sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MERGULHAR EM SI MESMO.





Quantas vezes mergulhamos profundamente nos abismos do nosso interior? 
Muitas, não é verdade?
O que precisamos é que a cada um desses mergulhos, aprendamos a emergir mais fortes, mais lúcidos, com uma coragem maior para enfrentar as agruras do dia-a-dia.
Quando nos projetamos para dentro de nós mesmos, assustamos com a escuridão que ainda nos rodeia.
Tateamos, desesperados, à procura de uma oportunidade de fuga.
Mas em nosso desespero não conseguimos perceber que volteando toda esta escuridão, existe sempre um raio de luz.
Este raio de luz pisca, incessantemente, nos mostrando o caminho a seguir.
Nós, em nossa cegueira mental, é que não conseguimos vê-lo.
Já não será hora de iluminarmos esse interior escuro, cheio de medos, cheio de fantasmas do passado e projeções estranhas para o amanhã?
Cada um de nós é um ser pronto para crescer, amadurecer.
Só que a cada um compete a sua tarefa.
Não devemos nos achar piores do que ninguém porque o destino colocou em nosso caminho a dor.
Apesar de não a aceitarmos, de pensarmos que ela nos lançará no abismo do desespero, precisamos ponderar que não é bem assim.
A dor, quando dela fazemos uma alavanca para o crescimento espiritual, nos encaminha em direção à luz.
A dor nos leva a pensar um pouco mais em nós mesmos, em nossos companheiros de jornada e em Deus, nosso Criador.
Nós, ao invés de mergulharmos nos abismos insondáveis do nosso eu interior com desânimo, com desalento, condoídos de nós mesmos, façamo-lo com coragem, com confiança, com a vontade de nos conhecermos profundamente.
Que cada um, ao emergir desta viagem, saia iluminado, confiante, cheio de fé e vontade de continuar seu caminhar, com o coração cheio de amor por si mesmo e por seus semelhantes.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE VALORES E VIRTUDES?

Entenda por que, para buscar a perfeição cristã, não basta ter valores: é preciso cultivar as virtudes.

As virtudes são hábitos bons que nos levam a fazer o bem. Podemos tê-las desde que nascemos ou adquiri-las depois. São um meio muito eficaz para colaborar com Deus, pois implicam em decidir, livre e voluntariamente, fazer o bem, ou seja, cumprir o plano de Deus.

O objetivo de uma vida virtuosa é chegar a ser semelhantes a Cristo. Não se trata de perfeccionismo, no qual a pessoa elimina defeitos porque considera que não deve ter tal ou qual falha; isso seria vaidade apenas. Tampouco é um narcisismo de ver-se bem, ou que todos pensem que você é o máximo. A virtude não é uma higiene moral, pela qual você “limpa” sua pessoa.

Os valores, por outro lado, estão orientados ao crescimento pessoal por um convencimento intelectual: sabemos que, se estivermos limpos, seremos mais aceitos pelos outros; sabemos que, mantendo nossas coisas em ordem, poderemos encontrá-las com mais facilidade ao procurá-las.

Os valores são bens que a inteligência do homem conhece, aceita e vive como algo bom para ele como pessoa. O valor é tudo aquilo que se “valoriza” como bom, desejável, necessário para a vida. Para uma pessoa, um valor pode ser ter um belo carro, enquanto, para outra, isso não significa nada.
Neste sentido, podemos dizer que os valores são mais ambíguos, pois nem todas as pessoas consideram as mesmas realidades como valores. As virtudes têm um caráter mais universal, pois o que é uma virtude em uma pessoa também o é em outra.
Estabelecidas as diferenças, é importante reconhecer que, na vida de fé, sempre há propostas feitas por Jesus que, quando comparadas com o que o mundo nos apresenta, tendem a parecer semelhantes, mas não o são necessariamente. Vejamos alguns exemplos.
A Bíblia nos ensina a necessidade do jejum como remédio eficaz contra a concupiscência e como mecanismo de domínio de si; o mundo nos propõe a dieta como método eficaz para manter o controle do peso corporal e de uma saúde adequada. Primeira conclusão: jejuar não é a mesma coisa que fazer dieta, e menos ainda passar fome. Ainda que semelhantes na forma, não são iguais no fundo.

Jesus convida à castidade como maneira de entender a sexualidade e o corpo humano como instrumentos de santificação e de oblação a Deus e ao cônjuge, enquanto muitos optam pela abstinência sexual como forma de liberdade interior para alcançar outros fins que consideram mais nobres. Então, ser casto não é a mesma coisa que ser abstinente, e menos ainda ser assexuado.
Enquanto a dieta e a abstinência sexual podem chegar a ser considerados como valores para alguns, o jejum e a castidade são, em si, virtudes de caráter espiritual para todos. É importante saber, além disso, que os valores não precisam da graça de Deus, já que, pelo fato de possuírem uma ponderação intelectual, são vividos a partir da racionalidade.
Já as virtudes, por buscarem colaborar no plano de Deus e na semelhança com Cristo, requerem a ajuda do Senhor, um auxílio especial de sua magnificência, já que o ser humano, por suas próprias forças, não pode alcançá-las.

É possível ser abstinente sem ser casto e fazer dieta sem jejuar. O sentido de cada prática difere muito segundo sua finalidade. Os cristãos não estão chamados apenas a ter valores (necessários em todo ser humano), mas a preencher suas vidas de virtudes, tanto cardeais como teologais.

Se aprofundarmos mais, poderemos encontrar muitos outros valores que têm semelhança com as virtudes e, por isso, tendem a ser confundidos com elas. Há pessoas que acham que fanatismo é sinônimo de fé, que estar apaixonado é amar, que estar entusiasmado é ter esperança, que timidez é o mesmo que prudência etc.

Todos os seres humanos possuem valores. Todos nós atribuímos valor a certas coisas. Há coisas pelas quais certas pessoas chegam a dar a vida. Mas, para alcançar a perfeição cristã, não bastam os valores: as virtudes são necessárias.

LITURGIA DIÁRIA - AS SEMENTES.

