segunda-feira, 30 de junho de 2014

"VIVOS OU MORTOS PERTENCEMOS AO SENHOR"



 
 Romanos 14, 7-12

Cristo deu a vida por nós, portanto, Ele é o Senhor dos mortos e dos vivos e, somente Ele tem o poder de nos justificar diante do Pai, a cujo tribunal todos compareceremos. Se, tivermos consciência de que Jesus Cristo morreu e ressuscitou para nos dar a vida eterna, nós  também, como São Paulo, poderemos afirmar: “vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor!” Assim sendo, Jesus Cristo é o nosso Senhor e por isso, já não podemos mais viver para nós mesmos. 
São Paulo falava para a comunidade dos romanos onde havia discordâncias e críticas de uns para com os outros. Ele os exortava a que cada um prestasse conta das suas ações e não julgassem uns aos outros. 
Nós também, como cristãos, batizados, nunca poderemos nos esquecer de que devemos a Jesus Cristo, a nossa vida e o direito de ser filho de Deus. 
Às vezes, queremos ser independentes e donos do nosso destino e entendemos que só temos de dar satisfação dos nossos atos, a nós mesmos. 
Outras vezes, nos arvoramos de juiz de causa própria, nos isentando dos erros, mas, ao mesmo tempo, julgamos o modo como as outras pessoas se comportam. 
Que a admoestação de São Paulo nos sirva também de lição: “cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus” e que Jesus Cristo é o Senhor da nossa vida e das nossas ações, só a Ele pertencemos, não somos propriedade nossa. 

  • Você tem a Jesus Cristo, como Senhor da sua vida? 
  • – Você costuma pedir orientação ao Espírito Santo antes de decidir algo importante na sua vida?
  •  – Qual é a sua atitude diante das pessoas que, segundo a sua opinião, agem errado? 
  • – Você as condena? Você se compara com elas? 
  • – Você se considera “melhor” que elas?

DECISÃO DO CORAÇÃO.



Visão é a arte de ver as coisas invisíveis.( Jonatham Swift)
 

Aquilo que você obtém é insignificante quando comparado com aquilo que que você irá fazer com o que já obteve.
O tempo pode estar fechado e nuvens escuras pairam no céu, a conta no banco pode estar baixíssima, ainda assim, e os obstáculos ai estão diante de você. Porém, todas essas coisas não tem que necessariamente lhe impedir de ir em frente se assim você decidir em seu coração.
São muitas as pessoas que reclamam incessantemente daquilo que tem em mãos.
E tudo que elas querem são ouvidos pacientes que possam ouvir os seus lamentos.
Felizmente, porém, existem aqueles que se mantém focalizados não naquilo que lhe foi dado, mas em como usar o que eles tem no melhor do seu potencial.
A consistente e perseverante utilização de medíocres recursos irão – em última análise – trazer maiores benefícios do que a vasta e inconsequente utilização de uma abundante riqueza. Não importa quais sejam as vantagens que outras pessoas possam ter sobre você, lembre-se apenas disto: Deus está ao seu lado e pronto para lhe assistir.
Pense na maravilha que isso representa. Lembre-se, ainda, que vencedores vencem não porque a eles lhes foi dado permissão, mas eles vencem porque assim eles decidiram no coração.
"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem". (Hebreus 11,1)
Gostaria de lhe dizer que :Enxergar os fatos e acontecimentos é um dom natural! Compreendê-los e transformá-los é Sa­bedoria!
Na vida, há coisas que podemos ver.., e há coisas que não queremos ver: “O essencial é invisível para os olhos”, como disse a raposa em “O pequeno príncipe” de Saint-Exupéry; pois enxegar e ver os fatos e os acon­tecimentos é um dom natural, a todos que não são cegos. E há cegos que enxergam bem mais que os sãos. O pior cego é aquele que não quer enxergar.
Agora, enxergar os fatos e os acontecimentos, compreen­dê-los e transformá-los, dando um sentido para a nossa vida é “Dom de Sabedoria.”
Quem pode duvidar de que essas expressões de um pobre, mísero e simples padre e de um astral principezinho expressem uma verdade com a qual nos deparamos diariamente!
Quem não viveu e vive fatos que não consegue compreender, situações existenciais complexas, diante das quais estacou à metade do caminho, sem poder chegar ao fundo de suas explicações?
A quem não é difícil entender, no outro , o que há além de um olhar esquivo, de uma palavra que não esperávamos, de uma lágrima imprevista ou de uma insólita pergunta sua que nos arrebata de repente de nossas expectativas cotidianas de comportamento?
Quem pode dizer que realmente conhece os seres humanos que o rodeiam ,que convivem com ele e que dividem um mesmo teto?
Quem, ante o repentino surgimento de uma crise,de um conflito, de uma experiência dolorosa, de uma perda irreparável ou de uma limitação física, pode ver com clareza o que há além dessa invisibilidade que nos impede ou dificulta compreender seu sentido e sua razão de ser?
Quem pode entender profundamente que a fé é a “coragem de permanecer na dúvida”, ou seja, “a coragem de caminhar com segurança em meio à impossibilidade de ver?
Estamos rodeados de mistérios que não podemos revelar, de faltas de clareza que não podemos iluminar, de véus que não podemos tirar e de profundidades às quais não podemos chegar. E esses mistérios, essas escuridões, esses véus e essas profundidades quase sempre nos ocultam coisas importantes, vitais, significativas, essenciais, que, como tais,não se compram nem se vendem, não se podem medir nem contar, nem depositar num banco, coisas pelas quais valem a pena viver, sofrer, trabalhar, esperar; coisas que são tesouros escondidos, como uma “semente que dorme no segredo da terra” ou como um “poço no meio do deser­o”, como afirmou o Pequeno Príncipe.
O essência  sempre está mais além do que simplesmente se vê. A imagem que se vê são muitas vezes a que impedem de ver o essencial.
Vêem-se rostos, gestos, ações, condutas; não se vê a emoção que gerou esse gesto nem o processo interior que conduziu a essa ação, nem muito menos a intenção que deu origem a essa conduta.
Continuaremos...











