domingo, 30 de setembro de 2012

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM.

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
 
A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
 
No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.
 
 
Leitura I – Nm. 11,25-29
Leitura do Livro dos Números
 
Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo pousar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito posou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento. Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: Moisés, meu senhor, proíbe-os. Moisés, porém, respondeu-lhe: Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!
 
Ambiente
 
O Livro dos Números (assim chamado na versão grega, pelo fato de o livro começar com uma lista de recenseamento onde são dados os números de membros de cada tribo do Povo de Deus) apresenta um conjunto de tradições – sem grande preocupação de coerência e de lógica – sobre a estadia no deserto dos hebreus libertados do Egito. São tradições de origem diversa, que os teólogos das escolas jahwista, elohista e sacerdotal utilizaram com fins catequéticos.
 
No seu estado atual, o livro está dividido em três partes. A primeira narra os últimos dias da estadia do Povo de Deus no Sinai (cf. Nm. 1,1-10,10); a segunda apresenta, em várias etapas, a caminhada do Povo pelo deserto, desde o Sinai à planície de Moab (cf. Nm. 10,11-21,35); a terceira apresenta a comunidade dos filhos de Israel instalada na planície de Moab, preparando a sua entrada na Terra Prometida (cf. 11,1-36,13). Mais do que uma crônica de viagem do Povo de Deus desde o Sinai, até às portas da Terra Prometida, o Livro dos Números é um livro de catequese. Pretende mostrar que a essência de Israel é ser um Povo reunido à volta de Jahwéh e da Aliança. Com algum idealismo, os autores do Livro dos Números vão descrevendo como, por ação de Jahwéh, esse grupo informe de nómadas libertado do Egito foi ganhando progressivamente uma consciência nacional e religiosa, até chegar a formar a “assembléia santa de Deus”.
 
Ao longo do percurso geográfico pelo deserto, Israel vai fazendo também uma caminhada espiritual, durante a qual se vai libertando da mentalidade de escravo, para adquirir uma cultura de liberdade e de maturidade. O autor mostra como, por ação de Deus (que está sempre presente no meio do Povo), Israel vai progressivamente amadurecendo, renovando-se, transformando-se, alargando os horizontes, tornando-se um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo. O episódio que hoje nos é proposto acontece pouco depois da partida do Sinai. Num lugar chamado Tabera (cf. Nm. 11,3), o Povo revoltou-se por não ter comida em abundância e murmurou contra Jahwéh. Moisés, cansado e desiludido, queixou-se ao Senhor de não conseguir aguentar o fardo da condução deste Povo rebelde (cf. Nm. 11,11-15); então, Jahwéh propôs a Moisés escolher setenta anciãos que, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, ajudariam Moisés na tarefa de conduzir o Povo pelo deserto (cf. Nm 11,16-24). É precisamente neste ponto que começa o nosso texto.
 
Mensagem
 
Os “anciãos” (em hebraico: “tzequenîm”) são uma instituição no universo político e social de Israel. São os “cabeças de família” que formavam, em cada cidade, uma espécie de “conselho” e que presidiam à comunidade. O nosso texto faz remontar a Moisés e ao deserto a instituição dos anciãos. Na perspectiva do catequista bíblico, eles recebem o Espírito de Deus para colaborar na governação do Povo de Deus.
 
 
A forma como o nosso autor descreve o dom do Espírito é a seguinte: Deus tirou “uma parte” do Espírito que estava em Moisés e derramou-o sobre os setenta anciãos. Na perspectiva do autor, a explicação é esta: Moisés possuía a plenitude do Espírito enquanto dirigiu sozinho o Povo de Deus; porém, quando a responsabilidade da governação foi dividida com os setenta anciãos, também o Espírito que repousava em Moisés foi repartido por todos. A descrição, ainda que bizarra, dá a ideia, por um lado, da unidade do Espírito e, por outro, da partilha do mesmo Espírito por todos aqueles que Deus chama a uma missão.
 
 
A presença do Espírito de Deus nos anciãos manifesta-se na capacidade de profetizar. O “profetismo” de que aqui se fala não tem nada a ver com o “profetismo” dos grandes profetas pregadores e escritores que Israel conhecerá mais tarde; mas designa um estado de entusiasmo ou frenesim, de êxtase e delírio coletivo, destinados a criar um clima de fervor e de exaltação religiosa. Nesta altura, manifestações deste tipo são vistas como sinais da presença do Espírito de Deus.
 
 
A história tem, contudo, um epílogo inesperado: Eldad e Medad, dois anciãos que estariam na lista dos setenta escolhidos, mas que não estavam presentes no momento da recepção do Espírito, começaram também a profetizar. Josué crê que se trata de um abuso intolerável, que põe em causa as competências da hierarquia estabelecida e propõe a Moisés que lhe ponha cobro… A resposta de Moisés é a resposta de um homem livre, magnânimo, de espírito aberto, que não está preocupado com o controle dos mecanismos de poder, mas com a vida e a felicidade do seu Povo: “Estás com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o Povo fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles” (vers. 29).
A resposta de Moisés será um anúncio profético do dia do Pentecostes, quando o Espírito de Deus se derramou sobre a totalidade do Povo da Nova Aliança (cf. Act. 2,16-21).
 
 
Atualização
 
• A comunidade do Povo de Deus é a comunidade do Espírito. O Espírito não é privilégio dos membros da hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e com o seu projeto de vida. Mesmo o irmão mais humilde, mais pobre, menos considerado da nossa comunidade possui o Espírito de Deus.
 
 
•O episódio ensina também que o Espírito de Deus é livre e atua onde quer e como quer. Não está limitado por fronteiras, nem por regras, nem por interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja tem o monopólio do Espírito, nenhuma instituição pode controlá-lo ou acorrentá-lo. Por vezes, somos testemunhas da ação do Espírito no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa instituição religiosa… Não temos que sentir-nos melindrados ou ciumentos se Deus age no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa Igreja; temos é de reconhecer a presença de Deus nos gestos de amor, de paz, de justiça, de solidariedade, de partilha que todos os dias testemunhamos (mesmo naqueles que se dizem ateus) e agradecer ao nosso Deus a sua presença, a sua ação, o seu amor pelos homens e pelo mundo.
 
•A certeza de que ninguém tem o exclusivo do Espírito obriga-nos a pôr de lado qualquer atitude de fanatismo, de intransigência ou de intolerância face às perspectivas diferentes com que somos confrontados. Os preconceitos, os esquemas egoístas, as condenações à priori, os julgamentos apressados, podem fazer-nos perder os desafios que o Espírito, pela voz dos irmãos, nos apresenta.
 
