sábado, 30 de setembro de 2023

Memória - São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja - Cremos em Cristo crucificado?

 


(branco, pref. comum, ou dos pastores – ofício da memória)

Que as palavras da Escritura estejam sempre em teus lábios, para que, meditando-as dia e noite, te esforces para realizar tudo aquilo que ensinam, e terá sentido e valor a tua vida (Js 1,8).

Jerônimo nasceu na província romana da Dalmácia, provavelmente numa região da atual Croácia, por volta do ano 340, e faleceu em Belém, na Palestina, em 420. Presbítero de extraordinária inteligência e de vasta cultura literária e bíblica, traduziu para o latim os textos originais do Antigo e do Novo Testamento. Que sua paixão pelos textos sagrados nos motive a aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus.

Primeira Leitura: Zacarias 2,5-9.14-15

Leitura da profecia de Zacarias – 5Levantei os olhos e eis que vi um homem com um cordel de medir na mão. 6Perguntei-lhe: “Aonde vais?” Respondeu-me: “Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e o seu comprimento”. 7Eis que apareceu o anjo que falava em mim, enquanto lhe vinha ao encontro um outro anjo, 8que lhe disse: “Corre a falar com esse moço, dizendo: a população de Jerusalém precisa ficar sem muralha, em vista da multidão de homens e animais que vivem no seu interior. 9Eu serei para ela, diz o Senhor, muralha de fogo ao seu redor e mostrarei minha glória no meio dela. 14Rejubila, alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor. 15Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo. Habitarei no meio de ti”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Jr 31

O Senhor nos guardará qual pastor a seu rebanho.

1. Ouvi, nações, a palavra do Senhor / e anunciai-a nas ilhas mais distantes: / “Quem dispersou Israel vai congregá-lo / e o guardará qual pastor a seu rebanho!” – R.

2. Pois, na verdade, o Senhor remiu Jacó / e o libertou do poder do prepotente. / Voltarão para o monte de Sião,  entre brados e cantos de alegria / afluirão para as bênçãos do Senhor. – R.

3. Então a virgem dançará alegremente, / também o jovem e o velho exultarão; / mudarei em alegria o seu luto, / serei consolo e conforto após a guerra. – R.

Evangelho: Lucas 9,43-45

Aleluia, aleluia, aleluia.

Jesus Cristo salvador destruiu o mal e a morte; / fez brilhar, pelo Evangelho, a luz e a vida imperecíveis (2Tm 1,10). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas  Naquele tempo, 43todos estavam admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto. – Palavra da salvação.

Reflexão 
Temos no Evangelho de hoje o segundo anúncio da Paixão, e o evangelista S. Lucas, pelas palavras que põe na boca de Nosso Senhor, nos faz notar a diferença que há entre crer em Cristo e ser cristão. Após ouvir de S. Pedro, em nome de todo o colégio apostólico, a profissão de fé em sua divindade, revela Jesus que dali a pouco tempo, sendo Deus onipotente e imortal, será entregue para ser morto nas mãos dos homens. Mas o Senhor não o diz como se fora um ponto mais da sua doutrina, senão que pede aos discípulos que o escutem com a máxima atenção: “Prestai bem atenção às palavras que vou dizer”. O original grego enfatiza ainda mais esse apelo de Cristo: “Θέσθε ὑμεῖς εἰς τὰ ὦτα ὑμῶν τοὺς λόγους τούτους”, isto é: “Metei bem dentro dos vossos ouvidos estas palavras”, porque há verdades do Evangelho, como a Paixão, e exigências da vida cristã, como a cruz de cada um, que preferíramos não crer nem praticar. Como os Apóstolos, cremos em Cristo; mas, como eles, queremos um Cristo sem cruz e um cristianismo sem corpo. 
Como Pedro e os outros onze, somos cristãos de palavra, mas não ainda de coração, pois a fé que não dói, como é a de confessar a Cristo como Deus, não é lá muito difícil de praticar; mas “a fé que se não pode praticar sem dor”, como é a de crer num Deus crucificado para com Ele nos crucificarmos, “é muito dificultosa de admitir” (Pe. Antônio Vieira, Sermda Quinta Dominga da Quaresma, de 1651, §5). Pode até ser, e é verdade, que a fé com que cremos em Cristo nos mande crer também em sua Paixão, mas essa fé, se é suficiente para nos fazer crentes, não é contudo o bastante para nos fazer cristãos: porque, além de crermos em sua Paixão, quer o Senhor que mortifiquemos as nossas: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24), e por isso diz aos Apóstolos: “Metei bem dentro dos vossos ouvidos estas palavras”, isto é: “Não vos limiteis a ouvi-las; antes, recebei-as de tal modo que as possais viver, por mais dolorosas que sejam. É bom que creiais em mim, como Deus e Senhor, mas para isto vos basta um só ato sobrenatural, e o que eu quero dos meus discípulos é que façam muitos, contra a sua natureza e o seu orgulho, porque se é fácil, para crer em mim, vencer uma vez o entendimento, é muito difícil, para ser cristão, vencer continuamente a própria vontade”. Que prestemos hoje bastante atenção e metamos bem dentro dos ouvidos o anúncio que nos faz o Senhor: O “Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. E que a fé com que cremos na crucifixão do Senhor nos leve, como a cristãos de verdade, a tomarmos nós a nossa cruz às costas, com os olhos fixos na promessa: “Aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la” (Mt 16, 25).