Pe.Emílio Carlos

LITURGIA DIÁRIA - QUE OS MORTOS ENTERREM SEUS MORTOS.

 
Primeira Leitura (Am 2,6-10.13-16)
Leitura da Profecia de Amós.
6Isto diz o Senhor: “Pelos três crimes de Israel, pelos seus quatro crimes, não retirarei a palavra: porque eles vendem o justo por dinheiro e o indigente pelo preço de um par de chinelos; 7pisam, na poeira do chão, a cabeça dos pobres, e impedem o progresso dos humildes; filho e pai vão à mesma mulher, profanando meu santo nome; 8deitando-se junto a qualquer altar, usando roupas que foram entregues em penhor, bebem vinho à custa de pessoas multadas, na casa de Deus.
9Entretanto, eu tinha aniquilado, diante deles, os amorreus, homens espadaúdos como cedros e robustos como carvalhos, destruindo-lhes os frutos na ramada e arrancando-lhes as raí­zes. 10Fui eu que vos fiz sair da terra do Egito e vos guiei pelo deserto, durante quarenta anos, para ocupardes a terra dos amorreus.
13Pois bem, eu vos calcarei aos pés, como calca o chão a carroça carregada de feixes; 14o mais ágil não conseguirá fugir, o mais forte não achará força, o valente não salvará a vida; 15o arqueiro não resistirá de pé, o corredor veloz não terá pernas para escapar, nem se salvará o cavaleiro; 16o mais corajoso dentre os corajosos fugirá nu, naquele dia”, diz o Senhor.
Responsório (Sl 49)
— Entendei isto, todos vós que esqueceis o Senhor Deus!
— Entendei isto, todos vós que esqueceis o Senhor Deus!
— “Como ousas repetir os meus preceitos e trazer minha Aliança em tua boca? Tu que odiaste minhas leis e meus conselhos e deste as costas às palavras dos meus lábios!
— Quando vias um ladrão, tu o seguias e te juntavas ao convívio dos adúlteros. Tua boca se abriu para a maldade e tua língua maquinava a falsidade.
— Assentado, difamavas teu irmão, e ao filho de tua mãe injuriavas. Diante disso que fizeste, eu calarei? Acaso pensas que eu sou igual a ti? É disso que te acuso e repreendo e manifesto essas coisas aos teus olhos.
— Entendei isto, todos vós que esqueceis Deus, para que eu não arrebate a vossa vida, sem que haja mais ninguém para salvar-vos! Quem me oferece um sacrifício de louvor, este sim é que me honra de verdade. A todo homem que procede retamente, eu mostrarei a salvação que vem de Deus”.
 