 
•Moisés, o líder do processo de libertação que trouxe os hebreus da terra da escravidão para a Terra da liberdade, foi capaz de reconhecer a sua debilidade e a sua incapacidade de “fazer tudo” e aceitou a ajuda da comunidade. Não teve ciúmes, nem inveja, nem medo de perder o controle do processo, nem dificuldade em aceitar a partilha das tarefas que o Senhor lhe confiou. Com o seu exemplo, ele ensina os responsáveis das nossas comunidades a aceitar a ajuda dos irmãos, a partilhar com outros o peso da responsabilidade de conduzir a comunidade do Povo de Deus. Por vezes, temos a convicção de que só nós somos capazes de fazer as coisas bem e evitamos aceitar a ajuda dos outros; por vezes, sentimos que a intervenção de outras pessoas é uma ameaça ao nosso poder e rejeitamos qualquer ajuda; por vezes, queremos controlar o caminho da comunidade, porque não estamos dispostos a renunciar aos nossos sonhos, aos nossos projetos pessoais… Já pensamos que, quando não aceitamos partilhar responsabilidades, estamos a impedir os outros de crescer? Já pensamos que, quando somos nós a conduzir todo o processo, sem nos deixarmos confrontar com perspectivas diferentes, podemos estar a calar os desafios do Espírito?
 
Salmo responsorial – Salmo 18 (19)
 
Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.
A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a alma. As ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples.
O temor do Senhor é puro e permanece eternamente; Os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
Embora o vosso servo se deixe guiar por eles e os observe com cuidado, quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros? Purificai-me dos que me são ocultos.
Preservai também do orgulho o vosso servo, para que não tenha poder algum sobre mim: então serei irrepreensível e imune de culpa grave.
 
Leitura II – Tg. 5,1-6
Leitura da Epístola de São Tiago
 
Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.
 
Ambiente
 
A Carta de Tiago termina com dois blocos de exortações onde o autor recorda aos seus interlocutores alguns dos aspectos que elencou anteriormente e que, na sua perspectiva, devem ser tidos em séria conta por parte de quem está interessado em viver a vida cristã autêntica. Para o autor, o acesso à vida plena depende das opções que o homem faz enquanto caminha nesta terra. O primeiro bloco (cf. Tg. 4,11-5,6) contém um elenco de atitudes negativas, que os crentes devem evitar a todo o custo: falar mal dos irmãos (cf. Tg. 4,11-12), viver no orgulho e na auto-suficiência face a Deus (cf. Tg 4,13-17), viver para os bens materiais e praticar injustiças contra os pobres (cf. Tg. 5,1-6). O segundo bloco (cf. Tg. 5,7-20) contém uma lista de atitudes positivas que os crentes devem assumir enquanto esperam a vinda do Senhor: paciência, perseverança e firmeza no falar (cf. Tg. 5,7-12), oração (cf. Tg. 5,1-18) e preocupação em reconduzir ao bom caminho o irmão que anda afastado (cf. Tg. 5,19-20). O texto que nos é proposto é um grito profético de denúncia dos ricos, do seu orgulho e auto-suficiência, da sua obsessão pelos bens materiais. Este texto deve ser colocado no quadro geral de uma época de profundas desigualdades: ao lado de uma riqueza desmesurada e sem limites, vive e sofre a miséria mais aguda. A exploração do pobre e a violência contra os humildes eram, na época, fenômenos demasiado frequentes e que os cristãos conheciam bem.
 
Mensagem
 
A primeira parte do nosso texto (vers. 1-3) trata do problema da acumulação da riqueza. O autor, como numa visão profética, contempla o final dos tempos e descreve, com violência, a sorte que espera aqueles cujo objetivo principal na vida foi o acumular bens. Será que os bens, o poder, a consideração que eles gozaram neste mundo lhes servirá de alguma coisa, quando chegar o juízo final, o momento em que se joga o destino definitivo do homem? Obviamente que não. Esses bens nos quais os ricos depositam agora toda a sua segurança e esperança perderão todo o valor (“as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se…” – vers. 2-3a); ou, pior ainda, serão uma testemunha de acusação, que denunciará o amor descontrolado dos bens materiais, o orgulho e a auto-suficiência, as injustiças praticadas contra os pobres. O destino final dos bens perecíveis é a destruição; e quem tiver os bens materiais como o seu deus, a sua referência fundamental, não terá acesso à vida plena e eterna (vers. 3b.c).
 
Na segunda parte do nosso texto (vers. 4-6), o autor refere-se à origem desses bens acumulados pelos ricos. Para o autor, não há dúvidas nem meios-termos: a riqueza provém sempre da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que ceifaram os campos dos ricos (vers. 4). Trata-se de um pecado que a Lei condena de forma veemente e que Deus castigará duramente (cf. Lv 19,13; Dt. 24,15). Não pagar o salário ao trabalhador é condená-lo à morte, bem como a toda a sua família (vers. 6). Os luxos e os prazeres dos ricos vivem assim da morte dos pobres. Naturalmente, Deus não pode pactuar com a injustiça e, por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido. O clamor dos injustiçados sobe da terra até junto de Deus e faz com que Deus atue. Com ironia mordaz, o autor compara o rico ao cevado que, engordando, apressa o dia da sua própria matança (vers. 5): os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres, estão a preparar para si próprios um caminho de desgraça e de castigo. A linguagem do autor da Carta de Tiago é violenta e colorida, bem ao gosto dos pregadores da época. Para além da veemência das palavras deve ficar, contudo, esta mensagem: quem vive para os bens materiais e coloca neles o sentido da sua existência, dificilmente terá disponibilidade para acolher os dons de Deus e para acolher essa vida plena que Deus quer oferecer aos homens. Por outro lado, Deus não tolera a exploração, a opressão do pobre; e quem conduzir a sua vida por caminhos de injustiça, não poderá fazer parte da família de Deus.
 
