“A ambição humana é capaz das maiores monstruosidades”.
James Cameron
A
ganância desenfreada pelo poder fez com que milhões de seres humanos fossem
mortos em todo mundo durante todo o terrível século XX. Foi em nome dele que à
perversidade da natureza humana fez do mal o governo de tirania.
A barbárie
do Holocausto nazista é o ponto mais alto do poder absoluto do mal.
Ninguém
deve subestimar o poder do mal e ninguém deve colaborar para colocar todo o
poder de decisão na mão de um homem, de um grupo, de um partido e do
Estado.
Há anos uma pesquisa, Alemã sobre as guerras nas histórias da humanidade, citada por Michel Serres em seu último livro Guerre Mondiale (2008), chegava aos seguintes dados: de 3 mil anos antes de nossa era até o presente momento 3,8 bilhões de seres humanos teriam sido chacinados, muitos deles em total guerra de extermínio. Só no século XX foram mortos 200 milhões de pessoas.
O renomado historiador, inglês Eric Robsbawm, referindo-se ao século XX, afirmou em seu livro Era dos Extermínios: “sem dúvida ele foi o século mais assassino de que temos registro”.
Sobre o mal uso do poder disse o político historiador inglês John E.E. Dalberg-Acton (1834-1902): “o poder corrompe absolutamente” .
Quando a pessoa chega ao poder pela ambição ditatorial já chega perturbada, perdida e criminosa, o resto é conseqüência brutal.
O Horror do Holocausto Nazista
“O drama particular e chocante do Holocausto representa o ápice de um caminho de ódio que nasce quando o homem esquece seu criador e se coloca no centro do universo”.
Há três formas de relatar o Holocausto (shoah, em hebraico), o
extermínio de 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. Há a versão dos
sobreviventes, a dos assassinados e a dos mortos. O testemunho dos sobreviventes
é o de quem perdeu tudo, viu os familiares morrer e sobreviveu para contar seu
calvário. É isso um homem? (1974), do italiano Primo Levi, é o melhor
exemplo. Levi é um dos 7 mil sobreviventes do campo de extermínio de Auschwitz,
na Polônia, destino final de 1,5 milhão de judeus.
A mais impressionante versão dos assassinos é de Adolf Eichmann, o burocrata responsável pela logística da deportação em massa. Ao depor em seu julgamento em Israel, em 1961, Eichmann disse que, na guerra, só estava preocupada com a pontualidade dos trens da morte. Não se considerava culpada pelo destino dos judeus. Era “a banalização do mal”, descreveu a filósofia alemã Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém (1963), o relato do julgamento de Eichmann, enforcado em 1962.
O terceiro viés da história do Holocausto é o relato dos mortos. O mais célebre é o Diário de Anne Frank (1947), a adolescente holandesa que, escondida com a família por dois anos no sótão de Amsterdã manteve a dignidade e a esperança no futuro, até ser presa e deportada para Auschwitz, em 1945.
Conhecer a versão dos mortos é essencial, pois muito sobreviventes preferiam se calar. Queriam esquecer. Os que decidiram contar sua visão sobre o horror destacaram os piores momentos nos campos de extermínio. Deixaram de lado os anos na clandestinidade ou nos guetos. Não falaram da humilhação sistemática exercida pelos nazistas e pelos seus colaboradores nos países ocupados. Silenciaram sobre a polícia judaica, obrigada a entregar cotas de mulheres e crianças aos carrascos.
QUEM ESCREVERÁ NOSSA
HISTÓRIA?
O livro Quem escreverá nossa história?-Os arquivos do gueto de Varsóvia, do historiador americano Samuel D. Kassow , não é leitura fácil. Mas nasce clássico. Foi escolhido um dos melhores livros de 2009 pelo jornal Londrino Financial Times. Kassow passou oito anos estudando milhares de documentos de um arquivo secreto, criado pelo polonês Emanuel Ringelblum (1900-1940). Em 1940, era iminente a tomada de Varsóvia pelos nazistas. A elite judaico-polonesa fugiu. Ringelblum ficou. Queria ajudar os 400 mil judeus – um terço da população – que não tinha como escapar. Todos acabaram no Gueto. Decidido a registrar o cotidiano de seu povo, e os crimes contra ele cometidos, Ringelblum arregimentou 60 pesquisadores para registrar tudo o que aconteceu no gueto. Eles trabalharam literalmente, até o fim. Antes da destruição do gueto, em 1943, enterraram latões de leite com os documentos. Dos pesquisadores, sobraram três. Em 1946, eles ajudaram a recuperar os latões sob um prédio demolido. Neles ecoava a voz das vítimas. Como a de Israel Lichtenstein, que escreveu sobre a filhinha: “Margalit tem 1 ano e 8 meses. Não lamento minha vida nem a de minha mulher. Só tenho pena dessa menininha linda. Ela merecer ser lembrada”(1).
