quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Liturgia Diária - A recompensa de Deus

  1.  Resultado de imagem para Marcos 9,41-50
    1a Leitura - Eclesiástico 5,1-10
    Leitura do livro do Eclesiástico.
    5 1 Não contes com riquezas injustas. Não digas: "Tenho o suficiente para viver", pois no dia do castigo e da escuridão, isso de nada te servirá.
    2 Quando te sentires forte, não te entregues às cobiças de teu coração.
    3 Não digas: "Como sou forte!" ou: "Quem me obrigará a prestar contas dos meus atos?",
    4 pois Deus tomará sua vingança. Não digas: "Pequei, e o que me aconteceu de mal?", pois o Senhor é lento para castigar (os crimes).
    5 A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado.
    6 Não digas: "A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados",
    7 pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores.
    8 Não demores em te converteres ao Senhor, não adies de dia em dia,
    9 pois sua cólera virá de repente, e ele te perderá no dia do castigo.
    10 Não te inquietes à procura de riquezas injustas, de nada te servirão no dia do castigo e da escuridão.
    Palavra do Senhor.

    Salmo - 1
    É feliz quem a Deus se confia!

    Feliz é todo aquele que não anda
    conforme os conselhos dos perversos;
    que não entra no caminho dos malvados
    nem junto aos zombadores vai sentar-se;
    mas encontra seu prazer na lei de Deus
    e a medita, dia e noite, sem cessar.

    Eis que ele é semelhante a uma árvore
    que à beira da torrente está plantada;
    ela sempre dá seus frutos a seu tempo,
    e jamais as suas folhas vão murchar.
    Eis que tudo o que ele faz vai prosperar.

    Mas bem outra é a sorte dos perversos.
    Ao contrário, são iguais à palha seca
    espalhada e dispersada pelo vento.
    Pois Deus vigia o caminho dos eleitos,
    mas a estrada dos malvados leva à morte.

    Evangelho - Marcos 9,41-50
    Aleluia, aleluia, aleluia.
    Acolhei a palavra de Deus não como palavra humana, mas como mensagem de Deus, o que ela é, em verdade! (1Ts 2,13).

    Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
    Naquele tempo, disse Jesus: 41Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42E se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço.
    43Se tua mão te leva a pecar, corta-a! 44É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45Se teu pé te leva a pecar, corta-o! 46É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’”. 49Pois todos hão de ser salgados pelo fogo. 50Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.
     
    Palavra da Salvação 

Reflexão 
 
Seremos recompensados por tudo o que fizermos em função de Jesus, mesmo que seja o menor gesto ou a ação mais simples, como dar um copo d’agua. Da mesma forma, se formos pedra de tropeço na caminhada de alguém que procura Deus, seremos condenados, mesmo estejamos a serviço do reino. Consequentemente é pelo nosso testemunho de vida que nós receberemos a recompensa ou a condenação de Deus. Neste Evangelho Jesus nos exorta a cortarmos radicalmente toda e qualquer motivação que nos direcione ao pecado. Assim, Ele nos fala de cortar a mão, o pé, o olho, como figuras que nos simbolizam o que fazemos, aonde vamos e a nossa maneira de ver as realidades do mundo. Será muito melhor cortarmos, os agentes que nos levam ao pecado, do que perdermos definitivamente o nosso lugar no reino dos céus.  As nossas ações, vão nortear o nosso  destino final, por isso, a mão, o pé, o olho, significam aqui as nossas atitudes de agir, de ir, de  olhar = concupiscências  que nos arrastam para o pecado que é o mal que nos leva à morte eterna, isto é, ao inferno.  O reino dos céus já começa aqui e para que o experimentemos e vivamos em sintonia com Deus, nós temos que cortar tudo o que nos separa do Seu amor divino e paternal. Por último Jesus fala para que nós tenhamos sal em nós mesmos: que tenhamos amor, zelo, gosto, fervor, piedade, ação, porque assim damos vida nova ao mundo.  A sua maneira de olhar as coisas, de falar, de agir o têm levado para uma vida boa ou má? – Você tem aproveitado as pequenas oportunidades para expressar no mundo o amor que recebe de Deus? – Você ainda está esperando por grandes acontecimentos para sentir-se convocado a pregar as coisas simples da vida?
 
 
 
Helena Serpa

Como conquistar a virtude da fortaleza?

Pode-se dizer que há “três forças” com as quais podemos conquistar a virtude da fortaleza. Não só com uma ou duas delas, mas com as três.

