quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A ÁRVORE DA IMATURIDADE


                           Arvores na floresta
Não sei por que nestes dias, meditando, me veio a visualização da “árvore da imaturidade”. Ela surgiu no campo de cada pessoa. Havia quem estivesse cheia destas árvores e quem tinha menos, mas me parece de não ter visto nem um campo onde não houvesse pelo menos uma árvore. Aí me convenci que a maturidade não é fácil de ser alcançada e provavelmente totalmente maduro mesmo ninguém é. Aliás, os que gritam tanto para a maturidade muitas vezes andam nos campos da imaturidade e são imaturos. Tenho visto como diz o salmista, muitas árvores caírem, mas a palmeira dos justos, mesmo no estio e na seca, continua de pé porque confiam no Senhor.

Costumo dizer, fazendo levantar as orelhas aos meus amigos teólogos, que nem Jesus se apresenta para nós humanamente maduro 100 por cento. Há nele o humano que às vezes parece gritar forte. Jesus não ficou nada satisfeito quando somente um leproso, dos dez que foram curados, veio agradecer, não se sentiu feliz e se queixou amargamente. “Não eram por acaso dez os que curei, e os outros nove onde estão?” O vento gélido da ingratidão também chegou bem perto de Jesus e ele sofreu muito. Como ele podia ser feliz recebendo o beijo da traição de Judas? Ou em ver os seus discípulos preocupados em dormir quando estava angustiado até a morte na hora das oliveiras?

Mesmo a presença adulta, madura de Nossa Senhora, em determinados momentos ela sentiu medo, insegurança e se viu como que rejeitada pelos outros, embora que tudo isto não a abalasse nos seus sentimentos e fé mais profunda de adesão à mesma vontade do Pai. E que dizer de São José? Que noites insones deve ter passado e necessitou do anjo do Senhor que em vários momentos lhe aparecesse e lhe desse a segurança de que podia agir livremente, sem medo.

Depois destas três grandes pessoas da maturidade humana e espiritual todo o resto da humanidade beira os 60 por cento de maturidade e diante das dificuldades cai para 40 ou cinqüenta e volta a trinta. Bem aventurada a santa maturidade que nos permite olhar dentro de nós e ver que somos chamados a caminhar corajosamente, a levantar-nos sem medo, sabendo que ele, o Senhor, é nossa força.

Mas diante de tudo isto podemos sim ver algumas árvores da imaturidade mais presentes no início deste novo milênio e que não parece tão firme como poderíamos esperar. A mesma fragilidade de ontem aparece por aí no dia de hoje:

1. Agressividade: Parece-me ver que esta árvore da agressividade está bem presente no terreno de tantas pessoas. Temos medo e o medo nos faz agressivos, achando que através deste mecanismo de defesa, podemos nos libertar do medo. Agredimos antes de tudo a nós mesmos, não aceitando as nossas limitações e nem a possibilidade de poder errar. O perfeccionismo é terrível, não admite erros nem para si mesmo e nem para os outros. Somos agressivos com Deus não aceitando que Deus nos tenha feito como somos ricos em graças e qualidades, mas também tão diferentes dos outros. Não aceitar o diferente pode gerar inveja, ciúme, covardia. Quando levado ao extremo leva o ser humano a atitudes que são no mínimo imaturas. Agressivos com os outros, não aceitamos os outros e tentamos destruí-los e fazer deles o nosso pedestal, o degrau pelo qual podemos subir mais alto e olhar melhor o mundo e a humanidade aos nossos pés.

2. A árvore da exibição: É uma árvore estranha no nosso jardim e terreiro, mas tão necessária para muitas pessoas. Precisamos mostrar-nos, colocar-nos em evidência, não importa como, desde que os outros nos notem. É só ver a moda, que assume atitudes e vestidos tão estranhos que não dá para não notar. Será que é moda ou só é vitrine para chamar a atenção? Às vezes até dentro da igreja e na vida de pessoas clericais e consagradas se nota isto e, sem dúvida, até em mim deve existir esta árvore da exibição. Faz tanto mal e impede de sermos o que devemos ser, e nada mais. A mais bela veste que devemos procurar é a da humildade, da simplicidade. Só o amor vale e o amor não faz barulho, não chama a atenção. Ele passa despercebido próprio porque é amor. Aprender de Jesus a sermos pobres, simples, a passar no meio do mundo fazendo o bem sempre e a todos. O exibicionismo nos torna artificiais é só de aparência. A maioria da beleza da exibição, dizia um preso ao amigo, “vai embora com água e sabão”, é pura maquilagem e nada mais. Mas necessitamos nos colocar máscaras sobre máscaras. O normal, o natural hoje desaparece e não chama mais atenção. O exibicionismo projeta o nosso eu naquilo que ele não é. Quem sabe que valeria a pena todos nós reler com atenção o que diz Jesus dos exibicionistas da oração, da esmola e do jejum... lembra o texto? Vamos reler:

Evitai praticar as vossas boas obras diante dos outros para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis nenhuma recompensa do Pai que está nos céus.

Quando, pois, deres esmola, não vás tocando trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. Mas quando deres esmola, não saiba a mão esquerda o que faz a direita. Assim a tua esmola se fará no oculto e teu Pai, que vê no oculto, te dará o prêmio.

E quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças para serem vistos pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. Mas quando rezares entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai que está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não fiqueis tristes como os hipócritas, que desfiguram o rosto para os outros verem que estão jejuando. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. Mas quando jejuares, lava o rosto e põe perfume na cabeça, para os outros não perceberem que estás jejuando, mas somente teu Pai que está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. (Mt 6, 1-6.16-18).

Há muitas plantas da imaturidade. Quem sabe se outro dia falaremos de outras árvores que abundam no jardim de nossas almas.

NO JARDIM DOS IMATUROS

As árvores da imaturidade: a árvore da exibição e da agressividade; mas seria um jardim meio morto se tivesse somente estas duas árvores. É necessário parar e procurar as árvores daninhas que vão destruindo a beleza da nossa alma. Parece-me que uma árvore da imaturidade que tem um bom viveiro e boa exportação em todos os continentes é a árvore do poder disfarçado como serviço:

3. A árvore do poder: Aliás, falar de árvore seria ate uma brincadeira, deveríamos falar, quando pouco, de floresta. O poder seduz, encanta e uma vez que entra no sangue se torna lentamente “genético” e não se pode viver sem ele. O que mais o ser humano deseja por natureza é dominar, mandar, decidir. Tudo isto aparentemente nos faz grandes e importantes. De fato quando as pessoas se encontram para conversar, depois de um pouco se passa às credenciais: o que você faz? Qual é teu cargo? E quase todos se apresentam como “chefes” de um setor, ou como organizadores. Hoje têm mania de dizer “promeoteur”, não importa o que esteja provendo. Pode ser até cebola ou suco de beterraba...Mas é promeoteur de alguma coisa. Não se pode ninguém mais apresentar como “Zé-ninguém”. No entanto, à luz do Evangelho e da palavra de Deus, tudo isto é fumaça e nada mais do que fumaça. Não há quem duvide que o poder é doença contagiosa e que ainda não foi descoberta a vacina nem o remédio. Só o único remédio é passar através do esvaziamento anunciado por Jesus, que veio “não para ser servido, mas sim para servir”. Um remédio amargo para se engolir nos primeiros tempos, depois é fácil e se torna tão necessário que nos faz falta. É claro que a nossa inteligência às vezes é “perversa”, nos apresenta o poder como serviço e nos tornamos vítimas de tudo. Posso dizer que tenho experimentado esta doença, mas que agora me parece que me sinto não totalmente livre, mas um pouco mais livre.

4. A árvore da dependência afetiva: Esta não é uma árvore, é floresta amazônica. De tanto insistir que todos somos dependentes afetivamente, menos é claro, os que declaram os outros afetivamente dependentes, se tornou a doença do momento. É uma árvore que tem tantas ramificações e tantas sub espécies que parece difícil saber detectá-la. Parece-me obvio que somos afetivamente dependentes, se o nosso coração é feito para amar. O mesmo Agostinho declarava que “o nosso coração anda inquieto até que não descanse em ti, Senhor, porque foi feito para ti”. Este é um tipo de dependência: sempre teremos a necessidade do amor de Deus para sermos nós mesmos, para experimentar a alegria de sermos amados por Deus. Mas será que o amor de Deus é suficiente para o ser humano? Quando era mais novo achava que sim, hoje não, com a experiência da gente e depois de ouvir e escutar tantas pessoas. O amor de Deus sozinho não é suficiente para fazer uma pessoa feliz em todos os momentos da vida. Necessitamos também de poder perceber que somos amados pelos outros, acolhidos, somos seres relacionais, corporais, e portanto precisamos de exteriorizar o nosso amor e afeto, sem nos tornar escravos. É um caminho longo, difícil e provavelmente só seremos livres quatro dias depois de mortos. O egoísmo humano, o desejo de afeto são fortes demais. É água mais forte do que o fogo, é vida mais forte do que a morte que penetra em nós. A nós cabe saber canalizar tudo isto. É até bonito e gratificante um belo dia experimentar e ver que sozinhos não podemos viver e que precisamos dos outros. Mas que não podemos ser escravos de ninguém.

5. A árvore do medo: Nunca entendi porque temos medo. E o pior, há momentos em que você tem medo de tudo, da luz, da água, da noite, das pessoas, de Deus e de você. É um medo que penetra na pele e nos atormenta lentamente. Aí precisamos trabalhar esta imaturidade da nossa vida…Mas Deus é tão bom conosco que quando o medo se faz forte demais, ele mesmo se encarrega de enviar os seus anjos para nos dizer: “não tenhas medo”. Alias, quando descobri que Moisés teve medo, Jeremias também teve medo, José teve medo, Nossa Senhora teve medo e o mesmo Jesus fugiu de medo, achei que o meu medo era natural e que o único jeito que tinha para superá-lo era o caminho apresentado pelo evangelista João: “o verdadeiro amor afugenta o medo e o medo afugenta o amor”.

Está inserida a imaturidade na genética humana? Está.

A estas árvores quem sabe devemos acrescentar outras tantas plantas, como a inferioridade, o assedio sexual, moral, afetivo que anda solto por aí. Ou quem sabe a honestidade é tão fragilizada que as pessoas acham que único jeito hoje é ser imaturo, fazer chantagem emocional para lucrar sempre um pouco do que precisamos? Choramos mas gostamos de apanhar, como dizia um velho pescador acostumado a ficar no mar. Ele, com um exemplo muito pobre, mas significativo dizia: “os imaturos são como os peixes, sabem que vão morrer, mas correm atrás da isca”.






 
Frei Patricio, OCD
Dir Edições Carmelitas no Brasil

 

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