Evangelho (Mt 8,18-22)
 
Naquele tempo, 18vendo uma multidão ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem do lago. 19Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás”.
20Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. 21Um outro dos discípulos disse a Jesus: “Senhor, permite-me que primeiro eu vá sepultar meu pai”. 22Mas Jesus lhe respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”.

 Reflexão
 Às vezes, somos também como os mestres da lei. Achamos fácil seguir a Jesus, porque talvez assim possamos adquirir mais poder, ou então porque chamaremos mais a atenção das pessoas; ou então, porque já lemos toda a Bíblia e podemos dar um show de conhecimento ou por outras razões supérfluas. Na verdade nem percebemos a realidade da nossa pretensão! Por isso, Jesus nos abre os olhos para que observemos as “nossas promessas impetuosas” e nos esclarece que Ele nos chama, mas não nos engana. Quem quiser segui-Lo terá que passar pelas dificuldades próprias da mentalidade evangélica. O seguimento de Cristo nos tira das nossas raízes e nos desestrutura. Somos obrigados (as) a renunciar à nossa existência pacata, medíocre e acomodada. Para seguir a Jesus é preciso, também, não ter casa, não ter abrigo nem mordomia, isto é, não ter raízes em lugar nenhum. O discípulo que pediu a Jesus para primeiro sepultar o pai era alguém como nós que esperamos um tempo propício para nos desprender dos nossos apegos, dos nossos projetos. Para nós também Jesus diz, hoje: “segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. Enterrar os mortos significa resolver problemas e dar definições à sua vida apegando-se ao que é seu e de sua responsabilidade. Quem espera que tudo esteja resolvido na sua vida para depois seguir Jesus, irá viver sempre a omissão. Seguir Jesus é viver conforme o Seu Evangelho, é viver o amor, é praticar o perdão, é não fazer questão por coisas que não têm valor diante de Deus. Por isso, não podemos nos acomodar esperando novas oportunidades. É tempo de amar e construir aqui na terra o reino dos céus, para que não sejamos também chamados de “mortos”.
- Você também se propõe a seguir a Jesus aonde quer que Ele vá? - Qual a sua maior dificuldade para viver o Evangelho? - Você é uma pessoa muito apegada às pessoas da sua família e aos seus bens? - Você percebe que tem que renunciar a alguma coisa para seguir Jesus? – Você “acha bonito” seguir Jesus?





 
Helena Serpa

domingo, 29 de junho de 2014

13º DOMINGO DO TEMPO COMUM - SOLENIDADE DE S.PEDRO E S. PAULO - ANO A

                                                                                     

Este ano, o 13º Domingo Comum coincide com a Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo. A liturgia convida-nos a refletir sobre estas duas figuras e a considerar o seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e de testemunho do projeto libertador de Deus.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-no como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como Deus cauciona o testemunho dos discípulos e como cuida deles quando o mundo os rejeita. Na ação de Deus em favor de Pedro – o apóstolo que é protagonista, na história que este texto dos Atos hoje nos apresenta – Lucas mostra a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.
A segunda leitura apresenta-se como o “testamento” de Paulo. Numa espécie de “balanço final” da vida do apóstolo, o autor deste texto recorda a resposta generosa de Paulo ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho. É um texto comovente e questionante, que convida os crentes de todas as épocas e lugares a percorrer o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo.