“O mal consiste em abusar do bem. Toda corrupção leva o homem à própria destruição”.
Santo Agostinho (354-430)
Santo Agostinho foi profundamente impressionado pelo
problema do mal - de que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também
longamente desviada pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o
conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. A
solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e sua grande
descoberta filosófico- teológica, e marca uma diferença fundamental entre o
pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade
metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é
ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo o ser que não seja Deus,
enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim chamado o mal
metafísico, que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é
devido por natureza. Quanto ao mal físico, que também atinge também a
refeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediato um velho
argumento, digamos assim, estético: o contrastes dos seres contribuiria para
harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos a afortunada da doutrina
agostiniana do mal.
Quando ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas diferente, sendo o mal, não-ser. Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser.
O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e atual: por isso, a humanidade foi punida com sofrimento, físico e moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se vê, o mal físico tem deste modo, uma outra explicação mais profunda. Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus que restituiu á humanidade os dons sobrenaturais e possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, conseqüência do pecado, como meio de purificação e expiação última de tudo isso – do mal e de suas conseqüências - estaria no fato que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitiu o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico).
Lance Morrow escreveu: “O mal procura suas oportunidades e se instala como um parasita onde encontra condições favoráveis. Ele adota a linguagem e os costumes locais; infesta as formas de vida e as domina, de modo que a insanidade entra numa vida previamente sadia, e desaloje a pessoa que ali vivia anteriormente” (Evill- Na Investigation).
Mrtin Buber afirmou: “Como a principal tática do mal é o disfarce, um dos lugares, onde provavelmente, encontraremos pessoas más é na igreja. Dentro de nossa cultura que forma melhor existe de ocultar o seu próprio mal, de si mesmo e dos outros, do que sendo diácono de uma igreja ou sendo um cristão de destaque? Na Índia, eu suponho que o mal demonstre à mesma tendência de se mostrar como “bom” hindu ou “bom” muçulmano. Com isto não quero dizer que o mal não seja mais do que uma pequena minoria entre os religiosos, ou que motivações religiosas da maioria das pessoas sejam espúrias. Eu quero apenas dizer que as pessoas más tendem a se aproximar dos grupos piedosos por causa da camuflagem que eles podem lhe proporcionar” (Imagens do Bem e do Mal, Editora Vozes)
Victor Frankl disse: “Nossa geração é realista pois chegamos a conhecer o homem como ele realmente é. Afinal, o homem foi o ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz, todavia, ele foi também o ser que entrou nas câmaras de gás de cabeça erguida, orando o Pai Nosso ou com o Shema Yisrael nos seus lábios” (A Man’s Search For Meaning’).
Conclusão:
Onde a Lei do amor de Deus não tem poder, o poder sem amor do homem é a lei da tirania. Esse é o poder da cultura de morte. Qualquer que seja o sistema onde o Criador é excluído sobra por demais a maldade para carnificina. O poder absoluto do homem, junto com sua natureza perversa e seu ateísmo, resulta em monstruosidade. Os regimes totalitários provaram isso. Tenhamos consciência liberatória para que isso jamais se repita. Lutemos mais e mais pelo respeito e dignidade da pessoa humana. A liberdade do ser humano é o seu maior patrimônio. Fé, amor e liberdade sempre!
Pe. Inácio José do
Vale
Especialista em Ciência Social da Religião
Professor de História da Igreja
Pregador de Retiros Espirituais
E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com
Nota
Especialista em Ciência Social da Religião
Professor de História da Igreja
Pregador de Retiros Espirituais
E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com
(1) Época, 21/12/2009, p. 158.
Aquino, Felipe Rinaldo Queiroz de. Na Escola dos Santos Doutores, Lorena-SP: Cléofas, pp. 41 e 42
Fotos: do Blog
Fonte: Recados do Aarão
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