terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

1ª Semana da Quaresma - O porquê da oração.

 Evangelho do Dia: A oração do Pai Nosso (Mt 6,7-15) – Oratório São Luiz –  120 Anos

Vós fostes, Senhor, o refúgio para nós de geração em geração: desde sempre e para sempre, vós sois Deus (Sl 89,1s).

A Palavra do Senhor, sempre eficaz, quer se derramar sobre nós, reunidos para celebrar Jesus e aprender com ele a rezar ao Pai. Tenhamos os ouvidos e o coração bem abertos para captar e pôr em prática o que Deus nos quer comunicar.

Primeira Leitura: Isaías 55,10-11

Leitura do livro do profeta Isaías – Isto diz o Senhor: 10“Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra e fazê-la germinar e dar semente para o plantio e para a alimentação, 11assim a palavra que sair de minha boca não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 33(34)

O Senhor liberta os justos de todas as angústias.

1. Comigo engrandecei ao Senhor Deus, / exaltemos todos juntos o seu nome! / Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu / e de todos os temores me livrou. – R.

2. Contemplai a sua face e alegrai-vos, / e vosso rosto não se cubra de vergonha! / Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, / e o Senhor o libertou de toda angústia. – R.

3. O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, / e seu ouvido está atento ao seu chamado; / mas ele volta a sua face contra os maus, / para da terra apagar sua lembrança. – R.

4. Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta / e de todas as angústias os liberta. / Do coração atribulado ele está perto / e conforta os de espírito abatido. – R.

Evangelho: Mateus 6,7-15

Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai, que é amor!

O homem não vive somente de pão, / mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7“Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho de hoje, Cristo nos ensina a oração do Pai-Nosso. E nós podemos, e até devemos perguntar-nos agora o porquê da oração. Afinal, por que nos manda a Igreja que, neste itinerário quaresmal que vamos já percorrendo há uma semana, dediquemos mais tempo à prática da oração, sobretudo da mental? Muitos rezam porque acham que só assim poderão mudar a vontade divina, como que a induzindo a cumprir a humana. Estes são os pagãos, se não de nome, ao menos de espírito, duramente criticados por Nosso Senhor, que lhes reprocha aqui a pretensão de serem ouvidos à força de palavras. Quem não conhece, se é que não é réu deste pecado, alguém que tenha realizado um sacrifício ou um ato de misericórdia simplesmente para obter o que tanto queria, como se Deus estivesse obrigado a satisfazer aos nossos caprichos e aceitar como moeda de troca as nossas obras, sempre tão desprezíveis sem a sua graça? Contra essa tentação de pensar que é o Senhor quem está a serviço do homem, e não o contrário, Jesus nos recorda que somos nós os escravos, e que é a nossa vontade que deve coincidir com a divina: “Faça-se a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Fomos por Ele criados, é verdade, no centro de toda a criação, mas com o propósito de lhe oferecermos em ação de graças e culto de adoração tudo o que dele recebemos: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”. Sabemos que, por causa do pecado, muito nos custa este esforço de pôr no centro de nossa atenção, afetos e desejos a vontade de Deus, quase sempre contrária aos nossos interesses mais imediatos e menos transcendentes; contamos, porém, com a ajuda da graça, capaz de criar em nós um coração novo e em perfeita sintonia com o de Cristo, que nunca quis o que não fora vontade de seu Pai. E para que essa graça produza em nós frutos copiosos de conversão e sujeição à dulcíssima vontade de Deus, precisamos ser solícitos em nossa vida de oração, porque é em oração que o Senhor nos fala mais particularmente e nos vai remodelando à imagem e semelhança de seu Filho, a fim de que com Ele possamos dizer: “Eis que eu venho […]:  fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa Lei está no íntimo de meu coração” (Sl 39, 9-10).
 
 
 https://padrepauloricardo.org

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

1ª Semana da Quaresma - O “êxodo” da Quaresma.

 Evangelho de hoje (Mateus 25,31-46) - Egídio Serpa | Egídio Serpa - Diário  do Nordeste

Como os olhos dos servos estão voltados para as mãos de seu senhor, assim os nossos, para o Senhor nosso Deus, até que se compadeça de nós. Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós! (Sl 122,2s)

No centro dos ensinamentos divinos encontra-se a lei do amor ao próximo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. Examinemos nossas atitudes em vista de melhorar nossas relações fraternas e nos tornarmos agentes da misericórdia do Pai.

