quinta-feira, 10 de outubro de 2024

27ª Semana do Tempo Comum - Por que não recebemos o que pedimos?

 Evangelio del día: jueves 6 de octubre de 2022 - Paz Estereo FM 88.8

Ao vosso poder, Senhor, tudo está sujeito, e não há quem possa resistir à vossa vontade, porque sois o criador de todas as coisas, do céu e da terra e de tudo que eles contêm; vós sois o Senhor do universo (Est 4,17).

Chamados pelo Mestre divino a valorizar a oração na nossa vida cristã, deixemo-nos conduzir pelo seu Espírito, o maior dom que o Pai celeste pode nos conceder. A celebração desta Eucaristia nos fortaleça nos caminhos da justiça e da santidade.

Primeira Leitura: Gálatas 3,1-5

Leitura da carta de São Paulo aos Gálatas1Ó gálatas insensatos, quem é que vos fascinou? Diante de vossos olhos, não foi acaso representado, como que ao vivo, Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: recebestes o Espírito pela prática da Lei ou pela fé através da pregação? 3Sois assim tão insensatos? A ponto de, depois de terdes começado pelo espírito, quererdes terminar pela carne? 4Foi acaso em vão que sofrestes tanto? Se é que foi mesmo em vão! 5Aquele que vos dá generosamente o Espírito e realiza milagres entre vós faz isso porque praticais a Lei ou porque crestes, através da pregação? – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Lc 1

Bendito seja o Senhor Deus de Israel, / porque a seu povo visitou e libertou!

1. Fez surgir um poderoso salvador / na casa de Davi, seu servidor, / como falara pela boca de seus santos, / os profetas desde os tempos mais antigos. – R.

2. Para salvar-nos do poder dos inimigos / e da mão de todos quantos nos odeiam. / Assim mostrou misericórdia a nossos pais, / recordando a sua santa aliança. – R.

3. E o juramento a Abraão, o nosso pai, / de conceder-nos que, libertos do inimigo, / a ele nós sirvamos sem temor, † em santidade e em justiça diante dele, / enquanto perdurarem nossos dias. – R.

Evangelho: Lucas 11,5-13

Aleluia, aleluia, aleluia.

Abri-nos, ó Senhor, o coração / para ouvirmos a Palavra de Jesus! (At 16,14) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5“Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, 7e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’, 8eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. 9Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. 10Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e para quem bate, se abrirá. 11Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” – Palavra da salvação.

Reflexão
 
O Evangelho de hoje, dando continuidade ao de ontem, fala-nos da oração cristã, mas de uma oração com uma finalidade bastante específica: pedir e receber o Espírito Santo, dom que o Pai do céu concede para transformar-nos interiormente. Na primeira petição do Pai-Nosso, com efeito, suplicamos a Deus que “venha a nós o vosso Reino”, e o que é esse reinado senão o derramamento do Espírito divino em nossos corações? De fato, como Deus irá reinar no mundo se não houver almas que lhe estejam submetidas, que reconheçam o seu senhorio, que o entronizem no seu coração, pondo-o acima de todo e qualquer bem? A oração cristã, neste sentido, deve supor em nós uma profunda disponibilidade a mudar, a reorientar nossos valores e atitudes mais fundamentais, a deixar que Deus aja soberanamente, purificando-nos como for do seu agrado. Ele quer fazer-nos participantes da sua divindade, da sua própria capacidade de amar; e isso só é possível se pedirmos, contínua e constantemente, que o fogo do Espírito Santo incendeie nossas entranhas e, abrasando-nos como ferro na fornalha, nos eleve acima do que somos e nos torne semelhantes ao que Ele mesmo é. Isso, repitamos, só é possível se pedirmos, e pedirmos sem desanimar. É verdade que o Pai quer e pode dar-nos essa graça, ainda que não lha peçamos; mas Ele espera também o nosso pedido e, portanto, o nosso livre desejo, sinal de que temos o coração largo o bastante para receber a infusão do Espírito Santo. Que a nossa oração seja, a partir de hoje, mais humilde, mais perseverante e mais confiante; que a ela nunca falte a “importuna” insistência de quem bate à porta de um amigo em plena madrugada, confiante em que há de receber dele a ajuda de que tanto necessita. Não desanimemos, pois “o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”


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terça-feira, 8 de outubro de 2024

27ª Semana do Tempo Comum - Só uma coisa não nos será tirada.

 Por causa de um certo Reino: REFLEXÃO PARA O XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM -  LUCAS 10,38-42

Ao vosso poder, Senhor, tudo está sujeito, e não há quem possa resistir à vossa vontade, porque sois o criador de todas as coisas, do céu e da terra e de tudo que eles contêm; vós sois o Senhor do universo (Est 4,17).

Diante da nossa experiência com Deus e da presença do seu Reino entre nós, não há por que ficarmos distraídos com coisas passageiras e secundárias. Ao contrário, escolhendo “a melhor parte”, fixemos nosso coração na sua Palavra, que ilumina os caminhos da nossa história, transformando-a em serviço aos irmãos e irmãs. Dispostos a celebrar com alegria a páscoa do Senhor, somos convidados por ele a passar da escuta dos seus ensinamentos para a ação transformadora.

Primeira Leitura: Gálatas 1,13-24

Leitura da carta de São Paulo aos Gálatas – Irmãos, 13certamente ouvistes falar como foi outrora a minha conduta no judaísmo, com que excessos perseguia e devastava a Igreja de Deus 14e como progredia no judaísmo mais do que muitos judeus de minha idade, mostrando-me extremamente zeloso das tradições paternas. 15Quando, porém, aquele que me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça 16se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu o pregasse entre os pagãos, não consultei carne nem sangue 17nem subi logo a Jerusalém para estar com os que eram apóstolos antes de mim. Pelo contrário, parti para a Arábia e, depois, voltei ainda a Damasco. 18Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Cefas e fiquei com ele quinze dias. 19E não estive com nenhum outro apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20Escrevendo estas coisas, afirmo, diante de Deus, que não estou mentindo. 21Depois, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22Ainda não era pessoalmente conhecido das Igrejas da Judeia que estão em Cristo. 23Apenas tinham ouvido dizer que “aquele que antes nos perseguia está agora pregando a fé que antes procurava destruir”. 24E glorificavam a Deus por minha causa. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 138(139)

Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

1. Senhor, vós me sondais e conheceis, / sabeis quando me sento ou me levanto; / de longe penetrais meus pensamentos, † percebeis quando me deito e quando eu ando, / os meus caminhos vos são todos conhecidos. – R.

2. Fostes vós que me formastes as entranhas, / e no seio de minha mãe vós me tecestes. / Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, † porque de modo admirável me formastes! / Que prodígio e maravilha as vossas obras! – R.

3. Até o mais íntimo, Senhor, me conheceis; / nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis; / quando eu era modelado ocultamente, / era formado nas entranhas subterrâneas. – R.

Evangelho: Lucas 10,38-42

Aleluia, aleluia, aleluia.

Feliz quem ouve e observa a Palavra de Deus! (Lc 11,28) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 38Jesus entrou num povoado e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. 40Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42Porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. – Palavra da salvação.

Reflexão

O Evangelho de hoje é o evangelho de Marta e de Maria. Jesus, hospedado na casa dessas duas irmãs, chama a atenção de Marta: “Tu te inquietas e te agitas com muitas coisas; uma só coisa é necessária”.

