quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Liturgia Diária - Quem quiser ser o maior...

 Resultado de imagem para jesus e discípulos
1a Leitura - Jeremias 18,18-20
Leitura do livro do profeta Jeremias.
18 18 “Vinde, disseram então, e tramemos uma conspiração contra Jeremias! Por falta de um sacerdote não perecerá a lei, nem pela falta de um sábio, o conselho, ou pela falta de um profeta, a palavra divina. Vinde e firamo-lo com a língua, não lhe demos ouvidos às palavras!”
19 Senhor, ouvi-me! Escutai o que dizem meus inimigos.
20 É assim que pagam o bem com o mal? Abrem uma cova para atentar-me contra a vida. Lembrai-vos de que ante vós me apresentei a fim de por eles interceder e deles afastar a vossa cólera.
Palavra do Senhor.

Salmo - 30/31
Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!
Retirai-me desta rede traiçoeira,
porque sois o meu refúgio protetor!
Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito,
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!

Ao redor, todas as coisas me apavoram;
ouço muitos cochichando contra mim;
todos juntos se reúnem, conspirando
e pensando como vão tirar-me a vida.

A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
Eu entrego em vossas mãos o meu destino;
libertai-me do inimigo e do opressor!

Evangelho - Mateus 20,17-28
Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 20 17 subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:
18 “Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.
19 E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará”.
20 Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.
20 21 Perguntou-lhe ele: “Que queres?” Ela respondeu: “Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”.
22 Jesus disse: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber?” “Sim”, disseram-lhe.
23 “De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou”.
24 Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.
25 Jesus, porém, os chamou e lhes disse: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.
26 Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.
27 E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.
28 Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão”.
Palavra da Salvação.
 
Quem quer ser o maior? Bom. Na nossa sociedade, quem quer vencer na vida, deve: estudar bastante, treinar muito, se esforçar para passar nos exames, nos testes, nas provas, nas competições.
Estes são os métodos usados por aqueles que são justos ou quase corretos, para vencer na vida.
Porém, sabemos que nem todos usam de métodos justos para atingir seus objetivos de chegar lá, de enriquecer, de subir no topo da escada da vida.
Muitos roubam, e como roubam! Sejam roubos diretos a mão armada, sejam roubos disfarçados de gorjetas gigantes que recebem o nome de PROPINAS, seja por medidas mal disfarçadas pelas quais se metem a mão no dinheiro do povo.
Tudo isso para satisfazer a necessidade psicológica que temos de sermos melhores que os outros. Faz parte da competição para vencer a corrida. Uns usam métodos normalmente honestos, enquanto outros lançam mãos de métodos e práticas desonestas.
Infelizmente isso é a vida que vivemos. O mal está misturado com o bem, de forma que muitas vezes fica difícil saber quem é quem. Podemos estar lidando com pessoas altamente perigosas, e pensando que são pessoas boas e justas.
Jesus nos apresenta um plano completamente contrário. Para ser o melhor, precisamos ser o menor. Para ser primeiro no Reino dos Céus, precisamos ser aqueles que servem, aqueles que são humildes, e acima de tudo, caridosos.
É claro que devemos lutar por uma vida melhor, por um bom emprego, pelo direito de ter uma boa residência, um carro que nos leve aos lugares que precisamos ir, e assim por diante. Tudo isso devemos conseguir com trabalho, oração, dedicação, esforço, tudo isso dentro dos ensinamentos do evangelho, e de acordo com a vontade do Pai.
Em outras palavras, tudo o que adquirimos deve ser com muita honestidade, com toda boa intenção.
O verdadeiro cristão é aquele que coloca a sua vida e os seus bens de forma disponível, caso o irmão necessite de ajuda em caso de calamidade ou tragédia.
Podemos e merecemos ter conforto, e uma vida digna. Mas nunca devemos nos fechar de modo que ignoremos o sofrimento do outro da outra que estão pertos de nós.
O que temos não nos pertence, pois tudo foi presente de Deus. Se o nosso irmão estiver passando necessitado, devemos como cristãos que somos, ofertar a ele ou a ela, uma parte dos nossos bens, para que eles tenham os seu sofrimento reduzido, aliviado.
Isso foi o que Jesus nos disse, isso é a fazer a vontade do Pai.
Amar uns aos outros não é somente sorrir, não é somente abraçar, e agradar com palavras bonitas. Mas acima de tudo com gestos de caridade, de doação, de ajuda nas horas difíceis.
  José Salviano.
 

