segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SERÁ QUE ESTOU FAZENDO A VONTADE DE DEUS?

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Deus tem planos específicos para cada um de nós
Em Sua bondade e sabedoria infinitas, Deus define coisas importantes e especiais para nossa vida e nos conduz à realização de cada uma delas de acordo com a permissão que lhe damos. No entanto, justamente porque somos livres, muitas vezes guiados por nossas emoções e desejos, fazemos escolhas erradas e nos desviamos do plano que o Pai Eterno traçou para a nossa felicidade. Aí, sentimo-nos abatidos e, às vezes, perdemos até mesmo o sentido da vida. É como quem está em alto mar orientado por uma bússola e, fazendo uso da sua liberdade, resolve jogá-la fora e guiar-se sozinho.
No início, pode até parecer divertido e libertador, mas, depois de um tempo, começa a perceber os perigos a sua volta e procura, a todo custo, reencontrar o caminho para o porto seguro. O pior é que, nesta busca pelo porto, agarramo-nos aos destroços de coisas e conceitos vazios que nos fazem afundar ainda mais. E isso tem acontecido muito em nossos dias, onde a cultura do liberalismo nos envolve e arrasta para longe dos desígnios de amor que Deus tem para nós. Mas existe uma esperança! Com o auxílio da Graça Divina, sempre é tempo de reencontrarmos a bússola e voltarmos para os braços de Deus.
Dias atrás, uma jovem me procurou pedindo um minuto de atenção. Falou-me dos encontros e desencantos que a vida tem lhe proporcionado, das emoções feridas pela insegurança de um relacionamento que não deu certo, da frustração ao ver sua vida profissional abalada junto com as emoções e a dor de não ser acolhida como gostaria que fosse. Estava fragilizada, mas sua confiança no amor de Deus ainda a mantinha em pé. Aliás, ela mesma afirmou que foi este o motivo que lhe fez vir ao meu encontro. Depois de poucas palavras, concluiu com uma voz embargada e olhos rasos de lágrimas: “Eu só queria descobrir qual é a vontade de Deus para minha vida!”.
Foi justamente ali, enquanto ouvia aquela jovem e fazia um esforço tremendo para não dar sinal de que meu tempo já havia acabado, que decidi escrever sobre esse assunto. Acredito que saber discernir a vontade de Deus a nosso respeito é o segredo para a felicidade. Isso muda o rumo da nossa história e dá sentido a todas as coisas. Mas há um porém: não existe um manual com respostas prontas para essa descoberta. Assim como nossa vida é única diante de Deus, a vontade d’Ele a nosso respeito também é, e esta se revela sutilmente nas entrelinhas dos acontecimentos da nossa história. É preciso interpretá-la! Não podemos insistir em dizer para Deus o que queremos sem antes percebermos o que Ele realmente quer para nós, e isso exige humildade e perseverança.
O fato é que, conscientes ou não, lidamos com o nosso querer e o querer de Deus o tempo todo. Às vezes, estamos de comum acordo, e isso é maravilhoso, mas nem sempre é assim. E quando percebemos que nosso querer não traz paz e tudo indica que Deus nos reserva o contrário do que desejávamos, precisamos ter a coragem e a firme decisão de viver o abandono e optarmos pelo querer de Deus se a nossa meta for a felicidade. Isso é fácil? Claro que não! Aliás é muito difícil e nossa natureza parece que até range por dentro sem querer se dobrar, mas a vida prova que esta é a melhor escolha. No entanto, é importante lembrar que submissão à vontade de Deus é diferente de comodismo e falta de ideal.
É ter a coragem de sonhar, fazer planos e lutar por eles sim! Porém, dando a Deus a liberdade para mudá-los caso seja este o Seu querer. É algo desafiante, mas libertador. A Palavra do Senhor diz que Deus tem desígnios de felicidade para nossa vida (Jereminas 29, 11). E, por intermédio de Jesus, Ele nos mostrou o caminho que nos leva a ela. Por isso, quando vivemos de acordo com Seus ensinamentos expressos nas Sagradas Escrituras, nossa vida funciona em harmonia mesmo em meio às lutas; e quando os ignoramos, nossa vida se desintegra mesmo que pareça termos tudo que desejávamos.
O que eu disse àquela jovem digo também a você: confie seguramente no amor de Deus e acredite. Se você for fiel, Ele não vai desampará-lo! Quanto mais você se aproximar do Senhor, por meio de uma vida comprometida com a oração e a prática da caridade, mais confiança adquire e mais cresce no amor. Sendo assim, já não terá medo do que venha acontecer em sua vida no próximo instante, porque, seja o que for, será o melhor meio que Deus escolheu para sua felicidade.
“O amor lança fora todo temor” (1 Jo 4,18)








Djanira Silva
Fonte: Canção Nova

LITURGIA DIÁRIA - PRECISAMOS CONFIAR NA FORÇA E NO PODER DO ESPÍRITO SANTO.

