segunda-feira, 30 de outubro de 2023

30ª Semana do Tempo Comum - A cura da mulher encurvada.

 


Exulte o coração dos que buscam a Deus. Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face (Sl 104,3s).

Recebemos “um espírito de filhos adotivos, no qual clamamos: Abá – ó Pai!” Somos convidados a deixar-nos conduzir, em todas as circunstâncias, pelo Espírito, a fim de vivermos como “herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo”, estendendo seu legado libertador aos que convivem conosco.

Primeira Leitura: Romanos 8,12-17

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – 12Irmãos, temos uma dívida, mas não para com a carne, para vivermos segundo a carne. 13Pois, se viverdes segundo a carne, morrereis, mas se, pelo espírito, matardes o procedimento carnal, então vivereis. 14Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! 16O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. 17E, se somos filhos, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 67(68)

Nosso Deus é um Deus que salva, é um Deus libertador!

1. Eis que Deus se põe de pé, e os inimigos se dispersam! / Fogem longe de sua face os que odeiam o Senhor! / Mas os justos se alegram na presença do Senhor, / rejubilam satisfeitos e exultam de alegria! – R.

2. Dos órfãos ele é pai e das viúvas protetor; / é assim o nosso Deus em sua santa habitação. / É o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados, / quem liberta os prisioneiros e os sacia com fartura. – R.

3. Bendito seja Deus, bendito seja, cada dia, / o Deus da nossa salvação, que carrega os nossos fardos! / Nosso Deus é um Deus que salva, é um Deus libertador; / o Senhor, só o Senhor, nos poderá livrar da morte! – R.

Evangelho: Lucas 13,10-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Vossa Palavra é a verdade; / santificai-nos na verdade! (Jo 17,17) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 10Jesus estava ensinando numa sinagoga em dia de sábado. 11Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar. 12Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. 13Jesus colocou as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus. 14O chefe da sinagoga ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E, tomando a palavra, começou a dizer à multidão: “Existem seis dias para trabalhar. Vinde, então, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado”. 15O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vós não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? 16Esta filha de Abraão, que satanás amarrou durante dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão em dia de sábado?” 17Esta resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia. – Palavra da salvação.

Reflexão
A cura da mulher encurvada contém uma mensagem — sempre atual como o Evangelho — de profunda importância para a nossa vida espiritual. Cristo é a revelação de Deus, é a manifestação pessoal dos sentimentos do coração e dos pensamentos daquele que habita em luz inacessível. De modo que até em seus milagres, e não só em suas palavras e discursos, manifesta-se alguma das verdades que o Senhor nos quer transmitir. De fato, como diz S. Agostinho, aquele que criou o corpo é criador também da alma, de sorte que as curas que Jesus operou em cegos, leprosos, paralíticos e hidrópicos são um sinal da cura interior que ele deseja realizar em nós. E o que são essas doenças senão uma imagem das enfermidades da alma? Não é o cego figura de quem não crê em Deus, e o manco, de quem já não percorre o caminho da vida? Assim também a deformidade daquela mulher de que nos fala hoje o Evangelho era obra de Satanás, que a amarrou por dezoito anos, impedindo-a de endireitar-se e olhar para o alto. E acaso não somos todos, em virtude do pecado, escravos do demônio? Não nos encontramos amarrados em seus laços, seduzidos por suas mentiras, desviados como ele da face de Deus? É dessa escravidão que nos veio libertar Jesus, reconciliando-nos com o Pai, enriquecendo-nos com a graça da adoção e fortalecendo-nos com os auxílios espirituais necessários para lutarmos contra a carne, o diabo e o mundo. Agora que nos sabemos redimidos e livres, mantenhamos o olhar, não para as coisas cá de baixo, mas para o céu, onde Cristo está sentado e temos à nossa espera uma herança imarcescível. Que aquele que, ao ser levantado da terra, tudo atraiu para si (cf. Jo 12, 31s), nos conceda a graça de aspirarmos só aos bens celestes, deixando para os porcos as bolotas deste vale de lágrimas.