1. A força do Ideal
Só pode ter a virtude cristã da fortaleza – ser corajoso para lançar-se, e ser firme para aguentar – aquele que possui um motivo poderoso, um ideal pelo qual valha a pena viver e morrer.
Numa sala da sede central do Opus Dei em Roma, São Josemaria Escrivá mandou colocar, como sanefa junto ao teto, a seguinte frase várias vezes repetida: “Vale a pena, vale a pena…”. Um visitante perguntou-lhe por que estava tão repetida, e ele respondeu:
«Porque mesmo assim há alguns que não se apercebem disso».
Uma vida sem ideal é triste, facilmente se decompõe e afunda na moleza. Nietzsche dizia (e desta vez acertou): «quando se tem algum “porquê”, qualquer “como” se pode suportar». É penoso ver tanta gente sem “porquê”.
Nós, os cristãos, «temos um tesouro de vida e de amor que não pode enganar» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n.265). O Amor, com maiúscula, esse é o grande ideal do cristão.
Aquele que o conhece, que o assume, e que ganha entusiasmo por ele, renova suas forças, cria asas como de águia, corre e não se afadiga, anda, anda e nunca se cansa (Is 40, 31).
Quem conhece Cristo, quem se enamorou dele e dele fez seu ideal (pois isso é ser cristão), entende por experiência estas palavras do Cântico dos Cânticos: O amor é forte como a morte…, suas chamas são chamas de fogo, labaredas divinas. Águas torrenciais não puderam extinguir o amor (Ct 8, 6-7).
Como diz o Papa Francisco: «Precisamos nos deter em oração para pedir a Jesus que volte a cativar-nos» (Evangelii Gaudium, n. 264).

2. A segurança da fé
«Alguns passam pela vida como por um túnel, e não compreendem o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé» (Caminho, 575).
Queremos ver ao vivo esse “esplendor, segurança e calor” da fé? Ouçamos as experiências de São Paulo, exemplo impressionante de fortaleza.
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?… Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude do que nos amou! (Rm 8, 35.37).
Será que era um otimista por natureza? Não. Ele conhecia bem a sua fraqueza. Na mesma carta aos Romanos, falava dela: Quem me livrará deste corpo de morte? (Rom 7, 4). E também
escreveu aos coríntios, contando-lhes a sua incapacidade de superar uma dificuldade – tudo indica que era uma doença –que o limitava e, às vezes, o prostrava, atrapalhando o seu trabalho. Sentindo-se incapaz de vencer esse mal, dirigiu a Cristo uma oração cheia de humildade e de fé: Por três vezes pedi ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele disse-me: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente” (2 Cor 12, 8-9). Depois disso, São Paulo escrevia: Alegro-me nas minhas fraquezas…, pois, quando me sinto fraco, então é que sou forte (Ibidem,12, 10). E, com o coração cheio de confiança em Deus, desafiava as provações e contrariedades: Tudo posso naquele que me dá força! (Fl 4, 13).
Esta é a grande “fonte” da fortaleza cristã: a confiança total em Deus – porque Tu és, ó Deus, a minha fortaleza (Sl 42 [43],2) –, manifestada na oração cheia de fé e constância, e na luta esforçada por corresponder à ajuda divina. Essa luta é precisamente a terceira força para ganhar fortaleza.
3. A têmpera do sacrifício
A virtude humana da fortaleza – como todas as virtudes morais – consolida-se e cresce com o nosso esforço repetido. Já víamos que o Catecismo frisa que «as virtudes morais são adquiridas humanamente…, por atos deliberados,… com todas as forças sensíveis e espirituais» (nn. 1803, 1804, 1810). Quando lutamos com fé e amor, a graça do Espírito Santo as sobrenaturaliza (cf. Caps. 9 e 10).
A luta por fazer «atos deliberados» da virtude da fortaleza exige necessariamente o sacrifício, a mortificação da moleza e das outras fraquezas.
Mais uma vez, é preciso repetir: «Onde não há mortificação, não há virtude» (Caminho, n. 180).
Se queremos ser fortes, contemos em primeiro lugar com a fortaleza de Deus, e depois descubramos – com generosidade, sem medo – as mortificações concretas de que precisamos para vencer a moleza de caráter e a falta de espírito de sacrifício.
Podem servir de orientação os seguintes pensamentos de Caminho:
– «Acostuma-te a dizer que não» (n. 5). Naturalmente trata- se agora do “não” que dizemos às tentações da facilidade e da covardia.
– «Vontade. – Energia. – Exemplo. – O que é preciso fazer, faz-se… Sem hesitar… Sem contemplações» (n. 11). Ou seja, sem concessões nem desculpas, por mais “razoáveis” que pareçam.
– «As tuas grandes covardias de agora são – é evidente – paralelas às tuas pequenas covardias diárias. “Não pudeste” vencer nas coisas grandes, porque “não quiseste” vencer nas coisas pequenas» (n. 828).
– «Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e negares-te a ti próprio nessas coisas – que nunca são futilidades nem ninharias –, fortalecerás, virilizarás, com a graça de Deus, a tua vontade, para seres, em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo. – E depois, guia, chefe, líder!
– que prendas, que empurres, que arrastes, com o teu exemplo e com a tua palavra e com a tua ciência e com o teu império» (n. 19).



