“Estando ele (Nosso Senhor Jesus
Cristo) ainda a falar ao povo, eis que sua mãe e seus irmãos se achavam fora,
desejando falar-lhe. E alguém disse-lhe: Tua mãe e teus irmãos estão ali fora, e
procuram-te. Ele, porém, respondendo ao que lhe falava, disse-lhe: Quem é minha
mãe e quem são os meus irmãos? E, estendendo a mão para seus discípulos disse:
Eis minha mãe e meus irmãos. Porque todo aquele que fizer a vontade de meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão e irmã e mãe”. (São Mateus, 12, 46-50)
Na Sagrada Escritura, o nome “irmãos” é tomado
sob quatro significados.
Há irmãos de natureza (1), de
nacionalidade (2), de parentesco (3) e de carinho ou de afeto
(4).
De natureza, como Esaú e Jacó;
de nacionalidade, como os judeus se chamam de irmãos entre si
(Deuteronomio, cap. 17): “Não poderás fazer rei um homem doutra nação, que
não seja teu irmão”; de parentesco àqueles com os quais se
tem laços de parentesco, como, por exemplo, quando Abraão disse a Lot, seu
primo: “Peço-te que não haja contendas entre mim e ti, nem entre os meus
pastores e os teus pastores, porque somos irmãos” (Gen. 13); de
carinho ou afeto àqueles a quem se quer manifestar uma
proximidade maior.
Por exemplo, quando Nosso Senhor chama de
irmãos a todos os apóstolos: “Disse-lhe (a Santa Maria Madalena) Jesus: Não me
toques, porque ainda não subi para meu Pai; mas vai a meus irmãos, e dize-lhe …”
(São João, cap. 20, 17). Ou como está em Isaías, cap. 66,5: “Ouvi a palavra do
Senhor, vós que temeis: eis o que dizem vossos irmãos que vos odeiam e vos
rejeitam por causa do meu nome…”.
Segundo Santo Agostinho, é evidente que neste
episódio narrado por São Mateus, a palavra “mãe” foi tomada, da parte da pessoa
que falou a Nosso Senhor, no sentido quanto à natureza (referia-se propriamente
à Nossa Senhora), e “irmãos”, no sentido de parentesco (eram primos de Nosso
Senhor, em segundo grau).
Porém, da parte de Nosso Senhor as palavras
“irmão”, “irmã” e “mãe” foram usadas para mostrar afeto por todos aqueles que
“fazem a vontade de meu Pai”. Foi, pois, uma manifestação de bondade de Nosso
Senhor por todos nós que, pelo menos, desejamos fazer a vontade de Deus, agindo
de alguma forma para que realize logo a promessa de Nossa Senhora em
Fátima:
“Por fim meu Imaculado Coração
triunfará”.
Por outro lado, São Jerônimo ensina que essa
pessoa que anunciou a presença de Nossa Senhora e dos parentes de Nosso Senhor o
fez de maneira não sincera e maliciosa. A insinceridade está em que, de um lado,
se o estavam procurando já haviam encontrado, e, de outro, não haviam pedido
para falar com Nosso Senhor.
A intenção, pois, dessa pessoa era sem dúvida
maliciosa, tentando armar uma cilada a Nosso Senhor, para ver se Ele iria dar
preferência aos laços familiares em vez da obra espiritual de que era
incumbido.
Se Nosso Senhor parasse de ensinar para
atender, teria acreditado numa mentira (pois não tinham feito pedido nenhum
para falar com ele) e além do mais teria cometido uma falta contra Deus. Nesse
caso os inimigos de Nosso Senhor teriam “argumentos” para recusá-lo, como sempre
procuraram encontrar.
Por isso Nosso Senhor rejeitou interromper-se e
sair, portanto, não por menosprezar à Santíssima Virgem, sua Mãe, e os parentes,
mas para contestar de maneira sublime àqueles que armavam ciladas para que Ele
nelas caísse.
Assim Nosso Senhor não só não recusou prestar a
homenagem devida à sua Mãe (conforme o preceito “Honra teu pai e tua mãe (Exodo,
20)”, mas nos ensinou que antes de tudo devemos atender aos ensinamentos e
mistérios de nossa salvação e só depois darmo-nos aos sentimentos filiais. Ou
seja, devemos cumprir o Primeiro Mandamento: “Amar a Deus sobre todas as
coisas”.
Blog Cotidiano Espiritual
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