quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A FELICIDADE ETERNA.


Pe Antonio Vieira
O Pe. Antônio Vieira pondera que “a alegria do céu é sem tristeza, o gosto é sem pesar, o descanso é sem trabalho, a segurança é sem receio, o sossego sem sobressalto, a paz sem perturbação, a honra sem agravo, a riqueza sem cuidado, a fartura sem fastio, a grandeza sem inveja, a abundância sem míngua, a companhia sem emulação, a amizade sem cautela, a saúde sem enfermidade, a vida sem temor da morte, enfim todos os bens puros e sem mistura de mal, e por isso verdadeiros bens”. De fato a felicidade eterna é a inclusão de todo o bem. A visão beatífica é disto o ápice, pois, como diz São João, seremos semelhantes a Deus, “porque o veremos como ele é” (1 Jo 3,2). O mesmo ensina São Paulo: “Nós agora, vemos (a Deus) como por espelho em enigma; mas então face a face” (1 Cor 3,12) .
 Deus mesmo se une à alma. É preciso, porém, ressaltar que esta visão, ainda que imediata, incompreensível, elevadíssima, não é absoluta, adequada. Porque o bem-aventurado ainda que se torne semelhante a Deus não se converte em Deus; permanece sempre finito e limitado, incapaz de compreender totalmente o objeto infinito. É que se trata de uma transcendência infinita. O bem infinito, porém, é sempre novo. Onde a novidade não acaba e sempre atrai, o amor e o gosto nunca diminuem. Assim, embora participada, a glória eterna é fonte de ininterrupto e perfeito gozo.

Do mesmo modo, porém, como a inteligência atingirá a plenitude de sua satisfação, a vontade estará saciada em seus recrescentes desejos. Amará exclusivamente a Deus e se comprazerá nele. É o que Deus havia dito a Abraão: “Não temas Abraão, eu sou o teu protetor, e tua recompensa (será) excessivamente grande” (Gên 5,1). Dar-se-á o que o Cântico dos Cânticos prognosticou: “... encontrei aquele a quem ama a minha alma, agarrei-me a ele, e não o largarei mais” (Cânt 3,4).
O salmista vislumbrou este momento feliz: “Eu, porém, com justiça verei a tua face, saciar-me-ei ao despertar com o teu semblante” (Sl 16,15). É o arrebatamento diante da infinita beleza divina. A alma goza então do Ser Infinito e fora dele nada mais deseja. Neste mundo toda inteligência, mesmo desviada, guarda a nostalgia de Deus. No céu a presença da divindade inebriará com sua luz aquele que foi feito para Ele, como o pássaro foi feito para voar ou o sol para brilhar. Deus o atrai como o rio é arrastado para o mar, o peregrino para o lar, a bússola para o polo magnético. É o que São Paulo exprimiu: “Desejo ver-me livre das ataduras deste corpo, para estar comCristo“ (Fl 1,23).
Declara o mesmo Apóstolo: “Enquanto habitamos neste corpo, peregrinamos longe do Senhor” (2 Cor 5,6). Ora, tudo isto se dará, porém, de acordo com a capacidade que cada um terá de acordo com o que tiver praticado nesta vida. Quem mais amou a Deus, mas nele se regozijará. Não se trata de uma hierarquia de status, mas de uma situação de acordo como se viveu a fé nesta terra.
O julgamento se realiza no juízo particular e o Novo Testamento afirma a retribuição, imediatamente depois da morte, de cada um em função de suas obras e de sua fé, como se pode ver, por exemplo, na parábola do pobre Lázaro e na palavra de Cristo na cruz ao bom ladrão. O julgamento se dará também, no fim dos tempos, no juízo universal, antecedida da ressurreição dos corpos (Mt 25,31-40). Ditosos os que puderem no final de sua vida repetir com S. Paulo: “Combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé. De resto, me está reservada a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz me dará naquele dia; e não só a mim, mas também àqueles que desejam a sua vinda” (2 Tm 4,7). Uma conclusão então se impõe: “Enquanto temos tempo, façamos o bem” (Gal 6,10).

Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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