segunda-feira, 30 de abril de 2012

A CHAVE DO CÉU.


Pouco antes de morrer, Frei Lourenço começou a pedir com insistência para lhe trazerem “a chave do Céu”. Mas ninguém estava entendendo o que ele queria dizer…
Cada vez que passava em frente ao convento dos franciscanos de sua pequena cidade, Lourenço sentia o coração bater mais forte. Gostava de ficar ouvindo do lado de fora o canto suave dos frades, vindo da igreja. Aquelas melodias angélicas, cheias de uma paz que não era deste mundo, pareciam provir do Céu. Outras vezes, ficava espiando os monges enquanto trabalhavam na horta e pensava: “Como eles são alegres! O irmão cozinheiro, carregando tomates, é mais feliz que os meus arrogantes companheiros se exibindo pela rua em seus ruidosos carros”.

Aos domingos, Lourenço assistia à pregação e depois meditava nas palavras do frade de feições austeras e voz possante: “Lembrai-vos sempre, irmãos, que mais importa guardar tesouros no Céu ao invés de multiplicá-los na Terra. O Senhor nos ensinou: ‘De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua própria alma?’. Vede o exemplo de nosso pai São Francisco: soube ser pobre em espírito”.

Um dia, não resistiu e perguntou a um franciscano:
- O que devo fazer para morar aqui?
O bom religioso deu-lhe uma resposta muito simples:
- Para viver abrigado por estas santas paredes é preciso desejar acima de tudo o Reino dos Céus, abraçando a pobreza em espírito, como fez Jesus.
Uma semana depois, o jovem, carregando apenas uma malinha, entrava no convento para não mais sair. Pediu para ser irmão leigo, pois queria viver só para Deus, servindo os frades.

O mestre de noviços, que passou a acompanhá-lo, se encantava com o exemplo do Irmão Lourenço. Ninguém varria o chão ou lavava os pratos com maior entusiasmo; todas as suas ações pareciam uma prece.
Um dia, Irmão Lourenço notou o hábito de um frade em mau estado, e comentou:
- Vejo que sua manga está rasgada. Quer que a costure? Senão, quando o irmão for para as missões, as pessoas vão reparar. Somos pobres, mas dignos, e não fica bem usar um hábito rasgado… Se me permitir prestar-lhe tal serviço me estará concedendo uma graça, pois sou um pecador e tenho faltas a reparar.

- Mas tu sabes costurar?
- Não muito bem… Porém, minha mãe é costureira e com ela aprendi algumas lições do ofício.
- Está bem – concluiu o frade -, vamos ver como sai o serviço.
Surpreendendo a todos, Irmão Lourenço fez um trabalho exímio. A cada ponto com a agulha tinha rezado uma jaculatória pedindo que a Santíssima Virgem de Nazaré costurasse por ele. Quando acabava a linha, rezava uma Ave-Maria. Dessa forma, cerziu a manga inteira, deixando- a como se fosse nova.

A notícia se espalhou pelo convento. Não demorou muito em aparecer o irmão cozinheiro com uma roupa queimada, quase perdida por causa de um forno muito forte. Também o irmão porteiro veio mostrar um buraco no seu hábito que, embora escondido, já estava ficando grande. Até mesmo certo frade estrangeiro, hospedado ali por alguns dias, pediu ao irmão que desse um jeitinho em sua velha vestimenta. Os hábitos voltavam cosidos, limpos e perfumados.

O superior se alegrou com a descoberta. Admirado ao ver a despretensão daquele filho, logo notou a assiduidade de suas visitas ao Santíssimo Sacramento. “É por isso que tudo faz com tanto primor”, pensava.
Passados alguns meses, ele percebeu que os dotes de Irmão Lourenço podiam ir além da habilidade de fazer remendos.

- Quer tentar fazer um hábito inteiro? – perguntou-lhe.
- Se com isso eu puder dar glória a Deus, perfeitamente!
A experiência foi coroada de êxito. Das mãos “orantes” daquele religioso, começaram a sair maravilhas acima das expectativas. Nelas a tesoura tomava vida e corria pelo tecido marrom em traçados tão certeiros, que o melhor dos alfaiates não poderia superar. Os hábitos continuavam modestos, mas possuíam algo de especial: a marca do amor com que o irmão os fazia.

Passaram-se os anos. Por vezes, a quantidade de pedidos o levava a dormir muito pouco, a perder as horas de recreação, e ele sentia a tentação de julgar que assim também já era demais… Mas logo pensava que Deus o chamara para glorificá-Lo daquela forma, e esse motivo o levava a dedicar-se por inteiro, redobrando as orações.
Irmão Lourenço tornou-se um homem maduro e, com o tempo, um ancião. Seus cabelos ficaram prateados, mas nem por isso deixou de atender os pedidos de remendos e costuras.

A comunidade o estimava e admirava. Muitos frades famosos, pregadores em santuários e professores em universidades, gostavam de estar com ele, formando rodas animadas de conversas sobre o Seráfico São Francisco, Santa Clara e outros heróis da Ordem. Irmão Lourenço atraía a todos, falando só sobre coisas do Céu. E era para lá que caminhava…
O implacável peso dos anos trouxe- lhe uma febre incurável, que começou a consumi-lo. Pressentindo a partida desta vida, ele pediu os Sacramentos e passou a falar cada vez menos. Rezava muito e pensava no encontro com Deus.

Numa madrugada gélida de inverno, Frei Lourenço parecia não resistir mais. O sino do convento chamou a comunidade para acompanhar o querido irmão, em seus últimos momentos. Ajoelhados, rezavam a oração dos agonizantes. De repente, um fio de voz quase imperceptível foi ouvido. Era Irmão Lourenço que pedia:
- Tragam-me a chave… a chave do Céu…
Os frades não entenderam. Qual seria essa “chave do Céu”? Um deles saiu correndo rumo à biblioteca e voltou com um livro chamado A chave do Céu. Colocaram-no diante do moribundo, mas ele não se interessou. Apenas repetiu:
- Eu quero… a chave… a chave do Céu…
O superior mandou que trouxessem uma relíquia de São Francisco, à qual o enfermo tinha muita devoção. Mas ele seguia com seu raro pedido…
Então, a fisionomia de um irmão se iluminou. Cruzou rapidamente os corredores e voltou com a agulha de Irmão Lourenço. Ao vê-la, este esboçou um sorriso e disse:
- Sim, esta é minha chave do Céu! – e expirou.