 
Primeira Leitura (2Sm 11,1-4a.5-10a.13-17)

Leitura do Segundo Livro de Samuel.
1No ano seguinte, na época em que os reis costumavam partir para a guerra, Davi enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel, e eles devastaram o país dos amonitas e sitiaram Rabá. Mas Davi ficou em Jerusalém. 2Ora, um dia, ao entardecer, levantando-se Davi de sua cama, pôs-se a passear pelo terraço de sua casa e avistou dali uma mulher que se banhava. Era uma mulher muito bonita. 3Davi procurou saber quem era essa mulher e disseram-lhe que era Betsabeia, filha de Eliam, mulher do hitita Urias. 4aEntão Davi enviou mensageiros para que a trouxessem. Ela veio e ele deitou-se com ela. 5Em seguida, Betsabeia voltou para casa. Como ela concebesse, mandou dizer a Davi: “Estou grávida”; 6Davi mandou esta ordem a Joab: “Manda-me Urias, o hitita” E ele mandou Urias a Davi. 7Quando Urias chegou, Davi pediu-lhes notícias de Joab, do exército e da guerra. 8E depois disse-lhe: “Desce à tua casa e lava os pés”. Urias saiu do palácio do rei e, em seguida, este enviou-lhe um presente real. 9Mas Urias dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu amo, e não foi para casa. 10a E contaram a Davi, dizendo-lhe: “Urias não foi para sua casa”. 13Davi convidou-o para comer e beber à sua mesa e o embriagou. Mas, ao entardecer, ele retirou-se e foi-se deitar no seu leito, em companhia dos servos do seu senhor, e não desceu para a sua casa. 14Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joab e mandou-a pelas mãos de Urias. 15Dizia nela: “Colocai Urias na frente, onde o combate for mais violento, e abandonai-o para que seja ferido e morra”. 16Joab, que sitiava a cidade, colocou Urias no lugar onde ele sabia estarem os guerreiros mais valentes. 17Os que defendiam a cidade, saíram para atacar Joab, e morreram alguns do exército, da guarda de Davi. E morreu também Urias, o hitita.

Responsório (Sl 50)
— Misericórdia, ó Senhor, porque pecamos!
— Misericórdia, ó Senhor, porque pecamos!
— Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado, e apagai completamente a minha culpa!
— Eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre à minha frente. Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei. E pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
— Mostrais assim quanto sois justo na sentença, e quanto é reto o julgamento que fazeis. Vede, Senhor, que eu nasci na iniquidade e pecador já minha mãe me concebeu.
— Fazei-me ouvir cantos de festa e de alegria, e exultarão estes meus ossos que esmagastes. Desviai o vosso olhar dos meus pecados e apagai todas as minhas transgressões!
 
Evangelho (Mc 4,26-34) 
Naquele tempo, 26Jesus disse à multidão: “O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. 27Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. 28a A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. 29Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. 30E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? 31° Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. 32Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”! 33 Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. 34E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.

 Reflexão

A semente que germina e cresce por si mesma exprime a ação de Deus que comunica amor e vida a todos, suplantando os poderosos deste mundo que semeiam a fome e a morte. A segunda parábola, da inexpressiva semente que se transforma em uma árvore acolhedora dos pássaros, exprime que a fé dos discípulos, desprezível diante do mundo, pode gerar o mundo novo de fraternidade e paz. A prática e o ensino de Jesus são caminho e luz.
Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões desde a barca de Pedro (4,1). Seu ensino é na base de parábolas ou exemplos. A parábola é uma narração que sob o aspecto de uma comparação, está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes têm um sentido e significado real, a parábola se transforma em alegoria. Como em Jo 10,1-16, no caso do bom pastor. No A T as parábolas são escassas, um exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi. Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria  de Marcos e a segunda compartida por Mateus (13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o Reino, minúsculo nos tempo de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.
 E dizia: assim é o Reino do Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra (26). Que significa Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o Universo. Os juízes eram praticamente os seus representantes. Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I Sam 8, 7). A partir de Davi o reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de vocês. A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do amor, que é serviço no reino é o amor ao dinheiro ( Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A primeira comparação que revela como atua o Reino é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que finalmente veremos como protótipo nas observações.
E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido. É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7). Assim, a continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga .
Quando porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele envia a foice porque tem aparecido a ceifa. Não há nada a comentar a não ser que o trabalho do agricultor. Vemos como se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente fazem o resto.
E dizia: a que compararíamos o Reino do Deus , ou em que parábola o assemelharíamos? Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolhe uma comparação apropriada. Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino de Jesus.
Como com a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na  terra é a menor de todas as sementes sobre a terra. A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura. A negra é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de suas sementes chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes.
A mais comum é a branca não tão ardente como a preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar . Temos visto como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos.
E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a palavra do modo que podiam ouvir . Temos aqui uma discriminação feita sem saber a razão de por que foi escolhida por Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público em geral podia ficar com a idéia de que a semente da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.
Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.
Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma árvore que nada tem a invejar os carrascos da Palestina.
Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma conquista, não violenta mas interior do homem, e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações violentas. O reino sofrerá violências mas não será o violentador (Mt 11, 12).

Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga aliança. Mas isto é esticar as coisas além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho de Marcos.
 
 
 
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

PAPA FRANCISCO PARTICIPARÁ DE ENCONTRO DA RCC, NO ESTÁDIO OLÍMPICO, EM ROMA.

 
O Papa Francisco deverá participar da XXXVII Convocação da Renovação Carismática, a ser realizada no Estádio Olímpico, em Roma, nos dia 1 e 2 de junho de 2014 sob o tema: “Convertei-vos. Acreditais. Recebam o Espírito Santo. Por uma Igreja missionária”. Foi o que informou o Escritório da Renovação, por ocasião da conclusão da VIII Assembléia Nacional realizada em Fiuggi, de 24 a 26 de janeiro.

Será a primeira vez que o Papa Francisco entrará num dos ‘Aerópagos’ da capital italiana para encontrar-se com os cerca de 50 mil fiéis esperados, vindos de toda a Itália e de diversas partes do mundo.

“A notícia da presença do Santo Padre na Convocação da Renovação suscita em mim – comentou o Presidente da RCC, Salvatore Martinez – uma gratidão amorosa de um filho que olha o cuidado, o afeto, a força, a liberdade do pai. Por ocasião da minha audiência privada com o Papa Francisco em 9 de setembro, havíamos falado da nossa Convocação. O Papa já estava informado a respeito e manifestou o desejo de participar. A notícia ficou sob embargo até a Vigília do Natal, quando chegou a comunicação oficial da Secretaria de Estado. Hoje a anunciamos publicamente, junto ao programa de Convocação”.

A Porta-voz da RCC, Martina D’Onofrio, comentou por sua vez que “a presença do Papa Francisco será um fato histórico na história da Renovação. E acontece no ano em que, transferindo o evento eclesial da Feira de Rímini ao Estádio de Roma, a RCC quer salientar a vontade em apoiar o Santo Padre na sua obra de ‘renovação eclesial’, colocando a própria experiência espiritual no coração da Igreja e a serviço do mundo, a partir das indicações que o Pontífice expressou com eloqüência na Exortação Evangelii gaudium”.





