sexta-feira, 30 de junho de 2023

12ª Semana do Tempo Comum - Por que Deus às vezes não nos atende?

 O leproso: Deixar Deus ser Deus – Vida de Peregrino

Primeira Leitura (Gn 17,1.9-10.15-22)

Leitura do Livro do Gênesis.

1Abrão tinha noventa e nove anos de idade, quando o Senhor lhe apareceu e lhe disse: “Eu sou o Deus Poderoso. Anda na minha presença e sê perfeito”. 9Deus disse ainda a Abraão: ”Guarda a minha aliança, tu e a tua descendência para sempre. 10Esta é a minha aliança que devereis observar, aliança entre mim e vós e tua descendência futura: todo homem entre vós deverá ser circuncidado”. 15Deus disse também a Abraão: “Quanto à tua mulher, Sarai, já não a chamarás Sarai, mas Sara. 16Eu a abençoarei e também dela te darei um filho. Vou abençoá-la, e ela será mãe de nações, e reis de povos dela sairão”.

17Abraão prostrou-se com o rosto em terra, e pôs-se a rir, dizendo consigo mesmo: “Será que um homem de cem anos vai ter um filho e que, aos noventa anos, Sara vai dar à luz?” 18E, dirigindo-se a Deus, disse: “Se ao menos Ismael pudesse viver em tua presença”. 19Deus, porém, disse: “Na verdade, é Sara, tua mulher, que te dará um filho, a quem chamarás Isaac. Com ele estabelecerei a minha aliança, uma aliança perpétua para a sua descendência. 20Atendo ao teu pedido, também, a respeito de Ismael. Eu o abençoarei e tornarei fecundo e extremamente numeroso. Será pai de doze príncipes e farei dele uma grande nação. 21Mas, quanto à minha aliança, eu a estabelecerei com Isaac, o filho que Sara te dará no ano que vem, por este tempo”. 22Tendo acabado de falar com Abraão, Deus se retirou.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Responsório Sl 127(128),1-2.3.4-5 (R. 4)

— Será assim abençoado todo aquele que respeita o Senhor.

— Será assim abençoado todo aquele que respeita o Senhor.

— Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos hás de viver, serás feliz, tudo irá bem!

— A tua esposa é uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos são rebentos de oliveira ao redor de tua mesa.

— Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.

Evangelho (Mt 8,1-4)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.

— Glória a vós, Senhor.

1Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam. 2Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 3Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra.

4Então Jesus lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles”.

Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

Terminado o Sermão da Montanha, Jesus começa a realizar uma série de milagres, o primeiro dos quais, narrado hoje por S. Mateus, é a cura de um leproso. O diálogo entre ele e o Senhor é exemplar, fonte de muitos ensinamentos para os fiéis de todos os tempos. Em primeiro lugar, não custa recordar que os milagres realizados por Cristo não têm em vista apenas a ajuda material concedida a este ou àquele doente. Jesus, por ser Deus encarnado, via a todos nós sempre, de maneira que cada um dos seus gestos, repletos de sentido e valor salvífico, de alguma forma diz respeito a todos os homens, de ontem e de hoje. Por esta razão, além de sua materialidade de fatos históricos — neste caso, a cura de um leproso —, as ações de Cristo possuem uma dimensão mística, mas nem por isso menos real, na qual todos nós nos devemos sentir envolvidos: ali, na purificação daquele enfermo, é a nós que Ele se dirige, é a nós que Ele cura, é a nós que Ele diz: “Fica limpo”.

Também nas palavras que compõem este episódio quis o Espírito Santo deixar registrado um ensinamento. A nossa oração, como a súplica do leproso, deve começar sempre pelo reconhecimento da soberania de Deus, que tudo pode: “Senhor, tu tens o poder…”, ao mesmo tempo que nos submetemos ao que for do seu agrado: “Se queres”. Com efeito, Deus nem sempre quer tudo o que pode, pois nem sempre o que desejamos é o que Ele sabe que nos convém. Nisto se distingue a nossa fé das religiões pagãs, para as quais a oração e o culto são, não raro, uma tentativa de “convencer” a divindade a cumular-nos de favores. O cristão, ao contrário, é confiante, mas antes submisso; pede, sim, mas não o que deseja, senão o que Deus quer: “Senhor, se queres…”. Eis a atitude piedosa que temos de procurar imitar, conscientes de que é muitas vezes preferível não sermos atendidos, porque desejamos e pedimos o que nos fará mal. Deus, que tem contados nossos fios de cabelo, sabe do que precisamos e não deixará nunca de socorrer, no tempo e do modo oportuno, os que a Ele se dirigem com confiança e, sobretudo, dócil e submissa humildade: “Senhor, se queres, tu tens o poder”.