* * *
Sem ser grande aos olhos do mundo, nem receber recompensa por seus serviços, Irmão Lourenço se santificara com uma agulha na mão, trabalhando por amor a Deus. Para cada um a Providência tem preparada uma “chave” que lhe abrirá o Céu. Trata-se de saber cumprir sua vontade e seus desígnios. “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).




 
fonte: Revista Arautos do Evangelho.
Daiana Monte

BLASFÊMEA: LANÇAMETO DE UM FILME ONDE JESUS É REPRESENTADO COMO GAY.

Grandes são as blasfêmias que são feitas contra nosso Deus Poderoso’ esses são finais dos tempos onde muitos filhos de Deus estão se perdendo em grande numero, Jesus nos diz em sua palavra: ”Que devemos tomar precauções para que ninguém venha perder vossa fé interiormente, a ponto de abandonar o Deus Vivo” (HEB 3- 12.) A perversidade está cada
vez maior devido à falta de fé e perda os dons de Deus, por causa do pecado. Sempre existiram heresias e blasfêmias contra o nosso Deus, mas podemos perceber que hoje cada vez mais se deparamos com essas situações que dói em nossa alma, que destrói a imagem e semelhança de Deus em nós.
Nossa igreja católica vem sendo perseguida com força, pelos demônios e seus servos, que vem tentando destruir a fé daqueles que são filhos de Deus. O modernismo vem entrando em nossa igreja e no mundo inteiro, fazendo pensar que pecados não existem, e que no final seremos todos perdoados. Não caiemos nessas armadilhas, Jesus nos diz: “Vigiai e Orai, porque vosso inimigo, Satanás anda como lobo feroz procurando a quem devorar”…

Vejam essa noticia. Grande blasfêmia contra o nosso Senhor Jesus Cristo!Acontecida nos Estados Unidos sobre um lançamento de um filme onde JESUS é representado como um Gay!
“Um documentário que mostra a produção de uma peça onde Jesus Cristo é visto como um homem gay atraiu a ira de grupos cristãos na cidade de San Francisco”. Porém, os defensores do movimento LGBT estão exigindo que o filme seja exibido neste final de semana no Teatro Castro.O senador Mark Leno, além de políticos e teólogos favoráveis aos gays diz que planejam defender os direitos dos cineastas mostrarem seu trabalho.
O grupo não aceita ver Jesus na peça “supostamente” tendo “relações sexuais” com seus apóstolos. O documentário, intitulado “Corpus Christi: Brincando com a redenção”, registrou atores e produtores que montaram a primeira versão teatral do texto de Torrense McNally, de 1998. “Corpus Christi”, mostra Jesus vivendo na década de 1950 no Estado americano do Texas. Não há cenas de relações sexuais explícitas, mas os diálogos deixam claro que há uma relação homossexual sendo retratada.










- O inimigo que semeia o joio, é o demônio. A Colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. E assim como se recolhe o joio para joga-lo no fogo, assim será no fim do mundo. “O filho do Homem enviará seus anjos, que retiraram de seu reino todos os escândalos e todos os que fazem mal e os lançaram na fornalha ardente onde haverá choros e ranger de dentes”.
(Mat. 15-40; 43).








Danieli Rodrigues
Repórter de Cristo -

JOVEM "VOLTA À VIDA" APÓS MORTE CEREBRAL DIAGNOSTICADA POR 4 MÉDICOS

Um adolescente se recuperou totalmente após ter morte cerebral diagnosticada por quatro médicos em Coventry, no Reino Unido. Os especialistas consideraram o caso de Steven Thorpe “realmente único”.
As informações são do site do jornal britânico Daily Mail.
O caso ocorreu em 2008 e foi divulgado pelo jornal. Thorpe, então com 17 anos, estava com dois amigos em um carro que se envolveu em um acidente. Um dos amigos morreu e o adolescente acabou em coma induzido em um hospital da cidade.
Os médicos afirmaram que o jovem teve morte cerebral e chegaram a perguntar aos pais se queriam doar os órgãos. Foi o pai de Thorpe que insistiu para os médicos refazerem os exames porque acreditava que seu filho sobreviveria.
Ele chegou a contratar uma neurologista para ter uma nova opinião. Foi somente quando a doutora Julia Piper – aquela contratada pelo pai – examinou o adolescente, que foram descobertos sinais muito fracos do cérebro. Os médicos decidiram retirar o paciente do coma induzido para ver se ele se recuperaria.
Cinco semanas depois, Thorpe surpreendeu os médicos e recebeu alta. “Meu pai acreditou que eu ainda estava lá”, diz o jovem, que hoje, com 21 anos, é trainee em uma empresa. Thorpe passou por quatro operações para reconstruir sua face. Além disso, fez fisioterapia para melhorar os movimentos do braço esquerdo.
O hospital afirma ao jornal que “os ferimentos no cérebro de Steven foram extremamente críticos e diversos exames de tomografia computadorizada indicaram que o dano era praticamente irreversível. Contudo, os times de especialistas continuaram a dar suporte apesar do momento crítico e estamos satisfeitos em ver Steven recuperado e fazendo progresso contra todas as probabilidades. Ele é realmente um caso único.”

CORAÇÕES SANTOS


“Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e uma doçura que inebriam e uma luz maravilhosa que o envolve”.


Santo Cura d’Ars (1).