Fonte: Rádio Vaticano

SANTA MARIA E A DOR DA SAUDADE.

A tragédia de Santa Maria ficará para sempre na história não só daquela cidade, mas também do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil.

 

Fernando Frazão/Agência Brasil No dia 27 de janeiro de 2013 aconteceu na cidade de Santa Maria, por imprudência e más condições de segurança, uma tragédia que vitimou 242 jovens, ferindo outros 116 e marcando para sempre um número considerável de famílias. A tragédia de Santa Maria ficará para sempre na história não só daquela cidade, mas também do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Com a divulgação das imagens e notícias a respeito daqueles fatos, subseguiram manifestações de diversas autoridades públicas, entidades, pessoas mais ou menos próximas às vítimas e suas famílias, organizações sociais, etc. A partir de então, surgiram várias iniciativas, foram tomadas medidas com o objetivo de exigir maior segurança de locais destinados a eventos, festas, diversão com concentração de público.

Tais iniciativas são certamente úteis, necessárias e urgentes. Existe, hoje, um consenso bastante vigoroso em torno do dever premente de se investir nesta causa. Infelizmente somos vistos como o povo do “jeitinho”. Para tudo se encontra um “jeitinho”. Existe ‘jeitinho’ para burlar as leis de trânsito, para passar de ano na escola, para, talvez, ter energia elétrica, ou água, sem estar registrado na rede; ‘jeitinho’ para conseguir esse ou aquele documento; ‘jeitinho’ para burlar o fisco, para tirar ganho desse ou daquele contrato – especialmente se estiver envolvido o bem público! Enfim, nós brasileiros, somos conhecidos pelo ‘jeitinho brasileiro’!

Sem desrespeitar a memória dos que tombaram na tragédia de Santa Maria, sem desrespeitar as exigências legais necessárias e urgentes para promover a segurança de todos que frequentam espaços públicos e sem minimizar a seriedade da situação da segurança geral de nosso povo, reconhecemos, sim, que em tantas situações buscamos o famoso ‘jeitinho’. Não seria demais propor o engajamento decidido e determinado de todos na causa da segurança pública e na educação necessária para tanto. Esta certamente é uma causa que não pode ser delegada; cada cidadão de boa vontade precisa sentir, saber e aprender da própria responsabilidade. Não podemos esquecer as perdas irreparáveis causadas pela imprudência de alguns, o ‘jeitinho’ de poucos e, talvez, a indiferença de outros.

Respeitar a memória dos falecidos pode ser uma obra de misericórdia! Mas pode também ajudar a todos a resgatar um aspecto importante da convivência humana: o cuidado. Sim, precisamos talvez ainda aprender a cuidar uns dos outros e, ao mesmo tempo, nos deixar cuidar uns pelos outros. É verdade que o jovem quase que naturalmente busca aventuras, que gosta, por vezes, de experiências extremas... Entretanto, não se pode desconsiderar princípios básicos seja da própria natureza, seja da natureza em geral! Cuidar e nos deixar cuidar – eis o que nos compete!

A saudade é coisa bela e ao mesmo tempo triste. Bela porque expressa carinho, respeito, bem querença. Triste porque, por vezes, parece insaciável. A saudade deixa marcas! Diante da tragédia de Santa Maria não foram poucas as famílias, os jovens, cidadãos que ficaram marcados pela dor da saudade. Por isso, resta-nos, sim, o silêncio respeitoso – não a indiferença! Como sociedade precisamos certamente expressar nossa solidariedade e ao mesmo tempo nos comprometer a trabalhar em prol do necessário para que tais tragédias não se repitam! Aos familiares dos jovens que sofreram as consequências daquele incêndio expressamos palavras de conforto que nossa fé conserva: “para aqueles que creem a vida não é tirada, mas transformada”.
 


Dom Jaime Spengler

LITURGIA DIÁRIA - A LÂMPADA É ACENDIDA PARA SER COLOCADA SOBRE O CANDEEIRO.

Primeira Leitura (7,18-19.24-29)

Leitura do Segundo Livro de Samuel.
Depois que Natan falara a Davi, o rei entrou no tabernáculo 18foi assentar-se diante do Senhor, e disse: “Quem sou eu, Senhor Deus, que é a minha família, para que me tenhas conduzido até aqui? 19Mas, como isto te parecia pouco, Senhor Deus, ainda fizeste promessas à casa do teu servo para um futuro distante. Porque esta é a lei do homem, Senhor Deus! 24Estabeleceste o teu povo, Israel, para que ele seja para sempre o teu povo; e tu, Senhor, te tornaste o seu Deus. 25Agora, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa que fizeste a teu servo e à sua casa, e faze como disseste! 26Então o teu nome será exaltado para sempre, e dirão: “O Senhor Todo-poderoso é o Deus de Israel”. E a casa do teu servo Davi permanecerá estável na tua presença. 27Pois tu, Senhor Todo-poderoso, Deus de Israel, fizeste estas revelação ao teu servo: ‘Eu te construirei uma casa’. Por isso o teu servo se animou a dirigir-te esta oração. 28Agora, Senhor Deus, tu és Deus e tuas palavras são verdadeiras. Pois que fizeste esta bela promessa a teu servo, 29abençoa, então, a casa do teu servo, para que ela permaneça para sempre na tua presença. Porque és tu, Senhor Deus, que falaste, e é graças à tua bênção que a casa do teu servo será abençoada para sempre”.

Responsório (Sl 131)

— O Senhor vai dar-lhe o trono de seu pai, o rei Davi.
— O Senhor vai dar-lhe o trono de seu pai, o rei Davi.

— Recordai-vos, ó Senhor, do rei Davi e de quanto vos foi ele dedicado; do juramento que ao Senhor havia feito e de seu voto ao Poderoso de Jacó:
— “Não entrarei na minha tenda, minha casa, nem subirei à minha cama em que repouso, não deixarei adormecerem os meus olhos, nem cochilarem em descanso minhas pálpebras, até que eu ache um lugar para o senhor, uma casa para o forte de Jacó!”
— O Senhor fez a Davi um juramento, uma promessa que jamais renegará: “Um herdeiro que é fruto do teu ventre colocarei sobre o trono em teu lugar!
— Se teus filhos conservarem minha Aliança e os preceitos que lhes dei a conhecer, os filhos deles igualmente hão de sentar-se eternamente sobre o trono que te dei!”
— Pois o Senhor quis para si Jerusalém e a desejou para que fosse sua morada: “Eis o lugar do meu repouso para sempre, eu fico aqui: este é o lugar que preferi!”.
 