O poder transformador das lágrimas que brotam do coração

  
Lagrima-010“Toda lágrima nasce do coração. Nenhum membro corporal é tão sensível aos impulsos do coração como os olhos; se o coração sofre, logo eles o revelam”. Santa Catarina de Sena

Não há quem nunca tenha chorado. Você sabia que no parto, que assim que nasce o bebê, o obstetra aspira sua boquinha e nariz para limpar todas as secreções e desobstruir as vias aéreas da criança e facilitar assim, sua primeira aspiração de ar? O recém-nascido deve começar a chorar no seu primeiro minuto de vida fora do útero. Chorar significa capacidade de respirar. E conseguir respirar significa viver. Então, se hoje posso chorar, é porque estou vivo. Já pensou nisso?
Penso que a expressão mais significativa do coração humano são as lágrimas. Elas falam todas as línguas, independem de idade, sexo, etnia, classe social e expressam todos os tipos de sentimentos: alegria, tristeza, luto, saudade, ódio, decepção, desespero, injustiça, vitória, emoção diante do bem, arrependimento, súplica, pedido de perdão… Parece que quando tudo falha, vêm as lágrimas, como um último recurso, a última esperança.
Podemos até dizer que as lágrimas mudam os fatos da história sagrada. Veja bem, a rainha Ester conquistou o coração do rei Assuero com suas lágrimas e salvou o seu povo da morte. “Prostrada a seus pés, desfeita em lágrimas, lhe suplicava que destruísse as maquinações que Amã tinha perversamente urdido contra os judeus”. O rei estendeu o cetro de ouro a Ester, a qual se pôs em pé diante dele e atendeu o pedido dela. (Ester 8,3s)
Judite derramou lágrimas diante de Deus e salvou o seu povo do malvado Holofernes. “De pé ao lado do leito, movendo em silêncio os lábios, ela orou com lágrimas a Deus… (Judite 13,6). E recomendou a seu povo: “o Senhor é paciente; façamos, pois, penitência por isso e peçamos-lhe perdão com lágrimas nos olhos” (Judite 8,14).
Penso que as lágrimas mais belas são as de arrependimento de quem volta para Deus. São lágrimas que arrancam muitas lágrimas. Quando o povo de Deus se afastava dele para adorar os ídolos, os profetas clamavam: “Por isso, agora ainda, voltai a Mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto”. (Joel 2,12).
A bela Suzana, caluniada e condenada à morte injustamente, debulhada em lágrimas, mas com o coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu e foi salva pela intervenção de Daniel ( Dan 13,35).
Até Jesus chorou! Chorou de tristeza ao ver que a sua Jerusalém (Lc 19,41) não reconhecia o seu Deus e não se convertia apesar de tanto amor e tantos milagres… Chorou de comoção quando seu amigo Lázaro morreu (Jo 11,35). Pedro também chorou lágrimas de arrependimento por negar Jesus três vezes.
E Jesus também ficava tocado com as lágrimas. Na casa do fariseu Simão, voltando-se para a mulher que chorava as seus pés, em lágrimas, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos… Por isso te digo: seus numerosos pecados foram perdoados porque demonstrou muito amor”. (Lc 7,44)

