Neste 26.º Domingo do Tempo Comum, lemos o Evangelho de São Marcos,
capítulo 9, versículos de 38 a 48. A leitura é dividida em duas partes
fundamentais, e aqui vamos nos concentrar em um ponto de reflexão sobre a
segunda parte.
Na primeira parte, os discípulos de Nosso Senhor vêem um homem
exorcizando demônios em nome de Jesus e querem proibi-lo; mas como esse
homem faz o bem, Cristo diz que ele deve ser deixado em paz, pois não
faz sentido repreendê-lo.
Já na segunda parte, que é o cerne desta homilia, Jesus ensina-nos
que, quando fazemos o bem a um irmão, é a Ele que o fazemos. Se dermos
um copo d’água fria a alguém porque ele é de Cristo, não ficaremos sem
recompensa. Mas Jesus também diz:
“Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria
que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se
tua mão te leva a pecar, corta-a! [...] Se teu pé te leva a pecar,
corta-o! [...] Se teu olho te leva a pecar, arranca-o” (Mc 9, 42-45).
Como explicar essa passagem tão radical do Evangelho? Em primeiro
lugar, precisamos entender o que é o escândalo, um pecado bastante
sério, do qual Nosso Senhor está falando.
Em português coloquial, escandalizar é fazer estardalhaço, isto é, um
grande alarde. Porém, na linguagem técnica, no âmbito da vida cristã,
nós dizemos que escandalizar é realizar uma ação, um gesto ou uma
palavra que leva a pecar uma pessoa recém-convertida — portanto, que é
frágil na fé. No Evangelho, Nosso Senhor chama essas pessoas frágeis de
“pequeninos”.
Para entender do que se trata essa realidade, podemos dizer, em
primeiro lugar, que o escândalo não é um problema nem para os santos nem
para os grandes pecadores. Sabemos que um santo é uma pessoa firme na
fé. Quando ele é exposto às tentações, geralmente não cede com
facilidade; uma mulher vestida de forma vulgar não seduz um santo
facilmente. Ele não cai nessa armadilha, ele não tropeça. A propósito, a
palavra grega “skandalon” significa precisamente “pedra de
tropeço”. Ele não vai tropeçar, pois está espiritualmente sólido. Vemos,
portanto, que o problema do escândalo não é para as pessoas progredidas
na fé e na santidade.
Ademais, o escândalo também não é um problema àqueles que levam uma
vida de grande pecado. Aqueles que são, por exemplo, mafiosos,
assassinos, traficantes, prostitutos etc., que, em suma, estão vivendo
chafurdados no pecado, não ficam escandalizados, pois o pecado já é o habitat no qual eles vivem.
Então, para quem, afinal, o escândalo é um problema? Com quem Nosso
Senhor está preocupado quando Ele faz o alerta para essa realidade? Com
bondade, zelo e cuidado paternal, Jesus está preocupado com aqueles que
são recém-convertidos, com os frágeis na fé, que podem ser também os
que, apesar de estarem convertidos há bastante tempo, ainda não estão
enraizados na fé, por assim dizer.
Quando plantamos uma semente na terra e a vemos crescer, naturalmente
cercamos a plantinha de cuidados especiais, colocamo-la em uma estufa,
em um canteiro especial, até que a árvore já esteja mais vigorosa.
Depois a transplantamos para o seu lugar definitivo. Essa é a mesma
dinâmica da fé.
No início, a fé é frágil; daí que os frágeis na fé podem facilmente
se escandalizar quando veem algo que os leva a pecar. À vista disso,
voltemos à frase de Nosso Senhor, agora que a ideia ficou mais clara:
“Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, seria melhor que
fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (v.
42). Nosso Senhor é bastante contundente, drástico até: Ele está dizendo
que é melhor nós sofrermos uma morte terrível do que levarmos uma
dessas pessoas a pecar — o que seria, para estas, uma morte ainda pior, a
morte eterna.
Depois, Jesus faz hipérboles, usa uma linguagem bastante exagerada:
“Se a tua mão te leva a pecar, corta-a; se o teu pé te leva a pecar,
corta-o; se o teu olho te leva a pecar, arranca-o”. E por que Ele diz
isso? Evidentemente, Jesus não quer que pessoa alguma corte
materialmente a própria mão, o próprio pé ou o próprio olho. Nosso
Senhor está explicando que, se é para evitar um escândalo, se é para
evitar que um recém-convertido — que tem fé fraca — perca
definitivamente a fé e vá para o Inferno, então nós temos de renunciar a
tudo aquilo que é escandaloso.
Nós precisamos renunciar a amizades escandalosas, roupas
escandalosas, livros escandalosos, negócios escandalosos; mesmo que
sejamos apegados a essas coisas como a um braço, uma mão, um pé, um
olho. Mesmo que o desapego seja doloroso, devemos arrancar, amputar
essas realidades da nossa vida. E isso porque aquilo que está em jogo é a
nossa salvação — e também a salvação do outro.
