terça-feira, 6 de junho de 2023

9ª Semana do Tempo Comum - ai, pois, a César o que é de César.

PE. JOÃO CARLOS - BLOG DA MEDITAÇÃO DA PALAVRA: ELES FECHARAM O CORAÇÃO

A harmonia na vida familiar supõe o exercício da paciência e da compreensão mútuas, unidas à oração, em que se invocam as luzes divinas: “Esperando em Deus, seu coração está seguro”. Esta liturgia nos inspire a sempre dar o melhor de nós a Deus e às pessoas.

Primeira Leitura: Tobias 2,9-14

Leitura do livro de Tobias – Eu, Tobit, na noite de Pentecostes, depois de ter sepultado um morto, 9tomei banho, entrei no pátio de minha casa e deitei-me junto à parede do pátio, deixando o rosto descoberto por causa do calor. 10Não sabia que, na parede, por cima de mim, havia pardais aninhados. Seu excremento quente caiu nos meus olhos e provocou manchas brancas. Fui procurar os médicos para me tratarem. Quanto mais remédios me aplicavam, mais meus olhos se obscureciam com as manchas, até que fiquei completamente cego. Durante quatro anos estive privado da vista. Todos os meus irmãos se afligiram por minha causa. Aicar cuidou do meu sustento durante dois anos, até que partiu para Elimaida. 11Naquela ocasião, Ana, minha mulher, dedicou-se a trabalhos femininos, tecendo lã. 12Entregava o produto aos patrões e estes lhe pagavam o salário. No sétimo dia do mês de Distros, ela separou a peça de tecido que estava pronta e mandou-a aos patrões. Estes pagaram-lhe todo o salário e ainda lhe deram um cabrito para a mesa. 13Quando entrou em minha casa, o cabrito começou a balar. Chamei minha mulher e perguntei-lhe: “De onde vem este cabrito? Não terá sido roubado? Devolve-o a seus donos, pois não temos o direito de comer coisa alguma roubada”. 14Ela respondeu-me: “É um presente que me foi dado além do salário”. Mas não acreditei nela e insisti que o devolvesse aos patrões, ficando bastante contrariado por causa disso. Ela então replicou: “Onde estão as tuas esmolas? Onde estão as tuas obras de justiça? Vê-se bem em ti o que elas são!” – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 111(112)

O coração do justo é firme e confiante no Senhor.

1. Feliz o homem que respeita o Senhor / e que ama com carinho a sua lei! / Sua descendência será forte sobre a terra, / abençoada a geração dos homens retos! – R.

2. Ele não teme receber notícias más: / confiando em Deus, seu coração está seguro. / Seu coração está tranquilo e nada teme, / e confusos há de ver seus inimigos. – R.

3. Ele reparte com os pobres os seus bens, † permanece para sempre o bem que fez, / e crescerão a sua glória e seu poder. – R.

Evangelho: Marcos 12,13-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Que o Pai do Senhor Jesus Cristo / vos dê do saber o Espírito, / para que conheçais a esperança / reservada para vós como herança! (Ef 1,17s) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 13as autoridades mandaram alguns fariseus e alguns partidários de Herodes para apanharem Jesus em alguma palavra. 14Quando chegaram, disseram a Jesus: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro e não dás preferência a ninguém. Com efeito, tu não olhas para as aparências do homem, mas ensinas, com verdade, o caminho de Deus. Dize-nos: é lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?” 15Jesus percebeu a hipocrisia deles e respondeu: “Por que me tentais? Trazei-me uma moeda, para que eu a veja”. 16Eles levaram a moeda, e Jesus perguntou: “De quem é a figura e a inscrição que estão nessa moeda?” Eles responderam: “De César”. 17Então Jesus disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E eles ficaram admirados com Jesus. – Palavra da salvação.

