Anderson Fernandes Pereira
É comum vermos cambaleando pelas ruas,
sem rumo seguro, homens – e às vezes mulheres – que certamente não seriam
aprovados pelo bafômetro. O odor de álcool de uma voz pastosa pode ora agredir,
ora elogiar, mas nem sempre é entendida ou mesmo bem-vinda. Máxime quando se
está em horário comercial…
Para solucionar este problema, o Senado
aprovou em decisão terminativa um Projeto de Lei, que cria novos critérios para
a demissão de trabalhadores dependentes da bebida alcoólica: este, doravante,
terá direito à proteção do Estado, pois o alcoolismo é considerado como uma
doença incapacitante pela medicina. Não será tão difícil saber qual é causa
desta patologia…
Espera-se que os dispositivos legais
estejam muito bem amarrados, pois, facilmente esta lei poderia ser prejudicial
aos contribuintes, mas certamente bem acolhida pelos ditos
cambaleantes…
As bebidas alcoólicas têm sido o
principal motivo de internação psiquiátrica envolvendo o uso de substâncias no
Brasil (39.186 internações de um total de 51.787 ocorridas em 367 hospitais
psiquiátricos em 2004)1.
Com este projeto do Senado, será
incluído nas normas da CLT que o trabalhador diagnosticado como alcoólatra só
poderá ser demitido por justa causa, em caso de recusa a se submeter ao
tratamento financiado pelo governo, ou melhor, pelos outros que verdadeiramente
trabalham, e descontam…
A cura do alcoolismo requer
acompanhamento médico e psicológico. O álcool é uma das poucas substancias
psicotrópicas que tem seu consumo admitido e incentivado pela sociedade. De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o alcoolismo produz a maior
taxa de mortalidade e limitação da condição funcional no emprego e na família.
Calcula-se que, mundialmente, o álcool esteja relacionado a 3,2% de todas as
mortes e 4,0% das Disabilities Adjusted Life Year (DALY), e que nos países em
desenvolvimento e com baixa mortalidade, dos quais o Brasil faz parte, o álcool
é o fator de risco que mais contribui para as doenças, sendo responsável por
6,2% das patologias1.
Qual o melhor meio de evitar o
alcoolismo no Brasil? A questão é complexa, mas como a seção se intitula
opinião, permita-me o leitor, manifestar a minha que, na verdade, nada mais é
que o ensinamento da Santa Igreja.
O homem possui em si um desejo extremo
de felicidade. Tem o desejo infinito do que é belo e agradável, pois foi criado
por Deus para o bem infinito e eterno, no convívio com Deus no Céu. Apagada da
mente dos homens o sentido católico da vida, é natural que o homem procure a
felicidade nas criaturas (Rm 1,18ss). Todavia, por causa desta sede infinita de
gozo e prazer, o homem se afasta da razão e da inteligência, cometendo atos
contra a sua própria natureza. Deste fator procede a gula, o alcoolismo, e tudo
aquilo que denominam “falha moral”, ou seja, que a Igreja como mãe amorosa
adverte ser pecado contra si mesmo e contra Deus. O incrível é que nenhum animal
do Brasil foi internado em tratamento veterinário por gula, alcoolismo ou outra
desordem. Entretanto, os humanos, animais supostamente
racionais…
Esta contradição se deve a que nada
nesta terra pode satisfazer a fome infinita de prazer no homem, senão o
sobrenatural. Assim, sem Deus e a Igreja que o regrem e imponham salutares
limites, que redundam em verdadeira liberdade, o homem cai de falta em falta,
pela repetição de pecados pelos vícios, até o ponto onde a luz da razão se
extingue, e se salienta ainda mais o lado animal do homem. Apesar do alcoolismo
não ser mais visto pela sociedade, nem pela medicina, como falha moral, é um ato
de procura irracional do prazer. Para São Tomás de Aquino, o pecado nada mais é
que “o afastar-se da reta razão”, portanto, se consumir bebidas alcoólicas para
lá da conta, além de irracional, comete um pecado.
Ora, a verdadeira solução para o alcoolismo e para os
desvios morais na sociedade, não está na coerção ou em normas legislativas do
estado. Isto pode ajudar, concordo, mas convenhamos, não resolve. Isto não quita
a sede de feilicidade do homem, que sem o rumo verdadeiro procurará outras
formas de saciar seu estinto de bem. Que o estado, os homens e a Igreja ensinem
que a felicidade está em Deus, isto sim resolve o problema do alcoolismo e
demais chagas da sociedade, como aliás os especialistas comprovam o papel da
religião na recuperação do alcoolismo e casos semelhantes1. Era o que o Divino
Mestre ensinava: “Procurai o Reino de Deus e sua justiça e tudo mais vos será
dado por acréscimo” (Mt 12,31). O que em outras palavras poderíamos dizer:
procurai a Deus e a santidade (sua justiça), e todos os problemas da sociedade
se resolverão.
1 CARLINI, Elisaldo A. Epidemiologia do Uso de Álcool no
Brasil. Universidade Federal de São Paulo. Arq Méd ABC. 2006; Supl.2:
4-7
2 WORLD HEALTH ORGANIZATION. About global alcohol
database. Geneva: WHO, 2002.Disponível em: . Acesso em: 16 maio
2004.
3 Cf. ABDALA, Gina Andrade; GIL RODRIGUES, Wellington;
TORRES, Amilton; CORREIA RIOS, Mino; SOUZA BRASIL, Magela de. A Religiosidade /
Espiritualidade como Influência Positiva na Abstinência, Redução e/ou Abandono
do Uso de Alcool. Rever Revista de Estudos da Religião. Mar. 2010, p.
77.
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