Estamos chegando ao final da Quaresma. É o tempo especial para as etapas da iniciação cristã com o rito catecumenal. Queremos valorizar o Catecumenato como a fonte de vivência do nosso batismo neste tempo que iluminará a celebração digna do mistério central de nossa fé – a Páscoa!
No início da Igreja, após o primeiro anúncio (querigma), todos aqueles que pediam eram iniciados à fé e batizados. Na segunda metade do século II, surge o catecumenato (de catecúmeno: o que deve ouvir, o que deve ser instruído). É a preparação mais longa e com etapas pedagógicas para o Batismo. O candidato era apresentado por um cristão à comunidade. Seguia-se uma etapa de instrução sob a orientação de mestres ou catequistas. Após a avaliação do candidato (escrutínios) e testemunho dos catequistas, iniciava-se a etapa final na Quaresma. O Batismo acontecia na Vigília Pascal, quando também se recebia a Crisma e a Eucaristia. Aliás, ainda hoje este tempo é propício para celebrarmos o batismo, tempo de morrer para o pecado e ressuscitar com Cristo para uma vida nova. Os que já foram batizados aproveitam para renovar na Vigília Pascal os seus compromissos batismais.
No que diz respeito ao ritual do catecumenato e numa visão concreta das etapas e os detalhes fornecidos, pela Tradição Apostólica, nos permitem uma percepção muito real da vida da comunidade primitiva. Longe de solicitar a alguém para entrar, quase os forçando, percebe-se o rigor das exigências evangélicas tomadas como condição para a admissão no catecumenato e o ingresso efetivo na comunidade.
Assim, as renúncias a Satanás e a tudo que o representa não eram palavras vazias. Significavam conversão real para um novo tipo de relação do candidato à vida em igreja, com as solicitações sociais, ocasiões de pecar e os costumes pecaminosos. A prolongada preparação (três anos) permitia verificar se os comportamentos eram realmente de convertidos. Os sinais deveriam aparecer concretamente. Nos atuais tempos, em que não se nota o amor a Cristo e à Igreja, mais do que nunca temos necessidade de um tempo de aprofundamento de nossa vida de fé para a professarmos com a vida.
Em época de tanto sincretismo, a Igreja não podia antes e não pode hoje contentar-se com minicristãos, semiconvertidos. A tarefa de dar testemunho é algo sério. Não admite uma fé apenas interior, nem uma religião conforme os moldes de cada indivíduo. O estilo de vida e até mesmo a profissão devem ser condizentes com a prática do Evangelho, testemunho diante de todos.
O catecumenato era um dos grandes pilares da Igreja antiga, a educação da fé de adultos. Havia todo um cuidado com a iniciação desses adultos na vida cristã em comunidade.
A denominação “catecúmeno” era dada especificamente aos que se preparavam para o Batismo. Trata-se de alguém que entra na dinâmica de deixar a Palavra de Deus fazer eco dentro de si, o que é possível através de atitude de atenção, escuta da vida à Palavra de Deus. O objetivo do catecumenato é de aprofundar a fé, como adesão pessoal a Jesus Cristo e ao que Ele revela, adesão dada como consequência do querigma.
Hoje, além de recomeçar com o trabalho a Iniciação Cristã para jovens e adultos, a formação permanente do cristão deve conduzi-lo a uma maturidade de fé que o faça renovar suas promessas batismais e a testemunhar a vida cristã na sociedade. Recordemos de Paulo VI que nos lembrou de que os homens de hoje escutam muito mais as testemunhas e os mestres, e se escutam os mestres, é porque são testemunhas.
Por: Dom Orani João Tempesta
Fonte: CNBB
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