Reflexão

Talvez atordoados com a conclusão da parábola dos vinhateiros, os chefes do povo se retraem e empurram para a frente um grupo composto de fariseus e partidários de Herodes, a fim de enfrentarem Jesus. Eles vêm armados de malícia, sedentos para ver Jesus tomar partido em questões políticas. Se disser que se deve pagar o tributo ao imperador (posição dos herodianos), Jesus se colocará contra o povo; se disser que não se deve pagar (posição dos fariseus), poderá ser enquadrado pela autoridade romana. Jesus não faz uma avaliação política sobre o que é bom ou ruim no estado romano, porém afirma um princípio moral: Deus é o rei supremo a quem devemos servir. Quanto ao povo, seja tratado com respeito e não como vítima de exploração de qualquer poder político: “Devolvam a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

 

sexta-feira, 2 de junho de 2023

8ª Semana do Tempo Comum - Por que Jesus amaldiçoou a figueira?

 Suy niệm Tin Mừng – Thứ Sáu Tuần VIII Mùa Thường Niên (01.06.2018): Đền thờ  tâm hồn | Trung Tâm Mục Vụ Dòng Chúa Cứu Thế

O Senhor se tornou o meu apoio, libertou-me da angústia e me salvou porque me ama (Sl 17,19s).

Os antepassados não serão esquecidos, por causa de “seus gestos de bondade”. Também na história de nossa vida permanecerão os frutos do amor que dedicamos a Deus e aos irmãos e irmãs. Aprendamos a buscar na oração a força para sempre fazer o bem.

Primeira Leitura: Eclesiástico 44,1.9-13

Leitura do livro do Eclesiástico1Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 9Outros não deixaram lembrança alguma, desaparecendo como se não tivessem existido. Viveram como se não tivessem vivido, e seus filhos também, depois deles. 10Mas estes, ao contrário, são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos. 11Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança. 12A descendência deles mantém-se fiel às alianças, 13e, graças a eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua glória jamais se apagará. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 149

O Senhor ama seu povo de verdade.

1. Cantai ao Senhor Deus um canto novo / e o seu louvor na assembleia dos fiéis! / Alegre-se Israel em quem o fez, / e Sião se rejubile no seu rei! – R.

2. Com danças glorifiquem o seu nome, / toquem harpa e tambor em sua honra! / Porque, de fato, o Senhor ama seu povo / e coroa com vitória os seus humildes. – R.

3. Exultem os fiéis por sua glória / e, cantando, se levantem de seus leitos, / com louvores do Senhor em sua boca. / Eis a glória para todos os seus santos. – R.

Evangelho: Marcos 11,11-26

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu vos escolhi a fim de que deis, / no meio do mundo, um fruto que dure (Jo 15,16). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Tendo sido aclamado pela multidão, 11Jesus entrou no templo, em Jerusalém, e observou tudo. Mas, como já era tarde, saiu para Betânia com os doze. 12No dia seguinte, quando saíam de Betânia, Jesus teve fome. 13De longe, ele viu uma figueira coberta de folhas e foi até lá ver se encontrava algum fruto. Quando chegou perto, encontrou somente folhas, pois não era tempo de figos. 14Então Jesus disse à figueira: “Que ninguém mais coma de teus frutos”. E os discípulos escutaram o que ele disse. 15Chegaram a Jerusalém. Jesus entrou no templo e começou a expulsar os que vendiam e os que compravam no templo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores de pombas. 16Ele não deixava ninguém carregar nada através do templo. 17E ensinava o povo, dizendo: “Não está escrito: ‘Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos’? No entanto, vós fizestes dela uma toca de ladrões”. 18Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei ouviram isso e começaram a procurar uma maneira de o matar. Mas tinham medo de Jesus, porque a multidão estava maravilhada com o ensinamento dele. 19Ao entardecer, Jesus e os discípulos saíram da cidade. 20Na manhã seguinte, quando passavam, Jesus e os discípulos viram que a figueira tinha secado até a raiz. 21Pedro lembrou-se e disse a Jesus: “Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou”. 22Jesus lhes disse: “Tende fé em Deus. 23Em verdade vos digo, se alguém disser a esta montanha: ‘Levanta-te e atira-te no mar’, e não duvidar no seu coração, mas acreditar que isso vai acontecer, assim acontecerá. 24Por isso vos digo, tudo o que pedirdes na oração, acreditai que já o recebestes, e assim será. 25Quando estiverdes rezando, perdoai tudo o que tiverdes contra alguém, para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados”.[26]Palavra da salvação.