 

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quinta-feira, 29 de junho de 2023

12ª Semana do Tempo Comum - A rocha firme da caridade.

 Evangelizando Crianças: A CASA CONSTRUÍDA SOBRE A ROCHA

O Senhor é a força de seu povo, fortaleza e salvação do seu ungido. Salvai, Senhor, vosso povo, abençoai vossa herança e governai para sempre os vossos servos (Sl 27,8s).

Deus tem projetos importantes para todos, mas nem sempre a pessoa está atenta aos sinais dos tempos, pelos quais Ele se manifesta, então acaba atropelando e distorcendo os planos divinos. Esta liturgia nos ajude a viver em sintonia com a vontade e a Palavra do Senhor.

Primeira Leitura: Gênesis 16,1-12.15-16 ou 6-12.15-16

[A forma breve está entre colchetes.]

Leitura do livro do Gênesis1Sarai, a mulher de Abrão, não lhe dera filhos. Mas, tendo uma escrava egípcia, chamada Agar, 2Sarai disse a Abrão: “Eis que o Senhor me fez estéril. Une-te, pois, à minha escrava para ver se, por ela, posso ter filhos”. Abrão atendeu ao pedido de Sarai. 3Depois de Abrão ter morado dez anos em Canaã, Sarai, sua esposa, tomou sua escrava egípcia, Agar, e deu-a como mulher ao seu marido, Abrão. 4Abrão uniu-se a Agar e ela concebeu. Percebendo-se grávida, começou a olhar com desprezo a sua senhora. 5Sarai disse a Abrão: “Tu és responsável pela injúria que estou sofrendo. Fui eu mesma que coloquei minha escrava em teus braços, e ela, apenas ficou grávida, pôs-se a desprezar-me. O Senhor será juiz entre mim e ti”. 6Abrão respondeu a Sarai: “Olha, a escrava é tua; faze dela o que bem entenderes”. E [Sarai maltratou-a tanto, que ela fugiu. 7Um anjo do Senhor, encontrando-a junto à fonte do deserto, no caminho de Sur, disse-lhe: 8“Agar, escrava de Sarai, de onde vens e para onde vais?” Ela respondeu: “Estou fugindo de Sarai, minha senhora”. 9E o anjo do Senhor lhe disse: “Volta para a tua senhora e sê submissa a ela”. 10E acrescentou: “Multiplicarei a tua descendência de tal forma, que não se poderá contar”. 11Disse, ainda, o anjo do Senhor: “Olha, estás grávida e darás à luz um filho e o chamarás Ismael, porque o Senhor te ouviu na tua aflição. 12Ele será indomável como um jumento selvagem, sua mão se levantará contra todos, e a mão de todos contra ele. E ele viverá separado de todos os seus irmãos”. 15Agar deu à luz o filho de Abrão; e ele pôs o nome de Ismael ao filho que Agar lhe deu. 16Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar deu à luz Ismael.]Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 105(106)

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom.

1. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, / porque eterna é a sua misericórdia! / Quem contará os grandes feitos do Senhor? / Quem cantará todo o louvor que ele merece? – R.

2. Felizes os que guardam seus preceitos / e praticam a justiça em todo o tempo! / Lembrai-vos, ó Senhor, de mim, lembrai-vos, / pelo amor que demonstrais ao vosso povo! – R.

3. Visitai-me com a vossa salvação, / para que eu veja o bem-estar do vosso povo, / e exulte na alegria dos eleitos, / e me glorie com os que são vossa herança. – R.

Evangelho: Mateus 7,21-29

Aleluia, aleluia, aleluia.

