Ó doce soberana, Vós conforme a expressão de São Boaventura, arrebatais os corações dos que Vos servem cumulando-os da vossa ternura e liberalidade: eu Vos suplico, tomai também o meu miserável coração que arde no desejo de Vos amar muito.
Pela Vossa beleza, ó minha Mãe, atraístes o vosso Deus, a ponto de faze-Lo descer do céu à terra: e eu viveria sem Vos amar? Não, certamente; não me darei repouso enquanto não tiver obtido amor terno e constante a Vós, ó minha Mãe que fostes tão boa a meu respeito, ainda quando eu era um ingrato! Ai que seria de mim agora, ó Maria, se não me houvésseis amado e obtido tantas misericórdias? Ah! Se tanto me amastes quando eu não Vos amava, que devo esperar da vossa bondade agora que Vos amo!
Sim, amo-Vos ó minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de Vos amar por todos os infelizes que não Vos amam; quisera ter uma língua capaz de Vos louvar com mil línguas, para fazer conhecer a todo mundo a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia, e o amor com que amais os que Vos amam. Se tivesse riquezas todas quereria empregar em Vos honrar; se tivesse súditos, todos quereria enfim sacrificar pelo vosso amor e glória, se fosse mister, até minha vida.
Amo-vos pois, ó minha Mãe, mas ao mesmo tempo, ai! Temo não Vos amar, porque ouço dizer que o amor faz os que amam semelhantes à pessoa amada. Devo crer então que bem pouco Vos amo, vendo-me tão longe de me parecer conVosco: Vós, tão pura, eu, tão manchado; vós, tão humilde, eu, tão orgulhoso; vós, tão santa, eu, tão criminoso!
Mas, ó Maria, eis aqui o que deveis fazer: já que me tendes amor, tornai-me semelhante a Vós. Para mudar os corações tendes poder superabundante; tomai então o meu, e mudai-o; conheça o mundo que podeis em favor dos que amais: tornai-me santo, e seja eu digno filho vosso. Assim o espero, assim seja.
Extraído do livro: “As mais belas orações a Nossa Senhora”.
Autor da oração: Santo Afosno de Ligório
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