São Pedro Apóstolo de forma magistral aconselha: “Santificai Cristo em vossos corações” (1Pd 3,15). Sim, quando nosso coração está santificado e pronto para entronizar Cristo, como Senhor (1Pd 3,15), a nossa vida está totalmente pronta para viver a alegria de Jesus (Lc 6,45). Em nosso coração não há espaço para outra coisa senão para o amor de Jesus (Jo 14,21), que nos é derramado pelo Espírito Santo (Rm 5,5). Desse modo, temos um novo coração (Ez 36,26), cheio de uma alegria que ninguém pode tirar de nós (Jo 16,22).
Alguém da sua casa, do seu círculo de amizades, do seu trabalho, ou da sua escola, já perguntou o motivo da esperança e da alegria que você tem demonstrado (1Pd 3,15)? Você acha estranha esta pergunta? Pois saiba que a nossa vida em Cristo e o nosso amor por Ele não conseguem ser mantidos apenas dentro do nosso coração santificado: em nosso coração eles se avolumam e extravasam pelo nosso corpo todo. E essa alegria transbordante flui através de nós (Jo 7,38; 4,14) e vai contagiar esse mundo triste, ressequido e carente das águas vivificantes do Espírito Santo (S1 63,2).
Amados irmãos e irmãs, vamos santificar Jesus em nossos corações (1Pd 3,15). Vamos dar testemunho, com nossas palavras e com nossas ações, da alegria que há em nossos corações (Lc 6,45). Vamos motivar as pessoas a buscarem a Jesus e a encontrarem a Sua alegria (Fm 20).
“Para São João Bosco, a conversão autêntica é inseparável da alegria; nem pode ser diferente, pois consiste em acolher Jesus e o Seu Santo Evangelho de que Deus é o nosso Pai e nos ama para sempre”.

CRISTO É A NOSSA COMPLETA ALEGRIA
“Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).
Como vemos pelo ensinamento do Evangelho que Jesus veio para nos dar a Sua alegria, de modo que nós nos alegrássemos completamente (Jo 15,11). Entretanto, será que nós estamos interessados na alegria completa e duradoura que Jesus quer nos dar? Será que, a julgar pelas nossas vidas, não preferimos mais a alegria passageira e superficial do mundo, que não requer de nós tantos compromissos com a justiça, com a verdade e com o amor ao próximo? Sim, a alegria completa de Jesus também nos traz responsabilidades que nem sempre estamos dispostos a aceitar. Senão vejamos:
1. Jesus se alegra quando nós O obedecemos, nos esforçamos, e damos frutos para Ele (Mt 25,21.23). Será que nós nos alegramos por trabalharmos para Jesus e nos capacitarmos a receber tarefas cada vez mais difíceis?
2. Jesus se alegra quando um pecador é resgatado (Lc 15,5. 32). Será que nós estamos dispostos a nos arriscarmos para resgatar pessoas em situação de pecado, e conduzi-las à conversão?
3. Jesus mantém a alegria mesmo em meio às perseguições (Mt 5,12; Lc 6,23). Será que se formos perseguidos por sermos fiéis a Jesus, nós sentiremos alegria?
Nosso Senhor Jesus Cristo quer compartilhar totalmente a Sua alegria conosco no Espírito Santo (Lc 10, 21; Jo 17,13), e a Sua alegria torna a nossa alegria completa (Jo 15,11). Ora, a alegria é um dos frutos do Espírito Santo (G1 5,22), que é dado aos que obedecem a Deus (At 5,32). Portanto, se formos obedientes e renunciarmos às nossas vontades (Lc 9,23), o Espírito Santo estará conosco, e a alegria de Jesus (Jo 17,13), e ninguém jamais poderá tirá-la de nós (Jo 16,22). Nossos nomes, então, para alegria de Jesus, estarão “escritos nos céus” (Lc 10,20). Nós podemos quere mais? (2).
Coração santo e a verdadeira alegria somente em Jesus Cristo. Só Ele é a certeza absoluta de vida plena e eterna. Viver a intimidade profunda com Nosso Senhor é a nossa vocação radical.
“A vida cristã se define como uma vida com Jesus Cristo” afirma o Papa Bento XVI.
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Notas
(1) Santo Cura d’Ars. Ofício das Horas, 2ª leitura do dia 4 de agosto.
(2) Um Pão, Um Corpo, 26/05/2011, p. 62.


por Pe. Inácio José do Vale, Professor de História da Igreja - Faculdade de Teologia de Volta Redonda
Católicos na Rede

HOMILIA DIÁRIA - JESUS, O PASTOR VERDADEIRO


Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos 11, 1-18


IV SEMANA DA PÁSCOA*

(branco - ofício do dia)


Leitura dos Atos dos Apóstolos - Naqueles dias, 1Os apóstolos e os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus. 2E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no: 3Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles? 4Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera, dizendo: 5Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha, presa pelas quatro pontas, descia do céu até perto de mim. 6Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres, feras, répteis e aves do céu. 7Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. 8Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha boca coisa profana ou impura. 9Outra vez falou a voz do céu: O que Deus purificou não chames tu de impuro. 10Isto aconteceu três vezes e tudo tornou a ser levado ao céu. 11Nisso chegaram três homens à casa onde eu estava, enviados a mim de Cesaréia. 12O Espírito me disse que fosse com eles sem hesitar. Foram comigo também os seis irmãos aqui presentes e entramos na casa de Cornélio. 13Este nos referiu então como em casa tinha visto um anjo diante de si, que lhe dissera: Envia alguém a Jope e chama Simão, que tem por sobrenome Pedro. 14Ele te dirá as palavras pelas quais serás salvo tu e toda a tua casa. 15Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós. 16Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo. 17Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus? 18Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus, dizendo: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida! - Palavra do Senhor.




Salmo Responsorial(41/42)


REFRÃO: Minha alma suspira por vós, ó meu Deus.

1. Como a corça anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? - R.

2. Lançai sobre mim a vossa luz e fidelidade; que elas me guiem, e me conduzam ao vosso monte santo, aos vossos tabernáculos. E me aproximarei do altar de Deus, do Deus de minha alegria e exultação. - R.