Quem me ama realmente guardará minha palavra / e meu Pai o amará, e a ele nós viremos (Jo 14,23). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. 22Naquele dia, muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?’ 23Então eu lhes direi publicamente: jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal. 24Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha. 26Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!” 28Quando Jesus acabou de dizer essas palavras, as multidões ficaram admiradas com seu ensinamento. 29De fato, ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da Lei. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho que a Igreja hoje nos propõe, Jesus explica aos discípulos a necessidade de fazer o bem com reta intenção. Ainda que profetizar e expulsar demônios sejam atos bons em si mesmos, que valor terão eles se não forem motivados pela verdadeira caridade cristã? "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos Céus", explica Jesus, "mas o que põe em prática a vontade de meu Pai", ou seja, todo aquele que faz o que é reto e justo com o propósito único de servir e agradar a Deus. É por isso que o Apóstolo Paulo escreve à comunidade de Corinto estas já conhecidas palavras: "Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria" (1Cor 13, 3). Quantas boas obras são todos os dias desperdiçadas por quem as faz por razões erradas (interesses, vaidade, orgulho...)! Nem os mais heroicos sacrifícios têm valor aos olhos do Céu se não forem animados por aquele amor sobrenatural à divina bondade do Senhor: "se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine" (1Cor 13, 1)! Peçamos, pois, ao Espírito Santo que derrame em nossos corações este amor que só Ele nos pode dar e clamemos hoje continuamente ao Pai: "Dá-me, Senhor, o amor com que queres que eu te ame" (São Josemaria Escrivá, Forja, n. 270).
 
 
 
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terça-feira, 27 de junho de 2023

12ª Semana do Tempo Comum - A porta estreita.

 26/06 - Evangelho do Dia: Mt 7,6.12-14 - Rádio Rainha da Paz

O Senhor é a força de seu povo, fortaleza e salvação do seu ungido. Salvai, Senhor, vosso povo, abençoai vossa herança e governai para sempre os vossos servos (Sl 27,8s).

Mediante o diálogo e a compreensão mútua – “somos irmãos”, diz Abrão a Ló -, as famílias resolvem seus problemas. Esta liturgia nos inspire a trilhar sempre o caminho estreito do bom senso e da fraternidade para melhorar nossa convivência em família e na sociedade.

Primeira Leitura: Gênesis 13,2.5-18

Leitura do livro do Gênesis 2Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. 5Ló, que acompanhava Abrão, também tinha ovelhas, gado e tendas. 6A região já não bastava para os dois, pois seus rebanhos eram demasiado numerosos para poderem morar juntos. 7Surgiram discórdias entre os pastores que cuidavam da criação de Abrão e os pastores de Ló. Naquele tempo, os cananeus e os ferezeus ainda habitavam naquela terra. 8Abrão disse a Ló: “Não deve haver discórdia entre nós e entre os nossos pastores, pois somos irmãos. 9Estás vendo toda esta terra diante de ti? Pois bem, peço-te, separa-te de mim. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para a esquerda”. 10Levantando os olhos, Ló viu que toda a região em torno do Jordão era por toda parte irrigada – isso antes que o Senhor destruísse Sodoma e Gomorra -, era como um jardim do Senhor e como o Egito, até a altura de Segor. 11Ló escolheu, então, para si a região em torno do Jordão e foi para oriente. Foi assim que os dois se separaram um do outro. 12Abrão habitou na terra de Canaã, enquanto Ló se estabeleceu nas cidades próximas do Jordão e armou suas tendas até Sodoma. 13Ora, os habitantes de Sodoma eram péssimos e grandes pecadores diante do Senhor. 14E o Senhor disse a Abrão, depois que Ló se separou dele: “Ergue os olhos e, do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente: 15toda essa terra que estás vendo, eu a darei a ti e à tua descendência para sempre. 16Tornarei tua descendência tão numerosa como o pó da terra. Se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua descendência. 17Levanta-te e percorre este país de ponta a ponta, porque é a ti que o darei”. 18Tendo desarmado suas tendas, Abrão foi morar junto ao carvalho de Mambré, que está em Hebron, e ali construiu um altar ao Senhor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 14(15)

Senhor, quem morará em vosso monte santo?