Atualização
 
• O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em primeiro lugar porque eles vivem apenas para acumular bens materiais, negligenciando os verdadeiros valores. Fazem do ouro e da prata os seus deuses e centram toda a sua existência em valores caducos e perecíveis. No final da sua existência vão perceber que gastaram a vida a correr atrás de algo que não dá felicidade nem conduz o homem à vida plena; a sua existência terá sido, então, um dramático equívoco. O “aviso” do autor da Carta de Tiago conserva uma espantosa atualidade… A acumulação de bens materiais tornou-se, para tantos homens do nosso tempo, o único objetivo da vida e o critério único para definir uma vida de sucesso. Contudo, aqueles que apostam tudo nos bens perecíveis facilmente constatam como essa opção não responde, em definitivo, à sua sede de felicidade e de vida plena. O ouro, a conta bancária, o carro de luxo, a casa de sonho, dão-nos satisfações imediatas e, talvez, um certo estatuto aos olhos do mundo; mas não saciam a nossa sede de vida eterna. Nós, os cristãos, somos chamados a testemunhar que a vida verdadeira brota dos valores eternos – esses valores que Deus nos propõe.
 
 
•O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em segundo lugar, porque frequentemente a riqueza resulta da exploração e da injustiça. Acumular bens à custa da miséria e da exploração dos irmãos é, na perspectiva do autor do nosso texto, um crime abominável e que Deus não deixará impune. Não é cristão quem não paga o salário justo aos seus operários, mesmo que ofereça depois somas chorudas para a construção de uma igreja; não é cristão quem especula com os bens de primeira necessidade, mesmo que vá todos os domingos à missa e pertença a vários grupos paroquiais; não é cristão quem inventa esquemas para não pagar impostos, mesmo que seja muito amigo do padre da paróquia; não é cristão quem se aproveita da ignorância e da miséria para realizar negócios altamente rentáveis, mesmo que pense repartir com Deus os frutos das suas rapinas…
 
 
•Uma coisa deve ficar clara: Deus não apóia nunca quem vive fechado em si próprio, no açambarcamento egoísta desses bens que Deus nos concedeu para serem postos ao serviço de todos os homens; e qualquer crime cometido contra os pobres é um crime contra Deus, que afasta o homem da vida plena da comunhão com Deus.
Aleluia – cf. Jo 17,17b.a
Aleluia. Aleluia.
A vossa palavra, Senhor, é a verdade; santificai-nos na verdade.
Evangelho – Mc. 9,38-43.45-47-48
 
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
 
Naquele tempo, João disse a Jesus: Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demônios em teu nome e procuramos impedir-lho, porque ele não anda conosco. Jesus respondeu: Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas pró um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga.
 
Ambiente
 
Estamos ainda em Cafarnaum (cf. Mc. 9,33), a cidade de pescadores situada junto do Lago de Tiberíades. Jesus está “em casa” rodeado pelos discípulos. A ida para Jerusalém está próxima e os discípulos estão conscientes de que se aproximam tempos decisivos para esse projeto em que estão envolvidos. Apesar da sua opção inequívoca por Jesus, os discípulos continuam a dar mostras de não terem ainda conseguido absorver os valores do Reino. Para eles, o seguimento de Jesus é uma opção que deverá traduzir-se na concretização de determinados sonhos de poder, de grandeza e de prestígio… Por isso, sentem-se inquietos e ciumentos quando encontram algo que possa colocar em causa os seus interesses, a sua autoridade, os seus “privilégios”. Jesus vai, com paciência, tentando formar os discípulos na lógica do Reino. O texto que a liturgia deste domingo nos propõe como Evangelho é mais uma instrução que Jesus dirige aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem interiorizar, se quiserem integrar a comunidade messiânica. Marcos juntou aqui uma série de “ditos” de Jesus, inicialmente independentes entre si e pronunciados em contextos diversos. Estes “ditos” apresentam, contudo, exigências várias que os discípulos de Jesus devem considerar e que, em última análise, definem a pertença ou a não pertença à comunidade do Reino.
Mensagem
 
 
Sendo o Evangelho deste domingo constituído por um conjunto de “ditos” de Jesus – originariamente independentes uns dos outros e versando questões diversas – temos vários temas a cruzar o nosso texto. O tema principal (uma vez que é também o tema da primeira leitura) aparece na primeira parte do Evangelho… Refere-se à necessidade de a comunidade cristã ser uma comunidade aberta, acolhedora, tolerante, capaz de aceitar como sinais de Deus os gestos libertadores que acontecem no mundo. Nos primeiros versículos deste texto, João (desta vez o porta-voz do grupo) queixa-se pelo fato de terem encontrado alguém a “expulsar demônios” em nome de Jesus, embora não pertencesse ao grupo dos discípulos; considerando um abuso a utilização do nome de Jesus por parte de alguém que não fazia parte da comunidade messiânica, os discípulos procuraram impedi-l’O de atuar (vers. 38-41). A atitude dos discípulos mostra, antes de mais, arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade… Mas, por detrás da reação dos discípulos, deve estar também uma grande preocupação com a concretização dos projetos pessoais de prestígio e grandeza que quase todos eles alimentavam.
 
Pouco tempo antes, eles tinham estado a discutir uns com os outros acerca de quem seria o maior e de quem iria herdar os postos mais importantes no Reino que, com Jesus, ia nascer (cf. Mc. 9,33-37); agora, eles estão inquietos e preocupados, porque apareceu alguém de fora do grupo que pretende atuar em nome de Jesus e que pode, num futuro próximo, disputar-lhes os lugares de relevo na estrutura política do Reino. Jesus procura levar os discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão. Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo fato de o Espírito de Deus atuar fora das fronteiras da Igreja… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos. Na segunda parte do nosso texto (vers. 42-48), temos outros “ditos” de Jesus que abordam outros temas. Constituem também indicações aos discípulos sobre as atitudes a assumir para integrar plenamente a comunidade do Reino. Nesses “ditos”, são usadas imagens fortes, expressivas, hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar profundamente os ouvintes.
 
Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com radicalidade pelos valores do Reino. O primeiro desses “ditos” é um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos” (vers. 42). Na nossa cultura, “escandalizar” é protagonizar um mau exemplo ou um fato revoltante que melindra ou fere a susceptibilidade daqueles que testemunham essa ação. Na linguagem de Marcos, no entanto, “escandalizar” tem um significado um tanto diferente… O verbo grego “scandalidzô” aqui utilizado define, em Marcos, a ação de desistir de seguir Jesus, de não ter coragem para assumir a proposta que Jesus veio fazer (cf. Mc. 4,17; 8,35.38). Os “pequeninos” de que Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência, de debilidade, de necessidade… Os membros da comunidade do Reino devem, portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar” – vers- 42). O segundo “dito” de Jesus (vers. 43-48) refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o órgão da ação, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda a veemência, a necessidade de atuar, lá onde as ações más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem, não se pode protelar ou adiar “cortes” importantes nas atitudes de egoísmo e de auto-suficiência que afastam os homens de Deus e da vida plena. Há ainda, neste segundo “dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena” vem do hebraico “Ge Hinnon” (“Vale do Hinnon”). Refere-se a um vale situado a sudoeste de Jerusalém, onde eram enterrados os mortos e onde, dia e noite, era queimado o lixo produzido pelos habitantes da cidade. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que convinha evitar. Jesus usa aqui a imagem do “Ge Hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem sentido. Quem não for capaz de cortar com o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, é como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse condenado a viver no “Ge Hinnon”.
 