Muitas vezes se interpreta este Evangelho como uma contraposição entre a vida contemplativa e a vida ativa, mas existe algo de muito mais profundo aqui. O problema de Marta não é ela ser ativa; o problema de Marta é ela não ter o foco no único necessário, e isto é verdadeiramente algo que Jesus precisava corrigir, para que Marta não se perdesse. 

Enxerguemos isso na nossa vida. Eu sei que você ama Jesus, eu sei que você quer ir para o Céu; mas o fato é o seguinte: você se esquece daquilo que é o mais importante na sua vida. Ora, nós estamos aqui nesta vida para ir para o Céu, e não há outra coisa; o resto é detalhe, o resto é adereço. Nós estamos aqui nesta vida para nos unir a Jesus e, nos unindo a Ele, chegar ao Céu. Essa é a única coisa necessária e, como diz Jesus, é a única que não nos será tirada.

Com o que você se preocupa? Com o que você ocupa o seu tempo o dia inteiro? Se você passa o tempo todo pensando em dinheiro, o dinheiro vai ser tirado de você.

Coloque-se no momento da morte. De que vai adiantar?… Quanta gente preocupada em ganhar dinheiro! Mas esse dinheiro não vai lhe dar mais vida e, o que é pior, depois desta vida o dinheiro não irá subsistir.

A pessoa se preocupa com a saúde. Claro, é bom, é justo que você cuide da sua saúde; mas você vai perdê-la. Lembre-se disso. Casa, comida, tantas coisas… tudo aquilo com que nós nos preocupamos e nos agitamos, tudo isso nos será tirado.

Não é necessário que você, agora, de repente, se faça um monge e vá para um mosteiro, renunciando a tudo para ser santo; mas é necessário que todos nós sejamos, de alguma forma, monges; ou seja, de alguma forma focados nesse único necessário, que não nos será tirado: o relacionamento com Jesus.

Então, se nós estivermos focados nesse único necessário, poderemos estar no meio das panelas da cozinha, poderemos realizar os nossos deveres do dia a dia, obedecendo aos Mandamentos de Deus, cumprindo nossos deveres de estado, cuidando da esposa, do esposo, dos filhos, trabalhando, pagando dívidas, cuidando da saúde, tudo isso…

Você pode realizar tudo isso olhando constantemente para aquele foco, para aquele único necessário. Fazer tudo com atos de amor, atos de um verdadeiro voltar-se para o único necessário. É olhar para esse mundo com outros olhos.

A grande diferença entre Marta e Maria não é que uma é mais ativa e a outra, mais contemplativa. A grande diferença entre Marta e Maria é o fato de que nós, nas atividades desta vida, precisamos contemplar o único necessário o tempo todo.

Esquecer isso é uma grande ingratidão e uma grande tragédia. Jesus é Deus e veio a este mundo para nos levar para viver a sua felicidade. Para isso Ele pagou um alto preço: morreu por nós na Cruz. Ele derramou o seu sangue para que nós participássemos da sua felicidade, a felicidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Que ingratidão imensa sermos amados assim e sermos esquecidos assim, esquecidos do único necessário.

 

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domingo, 6 de outubro de 2024

27º Domingo do Tempo Comum.

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Primeira Leitura (Gn 2,18-24)

Leitura do Livro do Gênesis

O Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele". 19 Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os a Adão para ver como os chamaria; todo o ser vivo teria o nome que Adão lhe desse. 20 E Adão deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens; mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. 21 Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão. Quando este adormeceu, tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22 Depois, da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. 23 E Adão exclamou: "Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada 'mulher' porque foi tirada do homem". 24 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Responsório Sl 127(128),1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5)

— O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.

— O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.

— Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos hás de viver, serás feliz, tudo irá bem!

— A tua esposa é uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos são rebentos de oliveira ao redor de tua mesa.

— Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida,

— Para que vejas prosperar Jerusalém, e os filhos dos teus filhos. Ó Senhor, que venha a paz a Israel, que venha a paz ao vosso povo! 

Segunda Leitura (Hb 2,9-11)

Leitura da Carta aos Hebreus

Irmãos: 9 Jesus, a quem Deus fez pouco menor do que os anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte. Sim, pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte. 10 Convinha de fato que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória, levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio de sofrimentos. 11 Pois tanto Jesus, o Santificador, quanto os santificados, são descendentes do mesmo ancestral; por esta razão, ele não se envergonha de os chamar irmãos.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Evangelho (Mc 10,2-16)

— Aleluia, Aleluia, Aleluia.

— Se amarmos uns aos outros, Deus em nós há de estar; e o seu amor em nós se aperfeiçoará.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: "O que Moisés vos ordenou?" 4 Os fariseus responderam: "Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la". 5 Jesus então disse: "Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!" 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: "Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério". 13 Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: "Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele". 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

Reflexão

O evangelho deste XXVII Domingo do Tempo Comum inicia denunciando a intenção dos fariseus, como afirma Marcos: “tentando-o”, quando perguntam a Jesus se “É certo (lícito, conforme a Lei) ao homem repudiar a sua mulher”.  Não é a primeira vez que este grupo de opositores procura colocar Jesus à prova (grego: peirazo, fazer cair na armadilha). Evidentemente, essa estratégia tem como finalidade arranjar motivos para acusá-lo e, consequentemente, levá-lo à morte (Mc 3,6). 
Na língua hebraica a palavra tentador, adversário, é Satanás (Satã: o acusador dos homens diante de Deus: 1Cr 21,1; Jó 1,6s; Zc 3,1; Ap 12,10), o que traduzido para o grego ficou diabo (aquele que separa).  Portanto, os fariseus, tentando Jesus, assumem o papel não apenas de simples opositores, mas de verdadeiros agentes da destruição do projeto de Deus. Pois tornam-se colaboradores daquele que desde o princípio tenta separar a criação e a humanidade do seu Criador. E isto se concretiza tanto na formação de mentalidades distorcidas como na indução a atitudes permissivas. No evangelho de Marcos, além dos fariseus, também encontramos outros personagens, por exemplo Pedro (8,33), que desempenham este papel de separar Jesus de sua missão, de induzir à mentira, ao erro, tentando convencer que a verdade é mentira e vice-versa. Astúcia tão antiga quanto nova! 
Os evangelhos sinóticos, logo após a narração do Batismo de Jesus, apresentam a famosa cena da Tentação no Deserto (Mt 4,13-17; Mc 1,12-13; Lc 3,21-27). Em síntese, as investidas do Satã têm como objetivo provocar uma separação entre Jesus (Filho de Deus) e a sua missão (Messias sofredor). Partem sempre de uma afirmação verdadeira: “Se és Filho de Deus”, mas exigindo como comprovação desta verdade, uma mentira que a contradiz e destrói: “Transformar pedra em pão”, “Atirar-se no precipício...”, “Prostrar-se diante do tentador, para adorá-lo”. O Tentador quer a todo custo que Jesus se torne um adversário do projeto do Pai. E começa propondo que o Filho de Deus destrua o que o Pai criou, isto é, que Jesus transforme o seu poder em força mágica e arbitrária, e mude a própria natureza das coisas criadas para o seu benefício próprio (transformar pedra em pão diante da fome). Derrotado pela obediência de Jesus à Palavra do Pai, Satã prossegue a sua investida apelando para uma leitura fundamentalista das Sagradas Escrituras, a fim de que Jesus, aderindo a esta sua leitura, destrua a Palavra do Pai. E, por fim, faz a sua mais sedutora e atraente proposta: “Tudo isto te darei”. Mas com o altíssimo preço: a destruição da filiação divina. Prostrando-se diante do adversário, Jesus reconhecê-lo-á, de agora em diante, o seu deus, por conseguinte, o seu pai. Assim, o projeto de destruição estaria garantido, pois teria a ajuda de um magnífico e potente colaborador: o Filho, adversário do Pai. Reino dividido, destruição garantida.
 