E ainda há quem diga que chorar é sinal de fraqueza… Como pode?
O choro é uma confissão. Você externaliza um sentimento que antes era só seu, e sem palavras, você o revela. E revelar um sentimento é mais difícil do que esconder. É preciso coragem. Talvez seja por isso que algumas pessoas tenham dificuldade de chorar.
As lágrimas são “um tributo na natureza”, não há como não chorar diante da morte, do fracasso, da dor, da decepção, da traição… elas não são sinal de fraqueza; mas elas não devem ser as portas abertas para o desespero e o desânimo. Podemos chorar abundantemente, mas na fé.
Costumo chamar a capela do Santíssimo, na Catedral onde frequento, de “Capela das lágrimas”; pois sempre encontro ali alguém chorando no silêncio do Sacrário. Não há lugar melhor para chorar, seja de tristeza ou de alegria. Não há Alguém melhor para encontrar consolo e compreensão, afinal, Ele também chorou…
Como é bonito ver ali, pessoas em lágrimas, mas buscando forças, consolo, direção e ânimo diante de Jesus sacramentado. Ali tudo pode ser mudado! Ele é o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores. Elas estão certas: “Vinde a Mim, disse o Mestre, vocês que estão cansados e sobrecarregados”. Não se canse de “incomodar” o Mestre. Ele quer ser incomodado.
Santo Agostinho disse que sua mãe todos os dias derramava suas lágrimas diante do Santíssimo pedindo que ele se convertesse. Ele escreveu em suas confissões que certa vez, preocupada com sua adesão à heresia maniqueísta, sua mãe procurou a ajuda de um bispo, instando-o para que conversasse com ele e o convencesse do erro dessa doutrina. O bispo se negava a fazê-lo, dizendo que o rapaz descobriria por si mesmo o engano em que se encontrava. Mas, Mônica não se contentava e continuava suplicando ao bispo que fizesse alguma coisa. “Já com certo enfado de sua insistência”, ele respondeu à santa: “Vai-te em paz, mulher, e continua a viver assim, que não é possível que pereça o filho de tantas lágrimas”. Suas lágrimas eram preces silenciosas que tocavam o Coração de Jesus. Pode haver oração mais forte?
“As suas lágrimas eram o sangue do seu coração destilado nos seus olhos”, disse Santo Agostinho. Esta oferta tocou o coração de Deus, e Ele nos deu o grande bispo, filósofo, santo e doutor da Igreja.
Regue você também com suas lágrimas as suas preces e as lance confiantemente no coração misericordioso de Jesus. Assim canta o salmista: “Pela tarde, vem o pranto visitar-nos, mas, de manhã, volta a alegria” (Sl 30,6). Então, não perca suas esperanças…
Quando você não souber mais o que fazer, e as suas lágrimas forem abundantes, mesmo com o coração apertado, olhe para Aquela cujo coração foi transpassado pela espada da dor, mas que continuou “de pé” aos pés da Cruz, sem desespero e sem desânimo. Entregue a nossa Mãe, suas dores e suas lágrimas, e deixe que Ela cuide tudo.





Prof. Felipe Aquino


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

liturgia diaria - A hipocrisia dos judeus

 Resultado de imagem para Mateus 23,1-12
1a Leitura - Isaías 1,10.16-20
Leitura do livro do profeta Isaías.
1 10 Ouvi a palavra do Senhor, príncipes de Sodoma; escuta a lição de nosso Deus, povo de Gomorra:
16 lavai-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos.
17 Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.
18 Pois bem, justifiquemo-nos, diz o Senhor. Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve! Se forem vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã!
19 Se fordes dóceis e obedientes, provareis os melhores frutos da terra;
20 se recusardes e vos revoltardes, provareis a espada. É a boca do Senhor que o declara.
Palavra do Senhor.

Salmo - 49/50
A todos que procedem retamente
eu mostrarei a salvação que vem de Deus.

“Eu não venho censurar teus sacrifícios,
pois sempre estão perante mim teus holocaustos;
não preciso dos novilhos de tua casa
nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos.

Como ousas repetir os meus preceitos
e trazer minha aliança em tua boca?
Tu que odiaste minhas leis e meus conselhos
e deste as costas às palavras dos meus lábios!

Diante disso que fizeste, eu calarei?
Acaso pensar que eu sou igual a ti?
É disso que te acuso e repreendo,
e manifesto essas coisas aos teus olhos.

Quem me oferece um sacrifício de louvor,
este, sim, é que me honra de verdade.
A todo homem que procede retamente
eu mostrarei a salvação que vem de Deus.”

Evangelho - Mateus 23,1-12
Salve, ó Cristo, imagem do Pai, a plena verdade nos comunicai!
Lançai para bem longe toda a vossa iniqüidade! Criai em vós um novo espírito e um novo coração! (Ez 18,31).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 23 1 dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos, disse:
2 “Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3 Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.
4 Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5 Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6 Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas.
7 Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.
8 Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós sois todos irmãos.
9 E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.
11 O maior dentre vós será vosso servo.
12 Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado”.
Palavra da Salvação.
 
