Bernat Casero / Flickr CC
Alterações somáticas são os principais sinais de uma presença satânica cientificamente inexplicável
Será que a psicanálise consegue sempre dar explicações aos casos de alegada possessão diabólica? Ou haverá casos em que a ciência não consegue oferecer um diagnóstico definitivo para supostas pessoas “possuídas”?
O autor Raul Salvucci, no livro “Cosa fare con questi diavoli” (“O que fazer com esses demônios”,
ainda sem tradução ao português), menciona dores físicas sentidas por
pessoas que sofreram malefícios e que não puderam ser explicadas pela
medicina:
“Os efeitos negativos para a saúde são habituais quando ocorre um malefício. Há modalidades diversas; nem sempre estão todas presentes, nem têm sempre a mesma intensidade. Variam de pessoa para pessoa, dependendo da compleição física, e descarregam a maior negatividade sobre os pontos mais frágeis”.
O professor Luigi Janiri, das Universidades Lumsa,
de Roma, e Católica, de Milão, é psiquiatra e psicoterapeuta, estudou de
perto esses fenômenos e declarou à Aleteia Itália:
“Os fenômenos escassamente explicados pela psiquiatria e que se verificam nos casos de possessão considerados demoníacos estão numa espécie de faixa de transição entre as condições francamente psicopatológicas (especialmente a histeria e os transtornos dissociativos) as de possessão propriamente dita. No caso dessas últimas, também deveriam ser diferenciadas as situações em que o ente maléfico age de fora do sujeito, causando vexações ou infestações ambientais”.
Sete sinais
Os fenômenos que, segundo Janiri, são reconhecíveis como
“paranormais” ou pelo menos “extraordinários” e interpretáveis como
“presença” de uma entidade estranha no corpo de um indivíduo (geralmente
demoníaca) são os seguintes:
1) Alterações somáticas: mudanças da cor dos olhos,
surgimento de estigmas ou outras “inscrições” cutâneas, marcas de fogo,
hemorragias inexplicáveis, mudanças bruscas no tom e no timbre da voz
etc;
2) Titanismo: força incompatível com o físico da
pessoa ou que a leva a executar façanhas como levantar pesos
desproporcionais, arremessar grandes móveis ou lançar objetos muito
pesados;
3) Levitação: alçar-se do solo sem apoio;
4) Falar em línguas desconhecidas pela pessoa; com frequência, além do mais, são línguas mortas ou arcaicas;
5) Ler pensamentos alheios: demonstrar saber o que o interlocutor está pensando ou sentindo no momento;
6) “Vomitar” objetos que a pessoa não pode ter
introduzido em si mesma, como pregos ou pétalas de flores; neste mesmo
conceito, acrescentam-se ainda fenômenos como o surgimento “prodigioso”
de objetos do nada ou a transformação de objetos em outros diferentes;
7) Hipersensibilidade aos símbolos sagrados: é
frequente que fenômenos como os mencionados acima ocorram
espontaneamente durante a missa, em particular durante momentos muito
significativos, como a bênção; ou na presença de padres, mesmo que não
sejam exorcistas; ou durante a realização de exorcismos.
Dos estigmas às línguas estranhas
Ainda segundo Janiri, alguns desses fenômenos estão no limite entre
as condições explicáveis pela medicina e as que são inexplicáveis
cientificamente, e, por isso mesmo, atribuíveis a causas sobrenaturais:
servem como exemplo as mudanças de voz e algumas manifestações cutâneas,
como sangramentos e estigmas, que podem ocorrer em estados de alteração
psicossomática (certos tipos de histeria); ou o falar em línguas
aparentemente ignoradas, o que pode ter a ver com conhecimentos
pré-existentes dos quais a pessoa guarda algum resquício mais ou menos
inconscientemente; ou a leitura da mente, que pode ocorrer em relações
interpessoais caracterizadas por altos níveis de sugestionabilidade.
Casos inexplicáveis
“Pessoalmente”, diz o psiquiatra, “eu testemunhei alguns fenômenos” – e ele os elenca:
- alterações de voz, em meninas que de repente começaram a falar com voz de homem;
- sangramentos indeterminados;
- pessoas franzinas que chegaram a arremessar pesados bancos de igreja;
- pessoas entrevistadas, no México, dizendo frases em uma língua desconhecida, que depois foi identificada como um dialeto pré-colombiano;
- pessoas que “captaram” o que o examinador estava pensando ou sentindo no momento.
Conforme já dito acima, porém, tais fenômenos não são necessariamente
atribuíveis a uma possessão diabólica, pois têm margem de
interpretabilidade psicopatológica.
Alterações bem mais difíceis de explicar
Outras alterações somáticas, conta ainda Janiri, “me foram
relatadas por sacerdotes particularmente confiáveis: a mudança súbita na
cor dos olhos durante um exorcismo e o aparecimento de uma figura e
algumas letras na pele das costas de uma pessoa possuída”.
Gelsomino Del Guercio
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