Leitura (2 Reis 5,1-15)

Leitura do segundo livro dos Reis. 5 1 Naamã, general do exército do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante de seu amo, e era muito considerado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem valente, mas leproso. 2 Ora, tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem, a qual ficou a serviço da mulher de Naamã. 3 Ela disse à sua senhora: “Ah, se meu amo fosse ter com o profeta que reside em Samaria, ele o curaria da lepra!” 4 Ouvindo isso, Naamã foi e contou ao seu soberano o que dissera a jovem israelita. 5 O rei da Síria respondeu-lhe: “Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel”. Naamã partiu com dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes de festa. 6 Levou ao rei de Israel uma carta concebida nestes termos: “Ao receberes esta carta, saberás que te mando Naamã, meu servo, para que o cures da lepra”. 7 Tendo lido a missiva, o rei de Israel rasgou as vestes e exclamou: “Sou eu porventura um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que esse me mande dizer que cure um homem da lepra? Vede bem que ele anda buscando pretextos contra mim”. 8 Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei tinha rasgado as vestes, mandou-lhe dizer: “Por que rasgaste as tuas vestes? Que ele venha a mim, e saberá que há um profeta em Israel”. 9 Naamã veio com seu carro e seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 10 Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão e tua carne ficará limpa”. 11 Naamã se foi, despeitado, dizendo: “Eu pensava que ele viria em pessoa, e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infetado e me curaria da lepra. 12 Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar limpo?” E, voltando-se, retirou-se encolerizado. 13 Mas seus servos, aproximando-se dele, disseram-lhe: “Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse ordenado algo difícil, não o deverias fazer? Quanto mais agora que ele te disse: ‘Lava-te e serás curado’”. 14 Naamã desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e sua carne tornou-se tenra como a de uma criança. 15 Voltando então para o homem de Deus, com toda a sua comitiva, entrou, apresentou-se diante dele e disse: “Reconheço que não há outro Deus em toda a terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo”.
Palavra do Senhor.

Salmo responsorial 41/42

Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:
e quando verei a face de Deus?

Assim como a corça suspira pelas águas correntes,
suspira igualmente minha alma
por vós, ó meu Deus!

A minha alma tem sede de Deus
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver
a face de Deus?

Enviai vossa luz, vossa verdade:
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso monte santo,
até a vossa morada!

Então irei aos altares do Senhor,
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei ao som da harpa,
meu Senhor e meu Deus!
 

Evangelho (Lucas 4,24-30)

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!
No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Pois no Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção (Sl 129,5.7).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Vindo a Nazaré, disse Jesus: 4 24 “Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.
25 Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 26 mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27 Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã”. 28 A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. 29 Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 30 Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.
Palavra da Salvação.

Reflexão

“nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. Com estas palavras Jesus abria os olhos do povo de Nazaré que não O acolhia nem o reconhecia. Neste Evangelho, reportando-se às figuras de Elias e de Naamã, o sírio, Ele quer nos prevenir que nem sempre teremos sucesso no espaço em que as pessoas já têm o costume de nos escutar e já estão acostumados conosco.  Na maioria das vezes  não damos muita importância a quem está perto de nós, por isso vamos procurar longe, os milagres que Deus tem poder de fazer, perto de nós. O poder vem do alto e não depende de quem quer que seja, mas da vontade do Senhor e da nossa fé.  Assim, Elias foi mandado para fazer prodígios na vida de uma viúva, fora de Israel e Naamã, o sírio, precisou ir a Israel para que o profeta Eliseu o orientasse e este fosse curado da lepra, mesmo que lá em Israel existissem muitos leprosos que não haviam conseguido a cura. Essas interferências são próprias da nossa natureza humana que não admite se curvar diante do poder que Deus tem sobre nós. Jesus falava estas coisas aos judeus que não O reconheciam porque Ele era o filho de um simples carpinteiro que morava perto deles.  Todos O conheciam e não acreditavam que Nele estava o poder  do Espírito Santo. Por isso, quando formos enviados (as) para falar de Jesus no meio da nossa família, não precisamos nos angustiar se não conseguirmos êxito, mas,  tão somente,  confiar na força e no poder do Espírito que poderá agir no meio do nosso povo,  mesmo que  não acreditem em nós. Perseverar e nunca desistir de ir, é a nossa parte. Em todos os lugares e em qualquer situação poderemos ser os Elias, os Eliseus de hoje, assim como também, os Naamã e as viúvas de Serepta.  Às vezes, não fazemos sucesso onde queríamos, mas o Senhor nos envia a alguém a quem nem imaginamos, para que por nosso meio ele possa obter cura e libertação. - A quem você se sente chamado (a) a evangelizar? – Você já fez a experiência de ir à busca dessas pessoas? – Para você o que é evangelizar? – Você já desistiu de evangelizar na sua casa?  





Helena Serpa 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

3º DOMINGO DA QUARESMA - A CONVERSÃO NOS RECOLOCA NO CORAÇÃO DO PAI!

 
Esta terceira etapa da caminhada para a Páscoa somos chamados, mais uma vez, a repensar a nossa existência. O tema fundamental da liturgia de hoje é a “conversão”.
Com este tema enlaça-se o da “libertação”: o Deus libertador propõe-nos a transformação em homens novos, livres da escravidão do egoísmo e do pecado, para que em nós se manifeste a vida em plenitude, a vida de Deus.
O Evangelho contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um recentrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
A segunda leitura avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com Ele numa comunhão íntima.
A primeira leitura fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.