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domingo, 29 de outubro de 2023

30º Domingo do Tempo Comum - Nossa resposta de amor a Deus.



 Exulte o coração dos que buscam a Deus. Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face (Sl 104,3s).

O amor a Deus e ao próximo é o centro da vida cristã. O Senhor, nossa força e salvação, nos une em torno da Eucaristia, expressão do seu amor misericordioso para com todos. Dispostos a viver sinodalmente a missão como identidade permanente de nossa comunidade de fé, com “os corações ardentes e os pés a caminho”, celebremos em comunhão com os jovens neste dia nacional da juventude.

Primeira Leitura: Êxodo 22,20-26

Leitura do livro do Êxodo – Assim diz o Senhor: 20Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. 21Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. 22Se os maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o seu clamor. 23Minha cólera, então, se inflamará e eu vos matarei à espada; vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. 24Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, a um pobre que vive ao teu lado, não sejas um usurário, dele cobrando juros. 25Se tomares como penhor o manto do teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr do sol. 26Pois é a única veste que tem para o seu corpo, e coberta que ele tem para dormir. Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 17(18)

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.

1. Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, / minha rocha, meu refúgio e salvador! / Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, / minha força e poderosa salvação. – R.

2. Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, / sois meu escudo e proteção: em vós espero! / Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! / E dos meus perseguidores serei salvo! – R.

3. Viva o Senhor! Bendito seja o meu rochedo! / E louvado seja Deus, meu salvador! / Concedeis ao vosso rei grandes vitórias / e mostrais misericórdia ao vosso ungido. – R.

Segunda Leitura: 1 Tessalonicenses 1,5-10

Leitura da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses – Irmãos, 5sabeis de que maneira procedemos entre vós, para o vosso bem. 6E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações. 7Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia. 8Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte. Assim, nós já nem precisamos de falar, 9pois as pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses para servir ao Deus vivo e verdadeiro, 10esperando dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra do castigo que está por vir. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 22,34-40

Aleluia, aleluia, aleluia.

Se alguém me ama, guardará a minha palavra, / e meu Pai o amará, e a ele nós viremos (Jo 14,23). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 34os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo 35e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 36“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” 37Jesus respondeu: “‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!’ 38Esse é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. 40Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Jesus é colocado à prova por um fariseu, que lhe pergunta qual seria “o maior mandamento da Lei”. Assim, Nosso Senhor aproveita a ocasião não só para responder aos seus interlocutores, mas também para deixar uma lição acerca de como amar a Deus de todo o nosso coração, conforme o 1º mandamento. E o segredo está justamente no cumprimento do 2º mandamento, que é amar ao próximo como a si mesmo.

O Evangelho deste domingo é, antes de tudo, uma grande oportunidade para meditarmos sobre a generosidade de Deus, que, por um ato livre e de pura bondade, comunicou o nosso ser e todas as suas qualidades. Por isso, St. Teresinha do Menino Jesus diz que amar é dar tudo e dar a si mesmo. Ele não precisou ver algo de bom em nós, como quando um homem se sente atraído por uma mulher e pelo que ela lhe pode oferecer; Deus primeiro nos amou e, por meio disso, formou em nós uma bondade genuína, pelo que somos a sua imagem e semelhança. E assim fez, diz S. Bernardo de Claraval, porque deseja nos ver amando também, “já que ama para ser amado”.

Para respondermos a esse amor de Deus, por conseguinte, temos de reconhecê-lo como a razão de ser de nossas vidas, ou seja, a causa final de tudo o que somos, pensamos e fazemos. Daí que, no trato com nossos irmãos, nós não vamos idolatrá-los, colocando-os num pedestal de glória, e sim enxergá-los como ícones daquele mesmo Deus, por quem iremos nos doar como retribuição ao amor que antes recebemos. Em termos práticos, trata-se de realizar aquilo que St. Teresinha definiu como sendo o amor: dar-se inteiramente pelo Outro.