Contudo, a fidelidade ao Pai, ao seu plano e desígnio eternos, derrotou o tentador. Por outro lado, mesmo derrotado, ele não desistiu, continuou tentando o Filho de Deus durante toda a sua vida, até a sua derrota final na cruz.
Marcos nos apresenta dois fatos bem ilustrativos dessas tentativas tentadoras cujos protagonistas são os fariseus: uma diz respeito à tentativa de destruição da criação cujo auge se deu na Encarnação, quando exigiram um sinal vindo do céu, pois rejeitavam o grande sinal vindo do céu que era o próprio Jesus (8,11). Portanto, se tivessem conseguido, teriam destruído o projeto eterno do Pai realizado agora no envio do seu Filho. Jesus se recusa a obedecê-los. A outra ocasião, é justamente a tentativa de exigir de Jesus um posicionamento que destrua a Palavra primordial do Pai, que “desde o princípio da criação os fez homem e mulher. Por isso o homem deixará o seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne... Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”.  
Sabemos que a união matrimonial tem a sua principal base não apenas no aspecto jurídico-canônico, ainda que este seja importante, pois garante e defende a realidade objetiva da união. Mas o fundamento da indissolubilidade reside na Revelação de Deus que conhecemos pela Escritura e está inscrito na própria natureza humana. A institucionalização da tentação da separação não é simplesmente uma tentativa de solucionar casos insustentáveis, mas uma investida sutil para destruir o plano do Criador: “Com essa atitude, o homem comete um novo pecado, aquele pecado contra Deus Criador… Deus colocou o homem e a mulher no topo da criação e confiou a eles a terra… O projeto do Criador está escrito na natureza” (Papa Francisco). 
O vínculo matrimonial, quando autêntico e real, não depende das comodidades individuais nem muito menos dos humores e sensações do momento. O ser humano cresce à medida que assume a sua vida com liberdade e responsabilidade, e por isso, precisa empenhar-se com todas as forças para restaurar as relações, assumidas livremente, e não destruí-las quando se tornam frágeis. Distorcer os princípios para acomodar-se aos defeitos de percurso é um lento e eficaz processo de destruição de valores fundamentais para a vida do ser humano em sociedade.
Como fizeram os adversários de Jesus de ontem, hoje também se verificam investidas semelhantes para separar o que Deus uniu. Um exemplo claríssimo é a tão difundida ideologia de gênero. Uma falácia perigosa que está sendo aceita como verdade por muitas pessoas, inclusive por quem diz ser cristão, mas rejeitando o que era desde o começo, coloca-se como verdadeiro adversário e, portanto, separando o que Deus uniu, colabora com a sua destruição. O Papa Francisco afirma: “A ideologia de gênero é um erro da mente humana que provoca muita confusão...Portanto, a família está sendo atacada”. A tentativa de destruir a Criação, negando a verdade da natureza, e a distorção da Palavra de Deus para garantir situações aparentemente mais cômodas, é um grande atentado à vida do ser humano, a começar pelos próprios filhos, que constituem a grande bênção do matrimônio: “O Senhor abençoa os pais nos filhos” (Sl 127). Por esta razão, Jesus conclui o seu ensinamento sobre o que Deus uniu, abençoando os frutos dessa união: as crianças trazidas a Ele.
 
https://www.dehonianosbre.org

Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Santa Teresa do Menino Jesus, virgem e doutora da Igreja.

 O caminho para Jerusalém.

O caminho para Jerusalém

O Senhor cercou-a de cuidados e a instruiu; guardou-a como a pupila dos seus olhos. Como águia estendeu as suas asas, tomou-a e levou-a nos seus ombros. Somente o Senhor foi o seu guia (Dt 32,10ss).

Teresa nasceu na França em 1873 e lá faleceu em 1897. Ingressou no Carmelo, adotando uma vida mística, de intensa oração. Serviu a Deus com simplicidade e humildade. Foi acometida pela tuberculose, que lhe encurtou a vida. A sua História de uma alma foi publicada um ano após sua morte. Canonizada em 1925, foi declarada padroeira das missões e, posteriormente, doutora da Igreja. A seu exemplo, sejamos humildes e simples, cultivando a paciência em meio às tribulações e com aqueles que se opõem ao Evangelho.

Primeira Leitura: Jó 3,1-3.11-17.20-23

Leitura do livro de Jó1Jó abriu a boca e amaldiçoou o seu dia, 2dizendo: 3“Maldito o dia em que nasci e a noite em que fui concebido. 11Por que não morri desde o ventre materno ou não expirei ao sair das entranhas? 12Por que me acolheu um regaço e uns seios me amamentaram? 13Estaria agora deitado e poderia descansar, dormiria e teria repouso 14com os reis e ministros do país, que construíram para si sepulcros grandiosos; 15ou com os nobres, que amontoaram ouro e prata em seus palácios. 16Ou, então, enterrado como aborto, eu agora não existiria, como crianças que nem chegaram a ver a luz. 17Ali acaba o tumulto dos ímpios, ali repousam os que esgotaram as forças. 20Por que foi dado à luz um infeliz e vida àqueles que têm a alma amargurada? 21Eles desejam a morte que não vem e a buscam mais que um tesouro; 22eles se alegrariam por um túmulo e gozariam ao receberem sepultura. 23Por que, então, foi dado à luz o homem a quem seu próprio caminho está oculto, a quem Deus cercou de todos os lados?” – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 87(88)

Chegue a minha oração até a vossa presença.

1. A vós clamo, Senhor, sem cessar, todo o dia, / e de noite se eleva até vós meu gemido. / Chegue a minha oração até a vossa presença, / inclinai vosso ouvido a meu triste clamor! – R.

2. Saturada de males se encontra a minha alma, / minha vida chegou junto às portas da morte. / Sou contado entre aqueles que descem à cova, / toda gente me vê como um caso perdido! – R.

3. O meu leito já tenho no reino dos mortos, / como um homem caído que jaz no sepulcro, / de quem mesmo o Senhor se esqueceu para sempre / e excluiu por completo da sua atenção. – R.

4. Ó Senhor, me pusestes na cova mais funda, / nos locais tenebrosos da sombra da morte. / Sobre mim cai o peso do vosso furor, / vossas ondas enormes me cobrem, me afogam. – R.

Evangelho: Lucas 9,51-56

Aleluia, aleluia, aleluia.

Veio o Filho do Homem, a fim de servir / e dar sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas51Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos para preparar hospedagem para Jesus. 53Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” 55Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado. – Palavra da salvação.