Retirado do livro: “A Conquista das Virtudes”. Padre Francisco Faus. Ed. Cléofas.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Liturgia Diária – Em Nome de Jesus.


 
Resultado de imagem para Marcos 9,38-40
1a Leitura - Eclesiástico 4,12-22
Leitura do livro do Eclesiástico.
4 12 A sabedoria inspira a vida aos seus filhos, ela toma sob a sua proteção aqueles que a procuram; ela os precede no caminho da justiça. 
13 Aquele que a ama, ama a vida; aqueles que velam para encontrá-la sentirão sua doçura. 14 Aqueles que a possuem terão a vida como herança, e Deus abençoará todo o lugar onde ele entrar. 
15 Aqueles que a servem serão obedientes ao Santo; aqueles que a amam serão amados por Deus. 
16 Aquele que a ouve julgará as nações; aquele que é atento em contemplá-la permanecerá seguro. 
17 Quem nela põe sua confiança tê-la-á como herança e sua posteridade a possuirá, 
18 pois na provação ela anda com ele, e escolhe-o em primeiro lugar. 
19 Ela traz-lhe o temor, o pavor e a aprovação. Ela o atormenta com sua penosa disciplina, até que, tendo-o experimentado nos seus pensamentos, ela possa confiar nele. 
20 Então ela o porá firme, voltará a ele em linha reta. Ela o cumula de alegria, 
21 desvenda-lhe seus segredos e enriquece-o com tesouros de ciência, de inteligência e de justiça. 
22 Porém, se ele se transviar, ela o abandonará, e o entregará às mãos do seu inimigo.
Palavra do Senhor.

Salmo - 118/119
Os que amam a vossa lei têm grande paz! 

Os que amam a vossa lei têm grande paz, 
e não há nada que os faça tropeçar. 

Serei fiel à vossa lei, vossa aliança; 
os meus caminhos estão todos ante vós. 

Que prorrompam os meus lábios em canções, 
pois me fizestes conhecer vossa vontade! 

Desejo a vossa salvação ardentemente 
e encontro em vossa lei minha delícias! 

Possa eu viver e para sempre vos louvar; 
e que me ajudem, ó Senhor, vosso conselhos!

Evangelho - Marcos 9,38-40
Aleluia, aleluia, aleluia. 
Sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14,6). 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos. 
Naquele tempo, 9 38 João disse-lhe: "Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome, e lho proibimos". 
39 Jesus, porém, disse-lhe: "Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim. 
40 Pois quem não é contra nós, é a nosso favor".
Palavra da Salvação.
 
Reflexão 
 
Neste Evangelho Jesus nos ensina a acolher todos aqueles que em Seu Nome realizam milagres e prodígios, mesmo que não façam parte da nossa Igreja, da nossa comunidade e não caminhem conosco. Somente faz milagres em Nome de Jesus quem já teve um encontro pessoal com Ele e acolhe os Seus ensinamentos.  A Palavra de Deus é o próprio Jesus, Verbo que se fez carne e habita no meio de nós, portanto, por meio dela nós experimentamos o Seu poder salvador. Quem tem experiência com a Palavra, tem experiência com Jesus Cristo, por isso, não podemos duvidar da legitimidade de quem em Nome Dele realizam maravilhas. Muitas vezes, nós egoisticamente, pretendemos ser os donos da verdade e achamos que somente na nossa Comunidade, ou mesmo na nossa Igreja Católica, Jesus pode fazer prodígios e milagres. O seguimento de Jesus independe da doutrina dos homens e das instituições e nós nunca poderemos impedir que qualquer pessoa, seja ela quem for anuncie a Salvação de Jesus. Jesus veio para todos os que acreditarem e confiarem Nele, tendo-O como Senhor e Salvador. A nós, nos resta alegrar-nos quando vemos pessoas de quem nunca esperávamos, testemunhando ao mundo uma vida renovada e convertida, mesmo que elas não façam parte da nossa “turma”.  – Você acredita na boa fé de quem faz prodígios em Nome de Jesus? – Você se alegra quando alguém da sua família se converte pela pregação de um protestante? – Você luta pela unidade entre os cristãos? – Você reconhece que a Igreja de Jesus Cristo somos todos nós que O temos como Senhor e Salvador? 