Primeira Leitura: Levítico 19,1-2.11-18

Leitura do livro do Levítico 1O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2“Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. 11Não furteis, não digais mentiras nem vos enganeis uns aos outros. 12Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor. 13Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado até o dia seguinte. 14Não amaldiçoes o surdo nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. 15Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigies o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça. 16Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. 17Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. 18Não procures vingança nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 18(19)

Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!

1. A lei do Senhor Deus é perfeita, / conforto para a alma! / O testemunho do Senhor é fiel, / sabedoria dos humildes. – R.

2. Os preceitos do Senhor são precisos, / alegria ao coração. / O mandamento do Senhor é brilhante, / para os olhos é uma luz. – R.

3. É puro o temor do Senhor, / imutável para sempre. / Os julgamentos do Senhor são corretos / e justos igualmente. – R.

4. Que vos agrade o cantar dos meus lábios / e a voz da minha alma; / que ela chegue até vós, ó Senhor, / meu rochedo e redentor! – R.

Evangelho: Mateus 25,31-46

Salve, Cristo, luz da vida, / companheiro na partilha!

Eis o tempo de conversão; / eis o dia da salvação (2Cor 6,2). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 31“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso e fomos te visitar?’ 40Então o rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo que, todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, como estrangeiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
No Evangelho de hoje, o Senhor nos conta uma parábola de que Ele mesmo é protagonista: no dia do Juízo, quando todos os homens, bons e maus, se reunirem em torno dele para serem julgados, Jesus se apresentará como Rei soberano e Juiz inapelável, que dará a cada um a recompensa devida ao amor que teve em vida tanto a Deus como ao próximo. Naquele dia tremendo, seremos julgados pelo amor, pois é ao amor que se reduz toda a Lei divina: “Amar a Deus sobre todas as coisas, de todo coração, com todas as forças, e ao próximo como a si mesmo por amor de Deus”, aprendemos em nossas catequeses. No entanto, para não chegarmos desprevenidos ao dia do Juízo, temos de saber já que caminhos e que atalhos tomar, a fim de que esse amor por que seremos julgados nasça, cresça e, na hora do julgamento, não se envergonhe de comparecer diante do tribunal de Cristo. Porque o amor, como todas as realidades vivas, tem também suas leis próprias, que lhe regem o dinamismo e determinam o que lhe é ou conveniente ou prejudicial. Eis porque a Igreja prescreve que, para o tempo da Quaresma, os cristãos nos entreguemos com maior empenho ao jejum, à oração e à esmola, pois são estes os três meios ou caminhos de que devemos partir, no ponto em que estamos, para chegarmos ao termo a que nos encaminhamos. O ponto em que nos achamos é o egoísmo e a sujeição ao pecado, aos vícios e aos nossos caprichos: é um Egito de misérias e tristezas; o termo de chegada é um amor puro e filial a Deus: uma terra de promissão, de alegria e santidade. Neste êxodo que devemos percorrer de um a outro extremo, do egoísmo à caridade, o jejum nos mortifica a carne, a oração nos abre à graça e a esmola concretiza o amor a Deus em obras de amor ao próximo: o jejum, negando-nos o que nos agrada, e às vezes o que nos é necessário, põe o corpo sob o comando da alma; a oração, pondo-nos mais em contato com a nossa miséria, põe a alma sob o domínio de Deus; e a esmola, mortificando-nos o egoísmo, põe-nos a serviço do irmão, para que, servindo a este, sirvamos de fato a Deus. Não percamos tempo, não deixemos para a Sexta-feira Santa o início dessa jornada. Avancemos sem medo e confiantes na graça de Deus, que nos há-de ajudar sem falta. E se porventura desanimarmos, lembremos com alegria que as misericórdias do Senhor não permitirão que se apresente sem amor no dia do Juízo quem a Deus deu todo o amor que tinha em vida.

 https://padrepauloricardo.org

domingo, 26 de fevereiro de 2023

1º Domingo da Quaresma - É uma tentação a vida do homem sobre a terra.