Reflexão
 
O Evangelho de hoje, tirado de S. Marcos, traz o episódio em que Jesus expulsa os vendilhões do Templo. Essa narrativa, no evangelho de S. Marcos, é peculiar e diferente da dos outros evangelistas porque, a caminho de Jerusalém, saindo de Betânia, Jesus tem fome, vê uma figueira, mas não encontra frutos, e a figueira, coberta de folhas, mas sem fruto algum, é amaldiçoada por Ele. No entanto, não era ainda tempo de figos… Jesus então segue para Jerusalém, expulsa os vendilhões do Templo e, quando sai da cidade, Pedro lhe diz: “Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!” O que Jesus nos quer dizer com esse ato? Primeiro, é preciso entender que Jesus não faz nada por capricho ou crueldade. Ele não está apenas amaldiçoando uma árvore por estar “mal-humorado” e com fome. Não. Jesus, caridade infinita, Deus feito homem, quando faz alguma coisa, a faz para nos salvar e instruir. É evidente que a figueira é mais do que uma árvore. É símbolo do povo de Israel. Durante séculos, o Senhor preparou o seu povo, indicando-lhe como prestar um culto agradável a Deus. Com que cuidado Deus, ao longo do Antigo Testamento, fez o povo deixar de lado as práticas supersticiosas e idolátricas das outras nações! Deus foi indicando minuciosamente como prestar culto em Jerusalém. Através de todas aquelas normas litúrgicas, o que Deus queria era que o povo tivesse um coração bem disposto, que desse fruto verdadeiro de santidade. Mas o que é esse fruto de santidade? O que são os figos que Jesus espera de nós? É a caridade, é o amor a Deus. Em todas aquelas prescrições do Antigo Testamento, o que Deus queria era que o coração humano expulsasse de si os vendilhões, isto é, seus falsos ídolos, seus interesses, todas as criaturas que ocupam o lugar de Deus. Sim, amamos a Deus, mas não notamos que amamos também muitas outras coisas de forma desordenada e, muitas vezes, até mais do que a Deus! O apego às criaturas é algo tremendo. Deus nos deu de presente todas as coisas do universo, para que víssemos em tudo sinais do seu amor. Quando vemos num simples copo d’água um sinal do amor de Deus e o tomamos em ação de graças, o que estamos fazendo? Um sacrifício de louvor. Recebemos os dons de Deus e os devolvemos a Ele com gratidão, com amor. Eis o figo de que Jesus tem fome. A caminho de Jerusalém, Cristo passou fome, mas fome de amor, fome de que nós tudo lhe entreguemos e sacrifiquemos. Para amar Jesus, não é necessário perder nada; basta entregar tudo. Não há contradição. Não é preciso perder a esposa ou o marido, os filhos ou a casa, os bens, a vida ou a saúde. Basta entregar tudo isso a Jesus com amor. Ao invés de apegar-se a um filho, dizendo: “Não quero perder o meu filho!”, olhe para ele como um dom de Deus: “Jesus, obrigado. Eu não merecia ter esse filho. Muito obrigado, meu Deus, por me haverdes dado um filho assim”. Ao invés de apegar-se ao corpo e à saúde, diga: “Jesus, eu não merecia ter este corpo, esta saúde, estas capacidades. Eu vos ofereço tudo”. Se o fizermos, estaremos nos sacrificando a Deus. É o que agrada a Deus! Nos rituais do Antigo Testamento, em que Deus ensinara a oferecer carneiros, touros e outros animais, o que Ele estava ensinando ao povo era oferecer tudo que se é e se tem em sacrifício de louvor e gratidão. Mas quando Jesus, com sede e fome de amor, vai ao Templo de Jerusalém, o que Ele encontra? Um culto interesseiro, fiéis que estão no Templo santo, não para entregar-se a Deus em sacrifício, mas para sair de lá lucrando alguma coisa, com algum proveito pessoal… Aqui está a grande tragédia. Jesus então amaldiçoa a figueira, ou seja, amaldiçoa esse tipo de “religião” que faz Deus permanecer com fome de figos maduros de amor, de caridade, de entrega, de sacrifício de louvor. Demos, pois, de comer a Jesus. Não o façamos passar fome hoje. Ofereçamo-nos a Ele. Olhemos para tudo o que somos e temos e o entreguemos a Deus generosamente. Não temos de perder nada, mas apenas oferecer em sacrifício de louvor, dizendo: “Meu Deus, dou-te graças!” Miséria é receber os dons de Deus, mas esquecer-se do Deus dos dons. Acolhamos os dons de Deus e demos graças ao Deus maravilhoso que no-los deu. Com louvor, em ação de graças, por agradecimento e com verdadeiro amor, entreguemos tudo de volta ao Coração divino, amando-o e adorando-o. Esses são os frutos maduros que Deus espera de nós.
 

