Não é exagero afirmar que Maria Socorro Rodrigues Pereira trilhou um caminho semelhante aos dos santos.
Reprodução Facebook / Luciano Huck
A história de Tia Socorro foi contada pelo programa Caldeirão do Huck, da TV Globo,
e logo se transformou no principal assunto das redes sociais e nas
conversas entre famíliares e amigos em todo o Brasil. No fim de semana
em que o programa foi exibido, até os padres comentaram sobre esse
exemplo de bondade em suas homilias.
Maria Socorro Rodrigues Pereira nasceu numa colônia de portadores de
hanseníase, em uma região muito pobre do norte do Brasil. Ainda pequena,
perdeu os pais para a doença e teve que morar em um orfanato específico
para hansenianos, já que ela também tinha a enfermidade. Quando atingiu
a idade de deixar o abrigo, foi dada em casamento a um homem muito mais
velho, que ela não conhecia. Durante anos, sofreu a violência física e
psicológica do marido. Cansada de tanto sofrimento, resolveu fugir de
casa e viver na rua, em Belém, PA, onde vivenciou as piores situações de
miséria.
Mas Socorro nunca desistiu, jamais perdeu a esperança por dias
melhores. Ao contrário, a situação de moradora de rua fez com que ela se
inspirasse e montasse o “Clube de Mães” para acolher grávidas e
crianças abandonadas – uma realidade que ela conheceu de perto.
Foi assim que nasceu o trabalho voluntário de Tia Socorro. Aos
poucos, a casa foi recebendo grávidas vítimas de violência sexual,
crianças abandonadas pelas mães e pessoas com necessidades especiais. O
“Clube de Mães” deu origem ao “Lar Acolhedor Tia Socorro”, que já
atendeu mais de 350 pessoas. O lar fica na ilha de Mosqueiros, no Estado
do Pará, conta com quartos, refeitório, áreas de convivência,
biblioteca e muitas atividades de incentivo à educação e ao trabalho.
Tudo é mantido através de doações da comunidade. “Todas as coisas ruins
que eu passei, eu transformei em amor. Através do amor, a gente pode
transformar muitas coisas. Eu sinto, dentro de mim, um amor muito
grande. Não existe tristeza, não existe desespero. Eu busco passar para
as pessoas este amor ao próximo”, disse Tia Socorro.
O trabalho de Tia Socorro rendeu a ela um prêmio oferecido pelo
apresentador Luciano Huck a pessoas que desenvolvem ações sociais e
transformam vidas. Na entrega da honraria, ele descobriu que Tia Socorro
tinha dois sonhos. Um era muito simples: ver o próprio apresentador
chegando de helicóptero na ilha onde ela mora. O outro era mais
desafiador: ver o Papa Francisco de perto.
Acompanhada pelo apresentador e pelo padre Fábio de Melo, dona
Socorro foi para Roma. Conheceu os Jardins do Vaticano e se encantou com
a Basílica de São Pedro, onde rezou muito.
Durante os bastidores do evento em comemoração aos 50 anos da
Renovação Carismática, dona Socorro, a mulher que incentivou as pessoas a
sonhar e a acreditar na vida, teve o seu desejo realizado. Muito
emocionada, ela foi apresentada ao Papa, recebeu as bênçãos do pontífice
e os seus cumprimentos pelo trabalho voluntário. O encontro durou menos
de um minuto, mas valeu por toda uma vida. “Ele [o Papa] é uma pessoa
muito humilde, a gente vê humildade no jeito que ele olha”, concluiu
Socorro, aos prantos.
Mas essa história não acaba aqui. Um mês depois de conhecer o Papa,
Tia Socorro morreu, aos 52 anos de idade, vítima de complicações
cardíacas. A notícia da morte comoveu a todos que conheceram este
exemplo de fé, seja através da televisão ou pessoalmente.
Durante as gravações, o padre Fábio de Melo disse, sabiamente, a ela:
“A gente acredita mais em Deus quando conhece a senhora”. Tem toda
razão, padre!
Porém, o que há por trás de tanta comoção? Primeiramente, a nossa
necessidade, como humanos e cristãos, de exemplos como esse, de fé, de
bondade, de altruísmo. Necessidade de alguém que nos dê um puxão de
orelha, que nos faça sentir pequenos diante de tanta bondade. Alguém que
personifique, com todas as limitações, o exemplo de Cristo. Alguém que
nos incentive a praticar o amor, que nos motive para a doação ao outro
sem receber nada em troca. Que esse seja o grande legado de Tia Socorro
para os brasileiros.
Enfim, não é exagero afirmar que Maria Socorro Rodrigues Pereira
trilhou um caminho semelhante aos dos santos: enfrentou com amor todas
as dificuldades e teve uma vida de oração e dedicação ao próximo. Um
belo exemplo de que a bondade é sempre maior que qualquer sofrimento.
Obrigado, Tia Socorro! Descanse em paz!
Aleteia Brasil
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