https://padrepauloricardo.org

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Festa - Santos Miguel, Gabriel e Rafael, Arcanjos - Arcanjos

 


Bendizei ao Senhor, mensageiros de Deus, heróis poderosos que cumpris suas ordens, sempre atentos à sua palavra (Sl 102,20).

A liturgia une, numa só comemoração, São Miguel, que lutou contra as forças do mal, São Gabriel, o mensageiro do maior evento da história, a encarnação de Jesus, e São Rafael, que acompanhou e protegeu na viagem o jovem Tobias e curou-lhe o pai cego. Incentivados pela missão desses ministros do Senhor, disponhamo-nos a servir generosamente o Reino de Deus.

Primeira Leitura: Daniel 7,9-10.13-14

Leitura da profecia de Daniel – 9Eu continuava olhando, até que foram colocados uns tronos, e um ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal, e os livros foram abertos. 13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. – Palavra do Senhor.

Leitura opcional: Apocalipse 12,7-12a.

Salmo Responsorial: 137(138)

Perante os vossos anjos, vou cantar-vos, ó Senhor!

1. Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, / porque ouvistes as palavras dos meus lábios! / Perante os vossos anjos vou cantar-vos / e ante o vosso templo vou prostrar-me. – R.

2. Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, / porque fizestes muito mais que prometestes; / naquele dia em que gritei, vós me escutastes / e aumentastes o vigor da minha alma. – R.

3. Os reis de toda a terra hão de louvar-vos / quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa. / Hão de cantar vossos caminhos e dirão: / “Como a glória do Senhor é grandiosa!” – R.

Evangelho: João 1,47-51

Aleluia, aleluia, aleluia.

Bendizei ao Senhor Deus os seus poderes, / seus ministros que fazeis sua vontade! (Sl 102,21) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 47Jesus viu Natanael, que vinha para ele, e comentou: “Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi”. 49Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel”. 50Jesus disse: “Tu crês porque te disse: ‘Eu te vi debaixo da figueira’? Coisas maiores que essa verás!” 51E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Ao celebrarmos hoje a festa dos santos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, a Igreja nos concede a oportunidade de refletir um pouco a respeito do ministério angélico. A Epístola aos Hebreus, com efeito, nos apresenta os anjos como espíritos a serviço de Deus para o bem dos que herdarão a salvação trazida por Cristo (cf. Hb 1, 14). Os anjos exercem, pois, uma forma especial de sacerdócio, quer dizer, servem de pontífices entre Deus e os homens. Já o Livro do Gênesis nos narra que Jacó, tendo tomado o caminho de Harã, pernoita em Betel e tem ali uma visão durante o sono; ele vê uma escada que une o Céu à terra e por ela os anjos do Senhor subiam e desciam (cf. Gn 28, 12): desciam para trazer-nos as mensagens de Deus e subiam para levar-lhe nossas orações. Essa narrativa bíblica realça, como se vê, o caráter "sacerdotal" dos anjos enquanto mensageiros de Deus.