Evangelho: João 10, 1-10



Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 1Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 2Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz à pastagem. 4Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas; e as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz. 5Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. 6Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria falar. 7Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. 8Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância. - Palavra da salvação.
caolicanet.com


Homilia - Pe Bantu

Eu sou o BOM PASTOR! Jesus, quantas vezes os Teus contemporâneos Te perguntavam: Quem és Tu? E Tu foste dizendo: Eu sou… a Luz, o Caminho, a Verdade, a Vida, a Porta, o Bom Pastor. Já no Antigo Testamento, quando Moisés perguntava o que havia de dizer ao povo quem era Aquele que o tinha enviado, Tu respondeste simplesmente: Eu sou. Tu és – o Emanuel, o «Deus connosco»… És simplesmente, e estás. Também a mim Tu dizes: Eu sou… e marcas presença na minha pequena vida. Hoje dizes-me que és o meu Pastor, o Bom Pastor, Aquele que cuida de mim, que Se preocupa comigo, porque me ama.
O Bom Pastor CHAMA as suas ovelhas, uma a uma, PELOS SEUS NOMES. Nesta frase, lembro-me espontaneamente daquela cena no jardim, junto ao túmulo vazio, quando Maria Madalena chora porque não Te encontrava mais. Ao ver-Te não Te reconhecia – talvez também porque tivesse os olhos cheios de lágrimas e o coração fechado pela tristeza… Mas quando Tu pronuncias o seu nome: “Maria”, não havia mais dúvidas para ela.
Como será que foi a Tua voz, Jesus? Imagino-a suave, mas firme, cheia de ternura e compaixão, inconfundível no seu timbre. Jesus, Tu me chamas pelo meu nome. Chamaste-me um dia para um caminho especial – e eu disse o meu sim. Reconheci a Tua voz. Ela me atraía e me fascinava… Não fui capaz de Te resistir, embora me deixasses inteiramente livre… É esta a maravilha no Teu seguimento: não tiras a liberdade a ninguém. Até pelo contrário: queres libertar-me das minhas amarras, dos meus egoísmos, de tudo o que não me deixa ser livre para amar. Jesus, chamas-me, cada dia de novo, para dar passos nesse caminho e esperas o meu sim livre – sempre de novo…
Eu sou a PORTA... Aqui surge diante do meu olhar interior João Paulo II ao abrir o Grande Jubileu do ano 2000 com o gesto simbólico tão significativo da abertura da Porta Santa. Jesus, Tu mesmo disseste que ninguém podia ir ao Pai senão por ti, ou seja, sem aderir a Ti pela Fé. Quem quiser entrar na Tua Família – a Igreja – só o pode fazer por Ti que és o «Irmão mais velho».
Neste momento, quisera agradecer aos meus pais que me levaram a passar pela porta do Baptismo para entrar na Tua Família, Jesus. Considero-o a maior das graças da minha vida: ser filha de Deus! Contigo, Jesus, poder chamar a Deus «meu Pai», «nosso Pai»! Poderá haver algo mais belo? És Tu quem me abre a porta do caminho ao Pai, e, simultaneamente, Tu mesmo és a porta. E afirmas: Se alguém entrar por mim estará salvo … e achará pastagem. Só em Ti e por Ti, encontrarei a verdadeira felicidade, a realização total do projeto que o Pai traçou para a minha vida, a plenitude.
Mas não basta ainda. Queres que eu ajude a muitos outros a encontrar-Te a Ti como porta de acesso ao Pai. Queres que eu me ponha no papel de «porteira» a indicar onde estás Tu, a verdadeira porta e a levá-los até lá. Porque vieste para todos e queres ser porta para todos, não apenas para alguns.
O Bom Pastor DÁ A SUA VIDA pelas ovelhas. Jesus, Tu deste a Vida por mim, sofreste os horrores da Tua Paixão, para que eu pudesse ter parte na Tua Vida divina. Quantas vezes sou aquela «ovelha desgarrada» que se perde algures, longe dos Teus caminhos!? Quantas vezes fecho-me em mim própria e não escuto mais a Tua voz a chamar-me!? Quantas vezes fico presa nas «teias» de tantas coisas superficiais que me querem fascinar e desviar do Teu caminho de libertação e de salvação!? E, no entanto, sempre de novo vais à minha procura. Deixas as outras 99 para ir em busca da que se perdeu. Dás a vida por cada uma das Tuas ovelhas, num Amor tão pessoal e incondicional, como se as outras todas não existissem.
Eu vim PARA QUE TENHAM A VIDA e a tenham EM ABUNDÂNCIA. Esta frase poderia resumir toda a Tua vida: Vieste a este nosso mundo tão cheio de fragilidades e de morte para nos dar a Vida verdadeira. Quiseste assumir a nossa condição humana – e até a morte – e assim abrir-nos o caminho para a Vida, e Vida «em abundância», ou seja, Vida que não tem mais fim, Vida eterna.
Jesus, Bom Pastor, creio que também hoje continuas a cuidar das Tuas ovelhas, do Teu rebanho. Também hoje, Tu chamas as Tuas ovelhas, cada uma pelo seu nome. Também hoje, Tu esperas o meu sim livre e generoso para Te seguir. Aceita a vida e o sim renovado de todos os que Tu, um dia, chamaste. Recebe também os questionamentos e as dúvidas dos que Te querem seguir. Mergulha no mar da Tua misericórdia as fragilidades dos que se perderam do Teu caminho. Mas acima de tudo peço-Te: Jesus, continua a ser o Bom Pastor da Tua Igreja!

domingo, 29 de abril de 2012

4º DOMINGO DA PÁSCOA - JESUS, O BOM PASTOR



O 4º domingo da Páscoa é considerado o “domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe, neste domingo, um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
O Evangelho apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar” as propostas que Ele faz e segui-l’O no caminho do amor e da entrega.
A primeira leitura afirma que Jesus é o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (neste “domingo do Bom Pastor” dizer que Jesus é o “único salvador” equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objetivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos“semelhantes” a Ele.
 