 TENTAÇÃO DE JESUS NO DESERTO – A LUTA CONTRA O DIABO – MARCOS 1,12-15

(roxo, creio, prefácio próprio – 1ª semana do saltério)

Quando meu servo chamar, hei de atendê-lo, estarei com ele na tribulação. Hei de livrá-lo e glorificá-lo e lhe darei longos dias (Sl 90,15s).

Justificados por Jesus e em comunhão com seu projeto salvífico, vamos nos alimentar com o pão da Palavra e da Eucaristia. Elas nos dão forças para superar toda tentação e evitar o pecado, que nos afasta de Deus e nos leva por caminhos de morte. Conduzidos pelo Espírito, celebremos em louvor daquele que venceu as tentações e nos garantiu o dom da graça e da vida sem fim.

Primeira Leitura: Gênesis 2,7-9; 3,1-7

Leitura do livro do Gênesis 7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 3,1A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim’?” 2E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim nós podemos comer. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis'”. 4A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. 5Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. 6A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. 7Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 50(51)

Piedade, ó Senhor, tende piedade, / pois pecamos contra vós.

1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa! – R.

2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos! – R.

3. Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! – R.

4. Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! / Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor! – R.

Segunda Leitura: Romanos 5,12-19 ou 12.17-19

[A forma breve está entre colchetes.]

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos [Irmãos, 12consideremos o seguinte: o pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram.] 13Na realidade, antes de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado quando não há lei. 14No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão – o qual era a figura provisória daquele que devia vir. 15Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. 16Também, o dom é muito mais eficaz do que o pecado de um só. Pois a partir de um só pecado o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação a partir de inúmeras faltas. [17Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. 18Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. 19Com efeito, como, pela desobediência de um só homem, a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.]Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 4,1-11

Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, Palavra de Deus.

O homem não vive somente de pão, / mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 1o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, depois disso, teve fome. 3Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” 4Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'”. 5Então o diabo levou Jesus à cidade santa, colocou-o sobre a parte mais alta do templo 6e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'”. 7Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!'” 8Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória 9e lhe disse: “Eu te darei tudo isso se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. 10Jesus lhe disse: “Vai-te embora, satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto'”. 11Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus. – Palavra da salvação.

Reflexão:

 Neste 1.º Domingo da Quaresma, contemplamos Jesus que vai ao deserto ser tentado durante quarenta dias, e a Igreja que, imitando seu divino Esposo, entra no tempo quaresmal a fim de se preparar para a batalha espiritual que ocorre durante toda esta peregrinação terrestre.

No Evangelho deste domingo, São Mateus relata a tentação de Cristo logo após o episódio do seu batismo. No Comentário ao Evangelho de São Mateus, Santo Tomás de Aquino nos explica que essa ordem da narrativa — batismo, seguido da tentação — reflete aquilo que profeticamente havia ocorrido com o povo de Deus, no Antigo Testamento: a passagem pelas “águas batismais” do Mar Vermelho primeiro, e os quarenta anos em que permaneceram no deserto e foram tentados, depois. Da mesma forma, também nós passamos pelas águas do batismo, sendo libertos da escravidão do demônio; porém, precisamos continuar lutando espiritualmente para resistir às tentações.

Essa relação entre nós e o povo de Deus é evidente. Mas, Jesus, sendo o Filho de Deus, não precisava ser batizado nem tentado. Inclusive, devido a isso, há alguns que duvidam da tentação de Jesus, e outros que a utilizam para negar sua natureza divina. No entanto, Santo Tomás, recordando o ensinamento de São Gregório Magno, esclarece que existem três formas de sermos tentados: i) a tentação externa realizada pelo demônio; ii) a tentação interna que a pessoa sente; iii) e a tentação interna com a qual ela consente. A tentação pela qual Jesus pode ter passado é apenas a primeira, que não afeta nem diminui em nada sua natureza divina.

O Evangelho relata que “o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4, 1). Aqui, vemos que Cristo se dirige ao demônio porque este não tinha poder de ir até Cristo. Então, Nosso Senhor coloca-se à disposição da tentação, por amor a nós que somos tentados e necessitamos de seu auxílio. Conforme esclarece Santo Tomás, o Espírito Santo, igual ao Filho em tudo, é o Espírito de amor pelo qual Ele se move: “Os seres humanos, portanto, são verdadeiramente conduzidos pelo Espírito Santo quando são movidos pela caridade”. Jesus vai ao deserto movido por caridade, porque era necessário que Ele vencesse Satanás nas tentações do deserto, a fim de que participássemos de sua vitória.