Reflexão
 
Os judeus seguiam ao pé da letra as tradições criadas por eles mesmos. Essas tais tradições eram tradições falsas, pois eles praticavam um culto totalmente hipócrita.
Para se ter ideia da esperteza hipócritas dos judeus, tomemos como exemplo, o quarto mandamento, “Honrar pai e mãe!
Veja só o que eles fizeram deste mandamento: para se livrar de ter de sustentar os pais, inventaram um tal de CORBÃ.
O Corbã era um voto através do qual o indivíduo consagrava a Deus os seus bens materiais, parecido com o tombamento de uma construção histórica. Uma vez  consagrado, nenhum bem material poderia ser usado, e deveria ser reservado ao tesouro do Templo.
Com essa prática hipócrita de louvor a Deus, aparentemente Deus seria louvado, porém, os pais ficavam privados do auxílio dos filhos,  passando fome, e demais necessidades.
Desse modo, a pessoa que fazia essa promessa, esse voto, ficaria dispensada do sustento aos seus pais em sua velhice.
Jesus classificou essas práticas religiosas de pura hipocrisia, pois eram práticas falsas aos olhos de Deus. Foi por isso e por outras modalidades de hipocrisias, que Jesus disse: “Eu quero caridade e não sacrifícios”.
Pois fazer sacrifícios em louvor a  Deus e ignorar o sofrimento do irmão, é uma atitude completamente falsa, que não agrada nem um pouco ao Pai.
Os mandamentos são dois: Amar a Deus e amar o irmão. Um não pode existir sem o outro.
A hipocrisia sempre foi combatida por Jesus. Pois é inadmissível que um cristão ensine uma coisa e viva outra completamente o contrário. Isso é o mesmo que viver uma vida dupla.
O testemunho é o primeiro e mais eloquente discurso que uma pessoa de fé pode oferecer aos que lhe ouvem. Testemunhar uma vida que corresponda ao que pregamos é indispensável para que a semente da palavra produza frutos nas mentes de quem as ouvem.
Você é um anunciador da palavra de Deus, seu conteúdo é pesquisado, refletido, meditado, e acima de tudo VIVIDO?
Parabéns! Vai em frente, pois o seu discurso, a sua catequese está agradando ao Pai. A sua catequese está fazendo com que  você receba cem vezes mais nesta vida e ainda a vida eterna.
Rezemos para que todos os pregadores levem a sério esta prudência de  uma fé vivida. Uma prática da fé com a devida responsabilidade de um cristão autêntico.
 
 
 
José Salviano.

Sem as 14 obras de misericórdia, a nossa fé é pura falsidade


Você tem certeza de que conhece e pratica todas e cada uma delas?

Uma das heresias que mais caracterizam as vertentes “alternativas” do cristianismo é a que prega a chamada “sola fides“, expressão em latim que significa “somente a fé“. Segundo esta heresia, a fé sozinha bastaria para nos salvar, sem necessidade alguma de realizarmos boas obras.
A fé católica, no entanto, é explícita ao destacar que as boas obras são indispensáveis para a salvação: “A fé, sem obras, é morta“.
Esta verdade está claramente escrita na Carta de São Tiago, capítulo 2, versículo 17: “Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma“.
De nada adianta declarar fé da boca para fora e não praticar boas obras, pois Deus nos julgará pelos nossos atos e omissões, não apenas pelas nossas alegações teóricas.
Cristo mesmo nos alertou a este respeito com perfeita objetividade em várias passagens do Evangelho, sendo uma das mais conhecidas a de Mateus 25, 34-46:

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; adoeci e me visitastes; estive na prisão e me fostes visitar’.
Então os justos lhe responderão, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te?’
E, respondendo o Rei, lhes dirá: ‘Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes’.
Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes’.
Então eles também lhe responderão, dizendo: ‘Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?’
Então lhes responderá, dizendo: ‘Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim’.
E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”.