Evangelho (Mc 4,21-25)
 
Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 21 “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? 22Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto. 23Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. 24Jesus dizia ainda: “Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”.

 Reflexão

Neste Evangelho, Jesus nos lembra que no batismo recebemos a sua luz, e devemos continuar a sua missão, iluminando o mundo. “Não temas as trevas, se trazes dentro de ti a luz”.
Candeeiro é uma espécie de cabide na parede interna da casa, onde se pendurava a candeia, cujo pavio, untado com azeite, mantinha a chama acesa. Quanto mais alto estava o candeeiro, melhor iluminava a casa. Temos a missão de ser luz do mundo. “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro?”
Colocamos a nossa luz debaixo do caixote quando escondemos a nossa fé católica, ou damos mau exemplo.
As pessoas só são plenamente felizes quando são iluminadas pela verdadeira luz de Cristo, presente na sua Igreja, que é una, santa, católica e apostólica. Faça uma experiência: amarre um pano nos olhos e tente caminhar... É horrível! A gente se sente inseguro e tem medo de andar. O mesmo acontece com uma pessoa que anda longe do Caminho, da Verdade e da Vida.
A Comunidade cristã é como o arco-íris: Cada membro dela irradia a luz de Cristo com um matiz diferente.
“Prestai atenção no que ouvis.” Em outras palavras: vocês perdem seu tempo se me escutam e param aí, sem deixar que minhas palavras dêem fruto.
Em seguida, no Evangelho de hoje, Jesus fala: “Com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais; do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”. Quer dizer: se começarmos a fazer algo bom, receberemos de Deus novas forças e conhecimentos. Mas se não fazemos nada, nossas crenças religiosas não servirão para nada.
Quem acolhe a Boa Nova, aprende a ver e agir de acordo com a visão e a ação de Jesus. Essa compreensão e essa ação vão aumentando à medida que se age. Quem não age, perde até mesmo a pouca compreensão que já tem.
Certa vez, um andarilho estava dormindo na frente de uma banca de jornal, debaixo da marquise. Quando o dono da banca chegou, de madrugada, acordou-o, para abrir a porta, e o convidou para irem juntos ao bar ao lado tomar um café. Em seguida o convidou para irem juntos à redação do jornal, a fim de trazer exemplares. O jornaleiro nem percebeu que se tratava de um jovem de pouco mais de vinte e cinco anos.
Como o mendigo ficou por ali, na hora do almoço o jornaleiro pediu que ele ficasse na banca, enquanto ele ia almoçar, que na volta lhe traria um prato.
Resumindo, esse jovem, ex-andarilho, de tanto ir ao jornal, acabou arrumando um emprego lá. Como era inteligente, tinha estudo e boa comunicação, passou a fazer parte da equipe de pesquisa do jornal. Viajava pelos bairros e outras cidades, junto com os mais experientes, fazendo entrevistas.
Um dia, ele pediu ao seu chefe licença para fazer uma entrevista numa cidade vizinha. Pegou o carro que ele usava, que tinha a tarjeta do jornal, e foi. Antes, porém, alugou uma roupa de palhaço e a vestiu.
Ao chegar à cidade, foi direto a uma residência. Como era sábado, a família estava em casa.
Apertou a campainha, veio um rapaz, ele se apresentou como da equipe de entrevistas do jornal, explicou que usava roupa de palhaço para a família se sentir mais a vontade, e pediu licença para fazer uma entrevista com a família. O rapaz que o recebeu, logo viu o carro oficial do jornal, acreditou e sentiu-se até honrado em dar a entrevista.
De início, o entrevistador pediu que, se possível, toda a família estivesse presente. O rapaz foi lá dentro, chamou e logo vieram.
Ele pegou uma plancheta, com papel oficial do jornal, e fez a primeira pergunta: “Quantos filhos tem o casal?” O rapaz respondeu: “Cinco”.
“Você é o mais velho?” perguntou o entrevistador. “Não” – disse o moço – temos um irmão mais velho, mas ele não prestava e faz cinco anos que sumiu. Deve ter morrido”.
O entrevistador se interessou pelo caso e disse: “Ah! É? Como que era esse irmão?”
O pai tomou a palavra e falou: “Aquele moleque era um marginal; vivia em más companhias fazendo coisas erradas. Ele era a vergonha da nossa família. Eu proibi até meus filhos de conversar com ele. Um dia ele foi preso; passou uma semana na cadeia. Quando voltou, nós o expulsamos. Tudo indica que já morreu”.
Nisto, o garotinho disse: “Pai, o palhaço está chorando!” O menino caminhou até o palhaço e o abraçou.
O “palhaço” não agüentou mais. Tirou a máscara e disse: “Pai, eu não morri não. Estou aqui!” Claro que naquela sala só virou choradeira.
Temos aí um exemplo claro, por parte do pai e da família, de não ser luz; e por parte do filho-palhaço, o exemplo contrário de como tornar-se luz.
Maria Santíssima é somente luz. Peçamos a ela que nos ajude a sermos luz cada vez mais brilhante e a produzirmos bons frutos de fé e de testemunho.

 
 
 
Pe. Queiroz

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

EXPRESSAR SENTIMENTOS.



 
"Além das ideias é preciso aprender a expressar os sentimentos.
Somos o que pensamos e o que sentimos.
Infelizmente, aprendemos a esconder os sentimentos atrás da máscara da boa vizinhança.
Não adianta.
Chegará um momento em que inconscientemente acabaremos revelando o que somos e o que desejamos.
Poderá ser tarde demais.
O estrago feito é irremediável. 
Enquanto é tempo, manifeste o que sente."

NO PERIGO, NA SOLIDÃO: DEIXAR-SE ABRAÇAR POR DEUS.

Não conseguimos viver sem medo, mas podemos colocá-lo nas mãos do Senhor.

Na vida, a generosidade exige renúncia. Renúncia ao próprio desejo, à possessão, a ter tudo, à paz constante, ao descanso permanente, aos meus planos. Amar é renunciar. O amor que não renuncia seca, morre.

O amor que cresce a partir da morte ao próprio eu é um amor fecundo, grande, próprio de um coração que se dilatou, que se tornou enorme no caminho. Um coração capaz de entregar a vida no silêncio, sem buscar aplausos ou reconhecimento. É um coração assim que queremos: um coração livre e pleno.

Santo Inácio rezava: “Tomai, Senhor, e recebei / Toda a minha liberdade, a minha memória também. / O meu entendimento e toda a minha vontade / Tudo o que tenho e possuo, vós me destes com amor. / Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo. / Disponde deles, Senhor, segundo a vossa vontade. / Dai-me somente, o vosso amor, vossa graça. / Isto me basta, nada mais quero pedir”.