LEITURA I – Atos 12,1-11

O texto que nos é hoje proposto, praticamente encerra a primeira parte do Livro dos Actos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. Act 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.
Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40) confiou-lhe, ainda, os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judeia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimónia pública.
Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helénica). Foi, provavelmente, com o mesmo objetivo que ele tentou suprimir a “seita cristã”, mandando executar Tiago e prendendo Pedro.
Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador ativo do Evangelho de Jesus, e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago “bebeu do mesmo cálice”, conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc 10,38). Estamos no ano 42.
Esta perseguição atingiu, também, outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.
No Livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projeto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.
Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projeto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.
1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vers. 1-4), mostram como o testemunho do projeto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.
2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (vers. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o facto de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja “orava instantemente a Deus por ele”, mostra como Deus escuta a oração da comunidade.
3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vers. 6-11) mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projeto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de carácter histórico (o aparecimento do “anjo do Senhor”, a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão); mas pretendem sublinhar a presença de Deus, e apor no testemunho dos apóstolos o “selo de garantia” de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.

ATUALIZAÇÃO

• Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o facto de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projeto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.

• O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho… Tal facto não deve preocupar-nos demasiado: é a reação lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos.

• A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.

• A nossa história sugere, também, a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)

Refrão: O Senhor libertou-me de todos os meus temores.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o Seu louvor está sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor;
ouçam e alegrem-se os humildes.
Enaltecei comigo ao Senhor,
e exaltemos juntos o Seu nome.
Procurei o Senhor, e Ele atendeu-me;
libertou-me de todos os meus temores.
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes:
vossos rostos não se hão de cobrir de vergonha.
Este pobre clamou, o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.
O anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Provai e vede como o Senhor é bom;
feliz o homem que n’Ele se refugia.


LEITURA II – 2 Timóteo 4,6-8.17-18

O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe judeo-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.
É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular), a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.
O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida, num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra. No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do “Reino”).
Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta “em libação” faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da Carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a ele pelos séculos sem fim. Amém”. É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.

ATUALIZAÇÃO

• Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.

• O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena. Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer?

• Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?

ALELUIA – Mt 16,18

EVANGELHO – Mateus 16,13-19

O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.
O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida, senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.
É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio. Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.
O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.
O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de carácter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de carácter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d’Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspetiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é, apenas, o Messias: é, também, o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal 29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14) ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Na segunda parte (vers. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus” – vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).
O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio”… Ora o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).
Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”. É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

ATUALIZAÇÃO

• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos veem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros veem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns veem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, veem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “statu quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excecional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Defini-l’O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?

• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para o testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?

• A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

sábado, 28 de junho de 2014

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA.

A liturgia propõe esta memória para o dia seguinte ao da grande festa do Coração de Jesus. Assim, depois da solenidade com que se celebra o Coração do Salvador, fazemos uma memória mais discreta do Coração da Mãe, da toda santa, da obra prima do Espírito.

O coração humano
Foi dito que somente os homens têm coração; os animais, no máximo, têm músculo cardíaco. Por isso, al falar do coração, nos deparamos com algo distinto e essencial para a nossa espécie humana. A palavra “coração” fica, em certas épocas, como que uma voz desgastada pelo uso e pelo abuso, talvez por um sentimentalismo decadente. Mas sempre renasce; porque é uma palavra chave da língua, uma “proto-palavra”, isto é, uma palavra de capital importância e de primeiríssima fila.
A Escritura nos apresenta toda uma gama de dimensões do coração. O coração é o centro da pessoa, sua interioridade mais profunda, a sede do conhecimento sapiencial, o lugar de onde brotam as decisões, a profundidade em que surgem o amor e a fidelidade, a fronteira onde homem se encontra com Deus e se encontra com ele mesmo, o espaço sagrado em que Deus faz ressoar sua palavra, exerce sua salvação, derrama seu amor e deposita o dom do seu Espírito. Vejamos os textos da Escritura sagrada:
O coração é o centro da pessoa e da sua interioridade mais profunda: “Eu porei minha lei no fundo do seu ser e a escreverei em seu coração” (Jer. 31, 33).
É o núcleo do qual surgem decisões: “Havia decidido em meu coração edificar uma casa onde descansasse a arca da aliança do Senhor” (1Cro 28, 2).
É a profundidade de onde nasce o amor e a fidelidade: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo teu coração, com toda tua alma, com toda tua mente, com todo teu ser” (Dt 6,5; Mt 22,37; Mc 12,30; cf Dt 13,4); “Eu vos darei um coração novo e vos infundirei meu espírito novo; vos arrancarei o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Infundirei meu espírito em vós e farei que vivais segundo meus mandamentos, observando e guardando minhas leis” (Ez 36,26-27).
É a fronteira onde o homem se encontra com Deus e o órgão da sua procura e do encontro: “Então procurarás ali (entre as nações) o Senhor teu Deus e o encontrarás, se o procuras com todo teu coração e com toda tua alma” (Dt 4, 29).
É o âmbito em que Deus faz ressoar sua palavra de amor, consolo, rejeição:“Levá-la-ei ao deserto e habitarei seu coração” (Os 2, 16); “falai ao coração de Jerusalém” (Is 40, 2); “a todo israelita que se entrega a seus ídolos, se logo consulta o profeta, lhe responderei eu mesmo, o Senhor... Assim chegarei até o coração dos israelitas que se distanciaram de mim... eu mesmo, o Senhor, lhe responderei” (Ez 14, 4-5.7).
É a profundidade onde Deus justifica, derrama seu amor e deposita seu Espírito: “quando se crê com o coração, age a força salvadora de Deus” (Rm 10, 10); “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5; Gl 4, 6).
Percebemos assim como no coração, para a tradição bíblica e cristã, estão presentes, não só os sentimentos, mas todas as dimensões da pessoa: o conhecer, o querer, a decisão moral, o amor humano e teologal.