Helena Serpa 

Como entender a cura entre gerações?

pecadossA cura dita “entre gerações” não pode significar que uma geração tenha de prestar expiação pelos pecados dos antepassados pois cada um responde por si apenas.
Pode-se entender tal cura do seguinte modo: todo pecado deixa suas consequências na sociedade em que tenha sido cometido: mau exemplo, ódio de uns para os outros, estímulo à vingança…
Ora o que o cristão pede a Deus, não é o perdão dos pecados alheios (no além já não há conversão), mas pede que faça cessar a má influência que os pecados dos antepassados exercem seja extinta, ficando todos os descendentes isentos de qualquer consequência negativa derivada dos pecados dos antepassados.
Debate-se muito a questão da “cura entre gerações”: deveria uma geração prestar satisfação a Deus pelos pecados de seus antepassados? – É o que passamos a examinar nas páginas subsequentes.
1. Uma falsa interpretação
Há quem julgue que o sofrimento que alguém hoje padece não é senão a consequência dos pecados dos antepassados, pois está escrito em Êx 20,5: “Castigo a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam”. Seria preciso então pedir a Deus a cessação de tal castigo.
Esta concepção é falha a mais de um título:
a) pode dar a crer que estamos sujeitos a certa fatalidade, pesada e cruel, atormentando pessoas inocentes. O livre arbítrio não funcionaria; haveria um destino traçado para cada ser humano em consequência dos pecados dos antepassados:
No tempo do exílio de Judá na Babilônia (587-538), muitos dos exilados se recusavam a fazer penitência, pois diziam que estavam sendo punidos não por causa de seus pecados, mas por causa da iniquidade dos ancestrais. Assim se exprimia a mentalidade do clã: todos pagam por um. – A este modo de pensar se opuseram, em nome do Senhor, os profetas Jeremias e Ezequiel:
Jr 31, 29s: “Naqueles dias não se dirá mais: os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos ficaram embotados. Mas cada um morrerá por sua própria iniquidade: todo aquele que comer uvas verdes, ficará com os dentes embotados.” Ver Ezequiel 18, 1-9.
Como se vê, a responsabilidade é pessoal, ao invés do que pensavam os antigos judeus, que professava a mentalidade do clã: esta não levava devidamente em conta o indivíduo, mas o clã, o conjunto a que pertencia cada indivíduo. Aos poucos foi-se valorizando o indivíduo como tal e suas responsabilidades pessoais. Não há destino; o livre arbítrio do homem é capaz de fazer suas opções, sem depender do que tenham feito ou não feito os antepassados.
Locução semelhante ocorre em Êx 20, 8: “Uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e observam os meus mandamentos.” A alusão à mentalidade do clã chega a ser hiperbólica. – Daí a pergunta:

2. Como entender a cura entre gerações?
Eis a explicação mais plausível:
Toda iniquidade, principalmente as graves falhas, deixam marcas na sociedade em que vive o pecador: um mau exemplo, um precedente daninho que se abre, ódio, desejo de retaliação… Não é só o pecador que se prejudica pelo pecado, mas é a sociedade que com ele sofre danos físicos ou morais. Principalmente os familiares mais próximos descendentes do delinquente culpado sentirão a amargura da herança deixada pelo(s) ancestrais falecidos. Os pecados cometidos pelos antepassados podem ter consequências para as gerações futuras não porque Deus queira castigar a estas, mas porque transmitem um âmbito marcado pelo pecado. Esse âmbito pode influenciar o livre arbítrio de alguns descendentes, mas não lhe tira a liberdade de optar pelo bem, à revelia do que sugere o legado recebido dos ancestrais.
É sobre este pano de fundo que se coloca a cura das gerações. Esta não pede a Deus perdão pelas culpas dos antepassados, mas pede que os desgastes causados pelo pecado dos mais velhos não afetem os descendentes. O sofrimento de que padece alguém hoje não é necessariamente castigo; pode ser uma provação; Deus é pai, que ama seus filhos e, por isto, os educa e corrige, burilando suas arestas para que possam ser cidadãos dignos da Jerusalém celeste. A graça de Deus pode livrar determinado indivíduo dos seus sofrimentos, principalmente quando obtida através da Santa Missa. Mas, como dito, o sofrimento pode ser uma provação valiosa que faz amadurecer a nossa fé e que convém aceitar generosamente, sem que o cristão peça a sua cessação, mas antes peça a coragem para atravessar com alegria e magnanimidade o período da provação, do qual poderá sair ainda mais santificado.
Em conclusão dizemos: a) após quanto ponderamos não creiamos que todo sofrimento é castigo de pecados do sofredor ou dos seus antepassados, mas b) também reconheçamos que estamos sujeitos a sofrer das imprudências ou da altivez de nossos ancestrais (sem que Deus esteja punindo por pecados do passado).