Em nosso coração são tomadas as decisões mais importantes, e ninguém pode interferir nelas. Decisões nas quais nos entregamos e abandonamos totalmente. Lá, na solidão da alma, nós abraçamos Deus. Lá onde ninguém mais pode entrar, porque é nossa intimidade mais profunda e cálida.
E queremos que o nosso coração seja um lar para Cristo. Nesse lar de paz, poderíamos descobrir seu querer e estar dispostos, assim, a entregar tudo, a renunciar a tudo.
Diante do desconhecido, diante do que não controlamos, temos de olhar para Deus, confiar nele, abandonar-nos em suas mãos, sabendo que Ele nos conduz a um porto seguro.

Na verdade, nossa santidade repercute nos que nos cercam. Somos membros do Corpo místico de Cristo. O bem que fazemos é um bem para os outros. O mal que provocamos é uma ausência de bem.
Nosso amor pode ajudar outras pessoas a amar mais, a amar melhor, a amar mais santamente. “O verdadeiro amor é aquele que não diz “é suficiente”. A medida do amor é amar sem medidas. Nossa relação mútua deve nos submergir cada vez mais profundamente nesta medida sem medidas, no eterno, no Deus infinito.”

Uma vida que ama e é capaz de não dizer jamais “Isso é suficiente” é a vida à qual aspiramos. Uma vida entregue nas mãos de Deus. É o abandono no meio do perigo. Quando nem tudo está garantido, quando nossa vida não está totalmente sob controle. É natural ter medo do futuro, da morte, da cruz. Não é natural viver sem medo.
Ninguém vive sem medo, a não ser por uma graça especial, por um dom sobrenatural, por uma união profunda do seu coração com o coração de Cristo na cruz. Os mártires suportaram o martírio não por falta de medo, mas porque receberam uma graça especial de Deus.
Nós não vivemos sem medo, mas sempre podemos entregar esse medo a Deus para que Ele nos liberte. O medo está na alma e pode nos impedir de avançar.

Hoje somos conscientes dos nossos medos. Sabemos quantas coisas existem em nossa vida que nos inquietam. O futuro, a crise, o medo de doenças: entreguemos tudo isso a Deus, para que Ele sustente nossa vida e nos dê sua paz em meio às tempestades.

 

 

 

Padre Carlos Padilla

ALGUMAS VERDADES DURAS SOBRE DIVÓRCIO E COMUNHÃO.

A Igreja não pode mudar o que Jesus ensinou. Mas pode ser mais sensível pastoralmente?

                                                                                                                                                                  Keoni Cabral

 Pululam boatos, imprensa afora, de que o papa Francisco vai relaxar em breve o tratamento dado pela Igreja católica às pessoas que se divorciaram e voltaram a se casar. Um artigo da Reuters sugere um racha entre o arcebispo Gerhard Müller, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, e o cardeal hondurenho Óscar Maradiaga, cabeça do "G8" do papa, o conselho consultivo de cardeais.

Em primeiro lugar, devemos lembrar qual é a doutrina da Igreja sobre o divórcio e o posterior casamento. A Igreja católica ensina que o sacramento do matrimônio é indissolúvel, com base nos ensinamentos do próprio Cristo: “o que Deus uniu, o homem não pode separar”.

No entanto, a Igreja reconhece também que, por causa da fraqueza humana, há casamentos que se rompem. Às vezes, a única solução é a separação, inclusive com o divórcio civil. Se o casamento foi válido, porém, o casal continuará casado mesmo depois de se divorciar perante o tribunal civil; assim, se os indivíduos se casarem novamente com outros cônjuges, cometerão adultério e seu novo casamento que não pode existir aos olhos da Igreja. Surge daí a questão de saber se o primeiro casamento foi realmente válido. A diocese deve ter canonistas qualificados que analisarão o casamento e decidirão se ele era válido ou não. Se o casamento não fosse válido, significa que ele nunca existiu de verdade: neste caso, é possível conceder o decreto de nulidade. Todo casamento é considerado válido a não ser que se prove o contrário. E, até que a invalidade do casamento seja comprovada e o decreto de nulidade seja concedido, os divorciados que se casaram com outros cônjuges não podem ser admitidos à comunhão, por estarem vivendo em adultério. Muitos padres acham que essa abordagem é excessivamente legalista e dura. Em resposta aos bispos alemães que defendem uma abordagem mais leniente, o arcebispo Müller já afirmou que não haverá mudança. O cardeal Maradiaga contestou a afirmação de Müller dizendo: "Irmão, a vida não é assim".

O problema, de fato, é complexo, mas as soluções podem ser ainda mais difíceis. Quem adota uma postura mais leniente argumenta que a misericórdia do Senhor é eterna e questiona se Jesus, que acolheu a todos, afastaria as pessoas da sua mesa simplesmente por causa de uma situação matrimonial irregular. Para a mulher que foi pega em adultério, argumentam eles, Jesus disse: “Nem eu te condeno”. Quem defende uma abordagem mais rigorosa, por sua vez, enfatiza o comentário final do Senhor a essa mesma mulher flagrada em adultério: "Vai e não peques mais". A misericórdia é oferecida, mas espera-se também o arrependimento e a mudança de vida.

De alguma forma, temos de acolher a todos com a compaixão e com a misericórdia de Cristo, conservando, ao mesmo tempo, a indissolubilidade do casamento e o compromisso do matrimônio para toda a vida. O cardeal Maradiaga adota uma abordagem pastoral prática ao dizer que "a vida não é assim". Acontece que a doutrina moral católica não é determinada apenas pelas circunstâncias. A moralidade é estabelecida através de certos critérios objetivos revelados. O cardeal de Honduras diz que as coisas não são tão pretas ou brancas, mas deve-se salientar que não haveria tons de cinza se não existissem, nitidamente, o preto e o branco. Em outras palavras: sem um padrão objetivo, não pode haver outros padrões; e, por definição, um padrão objetivo é imutável e aparentemente “duro”. O que fazer então diante desse dilema pastoral? Se cada padre interpreta a lei do seu jeito e, na tentativa sincera de ser misericordioso, permite que os seus fiéis em casamentos irregulares comunguem, ele pode, na sua bondade, estar fazendo mais mal do que bem. Os efeitos negativos de cada padre adotar uma postura mais branda são muitos. Em primeiro lugar, é preciso levar em consideração o parceiro que “sofreu” o divórcio: se um casamento termina por causa de adultério e um dos parceiros é deixado sozinho pelo outro, o que estaremos dizendo a essa pessoa quando readmitirmos o cônjuge adúltero à comunhão sem nenhuma consequência?