1ª leitura –At. 4,8-12 - AMBIENTE
 
O testemunho sobre Jesus e sobre a libertação que Ele veio oferecer aos homens, manifestado nos gestos (cura do paralítico, à entrada do Templo de Jerusalém – cf. At. 3,1-11) e nas palavras de Pedro (discurso à multidão, à entrada do Templo – cf. At. 3,12-26), provoca a imediata reação das autoridades judaicas e a consequente prisão de Pedro e de João. É a reação lógica dos que pretendem perpetuar os sistemas de escravidão e de opressão.
Assim, Pedro e João são presos e conduzidos diante do Sinédrio – a autoridade que superintendia à organização da vida religiosa, jurídica e econômica dos judeus. Presidido pelo sumo-sacerdote em funções, o Sinédrio era constituído por 70 membros, oriundos das principais famílias do país. Na época de Jesus, o Sinédrio era, ao que parece, dominado pelo grupo dos saduceus, os quais negavam a ressurreição. No Sinédrio havia, também, um grupo significativo de fariseus, os quais aceitavam a ressurreição… No entanto, os dois grupos vão pôr de lado as suas divergências particulares para fazerem causa comum contra os discípulos de Jesus. A pergunta posta aos apóstolos pelos membros do Sinédrio é: “com que poder ou em nome de quem fizestes isto?” (At. 4,7). O texto que a nossa primeira leitura nos apresenta é a resposta de Pedro à questão que lhe foi posta.
É mais do que provável que o episódio assente, em geral, em bases históricas… O testemunho sobre esse Messias crucificado pouco antes pelas autoridades constituídas devia aparecer como uma provocação e provocar uma natural reação dos líderes judaicos. No entanto, o episódio, tal como nos é apresentado, sofreu retoques de Lucas, empenhado em demonstrar que a reação negativa do“mundo” não pode nem deve calar o testemunho dos discípulos de Jesus.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto é, sobretudo, uma catequese destinada aos crentes, mostrando-lhes como se deve concretizar o testemunho dos discípulos, encarregados por Jesus de levar a sua proposta libertadora a todos os homens.
Antes de mais, Lucas observa que Pedro está “cheio do Espírito Santo” (v. 8). Os cristãos não estão sozinhos e abandonados quando enfrentam o mundo para lhes anunciar a salvação. É o Espírito que conduz os discípulos na sua missão e que orienta o seu testemunho. Cumpre-se, assim, a promessa que Jesus havia feito aos discípulos: “quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que haveis de dizer” (Lc. 12,11-12).
“Cheio do Espírito Santo”, Pedro – aqui no papel de paradigma do discípulo que testemunha Jesus e o seu projeto diante do mundo – transforma-se de réu em acusador… Os dirigentes judaicos, barricados atrás dos seus preconceitos e interesses pessoais, catalogaram a proposta de Jesus como uma proposta contrária aos desígnios de Deus e assassinaram Jesus; mas a ressurreição demonstrou que Jesus veio de Deus e que o projeto que Ele apresentou tem o selo de garantia de Deus. Citando um salmo (cf. Sl. 118,2), Pedro compara a insensatez dos dirigentes judaicos à cegueira de um construtor que rejeita como imprestável uma pedra que vem depois a ser aproveitada por outro construtor como pedra principal num outro edifício (v. 11). Jesus é a pedra base desse projeto de vida nova e plena que Deus quer apresentar aos homens. A prova é esse paralítico, que adquiriu a mobilidade pela ação de Jesus (“é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença” – v. 10).
 
Na realidade, Jesus é a fonte única de onde brota a salvação – não só a libertação dos males físicos, mas a salvação entendida como totalidade, como vida definitiva, como realização plena do homem. Jesus (o nome hebraico “Jesus” significa“Jahwéh salva”) é o único canal através do qual a salvação de Deus atinge os homens (v. 12). Com esta afirmação solene e radical, Lucas convida os cristãos a serem testemunhas da salvação, propondo aos homens Jesus Cristo e levando os homens a aderirem, de forma total e incondicional, ao projeto de vida que Cristo veio oferecer.
Uma nota, ainda, para registrar a forma corajosa e desassombrada como Pedro dá testemunho de Jesus, mesmo num ambiente hostil e adverso. Lucas sugere que é desta forma que os discípulos hão-de anunciar Jesus e o seu projeto de salvação. Nada nem ninguém deverá parar e calar os discípulos, chamados a colaborar com Jesus no anúncio da salvação.
Em resumo: os discípulos receberam a missão de apresentar, ao mundo e aos homens, Jesus Cristo, o único Salvador. É o Espírito que os anima nessa missão e que lhes dá a coragem para enfrentar a oposição dessas forças da opressão que recusam a proposta libertadora de Jesus.
 
ATUALIZAÇÃO
 
• A catequese que Lucas nos propõe neste trecho do livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta Jesus como o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”. Lucas avisa-nos, desta forma, para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação. Por vezes, o caminho de salvação que Jesus nos propõe, está em flagrante contradição com os caminhos de “salvação” que nos são propostos pelos líderes políticos, pelos líderes ideológicos, pelos líderes da moda e da opinião pública; e nós temos que fazer escolhas coerentes com a nossa fé e com o nosso compromisso cristão. Na hora de optarmos, não esqueçamos que a proposta de Jesus tem o selo de garantia de Deus; não esqueçamos que o caminho proposto por Jesus (e que, tantas vezes, à luz da lógica humana, parece um caminho de fracasso e de derrota) é o caminho que nos conduz ao encontro da vida plena e definitiva, ao encontro do Homem Novo.
• Depois de dois mil anos de cristianismo, parece que nem sempre se nota a presença efetiva de Cristo nesses caminhos em que se constrói a história do mundo e dos homens. O verniz cristão de que revestimos a nossa civilização ocidental não tem impedido a corrida aos armamentos, os genocídios, os atos bárbaros de terrorismo, as guerras religiosas, o capitalismo selvagem… Os critérios que presidem à construção do mundo estão, demasiadas vezes, longe dos valores do Evangelho. Porque é que isto acontece? Podemos dizer que Cristo é, para os cristãos, a referência fundamental? Nós cristãos fizemos d’Ele, efetivamente, a“pedra angular” sobre a qual construímos a nossa vida e a história do nosso tempo?
• Através do exemplo de Pedro, Lucas sugere que o testemunho dos discípulos deve ser desassombrado, mesmo em condições hostis e adversas. A preocupação dos discípulos não deve ser apresentar um testemunho politicamente correto, que não incomode os poderes instituídos e não traga perseguições à comunidade do Reino; mas deve ser um discurso corajoso e coerente, que tem como preocupação fundamental apresentar com fidelidade a proposta de salvação que Jesus veio fazer.
• Os discípulos de Jesus não estão sozinhos, entregues a si próprios, nessa luta contra as forças que oprimem e escravizam os homens. O Espírito de Jesus ressuscitado está com eles, ajudando-os, animando-os, protegendo-os em cada instante desse caminho que Deus lhes mandou percorrer. Nos momentos de crise, de desânimo, de frustração, os discípulos devem tomar consciência da presença amorosa de Deus a seu lado e retomar a esperança.
• Os líderes judaicos são, mais uma vez, apresentados como modelos de cegueira e de fechamento face aos desafios de Deus. São “maus pastores”, preocupados com os seus interesses pessoais e corporativos, que impedem que o seu Povo adira às propostas de salvação que Deus faz. O seu exemplo mostra-nos como a auto-suficiência, os preconceitos, o comodismo, levam o homem a fechar-se aos desafios de Deus e a recusar os dons de Deus. Eles são, portanto, modelos a não seguir.
 