1º leitura: Ex. 3,1-8a.13-15 - AMBIENTE

A primeira parte do livro do Êxodo (Ex. 1-18) apresenta-nos um conjunto de “tradições” sobre a libertação do Egito: narra-se a iniciativa de Jahwéh, que escutou os gemidos dos escravos hebreus e teve compaixão deles (cf. Ex. 2,23-24)
O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta-nos o chamamento de Moisés, convidado a ser o rosto visível da libertação que Jahwéh vai levar a cabo.
Algum tempo antes, Moisés deixara o Egito e encontrara abrigo no deserto do Sinai, depois de ter morto um egípcio que maltratava um hebreu (o caminho do deserto era o caminho normal dos opositores à política do faraó, como o demonstram outras histórias da época que chegaram até nós); acolhido por uma tribo de beduínos, Moisés casou e refez a sua vida, numa experiência de calma e de tranquilidade bem merecidas, após o incidente que lhe arruinara os sonhos de uma carreira no aparelho administrativo egípcio (cf. Ex. 2,11-22). Ora, é precisamente nesse oásis de paz que Jahwéh Se revela, desinquieta Moisés e envia-o em missão ao Egito.
MENSAGEM
A afirmação “Jahwéh tirou Israel do Egito” será a primitiva profissão de fé de Israel. É o fato fundamental da fé israelita. Ora, é essa descoberta que está no centro desta leitura.
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes. Na primeira (vs. 1 - 8), temos o relato da vocação de Moisés. O contexto é o das teofanias (manifestações de Deus): o “anjo do Senhor”, o fogo (vs. 2 - 3), a onipotência, a santidade e a majestade de Deus (vs. 4 - 5), a apresentação de Deus, o sentimento de “temor” que o homem experimenta diante do divino (vs. 6); e Deus manifesta-Se para “comprometer” Moisés, enviando-o em missão (vs. 7-8) e fazendo dele o instrumento da libertação.
Fica claro que o chamamento de Moisés é uma iniciativa do Deus libertador, apostado em salvar o seu Povo. Deus age na história humana através de homens de coração generoso e disponível, que aceitam os seus desafios.
Na segunda parte (vs. 13-15), apresenta-se a revelação do nome de Deus (uma espécie de “sinal” que confirma que Moisés foi chamado por Deus e enviado por Ele em missão): “Eu sou (ou serei) ‘aquele que sou’ (ou que serei)”. Este nome acentua a presença contínua de Deus na vida do seu Povo, uma presença viva, ativa e dinâmica, no presente e no futuro, como libertação e salvação.
Os israelitas descobriram, desta forma, que Jahwéh esteve no meio daquela tentativa humana de libertação e conduziu o processo, de forma a que um povo vítima da opressão passasse a ser livre e feliz. Para a fé de Israel, Jahwéh não ficou de braços cruzados diante da opressão; mas iniciou um longo processo de intervenção na história que se traduziu em libertação e vida para um povo antes condenado à morte.
Para Israel, o Êxodo tornar-se-á, assim, o modelo e paradigma de todas as libertações. A partir desta experiência, Israel descobriu a pedagogia do Deus libertador e soube que Jahwéh está vivo e atuante na história humana, agindo no coração e na vida de todos os que lutam para tornar este mundo melhor. Israel descobriu – e procurou dizer-nos isso também a nós – que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que sempre que alguém luta para ser livre e feliz, Deus está com essa pessoa e age nela. Na libertação do Egito, os israelitas – e, através deles, toda a humanidade – descobriram a realidade do Deus salvador e libertador.
ATUALIZAÇÃO
·  A humanidade geme, hoje, num violento esforço de libertação política, cultural e econômica: os povos lutam para se libertarem do colonialismo, do imperialismo, das ditaduras; os pobres lutam para se libertarem da miséria, da ignorância, da doença, das estruturas injustas; os marginalizados lutam pelo direito à integração plena na sociedade; os operários lutam pela defesa dos seus direitos e do seu trabalho; as mulheres lutam pela defesa da sua dignidade; os estudantes lutam por um sistema de ensino que os prepare para desempenhar um papel válido na sociedade… Convém termos consciência que, lá onde alguém está a lutar por um mundo mais justo e mais fraterno, aí está Deus – esse Deus que vive com paixão o sofrimento dos explorados e que não fica de braços cruzados diante das injustiças.
· Deus age na nossa vida e na nossa história através de homens de boa vontade, que se deixam desafiar por Deus e que aceitam ser seus instrumentos na libertação do mundo. Diante dos sofrimentos dos irmãos e dos desafios de Deus, como respondo: com o comodismo de quem não está para se chatear com os problemas dos outros? Com o egoísmo de quem acha que não é nada consigo? Com a passividade de quem acha que já fez alguma coisa e que agora é a vez dos outros? Ou com uma atitude de profeta, que se deixa interpelar por Deus e aceita colaborar com Ele na construção de um mundo mais justo e mais fraterno?