Atualização
 
 
•O Evangelho deste domingo apresenta-nos um grupo de discípulos ainda muito atrasados na aprendizagem do “caminho do Reino”. Eles ainda raciocinam em termos de lógica do mundo e têm dificuldade em libertar-se dos seus interesses egoístas, dos seus esquemas pessoais, dos seus preconceitos, dos seus sonhos de grandeza e poder… Eles não querem entender que, para seguir Jesus, é preciso cortar com certos sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a radicalidade que a opção pelo Reino exige. As dificuldades que estes discípulos apresentam no sentido de responder a Jesus não nos são estranhas: também fazem parte da nossa vida e do caminho que, dia a dia, percorremos… Assim, a instrução que, neste texto, Jesus dirige aos seus discípulos serve-nos também a nós. As propostas de Jesus destinam-se aos discípulos de todas as épocas; pretendem ajudar-nos a purificar a nossa opção e a integrar, de forma plena, a comunidade do Reino.
 
 
•Antes de mais, Jesus mostra aos discípulos que a comunidade do Reino não pode ser uma seita arrogante, fechada, intolerante, fanática, que se arroga a posse exclusiva de Deus e das suas propostas. Tem de ser uma comunidade que sabe qual o seu papel e a sua missão, mas que reconhece que não tem o exclusivo do bem e da verdade e que é capaz de se alegrar com os gestos de bondade e de esperança que acontecem à sua volta, mesmo quando esses gestos resultam da ação de não crentes ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja. O verdadeiro discípulo não tem inveja do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus atua através de outras pessoas, não pretende ter o monopólio da verdade nem ter o exclusivo de Jesus. O verdadeiro discípulo esforça-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos com outros percursos religiosos, que lutam por construir um mundo mais justo e mais fraterno.
 
 
•Os discípulos de que o Evangelho de hoje nos fala estão preocupados com a ação de alguém que não é do grupo, pois temem ver postos em causa os seus sonhos pessoais de poder e de grandeza. Por detrás dessa preocupação dos discípulos não está o bem do homem (aquilo que, em última análise, devia “mover” os membros da comunidade do Reino), mas a salvaguarda de certos interesses egoístas. Nas nossas comunidades cristãs ou religiosas, há pessoas capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço aos irmãos; mas há também pessoas cuja principal preocupação é proteger o espaço que conquistaram e continuar a manter um estatuto de poder e de prestígio… Quando afastamos (com o pretexto de defender a pureza da fé, os interesses da moralidade, ou tranquilidade da comunidade) aqueles que desafiam a comunidade a purificar-se e a procurar novos caminhos para responder aos desafios de Deus, estaremos a proteger os interesses de Deus ou os nossos projetos, os nossos esquemas interesseiros, as nossas apostas pessoais?
 
 
•No nosso texto, Jesus exige dos discípulos o corte radical com os valores, os sentimentos, as atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino. O discípulo de Jesus nunca está acomodado, instalado, conformado; mas está sempre atento e vigilante, procurando detectar e eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe impede o acesso à vida plena. Naturalmente, a renúncia ao egoísmo, ao comodismo, ao orgulho, aos esquemas pessoais, à vontade de poder e de domínio, ao apelo do êxito, ao aplauso das multidões, é um processo difícil e doloroso; mas é também um processo libertador e gerador de vida nova. O que é que eu necessito, prioritariamente, de “cortar” da minha vida, para me identificar mais com Jesus, para merecer integrar a comunidade do Reino, para ser mais livre e mais feliz?
 
 
•O apelo de Jesus à sua comunidade no sentido de não “escandalizar” (afastar da comunidade do Reino) os pequenos, faz-nos pensar na forma como lidamos, enquanto pessoas e enquanto comunidades, com os pobres, os que falharam, os que têm atitudes moralmente reprováveis, aqueles que têm uma fé pouco consistente, aqueles que a vida marcou negativamente, aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita… Eles encontram em nós a proposta libertadora que Cristo lhes faz, ou encontram em nós rejeição, injustiça, marginalização, mau exemplo? Quem vê o nosso testemunho tem razões para aderir a Cristo, ou para se afastar de Cristo?
Algumas sugestões práticas para o 26º domingo do tempo comum
 
1. A palavra meditada ao longo da semana.
 
Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
 
2. Bilhete de evangelho.
 
Quando Jesus chama, pede para deixar tudo para O seguir. Quando Jesus fala do Reino, anuncia um mundo totalmente novo. Quando Jesus pede para amar, propõe um regresso radical. Mas será necessário tempo aos seus discípulos para compreender tudo isso, e sobretudo para vivê-lo. Eles conhecerão hesitações, procurarão compromissos, porão condições. Ora, para Jesus, nada deve ser obstáculo à entrada no Reino de Deus. Jesus coloca o homem face à sua liberdade, ele deve escolher. Se ele escolheu o Reino, deve aceitar as suas exigências, que se resumem numa única palavra AMAR. O homem é convidado a amar com todo o seu ser: as suas mãos para partilhar, os seus pés para reencontrar, os seus olhos para olhar. Cabe ao homem fazer com que todo o seu ser responda à sua vontade de amar.
 
3. À escuta da palavra.
 
“Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demônios em teu nome e procuramos impedir-lho, porque ele não anda conosco»”. João quer delimitar as fronteiras do grupo dos discípulos, pôr em ordem, classificar os bons de um lado, os maus de outro, separar aqueles que estão “em regra” daqueles que estão à margem. Esta tentação de erguer barreiras entre os homens em nome de Deus é uma tentação mortal. É a tentação de todos aqueles que pretendem agir em nome de Deus, que se declaram, eles e apenas eles, detentores da Verdade e reivindicam serem eles os únicos verdadeiros fiéis de Deus. Todos os outros, que não pensam, que não agem como eles devem ser rejeitados, condenados. Essa tentação gera o fanatismo. Isso não é em vista do espírito! É uma realidade bem concreta no nosso mundo e também na história, antiga e atual, de praticamente todas as religiões. Mas Jesus conduz-nos para além disso. Sem dúvida diz Ele: “Eu sou a Verdade”, mas não reivindica qualquer poder. Recusa entrar no jogo de João: “Não impeçais este homem de expulsar os demônios em meu nome”. Porquê? Porque Jesus veio para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos e, como dirá São Paulo, para destruir a barreira que separava os Judeus e os pagãos, para fazer a paz e reconciliar todos os homens com Deus e entre eles.
 