Reflexão
"Com firme decisão", relata o evangelista São Lucas, Jesus parte em direção a Jerusalém. Como que recapitulando toda a peregrinação por que passou o povo de Deus em seu itinerário até chegar à Terra Santa, o Senhor se dirige a partir de agora à Cidade Santa, a fim de, lá morrendo, lá de cima — do topo do Calvário — salvar o homem decaído. Sobe a passos largos a Jerusalém, para de lá ser levado para o seu Reino celeste, donde desceu para fazer-se carne humana; aceitando pois a vontade do Pai, Cristo não recusa fazer este sofrido percurso cujo término Lhe há de resultar em morte, mas cujo propósito, por Ele tão ansiado, é-nos trazer de volta a vida que, pelo pecados, havíamos perdido. O Senhor nos ensina, assim, que é pelo acolhimento amoroso e humilde do sofrimento, da cruz e de tribulação que nos vem a salvação, o remédio de que precisa o nosso egoísmo. Peçamos-Lhe hoje, em nosso momento reservado à oração, a graça de desejarmos que a nossa vontade se dobre à Sua; que possamos, com coração sincero, querer sofrer por Ele, assim como Ele se dignou sofrer por amor a nós.

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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja - O caminho dos pequeninos

 A Revelação do Filho

Feliz o homem que medita a lei do Senhor dia e noite sem cessar: dará seu fruto no devido tempo (Sl 1,2s).

Encerrando o mês da Bíblia, celebramos a memória de São Jerônimo, Esse eminente doutor da Igreja nasceu em 342, na província romana da Dalmácia, e morreu em Belém, na Palestina, em 420. Tendo adquirido vastíssima cultura literária e bíblica, pôs seus talentos a serviço de Deus por incentivo do papa Dâmaso, que o encarregou de preparar a tradução da Bíblia do grego para o latim. Empenhando os últimos 35 anos de vida nos estudos da Sagrada Escritura, tornou-se o patrono dos biblistas e das iniciativas bíblicas da Igreja. Com ele aprendamos a fazer da Palavra de Deus uma Boa-nova de salvação para os pequenos do Reino.

Primeira Leitura: Jó 1,6-22

Leitura do livro de Jó6Um dia, foram os filhos de Deus apresentar-se ao Senhor; entre eles, também satanás. 7O Senhor, então, disse a satanás: “Donde vens?” “Venho de dar umas voltas pela terra”, respondeu ele. 8O Senhor disse-lhe: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e correto, teme a Deus e afasta-se do mal”. 9Satanás respondeu ao Senhor: “Mas será por nada que Jó teme a Deus? 10Porventura não levantaste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de todos os seus bens? Tu abençoaste tudo o que ele fez, e seus rebanhos cobrem toda a região. 11Mas estende a mão e toca em todos os seus bens; e eu garanto que ele te lançará maldições no rosto!” 12Então o Senhor disse a satanás: “Pois bem, de tudo o que ele possui podes dispor, mas não estendas a mão contra ele”. E satanás saiu da presença do Senhor. 13Ora, num dia em que os filhos e filhas de Jó comiam e bebiam vinho na casa do irmão mais velho, 14um mensageiro veio dizer a Jó: “Estavam os bois lavrando e as mulas pastando a seu lado 15quando, de repente, apareceram os sabeus e roubaram tudo, passando os criados ao fio da espada. Só eu consegui escapar para trazer-te a notícia”. 16Estava ainda falando quando chegou outro e disse: “Caiu do céu o fogo de Deus e matou ovelhas e pastores, reduzindo-os a cinza. Só eu consegui escapar para trazer-te a notícia”. 17Este ainda falava quando chegou outro e disse: “Os caldeus, divididos em três bandos, lançaram-se sobre os camelos e levaram-nos consigo, depois de passarem os criados ao fio da espada. Só eu consegui escapar para trazer-te a notícia”. 18Este ainda falava quando chegou outro e disse: “Teus filhos e tuas filhas estavam comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho 19quando um furacão se levantou das bandas do deserto e se lançou contra os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens e os matou. Só eu consegui escapar para trazer-te a notícia”. 20Então, Jó levantou-se, rasgou o manto, rapou a cabeça, caiu por terra e, prostrado, disse: 21“Nu eu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou; como foi do agrado do Senhor, assim foi feito. Bendito seja o nome do Senhor!” 22Apesar de tudo isso, Jó não cometeu pecado nem se revoltou contra Deus. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 16(17)

Inclinai o vosso ouvido e escutai-me!

1. Ó Senhor, ouvi a minha justa causa, / escutai-me e atendei o meu clamor! / Inclinai o vosso ouvido à minha prece, / pois não existe falsidade nos meus lábios! – R.

2. De vossa face é que me venha o julgamento, / pois vossos olhos sabem ver o que é justo. / Provai meu coração durante a noite, † visitai-o, examinai-o pelo fogo, / mas em mim não achareis iniquidade. – R.

3. Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e escutai-me! / Mostrai-me vosso amor maravilhoso, † vós que salvais e libertais do inimigo / quem procura a proteção junto de vós. – R.

Evangelho: Lucas 9,46-50

Aleluia, aleluia, aleluia.

Veio o Filho do Homem, a fim de servir / e dar sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 46houve entre os discípulos uma discussão para saber qual deles seria o maior. 47Jesus sabia o que estavam pensando. Pegou então uma criança, colocou-a junto de si 48e disse-lhes: “Quem receber esta criança em meu nome estará recebendo a mim. E quem me receber estará recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior”. 49João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lho proibimos, porque não anda conosco”. 50Jesus disse-lhe: “Não o proibais, pois quem não está contra vós está a vosso favor”. – Palavra da salvação.

Reflexão

O Evangelho desta 2.ª-feira nos mostra os discípulos de Cristo a discutir quem dentre eles seria o maior. Os apóstolos de Nosso Senhor são aqui envolvidos na grande tentação com que o demônio costuma seduzir os seguidores de Jesus: a vanglória. É verdade que Deus nos destinou à glória dos Céu; mas todos nós, feridos pelo pecado, sentimos um certo apetite desordenado pela própria excelência, que deseja sobrepor-se à glória celeste para a qual fomos criados. Manifestada no Tabor a Pedro, Tiago e João alguns versículos atrás (cf. Lc 9, 28-36), essa mesma glória se torna, por sugestão do diabo, ocasião de tropeço, de vanglória, de discussão.

Em regra, este fenômeno ocorre conosco ao longo de nossa jornada espiritual. Superados os pecados e defeitos mais rudes e grosseiros, é comum que o cristão, crendo-se já muito virtuoso, tenda a pavonear-se, a achar-se santo, a orgulhar-se do que na verdade é obra da graça de Deus. Este Evangelho nos mostra mais uma vez os discípulos em companhia de Jesus, ouvindo-lhe os ensinamentos, e incapazes de compreender que o Senhora subirá, sim, a Jerusalém, mas para tomar o último lugar. A Transfiguração de Cristo, com efeito, lhes deveria ter servido como preparação para a desfiguração da Cruz. E é o próprio Senhor quem predissera, na leitura de ontem, a Paixão que o aguardava.

Cristo está, pois, como que a nos indiciar que é pelo caminho da pequenez e da humilhação que se sobe até a gloriosa Jerusalém. O itinerário para o Céu, ensina hoje o Senhor, é um caminho para baixo: só pelo rebaixamento próprio e pelo serviço aos mais pequeninos é que o homem pode progredir na santidade e alcançar a glória preparada para os filhos de Deus.