Podemos citar alguns exemplos bem concretos para ilustrar a realidade
do escândalo — e não ficarmos só na teoria. Em que consiste o vestir-se
de forma escandalosa? Na linguagem comum é o sujeito vestir-se de modo
espalhafatoso, chamando a atenção para si. Mas essa não é toda a
verdade, pois uma roupa escandalosa é, na verdade, aquela que leva o
outro a pecar.
Assim, um homem ou uma mulher que se veste de forma escandalosa está
mostrando ou salientando as partes eróticas do seu corpo. Isso acontece
quando, por exemplo, a mulher usa roupas com a finalidade de provocar,
seduzir, chamar a atenção para o seu corpo nas partes sexuais ou
erógenas, que são, por assim dizer, sedutoras. Nesse sentido, aquele ou
aquela que usa roupas desse tipo está cometendo o pecado do escândalo.
Quando uma mulher usa um shortinho que deixa as coxas à mostra ou um
decote que exibe parte dos seios, o irmão recém-convertido — que teve
uma vida sexual depravada e assumiu o propósito de guardar a pureza —
pode ser levado a pecar. A mulher nem sequer está consciente do que está
fazendo, mas quantos rapazes podem desanimar e cair no pecado porque
vêem mulheres vestidas dessa forma? Eles são tentados na sua sexualidade
e terminam recorrendo à masturbação, à pornografia e até procurando a
prostituição. Pode ser que ele não peque sexualmente com essa mulher que
está vestida vulgarmente, mas ela jogou esse irmão no fogo das
paixões.
É evidente que essa dinâmica do escândalo também vale para os homens;
no entanto, pela natureza das coisas, há uma distinção entre o apetite
concupiscível do homem e o da mulher. Geralmente, o homem gosta de ver,
ele é um voyeur; porque o cérebro do homem é como o de um
caçador. Em contrapartida, a mulher gosta de seduzir, gosta de se
mostrar, de se exibir. Se pudéssemos colocar essa realidade com palavras
cruas e diretas, diríamos que o pecado típico do homem é ver
pornografia; o da mulher, mostrar demais seu corpo. Evidentemente, isso
são tendências da natureza desordenada.
Infelizmente, com a engenharia social que afeta as nossas vidas, esse
tipo de pecado está sendo praticado cada vez mais por ambos os sexos.
Antigamente, se na confissão eu perguntasse para uma mulher se ela tinha
visto pornografia ou caído em masturbação, isso para ela seria uma
ofensa — a mulher sairia do confessionário ofendida. Mas hoje, 32 anos
depois, esse é o tipo de pergunta que, miseravelmente, o padre precisa
fazer no confessionário. Mas, por quê? Ora, porque com as transformações
culturais, as mulheres também caíram nessa armadilha.
Assim, a forma com a qual os homens se vestem também provoca as
mulheres, levando-as a pecar. Apresentamos esse exemplo que corresponde
àquilo que Nosso Senhor nos diz no Evangelho de hoje. Pois ele quer que
nós nos desapeguemos, mesmo que esse desapego provoque dor; é isto o que
Ele diz: “Se a tua mão te leva a pecar, corta-a; se o teu pé te leva a
pecar, corta-o; se o teu olho te levar a pecar, arranca-o”. E isso
porque, a fim de alcançarmos a vida eterna — e a vida eterna do outro —,
temos de estar dispostos a pagar qualquer preço.
A pessoa que está em pecado não quer mudar o seu jeito de se vestir,
porque acha que o problema é de quem vê, mas não é assim. Deus, que
sonda os corações, está vendo que a pessoa vulgar está levando o outro a
pecar. Não se deve vestir-se de forma pecaminosa e escandalosa com o
propósito de seduzir o outro e excitar as paixões dele. Isso é sempre um
pecado mortal. E neste Evangelho, Nosso Senhor não está medindo
palavras; Ele está dizendo claramente que seria melhor amarrar uma pedra
de moinho ao pescoço e se lançar no mar do que fazer o outro pecar.
Não se trata de um pecado leve, porque, com ele, leva-se o outro a
pecar. Há pessoas que querem realmente viver a pureza e a castidade, mas
são atrapalhadas nesse propósito quando, por exemplo, veem uma mulher
vestida de forma escandalosa. Não estamos aqui dizendo que é preciso
vestir uma burca. Mas é preciso entender que a elegância com a qual uma
pessoa se veste é uma virtude. No entanto, ser elegante é algo distinto
de seduzir, de ser pedra de tropeço.