4. Para a semana que se segue…
Com Maria, humilde serva… Para nos ajudar a amar sem orgulho, em quase início de mês de Outubro, mês do Rosário: peçamos o apoio e a intercessão de Maria. Ela que foi a humilde serva do Senhor, pode ensinar-nos a humildade, o serviço, a disponibilidade, o amor.
 
 
 
 
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

sábado, 29 de setembro de 2012

SÃO MIGUEL, RAFAEL E GABRIEL.

Sabemos – por ensinamento de Santo Tomás de Aquino, o “Doutor Angélico” – que os anjos se dividem em três hierarquias, cada uma composta por nove coros. A terceira hierarquia, composta pelos serafins, querubins e tronos, é a mais “privilegiada”, os anjos que a compõem vivem ao redor do trono de Deus, contemplando sua glória e cantando seus louvores. Pela luz que é comunicada a eles, vinda do trono de Deus, são instrumentos de aperfeiçoamento das demais hierarquias.

Os anjos da segunda hierarquia povoam os espaços celestes (cf. Ef 6,12). Encontram-se entre o céu e a terra. Ajudam a melhor governar o mundo e combatem as hierarquias infernais. São, portanto, grandes defensores da humanidade. Essa hierarquia é composta pelas dominações, virtudes e potestades.

A primeira hierarquia é composta pelos principados, arcanjos e anjos, que vivem na terra, ao lado dos homens. Os arcanjos são aqueles a quem Deus confia missões extraordinárias da fé e revelações de realidades acima da compreensão humana. Nesse coro encontram-se São Miguel, cujo nome significa “Quem como Deus?” (cf. Ap 12,10), São Rafael, “Deus cura” (cf. Tb 5,4) e São Gabriel, “Força de Deus” (cf. Lc 1,26), cujas festas eram celebradas a 29 de março, a 24 de outubro e a 24 de março respectivamente. Mas o novo calendário reuniu em uma só celebração a festa destes arcanjos, no dia 29 de setembro. Esta data foi escolhida por corresponder à da consagração a igreja dedicada a São Miguel, no século V, a seis milhas da via Salária.

São Miguel
São Miguel, antigo padroeiro da sinagoga, é agora padroeiro de toda a Igreja católica. Chefe dos arcanjos, é a figura angélica mais nobre das Sagradas Escrituras.

Foi cultuado desde os primeiros séculos da história do cristianismo. É venerado por sua coragem no momento da queda dos anjos, em que Lúcifer seduziu um terço dos anjos do céu e, ao querer tomar o trono de Deus, veio Miguel, liderando os dois terços que permaneceram fiéis a Deus, e expulsou satanás e seus anjos decaídos (cf. Ap 12,7-9).

Miguel protege o povo eleito (cf. Dn 10,13), combate contra satanás (cf. Ap 12,7ss), no juízo universal intervirá em favor do povo de Deus (cf. Dn 12,1-2).

Célebre e muito antigos são os santuários a ele consagrados em Puglia (Itália, 491) e em Mont-Saint-Michel (França). Em Roma, foi-lhe dedicado o Mausoléu de Adriano, porque no século VI, enquanto Gregório Magno fazia uma procissão para esconjurar a peste, apareceu em cima do sepulcro do imperador romano Adriano o arcanjo Miguel com a espada levantada e a peste cessou, então o povo passou a chamar o referido Mausoléu de Castelo de Sant’Angelo (Santo Anjo).

Depois, São Miguel auxiliou a alguns santos em sua missão. Citamos como exemplo Santa Joana d’Arc e São Geraldo Magela. Invoquemo-lo nas tentações e dificuldades, para que nos dê coragem de vencê-las e, nos sofrimentos, para que nos conforte.

São Gabriel
Sabe-se pouco sobre este arcanjo, mas sabe-se que Gabriel é anunciador por excelência das revelações divinas. É o anjo das belas e alegres notícias, como o nascimento de João Batista, o precursor, e depois o nascimento de Jesus. Também ele explica ao profeta Daniel como se dará a plena restauração, da volta do exílio ao advento do Messias.

Ele tem um grande prestígio até mesmo entre os maometanos.

São Rafael
São Rafael é citado apenas em um livro da Bíblia. É o acompanhante do jovem Tobias, daí lhe vem a função de guia de todos os que viajam. Ele ainda sugeriu a Tobias o remédio para a cura da cegueira do pai, por isso é invocado como curador e protetor dos farmacêuticos. Também orientou a libertação do demônio que agia no matrimônio de Sara, por isso é invocado como protetor dos casais.
Maria Auristela Barbosa Alves

Bibliografia
Festa dos Anjos. Maná, ano 9, n. 41, set/94, pp.37-39, Fortaleza: Shalom.
Menezes, Goretti Bezerra de. As criaturas invisíveis de Deus. Maná, ano 3, n. 6, set/1988, pp. 20-24, Fortaleza: Shalom.
Paiva Filho, Alberto. As criaturas invisíveis de Deus. Maná, ano 4, n. 7, mar/1989, pp. 23-228, Fortaleza: Shalom.
Sgarbossa, Mario e Giovannini, Luigi. Um santo para cada dia. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1996.


por
Comunidade Católica Shalom

QUEM SÃO OS ARCANJOS.

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Divididos em nove coros subordinados um ao outro, os anjos que se conservaram fiéis formam um exército invencível. Seu número é incalculável. Só há três anjos cujos nomes próprios as Escrituras Sagradas nos dão a conhecer.

São Miguel é o grande capitão do exército celeste. Seu nome Mi-cha-el significa, quem é igual a Deus? Quando Lúcifer, cego pelo anjo1.jpgorgulho, quis igualar-se ao Altíssimo, Miguel exclamou com voz trovejante: "Quem é igual a Deus?" E acompanhado pelos anjos fiéis, precipitou do alto dos céus a tropa rebelde dos apóstatas. Assim se tornou o generalíssimo do incontável exército dos santos anjos. Vê-se, nos profetas, que era o protetor do povo de Israel; agora o é da Igreja.