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quinta-feira, 1 de junho de 2023

Liturgia Diária - Somos cegos e mendigos.

 Cegos mendigos | Tribo Jota

Os pagãos me contaram suas fábulas, mas nada valem perante a vossa lei. Diante dos reis, falei de vossa aliança sem me envergonhar (Sl 118,85.46).

Justino viveu na Palestina no 2º século. Leigo e filósofo pagão, converteu-se ao cristianismo e encontrou em Cristo a verdade sem limites. Utilizou sua inteligência e habilidade dialética em defesa dos cristãos perseguidos, como o demonstram suas obras, das quais nos restam apenas as duas Apologias e o Diálogo com Trifão. O exemplo desse mártir nos conduza ao conhecimento admirável do mistério de Cristo.

Primeira Leitura: Eclesiástico 42,15-26

Leitura do Livro do Eclesiástico 15Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento. 16O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17Os santos do Senhor não são capazes de descrever todas as suas maravilhas. O Senhor todo-poderoso as confirmou, para que tudo continuasse firme para sua glória. 18Ele sonda o abismo e o coração e penetra em todas as suas astúcias. 19Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. 20Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida. 21Pôs em ordem as maravilhas da sua sabedoria, pois só ele existe antes dos séculos e para sempre. 22Nada lhe foi acrescentado, nada tirado, e ele não precisa de conselheiro algum. 23Como são desejáveis todas as suas obras, brilhando como centelha que se pode contemplar! 24Tudo isso vive e permanece sempre, e em todas as circunstâncias tudo lhe obedece. 25Todas as coisas existem aos pares, uma frente à outra, e ele nada fez de incompleto: 26uma coisa completa a bondade da outra; quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória? – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 32(33)

A palavra do Senhor criou os céus.

1. Dai graças ao Senhor ao som da harpa, / na lira de dez cordas celebrai-o! / Cantai para o Senhor um canto novo, / com arte sustentai a louvação! – R.

2. Pois reta é a palavra do Senhor, / e tudo o que ele faz merece fé. / Deus ama o direito e a justiça, / transborda em toda a terra a sua graça. – R.

3. A palavra do Senhor criou os céus, / e o sopro de seus lábios, as estrelas. / Como num odre, junta as águas do oceano / e mantém no seu limite as grandes águas. – R.

4. Adore ao Senhor a terra inteira, / e o respeitem os que habitam o universo! / Ele falou e toda a terra foi criada, / ele ordenou e as coisas todas existiram. – R.

Evangelho: Marcos 10,46-52

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu sou a luz do mundo; / aquele que me segue / não caminha entre as trevas, / mas terá a luz da vida (Jo 8,12). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 46Jesus saiu de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 48Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho. – Palavra da salvação.