Em segundo lugar, o que estaremos dizendo aos filhos e netos de casais divorciados? Ao relaxarmos a disciplina da Igreja, damos a entender que os casamentos podem ser rompidos e que casamentos posteriores podem ser feitos à vontade. Mesmo sem ter essa intenção, uma abordagem branda é tacitamente indulgente com o divórcio e com o novo casamento, prejudicando o senso de compromisso matrimonial das gerações futuras. Quando somos indulgentes com o “recasamento” de alguém, ensinamos aos seus filhos que o “recasamento” depois do divórcio é aceitável.

 O terceiro problema de se abordar com indulgência o divórcio e um posterior casamento é o fato de que não necessariamente conseguimos o desejado efeito dessa compaixão. O padre quer trazer as pessoas à plena comunhão com a Igreja e oferecer a elas o acolhimento de Cristo. Mas o que eu pude ver, mais de uma vez, é que tanto os potenciais conversos à Igreja quanto as pessoas afastadas da fé não ficam impressionados com o comportamento leniente de um padre no tocante à disciplina da própria Igreja. Uma ex-batista que queria vir para a Igreja acabou se afastando da paróquia em que um padre católico se mostrava relapso com o seu casamento: "Por que eu me tornaria católica", questionou ela, "se o padre passa por cima das regras da própria Igreja e trata a situação séria do meu casamento de uma forma tão superficial?". A abordagem leniente ensina aos divorciados recasados que os seus compromissos matrimoniais não importavam de verdade. Quando um padre ignora o processo de nulidade, ele diz ao casal divorciado e recasado: "O casamento de vocês e as decisões de vida de vocês não são importantes o suficiente para que eu as leve a sério". Esta postura trata o casamento com a mesma leviandade com que o mundo o trata: as pessoas podem se casar sem pensar muito no assunto, porque, no fim das contas, ele não tem tanta importância.

Mas a dificuldade pastoral continua. O que fazer, afinal, com tantos católicos afastados da Igreja por causa do casamento desfeito? E mais importante ainda: o que fazer com as vítimas inocentes dos casamentos desfeitos? É justo que o cônjuge abandonado seja condenado a uma vida de solidão, e, caso ele próprio se case de novo, é justo cortá-lo da Igreja?

Um caminho a ser seguido pode ser o de focar o trabalho dos tribunais matrimoniais no âmbito local. Os pedidos de decreto de nulidade seriam administrados de modo mais descentralizado, tornando o processo mais acessível. Podem-se criar fundos para cobrir os custos dos processos de nulidade e para prestar uma formação pré-matrimonial mais profunda, que ajude as pessoas a entender a seriedade do compromisso e a assumir casamentos válidos, em primeiro lugar. A resposta para o problema, certamente, não é deixar a questão aberta ao total “faça-se como cada um quiser”. As modificações no sistema atual, a fim de torná-lo mais sensível pastoralmente, devem auxiliar a Igreja a defender a santidade do casamento, ajudando a reconciliar os católicos afastados e a curar as almas e os corações machucados.

 

 

 

Pe. Dwight Longenecke

 

LITURGIA DIÁRIA - O SEMEADOR SAIU A SEMEAR.

Primeira Leitura (2Sm 7,4-17)

Leitura do Segundo Livro de Samuel.
Naqueles dias, 4a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5“Vai dizer a meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? 6Pois eu nunca morei numa casa, desde que tirei do Egito os filhos de Israel, até o dia de hoje, mas tenho vagueado em tendas e abrigos. 7Por todos os lugares onde andei com os filhos de Israel, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel, que encarreguei de apascentar o meu povo: Por que não me edificastes uma casa de cedro?’ 8Dirás pois, agora, a meu servo Davi: Assim fala o Senhor Todo-poderoso: Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel. 9Estive contigo em toda parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre quanto o dos homens mais famosos da terra. 10Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora, 11no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. 13Será ele que construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele proceder mal, eu o castigarei com vara de homens e com golpes dos filhos dos homens. 15Mas não retirarei dele a minha graça, como a retirei de Saul, a quem expulsei da minha presença. 16Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”. 17Natã comunicou a Davi todas essas palavras e toda essa revelação.

Responsório (Sl 88)

— Guardarei eternamente para ele a minha graça.
— Guardarei eternamente para ele a minha graça.

— “Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito, e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor: Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, de geração em geração garantirei o teu reinado!”
— Ele, então, me invocará: ‘Ó Senhor, vós sois meu Pai, sois meu Deus, sois meu Rochedo onde encontro a salvação”’. E por isso farei dele o meu filho primogênito, sobre os reis de toda a terra farei dele o Rei altíssimo.
— Guardarei eternamente para ele a minha graça e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel. Pelos séculos sem fim conservarei sua descendência, e o seu trono, tanto tempo quanto os céus, há de durar.
Evangelho (Mc 4,1-20)

 
Naquele tempo, 1Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. Uma multidão muito grande se reuniu em volta dele, de modo que Jesus entrou numa barca e se sentou, enquanto a multidão permanecia junto às margens, na praia. 2Jesus ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. E, em seu ensinamento, dizia-lhes: 3“Escutai! O semeador saiu a semear. 4Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram os pássaros e a comeram. 5Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, 6mas, quando saiu o sol, ela foi queimada; e, como não tinha raiz, secou. 7Outra parte caiu no meio dos espinhos; os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. 8Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, que foi crescendo e aumentando, chegando a render trinta, sessenta e até cem por um”. 9E Jesus dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. 10Quando ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram sobre as parábolas. 11Jesus lhes disse: “A vós, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora, tudo acontece em parábolas, 12para que olhem mas não enxerguem, escutem mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados”. 13E lhes disse: “Vós não compreendeis esta parábola? Então, como compreendereis todas as outras parábolas? 14O semeador semeia a Palavra. 15Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a escutam, chega Satanás e tira a Palavra que neles foi semeada. 16Do mesmo modo, os que receberam a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e logo a recebem com alegria, 17mas não têm raiz em si mesmos, são inconstantes; quando chega uma tribulação ou perseguição, por causa da Palavra, logo desistem. 18Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, sufocam a Palavra, e ela não produz fruto. 20Por fim, aqueles que recebem a semente em terreno bom são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um”.


 Reflexão.