Dom Estêvão Bettencourt, OSB Revista Pergunte e Responderemos. n. 551 – Maio, 2008.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Liturgia Diária – Jesus nos prepara para sermos seus discípulos!


 
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1a Leitura - Eclesiástico 2,1-13
Leitura do livro do Eclesiástico.
2 1 Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação;
2 humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade,
3 sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.
4 Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência.
5 Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.
6 Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.
7 Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais;
8 vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.
9 Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria.
10 Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.
11 Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido.
12 Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?
13 Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.
Palavra do Senhor.

Salmo - 36/37
Entrega teu caminho ao Senhor, e o mais ele fará.

Confia no Senhor e faze o bem,
e sobre a terra habitarás em segurança.
Coloca no Senhor tua alegria,
e ele dará o que pedir teu coração.

O Senhor cuida da vida dos honestos,
e sua herança permanece eternamente.
Não serão envergonhados nos maus dias,
mas, nos tempos de penúria, saciados.

Afasta-se do mal e faze o bem,
e terás tua morada para sempre.
Porque o Senhor Deus ama a justiça
e jamais ele abandona os seus amigos.
Os malfeitores hão de ser exterminados,
e a descendência dos malvados destruída.

A salvação dos piedosos vem de Deus;
ele os protege nos momentos de aflição.
O Senhor lhes dá ajuda e os liberta,
defende-os e protege-os contra os ímpios
e os guarda porque nele confiaram.

Evangelho - Marcos 9,30-37
Aleluia, aleluia, aleluia.
Minha glória é a cruz do Senhor Cristo Jesus,
pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para este mundo (Gl 6,14).
 
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
9 30 Tendo partido dali, atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse. E ensinava os seus discípulos: “O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte”. Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar. Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: “De que faláveis pelo caminho?” Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior. Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”. E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes: “Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão 

Na nossa percepção humana, o discípulo que acompanha o Mestre nunca deverá sofrer dificuldades. Não admitimos a dificuldade, a luta, o esforço e queremos logo conquistar a vitória e ter a recompensa pelo nosso trabalho. Por isso, Jesus caminhava com os Seus discípulos e procurava abrir-lhes os olhos para muitas coisas que eles iriam ter que enfrentar. Assim, Ele tentava ensiná-los, conscientizá-los, mas eles tinham outras intenções e fugiam do assunto quando eram abordados sobre o sofrimento, a morte e a perseguição. Jesus não nos quer enganar e assim também Ele quer fazer hoje com cada um de nós que nos propomos a ser Seus discípulos (as). Para que sejamos verdadeiros discípulos (as) de Jesus nós precisamos seguir os passos do Mestre, em tudo.  Devemos aceitar as dificuldades próprias do nosso ministério com humildade sem querer, por isso, ser diferenciado (a) e ocupar postos mais elevados.  Muitas vezes, nós também, como os apóstolos, queremos ter autoridade sobre as outras pessoas porque caminhamos com Jesus. Achamos que assim como podemos esconder as coisas dos homens, podemos também nos esconder de Deus. Queremos ser o primeiro em tudo, queremos ser grandes, ter sucesso aqui na terra e também no céu, mas, Ele sonda o nosso pensamento e bem conhece a verdade do nosso coração e Ele mesmo nos ensina: “se alguém quiser ser o primeiro que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Para que sejamos grandes no céu e os maiores diante de Deus, nós temos que ser pequenos e humildes na terra, como uma criança que depende da força do Pai para caminhar. 
– Você aceita ser discípulo (a) de Jesus? – Você admite passar por perseguição e dificuldade? – Você se sente maior que alguém? – Por quê? - Como você poderá ser pequeno na terra e voltar a ser criança? 
 