O amor impeliu Jesus porque Ele, como Filho de Deus, realiza as obras do Espírito Santo. E como, pelo batismo, tornamo-nos filhos no Filho, também precisamos, nesta vida, lutar contra as tentações. Assim, todas as vezes que superamos as tentações demoníacas, não o fazemos por nossas próprias forças, mas pela vitória conquistada por Cristo, ao vencer o demônio no deserto.

2. A Carta aos Hebreus nos recorda que “não temos nele (Jesus) um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado” (Hb 4, 15). Aqui, está implícita uma comparação com Aarão, sacerdote do Antigo Testamento que, juntamente com o povo de Deus no deserto, caiu em apostasia, fundindo um bezerro de ouro para ser idolatrado (cf. Ex 32, 1-35). Enquanto Aarão é o sumo sacerdote que foi tentado e caiu, Jesus é o sumo sacerdote que, diante da tentação, saiu vitorioso. Mesmo se compadecendo de nossas fraquezas, Nosso Senhor permaneceu fiel.

Já nós, apesar de estarmos unidos a Cristo e sermos filhos de Deus por meio dele, precisamos nos recordar que esta vida é uma batalha constante para permanecer na graça de Deus. E o tempo da Quaresma é uma espécie de “campo de treinamento” em que, através de exercícios espirituais, preparamo-nos durante quarenta dias para as lutas e provações desta vida. Permaneçamos vigilantes e fiéis, pois, durante essa preparação quaresmal, o demônio ficará nos rodeando como “um leão a rugir, procurando a quem devorar” (1Pd 5, 8), aguardando o primeiro momento de fraqueza para nos atacar.

Neste tempo intenso de oração, penitência e desapego, estamos lutando junto com Cristo, que nos concede a graça e a eficácia da nossa luta. E é neste tempo específico que precisamos colher frutos espirituais para a vida toda. Não desanimemos, pois Cristo está conosco no deserto. Vivamos bem esta Quaresma e continuemos lutando contra as tentações a fim de um dia nos unirmos Àquele que, por amor a nós, venceu o tentador.

Oração. — Senhor Jesus Cristo, Vós que, por amor a nós, fostes ao deserto ser tentado para conquistar a nossa vitória, ajudai-nos nesta Quaresma a permanecermos fiéis diante das tentações do maligno. Assim seja.

 

https://padrepauloricardo.org 

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Sábado depois das Cinzas - A murmuração.

 A murmuração

(roxo – ofício do dia)

Atendei-nos, Senhor, na vossa grande misericórdia; olhai-nos, ó Deus, com toda a vossa bondade (Sl 68,17).

A liturgia nos exorta à prática da justiça e da caridade: “Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas tua luz”. Nossa adesão a Jesus exige de nós o amor ao próximo, sem omitir o devido culto a Deus.

Primeira Leitura: Isaías 58,9-14

Leitura do livro do profeta Isaías – Assim fala o Senhor: 9“Se destruíres teus instrumentos de opressão e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; 10se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. 11O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão. 12Teu povo reconstruirá as ruínas antigas; tu levantarás os fundamentos das gerações passadas: serás chamado reconstrutor de ruínas, restaurador de caminhos, nas terras a povoar. 13Se não puseres o pé fora de casa no sábado nem tratares de negócios em meu dia santo, se considerares o sábado teu dia favorito, o dia glorioso, consagrado ao Senhor, se o honrares, pondo de lado atividades, negócios e conversações, 14então te deleitarás no Senhor; eu te farei transportar sobre as alturas da terra e desfrutar a herança de Jacó, teu pai”. Falou a boca do Senhor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 85(86)

Ensinai-me os vossos caminhos / e na vossa verdade andarei.

1. Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido, / escutai, pois sou pobre e infeliz! / Protegei-me, que sou vosso amigo, † e salvai vosso servo, meu Deus, / que espera e confia em vós! – R.

2. Piedade de mim, ó Senhor, / porque clamo por vós todo o dia! / Animai e alegrai vosso servo, / pois a vós eu elevo a minha alma. – R.