Este é o texto dos Evangelhos que define as assim chamadas “7 obras de misericórdia corporais“.
O Catecismo de São Pio X destaca a importância imprescindível dessas obras e também das 7 obras de misericórdia espirituais, em seus seguintes números do Capítulo IV (chamado, precisamente, “Das obras de misericórdia”):
Nº 937 – Quais são as boas obras de que se nos pedirá conta particular no dia do Juízo?
As boas obras de que se nos pedirá conta particular no dia do Juízo são as obras de misericórdia.
Nº 938 – Que se entende por obra de misericórdia?
Obra de misericórdia é aquela com que se socorre o nosso próximo nas suas necessidades corporais ou espirituais.
Nº 939 – Quantas são as obras de misericórdia?
As obras de misericórdia são catorze: sete corporais e sete espirituais, conforme são corporais ou espirituais as necessidades que se socorrem.
Nº 940 – Quais são as obras de misericórdia corporais?
As obras de misericórdia corporais são:
1ª Dar de comer a quem tem fome;
2ª Dar de beber a quem tem sede;
3ª Vestir os nus;
4ª Dar pousada aos peregrinos;
5ª Assistir aos enfermos;
6ª Visitar os presos;
7ª Enterrar os mortos.
Nº 941 – Quais são as obras de misericórdia espirituais?
As obras de misericórdia espirituais são:
1ª Dar bom conselho;
2º Ensinar os ignorantes;
3ª Corrigir os que erram;
4ª Consolar os aflitos;
5ª Perdoar as injúrias;
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos.

Em resumo, como bem disse São João da Cruz: “Ao entardecer desta vida, seremos julgados pelo amor“.
E não pelo que dizemos da boca para fora.




Francisco Vêneto 

Pode haver milagres fora da Igreja Católica?

PIXABAY

Como explicar os milagres que acontecem em outras religiões? O especialista responde

D. Estevão Bettencourt, osb, monge beneditino falecido, respondeu essa pergunta em um dos seus artigos da Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” (Nº 6, Ano 1958, Página 223). Aqui coloco um resumo do seu artigo.
Ele explica que o milagre propriamente dito “é um fenômeno estranho ao curso natural das coisas, fenômeno que Deus produz como sinal da sua presença e ação neste mundo. É sempre um testemunho que Deus dá em favor de uma verdade ou de uma pessoa. Em consequência, escapam à qualificação de “milagre” certos fatos que, embora sejam admiráveis, não têm significado religioso, não elevam a Deus, mas, ao contrário, só servem para satisfazer ao capricho ou à vaidade de alguém. Quando Deus efetua prodígios o faz sempre a fim de chamar a atenção do homem para algum dos atributos divinos”.
“Os teólogos afirmam que o milagre pode ocorrer tanto dentro da Igreja (entre os fiéis católicos) como fora desta (entre não católicos; hereges, cismáticos, pagãos), embora seja raro. Quando o milagre acontece fora da Igreja Católica – é sempre Deus quem o produz – o seu testemunho não redunda em abono dos erros do paganismo ou da heresia, mas em favor da verdade, verdade que em plenitude é possuída pela Igreja Católica; o milagre produzido fora desta adquire assim um valor construtivo, é sinal da autêntica revelação e tende a levar à única Igreja de Cristo”, diz Dom Estevão.
Ele cita São Tomás (De potentia 6,5 ad 5), por exemplo, quando ensina que “Deus pode realizar um milagre para confirmar simplesmente uma verdade da religião natural (ou seja, uma verdade religiosa que o homem por sua inteligência natural reconhece) ou para atestar o valor da virtude praticada sinceramente por quem de boa fé vive fora do Catolicismo; e cita o caso, narrado por S. Agostinho (De civ. Dei 10,26), conforme o qual uma vestal de Roma (virgem consagrada ao serviço da divindade), para comprovar a conservação de sua pureza, havia conseguido carregar água do rio Tibre num vaso perfurado… São Tomas assim comenta tal notícia: “Não está excluído que, para exaltar a castidade, o Deus verdadeiro, por meio de seus anjos, tenha realizado o milagre de deter as águas; pois, se floresceu alguma virtude entre os gentios, floresceu por dom de Deus”.”
Isto significa que quem fora da Igreja procura sinceramente a Deus, seguindo a sua consciência com toda a boa fé, encontra a Deus, o único Deus da Revelação cristã. Este então, caso julgue oportuno, pode, por meio de um milagre, dar testemunho público das sinceras disposições de tal servo seu.
Dom Estevão chama a atenção para não se confundir milagre com causas naturais que podem ser forças latentes na alma, poderes naturais ainda pouco conhecidos e exploradas pela Psicologia; os fenômenos chamados paranormais como a telepatia, a radiestesia, a transmissão de pensamento, a clarividência do passado e do presente, as curas por sugestão… Às vezes estes fenômenos são tidos como milagres e atribuídos a mensageiros do Além erroneamente.
Ele chama a atenção também para os casos da intervenção de anjos ou demônios (que só se verifica por especial permissão de Deus), “os fenômenos são chamados preternaturais (além dos naturais) por exemplo, a descrição de acontecimentos futuros previsíveis, a indicação de formulas farmacêuticas e terapêuticas que excedem os conhecimentos da ciência humana, a transposição de objetos e pessoas de um lugar para outro… Tais efeitos estão certamente ao alcance dos anjos bons e maus, que, possuindo inteligência superior à do homem, podem, melhor do que nós, penetrar nos segredos da natureza; possuem também raio de ação mais amplo que o do homem”.
“Os fenômenos preternaturais podem-se verificar, por permissão do Senhor, tanto dentro como fora da Igreja Católica. Não há dúvida, ocorrem em alguns processos do espiritualismo; ocorrem também em formas de curandeirismo, que invoca explicitamente os espíritos maus e usa da magia negra. Jesus mesmo predisse que “surgiriam falsos Cristo e falsos profetas, os quais fariam grandes sinais e prodígios de modo a seduzir, se fosse possível, até os eleitos” (cf. Mt 24,24); São Paulo atribui semelhantes poderes ao Homem Iníquo por excelência, que se manifestara no fim dos tempos:
“Então o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor da sua vinda. A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar.” (2Tes 2,8-10).
Dom Estevão explica ainda que “se Deus permite a realização de portentos (não milagres no sentido estrito) por parte dos anjos maus ou demônios, Ele a permite para comprovar e purificar a fé dos homens. Deus nunca poderia permitir que o homem seja, por obra dos espíritos maus, invencivelmente levado ao erro no tocante à religião e à salvação eterna. Entre os principais critérios de discernimento, enumeram-se os seguintes: os prodígios realizados pelo demônio são geralmente cercados de ritos e praticas supersticiosas, fórmulas e receitas evocadoras; o conteúdo das respectivas mensagens não leva a Deus e a Cristo… A procura de tais portentos deixa geralmente a pessoa perturbada, inquieta… Ao contrário, os prodígios realizados por Deus e pelos anjos bons são geralmente imprevistos; acontecem sem evocação nem provocação alguma, sem ostentação, como os de Fátima, Lourdes, La Salette, etc.” É, sem dúvida, pelos frutos que se reconhece à árvore!”Acrescento aqui o que disse o Concílio Vaticano II, nos documentos “Unitatis redintegratio” e na “Lumen gentium”:
Além disso, “muitos elementos de santificação e de verdade (LG 8) existem fora dos limites visíveis da Igreja católica”: “A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis” (UR,3; LG,15). O Espírito de Cristo serve-se dessas igrejas [ortodoxas] e comunidades eclesiais [protestantes] como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a “unidade católica”(LG 8). (Cat. n. 819)




