A
festa da Assunção de Maria é a festa da assunção da Igreja. Maria colabora no
mistério da redenção, associando-se a seu Filho (LG 56). Sua assunção é figura
do que acontecerá com todos os seguidores de Jesus no fim dos tempos. Porque
Maria não é apenas a imagem (o reflexo), mas também a imagem típica (o
protótipo) da Igreja. A Igreja deve ser aquilo que Maria é. E, enquanto
peregrina neste mundo, a Igreja tem Maria como um sinal “até que chegue o Dia do
Senhor” (LG 68).
O
que celebramos na festa de hoje é a vitória de Cristo sobre todos os poderes que
tentam impedir o reino de Deus. Celebramos, tendo Maria como sinal, a vitória da
Igreja inteira sobre a morte e o pecado.
Evangelho:
Lc. 1,39-56
Feliz
aquela que acreditou, pois a palavra do Senhor se
cumprirá
Esse
trecho do evangelho está vinculado ao texto da anunciação, como seu
desenvolvimento.
Ao
ouvir a mensagem do anjo Gabriel em relação à encarnação do Filho de Deus, tendo
como sinal a gravidez de Isabel, Maria se dirige prontamente para a região
montanhosa.
A
conexão entre esses trechos nos aponta duas verdades sobre Maria: sua fé e seu
compromisso com o reino. Com a fé que ela demonstra na palavra de Deus, temos em
Maria a verdadeira discípula, que ouve a Palavra e a põe em prática. A fé na
palavra de Deus gera compromisso, que leva o discípulo a realizar na vida o que
ouviu. É o que Maria nos mostra com seu exemplo.
Maria
é exemplo de discípula para quem acredita no cumprimento das promessas divinas,
porque ela mesma está à disposição de Deus para servi-lo como instrumento
dócil.
Foi
isso o que aconteceu quando disse: “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim
segundo a tua palavra” (1,38). E, imediatamente, saiu para visitar sua prima. Ao
chegar, é saudada por Isabel, e algo de revelador acontece. O teor da saudação
diz respeito a duas realidades.
A
primeira refere-se à atitude crente de Maria. Ela é bendita porque
acreditou.
Aqui
é exaltada a sua fé. Foi sua total adesão à palavra de Deus que operou um
milagre em sua vida e na vida da humanidade: a encarnação do Filho. Daqui
passamos para a outra realidade da saudação: “e bendito é o fruto do teu
ventre!” Maria, que carrega no útero o Filho de Deus, é identificada com a arca
da aliança. No Antigo Testamento, a arca da aliança era símbolo do encontro
entre Deus e a humanidade. No útero de Maria dá-se o encontro entre Deus e a
humanidade, pois Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem.
Maria
representa a Igreja, que se compromete com o reino pela fé na palavra de Deus e
pela exigência de gerar o Cristo para o mundo por meio do anúncio, do testemunho
e do serviço.
1ª
leitura (Ap. 11,19a; 12,1.3-6a.10ab):
No
deserto, Deus preparou um lugar para a Mulher A principal personagem que aparece
no grande sinal do céu não tem sua identidade imediatamente revelada pelo livro
do Apocalipse, é chamada apenas de “mulher”. Somente no desenrolar da narrativa
é que sua identidade fica clara.
A
mulher é adornada pelos astros que a envolvem, o que significa que ela é a
coroação de todas as obras da criação. Essa representação alude ao sonho de
José, filho de Jacó (Gn. 37,9), interpretado pelos sábios judeus como referência
à vinda do reino onde tudo na natureza e na história estaria submetido ao poder
de Deus.
Em
oposição à mulher está a figura tenebrosa do dragão, descrito com
características horripilantes, adornado pelos principais símbolos do poder
humano: chifres e diademas. O significado dessa figura nos é dado pelo texto de
Dn 7,24; trata-se dos governantes dos impérios, são os poderes do
mundo.
O
dragão intenta fazer mal à mulher, mas ela é levada para o deserto, lugar que
Deus lhe tinha preparado, e ali é cuidada. Então a mulher representa o novo povo
de Deus. A Igreja, comunidade dos seguidores de Cristo, enquanto aguarda a
segunda vinda do Senhor, suporta as dificuldades do deserto, situação na qual o
novo povo de Deus esperou para entrar na terra
prometida.
Enquanto
essa cena se desenrola na terra, especificamente no deserto, uma voz proclama
que há uma nova realidade no céu: ali o reino de Deus já acontece plenamente (v.
10). Cristo, o ser humano plenificado e vitorioso, é a garantia de nosso acesso
ao céu. Isso significa que a mulher que ainda permanece no deserto pode ter
certeza da vitória em sua luta contra o dragão.
2
leitura (1Cor. 15,20-27a)
Cristo
ressuscitou como primícias dos que morreram
A
Lei, em Dt 26,2, exigia que os primeiros frutos (as primícias) fossem oferecidos
ao Senhor para expressar a gratidão do agricultor e o reconhecimento de que Deus
era o responsável pela colheita. Quando o israelita oferecia os primeiros frutos
a Deus, estava agradecendo pela colheita inteira. Os primeiros frutos saídos da
terra eram parte da colheita, e tão certo quanto as primícias são a prova de que
há uma colheita, a ressurreição de Cristo é a garantia de nossa ressurreição
nele.
Cristo,
primícias dentre os mortos, ascendeu ao céu e ofertou a si mesmo a Deus como o
representante de seus seguidores, ou seja, da Igreja, que ascenderá depois
dele.
Não
é somente o primeiro na ordem do tempo que ressuscitou dos mortos (primeiro a
sair de dentro da terra), mas é o principal no que se refere a dignidade e
importância, estando conectado com todos os demais que vão ressuscitar. Cristo é
o ser humano ressuscitado, e nossa ressurreição é a partir dele. Portanto,
nossas esperanças não são vãs, nossa fé não é inútil e nós não seremos
desapontados.
Pistas
para reflexão
–
Em 1974, o papa Paulo VI escreveu um documento sobre a devoção a Maria (Marialis
Cultus) que continua a ser a norma para a devoção mariana entre os católicos.
Depois de normatizar a devoção mariana em função de Cristo, o papa destaca em
dois números (Mc. 26 e 27) a mesma devoção em relação ao Espírito Santo. Isso
significa primeiramente que não pode haver culto a Maria em si
mesma.
–
O texto retirado do livro do Apocalipse é claramente cristológico, como se pode
ver nos seguintes trechos: “Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger
todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi elevado para Deus até o
seu trono” (v. 5). “Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a
autoridade do seu Cristo” (v. 10).
–
Portanto, a homilia não deve contribuir para um devocionismo exagerado (não
fundamentado nem na Escritura nem na tradição genuína) a respeito da mãe do
Senhor e nossa mãe, modelo daquilo que devemos ser e que seremos na plenitude
dos tempos.
Aíla
Luzia Pinheiro Andrade, nj
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