No Evangelho de hoje, por outro lado, Jesus revela a Natanael que Ele é esta escada, a mesma escada com que Jacó sonhara; Ele é o único e verdadeiro Pontífice, pois Cristo é superior a todos os anjos e somente a Ele Deus assim se dirige: "Tu és meu filho" (cf. Hb 1, 5; Sl 2, 7); e somente Ele nos pode chamar irmãos, porque se fez igual ao homem. Por isso, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, apenas Nosso Senhor Jesus Cristo pode ser esta ponte que liga a terra ao Céu. Mas, justamente por isso, não poderíamos nos perguntar se os anjos porventura se tornaram "supérfluos"? Não; os anjos são uma dádiva, um presente concedido à humanidade por Deus, que, pelo seu poder, tudo pode fazer sem o concurso das criaturas; mas, devido à sua bondade e sabedoria, o Senhor chama as obras de suas santas mãos a participar do seu amor, do seu projeto para o mundo. Ele deseja, sim, que estes mensageiros sirvam ao único Pontífice que pode penetrar nos céus.

A imaginação popular costuma achar que os arcanjos são os mais elevados emissários de Deus. A Igreja nos ensina, porém, que eles pertencem à mais inferior das hierarquias angélicas: justamente àquela que está em contato conosco e a nosso serviço. Nesse sentido, celebrar os três grandes arcanjos que as Escrituras nos dão a conhecer, Miguel, Gabriel e Rafael, é na verdade celebrar esta comunhão que Deus deseja para os homens e o mundo espiritual; é também dar-lhe graças pelo inestimável auxílio que os santos anjos nos prestam, pela sua companhia fiel, pela sua proteção constante; é, enfim, reconhecer que só Cristo, Deus e homem, é o laço que faz do Céu e da terra uma grande família.


https://padrepauloricardo.org

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

25ª Semana do Tempo Comum - E se víssemos a Jesus?



 Primeira leitura (Ag 1,1-8)

Início da profecia de Ageu.

1No segundo ano do reinado de Dario, no sexto mês, no primeiro dia, foi dirigida a palavra do Senhor, mediante o profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote: 2“Isto diz o Senhor dos exércitos: Este povo diz: Ainda não chegou o momento de edificar a casa do Senhor”. 3A palavra do Senhor foi assim dirigida, por intermédio do profeta Ageu: 4“Acaso para vós é tempo de morardes em casas revestidas de lambris, enquanto esta casa está em ruínas?

5Isto diz, agora, o Senhor dos exércitos: Considerai com todo o coração, a conjuntura que estais passando: 6tendes semeado muito, e colhido pouco; tende-vos alimentado, e não vos sentis satisfeitos, bebeis e não vos embriagais; estais vestidos e não vos aqueceis; quem trabalha por salário, guarda-o em saco roto. 7Isto diz o Senhor dos exércitos: Considerai, com todo o coração, a difícil conjuntura que estais passando: 8mas subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; ela me será aceitável, nela me glorificarei, diz o Senhor.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Responsório Sl 149,1-2.3-4.5-6a e 9b (R. 4a)

— O Senhor ama seu povo de verdade.

— O Senhor ama seu povo de verdade.

— Cantai ao Senhor Deus um canto novo, e o seu louvor na assembleia dos fiéis! Alegre-se Israel em quem o fez, e Sião se rejubile no seu Rei!

— Com danças glorifiquem o seu nome, toquem harpa e tambor em sua honra! Porque, de fato, o Senhor ama seu povo e coroa com vitória os seus humildes.

— Exultem os fiéis por sua glória, e cantando se levantem de seus leitos; com louvores do Senhor em sua boca; eis a glória para todos os seus santos.

Evangelho (Lc 9,7-9)

— Aleluia, Aleluia, Aleluia.

— Sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. (Jo 14,6)
 

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 7o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou perplexo, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. 8Outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus.

Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

No Evangelho de hoje, procura o tetrarca Herodes ver Jesus; no de amanhã, confessa-o S. Pedro como o Filho de Deus. Hoje, movido de curiosidade, um rei quer ver aquele de quem tanto se fala; amanhã, movido pela graça, um apóstolo crê naquele a quem tantos vinham sem poder crer. Nesta diferença entre um e outro Evangelho vemos o pouco que vale ver Jesus com os olhos da carne se não o podemos ver com os da . Com efeito, viam as multidões de Israel os milagres de Cristo, mas porque não tinham olhos para ver, pensavam ser Ele ou João Batista ressuscitado ou o profeta Elias ou alguns dos profetas trazidos de volta à vida. Mesmo diante de tantos sinais, de tantas evidências, não puderam as turbas ver o que só Pedro poderá amanhã, iluminado pelo Pai do céu: “Tu és o Cristo de Deus” (Lc 9, 20). Também o tetrarca Herodes, como muitos de nós, quer ver Nosso Senhor, não porque cresse no que dele se falava, mas para satisfazer a curiosidade dos olhos e para, vendo, decidir se iria ou não crer. Herodes, é certo, terá ainda a chance de ver Nosso Senhor pouco antes da Paixão, mas morrerá sem nunca ter sabido quem de fato era Jesus. Que não seja assim a nossa atitude, mas de humilde submissão à Palavra de Deus, em quem devemos crer, por ser Ele quem diz e atesta o que diz, sem dele exigir sinais ou provas palpáveis. Porque mesmo que, como Tomé, tivéssemos o privilégio de contemplar em carne visível a Cristo, ainda assim precisaríamos da graça para, também como Tomé, crermos na verdade invisível que se revela no Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”. 


https://padrepauloricardo.org

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

São Vicente de Paulo, presbítero - Memória - Por que os sacerdotes têm autoridade?

 


Repousa sobre mim o Espírito do Senhor; ele me ungiu para levar a Boa-nova aos pobres e curar os corações contritos (Lc 4,18).

Vicente nasceu na França em 1581 e lá faleceu em 1660. Ordenado presbítero, exerceu trabalho pastoral junto às populações rurais, vivendo em contato com misérias materiais e morais. Fundou a Congregação da Missão – os Lazaristas – e, juntamente com Santa Luísa de Marillac, as Filhas da Caridade, com o objetivo de servir os abandonados. Mirando seu exemplo, peçamos ao Senhor forças para nos empenharmos em favor dos excluídos da sociedade.

Primeira Leitura: Esdras 9,5-9

Leitura do livro de Esdras – 5Na hora da oblação da tarde, eu, Esdras, levantei-me da minha prostração. E, com as vestes e o manto rasgados, caí de joelhos, estendi as mãos para o Senhor, meu Deus. 6E disse: “Meu Deus, estou coberto de vergonha e confusão ao levantar a minha face para ti, porque nossas iniquidades multiplicaram-se acima de nossas cabeças e nossas faltas se acumularam até o céu. 7Desde os tempos de nossos pais até este dia, uma grande culpa pesa sobre nós: por causa de nossas iniquidades, nós, nossos reis e nossos sacerdotes, fomos entregues às mãos dos reis estrangeiros, à espada, ao cativeiro, à pilhagem e à vergonha, como acontece ainda hoje. 8Mas agora, por um breve instante, o Senhor nosso Deus concedeu-nos a graça de preservar dentre nós um resto e de permitir que nos fixemos em seu lugar santo. Assim o nosso Deus deu brilho aos nossos olhos e concedeu-nos um pouco de vida no meio de nossa servidão. 9Pois éramos escravos, mas em nossa servidão o nosso Deus não nos abandonou. Antes, conseguiu para nós o favor dos reis da Pérsia, deu-nos bastante vida para podermos reconstruir o templo do nosso Deus e restaurar suas ruínas e concedeu-nos um abrigo seguro em Judá e em Jerusalém”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Tb 13

Bendito seja Deus, que vive eternamente!