Se o amor requer a união, e Deus, mesmo sendo perfeitamente feliz, quis nos criar para o amor, é porque Ele almeja unir-se conosco numa felicidade eterna. Agora nós precisamos converter nossas atitudes em atos de união com o Divino Amor, saindo de nós mesmo para, como instrumentos da graça, comunicarmos a Paixão de Deus por sua mais bela criatura.

Oração. — Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


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sábado, 28 de outubro de 2023

Festa de São Simão e São Judas, Apóstolos - Se Cristo rezou, por que nós não rezamos?

 


No seu amor inabalável, o Senhor escolheu como apóstolos Simão e Judas e lhes deu uma glória eterna.

Simão, o “Cananeu” ou “Zelota”, e Judas Tadeu foram chamados diretamente por Jesus. Seus nomes encontram-se em todas as listas dos apóstolos. Judas tornou-se popular e é cultuado como o padroeiro das causas desesperadas. O exemplo desses fiéis seguidores de Cristo nos estimule a manter a unidade na Igreja e nas famílias.

Primeira Leitura: Efésios 2,19-22

Leitura da carta de São Paulo aos Efésios – Irmãos, 19já não sois mais estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos. Sois da família de Deus. 20Vós fostes integrados no edifício que tem como fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como pedra principal. 21É nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor. 22E vós também sois integrados nessa construção, para vos tornardes morada de Deus pelo Espírito. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 18(19A)

Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.

1. Os céus proclamam a glória do Senhor, / e o firmamento, a obra de suas mãos; / o dia ao dia transmite essa mensagem, / a noite à noite publica essa notícia. – R.

2. Não são discursos nem frases ou palavras, / nem são vozes que possam ser ouvidas; / seu som ressoa e se espalha em toda a terra, / chega aos confins do universo a sua voz. – R.

Evangelho: Lucas 6,12-19

Aleluia, aleluia, aleluia.

A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos; / vos louva, ó Senhor, o coro dos apóstolos! – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele e curava a todos. – Palavra da salvação.

Reflexão
Hoje, o evangelista S. Lucas nos narra, com sua peculiar precisão de historiador, a eleição dos doze Apóstolos: foi após uma noite inteira de oração que Jesus escolheu os que, desde a fundação do mundo, já haviam sido eleitos como testemunhas oculares da Ressurreição, fundamentos do novo Israel e anunciadores da Boa-Nova. Um detalhe chamativo deste relato de Lucas é precisamente o fato de Cristo ser-nos apresentado em oração: era Ele Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; e, no entanto, quis como nós ter a experiência da oração. Enquanto Verbo divino, é claro, o Senhor não precisava orar: a sua vontade era una com a do Pai, cujo rosto Ele via sempre; a sua inteligência era iluminada, além disso, pela ciência que o próprio Deus tem de si mesmo: nele, portanto, não havia lugar para a fé — tudo lhe era claro e transparente. E, apesar disso, Jesus quis rezar, e o quis não só para servir-nos de exemplo, mas ainda para demonstrar, na experiência concreta de sua vida neste mundo, de que maneira Deus quer operar e agir na vida de cada um de nós. Sem oração, estamos perdidos, porque quem reza, diz S. Afonso, certamente se salva, e quem não reza certamente se condena. Temos, pois, de rezar, e rezar muito, porque era a nossa oração o que o Senhor pedia ao Pai quando da escolha dos Doze, com os quais todos nós fomos também escolhidos — escolhidos para ouvir o chamado do Evangelho, esse apelo de conversão que o Senhor quer fazer ressoar em nossos corações, mas sem prescindir da nossa livre e atenta escuta. Que a partir de hoje possamos dedicar tempo, um tempo generoso, à nossa oração pessoal, inspirados no exemplo daquele que, por amor, submeteu-se livremente ao que, para nós, é uma necessidade irrenunciável.

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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

29ª Semana do Tempo Comum - Não se faça de desentendido!

 


Clamo por vós, meu Deus, porque me atendestes; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me (Sl 16,6.8).

Em Jesus Cristo, Deus nos libertou da escravidão do pecado e nos fez novas criaturas. Deixemo-nos conduzir pelo Espírito do Senhor, que habita em nós e nos dá o senso de justiça e o discernimento necessários para fazer sempre sua vontade em meio às situações da vida.