 
 
 
Helena Serpa

Onde mora a felicidade?

Um_Curso_Em_Milagres“Seja grande. Veja o mundo em um grão de areia. Veja o céu em um campo florido; guarde o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora de vida.”  (William Blake)
O grande anseio de todos nós é sermos felizes; este anseio foi posto em nosso coração pelo Criador. Mas a felicidade parece escapar das nossas mãos; ela não se deixa agarrar facilmente. Parece uma eterna fugitiva do homem.
Para uns ela parece uma miragem que nunca pode ser encontrada; para outros ela está nos prazeres do corpo e da alma.
A verdade é que a felicidade não cai do céu; é uma conquista. Não se encontra a felicidade; a construímos no dia-a-dia da vida. Ela não está fora de nós, mas em nosso interior. Ser feliz não é viver sem problemas e sem lutas; é saber o sentido de tudo isto. O homem constrói a sua felicidade como a abelha faz o mel.
Há uma lenda interessante sobre os deuses. Com medo do homem se tornar perfeito e não precisar mais deles, os deuses reuniram-se para decidir o que fazer. O mais sábio dos deuses disse:  “Vamos dar-lhes tudo, menos o segredo da felicidade”. “Mas se os humanos são tão inteligentes, vão acabar descobrindo esse segredo também!”, disseram os outros deuses. “Não”, respondeu o mais sábio – “vamos esconder a felicidade num lugar onde eles nunca vão achar – dentro deles mesmos”.
A maioria das pessoas está procurando pela felicidade fora de si; olhando em volta para ver se a encontram. Este é um grande e simples segredo: a felicidade mora dentro de nós. Ela depende do que você é, e do que do que você faz.
Existe um ditado oriental que diz: “Se você quer saber como foi seu passado, olhe para quem você é hoje. Se quer saber como vai ser seu futuro, olhe para o que está fazendo hoje”.
Procura-se hoje, a todo custo, aquilo que dê prazer, sensação, prestígio, riqueza e poder, como se aí estivesse a verdadeira felicidade, ao mesmo tempo que se foge de tudo o que possa significar austeridade, auto-domínio, paciência, humildade, desprendimento, temperança…Nunca como hoje houve tantas alternativas de diversões, algumas até pouco se importando com as exigências morais das mesmas; mil artimanhas para fazer o homem e a mulher “felizes”.

Mas, que felicidade?  Será que a temos conseguido?
Quanto mais aumentam as redes de negócios, visando  agradar as pessoas e dar-lhes uma vida “regalada”, tanto mais aumentam os problemas e as frustrações.
A grande crise dos nossos tempos é o conflito entre o “ter” e o “ser”. Santo Agostinho dizia: “não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”. E ainda: “A verdadeira felicidade não consiste em ter muito, mas em contentar-se com pouco”.
A verdadeira felicidade não pode ser amassada em um acidente, nem roubada pelos ladrões, nem queimada pelo fogo. Só é autêntica a felicidade que não é feita de coisas materiais. Ela é feita de coisas que você não pode tocar com as mãos e nem ver com os olhos: a bondade, a paz, o amor, a segurança, a alegria…
Nunca como hoje, o homem e a mulher precisam tanto de meios para conter as próprias frustrações: psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, e tanta fuga nas bebidas, cigarros e drogas.
Nunca como hoje se consome tantos calmantes, soníferos e antidepressivos. A “doença” que mais afasta as pessoas hoje do trabalho é a depressão. Superou as demais. A conclusão é sintomática: a doença não é do corpo, é do espírito.
É preciso parar e meditar. Alegria e felicidade são coisas diferentes; alegria é a felicidade da alma; prazer é a felicidade do corpo. Os prazeres não nos saciarão nunca, pois o corpo é inferior à alma. A grandeza do homem está na sua alma onde estão as suas faculdades maiores: inteligência, liberdade, vontade, consciência, capacidade de amar, de se compadecer… logo, a felicidade duradoura só pode estar na satisfação da alma.
A felicidade está na virtude; sem ela não é possível fazer nada de bom. Ela traz em si a recompensa. Por isso, aprenda a ser feliz; nunca é tarde.



Prof. Felipe Aquino

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Liturgia Diária – Ao descer da montanha!