1. Vós sois grande, Senhor, para sempre, / e vosso reino se estende nos séculos! / Porque vós castigais e salvais, / fazeis descer aos abismos da terra / e de lá nos trazeis novamente: / de vossa mão nada pode escapar. – R.

2. Vós que sois de Israel, dai-lhe graças / e por entre as nações celebrai-o! / O Senhor dispersou-vos na terra / para narrardes sua glória entre os povos / e fazê-los saber, para sempre, / que não há outro Deus além dele. – R.

3. Castigou-nos por nossos pecados, / seu amor haverá de salvar-nos. / Compreendei o que fez para nós, / dai-lhe graças com todo o respeito! – R.

4. Bendizei o Senhor, seus eleitos, / fazei festa e alegres louvai-o! – R.

Evangelho: Lucas 9,1-6

Aleluia, aleluia, aleluia.

Convertei-vos e crede no Evangelho, / pois o Reino de Deus está chegando! (Mc 1,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 1Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças 2e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos. 3E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem mesmo duas túnicas. 4Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo. 5Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés como protesto contra eles”. 6Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa-nova e fazendo curas em todos os lugares. – Palavra da salvação.

Reflexão:
Hoje, vemos enviados ao povo do antigo Israel os doze Apóstolos, com a missão de o reunir no novo, ou seja, na Igreja de Cristo. Notemos, porém, o que diz o evangelista S. Lucas ao abrir este capítulo. “Naquele tempo”, escreve ele, “Jesus convocou os doze” e só depois os “enviou a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos”. Os Apóstolos, como indica o próprio nome, são enviados de Cristo, mas porque foram antes por Ele convocados. E o que significa ser convocado? Significa receber de Cristo, pela especial vocação ao sacerdócio, poder e autoridade: poder para expulsar demônios e curar doenças e autoridade para pregar o Evangelho a toda a criatura, poder para santificar e autoridade para falar das coisas santas. Por isso reza a Igreja, ao impôr as mãos sobre a cabeça dos ordenandos, que Deus renove neles o espírito de santidade, porque é esta que constitui a essência e o fim das Ordens sagradas, isto é, o ser santo, com uma vida que para todos seja exemplo, para fazer igualmente santos aos outros. Sinal disto o encontramos na expressão “autoridade”, que em grego se diz ἐξουσία, a qual denota não um poder despótico, mas a manifestação (ἐξ) daquilo que o sacerdote é chamado a ser (ουσία), isto é, santo e, por isso mesmo, outro Cristo — alter Christus —, capaz de libertar o endemoniados e sanar os enfermos, de pregar o Evangelho e fazê-lo convencer os corações. Que, fiéis à essência da sua vocação, possam os nossos padres ter uma vida santa, como corresponde a quem, convocado por Cristo, deve tê-lo sempre como modelo e, por Ele enviado, deve sempre ser para todos exemplo de todas as virtudes. Que, pela intercessão de Maria SS., se unam eles cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote, que por nós se ofereceu ao Pai como vítima santa, e com Ele se consagrem a Deus para a salvação dos homens.

https://padrepauloricardo.org

terça-feira, 26 de setembro de 2023

25ª Semana do Tempo Comum - Maria, bem-aventurada porque creu.

 


Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.

O esforço comum e o templo de Deus reedificado originam grandiosa e alegre celebração. Celebrando com Cristo a ceia pascal, encontramos as razões para sermos esperança para o mundo, fazendo que todos se sintam parte da família de Deus e ninguém fique de fora da festa da vida.