São Gabriel, cujo nome significa Força de Deus, anuncia ao profeta Daniel a época da grande obra de Deus, a época do Filho de Deus feito homem, Cristo condenado à morte, a remissão dos pecados, o Evangelho pregado a todas as nações, a ruína de Jerusalém e de seu templo, a condenação final do povo judeu. É o mesmo anjo Gabriel que prediz ao sacerdote Zacarias, no templo, no santuário, junto ao altar dos perfumes, o nascimento de um homem que será chamado João, ou cheio de graça, e que não mais anunciará a vinda do Salvador, mas que o apontará: "Eis o Cordeiro de Deus! Eis quem tira os pecados do mundo!" É o mesmo arcanjo, sempre enviado para anunciar grandes coisas, que irá à humilde casa de Nazaré anunciar à Virgem Maria a maior de todas as coisas; comunicar que, sem deixar de ser virgem, ela daria à luz ao Filho do Altíssimo, que seria chamado Jesus ou Salvador, porque seria o Salvador do mundo. É esse glorioso arcanjo que nos ensina a dizer tal como ele: "Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres!"

São Rafael, cujo nome significa Médico ou cura de Deus, dá-se a conhecer a Tobias: "Quando oráveis, vós e Sara vossa nora, ou apresentava o memorial de vossas orações diante do santo; e quando sepultáveis os mortos, estava presente junto de vós. Quando não vos recusáveis a levantar-vos da mesa e deixar vosso jantar para amortalhardes um morto, o bem que praticáveis não permanecia oculto; pois eu estava convosco. E por que éreis agradáveis a Deus, foi necessário que fosseis provados. Agora, porém, Deus enviou-me para curar-vos, a vós e a Sara, esposa de vosso Filho. Sou Rafael, um dos sete anjos que apresentam as orações dos santos, e que podem defrontar a majestade do Santíssimo!

* * * * * * * *

Todos os domingos, um incontável número de fiéis no orbe católico canta ou recita durante a celebração da sagrada Eucaristia o símbolo da nossa fé. As verdades de nossa santa religião são proclamadas, uma após outra, numa inspirada e sublime síntese, até completar a totalidade da única doutrina da fé: "Assim como a semente da mostarda contém num pequeníssimo grão um grande número de ramos - ensina-nos São Cirilo de Jerusalém -, da mesma forma este resumo da fé encerra em algumas palavras todo o conhecimento da verdadeira piedade contida no Antigo e no Novo Testamento".

"Creio em Deus Pai todo-poderoso!" Depois desta primeira e fundamental afirmação, da qual dependem todos os outros artigos do Credo, proclamamos em seguida "o começo da história da salvação": "Criador do Céu e da terra!"

O mistério da criação

Deus, Ser absoluto e eterno, não precisava de nenhuma criatura que Lhe rendesse homenagens e reconhecesse sua grandeza sem limites. Entretanto, em sua misericórdia, quis criar, não para aumentar a própria glória, intrínseca e sempiterna, mas para manifestar seu amor todo-poderoso e "comunicar sua glória" aos seres por Ele criados, fazendo-os participar de sua verdade, sua bondade e sua beleza.

Uma imensa multidão de criaturas diversas e desiguais - seres visíveis e invisíveis, inteligentes ou desprovidos de razão, dispostos numa maravilhosa hierarquia - constituiu então a Ordem do universo, reflexo da perfeição adorável do Ser infinito, que só se manifestaria totalmente, na plenitude dos tempos, por seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, o Verbo eterno encarnado.

Explica o Doutor Angélico que "todo efeito representa algo da sua causa". Assim, em todas as criaturas podemos encontrar vestígios da eterna Sabedoria que as tirou do nada: nos astros que enchem as vastidões do firmamento e cujas canjo2.jpgonstelações encontramse separadas, às vezes, por milhões de anos-luz; nos diminutos grãos de areia, jamais iguais entre si, que cobrem desertos e praias; na variedade assombrosa de vegetais, que vai da "erva do campo que hoje existe e amanhã é queimada" (Mt 6, 30) às seculares sequóias e jequitibás; no admirável instinto dos insetos, na fidelidade quase inteligente de um cão, na delicadeza virginal de um arminho, nos milhares de micróbios que podem pulular numa gota de água... Mas quis Deus espelhar-se sobretudo no homem, criando-o à sua imagem. E ao constituí-lo um composto de corpo corruptível e alma imortal, o tornou elo de ligação entre a matéria e o mundo espiritual.

O mundo angélico

Porém, no alto desta grandiosa hierarquia, "superando em perfeição todas as criaturas visíveis", colocou Deus a natureza angélica: espíritos puros, inteligentes e capazes de amar, cheios da graça divina desde o início de sua existência, na aurora da primeira manhã da criação. Distribuídos e ordenados por Deus em nove coros - Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos - constituem o exército da celeste Jerusalém e receberam a tríplice missão de perpétuos adoradores da Santíssima Trindade, executores dos divinos desígnios e protetores do gênero humano.

Imensa e incalculável é esta corte do Senhor. "Porventura podem ser contadas as suas legiões?", pergunta o livro de Jó (25, 3). E o profeta Daniel, abismado, escreveu: "Eram milhares de milhares os que o serviam, e mil milhões os que assistiam diante d'Ele" (Dn 7, 10). Entretanto, cada um desses espíritos possui uma personalidade própria, inconfundível e específica, não havendo sido criado um igual ao outro.

O primeiro dos anjos

A tanta diversidade e esplendor quis Deus colocar um ápice, um ponto monárquico, um ser que espelhasse de modo inigualável a luz eterna e inextinguível. Maravilha dentre as maravilhas, obra-prima do mundo angélico, fulgurava no mais alto dos coros e todos extasiavam-se diante dele. "Tu és o selo da semelhança de Deus, cheio de sabedoria e perfeito na beleza; tu vivias nas delícias do paraíso de Deus e tudo foi empregado em realçar a tua formosura!" (cf. Ez 28, 12-13).

Sendo o primeiro dos serafins, iluminava todos os espíritos celestes com os reflexos da divindade que sua inteligência ímpar discernia com o auxílio da graça. Lúcifer era seu nome: o que levava a luz...

A prova dos espíritos celestes

Entretanto, antes de poder contemplar, por toda a eternidade, a essência de Deus, deviam os anjos passar por uma prova, e apesar da altíssima perfeição da sua natureza, "não podiam dirigir-se a esta bem-aventurança por sua vontade, sem ajuda da graça de Deus".

Diante deles a face do Ser infinito permanecia como que envolta em penumbras e só seus reflexos eram capazes de alimentar o ardente amor das legiões do Senhor.