3. Ó Senhor, vós sois bom e clemente, / sois perdão para quem vos invoca. / Escutai, ó Senhor, minha prece, / o lamento da minha oração! – R.

Evangelho: Lucas 5,27-32

Glória a vós, Senhor Jesus, / primogênito dentre os mortos!

Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, / mas que ele volte, se converta e tenha vida (Ez 33,11). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 27Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. 28Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu. 29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?” 31Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

O Evangelho deste sábado nos narra a conversão de São Mateus, também chamado Levi. Após converter-se e abandonar a sua coletoria de impostos, Mateus oferece um banquete a Nosso Senhor. Hipócritas e maledicentes, os fariseus passam então a murmurar contra Jesus: "Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?", dizem aos discípulos do Mestre. Com sabedoria e serenidade inigualáveis, Cristo lhes responde: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão", porque, afinal de contas, é o doente quem precisa de médico, e não os que são sadios. Muitos são os detalhes e os ensinamentos que esta passagem encerra; hoje, porém, vamo-nos deter no pecado que vemos escorrer da língua bífida dos fariseus: a murmuração. Façamos, pois, um bom exame de consciência e vejamos se não é essa mais uma das muitas faltas em que nos habituamos a cair.

O pecado da murmuratio, ao contrário do que se costuma pensar, não consiste nem na maledicência (pela qual anunciamos aos quatro ventos os defeitos alheios) nem na calúnia (que nos leva a atribuir aos demais imperfeições ou pecados que eles não têm ou não cometeram). A murmuração é, fundamentalmente, a tentativa de destruir o relacionamento entre as pessoas. Ora, vejamos o que fazem hoje os fariseus. Não vão eles até os seguidores de Jesus com o único propósito de desmerecer o Mestre aos olhos dos discípulos? "Como podeis sentar-se com pecadores?", afetam-se de indignação. "Acaso não vos envergonhais de seguir os passos de alguém que frequenta a casa de cobradores de impostos, que se dirige a leprosos e prostituas? Por que, afinal, não vos afastais de quem vos leva por tão mal caminho?" Eis aí a malícia desses sepulcros caiados, que com ardis, com perguntas dúbias, com falsos escândalos querem minar a amizade de Cristo com os discípulos.

Ora, não são as amizades coisa mais preciosa do que os mais preciosos bens? Portanto, não é a murmuração falta mais grave, mais daninha, mais perniciosa do que o próprio furto? Por que então tanto nos comprazemos em separar amigos, em afastar de Jesus quem dele se vai achegando? Não é isso o que fazemos ao criticar a Igreja, o Papa, o pároco, o ministro, a secretária, a faxineira e quantos estão dentro de nossas paróquias? Quantas almas já não teremos escandalizado e impressionado ao descobrir-lhes faltas que em nós mesmos não temos a coragem de reconhecer? E assim vamos dilacerando o tecido de nossas comunidades, vamos espantando da Igreja os que, se não fossem os nossos comentários inoportunos, poderiam agora fazer parte do rebanho de Cristo. Que o Senhor nos tire da língua este mal terrível e nos leve a reconhecer sobretudo as nossas próprias e tão inumeráveis misérias!

 

 https://padrepauloricardo.org

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Sexta-feira depois das Cinzas.

 Discussão sobre o jejum – Paróquia Porciúncula de Santa'na

O Senhor me ouviu e teve compaixão. O Senhor se tornou o meu amparo (Sl 29,11).

O “jejum” que agrada a Deus consiste, principalmente, em ações concretas em benefício das pessoas carentes; entre elas, repartir o pão com os famintos, vestir os que estão sem roupa e acolher os pobres e peregrinos: “Então brilhará tua luz como a aurora”.

Primeira Leitura: Isaías 58,1-9

Leitura do livro do profeta Isaías – Assim fala o Senhor Deus: 1“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3‘Por que não te regozijaste quando jejuávamos e o ignoraste quando nos humilhávamos?’ É porque, no dia do vosso jejum, tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor? 6Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o e não desprezes a tua carne. 8Então brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9Então invocarás o Senhor, e ele te atenderá, pedirás socorro e ele dirá: ‘Eis-me aqui'”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 50(51)

Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa! – R.

2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos! – R.

3. Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, / e, se oferto um holocausto, o rejeitais. / Meu sacrifício é minha alma penitente, / não desprezeis um coração arrependido! – R.

