terça-feira, 27 de janeiro de 2015

MULHER, A GLÓRIA E A GRAÇA DO HOMEM.

Em seu sucinto folheto De Institutione Virginis (Da Educação de uma Virgem), Ambrósio [Bispo de Milão, m. 397], conjuga misticismo e humanismo de um modo que merece um estudo muito mais detalhado do que podemos tentar aqui. Atinge-se a plena maturidade da vida cristã em uma união virginal com Cristo que, por sua vez, implica a perfeita integração de toda a pessoa humana. A união com Cristo implica Sua entrada em uma personalidade que tem perfeita unidade em seus três elementos tradicionais: corpo, alma e espírito - corpus, anima, spiritus.

Esse tratado de Santo Ambrosio é particularmente interessante por sua aberta defesa das mulheres de maneira geral. Baseando-se na narrativa da criação do Gênese e na doutrina de São Paulo sobre o mistério de Cristo tipificado na união de Adão e Eva, o humanismo místico de Ambrósio declara que o homem sem mulher é física e espiritualmente incompleto, e que a mulher é, em sentido muito profundo, a ‘glória’ do homem, sua complementação espiritual, sua ‘graça’, sem a qual ele não pode possuir ou recuperar plenamente o seu verdadeiro ser em Cristo…

[A] beleza do corpo da mulher é uma grande obra de Deus, destinada a ser sinal da muitíssimo maior beleza interior, da especial claridade e amabilidade de seu espírito. De fato, Santo Ambrósio declara que é bem evidente que as mulheres são mais generosas, mais virtuosas, mais abnegadas do que os homens…

Esta defesa, totalmente reparadora, da mulher nos dá alguma indicação da profundidade e realidade do humanismo patrístico. De fato, como pode haver verdadeiro ‘humanismo’ quando a metade da espécie humana é ignorada ou excluída? O humanismo pagão, reservado exclusivamente ao homem, por trás de um verniz de filosofia, só faz exaltar sua complacência e justificar seu egoísmo. Um humanismo só para homens nada mais é, como vimos, do que uma falsidade bárbara. A luz do verdadeiro humanismo é alimentada pelo Verbo Encarnado.


Mystics and Zen Masters, Thomas Merton
(Dell Publishing Company, New York), 1961, p. 118-119

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