2º leitura: 1Cor. 10,1-6.10-12 - AMBIENTE

No mundo grego, os templos eram os principais matadouros de gado. Os animais eram oferecidos aos deuses e imolados nos templos. Uma parte do animal era queimada e outra parte pertencia aos sacerdotes. No entanto, havia sempre sobras, que o pessoal do templo comercializava. Essas sobras encontravam-se à venda nas bancas dos mercados, eram compradas pela população e entravam na cadeia alimentar. No entanto, tal situação não deixava de suscitar algumas questões aos cristãos: comprar essas carnes e comê-las – como toda a gente fazia – era, de alguma forma, comprometer-se com os cultos idolátricos. Isso era lícito? É essa questão que inquieta os cristãos de Corinto.
A esta questão, Paulo responde em 1Cor. 8-10. Concretamente, a resposta aparece em vinte versículos (cf. 1Cor. 8,1-13 e 10,22-29): dado que os ídolos não são nada, comer dessa carne é indiferente. Contudo, deve-se evitar escandalizar os mais débeis: se houver esse perigo, evite-se comer dessa carne.
Paulo aproveita este ponto de partida para um desenvolvimento que vai muito além da questão inicial: comer ou não comer carne imolada aos ídolos não é importante; o importante é não voltar a cair na idolatria e nos vícios anteriores; o importante é esforçar-se seriamente por viver em comunhão com Deus.
MENSAGEM
A título de exemplo, Paulo apresenta a história do Povo de Deus do Antigo Testamento. Os israelitas foram todos conduzidos por Deus (a nuvem), passaram todos pela água libertadora do Mar Vermelho, alimentaram-se todos do mesmo maná e da mesma água do rochedo “que era Cristo” (Paulo inspira-se numa antiga tradição rabínica segundo a qual o rochedo de Nm. 20,8 seguia Israel na sua caminhada pelo deserto; e, para Paulo, este rochedo é o símbolo de Cristo, pré-existente, já presente na caminhada para a liberdade dos hebreus do Antigo Testamento); mas isso não evitou que a maior parte deles ficasse prostrada no deserto, pois o seu coração não estava verdadeiramente com Deus e cederam à tentação dos ídolos.
Assim também os coríntios, embora tenham recebido o batismo e participado da eucaristia, não têm a salvação garantida: não bastam os ritos, não basta a letra.
Apesar do cumprimento das regras, os sacramentos não são mágicos: não significam nada e não realizam nada se não houver uma adesão verdadeira à vontade de Deus.
Aos “fortes” e “auto-suficientes” de Corinto, Paulo recorda: o fundamental, na vivência da fé, não é comer ou não carne imolada aos ídolos; mas é levar uma vida coerente com as exigências de Deus e viver em verdadeira comunhão com Deus.
ATUALIZAÇÃO
· O que é essencial na nossa vivência cristã? O cumprimento de ritos externos que nos marcam como cristãos aos olhos do mundo (ou dos nossos superiores)? Ou é uma vida de comunhão com Deus, vivida com coerência e verdade, que depois se transforma em gestos de amor e de partilha com os nossos irmãos? O que é que condiciona as minhas atitudes: o “parecer bem” ou o “ser” de verdade?
· Os sacramentos não são ritos mágicos que transformam o homem em pessoa nova, quer ele queira quer não. Eles são a manifestação dessa vida de Deus que nos é gratuitamente oferecida, que nós acolhemos como um dom, que nos transforma e que nos torna “filhos de Deus”. É nessa perspectiva que encaramos os momentos sacramentais em que participamos? É isto que procuramos transmitir quando orientamos encontros de preparação para os sacramentos?
 

Evangelho: Lc. 13,1-9 - AMBIENTE

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
13 1 Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
2 Jesus toma a palavra e lhes pergunta: “Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo?
3 Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
4 Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém?
5 Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo”.
6 Disse-lhes também esta comparação: “Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o achou”.
7 Disse ao viticultor: ‘Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno?’
8 Mas o viticultor respondeu: ‘Senhor, deixa-a ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo.
9 Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás’”.
Palavra da Salvação.

 

 