Reflexão
O Evangelho de hoje traz a famosa cura do cego e mendigo de Jericó, Bartimeu. O que significa essa cura para nós? É importante recordar o seguinte: quando Jesus faz milagres, Ele nunca os faz simplesmente pela benfeitoria, pela caridade corporal. Não, não é somente isso. Quando Jesus faz milagres, além do bem físico feito à pessoa, Ele nos está dizendo alguma coisa também a nós. Por quê? Porque as ações de Cristo são salvíficas e reveladoras. E o que quer dizer a cura de Bartimeu, cego e mendigo? Em primeiro lugar, temos de entender que somos nós este cego e mendigo. Por que somos cegos? Somos cegos porque, embora tenhamos fé, nossa fé ainda precisa aumentar. E por que somos mendigos? Somos mendigos porque, embora possamos estar em estado de graça e, portanto, ter em nós a caridade de Deus, a nossa caridade também precisa aumentar. Somos mendigos de Deus e dependemos da graça para que tudo isso cresça. A cegueira significa a fé que precisa aumentar; a mendicância, a caridade que precisa crescer. Mas como iremos vê-lo realizar-se em nossa vida? Antes de tudo, entendamos a cegueira. Se não vemos as coisas com o olhar de Deus, não as vemos como elas são. Eis uma de nossas grandes misérias. Pelo pecado original, temos uma dificuldade enorme de enxergar os fatos. Vivemos perturbados passionalmente, ou seja, nossas paixões e emoções nos fazem distorcer a realidade. Quantas vezes passamos por situações que parecem enormes, monstruosas, tremendas, enquanto as pessoas ao redor não entendem por que sofremos tanto. Para elas, que não estão envolvidas afetivamente como nós, a dificuldade parece simples; para nós, é uma montanha que não conseguimos transpor. Pois bem, além da dificuldade de enxergar a realidade por causa do pecado original, há também uma outra: como ainda não vemos a Deus face a face, não compreendemos de todo como as coisas realmente são no projeto divino. Sim, porque Deus é a fonte do ser todas as coisas, de modo que elas são como Deus as vê, não como nós as vemos. Por exemplo, cremos que nos conhecemos; mas, na verdade, nos ignoramos. É Jesus quem nos conhece, Ele sabe quem somos. Muitas vezes, temos de nós mesmos uma visão distorcida: há em nós coisas más que não reconhecemos, e outras boas que exageramos… Mas Jesus nos conhece perfeitamente, e não só isso: ama-nos e quer o nosso bem. Por isso precisamos enxergar a realidade, e a forma de o fazer chama-se oração. A oração é o exercício da fé no qual pedimos a Jesus seus olhos emprestados. Na oração, pedimos a Cristo que nos revele a nós mesmos: “Quem sou eu, Jesus? Que projetos tendes para mim? O que quereis de mim, Senhor?” Somos cegos, não vemos sequer quem nós somos. Não é que não enxerguemos um palmo à frente do nariz, não enxergamos um palmo para dentro do nariz! Não vemos as coisas de fora, não vemos as coisas de dentro. Mas Jesus vê, “Ele é a luz que ilumina todo homem”, diz o evangelho de S. João. Aqui, portanto, está a primeira lição da cura de Bartimeu: Jesus quer-nos curar da nossa cegueira. Sim, precisamos enxergar quem somos. Feito isso, ou seja, uma vez que começamos a ver-nos nos planos de Deus, então podemos começar a transformar nosso coração, para que ele queira o que Jesus mesmo quer. Afinal, não só não nos conhecemos como tampouco nos amamos. Não temos por nós verdadeiro amor porque não nos amamos com a vontade de Cristo. Jesus é quem nos ama de verdade. Quantas coisas andamos querendo por julgá-las boas, quando, na verdade, são veneno! Por quantas coisas passamos dias, semanas, meses, anos, a vida inteira lutando, mas que, no fim das contas, só nos farão mal! Nós não somos nossos amigos, mas Cristo o é, Ele quer o nosso bem. Por isso, a melhor coisa que temos a fazer é parar de querer o que queremos para querer o que Jesus quer. Se desejamos o que Jesus não deseja, mudemos imediatamente de vontade, conformando-a à de Cristo, querendo o que Ele quer, porque é Ele quem sabe o que é bom para nós. Jesus põe-se diante de nós como um Amigo que passa à beira do caminho desses cegos e mendigos que somos nós. Temos de pedir a Ele na oração: “Jesus, que eu veja. Jesus, que eu veja com os vossos olhos. Jesus, que eu enxergue como vós enxergais”. Somente assim, com os olhos emprestados de Cristo, começaremos a ver que nossas vontades e projetos pessoais nem sempre são bons, mas que as vontades e projetos de Cristo para nós, sim, sempre o são. Jesus nos ama, Ele é o nosso verdadeiro amigo! Queiramos pois o que Jesus quer, deixemo-nos transformar. Quando formos rezar, é importante que estejamos dispostos a mudar. Se rezamos, mas não estamos dispostos a sair da oração diferentes, não estamos rezando direito. Sim, há gente que passa horas perdidas na oração. Não porque a oração seja coisa ruim, mas porque as pessoas é que rezam mal. Há quem vá ao sacrário para tentar mudar Jesus, como se a oração fosse uma espécie de “queda de braço” para convencer Deus a seguir os nossos planos: “Seja feita a minha vontade assim na terra como no céu”... Precisamos curar-nos dessa cegueira e então, vendo que Deus quer mudar a nossa vontade, querer o que Ele quer. Somente assim deixaremos de ser cegos e mendigos, porque enxergaremos a verdade com os olhos de Cristo e teremos a grande riqueza que é o seu amor, a sua vontade realizada em nossos corações.