Evangelho: Mateus 9,14-15

Salve, Cristo, luz da vida, / companheiro na partilha!

Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; / então o Senhor, nosso Deus, convosco estará! (Am 5,14) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”. – Palavra da salvação.

Reflexão
A prática do jejum, bem como todos os demais exercícios de penitência, é uma forma de vivermos aquele espírito de reparação a que a Igreja nos exorta de modo bastante especial neste tempo de Quaresma. Ora, para entendermos melhor em que consiste o nosso dever de reparar as ofensas com que, tanto de nossa parte quanto da de nossos irmãos, Cristo é novamente açoitado e crucificado, precisamos levar em conta, antes de tudo, a profunda desordem que é o pecado, cuja sanação como que "exigiu" que o próprio Deus baixasse dos céus para, revelando-nos na cruz a verdadeira face — horrenda — da iniquidade, remediar a inimizade com Ele a que Satanás induziu Adão e, nele, todo o gênero humano. Por isso, ao longo destes quarenta dias de preparação para a Páscoa, devemos não só pedir ao Senhor que nos dê a conhecer com cada vez mais clareza o horror do pecado, senão também compensar, quanto nos for possível, todo o mal com que temos ultrajado a divina honra do Pai, desprezado a caridade redentora de Jesus, rejeitado as graças e moções do Espírito Santo e, enfim, traspassado com a espada da nossa indiferença e egoísmo o Coração Imaculado de nossa Mãe Santíssima. Aproveitemos, pois, este tempo de Quaresma para, descobrindo mais a fundo o quão terrível é o pecado, satisfazermos por nossa mortificação e oração as injúrias com que diariamente é ofendido Aquele que é Amor e Bem infinitos.
 

https://padrepauloricardo.org

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Quinta-feira depois das Cinzas - Os sofrimentos à luz da Cruz.

 Lucas 9,22-25 :: MISSIONÁRIOS REDENTORISTAS DE FORTALEZA

(roxo – ofício do dia)

Clamei pelo Senhor, e ele me ouviu: salvou-me daqueles que me atacam. Confia ao Senhor os teus cuidados, e ele mesmo te há de sustentar (Sl 54,17-20.23).

Tempo de Quaresma é ocasião oportuna para escolhas responsáveis. Sigamos o Cristo e os apelos da Palavra divina: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e teus descendentes, amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz, apegando-te a ele”.

Primeira Leitura: Deuteronômio 30,15-20

Leitura do livro do Deuteronômio – Moisés falou ao povo, dizendo: 15“Vê que eu hoje te proponho a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. 16Se obedeceres aos preceitos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, amando ao Senhor teu Deus, seguindo seus caminhos e guardando seus mandamentos, suas leis e seus decretos, viverás e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra em que vais entrar para possuí-la. 17Se, porém, o teu coração se desviar e não quiseres escutar, e se, deixando-te levar pelo erro, adorares deuses estranhos e os servires, 18eu vos anuncio hoje que certamente perecereis. Não vivereis muito tempo na terra onde ides entrar, depois de atravessar o Jordão, para ocupá-la. 19Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós de que vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, 20amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele – pois ele é a tua vida e prolonga os teus dias, a fim de que habites na terra que o Senhor jurou dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 1

É feliz quem a Deus se confia!

1. Feliz é todo aquele que não anda / conforme os conselhos dos perversos; / que não entra no caminho dos malvados / nem junto aos zombadores vai sentar-se, / mas encontra seu prazer na lei de Deus / e a medita, dia e noite, sem cessar. – R.

2. Eis que ele é semelhante a uma árvore / que à beira da torrente está plantada; / ela sempre dá seus frutos a seu tempo, † e jamais as suas folhas vão murchar. / Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. – R.

3. Mas bem outra é a sorte dos perversos. † Ao contrário, são iguais à palha seca / espalhada e dispersada pelo vento. / Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, / mas a estrada dos malvados leva à morte. – R.

Evangelho: Lucas 9,22-25

Glória a vós, Senhor Jesus, / primogênito dentre os mortos!

Convertei-vos, nos diz o Senhor, / está próximo o Reino de Deus! (Mt 4,17) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 22“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. 23Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. 25Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro se se perde e se destrói a si mesmo?” – Palavra da salvação.