(via Felipe Aquino)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Liturgia Diária - Sejam misericordiosos

 Resultado de imagem para jesus e discípulos
1a Leitura - Daniel 9,4-10
Leitura da profecia da Daniel.
9 4 "Supliquei ao Senhor, meu Deus, e fiz-lhe minha confissão nestes termos: Ah! Senhor, Deus grande e temível, que sois fiel à aliança e que conservais vossa misericórdia àqueles que vos amam e guardam vossos mandamentos:
5 nós pecamos, prevaricamos, cometemos maldade, fomos recalcitrantes, desviamo-nos de vossos mandamentos e de vossas leis.
6 Não escutamos vossos servos, os profetas, que falaram em vosso nome a nossos reis, a nossos chefes, a nossos antepassados e a todo o povo da terra.
7 A vós, Senhor, a justiça, e para nós a vergonha, como hoje acontece ao povo de Judá e de Jerusalém, a todo o Israel, àqueles que estão perto e àqueles que estão longe, em todos os países aonde os haveis dispersado por causa das iniqüidades que cometeram contra vós.
8 Sim, Senhor, para nós a vergonha, para nosso rei, nossos chefes e nossos antepassados, porque pecamos contra vós.
9 Ao Senhor, nosso Deus, as misericórdias e o perdão, porque nós nos rebelamos contra ele.
10 Recusamos ouvir a voz do Senhor, nosso Deus; não seguimos as leis que ele nos oferecia pela boca de seus servos, os profetas".
Palavra do Senhor.

Salmo - 78/79
O Senhor não nos trata como exigem nossas faltas.
Não lembreis as nossas culpas do passado,
mas venha logo sobre nós vossa bondade,
pois estamos humilhados em extremo.