Primeira Leitura: Romanos 7,18-25

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 18estou ciente que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne. Pois eu tenho capacidade de querer o bem, mas não de realizá-lo. 19Com efeito, não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. 20Ora, se faço aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim. 21Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. 22Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na lei de Deus; 23mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei da minha razão e me aprisiona na lei do pecado, essa lei que está em meus membros. 24Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? 25Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 118(119)

Ensinai-me a fazer vossa vontade!

1. Dai-me bom senso, retidão, sabedoria, / pois tenho fé nos vossos santos mandamentos! – R.

2. Porque sois bom e realizais somente o bem, / ensinai-me a fazer vossa vontade! – R.

3. Vosso amor seja um consolo para mim, / conforme a vosso servo prometestes. – R.

4. Venha a mim o vosso amor e viverei, / porque tenho em vossa lei o meu prazer! – R.

4. Eu jamais esquecerei vossos preceitos, / por meio deles conservais a minha vida. – R.

5. Vinde salvar-me, ó Senhor, eu vos pertenço! Porque sempre procurei vossa vontade. – R.

Evangelho: Lucas 12,54-59

Aleluia, aleluia, aleluia.

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, / pois revelaste os mistérios do teu Reino aos pequeninos, / escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 54Jesus dizia às multidões: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. 55Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? 57Por que não julgais por vós mesmos o que é justo? 58Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda e o guarda te jogará na cadeia. 59Eu te digo, daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

O Evangelho de hoje nos propõe um discernimento sobre os tempos dessa vida. Jesus parte de uma comparação tomada do tempo atmosférico e das estações do ano: Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. A palavra “tempo”, em português, pode ser interpretada como tempo atmosférico — tempo chuvoso, seco, frio, quente etc. —, mas também como estação climática — o tempo de chuvas, o tempo de seca, o tempo de flores etc.

É a esse último sentido que Jesus se refere, a fim de advertir as multidões da época e também aos fiéis de hoje: Hipócritas!, isto é, “Fingidos! Fazeis de conta que não conheceis os tempos de Deus, quando em verdade sabeis ler até o tempo atmosférico”, expressão que, no lecionário do Brasil, está traduzido como o aspecto da terra e do céu, embora se leia em grego prosopon (πρόσωπον), isto é, a personalidade do céu e da terra, seu aspecto externo, sua máscara etc. O Senhor prossegue: Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?, onde “tempo presente” está por καιρός, que significa “tempo oportuno”, quando eventos bem determinados e decisivos têm lugar.

Em outras palavras, os judeus sabiam interpretar o tempo natural, físico e humano, mas fechavam os olhos para o que não queriam interpretar nem entender. É como se Cristo lhes dissesse: “Fingis não entender o que vos digo, mas mostrais saber julgar das coisas normalmente. Tendes inteligência para distinguir os tempos e aproveitá-los quando são oportunos, mas simulais não saber que um dia haveis de prestar contas a Deus de tudo o que houverdes feito no mundo”.

Também nós estamos a caminho do juízo, mais próximo a cada dia que passa. O agora é o tempo propício para negociar porque, quando estivermos cara a cara com o Juiz, não haverá apelação, somente a sentença. É o que Jesus diz por meio de outra comparação: Quando, pois, tu vais com teu adversário apresentar-se diante do magistrado, procura resolver o caso com ele, enquanto estais a caminho

O tempo passa, o tempo se esgota, e então o Juiz aparece, como de assalto. Muitos se iludem, pensando: “Ah, eu me converto amanhã”. Mas quem disse que chegará o amanhã? Quanta gente se deita à noite feliz e contente, para não acordar nunca mais? Quantas pessoas cheias de saúde saem para se divertir no final de semana, e nunca mais voltam à casa? Quantos doentes estão hoje hospitalizados, sem que jamais lhes tenha passado pela cabeça que um dia estariam às portas da eternidade? Quantos têm agora os seus corpos num necrotério ou numa funerária, onde nunca pensaram que estariam alguma vez? Se não pensaram, eram insensatos, pois podiam e deviam tê-lo meditado muito seriamente.