 

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domingo, 29 de setembro de 2024

26º Domingo do Tempo Comum - A gravidade do pecado de escândalo.

 Jesus é o Senhor!: EVANGELHO SÃO MARCOS 9,38-43.45.47-48 -- 26º DOMINGO DO  TEMPO COMUM ANO "B" -- LEITURAS: Nm 11,25-29;18 ; Tg 5,1-6 -- LITURGIA  P/27/09/2015 - COR VERDE -- ANO DA PAZ !

Tudo quanto nos fizestes, Senhor, com verdadeira justiça o fizestes, porque pecamos contra vós e não obedecemos a vossos mandamentos; mas dai glória ao vosso nome e tratai-nos conforme a grandeza da vossa misericórdia (Dn 3,31.29s.43.42).

Reunidos em nome de Cristo, queremos acolher a força profética e soberana do Espírito. Ele nos leva a superar a mentalidade sectária e nos convida a sermos acolhedores dos pobres e desprezados, extirpando de nossa vida tudo o que possa ferir a dignidade das pessoas e a caminhada da comunidade. Celebremos a páscoa semanal do Senhor neste dia da Bíblia, a Palavra que nos guia e traz alegria aos corações.

Primeira Leitura: Números 11,25-29

Leitura do livro dos Números – Naqueles dias, 25o Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do espírito que Moisés possuía e o deu aos setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, puseram-se a profetizar, mas não continuaram. 26Dois homens, porém, tinham ficado no acampamento. Um chamava-se Eldad, e o outro, Medad. O espírito repousou igualmente sobre os dois, que estavam na lista, mas não tinham ido à tenda, e eles profetizavam no acampamento. 27Um jovem correu a avisar Moisés que Eldad e Medad estavam profetizando no acampamento. 28Josué, filho de Nun, ajudante de Moisés desde a juventude, disse: “Moisés, meu senhor, manda que eles se calem!” 29Moisés respondeu: “Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!” – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 18(19)

A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração.

1. A lei do Senhor Deus é perfeita, / conforto para a alma! / O testemunho do Senhor é fiel, / sabedoria dos humildes. – R.

2. É puro o temor do Senhor, / imutável para sempre. / Os julgamentos do Senhor são corretos / e justos igualmente. – R.

3. E vosso servo, instruído por elas, / se empenha em guardá-las. / Mas quem pode perceber suas faltas? / Perdoai as que não vejo! – R.

4. E preservai o vosso servo do orgulho: / não domine sobre mim! / E assim puro eu serei preservado / dos delitos mais perversos. – R.

Segunda Leitura: Tiago 5,1-6

Leitura da carta de São Tiago – 1E agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós. 2Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças. 3Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes como fogo! Amontoastes tesouros nos últimos dias. 4Vede, o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso. 5Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança. 6Condenastes o justo e o assassinastes; ele não resiste a vós. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Marcos 9,38-43.45.47-48

Aleluia, aleluia, aleluia.

Vossa Palavra é verdade, orienta e dá vigor; / na verdade santifica vosso povo, ó Senhor! (Jo 17, 17) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 38João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 39Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. 40Quem não é contra nós é a nosso favor. 41Em verdade eu vos digo, quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48‘onde o verme deles não morre e o fogo não se apaga'”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Neste 26.º Domingo do Tempo Comum, lemos o Evangelho de São Marcos, capítulo 9, versículos de 38 a 48. A leitura é dividida em duas partes fundamentais, e aqui vamos nos concentrar em um ponto de reflexão sobre a segunda parte.

Na primeira parte, os discípulos de Nosso Senhor vêem um homem exorcizando demônios em nome de Jesus e querem proibi-lo; mas como esse homem faz o bem, Cristo diz que ele deve ser deixado em paz, pois não faz sentido repreendê-lo.

Já na segunda parte, que é o cerne desta homilia, Jesus ensina-nos que, quando fazemos o bem a um irmão, é a Ele que o fazemos. Se dermos um copo d’água fria a alguém porque ele é de Cristo, não ficaremos sem recompensa. Mas Jesus também diz:

“Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a! [...] Se teu pé te leva a pecar, corta-o! [...] Se teu olho te leva a pecar, arranca-o” (Mc 9, 42-45).

Como explicar essa passagem tão radical do Evangelho? Em primeiro lugar, precisamos entender o que é o escândalo, um pecado bastante sério, do qual Nosso Senhor está falando. 

Em português coloquial, escandalizar é fazer estardalhaço, isto é, um grande alarde. Porém, na linguagem técnica, no âmbito da vida cristã, nós dizemos que escandalizar é realizar uma ação, um gesto ou uma palavra que leva a pecar uma pessoa recém-convertida — portanto, que é frágil na fé. No Evangelho, Nosso Senhor chama essas pessoas frágeis de “pequeninos”.

Para entender do que se trata essa realidade, podemos dizer, em primeiro lugar, que o escândalo não é um problema nem para os santos nem para os grandes pecadores. Sabemos que um santo é uma pessoa firme na fé. Quando ele é exposto às tentações, geralmente não cede com facilidade; uma mulher vestida de forma vulgar não seduz um santo facilmente. Ele não cai nessa armadilha, ele não tropeça. A propósito, a palavra grega “skandalon” significa precisamente “pedra de tropeço”. Ele não vai tropeçar, pois está espiritualmente sólido. Vemos, portanto, que o problema do escândalo não é para as pessoas progredidas na fé e na santidade.

Ademais, o escândalo também não é um problema àqueles que levam uma vida de grande pecado. Aqueles que são, por exemplo, mafiosos, assassinos, traficantes, prostitutos etc., que, em suma, estão vivendo chafurdados no pecado, não ficam escandalizados, pois o pecado já é o habitat no qual eles vivem. 

Então, para quem, afinal, o escândalo é um problema? Com quem Nosso Senhor está preocupado quando Ele faz o alerta para essa realidade? Com bondade, zelo e cuidado paternal, Jesus está preocupado com aqueles que são recém-convertidos, com os frágeis na fé, que podem ser também os que, apesar de estarem convertidos há bastante tempo, ainda não estão enraizados na fé, por assim dizer.

Quando plantamos uma semente na terra e a vemos crescer, naturalmente cercamos a plantinha de cuidados especiais, colocamo-la em uma estufa, em um canteiro especial, até que a árvore já esteja mais vigorosa. Depois a transplantamos para o seu lugar definitivo. Essa é a mesma dinâmica da fé. 

No início, a fé é frágil; daí que os frágeis na fé podem facilmente se escandalizar quando veem algo que os leva a pecar. À vista disso, voltemos à frase de Nosso Senhor, agora que a ideia ficou mais clara: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, seria melhor que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (v. 42). Nosso Senhor é bastante contundente, drástico até: Ele está dizendo que é melhor nós sofrermos uma morte terrível do que levarmos uma dessas pessoas a pecar — o que seria, para estas, uma morte ainda pior, a morte eterna. 