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1a Leitura - Eclesiástico 1,1-10
Leitura do livro do Eclesiástico.
1 1 Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.
2 Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?
3 Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?
4 A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!
5 O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.
6 A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios?
7 A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos?
8 Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono;
9 foi ele quem a criou no Espírito Santo, quem a viu, numerada e medida;
10 ele a espargiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.
Palavra do Senhor.

Salmo - 92/93
Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor!
 
Deus é rei e se vestiu de majestade,
revestiu-se de poder e de esplendor!
 
Vós firmastes o universo inabalável,
vós firmastes vosso trono desde a origem,
desde sempre, ó Senhor, vós existis!
 
Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa,
pelos séculos dos séculos, Senhor!

Evangelho - Marcos 9,14-29
Aleluia, aleluia, aleluia.
Jesus Cristo salvador destruiu o mal e a morte; fez brilhar, pelo Evangelho, a luz e a vida imperecíveis (2Tm 1,10).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 9 14 Jesus aproximando-se dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e os escribas a discutir com eles.
15 Todo aquele povo, vendo de surpresa Jesus, acorreu a ele para saudá-lo.
16 Ele lhes perguntou: "Que estais discutindo com eles?"
17 Respondeu um homem dentre a multidão: "Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo.
18 Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o expelissem, mas não o puderam".
19 Respondeu-lhes Jesus: "Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá!"
20 Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando.
21 Jesus perguntou ao pai: "Há quanto tempo lhe acontece isto?" "Desde a infância", respondeu-lhe.
22 "E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós!"
23 Disse-lhe Jesus: "Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê".
24 Imediatamente exclamou o pai do menino: "Creio! Vem em socorro à minha falta de fé!"
25 Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: "Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste menino e não tornes a entrar nele".
26 E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: "Morreu"
27 Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se.
28 Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: "Por que não pudemos nós expeli-lo?"
29 Ele disse-lhes: "Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração".
Palavra da Salvação.

Reflexão 
 
Jesus subiu a montanha com Pedro, Tiago e João e lá se transfigurou diante deles, mostrando-lhes uma intimidade com o Pai e o mundo espiritual.  Porém, foi quando desceram que surgiu a oportunidade para que Ele revelasse aos demais o poder que recebera do alto. Parece-nos até incoerente o pedido daquele pai, pois, ao mesmo tempo em que ele afirmava ter fé, ele pedia ajuda a Jesus pela sua falta de fé. O mesmo poderá acontecer também conosco. Dizemos que temos fé, mas não assumimos a nossa fé e quando nos dirigimos a Jesus com os nossos pedidos nós também ousamos dizer: “Se podes!” Será que duvidamos do poder de Deus? A nossa fé no poder curador de Jesus é o princípio para que a Sua obra aconteça em nós. No entanto, é na planície da vida, isto é, no nosso dia a dia que somos chamados (as) a colocar em prática o que Jesus nos ensina na montanha que é o nosso momento de oração. E somente tendo esse entendimento com Ele nós podemos também expulsar os espíritos maus que afugentam as pessoas as quais encontramos no caminho. “Desde quando ele está assim”, Jesus perguntou ao pai que respondeu:” desde criança!” Há dentro de cada um de nós também, desde criança, algo que está mudo, fechado, lacrado, do qual nós não temos consciência. Desde cedo na nossa vida nós vamos acumulando os espíritos do mundo que nos afastam de Deus e quando percebemos estamos “possuídos” pelo espírito que rege o mundo e somente uma fé vigorosa e uma intimidade grande com o Pai podem nos ajudar a sair da escravidão e assim, também auxiliar a quem precisa de libertação. Somente Jesus conhece o profundo do nosso ser e apenas Ele pode nos pegar pela mão e nos ajudar a ficar de pé.   Deus depende da nossa fé, e precisamos também pedir como aquele pai: “eu tenho fé, mas ajuda a minha falta de fé”. – Qual o espírito ruim que você cultiva desde criança? – A sua fé tem o poder de afastar os espíritos maus que perturbam a sua família? – Você tem tido oportunidade de colocar em prática os ensinamentos que Jesus dá em oração? 




