“Ide, fazei que todas as nações se tornem discípulos,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a
observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até
a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20).
Fortalecidos com esta missão, os apóstolos
“saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a
Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Eles pregavam
utilizando-se da linguagem clara e inequívoca que Jesus Cristo lhes ensinara, e
cujas luzes eram destinadas a perdurar até a consumação dos séculos.
As letras sacras estão permeadas de figuras
ricas de significados para descrever o que se passava no coração dos
apóstolos: “Em verdade, em verdade vos digo que vos
haveis de chorar e gemer enquanto o mundo se alegrará; haveis de estar tristes,
mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria”.
Ao se depararem com a Paixão e Morte de Cristo,
a tristeza e a angústia penetraram profundamente nos seus corações; ao ver
Cristo ressuscitado, seus corações se converteram em alegria.
A tristeza que se apoderara do coração dos apóstolos não é ponderável. Para
vislumbrá-la, Nosso Senhor recorre ao exemplo de uma mulher que está para dar à
luz. Ela fica tomada de tristeza em razão do momento difícil, pois chegou sua
hora. Mas, após ter dado à luz, ela já não se recorda de sua anterior aflição,
pela alegria de ter trazido ao mundo uma nova criatura.
Se o exemplo deita luzes sobre a ressurreição de Cristo – um homem saindo
vivo de sua sepultura –, ele ilumina igualmente a História inteira.
Se em conseqüência do pecado original a mulher dá à luz em meio às dores do
parto, nesta seqüela a que o pecado de nossos primeiros pais a reduziu nós
podemos, entretanto, ver a figura da Igreja através dos séculos.
Quanto sangue, quantas perseguições, quantas heresias, quantas
indiferenças, quantas frivolidades, em suma, quantas dores teve a Igreja de
enfrentar ao longo de sua bimilenar existência!
Tomemos os nossos dias. Não há lugar do orbe
onde não se trame contra a Igreja de Cristo. Costumes cada vez mais hostis aos
Mandamentos de Deus grassam numa sociedade que se estadeia na luxúria e na
opulência de viver, onde praticamente todos vivem privados da graça e da vida
sobrenatural.
Leis ímpias
contrárias à Lei Natural e à Lei Divina vão sendo aprovadas à revelia da opinião
pública, como acaba de acontecer entre nós com a equiparação da união de pessoas
do mesmo sexo com o casamento entre um homem e uma mulher. A aprovação do aborto
de anencéfalos pelo Supremo Tribunal Federal abre as portas para a matança dos
inocentes no ventre materno. Por sua vez, esta mesma lei abre espaço para a
eutanásia…
Se passarmos para o campo político-social,
quantos descalabros! Os leitores devem conhecer muitos deles. Se acrescermos a
isso a crise interna que assola a Santa Igreja, tisnando a luz,
descaracterizando o sal, desedificando a fortaleza para enfrentar os males que
afligem o mundo hodierno, deparamo-nos com uma realidade profetizada por São
Luis Maria Grignion de Montfort em sua Oração Abrasada:
“Vossa fé é transgredida; vosso Evangelho,
desprezado, abandonada vossa religião; torrentes de iniqüidades inundam toda a
terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade
está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no
lugar santo.”
Razão para perdermos a
esperança? – Jamais!
Razão, sim, para confiarmos, com ardor sempre
crescente, na promessa feita por Nossa Senhora em Fátima relativa à futura
renovação da Santa Igreja e do mundo: “Por fim o meu Imaculado Coração
triunfará!”.
Eis o encanto e a alegria que nos aguardam,
pois será em meio aos sofrimentos e às dores atrozes de nossos dias que a Igreja
dará à luz a maior e melhor das civilizações que será o Reino de Maria.
*Pe David
Francisquini
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