2ª leitura –1 Jo 3,1-2 - AMBIENTE
 
A primeira Carta de João é, como já dissemos nos domingos anteriores, um escrito polêmico, dirigido a comunidades cristãs nascidas no mundo joânico (trata-se, certamente, de comunidades cristãs de várias cidades situadas à volta de Éfeso, na parte ocidental da Ásia Menor). Estamos numa época em que as heresias começavam a perturbar a vida dessas comunidades, lançando a confusão entre os crentes e ameaçando subverter a identidade cristã. As principais questões postas pelos hereges eram de ordem cristológica e ética. Em termos de doutrina cristológica, negavam que o Filho de Deus tivesse encarnado através de Maria e que tivesse morrido na cruz; na sua perspectiva, o Cristo celeste apenas veio sobre o homem Jesus na altura do batismo, abandonando-o outra vez antes da paixão… Portanto, a humanidade de Jesus é um fato irrelevante; o que interessa é a mensagem do Cristo celeste, que Se serviu do homem Jesus para aparecer na terra. Do ponto de vista ético e moral, estes hereges não cumprem os mandamentos e desprezam especialmente o mandamento do amor ao irmão. Neste contexto, o autor da carta vai apresentar aos crentes as grandes coordenadas da vida cristã autêntica.
O texto que nos é proposto integra a segunda parte da carta (cf. 1 Jo 2,28-4,6). Aí, o autor lembra aos crentes que são filhos de Deus e exorta-os a viver no dia a dia de forma coerente com essa filiação. O contexto é sempre o da polêmica contra os “filhos do mal” que não fazem as obras de Deus, porque não vivem de acordo com os mandamentos.
 
MENSAGEM
 
Em jeito de introdução à segunda parte da carta, o autor recorda aos cristãos que Deus os constituiu seus “filhos”. O fundamento para essa filiação reside no grande amor de Deus pelos homens (v. 1a). O título de “filhos de Deus” que os crentes ostentam não é um título pomposo, mas externo e sem conteúdo; é um título apropriado, que define a situação daqueles que são amados por Deus com um amor“admirável” e que receberam de Deus a vida nova. Evidentemente, a condição de“filhos” implica estar em comunhão com Deus e viver de forma coerente com as suas propostas. Os “filhos de Deus” realizam as obras de Deus (um pouco mais à frente, num desenvolvimento que não aparece na leitura que a liturgia de hoje propõe, o autor da carta contrapõe aos “filhos de Deus” os “filhos do diabo” –que são aqueles que rejeitam a vida nova de Deus, não praticam “a justiça, nem amam o seu irmão” – cf. 1Jo 3,7-10).
A condição de “filhos de Deus”, que fazem as obras de Deus, coloca os crentes numa posição singular diante do “mundo”. Por isso, o “mundo” irá ignorar ou mesmo perseguir os “filhos de Deus”, recusando a proposta de vida que eles testemunham. Não é nada de novo nem de surpreendente: o “mundo” também recusou Cristo e a sua proposta de salvação (v. 1b).
Apesar de serem já, desde o dia do batismo (o dia em que aceitaram essa vida nova que Deus oferece aos homens), “filhos de Deus”, os crentes continuam a caminho da sua realização definitiva, do dia em que a fragilidade e a finitude humanas serão definitivamente superadas. Então, manifestar-se-á nos crentes a vida plena e definitiva, o Homem Novo plenamente realizado. Nesse dia, os crentes estarão em total comunhão com Deus e serão, então, “semelhantes a Ele” (v. 2). A filiação divina é uma realidade que atinge o crente ao longo da sua peregrinação por esta terra e que implica uma vida de coerência com as obras e as propostas de Deus; mas só no céu, após a libertação da condição de debilidade que faz parte da fragilidade humana, o crente conhecerá a sua realização plena.
 
