quarta-feira, 20 de abril de 2011

IR A DEUS DE CORAÇÃO SINCERO, MESMO PECADOR.

Durante muitos anos eu preguei que a multidão que estava com Jesus na entrada de Jerusalém foi a mesma que depois gritaria “crucifica-o”. No entanto, J. Ratzinger-Bento XVI, no seu novo livro “Jesus de Nazaré – Da entrada de Jerusalém até a Ressurreição”, deu-me outra visão das coisas. Ratzinger nos explica que há duas multidões, a primeira é a que acompanhava a Jesus e que o aclamava com “hosanna” e com “bendito o que vem em nome do Senhor”; a outra multidão foi a que gritou “crucifica-o”. Ainda que não me estranhasse que algumas pessoas que faziam parte da primeira multidão estivessem entre os da segunda, pareceu-me convincente a explicação de Ratzinger. Ajuda-me a ver a primeira multidão de uma maneira mais próxima a nós. As pessoas que aclamam a Jesus no dia de hoje não aparecem como falsas ou mesquinhas e traidoras no porvir. Elas atuavam com um coração sincero. Ainda que as pessoas possam perverter-se, é preciso dar-lhes sempre um voto de confiança.

Nós, quando louvamos e bendizemos a Deus, quando estamos bem perto dele e dizemos que nós o amamos e depois, talvez não muitas horas depois, o traímos com alguma ofensa grave ou pedimos a sua morte a través dos nossos pecados, não estávamos sendo falsos nem hipócritas. Nós que louvamos a Deus, mas depois nos deparamos com as nossas fraquezas patentes, temos que apoiar-nos mais na misericórdia, mas não devemos pensar que estamos fazendo teatro.

Quando nós dizemos nos nossos atos de contrição, “eu não quero mais pecar”, o Senhor sabe que a nossa vontade é débil e sabe que o ofenderemos novamente, no entanto, Deus acredita de verdade, ele não finge que acredita na nossa contrição. Ele conhece o nosso coração e sabe que não queremos enganá-lo, sabe também que nem sempre nós acreditamos nas nossas promessas de fidelidade e de bons desejos. Não é verdade que nalgum momento fizemos um ato de contrição com aquela pergunta mais profunda que questionava a nossa sinceridade para com Deus?

Deus sabe mais. Claro que sim. Não é hipócrita quem peca e se arrepende, não é falso que ofende a Deus e se confessa, não é descarado quem chora os seus próprios pecados e depois se alegra em praticá-los. Não. A debilidade humana existe. E como existe! Mas a graça de Deus também existe. E como existe!

Aclamemos o Senhor no dia de hoje com todas as nossas forças. Nós nem sabemos quando gritaremos “crucifica-o”, talvez nunca mais diremos essas palavras. No entanto, livre-nos Deus da “presunção petrina”. Presunção petrina? Refiro-me àquele episódio no qual Jesus anuncia a Pedro que ele o negaria três vezes. O apóstolo, confiando nas suas próprias forças e no seu amor ao Senhor, diz que isso não aconteceria. Pobre Pedro! Nós já sabemos como termina a história. Graças a Deus termina bem: com um ato de arrependimento, com o perdão de Jesus e com um trabalho apostólico depositado nos ombros de Pedro que o faria não complicar a própria existência, mas simplesmente continuar trabalhando pela glória de Deus e pelo bem dos irmãos.

Não nos compliquemos a existência desde o começo, ou seja, evitaremos inclusive a presunção petrina. Deus nos recorda com frequência: “meu filho, cuidado, confia mais em mim; do contrário, você se quebrará”. Digamos ao Senhor: “é certo, Senhor, reconheço o real perigo de quebrar-me interiormente. Salva-me; do contrário, perecerei.” Digamos com o coração, sem nenhuma falsa humildade: “salva-me!” Não nos assustemos conosco mesmos. Haja sempre paz em nossa alma. Deus é nosso Pai e nós somos os seus filhos. Que mais queremos? Além do mais, o Senhor colocou à nossa disposição os meios para que fôssemos restaurados: a confissão, a comunhão, a oração, a caridade, etc. Permanecendo sempre no caminho de Deus, continuemos o nosso louvor a ele junto aos da primeira multidão: “bendito o que vem em nome do Senhor”.



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site: presbíteros

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