Deixemos a hipocrisia de lado. Todos sabemos que, mais dia menos dias, iremos encarar a morte. A vida é frágil, qualquer um o sabe. Ninguém é super-homem; o que de ruim acontece com os outros pode muito bem acontecer conosco. Daí a necessidade de estar preparado. “Ah”, dirá alguém, “mas Deus é bom. Ele vai me perdoar”. Ora, não pode haver perdão se não há arrependimento, e que garantia temos de que nos sobrará um “tempinho” para nos arrepender? Há quem caia inconsciente nos chão e chegue à UTI já morto, sem ter tido a chance (embora Deus lha tenha oferecido muitas vezes) de fazer um pequeno ato de contrição. “Mas Deus é misericórdia infinita!” Sim, e é também justiça infinita, e não é justo que passe a eternidade na presença do Amor quem passou o tempo todo amando-se apenas a si mesmo.

Esta vida tem prazo de validade, e não há kairós mais oportuno para entregá-la limpa na hora da morte do que o agora, enquanto ainda estamos a caminho. Peçamos perdão diante do Juiz misericordioso do tribunal da Confissão, antes que tenhamos de nos apresentar diante do justo Juiz, que nos dará a sentença definitiva. O tempo é agora, pois não sabemos se teremos um amanhã.

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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

29ª Semana do Tempo Comum - Fogo sobre a terra.

 


Clamo por vós, meu Deus, porque me atendestes; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me (Sl 16,6.8).

Libertos da escravidão do mal pelo batismo, somos capazes de fazer obras de santidade e conquistar a vida eterna. Contudo, a salvação que Deus nos oferece não é um dom a receber passivamente. Somos chamados a colaborar com o Senhor, sejam quais forem as dificuldades.

Primeira Leitura: Romanos 6,19-23

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 19uso uma linguagem humana por causa da vossa limitação. Outrora, oferecestes vossos membros como escravos para servirem à impureza e à sempre crescente desordem moral. Pois bem, agora, colocai vossos membros a serviço da justiça, em vista da vossa santificação. 20Quando éreis escravos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. 21Que fruto colhíeis, então, de ações das quais hoje vos envergonhais? Pois o fim daquelas ações era a morte. 22Agora, porém, libertados do pecado e como escravos de Deus, frutificais para a santidade até a vida eterna, que é a meta final. 23Com efeito, a paga do pecado é a morte, mas o dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 1

É feliz quem a Deus se confia!

1. Feliz é todo aquele que não anda / conforme os conselhos dos perversos; / que não entra no caminho dos malvados / nem junto aos zombadores vai sentar-se; / mas encontra seu prazer na lei de Deus / e a medita, dia e noite, sem cessar. – R.

2. Eis que ele é semelhante a uma árvore / que à beira da torrente está plantada; / ela sempre dá seus frutos a seu tempo † e jamais as suas folhas vão murchar. / Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. – R.

3. Mas bem outra é a sorte dos perversos.  Ao contrário, são iguais à palha seca / espalhada e dispersada pelo vento. / Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, / mas a estrada dos malvados leva à morte. – R.

Evangelho: Lucas 12,49-53

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu tudo considero como perda e como lixo / a fim de ganhar Cristo e ser achado nele! (Fl 3,8s) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 49“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso! 50Devo receber um batismo e como estou ansioso até que isso se cumpra! 51Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52Pois daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; 53ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. – Palavra da salvação.

