quinta-feira, 9 de agosto de 2012

POR QUE OS CRISTÃOS ACREDITAM QUE JESUS É HOMEM E DEUS AO MESMO TEMPO?


“O Verbo se fez carne”
Esta é a única maneira plenamente satisfatória de ler os Evangelhos e de descobrir a nossa vocação de filhos de Deus.


Todos os apóstolos, incluindo São Paulo, são judeus que, em momento algum, pretendiam rejeitar a revelação feita a Israel: Deus é único. Mas eles foram conduzidos a ver Deus em Jesus, sem confundir Jesus com aquele a quem Ele chamava de Pai.



Na afirmação “Jesus é Homem e Deus ao mesmo tempo”, é preciso verificar ambos os termos: verdadeiramente Homem e verdadeiramente Deus. Atualmente, a humanidade de Jesus praticamente não é discutida. Mas sua divindade é colocada em dúvida. Para os que não creem em Deus, parece claro – mas também para os que dizem “creio em um só Deus”, como os judeus e os muçulmanos.

O próprio Jesus foi um judeu piedoso e fundou sua Igreja sobre os 12 apóstolos, todos judeus. Ele nunca contradisse o que está no centro da fé judaica. Mas, progressivamente, foi dando a conhecer aos seus discípulos que Ele era um com Aquele a quem chamava de Pai. Pai, Filho e Espírito Santo são um, pela perfeição de um amor infinito e eterno.

Para designar uma realidade que não é deste mundo, um teólogo latino do século II, Tertuliano, inventou uma palavra: “Trindade”. Mas não foi ele quem inventou a Trindade. Foi Jesus quem nos fez conhecer tal realidade.



Nos Evangelhos, vemos Jesus falando e agindo como Deus. Nos milagres, Ele age por si mesmo. Fala com autoridade. Proclama o perdão dos pecados. Fala ao Pai com intimidade total. Pede que acreditem nele. Finalmente, diz: “O Pai e eu somos um”.

O século XX foi uma grande época de renovação bíblica. Foi também, a meados do século, um tempo em que a Igreja redescobriu suas raízes judaicas. É importante conhecer o Antigo Testamento para não conceber o Novo de maneira contraditória.

Mas, ao mesmo tempo, Jesus supera os personagens do Antigo Testamento, inclusive os maiores. Abraão era o mais perfeito dos crentes, mas não pôde salvar os habitantes de Sodoma – esses grandes pecadores! Moisés teve de tirar as sandálias quando Deus se manifestou por meio da sarça ardente. Davi foi o rei a quem Israel sempre verá com nostalgia, mas também um homem de enganos, de luxúria e sanguinário.

Jesus fala e age com a autoridade de Deus. Realiza os milagres por sua própria força, sem ter de invocar a ajuda de outros. Ele se atreve a ensinar indo muito além da Lei dada por Deus a Moisés: “Mas eu vos digo...”. Enquanto qualquer homem piedoso é consciente da distância que o separa de Deus, Jesus se coloca à mesma altura dele e o chama de Pai, “abbà” – termo insólito no judaísmo, terrivelmente familiar. Ele proclama não ter pecado, ao mesmo tempo em que oferece o perdão dos pecados. Pede que o sigam, que creiam nele, pois “o Pai e eu somos um”.

À pergunta que fez aos seus discípulos – “Quem dizeis que eu sou?” – não há muitas respostas possíveis. Um blasfemo? Esta é a razão pela qual o condenaram. Um iluminado? Mas Ele deu provas de um realismo muito grande. O “Emmanuel”, Deus conosco, o Filho Único que era um com o Pai e que se fez um de nós: esta é a resposta de um cristão.



A Igreja, desde a sua origem, teve de enfrentar duas questões: Jesus é um com o Pai e o Espírito Santo e, ao mesmo tempo, Jesus é plenamente um de nós.

A afirmação da fé cristã é tão paradoxal, que a tentação sempre foi a de “enquadrá-la” dentro de limites mais raciocináveis. Três dos quatro primeiros concílios ecumênicos protegeram a fé cristã contra estas tentativas de reducionismo.

Em Niceia (ano 325), foi dito: Jesus não é nem um super-homem nem um semideus; não é mais que um com o Pai; é “consubstancial”. Em Éfeso (ano 431), foi dito: Jesus é indissoluvelmente Homem; por isso, sua Mãe, a Virgem Maria, pode ser chamada de “Mãe de Deus”. Em Calcedônia (ano 451), foi dito: em Jesus, a realidade humana e a realidade divina são, ambas, plenas e inteiras: não é metade Deus e metade Homem. Como isso é possível?



A fé em Jesus, Deus feito Homem, já não é uma contradição ou algo absurdo, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Toda a história bíblica é a de uma aliança, até o anúncio do Emmanuel, “Deus conosco”: o profeta não era consciente de que o que dizia era verdade!

A afirmação da fé cristã é tão paradoxal, que a tentação sempre foi a de “enquadrá-la” dentro de limites mais raciocináveis. Três dos quatro primeiros concílios ecumênicos protegeram a fé cristã contra estas tentativas de reducionismo.

Em Niceia (ano 325), foi dito: Jesus não é nem um super-homem nem um semideus; não é mais que um com o Pai; é “consubstancial”. Em Éfeso (ano 431), foi dito: Jesus é indissoluvelmente Homem; por isso, sua Mãe, a Virgem Maria, pode ser chamada de “Mãe de Deus”. Em Calcedônia (ano 451), foi dito: em Jesus, a realidade humana e a realidade divina são, ambas, plenas e inteiras: não é metade Deus e metade Homem. Como isso é possível?



A fé em Jesus, Deus feito Homem, já não é uma contradição ou algo absurdo, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Toda a história bíblica é a de uma aliança, até o anúncio do Emmanuel, “Deus conosco”: o profeta não era consciente de que o que dizia era verdade!

Para o amor, não é preciso buscar razões fora do próprio amor. Por isso, é importante desconfiar dos raciocínios que procuram explicá-lo: Deus não poderia ter agido de outra maneira. Mas, a partir do que Deus fez por nós, nós também podemos descobrir a que somos chamados.

É disso que se trata: Deus é Amor. “Deus amou tanto o mundo, que lhe entregou o seu próprio Filho”. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (outra forma de traduzir uma expressão que significa, ao mesmo tempo, “até o final” e “até a perfeição”).

É a isso que somos chamados. Os Padres da Igreja disseram com audácia: “Deus se fez Homem para que os homens se fizessem Deus”. A 1ª Carta de São João diz: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1ª Jo 3, 1). Outro texto do Novo Testamento diz que nós “participamos da natureza divina”.

Em Deus, somos semelhantes ao Filho, que recebe e dá a graça. Não somos o Pai, pois o Pai é a origem. Estamos no Filho, porque Ele se fez um de nós e nos enviou o Espírito Santo.




Resposta de Dom Jacques Perrier, antigo bispo de Tarbes e Lourdes

Fonte: ALETEIA
Local:São Paulo (SP)

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