Este Evangelho nos traz a parábola do semeador, explicada depois por Jesus, e também o motivo por que ele usava parábolas.
Esta parábola explica por que agora, dois mil e nove anos após a vinda de Jesus, o mundo ainda está tão distante do seu Evangelho: guerras, violências, drogas, abortos, famílias desestruturadas... Isso apesar de a Bíblia ser o livro mais editado do mundo, e nos últimos tempos ser lida e explicada em milhares de meios de comunicação.
O semeador é Deus, a semente é a Palavra de Deus e o terreno é o nosso coração. Muitos não a levam a sério. “Entra por um ouvido e sai pelo outro”. É a terra de beira de estrada, onde satanás logo a vê e a retira de nós.
Outros começam a seguir, mas não perseveram. É o terreno das pedras, onde a semente nasce, mas não chega a produzir fruto. Nós comemos o alimento pela boca, engolimos, ele cai no estômago e lá é digerido. Com a Palavra de Deus acontece algo parecido: nós a ouvimos ou lemos, ela vai para o nosso coração onde a acolhemos com amor, vai depois para a inteligência, onde a transformamos em alimento espiritual para nós e em seguida sai pelas nossas mãos, pés, palavras e ações
Há os que ouvem a Palavra de Deus, mas não querem deixar sua vida errada. É a semente crescendo no meio de espinhos. Ela pode até produzir frutos, mas de tão baixa qualidade que nem compensa colher. Eu creio que aqui Jesus nos pega a todos.
Mas Jesus não é pessimista. Há muitos cristãos bem intencionados que ouvem a Palavra de Deus com boa vontade e com desejo de vivê-la. Esses produzem frutos, embora em quantidade e qualidade diferentes, de acordo com o empenho de cada um. Fica claro que a Palavra de Deus que chega a todos nós é a mesma e tem a mesma força transformadora. O que faz a diferença é a forma como a ouvimos.
Façamos uma pergunta a nós mesmos, e respondamos com toda sinceridade: Que tipo de terreno sou eu?
Havia, certa vez, um rapaz que era muito tímido. Um dia, ele estava passando numa rua e viu uma garota muito bonita, que trabalhava numa loja de discos. Ficou encantado e entrou na loja. Ela lhe deu um sorriso e perguntou se podia servi-lo. A emoção dele foi tão forte que não conseguiu dizer uma palavra. Apenas pegou o primeiro CD que viu na frente, deu a ela e disse: “Esse aqui”.
Ela pegou o CD, foi lá dentro, fez um embrulho muito bonito e lhe deu. Ele saiu, mas sua vontade era ficar ali admirando aquela figura encantadora.
Daquele dia em diante, freqüentemente ele ia à loja e comprava um CD. A mocinha, cada vez mais linda, sorridente e gentil.
Chegando a sua casa, ele nem desembrulhava os discos, pois ainda não tinha o aparelho para tocar. Simplesmente os jogava na gaveta do seu guarda-roupa.
Um dia ele encheu-se de coragem e, enquanto ela embrulhava o CD lá dentro, deixou sobre o balcão um papelzinho com o seu nome e telefone.
No dia seguinte de manhã o telefone tocou. A mãe dele foi atender, era a moça. A mãe lhe disse desconsolada: “Querida, meu filho sempre falava em você. Estava apaixonado por você. Mas eu tenho uma notícia triste: ele faleceu esta noite, de acidente!”
A menina foi à casa. A mãe foi ver o guarda-roupa dele e achou os discos ainda embrulhados. Desembrulhou-os e encontrou neles vários bilhetes dela, tipo assim: “Você é muito simpático. Não quer me convidar para sairmos?”
A Bíblia Sagrada é mais que bilhete, é uma carta de amor de Deus a nós. Não vamos deixá-la fechada na estante de livros, pois o tempo passa rápido e pode acontecer de não ficarmos sabendo o que Deus escreveu para nós!

Maria Santíssima produziu cem por um. Foi sua prima Isabel que disse isso, quando a recebeu em sua casa: “Feliz de você que acreditou, porque tudo o que o Senhor lhe disse será cumprido”. Que ela, Santa Isabel e todos os santos nos ajudem!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

POR QUE OS CATÓLICOS REZAM O TERÇO?

Descubra por que, durante séculos, os papas chamaram o terço de “arma espiritual” e invocaram Maria como a “vencedora das heresias”.

Durante séculos, a Igreja intensificou a oração do terço em momentos de luta. São Domingos o considerava como uma arma espiritual e os papas chamavam Maria de “vencedora das heresias”, invocando sua ajuda para combater questões que vão do catarismo ao comunismo.

A devoção ao terço foi se desenvolvendo lentamente ao longo de cerca de 500 anos.

O terço é uma oração constituída pela recitação de 50 (até 200) Ave-Marias, em grupos de dez, cada grupo precedido por um Pai-Nosso e concluído com um Glória. Durante o rosário, medita-se sobre os mistérios da vida de Cristo e da sua Mãe.

Ainda que a tradição popular atribua a origem do terço a São Domingos (1170-1221), as pesquisas históricas atuais mostram que a devoção a esta oração se desenvolveu lentamente no tempo. O próprio João Paulo II parece afirmar isso em sua carta Rosarium Virginis Mariae (2002), que começa recordando que o terço “foi gradualmente tomando forma no segundo milênio, sob a guia do Espírito de Deus”.

Ainda que não se saiba exatamente qual é a história do início do terço, o Pe. Etienne Richer explica, em "Mariology", que, no final do século XI, ou seja, quase um século antes de São Domingos, “já se conhecia e praticava uma devoção mariana caracterizada por numerosas Ave-Marias, com prostrações rítmicas em honra de Nossa Senhora, primeiro em comemoração das suas alegrias, depois dos seus sofrimentos”. O nome “rosário” começou associado a esta prática.

Nesta mesma época, irmãos e monges cistercienses que não conseguiam memorizar os 150 salmos que sua ordem rezava cada semana, teriam recitado 150 Pai-Nossos. Os leigos logo copiariam esta forma de rezar, mas substituindo o Pai-Nosso pela Ave-Maria. O nome dado a esta devoção foi “Saltério de Maria”.

Por volta do ano 1200, diz-se que Nossa Senhora apareceu a São Domingos e lhe disse: “Reze o meu saltério e ensine-o às pessoas. Esta oração nunca falhará”. Domingos difundiu a devoção ao Saltério de Maria e, como afirma o Pe. Richter, esta devoção foi “incorporada de forma divina à vocação pessoal de São Domingos”.

Nas décadas posteriores, o terço e o saltério de Maria convergiram e a devoção assumiu a forma específica que hoje conhecemos: as 150 Ave-Marias se dividem em dezenas e o Pai-Nosso se insere entre elas, assim como se estabelecem os três grupos de mistérios (gozosos, dolorosos e gloriosos).

