Leitura da Primeira Carta de São João.
Caríssimos, 19quanto a nós, amamos a Deus porque ele nos amou primeiro. 20Se
alguém disser: “Amo a Deus”, mas entretanto odeia o seu irmão, é um
mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a
Deus, a quem não vê. 21E este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão.
5,1Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus, e quem ama aquele que gerou alguém amará também aquele que dele nasceu. 2Podemos saber que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. 3Pois isto é amar a Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, 4pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé.
— As nações de toda a terra, hão de adorar-vos, ó Senhor!
— As nações de toda a terra, hão de adorar-vos, ó Senhor!
— Dai ao Rei vossos poderes,
Senhor Deus, vossa justiça ao descendente da realeza! Com justiça ele
governe o vosso povo, com equidade ele julgue os vossos pobres.
— Há de livrá-los da violência e opressão, pois vale
muito o sangue deles a seus olhos! Hão de rezar também por ele sem
cessar, bendizê-lo e honrá-lo cada dia.
— Seja bendito o seu nome para
sempre! E que dure como o sol sua memória! Todos os povos serão nele
abençoados, todas as gentes cantarão o seu louvor!
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 14Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. 15Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam. 16E
veio à cidade de Nazaré onde se tinha criado. Conforme seu costume,
entrou na sinagoga no sábado, e levantou-se para fazer a leitura.
17Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: 18“O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a
libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar
os oprimidos 19e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
20Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”.
22aTodos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca.
Reflexão
Este Evangelho narra o começo da vida pública de Jesus. Nele Jesus
apresenta o seu programa. Em poucas palavras, ele resume toda a sua missão,
citando Is 61,1-3.
O amor de Deus é uma sinfonia em dois movimentos que se completam e
interferem mutuamente. Em primeiro lugar, o amor é um movimento vertical,
ascendente e descendente. Jesus se referiu a esse movimento quando disse que
veio “anunciar a Boa Nova aos pobres... e proclamar o ano da graça do Senhor”.
O movimento horizontal da sinfonia é o relacionamento entre nós,
que concretiza e realiza o vertical: “O Senhor enviou-me para proclamar a
libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os
oprimidos...” Jesus privilegia os excluídos pela sociedade: pobres, cativos,
cegos e oprimidos, porque eram os mais desprezados pela sociedade do seu tempo.
Uma religião que quisesse chegar a Deus, sem passar pela dedicação
ao próximo, seria uma ilusão, uma alienação espiritual, uma enganação. “Se
alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não
ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. Este é o
mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão” (1Jo
4,20-21).
Os primeiros cristãos procuraram por em prática esse programa
integralmente. Foi isso que custou a morte para muitos deles, assim como para
Jesus. Apesar disso, a Igreja não desiste de colocar em prática esse programa,tanto
no esforço de aproximar as pessoas de Deus, como de levá-las ao amor mútuo. No
Batismo, nós assumimos esse programa como nosso. Está aí o grande desafio para
nós, a fim de que aconteça no mundo o Natal e a Epifania.
No programa, Jesus mistura o vertical e o horizontal, a dedicação
ao corpo e a dedicação à alma. Ele não as separa, pois o próprio Criador não
separou, criando-nos corpo e alma misturados. Quem ama verdadeiramente a Deus,
ama também o seu próximo, privilegiando os excluídos. E esse amor inclui também
a proteção à natureza, evidentemente.
Neste Evangelho, Jesus fala que veio proclamar o “ano da graça do
Senhor”. Essa expressão é sinônima de “ano sabático”. O Povo de Deus do Antigo
Testamento celebrava, a cada sete anos, o ano sabático, que não era nada mais
que o descanso semanal do sábado ampliado para um ano todo. “Durante seis anos
semearás a terra e recolherás os seus frutos. No sétimo ano, porém, deixarás de
cultivar a terra, para que se alimentem os pobres, e os animais selvagens comam
o resto” (Ex 23,10-11).
O “ano da graça do Senhor”, lá no profeta Isaías (Is 61,1-2), está
expresso como “ano do agrado do Senhor”. Portanto, é viver bem com Deus,
obedecendo os seus mandamentos e fazendo a sua vontade. O livro do Deuteronômio
determina que no ano sabático todas as terras deviam voltar às tribos
originais, conforme foi dividido quando o povo chegou à Terra Santa. Também as
dividas deviam ser perdoadas e os escravos recebiam liberdade.
Quando Jesus falou que veio proclamar o ano da graça do Senhor, ele
quis dizer que, de agora para frente, todos os anos são sabáticos. O ano da
graça do Senhor é um ano sabático permanente, não só para todos os anos, mas
para todos os dias do ano. Esta é a lei do novo Povo de Deus, a Igreja.
Esse permanente ano da graça do Senhor, custou a morte de Jesus,
como oferta total dele por nós. Amar não é dar coisas ao próximo, mas buscar a
sua felicidade, mesmo que para isso precisemos sacrificar a nossa vida.
“Ninguém tem maior amor do que aquele dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
O amor só é verdadeiro se inclui, desde o começo, uma doação da
vida. O amor, ou é total, ou não é amor. Amor parcial não existe, é apenas
caricatura de amor. Quando vemos um mendigo na rua e lhe damos um trocado, ou
apenas um sorriso, não lhe estamos dando apenas um trocado ou um sorriso, mas a
nossa vida toda a ele, se necessário for. Na hora, lhe damos apenas um trocado
ou um sorriso, porque é só disso que ele precisa no momento.
O Evangelho mostra também o protagonismo do Espírito Santo na vida,
obra e missão de Jesus. É o Espírito que intervém desde o seu nascimento e
batismo. Nós também fomos ungidos pelo Espírito Santo no Batismo e na Crisma, a
fim de atuar como Cristo atuou, vencendo o mal do mundo e sendo mensageiros da
Boa Nova.
Nós sabemos que na Amazônia existem poucos padres, e por isso as
paróquias são enormes, com Comunidades muito distantes e sem estrada. Anos
atrás, havia um pároco que gravava a homilia dominical em um disquinho, o qual
ia passando de Comunidade em Comunidade, para ser tocado na hora do culto
dominical.
Um dia, aconteceu que o disquinho furou. Quando o encarregado ligou
a vitrola, o padre começou a dizer: “Meus irmãos e minhas irmãs; meus irmãos e
minhas irmãs; meus irmãos e minhas irmãs...” e não parava
mais. Então o encarregado desligou a vitrola e disse: “Por
favor, as mulheres saiam todas da capela, porque o padre está querendo falar só
para os homens”. Coitado! Mal sabia ele que era o disco que estava furando!
Mas a repetição estava certa. Todos nós podemos dizer para os
membros da nossa Comunidade: “Meus irmãos e minhas irmãs”, porque de fato
somos. O importante é sermos irmãos de todos, especialmente dos oprimidos, como
fez Jesus.
Maria Santíssima, a discípula fiel do Senhor, viveu de forma plena
esse programa do seu Filho. Que ela nos ajude a vivê-lo também.
Pe Queiroz
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