Ser católico por inteiro
*
Gostaria de discutir o problema da
adesão à fé católica, não na perspectiva prática, porque nesta seara,
infelizmente, por causa do pecado, os católicos vivemos os ditames do evangelho
mais ou menos.
Quero
tratar do tema no viés doutrinal.
Neste diapasão, ou se é 100% católico ou não
se é católico em hipótese nenhuma.
Não posso ser católico e, ao mesmo
tempo, advogar a tese de que Jesus não fundou nenhuma Igreja específica; apenas
instaurou uma novel religião.
Não posso ser católico e perfilhar a
teoria de que nossa Senhora teve relações sexuais com seu casto esposo.
Não posso ser católico e,
concomitantemente, asseverar que não há demônios nem Satanás.
Não posso ser católico e, outrossim,
prestar atenção ao espiritismo.
Não posso ser católico e fazer ouvidos
moucos ao que o papa ensina.
Não posso ser católico e me colocar em
prol do aborto, ou, então, ficar em cima do muro. Eis somente alguns
exemplos.
Qual é a
questão de fundo? Em minha opinião, é o relativismo, já bastas
vezes exprobrado por Bento XVI, combinado com uma equivocada interpretação do
ecumenismo.
Exemplificando, a pretexto de não vulnerar a
suscetibilidade dos nossos irmãos separados, a doutrina protestante não é mais
herética: cuida-se apenas de visões diferentes, verberam alguns. Deixemos o
mínimo que nos separa, postulam outros, e nos unamos no máximo que nos é comum!
Que máximo é esse, se frei Lutero solapou todos os sacramentos, preservando
unicamente o batismo?
Quando o mal da não adesão plena e
obsequiosa é perpetrado por certos padres, estamos em face de uma vicissitude
gravíssima. Aqui, em vários casos, vigem a arrogância e a soberba, uma espécie
de desdobramento do pecado original: quer-se saber mais do que a Igreja de
Cristo!
Temos de ser ecumênicos sim, sempre
amorosos com nossos irmãos separados e com os membros de qualquer religião,
cônscios de que não somos melhores do que eles e que Deus ama todos os homens.
No
entanto, devemos resgatar nossa belíssima identidade católica,
assumindo-a plenamente, sem respeitos humanos, acatando cabalmente o magistério.
Esta obrigação é ainda mais urgente por parte dos padres, que têm o múnus de
industriar a puríssima doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo, custodiada pela
Igreja católica.
Edson Luiz Sampel
Doutor em direito
canônico
Professor do Instituto Pio XI (Unisal) e
da Escola Dominicana de Teologia (EDT)
Membro da Sociedade Brasileira de
Canonistas (SBC)
*Artigo para o jornal O São Paulo
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