É claro que isso não se restringe às vestimentas, mas o escândalo
também pode vir, por exemplo, dos programas de televisão aos quais
assistimos. Um adulto que, na presença de crianças e adolescentes,
assiste a programas de televisão inadequados, desrespeita esses menores e
também aos pais deles, que estão tentando fazer com que os filhos
guardem a pureza. Esse adulto está sendo escandaloso. Novamente, Nosso
Senhor diz: “Se você levar a pecar um desses pequeninos que creem, é
melhor você se jogar no mar”. E essa realidade também é válida quando os
pequeninos somos nós mesmos, que ainda não estamos na santidade sólida.
Afinal, qual é o nosso objetivo ao ver, por exemplo, um conteúdo
inadequado que é ocasião de pecado?
A pessoa pode argumentar em prol da leitura de um livro indecente,
porque simplesmente se trata de uma obra de literatura. Ela decide ler,
mesmo ciente de que nesse livro haverá passagens indecorosas, que
certamente serão ocasião de pecado para ela. Quem age assim não percebe
que está sendo um escândalo (pedra de tropeço) para si próprio.
Além disso, o escândalo se relaciona não só com roupas, filmes e novelas, mas também, por exemplo, com amizades.
E isso porque, infelizmente, há amigos escandalosos. Se uma pessoa,
por exemplo, abandonou recentemente as drogas, o alcoolismo ou a
prostituição, mas não decide se desapegar dos seus amigos de botequim,
da rodinha da maconha ou dos contatos promíscuos, ela não se libertará
do pecado. Jesus está dizendo que devemos “cortar a mão”, “amputar o
pé”, “arrancar o olho”, para garantir a vida eterna, mesmo que doa
muito.
Podemos mostrar a necessidade de abraçar a dor do desapego com um
exemplo emblemático. Trata-se de um evento verídico que aconteceu nos
Estados Unidos com um sujeito chamado Aron Ralston. No dia 26 de abril
de 2003, Aron, que era alpinista e gostava de escalar montanhas, decidiu
explorar um cânion na região de Wayne County, no estado norte-americano
de Utah, e, para resumir a história, ficou com o braço preso em uma
rocha. Isso é narrado no livro — que depois serviu de inspiração para o
roteiro de um filme — “Between a Rock and a Hard Place”, e o filme no Brasil estreou com o título de “127 Horas: uma empolgante história de sobrevivência”.
Mas o que aconteceu? O alpinista Aron Ralston havia decidido explorar
o cânion sozinho, sem avisar familiares e amigos. Durante a escalada,
ele se apoiou em uma pedra que, ao se deslocar, caiu no seu braço,
prendendo-o definitivamente. Seu antebraço foi esmagado. Evidentemente,
ele lutou, fez grande esforço para sair de lá, mas a rocha pesava
centenas de quilos.
Completamente sozinho, ele fez tudo quanto pôde para sair dali,
usando os instrumentos que estavam ao seu alcance. Ele já estava preso
havia cinco dias, a comida acabou e, para não morrer de sede, Aron se
viu obrigado a beber a própria urina. A verdade é que ele já estava
pronto para morrer, porque não havia como escapar dali. Sua família não
fazia ideia de onde ele estava, porque o alpinista não havia informado
pessoa alguma dessa sua aventura.
Diante da morte iminente, o norte-americano decidiu escrever uma
pequena mensagem para os seus pais na própria pedra que havia esmagado o
seu braço — depois de escrever, ele desmaiou. Ao despertar, Aron teve
uma ideia: usar o seu pequeno canivete para amputar o seu próprio braço.
O processo durou algumas horas porque, evidentemente, ele teve de
cortar o osso; e se não tivesse feito um torniquete, certamente teria
morrido.
Citamos esse exemplo a fim de mostrar que, para salvar a própria vida
— esta vida terrena, efêmera e passageira —, o sujeito amputou o
próprio braço. Mas nós não queremos amputar os nossos maus hábitos para
sermos salvos e receber a vida eterna com Deus. Ele amputou o braço e
salvou esta vida terrena, porque sabia que ela valia mais que seu braço.
Mas nós simplesmente não achamos razoável amputar alguns amigos,
algumas roupas, alguns livros, alguns negócios — como aqueles que vendem
pornografia, anticoncepcional e outros meios de pecado.
Se fosse para salvar esta vida terrena, amputaríamos até mesmo o
nosso próprio braço; mas como é para a vida eterna, são poucos os que
têm fé suficiente para fazê-lo. Mas neste Domingo, Jesus está nos
alertando: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem,
melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao
pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a [...] Se teu pé te leva a
pecar, corta-o [...] Se teu olho te leva a pecar, arranca-o”. Com isso,
Nosso Senhor está dizendo que, embora seja doloroso, devemos renunciar a
essas coisas escandalosas que nos levam ao pecado. Se vale a pena
perder um braço para salvar esta vida, como fez Aran Ralston; vale muito
mais perder tudo para ganhar a vida eterna.