1. “Senhor, quem morará em vossa casa?” † É aquele que caminha sem pecado / e pratica a justiça fielmente; / que pensa a verdade no seu íntimo / e não solta em calúnias sua língua. – R.

2. Que em nada prejudica o seu irmão / nem cobre de insultos seu vizinho; / que não dá valor algum ao homem ímpio, / mas honra os que respeitam o Senhor. – R.

3. Não empresta o seu dinheiro com usura † nem se deixa subornar contra o inocente. / Jamais vacilará quem vive assim! – R.

Evangelho: Mateus 7,6.12-14

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu sou a luz do mundo; / aquele que me segue / não caminha entre as trevas, / mas terá a luz da vida (Jo 8,12). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 6“Não deis aos cães as coisas santas nem atireis vossas pérolas aos porcos, para que eles não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem. 12Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas. 13Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! 14Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram!” – Palavra da salvação.

Reflexão:

“Entrai pela porta estreita”, diz Nosso Senhor, “porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele”. A porta estreita pela qual se entra no céu e se tem acesso ao banquete da glória celeste, diz S. Agostinho, é a Lei de Deus, que modera e mortifica nossas paixões, e também a obediência, a continência, a penitência e a cruz de cada dia, que Cristo nos manda carregar, se o queremos seguir em seu triunfo. A porta larga que leva à perdição da geena, por sua vez, é a concupiscência, o excesso de liberdade, a gula, os pecados da carne em geral etc. Cristo, que melhor do que ninguém sabe como chegar ao céu, refere-se em parte às sanções, em parte às interpretações que fizeram de sua Lei, promulgada pouco antes (cf. Mt 5, passim): “Aquele que disser ao irmão: Louco, será condenado ao fogo da geena”; “Aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher já adulterou com ela em seu coração”; “Se teu olho direito: se alguém te ferir a face direi­ta, oferece-lhe também a ou­tra”; “"Dá a quem te pede”; “Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam”; “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito”. Tudo isso, com efeito, é árduo e laborioso, como se Jesus estivera a dizer: “Julgais que vos tornei difícil a salvação; sabei porém que ela é, em si mesma, árdua e difícil. Não fiz mais do que vo-la descrever tal como é. O caminho pois que leva à glória é a pureza e a santidade, que no presente estado de natureza caída não se pode alcançar sem mortificação e um perfeito domínio das paixões”. De fato, assim como pela concupiscência Adão caiu em pecado e, nele como em nossa cabeça, todos nós pecamos, assim também não temos outro remédio que disciplinar a concupiscência e, com o auxílio da graça, fazer violência contra nós mesmos para conquistar o Reinos dos céus: “O Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11, 12). Tarefa, sim, custosa e muitas vezes pouco grata à nossa sensibilidade, aos nossos gostos e comodidades; mas é o único e verdadeiro caminho para chegar àquela bem-aventurança a que todo coração humano anseia, mas a que poucos, infelizmente, estão dispostos a chegar: “Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram” [1].

 

Referências

  1. Cf. Cornélio a Lapide, Commentaria in S. Scripturam. Neapoli, 1857, vol. 8, pp. 144D-145A.

domingo, 25 de junho de 2023

12º Domingo do Tempo Comum - Quem amar e quem temer?

 TEMOR DO VERDADEIRO MAL E CONFIANÇA NO PAI – MATEUS 10,26-33

Primeira Leitura (Jr 20,10-13)

Leitura do Livro do profeta Jeremias:

Jeremias disse: 10“Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: ‘Denunciai-o, denunciemo-lo’. Todos os amigos observam minhas falhas: ‘Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele’. 11Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12Ó Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogote me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa. 13Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus”.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Responsório Sl 68(69),8-10.14.17.33-35 (R. 14c)

— Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!

— Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!

— Por vossa causa é que sofri tantos insultos, e o meu rosto se cobriu de confusão; eu me tornei como um estranho a meus irmãos, como estrangeiro para os filhos de minha mãe. Pois meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador.

— Por isso elevo para vós minha oração, neste tempo favorável, Senhor Deus! Respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha! Senhor, ouvi-me, pois suave é vossa graça, ponde os olhos sobre mim com grande amor!

— Humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá, se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos. Que céus e terra glorifiquem o Senhor, com o mar e todo ser que neles vive!