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quarta-feira, 31 de maio de 2023

Festa da Visitação de Nossa Senhora.

La Virgen María, mujer de oración

Vinde e escutai, todos os que temeis a Deus, e eu vos direi tudo o que o Senhor fez por mim (Sl 65,16).

A festa da Visitação de Nossa Senhora começou a ser celebrada no final do século 13, pelos Franciscanos, e foi introduzida no calendário universal da Igreja no século 14. Maria, movida por um espírito missionário, sente-se impelida a comunicar o “prodígio” que o Senhor nela realizou. Que seu sim radical nos ensine a ser dóceis à ação do Espírito Santo mediante a prática de gestos concretos em favor dos irmãos e irmãs.

Primeira Leitura: Sofonias 3,14-18

Leitura da profecia de Sofonias 14Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! 15O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. 16Naquele dia se dirá a Jerusalém: “Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! 17O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, 18como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação”. – Palavra do Senhor.

Leitura opcional: Romanos 12,9-16b.

Salmo Responsorial: Is 12

O santo de Israel é grande entre vós.

1. Eis o Deus, meu salvador, eu confio e nada temo; † o Senhor é minha força, meu louvor e salvação. / Com alegria bebereis do manancial da salvação. – R.

2. E direis naquele dia: “Dai louvores ao Senhor, † invocai seu santo nome, anunciai suas maravilhas, / entre os povos proclamai que seu nome é o mais sublime. – R.

3. Louvai, cantando ao nosso Deus, que fez prodígios e portentos, / publicai em toda a terra suas grandes maravilhas! / Exultai, cantando alegres, habitantes de Sião, / porque é grande em vosso meio o Deus santo de Israel!” – R.

Evangelho: Lucas 1,39-56

Aleluia, aleluia, aleluia.

És feliz porque creste, Maria, / pois em ti a Palavra de Deus vai cumprir-se, conforme ele disse (Lc 1,45). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. 46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.

Reflexão

 Após receber do Arcanjo Gabriel a notícia de que se tornaria mãe do Redentor, Maria Santíssima saiu pressurosa em direção às montanhas da Judeia, a fim de auxiliar Isabel, sua prima que, já em idade bastante avançada, levava em seu seio o precursor do Messias. Essa pressa caridosa da Virgem Mãe nos faz lembrar aquelas palavras registradas por São Lucas poucos versículos antes: "Eis aqui a escrava do Senhor" (Lc 1, 38). Ao chamar-se escrava, com efeito, Maria confessa pertencer totalmente a Deus — "como coisa e propriedade". Ela sabe, pois, não ser senhora da própria vida; por isso, a sua alma se alegra em Deus, nAquele que olhou com benignidade "para a sua pobre serva". E é justamente por saber-se coisa de Deus que Ela, cheia de amor e vazia de si, entrega-se aos outros com total abandono e espírito de serviço: embora grávida e longe da família, "Maria ficou com Isabel cerca de três meses." Ela, que se tornou a nova Arca da Aliança, trazendo dentro de si o verdadeiro Maná descido dos Céus, deixou-se "devorar" em cuidados e ternura pela parenta necessitada. Peçamos hoje a nossa querida Mãe Imaculada que nos dê também a nós, servos rebeldes, uma maior docilidade à graça e a consciência de que não nos pertencemos, porque fomos comprados a um altíssimo preço por Aquele que é, com justiça, nosso dono e Senhor.