Segundo afirmam Tertuliano, São Cipriano, São Basílio, São Bernardo e outros santos, a prova que decidiu o destino eterno dos espíritos angélicos foi o aSan Gabriel Pq S Sulpice Fougeresnúncio da Encarnação do Verbo, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, o qual haveria de nascer da Virgem Maria.

Podemos
imaginar, então, que um frêmito de assombro percorreu as fileiras das milícias celestes ao conhecerem intuitivamente, por uma ação de Deus, o plano da Salvação: o Criador eterno, inacessível, todo-poderoso, se uniria hipostaticamente à natureza humana, elevando-a assim até o trono do Altíssimo; e uma mulher, a Mãe de Deus, tornar-se-ia medianeira de todas as graças, seria exaltada por cima dos coros angélicos e coroada Rainha do universo!

O inexplicável surgia diante dos anjos como sendo o píncaro e o centro da obra da criação.

A prova havia chegado. Amar sem entender! Amar sobre todas as coisas ao Deus Altíssimo que numa sublime manifestação de seu amor havia tirado do nada todas as criaturas! Reconhecer, num supremo lance de adoração e submissão, a superioridade infinita da Bondade absoluta e eterna! Era este o ato que confirmaria os espíritos angélicos na graça divina e os introduziria na visão beatífica para todo o sempre.

A primeira revolução da História

Lúcifer, porém, duvidou diante de um mistério que ultrapassava seu angélico entendimento. Será que Deus ignorava a natureza perfeitíssima dos anjos e preferia unir-Se a um ser humano, tão inferior a eles na ordem das criaturas? Ele, o mais alto dos serafins, seria compelido a adorar um homem? "Esta união hipostática do homem com o Verbo pareceu-lhe intolerável e desejou que fosse realizada com ele", afirma Cornélio a Lápide. Sim, só a ele mesmo, Lúcifer, "o perfeito desde o dia da criação" (Ez 28, 15), deveria Deus unir-Se e deste modo constituí-lo como o mediador único e necessário entre o Criador e as criaturas. Assim, "aquele que do nada havia sido feito anjo, comparando-se, cheio de soberba, com o seu Criador, pretendeu roubar o que era próprio do Filho de Deus", conclui São Bernardo.

"O anjo pecou querendo ser como Deus" e o príncipe da luz tornou- se trevas.

Fez-se ouvir o primeiro grito de revolta da história da criação: "Não servirei! Subirei até o Céu, estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança! Serei semelhante ao Altíssimo!" (cf. Is 14,13-14).

O defensor da glória de Deus

Ecoou, então, um brado no Céu: "Quem como Deus?"

Entre o anjo revoltado e o trono do Todo-Poderoso erguia-se "um dos primeiros príncipes" (Dn 10, 3), um serafim incomparavelmente mais esplendoroso e forte do que havia sido "o que levava a luz". Quem era este que ousava desafiaSão Miguelr o mais alto dos anjos e agora refulgia invencível, revestido do "poder da justiça divina, mais forte que toda a força natural dos anjos"?

Quem era este? Chama viva de amor, labareda de zelo e humildade, executor da divina justiça.

"Quem como Deus?" - Milhões de milhões dos espíritos celestes repetiram o mesmo brado de fidelidade. "Quem como Deus?" - Este sinal de fidelidade, que em hebraico se diz Mi-ka-el, passou a ser o nome daquele serafim que por sua caridade ímpar foi o primeiro a levantar-se em defesa da Majestade ofendida.

Michael, Miguel: nome que exprime, em sua sonora brevidade, o louvor mais completo, a adoração mais perfeita, o reconhecimento mais cheio de amor da transcendência divina e a confissão mais humilde da contingência da criatura.

A primeira batalha de uma guerra eterna

"Houve no Céu uma grande batalha" (Ap 12, 7). Luta entre anjos e demônios, luta da luz contra as trevas, da fidelidade contra a soberba, da humildade e da ordem contra o orgulho e a desordem. "Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele" (Ap 12, 7).

Satanás, desvairado de orgulho e "obstinado em seu pecado", "arrastou a terça parte" (Ap 12, 4) dos espíritos angélicos, submergindo-os consigo nas trevas eternas da revolta.

Porém, estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no Céu. Foi precipitado aquele grande dragão, que se chama demônio e Satanás, e foram junto com ele os seus anjos (cf. Ap 12, 8-9) nos abismos tenebrosos do inferno (cf. 2Pd 2, 4).

Um imenso clamor encheu o universo: Como caíste do céu, ó astro resplandecente, que no nascer do dia brilhavas? (cf. Is 14, 12). A tua soberba foi abatida até os infernos! (cf. Is 14, 11). E enquanto o serafim revoltado era visto "cair do céu como um relâmpago" (Lc 10, 18) e ser condenado ao fogo inextinguível, "preparado para ele e os seu anjos" (Mt 25, 41), São Miguel era elevado pelo Rei eterno ao píncaro da hierarquia dos anjos fiéis e se tornava o "gloriosíssimo príncipe da milícia celeste", como é designado pela liturgia da Santa Igreja Católica.

O novo campo de batalha

Restabelecida a ordem nos céus angélicos, o campo de batalha onde prosseguiu a luta entre a luz e as trevas passou a ser a terra dos homens. O anjo destronado conseguiu seduzir nossos primeiros pais a pecarem, como ele, contra o Altíssimo, querendo ser como deuses (cf. Gn 3,5), e o Senhor Deus declarou guerra ao tentador: "Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela" (Gn 3, 15).

San Miguel Pquia-San-Miguel-Dijon-Francia

A partir deste momento uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história da humanidade. Iniciada na origem do mundo, vai durar até o último dia, segundo as palavras do Senhor. Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem.

Neste combate, além das armas decisivas da graça de Deus, que recebemos superabundantemente por meio dos sacramentos, contam os homens com o auxílio e a proteção dos anjos. E ao príncipe da Jerusalém celeste corresponde a capitania de todas as legiões angélicas na luta contra as forças do inferno, pela salvação das almas. Assim, São Miguel continua na terra a luta triunfal que iniciou no Céu.

Protetor do povo eleito e da Santa Igreja

Foi São Miguel o anjo tutelar do povo de Israel.

Nas Sagradas Escrituras, é ele mencionado pela primeira vez no livro de Daniel. Este profeta, ao escrever as revelações recebidas do anjo Gabriel sobre o combate para libertar a nação eleita da servidão aos persas, afirma que ninguém a defenderá "a não ser Miguel, vosso príncipe" (Dn 10, 22). E acrescenta ao narrar as tribulações de épocas vindouras: "Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande príncipe, o protetor dos filhos de seu povo" (Dn 12, 1).