Depois, Jesus faz hipérboles, usa uma linguagem bastante exagerada: “Se a tua mão te leva a pecar, corta-a; se o teu pé te leva a pecar, corta-o; se o teu olho te leva a pecar, arranca-o”. E por que Ele diz isso? Evidentemente, Jesus não quer que pessoa alguma corte materialmente a própria mão, o próprio pé ou o próprio olho. Nosso Senhor está explicando que, se é para evitar um escândalo, se é para evitar que um recém-convertido — que tem fé fraca — perca definitivamente a fé e vá para o Inferno, então nós temos de renunciar a tudo aquilo que é escandaloso. 

Nós precisamos renunciar a amizades escandalosas, roupas escandalosas, livros escandalosos, negócios escandalosos; mesmo que sejamos apegados a essas coisas como a um braço, uma mão, um pé, um olho. Mesmo que o desapego seja doloroso, devemos arrancar, amputar essas realidades da nossa vida. E isso porque aquilo que está em jogo é a nossa salvação — e também a salvação do outro.

Podemos citar alguns exemplos bem concretos para ilustrar a realidade do escândalo — e não ficarmos só na teoria. Em que consiste o vestir-se de forma escandalosa? Na linguagem comum é o sujeito vestir-se de modo espalhafatoso, chamando a atenção para si. Mas essa não é toda a verdade, pois uma roupa escandalosa é, na verdade, aquela que leva o outro a pecar. 

Assim, um homem ou uma mulher que se veste de forma escandalosa está mostrando ou salientando as partes eróticas do seu corpo. Isso acontece quando, por exemplo, a mulher usa roupas com a finalidade de provocar, seduzir, chamar a atenção para o seu corpo nas partes sexuais ou erógenas, que são, por assim dizer, sedutoras. Nesse sentido, aquele ou aquela que usa roupas desse tipo está cometendo o pecado do escândalo. 

Quando uma mulher usa um shortinho que deixa as coxas à mostra ou um decote que exibe parte dos seios, o irmão recém-convertido — que teve uma vida sexual depravada e assumiu o propósito de guardar a pureza — pode ser levado a pecar. A mulher nem sequer está consciente do que está fazendo, mas quantos rapazes podem desanimar e cair no pecado porque vêem mulheres vestidas dessa forma? Eles são tentados na sua sexualidade e terminam recorrendo à masturbação, à pornografia e até procurando a prostituição. Pode ser que ele não peque sexualmente com essa mulher que está vestida vulgarmente, mas ela jogou esse irmão no fogo das paixões. 

É evidente que essa dinâmica do escândalo também vale para os homens; no entanto, pela natureza das coisas, há uma distinção entre o apetite concupiscível do homem e o da mulher. Geralmente, o homem gosta de ver, ele é um voyeur; porque o cérebro do homem é como o de um caçador. Em contrapartida, a mulher gosta de seduzir, gosta de se mostrar, de se exibir. Se pudéssemos colocar essa realidade com palavras cruas e diretas, diríamos que o pecado típico do homem é ver pornografia; o da mulher, mostrar demais seu corpo. Evidentemente, isso são tendências da natureza desordenada.

Infelizmente, com a engenharia social que afeta as nossas vidas, esse tipo de pecado está sendo praticado cada vez mais por ambos os sexos. Antigamente, se na confissão eu perguntasse para uma mulher se ela tinha visto pornografia ou caído em masturbação, isso para ela seria uma ofensa — a mulher sairia do confessionário ofendida. Mas hoje, 32 anos depois, esse é o tipo de pergunta que, miseravelmente, o padre precisa fazer no confessionário. Mas, por quê? Ora, porque com as transformações culturais, as mulheres também caíram nessa armadilha. 

Assim, a forma com a qual os homens se vestem também provoca as mulheres, levando-as a pecar. Apresentamos esse exemplo que corresponde àquilo que Nosso Senhor nos diz no Evangelho de hoje. Pois ele quer que nós nos desapeguemos, mesmo que esse desapego provoque dor; é isto o que Ele diz: “Se a tua mão te leva a pecar, corta-a; se o teu pé te leva a pecar, corta-o; se o teu olho te levar a pecar, arranca-o”. E isso porque, a fim de alcançarmos a vida eterna — e a vida eterna do outro —, temos de estar dispostos a pagar qualquer preço. 

A pessoa que está em pecado não quer mudar o seu jeito de se vestir, porque acha que o problema é de quem vê, mas não é assim. Deus, que sonda os corações, está vendo que a pessoa vulgar está levando o outro a pecar. Não se deve vestir-se de forma pecaminosa e escandalosa com o propósito de seduzir o outro e excitar as paixões dele. Isso é sempre um pecado mortal. E neste Evangelho, Nosso Senhor não está medindo palavras; Ele está dizendo claramente que seria melhor amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e se lançar no mar do que fazer o outro pecar. 

Não se trata de um pecado leve, porque, com ele, leva-se o outro a pecar. Há pessoas que querem realmente viver a pureza e a castidade, mas são atrapalhadas nesse propósito quando, por exemplo, veem uma mulher vestida de forma escandalosa. Não estamos aqui dizendo que é preciso vestir uma burca. Mas é preciso entender que a elegância com a qual uma pessoa se veste é uma virtude. No entanto, ser elegante é algo distinto de seduzir, de ser pedra de tropeço.

É claro que isso não se restringe às vestimentas, mas o escândalo também pode vir, por exemplo, dos programas de televisão aos quais assistimos. Um adulto que, na presença de crianças e adolescentes, assiste a programas de televisão inadequados, desrespeita esses menores e também aos pais deles, que estão tentando fazer com que os filhos guardem a pureza. Esse adulto está sendo escandaloso. Novamente, Nosso Senhor diz: “Se você levar a pecar um desses pequeninos que creem, é melhor você se jogar no mar”. E essa realidade também é válida quando os pequeninos somos nós mesmos, que ainda não estamos na santidade sólida. Afinal, qual é o nosso objetivo ao ver, por exemplo, um conteúdo inadequado que é ocasião de pecado? 

A pessoa pode argumentar em prol da leitura de um livro indecente, porque simplesmente se trata de uma obra de literatura. Ela decide ler, mesmo ciente de que nesse livro haverá passagens indecorosas, que certamente serão ocasião de pecado para ela. Quem age assim não percebe que está sendo um escândalo (pedra de tropeço) para si próprio.

Além disso, o escândalo se relaciona não só com roupas, filmes e novelas, mas também, por exemplo, com amizades. 

E isso porque, infelizmente, há amigos escandalosos. Se uma pessoa, por exemplo, abandonou recentemente as drogas, o alcoolismo ou a prostituição, mas não decide se desapegar dos seus amigos de botequim, da rodinha da maconha ou dos contatos promíscuos, ela não se libertará do pecado. Jesus está dizendo que devemos “cortar a mão”, “amputar o pé”, “arrancar o olho”, para garantir a vida eterna, mesmo que doa muito. 

Podemos mostrar a necessidade de abraçar a dor do desapego com um exemplo emblemático. Trata-se de um evento verídico que aconteceu nos Estados Unidos com um sujeito chamado Aron Ralston. No dia 26 de abril de 2003, Aron, que era alpinista e gostava de escalar montanhas, decidiu explorar um cânion na região de Wayne County, no estado norte-americano de Utah, e, para resumir a história, ficou com o braço preso em uma rocha. Isso é narrado no livro — que depois serviu de inspiração para o roteiro de um filme — “Between a Rock and a Hard Place”, e o filme no Brasil estreou com o título de “127 Horas: uma empolgante história de sobrevivência”. 

