiliai-nos,
neste tempo do Advento, a participar do vosso oferecimento na Cruz, por
meio da oração e da penitência. Assim seja!
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