"É
só na presença de Deus que nos revelamos em toda a verdade. Porque é
então que, vendo a Deus em sua própria luz, vinda da obscuridade da fé,
também vemos, à mesma claridade, como somos diferentes do que pensamos
ser em nossa ambição e vaidade.
Aqui o recolhimento colore-se de compunção e daquilo que os Padres chamam de “santo temor”. Temor é o conhecimento de nós mesmos em presença da santidade de Deus. É o conhecimento que temos de nós diante do seu amor, ao ver como estamos longe do que esse amor queria. Ele sabe quem é Deus e quem somos nós!
Mas um temor “santo” não pode temer o amor. O que ele teme é a discrepância entre si e o amor, e corre a esconder-se no abismo de luz, que é o amor de Deus e a sua perfeição.
Esse temor é absolutamente necessário para que se preserve o nosso recolhimento de degradar-se numa falsa doçura e presunção, que se supõe segura da graça, e cessa de temer a ilusão, comprazendo-se com o pensamento da sua virtude e alto grau de oração. Tal complacência cai imperceptivelmente, como uma cortina impenetrável, entre nós e Deus, que se vai, deixando conosco uma terrível ilusão."
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.186
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