O Evangelho de hoje situa-nos, já, no contexto da “viagem” de Jesus para Jerusalém (cf. Lc. 9,51 - 19,28). Mais do que um caminho geográfico, é um caminho espiritual, que Jesus percorre rodeado pelos discípulos. Durante esse percurso, Jesus prepara-os para que entendam e assumam os valores do Reino (mesmo quando as palavras de Jesus se dirigem às multidões, como é o caso do episódio de hoje, são os discípulos que rodeiam Jesus os primeiros destinatários da mensagem). Pretende-se que, terminada esta caminhada, os discípulos estejam preparados para continuar a obra de Jesus e para levar a sua proposta libertadora a toda a terra.
O texto que hoje nos é proposto apresenta um convite veemente à conversão ao Reino. Destina-se à multidão, em geral, e aos discípulos que rodeiam Jesus, em particular.
MENSAGEM
O texto apresenta duas partes distintas, embora unidas pelo tema da conversão. Na primeira parte (cf. Lc. 13,1-5), Jesus cita dois exemplos históricos que, no entanto, não conhecemos com exatidão (assassínio de alguns patriotas judeus por Pilatos e a queda de uma torre perto da piscina de Siloé). Flávio Josefo, o grande historiador judeu do séc. I, narra como Pilatos matou alguns judeus que se haviam revoltado em Jerusalém. Trata-se do exemplo citado por Jesus? Não sabemos. Também não sabemos nada sobre a queda da torre de Siloé que, segundo Jesus, matou dezoito pessoas… Apesar disso, a conclusão que Jesus tira destes dois casos é bastante clara: aqueles que morreram nestes desastres não eram piores do que os que sobreviveram. Refuta, desta forma, a doutrina judaica da retribuição segundo a qual o que era atingido por alguma desgraça era culpado por algum grave pecado. No caso presente, esta doutrina levava à seguinte conclusão: “nós somos justos, porque nos livramos da morte nas circunstâncias nomeadas”. Em contrapartida, Jesus pensa que, diante de Deus, todos os homens precisam de se converter. A última frase do vs. 5 (“se não vos arrependerdes perecereis todos do mesmo modo”) deve ser entendida como um convite à mudança de vida; se ela não ocorrer, quem vencerá é o egoísmo que conduz à morte.
Na segunda parte (cf. Lc. 13,6-9), temos a parábola da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (cf. Os. 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (cf. Jr. 8,13) (uma ideia semelhante aparece na alegoria da vinha de Is. 5,1 - 7). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até, algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta parábola uma nota de esperança:
Jesus confia em que a resposta final de Israel à sua missão seja positiva.
ATUALIZAÇÃO
· A proposta principal que Jesus apresenta neste episódio chama-se “conversão” (“metanoia”). Não se trata de penitência externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. É este caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo, a fim de renascermos, com Jesus, para a vida nova do Homem Novo. Concretamente, em que é que a minha mentalidade deve mudar? Quais são os valores a que eu dou prioridade e que me afastam de Deus e das suas propostas?
· Essa transformação da nossa existência não pode ser adiada indefinidamente. Temos à nossa disposição um tempo relativamente curto: é necessário aproveitá-lo e deixar que em nós cresça, o mais cedo possível, o Homem Novo. Está em jogo a nossa felicidade, a vida em plenitude… Porquê adiar a sua concretização?
· Uma outra proposta convida-nos a cortar definitivamente da nossa mentalidade a ligação direta entre pecado e castigo. Dizer que as coisas boas que nos acontecem são a recompensa de Deus para o nosso bom comportamento e que as coisas más são o castigo para o nosso pecado, equivale a acreditarmos num deus mercantilista e chantagista que, evidentemente, não tem nada a ver com o nosso Deus.




P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ELE NÃO QUER PUNIR-NOS, QUER FAZER-NOS VIVER!

 
 
Na mentalidade judaica, todas as doenças e enfermidades eram consequências de um pecado. O Evangelho de hoje confirma esta mentalidade… A morte dos Galileus, diz Jesus, massacrados por ordem de Pilatos, não significa que eles tenham merecido tal destino em razão dos seus pecados. Esta infelicidade tem a ver com a responsabilidade dos homens que são capazes de se matarem. A atualidade apresenta-nos todos os dias situações de vítimas inocentes de atentados e violências, por causa do ódio dos homens. Mas há outras causas dos acidentes, dos sofrimentos de todas as espécies. Não há ligação entre a morte das vítimas e a sua vida moral, diz Jesus no Evangelho. Mas Jesus aproveita para lançar um apelo à conversão. Diante de tantas situações dramáticas que atingem o ser humano, somos convidados a uma maior vigilância sobre nós mesmos. Devem ser uma ocasião para pensarmos na nossa condição humana que terminará, naturalmente, na morte. Recordar a nossa fragilidade deve levar-nos a voltar o nosso ser para Aquele que pode dar verdadeiro sentido à nossa vida. Não se trata de procurar culpabilidades, mas de abrir o nosso coração à vinda do Senhor. Não nos devemos desencorajar diante das nossas esterilidades (figueira estéril…), pois Deus é infinitamente paciente para conosco. Ele sabe da nossa fragilidade, conhece os nossos pecados, mas nunca deixa de ter confiança em nós, até ao fim do nosso caminho. Ele não quer punir-nos, quer fazer-nos viver!

À ESCUTA DA PALAVRA.
 
Desde o início da sua pregação, Jesus apela à conversão, o que faz igualmente João Baptista. É mesmo para Jesus uma questão de vida ou de morte. A conversão não é mortífera, ela é fonte de vida, pois faz o homem voltar-se para Deus, que quer que ele viva. O homem é como a figueira plantada no meio de uma vinha: pode ser que, durante anos, não dê frutos… mas Deus, como o vinhateiro, tem paciência e continua a esperar nele. Deus vai mesmo mais longe, dá ao homem os meios para se converter. Jesus não apela somente à conversão, mas propõe ao homem o caminho a empreender para amar Deus e amar os seus irmãos. A paciência de Deus não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Paciência e confiança estão ligadas: Deus crê no homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para Aquele de quem se afastou.