O serafim da fidelidade não cessou de proteger o povo de Israel e velar pela fé da Sinagoga até o momento supremo da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Escureceu-se o sol e houve trevas, a terra tremeu, fenderam-se as rochas e o véu do Templo - monumental tecido de jacinto, púrpura e escarlate que cobria a entrada do impenetrável "Santo dos Santos" - rasgou-se em duas partes, de alto a baixo (cf. Mt 27, 51; Mc 15, 38; Lc 23, 45). Narra- nos o famoso historiador judeu, Flávio Josefo, que depois desses acontecimentos os próprios sacerdotes do Templo escutaram dentro do recinto sagrado uma misteriosa voz que clamava repetidas vezes: "Saiamos daqui!" (15).

São Miguel, a sentinela de Israel, abandonava definitivamente o Templo da Antiga Aliança, inútil agora, porque o único e verdadeiro sacrifício acabava de consumar-se no alto do Calvário. Do coração trespassado do Cordeiro Imaculado nascia a Santa Igreja, Corpo Místico de Cristo, Templo eterno do Espírito Santo. E a partir desse instante, Miguel o triunfador, o primeiro adorador do Verbo encarnado, tornou-se também o vigilante protetor da única Igreja de Deus.

A este respeito escreveu o cardeal Shuster: "Depois do ofício de pai legal de Jesus Cristo, que corresponde a São José, não há na terra nenhum ministério mais importante e mais sublime do que o conferido a São Miguel: protetor e defensor da Igreja" (16).
 

LITURIGA DIÁRIA - VEREIS O CÉU ABERTO.


Primeira Leitura: Daniel 7, 9-10.13-14

SANTOS MIGUEL, GABRIEL E RAFAEL
(branco, glória, prefácio dos anjos - ofício da festa)

Leitura da profecia de Daniel - 9Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas, com rodas de fogo ardente. 10Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu audiência e os livros foram abertos. 13Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido. 14A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído. - Palavra do Senhor.


Salmo Responsorial(137)

REFRÃO: Perante os vossos anjos vou cantar-vos, ó Senhor!

1.
 Senhor, de coração eu vos dou graças,  / porque ouvistes as palavras dos meus lábios! / Perante os vossos anjos vou cantar-vos  /
e ante o vosso templo vou prostrar-me. -R.
2. Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, / porque fizestes muito mais que prometestes; / naquele dia em que gritei, vós me escutastes  / e aumentastes o vigor da minha alma. -R.
3. Os reis de toda a terra hão de louvar-vos, / quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa. / Hão de cantar vossos caminhos e dirão:  / "Como a glória do Senhor é grandiosa!" -R.



Evangelho: João 1, 47-51


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 47Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade. 48Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira. 49Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel. 50Jesus replicou-lhe: Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta. 51E ajuntou: Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem. - Palavra da salvação.
catolicanet.com



Homilia - Pe Bantu

São João nos apresenta um Jesus conhecedor de tudo e de todos. Que não precisa que alguém lhe conte e mostre quem são as pessoas com que Ele se relaciona.   Deus conhece todas as ações humanas, e Ele é o justo Juíz, e seu Reno não terá im. O mal um dia será vencido e não mais estará presente entre os homens. Mas isto somente vai acotecer quando vereis o céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.  Todavia somos convidados ja a nos alegrarmos : por isso, alegra-te ó céu, e todos os que viveis nele. O convite é extensivo aos coros celestes, serafins, arcanjos e anjos. É Cristo quem nos chama para estar junto dele e participar de sua obra redentor.


Filipe não tinha guardado para si a grande alegria de ter tido a dita de encontrar o Messias anunciado pelos Profetas, mas comunicara-a a seu amigo Natanael, que se mostrou incrédulo em face da procedência humilde de Jesus, filho dum carpinteiro de Nazaré, quando o Messias devia ser descendente de David e procedente de Belém. Filipe não se desmoraliza com as razoáveis objecções do amigo e também não confia nas explicações que o seu próprio engenho poderia excogitar; opta por convidar o amigo a aproximar-se pessoalmente de Jesus: “vem e verás” (v. 46).


Passemos agora para o nome Natanael. Biblicamente ele é de origem semítico que significa dom de Deus. Foi um dos Doze Apóstolos (cf. Jo 21, 2). É bem provavel tenha cido Bartolomeu, o qual teria dois nomes, sendo este último um nome patronímico (filho de Tolmay), como o patronímico de Simão Pedro, Baryona (filho de Jonas). Esta identificação é deduzida dos diversos catálogos dos Apóstolos que nos deixaram os Sinópticos, onde Bartolomeu sempre se segue a Filipe, aquele Apóstolo que levou Natanael a Jesus .
Eu vi-te, debaixo da figueira”. Natanael sentiu que o olhar de Jesus penetrava os mais profundos recônditos da sua alma, pois algo de significativo devia ter passado no seu coração naquela hora e naquele local exacto a que Jesus se referia, e que só Deus podia conhecer.
Natanael é um israelita fiel à tradição da Lei, e parece não ter idéia da ruptura de João Batista com as instituições do judaísmo. A fala de Jesus a Natanael, quando estavas debaixo da figueira, eu te ví, remete ao profeta Zacarias: Naqueles dias convidar-vos-ei, uns aos outros, debaixo da figueira. (Zc 3,10). Corresponda ou não, verdade é que, Natanael vê-se descoberto e então respondendo professa a sua fé em Jesus: Mestre, Tu é o Filho de Deus, Rei de Israel. Tanto uma palavra quanto outra fazem parte dos títulos messiânicos procedentes do Salmo 2.  A intencionalidade do Evangelho revela-se ao apresentar, desde a primeira hora, confissões explícitas de fé em Jesus.


E com a expressão: Então vereis o céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem, esconde e ao mesmo tempo revela duma forma muito clara e expressiva de que Jesus é o Mediador entre o Céu e a terra, ficando assim os Céus abertos para a humanidade. Ele é a porta pela qual os homens têm acesso ao Pai. É a escada de Jacob, pela qual subiam e desciam os Anjos na visão de Jacob (Gn 28,12).
Portanto assim como Natanael, reconhece em Jesus o caminho a verdade e a vida proclamemos bem alta, Senhor, tu és o Filho do Homem, o Rei de Israel, para que no final possamos ver o céu aberto e os anjos d Deus subindo e descendo sobre Ele e com Ele reinemos eternamente. Amén!