O Coração de Maria,
O símbolo “Coração de Maria” nos evoca o mundo de sentimentos da Mãe do Senhor: Ela conhece a alegria transbordante (cf Lc 1, 28.47), mas também a perturbação (cf Lc 1, 29), a perda (cf Lc 2, 35), as procuras e as angústias (cf Lc 22, 48). Maria é, mesmo assim, aquela que crê, que “guarda e medita em seu coração” as manifestações de Jesus, desde o nascimento (Lc 2, 19), ou de mais tarde, na primeira Páscoa do menino (2, 51); o coração de Maria aparece então como “o berço de toda meditação cristã sobre os mistérios de Cristo” (J. M. Alonso). Maria é, ainda, modelo do verdadeiro discípulo, que escuta a Palavra, a conserva no coração e dá fruto com perseverança (Lc 8, 11-15. 19-21 e 11, 27-28). Maria é, enfim, a mulher nova que vive sem reservas nem cálculos o dom e os afãs do amor: “o Coração de Maria é seu amor; seu coração é o centro do seu amor a Deus e aos homens” (Claret).
Desenvolvamos este último ponto, começando pelo amor a Deus. Se as veias de Maria tivessem sido abertas alguma vez, teria acontecido, e com razão, o que se conta de um místico: abriram-lhe as veias e o sangue, ao cair, em vez de formar uma poça, traçava letras, que iam compondo um nome, o nome de Deus. Pois, até este ponto O levava dentro de seu próprio sangue. Tão “perdidamente enamorado dele estava”.
Maria, sob o título do seu Coração, nos mostra que a vida cristã não se sujeita a uma lei, a um sistema doutrinal, a cumprir um ritual em que se honra a Deus com os lábios. Ser cristão é viver uma relação de acolhida, confiança e entrega a Deus vivo; é uma adesão pessoal a Cristo. Desde aí se viverá a obediência à vontade de Deus, se acolherá o ensinamento do evangelho, se adorará a Deus em espírito e verdade.
Sobre o amor de Maria aos homens nos fala o Papa João Paulo II. “Jesus, dizia o Papa na encíclica Dives in misericordia, n 9, manifestou seu amor ‘misericordioso’ antes de tudo no contato com o mal moral e físico. Neste amor participa de maneira particular e excepcional o coração da que foi Mãe do Crucificado e do Ressuscitado... Nela e por Ela, tal amor não cessa de revelar-se na história da Igreja e da humanidade. Tal revelação é especialmente frutuosa, porque se funda, por parte da Mãe de Deus, sobre o tato singular do seu coração materno, sobre sua sensibilidade particular, sobre sua especial aptidão para chegar a todos aqueles que aceitam mais facilmente o amor misericordioso da parte de uma mãe”.
Mas o Papa convida em outro lugar a destacar sobretudo o amor preferencial pelos pobres: “A Igreja, acudindo ao Coração de Maria, à profundidade da sua fé, expressa nas palavras do Magnificat, renova cada vez melhor em si a consciência de que não se pode separar a verdade sobre Deus que salva, sobre Deus que é fonte de todo dom, da manifestação do seu amor preferencial pelos pobres e humildes, que, cantado no Magnificat, se encontra expressado nas palavras e obras de Jesus” (Redemptoris Mater, 37).
O Coração de Maria se mostra assim como um coração grande e cheio de nomes, especialmente dos nomes dos últimos, dos mais pequeninos. Por isso a apresentarão alguns como a mulher toda coração.