Segunda Leitura (Rm 5,12-15)

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:

Irmãos: 12O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram. 13Na realidade, antes de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. 14No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, o qual era a figura provisória daquele que devia vir. 15Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos.

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Anúncio do Evangelho (Mt 10,26-33)

— Aleluia, Aleluia, Aleluia.

— O Espírito Santo, a Verdade, de mim irá testemunhar, e vós minhas testemunhas sereis em todo lugar. (Jo 15,26b.27a)

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos: 26“Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. 27O que vos digo na escuridão dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados! 28Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! 29Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. 30Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. 31Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. 32Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. 33Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

  Depois de escolher seus discípulos, Jesus os instrui acerca dos perigos que terão de enfrentar para anunciar o Evangelho aos homens. “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo”, adverte-os o Senhor, mas “temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno”. Cristo sabe que o destino de seus Apóstolos (bem como de toda a Igreja) não será diferente do seu; Ele os envia “como ovelhas no meio dos lobos” e, por isso, previne-os contra a ameaça da deserção, fortalecendo cada um com a promessa da vida eterna.

O ensinamento de Nosso Senhor, no evangelho deste domingo, diz respeito à ordem de nossos amores. Quanto mais amamos algo, mais tememos perdê-lo. Em razão disso, podemos falar de uma verdadeira hierarquia de amores, pela qual definimos nossas escolhas morais, afetivas e espirituais. Se diante de um assalto, por exemplo, somos obrigados a escolher entre a vida e a carteira, deixamos esta por aquela, pois a vida tem, naturalmente, um valor muito superior a qualquer objeto material.

Pois bem, Jesus mostra aos Apóstolos que, diante das ameaças à vida biológica, há um bem maior que é a vida eterna. O amor a esta vida, portanto, não pode pôr em risco a salvação das almas, mas deve estar ordenado justamente à eternidade. E deve ser assim porque, mais cedo ou mais tarde, todo cristão terá de escolher entre a cruz e a apostasia, dada a aversão do mundo às coisas de Deus. Inevitavelmente, o mundo odiará quem for fiel aos Mandamentos, ainda que esse cristão seja a personalidade mais carismática da vizinhança. Porque “a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz” (Jo 3, 19).

Amar ou não a Deus é uma escolha que o próprio Senhor nos concedeu com o livre-arbítrio. A prática do primeiro mandamento, nesse sentido, consiste numa decisão pela qual aceitamos perder tudo neste mundo, inclusive a vida biológica, para conquistarmos a eternidade.

2. Jesus ensina, por outro lado, que a nossa caminhada cristã nunca é solitária. Aqueles que buscam conservar as palavras de Deus são protegidos pela divina Providência e, consequentemente, não precisam temer a ninguém. “Não tenhais medo”, exorta-nos Jesus, porque “vós valeis mais do que muitos pardais”. Ele nos ama incondicionalmente ainda que nos achemos as criaturas mais vis e miseráveis da face da terra. Sendo assim, para ordenarmos nossos amores, precisamos crer no amor de Deus, muito mais do que senti-lo. E com essa poderemos corresponder a Ele através de uma vida mais preocupada em preservar a graça do que a matéria.

A quem, então, iremos temer? Cristo prometeu: a “todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus”. Quando, pois, soar a última trombeta e os mortos ressuscitarem, devemos nos tranquilizar pela certeza de que Ele estará ao nosso lado, uma vez que, em nossas vidas, tivemos a coragem de nada antepor a Cristo (Christo nihil praeponere).

Oração. — Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

 

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sexta-feira, 23 de junho de 2023

11ª Semana do Tempo Comum - Onde está o teu coração?

 FILME | Rei dos Reis - Contexto Histórico

Ouvi, Senhor, a voz do meu apelo, tende compaixão de mim e atendei-me; vós sois meu protetor, não me deixeis; não me abandoneis, ó Deus, meu salvador! (Sl 26,7.9)

O Evangelho não é um conto de fadas, e quem o anuncia muitas vezes se torna um incômodo, é rejeitado e mal interpretado. Do evangelizador exige-se um “olhar sadio”, coerente e firme para propor aos outros autêntica mudança de vida. Rezemos pelos que, na Igreja, têm a missão de evangelizar.