Primeira Leitura: Esdras 6,7-8.12.14-20

Leitura do livro de Esdras – Naqueles dias, 7o rei Dario escreveu ao governador do território da outra margem do rio Eufrates: “Deixa que prossigam os trabalhos no templo de Deus. Que o governador de Judá e os anciãos dos judeus edifiquem a casa de Deus no seu lugar. 8Também ordenei como se deve proceder com aqueles anciãos dos judeus que constroem aquela casa de Deus: com os bens do rei, deveis reembolsar religiosamente e sem interrupção aqueles homens por tudo o que gastarem. 12Eu, Dario, dei esta ordem. Que ela seja pontualmente executada!” 14E os anciãos dos judeus continuaram a construir, com êxito, de acordo com a profecia de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ado, e puderam terminar a construção conforme a ordem do Deus de Israel e as ordens de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, reis da Pérsia. 15Esta casa de Deus foi concluída no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario. 16Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e o resto dos repatriados celebraram com alegria a dedicação desta casa de Deus. 17Ofereceram, para a inauguração desta casa de Deus, cem touros, duzentos carneiros, quatrocentos cordeiros e, como sacrifício pelo pecado de todo o Israel, doze bodes, segundo o número das tribos de Israel. 18Estabeleceram também os sacerdotes, segundo suas categorias, e os levitas, segundo suas classes, para o serviço de Deus em Jerusalém, como está escrito no livro de Moisés. 19Os deportados celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês. 20Como todos os levitas se haviam purificado, juntamente com os sacerdotes, estavam puros; e, assim, imolaram a Páscoa para todos os filhos do cativeiro, para os sacerdotes seus irmãos e para eles próprios. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 121(122)

Que alegria quando me disseram: / “Vamos à casa do Senhor!”

1. Que alegria quando ouvi que me disseram: / “Vamos à casa do Senhor!” / E agora nossos pés já se detêm, / Jerusalém, em tuas portas. – R.

2. Jerusalém, cidade bem edificada / num conjunto harmonioso; / para lá sobem as tribos de Israel, as tribos do Senhor. – R.

3. Para louvar, segundo a lei de Israel, / o nome do Senhor. / A sede da justiça lá está / e o trono de Davi. – R.

Evangelho: Lucas 8,19-21

Aleluia, aleluia, aleluia.

Feliz quem ouve e observa a Palavra de Deus! (Lc 11,28) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 19a mãe e os irmãos de Jesus aproximaram-se, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. 20Então anunciaram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver”. 21Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. Essas palavras que nos refere hoje o Evangelho não significam, como poderíamos ser tentados a pensar, que Jesus despreze ou faça pouco caso de sua Mãe. Ao contrário, contêm o maior elogio que a Maria se pode fazer, pois ninguém, depois de Cristo, cumpriu de maneira tão perfeita a Palavra de Deus como ela. Com isto, Jesus nos quis dizer duas coisas, a saber: a) que em seu ministério público como Messias não depende dos laços de sangue, mas somente da vontade de seu Pai celeste, b) e que o parentesco mais profundo e verdadeiro com Ele se estabelece pelos vínculos da graça divina, muito mais do que pelos vínculos da carne. Nesse sentido, pode-se dizer que Maria era mais parente de Jesus pela plenitude imensa de graça que a fazia tão agradável a Deus do que pelo fato de o ter concebido em suas entranhas virginais e dado à luz em Belém. Encontramos essa mesma doutrina na resposta que, em situação muito parecida, dá Jesus ao grito entusiasmado de uma mulher do povo: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!” (Lc 11, 27). Ao dizer, com efeito, que são mais “bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam” (Lc 11, 28), o Senhor não nega o elogio feito à sua Mãe SS., mas dele se aproveita para ensinar que os vínculos sobrenaturais que estabelece a graça divina em quem ouve a Palavra de Deus e a põe em prática são, em si mesmos, mais valiosos e profundos do que os vínculos estabelecidos naturalmente pelo parentesco de sangue. Ora, a Virgem SS. possui em grau superlativo esses dois vínculos: ela é Mãe na ordem natural, por ter concebido a Cristo em seu puríssimo seio, e cheia de graça na ordem sobrenatural. Por isso, não só tinha a razão a mulher que gritou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe”, senão que Jesus mesmo o confirma, acrescentando que Maria, além de bendita por ser Mãe, é ainda mais bem-aventurada, por ser a primeira dos que “ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” [1].

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de Antonio Royo Marín, La Virgen María. 2.ª ed., Madrid: BAC, 1997, pp. 29-30, n. 21.