Mas o que aconteceu? O alpinista Aron Ralston havia decidido explorar o cânion sozinho, sem avisar familiares e amigos. Durante a escalada, ele se apoiou em uma pedra que, ao se deslocar, caiu no seu braço, prendendo-o definitivamente. Seu antebraço foi esmagado. Evidentemente, ele lutou, fez grande esforço para sair de lá, mas a rocha pesava centenas de quilos. 

Completamente sozinho, ele fez tudo quanto pôde para sair dali, usando os instrumentos que estavam ao seu alcance. Ele já estava preso havia cinco dias, a comida acabou e, para não morrer de sede, Aron se viu obrigado a beber a própria urina. A verdade é que ele já estava pronto para morrer, porque não havia como escapar dali. Sua família não fazia ideia de onde ele estava, porque o alpinista não havia informado pessoa alguma dessa sua aventura. 

Diante da morte iminente, o norte-americano decidiu escrever uma pequena mensagem para os seus pais na própria pedra que havia esmagado o seu braço — depois de escrever, ele desmaiou. Ao despertar, Aron teve uma ideia: usar o seu pequeno canivete para amputar o seu próprio braço. O processo durou algumas horas porque, evidentemente, ele teve de cortar o osso; e se não tivesse feito um torniquete, certamente teria morrido.

Citamos esse exemplo a fim de mostrar que, para salvar a própria vida — esta vida terrena, efêmera e passageira —, o sujeito amputou o próprio braço. Mas nós não queremos amputar os nossos maus hábitos para sermos salvos e receber a vida eterna com Deus. Ele amputou o braço e salvou esta vida terrena, porque sabia que ela valia mais que seu braço. Mas nós simplesmente não achamos razoável amputar alguns amigos, algumas roupas, alguns livros, alguns negócios — como aqueles que vendem pornografia, anticoncepcional e outros meios de pecado. 

Se fosse para salvar esta vida terrena, amputaríamos até mesmo o nosso próprio braço; mas como é para a vida eterna, são poucos os que têm fé suficiente para fazê-lo. Mas neste Domingo, Jesus está nos alertando: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a [...] Se teu pé te leva a pecar, corta-o [...] Se teu olho te leva a pecar, arranca-o”. Com isso, Nosso Senhor está dizendo que, embora seja doloroso, devemos renunciar a essas coisas escandalosas que nos levam ao pecado. Se vale a pena perder um braço para salvar esta vida, como fez Aran Ralston; vale muito mais perder tudo para ganhar a vida eterna.

 
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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

23ª Semana do Tempo Comum - As quatro ameaças do Senhor!

 Bem-aventurados os pobres de espírito!

Vós sois justo, na verdade, ó Senhor, e os vossos julgamentos são corretos. Conforme o vosso amor, Senhor, tratai-me (SI 118,137.124).

O Senhor nos ilumina e orienta para que vivamos nossa vocação – seja ao matrimônio, ao ministério ordenado ou à consagração religiosa – de modo intenso e, ao mesmo tempo, desapegado dos bens materiais. Pois “a figura deste mundo passa”. Somos convidados pela liturgia a fixar o coração onde se encontram os valores eternos.

Primeira Leitura: 1 Coríntios 7,25-31

Leitura da primeira carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 25a respeito das pessoas solteiras, não tenho nenhum mandamento do Senhor. Mas, como alguém que, por misericórdia de Deus, merece confiança, dou uma opinião: 26penso que, em razão das angústias presentes, é vantajoso não se casar, é bom cada qual estar assim. 27Estás ligado a uma mulher? Não procures desligar-te. Não estás ligado a nenhuma mulher? Não procures ligar-te. 28Se, porém, casares, não pecas. E, se a virgem se casar, não peca. Mas as pessoas casadas terão as tribulações da vida matrimonial; e eu gostaria de poupar-vos isso. 29Eu digo, irmãos, o tempo está abreviado. Então, que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher; 30e os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres, e os que fazem compras, como se não possuíssem coisa alguma; 31e os que usam do mundo, como se dele não estivessem gozando. Pois a figura deste mundo passa. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 44(45)

Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto!

1. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: / “Esquecei vosso povo e a casa paterna! / Que o rei se encante com vossa beleza! / Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor! – R.

2. Majestosa, a princesa real vem chegando, / vestida de ricos brocados de ouro. / Em vestes vistosas ao rei se dirige, / e as virgens amigas lhe formam cortejo. – R.

3. Entre cantos de festa e com grande alegria, / ingressam, então, no palácio real”. / Deixareis vossos pais, mas tereis muitos filhos; / fareis deles os reis soberanos da terra. – R.

Evangelho: Lucas 6,20-26

Aleluia, aleluia, aleluia.

Meus discípulos, alegrai-vos, / exultai de alegria, / pois bem grande é a recompensa / que nos céus tereis um dia! (Lc 6,23) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 20Jesus, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir! 22Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem! 23Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! 25Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! 26Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Breve explicação do texto. — S. Lucas enumera apenas quatro bem-aventuranças, a saber: aquelas que aos homens parecem mais paradoxais e inacreditáveis, por se referirem a) aos pobres: Bem-aventurados vós, os pobres (v. 20); b) aos indigentes: Bem-aventurados vós que agora tendes fome (v. 21); c) aos aflitos: Bem-aventurados vós que agora chorais (ibid.); d) e aos que sofrem nas mãos dos homens sob pretexto de religião: Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem (v. 23). A estas quatro bem-aventuranças acrescenta o Senhor outras tantas cominações, com as quais afirma a sorte infeliz que terão os que, na estimação comum dos homens, são considerados felizes.

V. 24. Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes aqui vossa consolação! Esta sentença deve entender-se como referida aos ricos que são semelhantes ao rico epulão do Evangelho (cf. Lc 16, 19-31), ou seja, aos que abusam, para satisfazer seus próprios desejos, das riquezas que deveriam usar para aliviar as necessidades dos miseráveis.

V. 25. Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome! É uma ameaça àqueles cujo deus, como diz S. Paulo, é o próprio ventre (cf. Fp 3, 19). — Ai de vós que agora rides, isto é, que nesta vida, na qual há tantos motivos para chorar, vos entregais às concupiscências do mundo e a todo tipo de prazer, porque tereis luto e lágrimas! Este infortúnio não está reservado apenas para a vida futura, pois é um perigo já na presente, segundo aquilo: “Não há paz para os maus” (Is 48, 22).

V. 26. Ai de vós quando todos, isto é, os homens dados às coisas do mundo, vos elogiam, isto é, quando vos louvam e aprovam, além disso, vossa doutrina; era assim que os antepassados deles, isto é, daqueles a quem elogiais (cf. Jr 5, 31), tratavam os falsos profetas. Neste versículo, o Senhor se dirige aos discípulos, aos quais recomenda, em forma de ameaça, a liberdade evangélica, o ódio do mundo e, quando for necessário, o desprezo dos homens; do contrário, terão a mesma sorte que tiveram os falsos profetas. (Ez 13, 9; Jr 28, 2ss etc.) [1].