Reflexão

Logo no início desta caminhada quaresmal, o Evangelista São Lucas nos relata o primeiro anúncio da Paixão de Nosso Senhor, feito pouco depois da profissão de São Pedro. É curioso notar a proximidade desses dois eventos. A própria estrutura narrativa do Evangelho, a ordem em que os fatos são narrados, a maravilhosa harmonia com que Cristo vai conduzindo a história e fazendo as liberdades humanas concorrerem para a realização de sua missão e a transmissão de sua mensagem — tudo isto já nos desperta para o fato de que é somente à luz da fé, professada hoje por Simão, que podemos compreender o sofrimento de Cristo na cruz.

É pela fé em Jesus, escarnecido e rejeitado pelos que eram seus, que podemos chegar a divisar o sentido profundo que têm os sofrimentos humanos, — tão profundo e, de resto, tão valioso que nem o próprio Deus quis furtar-se de os sentir numa carne em tudo igual à nossa. Não é por acaso, portanto, que à confissão de Pedro suceda o prenuncio das dores por que o Verbo eterno do Pai ainda haveria de passar: "O Filho do Homem deve sofrer muito", diz Jesus, "ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia".

"Deve sofrer". Estas palavras, saídas da própria Palavra de Deus, por si sós nos revelam uma verdade que o mesmo Cristo confirma logo em seguida: "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me." Não é a cruz uma opção, uma alternativa entra outras tantas. É a regra. "Se alguém quiser me seguir", diz-nos o Senhor, "saiba que subo a Jerusalém para ser crucificado. Se quereis, pois, ser meus discípulos, se quereis seguir meus passos, façais como Eu: tomai cada a um a sua cruz e ide em direção às dores que trazem alegria, à morte que faz nascer para uma nova vida". Que é, afinal, ser cristão, senão ser outro Cristo? senão viver a mesma vida de Cristo? senão dar os mesmos passos que Cristo? senão abraçar o sofrimento assim como fizera o mesmo Cristo?

Já no início desta Quaresma a Liturgia nos desvenda o mistério pascal que permeia todos estes quarenta dias de penitência. A nossa vida cristã deve ser, sim, uma constante "paixão", um incessante "morrer para si mesmo", um generoso "perder a vida" por causa de Jesus. Que o Senhor nos livre de toda indolência e nos cure daquela péssima tendência a viver um "cristianismo analgésico", em que a dor e o sofrimento não têm lugar. Abracemos, por amor a Cristo, todas as dores, todas as contrariedades que a suave mão de Deus decidir enviar-nos. Pois de nada nos vale fugir das cruzes do mundo, a fim de termos ainda neste desterro uma porca e pobre consolação, e, no fim, perdermos a chance de, configurados ao Cristo que sofre, conquistarmos os prêmios celestes.

 
 
https://padrepauloricardo.org

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Quarta-feira de Cinzas - Jejum, oração e amor.

 Evangelho do dia: Orar, dar esmolas e jejuar sem se mostrar (Mt 6,1-6.16-18)  – Oratório São Luiz – 120 Anos

(roxo, prefácio da Quaresma IV – ofício do dia da 4ª semana do saltério)

Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus (Sb 11,24s.27).

Reunidos para iniciar a caminhada rumo à Páscoa neste tempo quaresmal, procuremos trilhar o caminho da conversão proposto pelo Evangelho e pela Campanha da Fraternidade. Neste ano, a Campanha nos convida a sermos sensíveis à condição das pessoas que passam FOME – ou sobrevivem na insegurança alimentar -, pedindo nossa adesão ao lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).

Primeira Leitura: Joel 2,12-18

Leitura da profecia de Joel 12“Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; 13rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo.” 14Quem sabe se ele se volta para vós e vos perdoa, e deixa atrás de si a bênção, oblação e libação para o Senhor, vosso Deus? 15Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; 16congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento, e a esposa seu leito. 17Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor e digam: “Perdoa, Senhor, a teu povo e não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem”. Por que se haveria de dizer entre os povos: “Onde está o Deus deles?” 18Então, o Senhor encheu-se de zelo por sua terra e perdoou ao seu povo. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 50(51)

Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.

1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa! – R.

2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, / pratiquei o que é mau aos vossos olhos! – R.

3. Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! – R.

4. Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! / Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor! – R.