Reflexão
No Evangelho de hoje, Jesus nos descreve a sua missão de uma maneira abrasada e um tanto enigmática. "Eu vim para lançar fogo sobre a terra", disse o Senhor, e ainda: "Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra". Jesus anseia, tem pressa! E por quê? Porque nos ama e quer o nosso amor, quer a nossa salvação! De fato, será depois do batismo de Sua Paixão que o fogo do amor de Deus, o Espírito Santo, será ateado nos corações que creem, a fim de que, como o ouro é purgado no fogo, sejam eles purificados de todo pecado e imperfeição. Porém, o efeito dessa transformação salvífica é dramático e inevitável, como acrescentou o Senhor: "Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão". Pois a paz que o Cristo nos trouxe é da comunhão com Deus, a qual provoca inevitavelmente o rompimento com o mundo e com os que rejeitam o Senhor, o que não significa abandonar aqueles em quem ainda esperamos ver o fogo de Deus incendido. Por isso, lembremo-nos: o Senhor tem pressa! Tenhamos também nós a pressa de sermos totalmente consumidos pelo Amor de Deus e o desejo ardente de levar aos outros o mesmo Amor que recebemos.

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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Santo Antônio de Sant'Ana Galvão.

 


Origens 

Frei Galvão nasceu no dia 10 de maio de 1739, na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, atual cidade de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. A vila estava na região chamada Capitania de São Paulo, hoje, Estado de São Paulo. 

Frei Galvão era o quarto de dez filhos de uma família muito religiosa, rica e nobre. Seu pai, Antônio Galvão de França, português, era o capitão-mor (prefeito) da vila, comerciante que pertencia à Ordem Terceira Franciscana. A mãe de Antônio Galvão era Isabel Leite de Barros.

Adolescência 

Frei Galvão, aos 13 anos de idade, foi enviado pelos pais ao seminário jesuíta Colégio de Belém, em Cachoeira, na Bahia, para estudar ciências humanas. Ele estudou no seminário de 1752 a 1756, onde progrediu nos estudos, especialmente na construção civil e na prática cristã.Frei Galvão: o padroeiro dos engenheiros, arquitetos e construtores

Mãe espiritual: Sant’Ana

Em 1755, recebeu a notícia da morte prematura de sua mãe. Esse fato fez com que ele assumisse Sant’Ana (Santana), de quem era devoto, como mãe espiritual. Tanto que seu futuro nome de religioso será “Frei Antônio de Sant’Anna Galvão”. 

Franciscano 

Tornou-se franciscano, no convento de Macacu, em Itaboraí, Rio de Janeiro. Em 11 de julho de 1762, o frei foi ordenado sacerdote e transferido para o Convento de São Francisco na cidade de São Paulo. Lá, ele continuou os estudos de filosofia e teologia. 

Esplendor do convento 

Em 1768, foi nomeado confessor, pregador e porteiro do convento. Era um cargo importante na época. Frei Galvão se destacou nesse cargo de tal forma, que a Câmara Municipal lhe deu o título de o “novo esplendor do Convento”. Em 1770, foi convidado para ser membro da Academia Paulistana de Letras. Isso porque ele compunha peças poéticas em latim, odes, ritmos e epigramas.

O pedido de Jesus 

Entre 1769 e 1770, Frei Galvão recebeu a missão de ser confessor no Recolhimento de Santa Teresa, um tipo de convento que abrigava devotas de Santa Teresa de Ávila em São Paulo. Lá, ele conheceu a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, uma freira penitente que dizia receber um pedido de Jesus: a fundação de um novo Recolhimento. Num tempo em que construções de conventos de ordens religiosas e até de igrejas estavam proibidas em todo o império pelo marquês de Pombal, Frei Galvão assumiu as consequências e fundou o novo Recolhimento, chamado Recolhimento Nossa Senhora da Luz. 

A Fundação do Recolhimento Nossa Senhora da Luz

A resistência da fundação

A fundação foi inaugurada em 2 de fevereiro de 1774. A identidade espiritual da nova fundação era baseada na Ordem da Imaculada Conceição. Ele escreveu os estatutos, as regras e deu todo o amparo necessário. Um governador novo havia chegado a São Paulo e quis fechar o recolhimento. Frei Galvão obedeceu, mas as irmãs se recusaram a sair de lá. O governador então começou a agir com violência, enviando tropas e ameaçando destruir tudo. Mas o povo se revoltou e o governador teve que ceder. Assim, Frei Galvão voltou a liderar a construção e o recolhimento. O povo queria o Mosteiro da Luz. A construção demorou 28 anos e deu origem ao Bairro da Luz em São Paulo.

