Muitos jovens, rebelando-se contra os ensinamentos dos pais, vão
procurar Deus em outras religiões. Fazem como Santo Agostinho: “Eis que
estavas dentro e eu fora”
Canais de televisão, jornais e outros veículos de informação
frequentemente exaltam a juventude como um período de rebeldia e
liberdade. Grande parte da publicidade voltada a esse público se destina
a iniciá-lo no abandono dos ensinamentos familiares, na vida sexual, no
consumo de bebidas e outras atividades consideradas "descoladas" e,
dizem, próprias do espírito juvenil. Mas não é só a mídia que impõe
padrões. Ainda na puberdade, muitos jovens são como que forçados a
adquirir hábitos dos colegas mais velhos, e já cooptados pelo discurso
liberal, a fim de não serem excluídos. O rapaz ou a moça, porém, que,
respeitando a educação paterna e suas tradições, se recusam a adequar-se
à
so called "vida louca" — ora imposta pela mídia, ora pelo novo grupo de amigos — recebem o título de "caretas".
Não é nada espantoso que um jovem, ao entrar na faculdade, onde tanto
os professores como os estudantes veteranos sentem asco todas as vezes
em que veem um símbolo cristão ou escutam alguém falar bem da Igreja,
termine por abandonar sua fé. Ele até poderá guardá-la em seu coração,
como sói acontecer na maioria dos casos. Mas a guardará no fundo do baú,
como o mais terrível de todos os seus defeitos, e não a tirará de lá
enquanto a ameaça da exclusão for um perigo real. Alguns tentarão
dissimular, confessando-se cristãos, mas não tão cristãos assim. Outros,
em nome do modismo e das novas experiências, procurarão o sobrenatural —
já que a juventude não neutraliza a natureza religiosa do ser humano —;
porém, em searas exóticas, cheias de meditações transcendentais e
dietas malucas. Sim, procurarão a verdade; mas, na rua, no exterior.
Nunca no lar, na herança de fé deixada por seus pais. "Eis que estavas
dentro e eu fora", confessava Agostinho.
O jovem, de fato, possui um coração revolucionário, que não se contenta
com a superficialidade. A sua rebeldia, no entanto, diante das pressões
do ambiente — e levando em consideração sua imaturidade —, tende a
voltar-se contra o alvo mais fácil: os pais. Trata-se de uma rebeldia
infantil, cujas manifestações procuram esconder um dado óbvio: o medo da
rejeição, o espírito de subserviência ao grupo e às modas, o desejo de
atenção etc. É mais fácil revoltar-se contra os pais, porque, diz
sabiamente Olavo de Carvalho, "sabe que no fundo estão do seu lado e
jamais revidarão suas agressões com força total" [1]. É mais fácil
revoltar-se contra a Igreja, porque as grades do confessionário são
muito menos sombrias — e mais misericordiosas — que as da vexação
pública. Qualquer bobalhão consegue perceber a falsidade dessa
escravidão juvenil fantasiada de liberdade e rebeldia.
A verdadeira liberdade não se encontra no seguimento de modismos e
ofertas baratas. Neste sentido, o jovem cristão sabe viver a sua fé com
autêntica
parresía, isto é, a coragem de ir contra a corrente, contra a
"cultura do provisório, da superficialidade e do descartável", que não o
considera capaz de "assumir responsabilidades e enfrentar os grandes
desafios da vida." [2] Essa é a verdadeira rebeldia a qual todos os
jovens são chamados a apoiar. Não a rebeldia das roupas esquisitas, do
sexo, das tatuagens, da bebida, mas a rebeldia contra o pecado: "O Reino
dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam" (Mt 11, 12). A Igreja, mais do que qualquer outra instituição, conhece o coração do homem, porque é perita em humanidade.
Por isso, sabendo das grandes aspirações da juventude, exorta cada
pessoa a um ideal superior. Disse o Papa Emérito Bento XVI, na
apresentação do Catecismo Jovem: "Este subsídio ao catecismo não
vos adula; não oferece fáceis soluções; exige uma nova vida da vossa
parte; apresenta-vos a mensagem do Evangelho como a 'pérola de grande
valor'" [3].
Alguém poderia acusar: a Igreja não aceita as diferenças. É uma crítica
que nasce justamente das falsas diferenças inventadas pelos modismos.
Quantos jovens se deixam levar por esse discurso, assumindo
personalidades e vestimentas extravagantes, sem se darem conta de que
estão reproduzindo estereótipos das revistas, novelas, filmes e
tutti quanti. A Igreja, pelo contrário, sabe conviver muito
bem com as verdadeiras diferenças, sabe respeitar as individualidades de
cada ser humano. Basta lembrar: não é a fé católica a defensora dos
coletivismos. A fé católica é defensora da genialidade de Santo Tomás de
Aquino e da simplicidade de São João Maria Vianney, da pobreza
evangélica de São Francisco de Assis e da majestade real de São Luís da
França, da maturidade espiritual de Santa Teresa d'Ávila e da infância
espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus. E isso o faz porque sabe
que na casa do Pai há muitas moradas [4].
Quem procura a verdade — ensina Santa Edith Stein —, procura Deus. A
inquietação de todo jovem é a inquietação de todo ser humano que sente a
necessidade do infinito, mas não sabe ao certo onde encontrá-lo. Quer
ser livre e, por isso, rebela-se. Rebela-se porque ainda não descobriu,
como no caso de Santo Agostinho, que o que procura está dentro, não
fora.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Olavo de Carvalho, O imbecil juvenil in Jornal da Tarde (3 de abril de 1998)
- Francisco, Mensagem para a Jornada Mundial da Juventude (13 de abril de 2014), n.2
- Prefácio do Papa Bento XVI ao YOUCAT
- Cf. Jo 14, 2
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