Ajudai-nos, nosso Deus e salvador!
Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos!
Por vosso nome, perdoai nossos pecados!

Até vós chegue o gemido dos cativos:
libertai com vosso braço poderoso
os que foram condenados a morrer!
Quanto a nós, vosso rebanho e vosso povo,
celebraremos vosso nome para sempre,
de geração em geração vos louvaremos.

Evangelho - Lucas 6,36-38
Glória a Cristo, palavra eterna do Pai, que é amor!
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6,63.68)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos 6 36 "Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;
38 dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também".
Palavra da Salvação.
 
Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”.  Isso é possível? Pelo menos podemos tentar. Basta copiar Jesus. Não condenando, não julgando, e perdoando.
Vamos semear a bondade, a caridade, e com certeza, tudo isso vamos colher. Pois é perdoando que se é perdoado, é dando que se recebe.
Do mesmo modo com que tratamos os demais, seremos tratados principalmente pelo Pai que está no Céu e em toda parte, vendo tudo que falamos, fazemos e pensamos.
Por outro lado, é importante aqui lembrar que ser cristão não é ser bobo. Pois tem gente que fica nos observando, e pode se aproveitar da nossa caridade, para nos explorar. Imagine você em seu condomínio, em sua casa, sendo altamente incomodado por aquele vizinho abusado e sem limites. Ele está fazendo isso por saber que você é “bonzinho”, que vive sempre na igreja, e que tem como característica, perdoar.  E aí, na próxima reunião do condomínio, você reclama forte contra aquela injustiça, e o coordenador lhe diz: Olha, vamos perdoar... e tudo fica por isso mesmo? 
Veja. Ser cristão não é ser bobinho, caixa de pancada de nenhum injusto. Nós  precisamos, sim, reclamar os nossos direitos, precisamos denunciar, e isso é copiar Jesus. Lembra quantas vezes Ele enfrentou os fariseus e doutores da Lei, botando o dedo na ferida? Dizendo em público o quando eles eram hipócritas? Lembra de quando Jesus expulsou os vendilhões do Templo?
Copiar Jesus por completo, é ser caridoso, porém é também ter a coragem de denunciar, de reclamar os abusos dos injustos.
Precisamos ter em mente que o cristianismo não é uma ideologia. Mas sim, um modo de vida. Em outras palavras, precisamos viver o que conhecemos, o que sabemos o que pregamos. E essa é a certeza que deve estar sempre presente em nossas mentes, e transformada em atitudes.
A nossa identidade é caracterizada pela nossa vivência do amor fraterno e pela nossa justiça. Sem essa experiência, a nossa fé católica não passará de uma ideologia...
Foi por isso que Jesus nos convidou a sermos misericordiosos como o Pai.
Não podemos nos debruçar sobre a miséria do nosso irmão, e nos vangloriar, agradecendo a Deus por tudo o que temos, sabendo que do nosso lado existem famintos e desabrigados. Essa atitude foi demonstrada por Jesus na parábola do fariseu e o publicano.
Não sejamos como aquele fariseu que se vangloriava de ser perfeito, porém, ignorava ou desprezava o publicano do seu lado.
Para trilhar os passos da santificação, precisamos: não julgar, não condenar, não discriminar, não excluir, perdoar, mais também ser justos e reclamar, apesar de sermos generosos.
E isso é tentar ser perfeitos como o Pai do Céu é perfeito, copiando Jesus. 
 
 
 

  José Salviano..

Senhor, há momentos em que o fardo da vida é tão pesado!

