Roberto Zanin, jornalista e blogueiro.
à Paralimpíada é edificante. Pungente. Um soco no estômago e um puxão de orelhas para mim, que tantas vezes reclamo de coisas tão insignificantes. Que me estresso tão facilmente.
Mas esse espetáculo de superação e energia é, acima de tudo, um grito silencioso dirigido a governos, parlamentos e tribunais ao redor do planeta. Heróis de todos os continentes parecem clamar, a cada conquista, “parem com as tentativas de deliberar que só os ‘perfeitos’ têm o direito de nascer! Parem de julgar que vocês têm a prerrogativa, a capacidade, a superioridade ética e moral de decidirem o que é verdadeira vida. De defender que portar essa ou aquela deficiência deve ser passaporte para o não nascer!”
A verdade é que, com todo o bem-vindo progresso científico, ainda não conseguimos definir o inefável.
Quanto vale um segundo de vida, mesmo que uma lufada de ar não venha acompanhada de consciência, ou de aparente “normalidade”? Os cientificistas, materialistas e congêneres talvez não percebam que a própria ciência, usada como argumento supremo para o banimento dos “imperfeitos”, é a grande aliada para a preservação dos direitos alienáveis de quem não foi gerado com saúde plena.
Dever do Estado é garantir que todos nasçam e possam ter acesso aos avanços terapêuticos (que não firam a dignidade humana), aos novos medicamentos, às próteses e ao auxílio para que possam desenvolver ao máximo suas potencialidades até que venha o momento de partirem, após terem deixado lições para os que aqui ficam. Momento de partir que pode chegar muitos anos ou alguns instantes após seu nascimento.
Em meio a uma sociedade que tem horror ao sofrimento, deletar os “incapazes” parece ser um artifício para abolir do consciente coletivo o fato de que nem tudo é conforto, eficiência, sucesso e “felicidade”.
Sempre que se fala de algo parecido, em favor da vida desde a concepção até a morte natural, os opositores embainham argumentos do tipo “isso é coisa de religioso”. Ora, não estamos aqui falando de doutrinas, sermões, pregações ou coisa que o valha. Falamos de algo primário: quando se escolhe quem merece ou não viver, salvo em legítima defesa, se está usurpando o direito inaliável do outro. E não um direito qualquer, mas o Direito com “D” maiúsculo: à vida.
Que o digam pais como o jornalista Diogo Mainardi, que acaba de lançar um livro sobre suas edificantes experiências, vividas durante 11 anos ao lado do filho, que tem paralisia cerebral. O que para muitos daria pena, para ele, Mainardi, deu sabedoria. E, para quem não sabe, Diogo não tem nada de religioso.
Voltando aos Jogos Paralímpicos, é sintomático que o Brasil, que investiu pesado em atletas de alto rendimento para trazer medalhas na Olimpíada, tenha sido representado melhor por seus atletas paralímpicos. Sintomático e desafiador – afinal, a Mãe Gentil aprovou, via STF, o aborto de anencéfalos, abrindo a porta para decisões de tribunais Brasil afora que têm autorizado gestantes a abreviar a vida de seus filhos com outras anomalias.
Pode parecer clichê, mas, na Paralimpíada, todos os atletas merecem medalha de ouro. Não só pelo exemplo pessoal, mas pelo recado dado à minha geração light, asséptica e “civilizada”.
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