ATUALIZAÇÃO
 
• Antes de mais, o nosso texto recorda-nos que Deus nos ama com um amor “admirável” – amor que se traduz no dom dessa vida nova que faz de nós “filhos de Deus”. Neste domingo do Bom Pastor, o autor da primeira carta de João convida-nos a contemplar a bondade, a ternura, a misericórdia, o amor de um Deus apostado em levar o homem a superar a sua condição de debilidade, a fim de chegar à vida nova e eterna, à plenitudização das suas capacidades, até se tornar“semelhante” ao próprio Deus. Todos os homens e mulheres caminham pela vida à procura da felicidade e da vida verdadeira… O autor desta carta garante-nos: para alcançar a meta da vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de Deus, acolher o seu dom, viver de acordo com essa vida nova que Deus nos oferece. É aí – e não noutras propostas efémeras, parciais, superficiais – que está o segredo da realização plena do homem.
• Como é que os “filhos de Deus” devem responder a este desafio que Deus lhes faz? No texto que nos é hoje proposto, este problema não é desenvolvido; contudo, a questão é abordada e refletida noutras passagens da Primeira Carta de João. Para o autor da carta, o “filho de Deus” é aquele que responde ao amor de Deus vivendo de forma coerente com as propostas de Deus (cf. 1Jo 5,1-3) – isto é, no respeito pelos mandamentos de Deus. De forma especial, recomenda-se aos crentes que vivam no amor aos irmãos, a exemplo de Jesus Cristo.
• O autor da carta avisa também os cristãos para o inevitável choque com a incompreensão do“mundo”… Viver como “filho de Deus” implica fazer opções que, muitas vezes, estão em contradição com os valores que o mundo considera prioritários; por isso, os discípulos são objeto do desprezo, da irrisão, dos ataques daqueles que não estão dispostos a conduzir a sua vida de acordo com os valores de Deus. Jesus Cristo conheceu e enfrentou a mesma realidade; mas a sua história mostra que viver como “filho de Deus” não é um caminho de fracasso, mas um caminho de vida plena e eterna. Os cristãos não devem, por isso, ter medo de percorrer o mesmo caminho.
 
Evangelho –Jo 10,11-18 – AMBIENTE
 
Naquele tempo, disse Jesus: 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.
12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovellhas.
14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.
16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.
17É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder
de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi de meu Pai”.
O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à catequese do “Bom Pastor”. O autor utiliza esta imagem para propor uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do “Messias”consiste em conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota a vida em plenitude.
A imagem do“Bom Pastor” não foi inventada pelo autor do 4º Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com materiais provenientes do Antigo Testamento. Em especial, este discurso tem presente Ez. 34 (onde se encontra a chave para compreender a metáfora do “pastor” e do “rebanho”).Falando aos exilados da Babilônia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da história, maus “pastores”, que conduziram o Povo por caminhos de morte e de desgraça; mas – diz Ezequiel – o próprio Deus vai agora assumir a condução do seu Povo; Ele porá à frente do seu Povo um “Bom Pastor”(o “Messias”), que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida. A catequese que o 4º Evangelho nos oferece sobre o “Bom Pastor” sugere que a promessa de Deus – veiculada por Ezequiel – se cumpre em Jesus.
O contexto em que João coloca o “discurso do Bom Pastor” (cf. Jo 10) é um contexto de polêmica entre Jesus e alguns líderes judaicos, principalmente fariseus (cf. Jo 9,40; 10,19-21.24.31-39). Depois de ver a pressão que os líderes judaicos colocaram sobre o cego de nascença para que ele não abraçasse a luz (cf. Jo 9,1-41), Jesus denuncia a forma como esses líderes tratam o Povo: eles estão apenas interessados em proteger os seus interesses pessoais e usam o Povo em benefício próprios; são, pois, “ladrões e salteadores” (Jo 10,1.8.10), que se apossam de algo que não lhes pertence e roubam ao seu Povo qualquer possibilidade de vida e de libertação.
 
MENSAGEM
 
O nosso texto começa com uma afirmação lapidar, posta na boca de Jesus: “Eu sou o Bom Pastor”. O adjetivo “bom” deve, neste contexto, entender-se no sentido de“modelo”, de “ideal”: “Eu sou o modelo de pastor, o pastor ideal”. E Jesus explica, logo de seguida, que o “pastor modelo” é aquele que é capaz de se entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas (v. 11).
Depois da afirmação geral, Jesus põe em paralelo duas figuras de pastor: o “pastor mercenário” e o “verdadeiro pastor” (vs. 12-13).
Aquilo que distingue o “verdadeiro pastor” do “pastor mercenário” é a diferente atitude diante do “lobo”. O “lobo” representa, nesta “parábola”, tudo aquilo que põe em perigo a vida das ovelhas: os interesses dos poderosos, a opressão, a injustiça, a violência, o ódio do mundo.
O “pastor mercenário” é o pastor contratado por dinheiro. O rebanho não é dele e ele não ama as ovelhas que lhe foram confiadas. Limita-se a cumprir o seu contrato, fugindo de tudo aquilo que o pode pôr em perigo a ele próprio e aos seus interesses pessoais. Limita-se a cumprir determinadas obrigações, sem que o seu coração esteja com o rebanho. Ele tem uma função de enquadrar o rebanho e de o dirigir, mas a sua acção é sempre ditada por uma lógica de egoísmo e de interesse. Por isso, quando sente que há perigo, abandona o rebanho à sua sorte, a fim de salvaguardar os seus interesses egoístas e a sua posição.
O verdadeiro pastor é aquele que presta o seu serviço por amor e não por dinheiro. Ele não está apenas interessado em cumprir o contrato, mas em fazer com que as ovelhas tenham vida e se sintam felizes. A sua prioridade é o bem das ovelhas que lhe foram confiadas. Por isso, ele arrisca tudo em benefício do rebanho e está, até, disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama. Nele as ovelhas podem confiar, pois sabem que ele não defende interesses pessoais mas os interesses do seu rebanho.
 
Ora, Jesus é o modelo do verdadeiro pastor (vs. 14-15). Ele conhece cada uma das suas ovelhas, tem com cada uma relação pessoal e única, ama cada uma, conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. Esta relação que Jesus, o verdadeiro pastor, tem com as suas ovelhas é tão especial, que Ele até a compara à relação de amor e de intimidade que tem com o próprio Deus, seu Pai. É este amor, pessoal e íntimo, que leva Jesus a pôr a própria vida ao serviço das suas ovelhas, e até a oferecer a própria vida para que todas elas tenham vida e vida em abundância. Quando as ovelhas estão em perigo, Ele não as abandona, mas é capaz de dar a vida por elas. Nenhum risco, dificuldade ou sofrimento O faz desanimar. A sua atitude de defesa intransigente do rebanho é ditada por um amor sem limites, que vai até ao dom da vida.
 