Em 2002, João Paulo II acrescentou cinco mistérios ao terço, chamando-os de “luminosos”. Ele propôs estes mistérios com o fim de “mostrar plenamente a profundidade cristológica do terço”, ao incluir “os mistérios do ministério público de Cristo entre o seu Batismo e a sua Paixão”.

O terço é a arma espiritual da Igreja que “afugenta os demônios”.

Desde o século XII, a Igreja intensificou a oração do terço nos momentos de dificuldade e tribulação. Em 1569, São Pio V consagrou oficialmente o terço, atribuindo à sua recitação a destruição da heresia e a conversão de muitos pecadores. Pediu aos fiéis que rezassem o terço naquela época “de tantas heresias, gravemente perturbada e aflita por tantas guerras e pela depravação moral dos homens”.

O prolífico Leão XIII (1878-1903), conhecido sobretudo pelas suas encíclicas sobre questões sociais, especialmente a Rerum novarum (1891) – sobre as condições do trabalho –, escreveu pelo menos 16 documentos sobre o terço, incluindo 12 encíclicas.

Esse “Papa do terço” escreveu sua primeira encíclica sobre esta oração em 1883, no 25º aniversário das aparições de Lourdes. No texto, ele recorda o papel de São Domingos e como a oração do terço ajudou a derrotar os hereges albigenses no sul da França, nos séculos XII e XIII. São Domingos, dizia o Papa, “atacou intrepidamente os inimigos da Igreja Católica, não pela força das armas, mas confiando totalmente na devoção que ele foi o primeiro em instituir com o nome de Santo Terço”.

“Guiado pela inspiração e pela graça divinas – prosseguiu o Pontífice – previu que esta devoção, como a mais poderosa arma de guerra, seria o meio para colocar o inimigo em fuga e para confundir sua audácia e louca impiedade.”

Também falou sobre a eficácia e poder do terço na histórica batalha de Lepanto, entre as forças cristãs e muçulmanas, em 1521. As forças islâmicas haviam avançado rumo à Espanha e, quando estavam a ponto de superar as cristãs, o Papa Pio V fez um apelo aos fiéis para que rezassem o terço. Os cristãos ganharam e, como homenagem por esta vitória, o Papa declarou Maria como Senhora da Vitória, estabelecendo sua festa no dia 7 de outubro, dia do santo terço.

Voltando à necessidade do terço em sua época, o Papa escreveu: “É muito doloroso e lamentável ver tantas almas resgatadas por Jesus Cristo arrancadas da salvação pelo furacão de um século extraviado e lançadas no abismo e na morte eterna. Na nossa época, temos tanta necessidade do auxílio divino como na época em que o grande Domingos levantou o estandarte do Terço de Maria, a fim de curar os males do seu tempo”.

Pio XI (1922-1939) dedicou sua última encíclica – Ingravescentibus malis – ao terço, em 1937, o mesmo ano em que escreveu a Mit brennender Sorge, na qual criticava os nazistas, e a Divini Redemptoris, na qual afirmava que o consumismo ateu “pretende derrubar radicalmente a ordem social e socavar os próprios fundamentos da civilização cristã”.

Criticando o espírito da época, “com seu orgulho depreciativo”, o Papa disse que o terço é uma oração que tem “o perfume da simplicidade evangélica”, que requer humildade de espírito.

“Uma inumerável multidão, de homens santos de toda idade e condição, sempre o estimou – escreveu. Rezaram-no com grande devoção e em todo momento o usaram como arma poderosíssima para afugentar os demônios, para conservar a vida íntegra, para adquirir mais facilmente a virtude, enfim, para a consecução da verdadeira paz entre os homens.”

Em 1951, Pio XII (1939-1958) escreveu Ingruentium malorum, sobre a oração do terço: “Categoricamente, não hesitamos em afirmar em público que depositamos grande esperança no Rosário de nossa Senhora como remédio dos males do nosso tempo. Porque não é pela força, nem pelas armas, nem pelo poder humano, mas sim pelo auxílio alcançado por meio dessa devoção, que a Igreja, munida desta espécie de funda de Davi, consegue impávida afrontar o inimigo infernal”.

Para conhecer Jesus é preciso se voltar a Maria.

Em 1985, o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, admitiu – no livro-entrevista “Informe sobre a Fé”, com Vittorio Messori – achar que a declaração de que Maria é “a vencedora de todas as heresias” era um pouco “exagerada”.

Explicou que, “quando eu ainda era um jovem teólogo, antes das sessões do Concílio (e também durante elas), como aconteceu e acontece hoje com muitos, tinha algumas reservas sobre certas fórmulas antigas, como, por exemplo, aquela famosa 'De Maria nunquam satis' [de Maria nunca se dirá o bastante]".

É oportuno observar que Joseph Ratzinger cresceu em um ambiente muito mariano. No livro “Meu irmão, o Papa”, George Ratzinger comenta que seus avós se casaram no Santuário de Nossa Senhora de Absam e que seus pais se conheceram por meio de um anúncio que seu pai colocou (duas vezes) no jornal do santuário mariano de Altotting. Os Ratzinger rezavam o terço juntos muitas vezes e, no mês de maio, participavam de numerosas celebrações de Maria e do terço.

No entanto, apesar da sua familiaridade com Maria e da devoção mariana, ele não parecia convencido. Como explica no livro-entrevista, o cardeal, como prefeito do dicastério vaticano, passou por uma pequena conversão. “Hoje – acrescentou –, neste confuso período, em que todo tipo de desvio herético parece se amontoar às portas da fé católica, compreendo que não se trata de exageros de almas devotas, mas de uma verdade hoje mais forte do que nunca.”

É necessário voltar a Maria se quisermos voltar à verdade sobre Jesus Cristo, à verdade sobre a Igreja e à verdade sobre o homem.”

“A oração do terço permite-nos fixar o nosso olhar e o nosso coração em Jesus, como sua Mãe, modelo insuperável da contemplação do Filho – disse Bento XVI em 12 de maio de 2010, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Ao meditar os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos ao longo das 'Ave-Marias', contemplamos todo o mistério de Jesus, desde a Encarnação até a Cruz e a glória da Ressurreição; contemplamos a participação íntima de Maria neste mistério e a nossa vida em Cristo hoje, também ela tecida de momentos de alegria e de dor, de sombras e de luz, de trepidação e de esperança.”
 “A graça invade o nosso coração no desejo de uma incisiva e evangélica mudança de vida, de modo a poder proclamar com São Paulo: 'Para mim viver é Cristo' (Flp 1, 21), numa comunhão de vida e de destino com Cristo.” 





Karna Swanson