Em várias passagens Jesus disse que veio pelos perdidos, por aqueles de má vida, doentes do espírito.
Isso nos leva à meditar na nossa quase natural presunção de sermos aqueles com quem Jesus mais se preocupa, já que nos decidimos, voluntariamente, nos juntar ao rebanho dos que tentam ficar perto Dele. Raramente lembramos que, quando Ele esteve por aqui fisicamente, Ele visitava constantemente as casas e lugares onde estavam aqueles que, aparentemente não estavam interessados nos seus ensinamentos morais.
Olha só como Jesus era mesmo uma quebra de paradigmas. Como Ele podia ver o fundo de nossos corações, podia ver o que escondíamos por trás de todas as máscaras e defesas que usávamos para nos proteger do mundo hostil, Ele nos ensinou uma lição inesquecível: tirou de alguns antros de perdição, algumas das almas que mais brilhariam entre as jóias de Seu tesouro. Da mesma forma que mostrava, sem medo ou cerimônia, o cheiro nauseabundo que exalava por trás de toda a pompa dos sacerdotes, tidos como os homens de Deus da época. Ele nos mostrou, de forma inequívoca, que tanto os bons como os maus usam máscaras de proteção. Nos mostrou que por trás de uma ovelha negra, pode estar um pequeno cordeiro perdido e apavorado, que pintou-se de negro para se proteger dos predadores, muitas vezes invisíveis. Igualmente nos mostrou que por trás de uma belíssima ovelha alva e de raça, existia um lobo rapace, capaz de levar à cruz o próprio Salvador.
Vemos muitos que se apresentam com a máscara da maldade, como inimigos não só nossos, mas do Cristo também, e então eis que Ele nos surpreende e em vez de nos proteger do mal e nos resguardar dos aparentes lobos como esperávamos, Ele nos convida à irmos em sua companhia resgatar o corderinho inofensivo que alí habita, e que está pronto para seguir-Lhe, sem no entanto saber como… Mas para isso inevitavelmente nós sofremos, porque o aparente lobo resiste com todas as suas forças a se despojar de sua fantasia que sempre causou medo e desespero em quem tentou se aproximar, protegendo-o eficazmente de invasores indesejados.
Ele nos ataca ferozmente, nos destrói e massacra. Tudo faz para não permitir que retiremos sua fantasia de lobo, descobrindo assim, o quão frágil e amedrontado ele é. Não é fácil, e é necessário uma força sobre-humana para nos mantermos na posição de ovelha, sem acabarmos como lobos também, num desesperado ato de sermos como ele para nos protegermos dos ataques. Essa força sobre-humana, sem dúvidas, vem do entrelace estável e inabalável entre a nossa alma e a Alma do Mestre. E esse entrelace se mantém sobretudo pela oração incansável e pela vigilância constante. Não se pode descansar um só minuto, porque um lobo apavorado se mantém em guarda e vigília perene, quando se sente ameaçado.
Não foi em vão que o Cristo nos pediu que orássemos e vigiássemos todo o tempo. Não foi em vão que Ele nos disse que, se quisermos estar com Ele, se quisermos realmente seguí-lo pelos vales de dor e desespero, tinhamos que ser trabalhadores incansáveis, daqueles que não podem conhecer um só dia de ócio, um só dia de invigilância, um só dia de fraqueza. Mas então nos perguntamos: como? Como podemos ser sempre fortes, se somos ainda tão fracos, tão pequenos, tão cheios de egoísmo ainda? Como suprir as necessidades do Cristo, sendo ainda tão insuficientes e despreparados para seguí-Lo verdadeiramente? Todos os seus apóstolos mais diretos descreveram essa dúvida, essa confissão de incapacidade para trabalhos tão exigentes. Pedro, Tiago, Paulo, João, Mateus… Nenhum deles se sentiu digno, menos ainda prontos para enfrentarem lobos rapaces, afim de encontrarem neles as ovelhas perdidas do Mestre.
E de fato nenhum deles era forte suficiente, como nenhum de nós o é. Nenhum deles tinha aquela força de caráter imbatível, característica das almas verdadeiramente elevadas que contribuem com o Mestre das esferas angélicas e felizes. Eram “gente como a gente”, no entanto tinham algo que muitos de nós ainda não temos: foram inesquecivalmente tocados pelo Cristo nos lugares mais recônditos de suas almas. E esse encontro que cada um deles teve com o Mestre, permitiu que eles tivessem uma fé inabalável na presença constante, ainda que humilde e discreta, do nosso querido e amado Pastor.
É nesse momento que entendemos que, apesar de sermos tão pequenos e fracos como realmente somos, podemos nos fazer grandes e incrivelmente fortes, se soubermos reconhecer humildemente, que por trás de toda nossa força, de toda nossa capacidade, está Ele. É sempre Ele que resgata, que toca, que cura, que sustenta… Nós somos apenas pequenos e frágeis aprendizes, titubeantes nas virtudes e na fé, que precisamos do sustento Dele diário, afim de aprendermos na prática como Ele faz, para aos poucos, um dia de cada vez, seguí-Lo em todos os passos e em plenitude.
Nosso Pastor e Mestre, aquele que primeiro nos resgata dos lugares mais escuros de nós mesmos, para depois nos convidar à irmos aprender com Ele como se ama e se trabalha com Deus, como precisamos de pouco mais que uma fé inabalável na vitória do Bem e na assistência incansável Daquele que tem toda a força e capacidade que nos falta. E então, mesmo insuficientes, conseguimos à duras provas, sermos um pouco úteis, mesmo tão pequenos e fracos. E é sempre com muita alegria que nos percebemos sendo úteis, seja à quem for e como for, nas tarefas mais singelas às mais exigentes. Jesus, por fim, consegue nos ensinar que, apesar de todo sofrimento que podemos enfrentar para sermos úteis à Sua Obra, não há nada mais perfeito e prazeroso que servir…
Deus o abençõe...ovelhinha do coração de Jesus bom pastor.
pemiliocarlos.blogspot.com
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