LITURGIA DIÁRIA - O PAI NOS RECEBE DE BRAÇOS DE ABERTOS.

Leitura (Miquéias 7,14-15.18-20)

 
Leitura da profecia de Miquéias. 7 14 Conduzi com o cajado o vosso povo, o rebanho de vossa herança que se encontra espalhado pelas brenhas, para o meio de vergéis; que ele paste como outrora em Basã e em Galaad. 15 Como nos dias em que saístes do Egito, fazei-nos ver prodígios. 18 Qual é o Deus que, como vós, apaga a iniqüidade e perdoa o pecado do resto de seu povo, que não se ira para sempre porque prefere a misericórdia? 19 Uma vez mais, tende piedade de nós! Esquecei as nossas faltas e jogai nossos pecados nas profundezas do mar! 20 Mostrai a vossa fidelidade para com Jacó, e vossa piedade para com Abraão, como jurastes a nossos pais desde os tempos antigos!
Palavra do Senhor.

Salmo responsorial 102/103

O Senhor é indulgente e favorável.

Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
não te esqueças de nenhum de seus favores!

Pois ele te perdoa toda culpa
e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva a tua vida
e te cerca de carinho e compaixão.

Não fica sempre repetindo as suas queixas
nem guarda eternamente o seu rancor.
Não nos trata como exigem nossas faltas
nem nos pune em proporção às nossas culpas.

Quanto os céus por sobre a terra se elevam,
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
quanto dista o nascente do poente,
tanto afasta para longe nossos crimes.

Evangelho (Lucas 15,1-3.11-32)

Salve, ó Cristo, imagem do Pai, a plena verdade nos comunicai!
Vou voltar e encontrar o meu pai e direi: meu pai, eu pequei contra o céu e contra ti (Lc 15,18).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. 15 1 Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. 2 Os fariseus e os escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida! 3 Então lhes propôs a seguinte parábola: 11 “Um homem tinha dois filhos. 12 O mais moço disse a seu pai: ‘Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai então repartiu entre eles os haveres. 13 Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. 14 Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. 15 Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. 16 Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17 Entrou então em si e refletiu: ‘Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância e eu, aqui, estou a morrer de fome!’ 18 Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’. 20 Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. 21 O filho lhe disse, então: ‘Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. 22 Mas o pai falou aos servos: ‘Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. 23 Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. 24 Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa’. 25 O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 26 Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. 27 Ele lhe explicou: ‘Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo’. 28 Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. 29 Ele, então, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. 30 E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!’ 31 Explicou-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado’”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Este Evangelho (Lc 15,1-3.11-32), narrado por Lucas e conhecido como “a parábola do filho pródigo”, poderia muito bem ser denominado “a parábola do Pai Misericordioso”. Nele, temos a revelação do Deus de Jesus que a todos acolhe em Seu infinito amor, respeita plenamente a liberdade de Seus filhos e está com o coração aberto para acolhê-los a qualquer momento, sem censuras, independente de suas histórias passadas.
Este é o meu Deus, com quem eu devo aprender todos os dias.  Ele se diferencia do “Deus dos escribas e fariseus”, que castiga os que dEle se afastam, impondo-lhes variados sofrimentos. E, se há arrependimento,  reata Sua aliança sob ameaças.
É por Seu amor misericordioso que o Deus de Jesus nos move à conversão e ao reencontro com a vida plena. Assim, “a parábola do Pai Misericordioso” vai mostrar como Deus Pai age diante do filho pecador.
A situação que Jesus relata é absolutamente real e facilmente encontrável em qualquer família humana.
Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo pediu sua parte na herança e foi embora. Gastou os bens, passou fome e resolveu pedir para voltar e viver apenas como empregado de seu pai. Ele sabia que havia errado muito, mas por ser um homem justo, seu pai não deixaria um empregado passar fome. Por isso,  o jovem queria voltar a viver com seu pai, nem que fosse como um empregado para não morrer de fome.
O pai, contudo, vai além, pois não só recebe o jovem como o aceita novamente e o coloca no lugar onde sempre esteve: de seu filho. O irmão mais velho – que permanecera fiel ao pai – cobra, sente inveja, sente raiva. Mas o pai o convida a participar da festa, porque seu irmão havia sido recuperado e a família estava novamente composta.
O processo de conversão começa com a tomada de consciência: o filho mais novo sente-se perdido econômica e moralmente. A acolhida do pai e as medidas tomadas mostram não só o perdão, mas também o restabelecimento da dignidade do filho.
“É necessário, filho, que te alegres: teu irmão estava morto e reviveu, perdido e foi achado” (Lc 15,24). O filho mais velho é justo e perseverante, mas é incapaz de aceitar a volta do irmão e o amor do pai que o acolheu. Recusa-se a participar da alegria.
Esta é a sua e a minha atitude quando – chamados de “corretos e justos” – não aceitamos, em nosso meio, todos os que, arrependidos, nos pedem desculpas e perdão pelas falhas cometidas.
Quantas vezes ouço dizer: “Padre, eu não consigo perdoar o que meu marido (ou minha esposa) me fez. Tenho mágoas do meu pai, da minha mãe, dos meus filhos. O que eu faço?” Aqui está a resposta à sua pergunta. Com esta parábola, Jesus nos faz um apelo supremo para que, assim como os doutores da Lei e os fariseus deveriam aceitar e partilhar da alegria de Deus pela volta dos pecadores, também nós devemos nos alegrar com o arrependimento, a conversão e o retorno à dignidade da vida dos nossos irmãos e irmãs.
A atitude do pai é incondicional: meu filho estava perdido e voltou! Com a festa, ele demonstra sua alegria – que deve ser de toda a comunidade.
Devemos acreditar na misericórdia do Pai que sempre nos recebe de braços abertos e com muita festa. Devemos, sobretudo, pedir que essa mesma misericórdia seja derramada infinitamente em nosso coração, para que possamos ver, com os olhos de Deus, os nossos irmãos que julgamos pecadores e reconhecer que todos somos merecedores do mesmo amor do Pai.
 