Os mistérios de Maria através do seu coração.
A tradição eclesial tem esclarecido cada vez mais a história teologal de Maria e a tem proclamado Mãe de Deus, Virgem, Imaculada, Assunta. Quando se olham por meio do seu coração, se percebe melhor a verdade destes mistérios, sem despojá-los da dimensão concreta e corporal que podem ter, ou que de fato têm. Desde Prudêncio e Santo Agostinho, na Igreja latina se contempla a maternidade de Maria desde esta realidade-chave do seu coração: dizem-nos que, pela fé, Maria concebeu Jesus antes em seu coração que em seu seio; e também que “de nada lhe valeria a Maria sua dignidade materna se não tivesse levado Cristo em seu coração antes que em sua carne”. Deste modo podemos contemplar em Maria um coração materno.
A virgindade de Maria não se reduz à sua integridade física e à concepção de Jesus por obra do Espírito Santo sem concurso de homem; remete-nos à virgindade como realidade religiosa, como amor indiviso a Deus e entrega às pessoas, talvez como pobreza corporal. Assim nos é mostrado na mãe do Senhor a presença de um coração virginal.
A concepção imaculada de Maria consiste neste mistério de graça redentora pelo qual seu coração foi habitado pela Trindade desde o primeiro momento. O de Maria foi sempre e desde sempre um coração imaculado.

História da piedade e da liturgia
Os Santos Padres tinham refletido já sobre o coração da Mãe do Salvador, mas somente mais tarde apareceu a devoção cordimariana. Os primeiros testemunhos procedem do século VIII. A partir de São Bernardo (séc. XII), vários deles expressarão uma vivência cordimariana impregnada de humanismo religioso. Depois da reforma protestante (séc. XVI), que acaba deixando de lado Maria, emerge uma piedade humanista ressaltando o coração de Maria, representada por São Pedro Canísio e São Francisco de Sales.
O jansenismo, no século XVII, apresentará uma imagem de Deus opressora das consciências. Deus era mostrado como santidade infinita que espanta e afasta, como origem de uma lei que só revela nossa fragilidade e pecado. Esta infeliz representação de Deus chegava ao povo por distintas vias: por certa pregação das verdades eternas, pelos devocionários e livros de meditação e, talvez mais ainda, pelos confessores rigoristas.
Naquele ambiente, São João Eudes (1601-1680) será o grande promotor da devoção aos sagrados corações de Jesus e Maria. Sobre o objeto da devoção a este último escrevia: “Desejamos honrar na Virgem Mãe de Jesus não somente um mistério ou uma ação, como o nascimento, a apresentação, a visitação, a purificação, não só algumas das suas prerrogativas, como o ser mãe de Deus, filha do Pai, esposa do Espírito Santo, templo da santíssima Trindade, rainha do céu e da terra; nem somente sua digníssima pessoa, mas desejamos honrar nela, antes de tudo, e principalmente a fonte e a origem da santidade e da dignidade de todos seus mistérios, de todas suas ações, de todas suas qualidades e da sua mesma pessoa, isto é, seu amor e sua caridade, já que, segundo todos os santos doutores, o amor e a caridade são a medida do mérito e o princípio de toda santidade”.
A partir de 1643, se começou a celebrar a festa do Coração de Maria, que foi aprovada, anos depois, por numerosos Bispos, apesar da oposição dos jansenistas e, em 1668, o cardeal legado da França a confirmou. Em Roma se negou o pedido de estabelecer a festa, por apresentar certas dificuldades doutrinais. Em 1805, foi concedida a celebração a todos os que solicitassem expressamente a Roma. Em 1855, a Congregação de Ritos aprovou novos textos, mas com a mesma restrição.