Segunda Leitura: 2 Coríntios 5,20-6,2

Leitura da segunda carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 20somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. 21Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus. 6,1Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, 2pois ele diz: “No momento favorável eu te ouvi, e no dia da salvação eu te socorri”. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 6,1-6.16-18

Jesus Cristo, sois bendito, / sois o Ungido de Deus Pai!

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo, eles já receberam a sua recompensa. 3Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, 4de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. 5Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo, eles já receberam a sua recompensa. 6Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 16Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo, eles já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Hoje, dá início a Igreja ao tempo da Quaresma, impondo-nos cinzas sobre a cabeça, em sinal do pó que somos e do pó que havemos de ser, e apertando-nos o estômago com o jejum e a abstinência, em remédio de nossas desordens e para melhor nos dispor à luta espiritual dos próximos dias. E para que dessa luta, cujas armas são a caridade, a oração e o jejum, saiamos na Páscoa vitoriosos como saiu Cristo da sepultura, convém ter ideias claras sobre o sentido da penitência cristã. Muitos cifram a penitência ao seu lado negativo, como um meio de “saldar as dívidas” contraídas diante de Deus; outros a desprezam como uma prática ou prejudicial à saúde ou sintomática de um cérebro excessivamente religioso. Nem uns nem outros, porém, entendem o sentido da penitência: os primeiros porque a reduzem a um aspecto acidental, os segundos por verem no remédio a causa da doença. A penitência não é, como pensam os últimos, prejudicial à saúde, porque é o pecado que, com seus excessos e loucuras, faz mal ao homem. Faz mal, antes de tudo, à alma, matando nela a graça, princípio de vida sobrenatural, e acorrentando-lhe as potências com tantos e tão terríveis vícios. Faz mal, além disso, ao corpo, porque, sendo o pecado algo em si mesmo contrário à natureza e dignidade humana, não pode o nosso organismo menos do que ressentir-se de alguma maneira das violências que nos fazemos. Não é preciso dar exemplos disto; basta olhar o panorama assustador que todos os anos nos abrem as festas de Carnaval. Tampouco é a penitência sintoma de neurose, porque, sendo a penitência ato de virtude e a neurose, resultado de uma obsessão patológica, é justamente a primeira um remédio para a segunda, mas sob a condição de ser bem praticada.

Mas sob que condições podemos praticar assim a penitência? É não vivê-la como a vivem os primeiros, isto é, como um simples meio de “saldar dívidas”. Temos, é certo, muito que reparar, já que temos a Deus muito ofendido por nossos pecados. Mas a penitência, se serve para aplacá-lo, serve antes de tudo para agradá-lo guardando a ordem que Ele quer em todas as coisas. Ordem, em primeiro lugar, no interior de cada homem, e é por isso que a Igreja nos manda jejuar; ordem, em segundo, entre cada homem e Deus, e é por isso que a Igreja nos ensina a rezar; ordem, por fim, entre todos os homens, e é por isso que a Igreja nos aconselha a dar esmola. Pelo jejum, pomos em ordem o desalinho introduzido em nós pelo pecado, que nos leva a buscar prazeres momentâneos que podem custar a eternidade e a fugir de sacrifícios passageiros que podem merecer-nos um quinhão imperecível de glória (cf. 2Cor 4, 17); pela oração, pomos em ordem a rebeldia a que nos instigam as tentações, pois reconhecemos a soberania de Deus e a dependência que d’Ele temos para realizar qualquer boa obra; pela esmola, ordenamos as outras duas ordens — a do corpo, sujeito em nossas próprias mãos, e a da mente, sujeita totalmente a Deus — à que devemos ao próximo. Se pelo jejum nos tornamos primeiro senhores de nós mesmos e, pela oração, humildes vassalos de Deus, pela esmola nos transforma Ele em verdadeiros irmãos dos outros homens, que são o “lugar” privilegiado em que Ele quer ser amado e servido (cf. 1Jo 4, 20). Eis as três armas que a Igreja, a que melhor sabe que caminhos nos aproximam de Deus, deseja que empunhemos ao longo de mais esta Quaresma, para que no dia de Páscoa as cinzas depositadas hoje em nossas cabeças estejam já convertidas em flocos puríssimos de neve (cf. Sl 50, 9).

 
https://padrepauloricardo.org