Anotações homiléticas. — 1) Riquezas, um bem relativo: “Ainda que no acúmulo de riquezas haja muitos atrativos para o pecado, há também muitos incentivos à virtude; e embora a virtude não precise de subsídios e seja mais louvável a esmola do pobre que a liberalidade do rico, não obstante, condena o Senhor com a autoridade da sentença celeste não os que possuem riquezas, mas os que não as sabem empregar bem” (S. Ambrósio). — 2) A necessidade da abstinência: “Ora, que seja necessária a abstinência, é evidente pelo fato de o Apóstolo enumerá-la entre os frutos do Espírito. Com efeito, a sujeição do corpo por nenhum outro meio se alcança melhor do que pela abstinência: por ela, como por certo freio, cumpre domar o fervor da juventude. É, portanto, a abstinência a morte do crime, o afastamento das paixões, o início da vida espiritual, que embota em si o acúleo da sensualidade” (S. Basílio Magno). — 3) Moderação no riso, seriedade na vida: “Já que o Senhor repreende agora os que riem, é evidente que nunca terá o fiel tempo para rir, sobretudo em tamanha multidão de homens que morrem em pecado, pelos quais é necessário chorar. De fato, o riso supérfluo é sinal de imoderação e movimento de uma alma sem freios” (Id.). — 4) A pedagogia de Cristo: “Chamam-se falsos profetas porque, para conquistar o favor do povo, tentam predizer o futuro. Por isso, o Senhor, no monte, falou somente das bem-aventuranças dos bons, ao passo que, no campo, descreveu também as desaventuranças dos réprobos: pois a ouvintes ainda rudes é preciso compelir ao bem com os terrores da pena, enquanto aos perfeitos é suficiente convidá-los pelo anúncio do prêmio” (S. Beda, o Venerável) [2].

 

Referências

  1. O texto desta homilia é uma versão levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Turini: Marietti, 1930, vol. 1, p. 301s, n. 201.
  2. Cf. S. Tomás de Aquino, Catena in Lucam, c. 6, l. 6.
 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

23ª Semana do Tempo Comum - Por que Jesus quis rezar?

 Se Cristo rezou, por que nós não rezamos?

Vós sois justo, na verdade, ó Senhor, e os vossos julgamentos são corretos. Conforme o vosso amor, Senhor, tratai-me (SI 118,137.124).

Antes de escolher os apóstolos, Jesus se recolhe, ensinando que todo chamado nasce e se sustenta na oração e na intimidade com o Pai. Os discípulos do Reino devem assumir atitudes novas, livres da injustiça nos relacionamentos e de tudo aquilo que impede a proximidade com Deus. Ao Senhor, que curou muitas doenças no seu tempo, pedimos que nos cure do “mundanismo”, que impede a vivência de seu projeto de amor e vida.  

Primeira Leitura: 1 Coríntios 6,1-11

Leitura da primeira carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 1quando um de vós tem uma questão com outro, como se atreve a entrar na justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos? 2Será que ignorais que os santos julgarão o mundo? Ora, se o mundo está sujeito ao vosso julgamento, seríeis acaso indignos de deliberar e julgar sobre questões tão insignificantes? 3Ignorais que julgaremos os anjos? Quanto mais, coisas desta vida! No entanto, se tendes dessas questões a resolver, recorreis a juízes que a Igreja não pode recomendar. Digo isso para confusão vossa! Será, então, que aí entre vós não se encontra ninguém sensato e prudente que possa ser juiz entre irmãos? 6Ao invés disso, irmão contra irmão vai a juízo, e isso perante infiéis! 7Aliás, já é uma grande falta haver processos entre vós. Por que não suportais, antes, a injustiça? Por que não tolerais, antes, ser prejudicado? 8Pelo contrário, vós é que cometeis injustiças e fraudes, e isso contra irmãos! 9Porventura ignorais que pessoas injustas não terão parte no Reino de Deus? Não vos iludais: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem pederastas, 10nem ladrões, nem avarentos, nem beberrões, nem insolentes, nem salteadores terão parte no Reino de Deus. 11E vós, isto é, alguns de vós, éreis isso! Mas fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 149

O Senhor ama seu povo de verdade.

1. Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / e o seu louvor na assembleia dos fiéis! / Alegre-se Israel em quem o fez, / e Sião se rejubile no seu rei! – R.

2. Com danças glorifiquem o seu nome, / toquem harpa e tambor em sua honra! / Porque, de fato, o Senhor ama seu povo / e coroa com vitória os seus humildes. – R.

3. Exultem os fiéis por sua glória / e, cantando, se levantem de seus leitos / com louvores do Senhor em sua boca. / Eis a glória para todos os seus santos. – R.

Evangelho: Lucas 6,12-19

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu vos escolhi a fim de que deis, / no meio do mundo, um fruto que dure (Jo 15,16). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele e curava a todos. – Palavra da salvação.

Reflexão

Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. — A) É tríplice a causa desta oração noturna de Cristo: 1.ª) para rogar ao Pai que, na manhã seguinte, designasse dentre os discípulos doze Apóstolos, escolhendo os que fossem dignos de tamanha missão; 2.ª) segunda, para, orando, lhes impetrar a graça e o espírito necessários ao cumprimento do seu apostolado e à conversão do mundo; 3.ª) terceira, para nos ensinar duas coisas, a saber: a) a necessidade de dedicar um tempo a Deus pela oração, o que se cumpre pela observância do descanso sabático, como visto no Evangelho de sábado; b) a necessidade de rezar constantemente (e por isso diz “a noite toda”) tanto pela vocação como pela santificação dos sacerdotes. Eis por que a Igreja, iluminada pelo exemplo de Cristo, prescrevia outrora aos fiéis, durante as Quatro Têmporas, a oração e o jejum, para que os ordinandos nesse período fossem dignos e, pela intercessão mais fervorosa dos fiéis, alcançassem de Deus graças idôneas à dignidade para a qual foram escolhidos.

B) Em sentido tropológico, o Senhor nos ensina a rezar à noite: 1.º) porque a noite simboliza o sossego, o silêncio e a solidão necessária ao recolhimento da alma, sem o que é difícil, senão impossível, elevar-se a Deus convenientemente; 2.º) para dissipar as ilusões noturnas, isto é, as tentações e terrores de consciência com que o demônio, perturbando-nos, busca sem descanso afastar-nos da oração; 3.º) a fim de, rezando à noite, pedirmos a Deus as virtudes de que precisaremos na manhã seguinte e as graças que ao longo do dia havemos de levar aos nossos irmãos. É por isso que Jesus rezava à noite, mas pregava de dia. O mesmo fizeram o Apóstolo S. Paulo (cf. At 16, 25; 1Tm 5, 5) e muitos outros santos, como S. Antônio, S. Domingos de Gusmão, S. Francisco de Assis etc. etc. Também Davi recomenda várias vezes a oração noturna: “Bendizei o Senhor […] durante as horas da noite” (Sl 133, 1); “Em meio à noite levanto-me para vos louvar” (Sl 118, 62); “De noite reflito no fundo do coração” (Sl 76, 7); “Minhas lágrimas se converteram em alimento dia e noite, enquanto me repetem sem cessar: ‘Teu Deus, onde está?’” (Sl 41, 4) [1].

 

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Referências

  1. Extraído de Cornélio a Lapide, Commentaria in S. Scripturam. Neapoli, 1857, vol. 8, p. 556.