Esplendor e vicissitudes no século XX
No dia 31 de outubro de 1942, no aniversário das aparições de Fátima, Pio XII consagrou a Igreja e o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria: “A Vós, ao vosso Coração Imaculado, nesta hora trágica da história humana, consagramos não só a santa Igreja..., mas também todo o mundo tomado por funestas discórdias”. No dia 4 de maio de 1944, o Papa estendeu a toda Igreja latina a festa litúrgica do Imaculado Coração de Maria, fixando a data para o dia 22 de agosto, oitava da Assunção.
A devoção tinha vingado em toda uma rede de expressões: a consagração pessoal ao Imaculado Coração, a Arquiconfraria instaurada em muitos povoados e cidades, graças às missões populares, a novena solene concluída com uma procissão grandiosa em que se levavam estandartes e a venerada imagem sentada em um trono, a devoção dos primeiros sábados do mês, promovida pelas aparições de Fátima, a peregrinação da capelinha do Coração de Maria pelas casas, os escapulários e insígnias que levavam os devotos, as práticas diárias, semanais e mensais de reparação ao Coração de Maria ofendido pelos pecadores.
E antes do Concílio Vaticano II se registraram notáveis mudanças na imagem de Maria: é reduzida certa retórica das grandezas e dos privilégios e se contempla Maria de Nazaré inserida na longa história do Povo de Deus. Destaca-se mais sua condição de serva que seu régio esplendor de soberana, mais sua exemplaridade que seu poder. Cai-se na conta que Ela também viveu a fé passando pelo desconcerto, pela obscuridade, inclusive, pela noite (cf Lc 2, 50); que seu amor a Deus conheceu a secura, a prova, quiçá abandono parecido ao do seu Filho; que teve de manter sua esperança apesar de aparências contrárias. Maria viveu deste modo, desde dentro, desde o coração, a peregrinação da fé, os caminhos árduos do amor, os combates da esperança.
Por um lado, as práticas assinaladas acima conheceram uma forte crise causada por distintos fatores: a renovação litúrgica e a celebração eucarística vespertina propiciaram o eclipse ou o desaparecimento das devoções. A linguagem sobrecarregada de epítetos, teologicamente fracos, talvez inclusive demasiadamente doces, não cabia mais nos costumes das novas gerações. Uma tendência iconoclasta rejeitava tudo o que era pré-conciliar e suas características triunfalistas. Uma nova estima pela Palavra de Deus deslocava o anterior interesse pelas mensagens das aparições. A secularização da sociedade, a busca por uma nova forma de presença cristã no mundo e quiçá também certo complexo de vergonha levou à supressão das manifestações religiosas massivas pelas ruas. Uma nova consciência eclesial terá como repercussão o abandono de devoções características dos Institutos religiosos, vistas como formas de capelismo.
No entanto, novas experiências e reflexões parecem contribuir para um novo renascer. Assinalamos, entre outras, a recuperação da riqueza teológica bíblica apontada mais acima e a renovada consideração do mistério de Maria: a gozosa mensagem que seu coração nos transmite sobre as profundidades a que chega a obra do Espírito, a rica interioridade deste coração sábio que guarda e medita a história de Jesus e compara esta obra nova de Deus com sua ação no passado de Israel, a força profética de seu canto (o Magnificat), a chamada com que este coração de mãe faz ao cultivo de um elemento materno nos evangelizadores.

Um coração harmonioso
Nas novas Missas da Virgem Maria aprovadas por João Paulo II em 1986 se oferece uma celebração do Coração de Maria. No prefácio se desenha uma bela imagem do coração novo da Mãe de Jesus. A comunidade, dirigindo-se a Deus, apresenta em oito notas, quatro acordes, seus motivos de ação de graças com estas palavras: “Deste à Virgem Maria um coração sábio e dócil, disposto sempre a agradar-te; um coração novo e humilde, para gravar nele a lei da nova Aliança; um coração simples e limpo, que a fez digna de conceber virginalmente teu Filho e a fez idônea para contemplar-te eternamente; um coração firme e disposto para suportar com fortaleza a espada de dor e esperar, cheia de fé, a ressurreição do seu Filho”. Esta realidade nova nós a celebramos com alegria na memória do Coração de Maria.


