Primeira Leitura: 2 Coríntios 11,18.21-30

Leitura da segunda carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 18já que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. 21O que outros ousam dizer em vantagem própria, eu também o digo a meu respeito, embora fale como insensato. 22São hebreus? Eu também. São israelitas? Eu também. São da descendência de Abraão? Eu também. 23São servos de Cristo? Como menos sensato, digo: eu ainda mais. De fato, muito mais do que eles: pelos trabalhos, pelas prisões, pelos açoites sem conta. Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. 24Cinco vezes, recebi dos judeus quarenta açoites menos um. 25Três vezes, fui batido com varas. Uma vez, fui apedrejado. Três vezes, naufraguei. Passei uma noite e um dia no alto-mar. 26Fiz inúmeras viagens, com inúmeros perigos: perigos de rios, perigos de ladrões, perigos da parte de meus compatriotas, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos em lugares desertos, perigos no mar, perigos por parte de falsos irmãos. 27Trabalhos e fadigas, inúmeras vigílias, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! 28E sem falar de outras coisas, a minha preocupação de cada dia, a solicitude por todas as Igrejas! 29Quem é fraco, que eu também não seja fraco com ele? Quem é escandalizado, que eu não fique ardendo de indignação? 30Se é preciso gloriar-se, é de minhas fraquezas que me gloriarei! – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 33(34)

O Senhor liberta os justos de todas as angústias!

1. Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, / seu louvor estará sempre em minha boca. / Minha alma se gloria no Senhor; / que ouçam os humildes e se alegrem! – R.

2. Comigo engrandecei ao Senhor Deus, / exaltemos todos juntos o seu nome! / Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu / e de todos os temores me livrou. – R.

3. Contemplai a sua face e alegrai-vos, / e vosso rosto não se cubra de vergonha! / Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, / e o Senhor o libertou de toda angústia. – R.

Evangelho: Mateus 6,19-23

Aleluia, aleluia, aleluia.

Felizes os humildes de espírito, / porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5,3). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 19“Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. 20Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem nem os ladrões assaltam e roubam. 21Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 22O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado. 23Se o teu olho está doente, todo o teu corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão”. – Palavra da salvação.

Reflexão

"Não junteis tesouros aqui na terra", diz-nos hoje o Senhor. É uma como que constante no Evangelho sermos lembrados deste fato: os bens deste mundo são, por natureza, passageiros e perecíveis; o homem, porém, foi predestinado à posse das riquezas eternas: em primeiro lugar, da bem-aventurança celeste, que consiste essencialmente na contemplação direta de Deus; em segundo, da companhia e do amor dos anjos e santos no Céu. Por isso, temos de pôr o coração não no que passa, no que "a traça e a ferrugem destroem", mas no que é perpétuo e duradouro, nos tesouros celestes que ladrão nenhum pode roubar-nos. "Porque", continua Jesus, "onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Não é digno do homem, com efeito, contentar-se com as ninharias que o mundo lhe pode oferecer; antes, deve aspirar ao que há de mais alto, ao que lhe enobrece o coração e, por meio da verdadeira , o purifica de tudo quanto turva a imagem divina que lhe foi impressa (cf. Gn 1, 26).

E para vir em socorro ao nosso apego doentio às coisas temporais, o próprio Filho de Deus assumiu para si um Coração sacratíssimo, sempre voltado para as coisas do Pai. No entanto, para chegarmos concretamente à posse definitiva da herança eterna, temos de passar primeiro por esse mundo. Por esta razão, fomos dotados com aquela "lâmpada do corpo" a que se refere o Senhor. Esse "olho" por que nos guiamos neste desterro é, antes de tudo, o nosso intelecto, que nos dita quais bens devemos buscar; mas ele é também a intenção de nossas obras e a que, unindo-nos verdadeiramente a Jesus, deve levar-nos a ser um só coração com Ele, a ponto de podermos dizer com São Paulo: "Eu vivo, mas não sou eu; é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Colocando, pois, o nosso coração — tudo o que somos, temos e desejamos — no Coração de Cristo, teremos já aqui na terra Aquele tesouro preciosíssimo de que gozaremos plenamente na glória do Céu.

 
 
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