 

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terça-feira, 30 de maio de 2023

8ª Semana do Tempo Comum - “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”

 Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”

O Senhor se tornou o meu apoio, libertou-me da angústia e me salvou porque me ama (Sl 17,19s).

O Senhor se agrada de nossas ofertas – quando praticadas de coração sincero – e não as deixa cair no esquecimento, “porque ele é um Deus retribuidor e te recompensará sete vezes mais”. A liturgia nos convida a fazer de toda a nossa vida um culto agradável a Deus.

Primeira Leitura: Eclesiástico 35,1-15

Leitura do livro do Eclesiástico – 1Aquele que guarda a Lei faz muitas oferendas; 2aquele que cumpre os preceitos oferece um sacrifício salutar.[3] 4Aquele que mostra agradecimento oferece flor de farinha, e o que pratica a beneficência oferece um sacrifício de louvor. 5O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. 6Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, 7porque tudo isso se faz em virtude do preceito. 8O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo. 9A oblação do justo é aceitável, e sua memória não cairá no esquecimento. 10Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. 11Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo. 12Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; 13porque ele é um Deus retribuidor e te recompensará sete vezes mais. 14Não tentes corrompê-lo com presentes: ele não os aceita; 15nem confies em sacrifício injusto, porque o Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. – Palavra do Senhor.[

Salmo Responsorial: 49(50)

A todos os que procedem retamente / eu mostrarei a salvação que vem de Deus.

1. “Reuni à minha frente os meus eleitos, / que selaram a aliança em sacrifícios!” / Testemunha o próprio céu seu julgamento, / porque Deus mesmo é juiz e vai julgar. – R.

2. “Escuta, ó meu povo, eu vou falar; † ouve, Israel, eu testemunho contra ti: / eu, o Senhor, somente eu, sou o teu Deus! / Eu não venho censurar teus sacrifícios, / pois sempre estão perante mim teus holocaustos. – R.

3. Imola a Deus um sacrifício de louvor / e cumpre os votos que fizeste ao Altíssimo. / Quem me oferece um sacrifício de louvor, / este, sim, é que me honra de verdade. / A todo homem que procede retamente / eu mostrarei a salvação que vem de Deus.” – R.

Evangelho: Marcos 10,28-31

Aleluia, aleluia, aleluia.

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, / pois revelaste os mistérios do teu Reino aos pequeninos, escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições -, e, no mundo futuro, a vida eterna. 31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”. – Palavra da salvação.

Reflexão
"Eis que nós deixamos tudo e te seguimos". Pronunciadas pouco depois do episódio do jovem rico, estas palavras de Simão Pedro, embora sejam sinceras, não são todavia o bastante profundas. De fato, Pedro havia abandonado muito por causa do Senhor, mas a sua fé não está aqui o suficientemente madura para que este abandono seja total; é, com efeito, este mesmo Pedro que, roído de medo, irá negar a Cristo três vezes, apesar das juras de fidelidade até a morte que tantas vezes Lhe fizer. Ocorre com ele algo que se passa também conosco e que constitui, de certo modo, uma etapa natural de nossa vida interior: queremos entregar-nos generosamente a Deus e, com promessas e propósitos apaixonados feitos diante do Sacrário, dizemos a Jesus que tudo Lhe entregamos, que o único que nos importa é o seu Amor, pelo qual estamos dispostos inclusive a morrer e a suportar os maiores sofrimentos; eis, porém, que a primeira pequena contrariedade já basta para fazer acordar dentro de nós ao homem velho — impaciente, irritadiço, vaidoso, vingativo, rancoroso, murmurador… Não porque os nossos votos de amor e entrega não sejam sinceros e generosos, mas porque não são ainda profundos, enraizados num coração em que vive, não o homem velho do pecado, mas o homem novo, conformado à imagem de Cristo. Que ao longo desta próxima Quaresma nos esforcemos, com a ajuda de Deus, por fazer morrer, por meio da oração e da penitência, o egoísmo que nos impede de viver em profundidade este voto que tão ardorosamente quiséramos pôr em prática: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos".


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