 
 
 
 

Padre Bantu Mendonça

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

OLHE PARA AS MONTANHAS E ELEVE SUA ALMA.

IMG_5299“Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro.” Beata Elisabeth Leseur
O que podemos aprender com as montanhas?

Primeiro, de um ponto de vista científico, devemos entender que existe diferença entre montes, montanhas, serras, cordilheiras… Cada qual com suas características; são umas das mais belas criações de Deus, e ajudam a formar o nosso mundo geográfico, geologicamente falando. As denominações mais antigas indicavam as montanhas como conjuntos de montes, que, por sua vez, seriam elevações consideráveis do terreno. No entanto, hoje não iremos nos ater em definições, mas em que nos representam visualmente.
Você já parou para admirar a beleza das montanhas? Nós que moramos no Vale do Paraíba/SP, temos o grande privilégio de estarmos cercados de montanhas, entre a serra do Mar e a serra da Mantiqueira. Ambas são maravilhosas. Mas para entender o que elas realmente querem nos dizer é preciso admirá-las com os olhos do coração, é preciso elevar a alma!
Que beleza poder olhar para essas elevações de pedra e terra, sempre tão altas, firmes, cheias de cores e de vida… Lembram-nos que é necessário “olhar para o alto”, que temos de deixar de olhar para nós mesmos para estar com Deus e ouvir Sua voz.
Em toda nossa história, os montes ou as montanhas, tiveram um papel interessante. Veja bem:
Em Gênesis, depois do grande dilúvio, em que Deus arrasou a terra, quando talvez Noé estivesse perdendo a esperança de refazer a vida… enquanto ainda estavam na arca, envoltos por água de todos os lados, qual foi o primeiro sinal de terra que viram? Os cumes das montanhas! Leia Gênesis 8,5.
Depois, foi num monte (Sinai) que Moisés recebeu de Deus os Dez mandamentos.
Foi num monte (Tabor) que Jesus se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João e lhes mostrou um raio da Sua divindade; foi num monte, às margens do mar da Galileia, que Jesus fez o grande Sermão da Montanha; era nos montes que Ele se recolhia para rezar, estar na intimidade com o Pai. Foi num monte que multiplicou os pães. Foi num monte (das Oliveiras), que Ele suou sangue na Sua agonia mortal, quando aceitou a vontade do Pai e se preparou para declarar Seu amor por mim e por você… Enfim, foi num monte, no alto do Calvário, que Jesus deu sua vida e derramou seu sangue por nós! Ali ele “matou” a nossa morte eterna com a Sua morte e abriu para a humanidade um Mar de Misericórdia. E foi do monte das Oliveiras que Ele subiu aos Céus.
Sim, Deus nos fala nas alturas; e as alturas falam de Deus. Por isso, os monges gostam de colocar seus mosteiros nas alturas, bem acima das misérias do mundo.
O salmista canta com alegria o poder de Deus revelado no rosto das montanhas:
“Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra,e os cumes das montanhas lhe pertencem” (Sl 94,4).
Olhando para essas belas montanhas da Mantiqueira, notamos um detalhe interessante. Nos seus picos foram formadas duas imagens, que o nosso povo chama de “homem deitado” e “focinho de cão”; um ao lado do outro. Parece até que Deus quis desenhar na pedra bruta do monte o rosto humano, criado à sua imagem e semelhança, para nos mostrar a sua grandeza, e o amor que tem por cada homem. Ao lado, um cão, o animal que mais lhe é fiel.
São Domingos de Gusmão quis que os seus dominicanos assim se chamassem, porque os queria como “Domini canis” (= cães do Senhor). Que seus filhos fossem fiéis a Deus como o cão é fiel a seu dono. Quem sabe olhar para a pedra fria da montanha é capaz de ver nela uma mensagem de Deus. Se até na pedra da montanha Deus pode esculpir um rosto animal e um rosto humano, é preciso deixar que Ele possa esculpir em nossa alma o Seu Rosto divino. São Paulo disse que “Deus nos predestinou para sermos conforme a imagem do Seu Filho” (Rom 8,29)
Certamente se passaram séculos para o rosto humano ser moldado na pedra da montanha rígida; da mesma forma Ele usa toda a nossa vida para que Seu Rosto seja moldado em nosso coração.