Mestre dos voviços

Ao defender um homem, o frei acabou sendo preso. Mas o povo, as irmãs e o Bispo de São Paulo, Dom Manuel da Ressurreição, recorreram ao superior provincial, escrevendo-lhe que “nenhum dos habitantes desta cidade será capaz de suportar a ausência deste religioso por um único momento”. Depois, em 1781, Frei Galvão foi nomeado mestre de noviços em Macacu e, em 1798, assumiu o cargo de guardião do Convento de São Francisco. Em 1811, Frei Galvão fundou o Convento de Santa Clara em Sorocaba. 

Grande orientador e caridoso, Frei Galvão

Onze meses depois, voltou para o Convento de São Francisco, em São Paulo. Ali, atendia o povo, orientava, aconselhava, rezava pelas pessoas e ensinava as irmãs. Era um homem de muita e intensa oração. Por isso, alguns fenômenos místicos em sua vida foram presenciados por testemunhas. Fenômenos como o dom da cura, dom de ciência, bilocação, levitação foram famosos durante sua vida, sempre em vista do bem de doentes, moribundos e necessitados.

As pílulas

Certa ocasião, Frei Galvão foi à Guaratinguetá para pedir recursos para a construção do Mosteiro da Luz. Terminada sua missão, tinha de regressar por causa de compromissos no convento. Nisso, alguns homens vieram pedir que ele fosse até uma fazenda distante rezar por um amigo deles que estava padecendo com uma pedra no rim há dias. O homem estava quase morrendo. Impossibilitado de ir até lá, Frei Galvão teve uma inspiração: escreveu num pedacinho de papel uma frase do ofício de Nossa Senhora: “Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós”. Frei Galvão embrulhou o papelzinho em forma de pílula e deu aos amigos do doente dizendo que ele tomasse aquilo em clima de oração, rezando o terço de Nossa Senhora.

As pílulas de Frei Galvão: inúmeras graças alcançadas 

Mais tarde, espalhou-se a notícia da cura daquele doente.  Tempos depois, o Frei foi procurado por um homem aflito. Sua esposa estava em trabalho de parto há quase um dia e corria risco de morte. O religioso fez três pílulas e deu ao homem com as mesmas recomendações. O homem levou as pílulas para a esposa, que as tomou e conseguiu dar à luz um filho com saúde. Daí em diante, a fama das pílulas de Frei Galvão se espalhou. O povo começou a procurá-las de tal maneira que ele teve que pedir às irmãs do Recolhimento que produzissem as pílulas. Depois, ele as abençoava e as irmãs distribuíam para o povo. Desde esse tempo, há inúmeros relatos de graças alcançadas através das Pílulas de Frei Galvão.

Páscoa

Frei Galvão faleceu no Mosteiro da Luz, em 23 de dezembro de 1822, poucos meses depois da independência do Brasil. Faleceu na graça de Deus, com fama de santidade. Uma multidão de luto veio se despedir do santo que encantou a cidade de São Paulo. Ele foi sepultado na igreja do Mosteiro da Luz. Até hoje, o seu túmulo é destino de peregrinação de fiéis que vêm pedir e agradecer as graças recebidas pela sua intercessão.

Via de santificação

Em 1998, Frei Galvão foi beatificado pelo Papa João Paulo II, recebendo os títulos de Homem da Paz e da Caridade e de Patrono da Construção Civil no Brasil. De seu processo de beatificação constam 27.800 graças documentadas, além de outras consideradas milagres. Em 2007, foi canonizado por Bento XVI, tornando-se o primeiro santo brasileiro.

Minha oração

“Poderoso santo brasileiro que, através da tua intensa devoção mariana, alcançaste milhares de prodígios, sede o nosso protetor, nosso padroeiro, nosso pai espiritual. Dai a nós o mesmo amor a Maria para que sejamos santos como tu. Amém.”

Frei Galvão, rogai por nós!