Depois de definir desta forma a sua missão e a sua atitude para com o rebanho, Jesus explica quem são as suas ovelhas e quem pode fazer parte do seu rebanho. Ao dizer “tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir” (v. 16a), Jesus deixa claro que a sua missão não se encerra nas fronteiras limitadas do Povo judeu, mas é uma missão universal, que se destina a dar vida a todos os povos da terra. A comunidade de Jesus não está encerrada numa determinada instituição nacional ou cultural. O que é decisivo, para integrar a comunidade de Jesus, é acolher a sua proposta, aderir ao projeto que Ele apresenta, segui-l’O. Nascerá, então, uma comunidade única, cuja referência é Jesus e que caminhará com Jesus ao encontro da vida eterna e verdadeira (“elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” – v. 16b).
 
Finalmente, Jesus explica que a sua missão se insere no projeto do Pai para dar vida aos homens (vs. 17-18). Jesus assume esse projeto do Pai e dedica toda a sua vida terrena a cumprir essa missão que o Pai lhe confiou. O que O move não é o seu interesse pessoal, mas o cumprimento da vontade do Pai. Ao cumprir o projeto de amor do Pai em favor dos homens, Ele está a realizar a sua condição de Filho.
Ao dar a sua vida, Jesus está consciente de que não perde nada. Quem gasta a vida ao serviço do projeto de Deus, não perde a vida, mas está a construir para si e para o mundo a vida eterna e verdadeira. O seu dom não termina em fracasso, mas em glorificação. Para quem ama, não há morte, pois o amor gera vida verdadeira e definitiva.
 
A entrega de Jesus não é um acidente ou uma inevitável fatalidade, mas um gesto livre de alguém que ama o Pai e ama os homens e escolhe o amor até às últimas conseqüências. O dom de Jesus é um dom livre, gratuito e generoso. Na decisão de Jesus em oferecer livremente a vida por amor, manifesta-se o seu amor pelo Pai e pelos homens.
 
ATUALIZAÇÃO
 
• Todos nós temos as nossas figuras de referência, os nossos heróis, os nossos mestres, os nossos modelos. É a uma figura desse tipo que, utilizando a imagem do Evangelho do 4º Domingo da Páscoa, poderíamos chamar o nosso “pastor”… É Ele que nos aponta caminhos, que nos dá segurança, que está ao nosso lado nos momentos de fragilidade, que condiciona as nossas opções, que é para nós uma espécie de modelo de vida. O Evangelho deste domingo diz-nos que, para o cristão, o“Pastor” por excelência é Cristo. É n’Ele que devemos confiar, é à volta d’Ele que nos devemos juntar, são as suas indicações e propostas que devemos seguir. O nosso “Pastor” é, de fato, Cristo, ou temos outros “pastores” que nos arrastam e que são as referências fundamentais à volta das quais construímos a nossa existência? O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: Jesus Cristo? As diretrizes do chefe do departamento? A conta bancária? A voz da opinião pública? A perspectiva do presidente do partido? O comodismo e a instalação? O êxito e o triunfo profissional a qualquer custo? O herói mais giro da telenovela? O programa de maior audiência da estação televisiva de maior audiência?
 
• Reparemos na forma como Cristo desempenha a sua missão de “Pastor”: Ele não atua por interesse (como acontece com outros pastores, que apenas procuram explorar o rebanho e usá-lo em benefício próprio), mas por amor; Ele não foge quando as ovelhas estão em perigo, mas defende-as, preocupa-Se com elas e até é capaz de dar a vida por elas; Ele mantém com cada uma das ovelhas uma relação única, especial, pessoal, conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. As“qualidades” de Cristo, o Bom Pastor, aqui enumeradas, devem fazer-nos perceber que podemos confiar integral e incondicionalmente n’Ele e entregar, sem receio, a nossa vida nas suas mãos. Por outro lado, este “jeito” de atuar de Cristo deve ser uma referência para aqueles que têm responsabilidades na condução e animação do Povo de Deus: aqueles que receberam de Deus a missão de presidir a um grupo, de animar uma comunidade, exercem a sua missão no dom total, no amor incondicional, no serviço desinteressado, a exemplo de Cristo?
 
• No“rebanho” de Jesus, não se entra por convite especial, nem há um número restrito de vagas a partir do qual mais ninguém pode entrar… A proposta de salvação que Jesus faz destina-se a todos os homens e mulheres, sem exceção. O que é decisivo para entrar a fazer parte do rebanho de Deus é “escutar a voz”de Cristo, aceitar as suas indicações, tornar-se seu discípulo… Isso significa, concretamente, seguir Jesus, aderir ao projeto de salvação que Ele veio apresentar, percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projetos de Deus e na doação total aos irmãos. Atrevemo-nos a seguir o nosso“Pastor” (Cristo) no caminho exigente do dom da vida, ou estamos convencidos que esse caminho é apenas um caminho de derrota e de fracasso, que não leva aonde nós pretendemos ir?
 
• O nosso texto acentua a identificação total de Jesus com a vontade do Pai e a sua disponibilidade para colocar toda a sua vida ao serviço do projecto de Deus. Garante-nos também que é dessa entrega livre, consciente, assumida, que resulta vida eterna, verdadeira e definitiva. O exemplo de Cristo convida-nos a aderir, com a mesma liberdade mas também com a mesma disponibilidade, às propostas de Deus e ao cumprimento do projeto de Deus para nós e para o mundo. Esse caminho é, garantidamente, um caminho de vida eterna e de realização plena do homem.
• Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que elas receberam essa missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas convém igualmente ter presente que o nosso único “Pastor”, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo. Os outros “pastores” têm uma missão válida, se a receberam de Cristo; e a sua atuação nunca pode ser diferente do jeito de atuar de Cristo.
• Para que distingamos a “voz” de Jesus de outros apelos, de propostas enganadoras, de“cantos de sereia” que não conduzem à vida plena, é preciso um permanente diálogo íntimo com “o Pastor”, um confronto permanente com a sua Palavra e a participação ativa nos sacramentos onde se nos comunica essa vida que “o Pastor” nos oferece.
 
 
 
 
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho