Em certa ocasião, um grupo de políticos católicos, na esteira da ideologia de seu partido, me pediu que, na Igreja, parássemos de falar em “pastor”, “rebanho”, “ovelhas”, pois isso se tinha tornado uma conversa desagradável aos ouvidos modernos. Levando em consideração o singular pedido, fiquei analisando por que tal idéia estava despertando neles tanta resistência. Cheguei à conclusão de que se trata de um enorme equívoco. As palavras generosas, brotadas dos lábios de Jesus, foram abordadas em outra chave de leitura, e não no seu sentido original, altamente simpáticas. “Eu sou o bom Pastor e conheço as minhas ovelhas” (Jo 10,11). Qual é o falso pressuposto dessa linda figura do Pastor? Veja a minha leitura.
Está suposto – sempre na idéia deles - que essa parábola transmite a idéia de que o povo ficaria reduzido à condição infantil; que esta imagem traria contexto da roça, e nós somos do meio urbano; que a obediência despersonaliza e mata a iniciativa; que o rebanho é levado para um destino bucólico de paz, de estagnação, e não de moderna luta; que essa imagem levaria a não ter iniciativa; ela realçaria demais a dependência do chefe e a identificação com ele; traria uma fatal dependência do grupo, totalmente sem fantasia e sem vontade própria. Mas ao contrário, acho essa figura muito linda e respeitável. Quem procurar entender bem, saberá que a idéia se desenvolve num ambiente sumamente positivo. Jesus mostrou que a obediência não despersonaliza, mas faz crescer, como Ele fez diante do Pai. “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente” (Hb 5, 8). A parábola ensina que as ovelhas seguem o Bom Pastor.
Portanto são livres, e não tangidas contra a vontade. A ovelha é um animal frágil, fácil presa de lobos. O ser humano precisa da proteção de alguém mais forte, que o liberte das garras dos malvados. Jesus é o protótipo da ternura, E tem relações sumamente amistosas para com seus seguidores, e não de domínio. Ademais, por nada deste mundo vamos deixar de lado essa linda idéia do Pastor, porque ela tem raízes no Primeiro Testamento (veja o Sl 22), e sobretudo no Novo. Prefiro a Bíblia a qualquer eventual cartilha de grupos particulares. Diante da alergia de alguns poucos, vamos abandonar a praxe de 20 séculos de arte, de músicas, pinturas e de rica teologia?
Por: Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Fonte: CNBB
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