Pablo Largo Domínguez CMF

A DESTRUIÇÃO ARQUITETADA POR UM ANJO.

A lenta e gradual construção da “cidade dos homens” é obra de uma inteligência angélica.
Em uma das muitas alocuções que proferiu, o Papa Pio XII indicou o caminho que o demônio pavimentou, ao longo da história, para destruir o homem, criado à “imagem e semelhança” de Deus [1]:
“Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um ‘inimigo’ que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como as principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus. O ‘inimigo’ tem trabalhado e trabalha para que Cristo seja um estranho na universidade, na escola, na família, na administração da justiça, na atividade legislativa, na assembleia das nações, lá onde se determina a paz ou a guerra.” [2]
A primeira coisa que Pio XII faz é colocar as pessoas diante do “nemico”. O Papa quer convencer os homens de que a obra de destruição que se apresenta aos seus olhos não é fruto do acaso ou, como pregam os progressistas, do zeitgeist – o “espírito dos tempos”. Trata-se, de verdade, de um empreendimento demoníaco. Há, por trás de toda a confusão e barbárie deste e de outros séculos, uma inteligência angélica, que, desde que caiu, trabalha incessantemente para perverter a obra da Criação e fazer perder as almas que Cristo conquistou com o Seu sangue, na Redenção.
Como explicar que o projeto de um anjo se torne tão concreto e visível no decorrer da história, só é possível a partir dos agentes humanos que, juntamente com o demônio, bradaram “non serviam”, a fim de servirem ao mal. Embora seus destinos eternos estejam nas mãos de Deus – e só Ele possa dizer se o “oitavo sacramento”, a ignorância invencível, os salvou –, suas obras humanas denunciaram clamorosamente sua identidade. Do Imperador Nero, no século I, passando pelos iluministas anticristãos, até Karl Marx e seus seguidores, muitos foram os homens que aderiram abertamente ao projeto do mal e muitos foram os passos dados rumo ao “amor de si até ao desprezo de Deus” [3].
É verdade que, hoje, tantas coisas más e perversas que os homens cometem ganham gentilmente outros nomes. Hoje sequer se ouvem mais as palavras “pecado” ou “erro”. Todas as ações humanas transitam entre o “conveniente” e o “socialmente inapropriado”, entre o “agradável” e o “politicamente correto”. Só que nem mil jogos de palavras podem mudar ou desfazer a realidade das coisas. Conscientemente ou não, quem quer que trabalhe para implantar no mundo um “sistema de pecado” – como é o caso de organizações que financiam o aborto, de grupos que querem a destruição da família e de religiosos que pedem a implantação de uma religião única e mundial, sem Cristo e sem a Igreja – está trabalhando para Satanás.
As palavras não são exageradas. O próprio Jesus não poupou palavras para denominar os mentirosos: “Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai”. Semelhantes palavras podem ser dirigidas a quem, obstinado no mal, opera incansavelmente para defender a morte e a mentira, obras daquele “era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade” [4].
É verdadeiramente monstruosa a construção – ou a destruição – que os filhos das trevas fazem no mundo. No entanto, não é sadio que os cristãos se detenham diante dessa imensa Babel, nem que cruzem os braços, inertes. Afinal, “todas as coisas” – inclusive a ação dos anjos decaídos – “concorrem para o bem dos que amam a Deus” [5]. Os filhos de Deus não devem temer: nas batalhas desta vida, são guiados e amparados por “aquela misteriosa presença de Deus na história, que é a Providência” [6].








Referência

  1. Gn 1, 26
  2. Pio XII, Discorso agli uomini di Azione Cattolica, 12 ottobre 1952
  3. Santo Agostinho, De Civitate Dei, 14, 28
  4. Jo 8, 44
  5. Rm 8, 28
  6. Centesimus Annus, 59