 
Robert Cheaib | CC

Quando a vida lhe parecer dura demais, leia isso

O santo Cura d’Ars, pouco tempo antes de morrer, exclamou:
“Como a vida é triste! Quando vim para a paróquia d’Ars, se tivesse previsto os sofrimentos que me esperavam, morreria de apreensão”
Há muita gente que pode dizer como o santo, depois de ter abraçado um estado de vida penoso, como, por exemplo, o dos casados. E há momentos, Senhor, em que o fardo da vida é tão pesado! Sentimos necessidade de desabafar o coração, suspirando:
“Como a vida é triste!”
Soframos cada dia o que cada dia nos vem. Não estejamos a dar rédeas à nossa imaginação, pensando no futuro, que nem sempre nos é sorridente. “O futuro a Deus pertence”, diz o povo. Abandonemo-nos cegamente nas mãos da Divina Providência. Tudo quanto nos vem do Alto é bom. É para nosso bem. Tudo é bom para o Céu! Santa Teresinha não queria que se chamasse vida a esta vida terrena, mas sim à vida eterna. Sua enfermeira, vendo-a sofrer tanto nos seus últimos dias, suspirou:
“Ah! Como a vida é triste!”
– “A vida não é triste, minha irmã, exclamou Teresinha; é, ao contrário, muito alegre. Se dissésseis que a terra, exílio, é triste, eu vos compreenderia. É um erro dar o nome de vida ao que deve acabar logo. Só as causas do Céu merecem o nome de vida. E por isso a vida não é triste; é alegre, muito alegre” (1)
Vida do Céu! Só ela é verdadeira vida! Vida da terra! Como és triste! Triste como a morte!



Referências:
(1) “Conseils et souvenirs. Sainte Therèse de L’Enfant Jesus” (Conselhos e Lembranças – Santa Teresa do Menino Jesus).
(Brandão, Ascânio. Breviário da Confiança: Pensamentos para cada dia do ano. Oficinas Gráficas “Ave-Maria”, 1936, p. 21. Via Rumo à Santidade)

O mundo poderia existir sem o mal?

Tudo o que Deus criou era muito bom e não existia o mal

Para entender essa questão, em primeiro lugar, é preciso entender o que é o mal. “Deus é inacessível ao mal” (Tg 1,13). Portanto, o mal não é um lado de Deus, tampouco um outro deus, uma outra força divina, porque o Senhor se revelou como único Deus a Israel em inúmeras situações. Então, o que seria o mal? Na verdade, ser mau não é um ser, uma coisa ou força, mas uma carência do bem, assim como as trevas é a ausência de luz. Por isso, disse Bento XVI: “ O mal só existe onde Deus é insuficiente”.
O mundo, por Deus, foi criado bom. É notável e maravilhoso que, no relato da criação, em Gêneses 1,1-31, ao fim da criação de cada coisa é dito: “E Deus viu que isso era bom”. Ao fim de todo relato, no versículo 31, o autor bíblico diz: “ Deus viu tudo o que tinha feito era muito bom”. Portanto, tudo o que Deus criou é “muito bom” e não existia o mal em nada.
-O-Mundo-pode-existir-sem-o-mal
Foto Ilustrativa: aniszewski by Getty Images

Como o mal entrou no mundo?

O capítulo terceiro do livro de Gênesis conta como o mal entrou no mundo. Em uma linguagem figurada, vemos a imagem da serpente que alicia Eva e, por meio dela, Adão. O significado desse texto é que o homem, que até então vivia em intimidade e perfeita harmonia com Deus, rebelou-se contra Ele, seduzido por um ser enganador. Sem Deus, o homem e o mundo estão sujeitos ao mal moral (carência da finalidade a que o homem deve tender, especialmente felicidade e amor) e físico (carência de algo no plano material como a fome e a dor).

Quem é esse ser enganador? Um deus do mal? Inúmeros textos bíblicos fazem referência a anjos decaídos, ou seja, seres criados por Deus que são puro espírito, que deveriam servir a Deus, mas “rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e Seu Reino” (CIC 392).
Alguns textos do Antigo Testamento são interpretados pela tradição cristã como um relato da queda de um anjo chefe, satanás, que se volta contra Deus (cf. Is 14,13-14; Ez 28,17). Especialmente Ap 12,7-10 fala da batalha do dragão e seus anjos contra Miguel e os anjos dele. O dragão e os anjos passam a ser os tentadores, ou sejam, aqueles seres que não são deuses, mas que, identificados como o mal, tentam levar o homem a escolher o mal.
Então, dessa forma, o mal entra na existência simplesmente como aquilo que rejeita “Deus, que é amor” (I Jo 4,8).

O mundo poderia existir sem o mal

Fica claro, então, que o mundo não só poderia existir sem o mal, como ele já existiu sem o mal. Mais ainda, o mundo voltará a existir sem o mal: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia.
Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo.
Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição. Então, o que está assentado no trono disse: ‘Eis que eu renovo todas as coisas’. Disse ainda: ‘Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras’. Novamente me disse: ‘Está pronto! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de beber da fonte da água viva. O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho’” (Ap 21,1-7).






André Botelho