Helena Serpa 

O apego que faz sofrer

rosamurchandoDeus dispôs tudo neste mundo de modo que nada fosse durável para sempre. Qual seria o desígnio de Deus nisso?
Sofremos muito nesta vida porque gastamos muito tempo correndo atrás de coisas transitórias, que não satisfazem o nosso coração. Só o que está acima de nós pode nos satisfazer, não o que está abaixo, a matéria e as paixões.
Deus dispôs tudo neste mundo de modo que nada fosse durável para sempre. Qual seria o desígnio de Deus nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, acordar, tomar banho, alimentar, etc. Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos pulmões; todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório nesta vida… Nada é imperecível.
Toda criança se tornará adulta um dia, e depois idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha, todo dia que nasce logo se esvai… E assim tudo passa, tudo é transitório. Compra- se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e desgastado. Assim por diante. Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro?
A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A marca da vida é a renovação. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que Deus nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento em busca de uma vida duradoura, eterna, perene, muito melhor.
Santo Agostinho perguntava: “De que vale viver bem, se eu não puder viver para sempre?”.
Se não entendermos e não aceitarmos esta realidade, sofreremos muito nesta vida, pois estaremos o tempo todo, a vida toda, lutando, desesperadamente, contra esta lei inexorável: tudo passa. Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, ouça Deus dizer: “Não se prenda a esta vida transitória. Prepare-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia”.

Isto mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence. Muito sofre quem se apega a este mundo e às criaturas, achando que não vai ter fim, e pensando que aqui poderá ter toda a felicidade, ou que poderá construir o céu na terra.
Aquele que se apega às coisas e a este mundo, sente que a cada passo, as coisas são como que arrancadas das suas mãos pela vida. Então, quanto menos apego, melhor. Quanto menos você se apegar às coisas e às pessoas, menos você sofrerá. Mais livre será. Com a precariedade da vida e de tudo o que nos cerca, Deus nos ensina, diária e constantemente, que tudo passa e que não adianta querer construir o céu aqui nesta terra.
Toda esta realidade não é maldade de Deus; ao contrário, Ele tem algo melhor para nós do que esta vida, por isso não nos quer presos a esta vida precária e às criaturas que não podem nos satisfazer plenamente.
Mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19b); ao que Deus lhe disse: ‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma’” (Lc 12,20).
A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e constante que Deus encontrou para nos dizer a cada momento que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós, e, principalmente, para os outros. Isto não acaba. São Paulo afirma que “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10).
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furam nem roubam” (Mt 6,19-20). Jesus manda tomar cuidado para que o coração não seja embotado pela riqueza: “Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas” (Lc 12,15).
Santo Agostinho disse que “o homem não se torna bom por possuir coisas boas. Ao contrário, o homem torna boas as coisas que possui, ao usá-las bem”.
Quem se preocupa em viver apenas para acumular bens e dinheiro, acumula sofrimentos e preocupações. O mal não é o dinheiro, mas o apego desordenado a ele.
Para vencer este mal aprenda a dar, abra as mãos e você será abençoado. “Quem se apieda do pobre, empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Prov 19,17).
Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfeição da alma buscada na longa caminhada de uma vida de meditação, de oração, de piedade e caridade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (1 Cor 15,28b). É isto que nos faz feliz nesta vida.
A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida, se a vivermos para os outros e para Deus. São João Bosco dizia que “Deus nos fez para os outros”. Só o amor, a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira dimensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.
Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos em Deus e no céu. Acontece que Ele tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar: “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).
A corruptibilidade das coisas desta vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta, uma vida junto d’Ele. E, para tal, Ele não quer que nos acostumemos com esta, mas que busquemos a outra, onde não existirá mais Sol, porque o próprio Deus será a Luz, e não haverá mais choro nem lágrimas.
Aqueles que não creem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta terra. Então, todo o sofrimento desta vida lhes parecerá uma tragédia sem sentido. Não para nós cristãos. Para os que creem, a efemeridade tem sentido: “a vida não será tirada, mas transformada”; o “corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade” (1Cor 15,54) em Jesus Cristo.
O desapego das coisas da terra depende do amor que temos a Deus. Um amor só se troca por outro maior. O livro dos Cânticos diz que: “Se um homem der todas as riquezas de sua casa por amor, ele as desprezará como se não tivesse dado nada” (Ct 8,7). Se todo o nosso amor estiver em Deus, então será suave e até agradável desprezar tudo: riquezas, prazeres, dignidades, honras, reputação e vanglória.
São Francisco de Sales diz que: “O amor puro de Deus consome tudo o que não é de Deus para transformar tudo nele”. Os santos foram como que “embriagados” de Deus, quase não sentiam as coisas do mundo, e só desejavam amar e agradar a Deus. É o caminho mais rápido para a paz interior.


Retirado do livro: “Sofrendo na Fé”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.