Prof. Felipe Aquino

A SUBLIME ESCALA DA ORAÇÃO.

"Depois do Batismo, é necessário ao homem a oração contínua para entrar no Céu",[1] adverte o Doutor Angélico. Aqueles que fazem uso desse poderoso tesouro se aproximam intimamente do Divino Redentor. 
Contudo, o que garante que Arauto em recolhimento na Capela de Nossa Senhora do Bom Conselho.jpgDeus ouvirá propício as suas súplicas, sendo o homem demasiadamente insuficiente? Quais as condições necessárias para tornar nossa oração infalível e até mesmo onipotente?
Assim como a santidade só é alcançada mediante a prática heroica de todas as virtudes, da mesma forma, a oração possui diversos graus até atingir o esplendor perfeitíssimo da união com Deus. Pois, "na oração as delícias das almas são como as que no céu devem ter os eleitos".[2]
Os mestres de vida espiritual dividem os graus da oração em nove.
O primeiro, por ordem ascendente, corresponde à oração vocal, a qual está ao alcance de todos. Ela se manifesta com palavras e, por isso, é a única forma de oração pública ou litúrgica. Para que seja eficaz possui duas condições: deve ser feita com atenção e profunda piedade.
É ainda de se saber que há três atenções sem as quais a oração vocal não será possível. A primeira é estar atento às palavras, para que nela não cometa erro; a segunda é prestar atenção no sentido das palavras; a terceira, que é a máxima necessária, considerar o fim da oração, isto é, a Deus e ao objeto da oração.[3]
A esse respeito escreveu Santa Teresa:
Para ser oração é necessário reflexão. Não chamo oração mexer com os lábios sem pensar no que dizemos, nem no que pedimos, nem quem somos nós, nem quem é Aquele ao qual nos dirigimos. Algumas vezes poderá acontecer isso a pessoas que se esforçam por rezar bem,mas será por motivos que se justificam, e será boa a oração. (Nao entendi) Porém, o costume de falar à Majestade de Deus como quem fala a um estranho, dizendo o que lhe vem à cabeça, sem reparar se está certo, por ter decorado ou repetido muitas vezes, - a isso não tenho em conta de oração. Não permita Deus que cristão algum reze desse modo![4]
Comete verdadeiro pecado de irreverência, aquele que realiza a oração com distrações voluntárias, além de impedir seus frutos.[5]

Sobre a segunda condição, nos ensina o Pe. Royo Marín:
Com a atenção, aplicamos nossa inteligência em Deus. Com a piedade colocamos a vontade e o coração em contato com Ele. Essa piedade profunda envolve e supõe um conjunto de virtudes cristãs de primeira categoria: a caridade, a fé viva, a confiança, a humildade, a devoção e reverência frente à Majestade divina e a perseverança.[6]

Essa oração não é uma prática facultativa, sendo de suma importância na vida espiritual exercitá-la com fervor. Estando com saúde ou agonizante, na consolação ou na aridez, mesmo nos mais altos patamares da santidade, jamais poderá o homem abandonar essa prática diária, pois do contrário poderia comprometer a sua salvação eterna.

A meditação constitui o segundo grau da oração, e é onde as almas "percebem melhor os chamamentos e convites diversos que faz o Senhor".[7] Ensina-nos a teologia que a meditação "consiste na aplicação racional da mente a uma verdade sobrenatural a fim de nos convencermos dela e nos mover a amá-la e praticá-la com a ajuda da graça".[8] Neste grau será essencialmente utilizada a razão, sem a qual a meditação não poderá efetivar-se. Por isso, proclamava o Apóstolo: "orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento; cantarei com o espírito, mas cantarei também com o entendimento" (I Cor 14, 15).

A meditação tem duas finalidades: uma intelectual e outra afetiva. A primeira é comparável a uma muralha inexpugnável que nos concede convicções firmes e enérgicas contra os inimigos da alma. Em outras palavras, é ela que, ao desaparecer a felicidade sensível e momentânea, cria raízes na alma e não deixa que, sem resistência, nos entreguemos ao menor sopro das paixões. "Não se pode construir uma casa sólida sobre a areia movediça do sentimento; é preciso um fundamento pétreo e inamovível das convicções profundamente arraigadas na inteligência".[9]
Com efeito, é preciso que a meditação esteja acompanhada de nossos afetos, que é a parte principal da meditação:

Esta começa propriamente quando a alma inflamada com a verdade sobrenatural que o entendimento convencido lhe apresenta, prorrompe em afetos e atos de amor a Deus, com quem estabelece um contato íntimo e profundo [...].[10]
Esta oração é um dom particularíssimo de Deus no qual as almas são introduzidas e inebriadas no amor divino. Ela é incompatível com o pecado, e os homens que não meditam, facilmente se deixam levar pelo ímpeto das paixões desordenadas. "Com os demais exercícios de piedade, a alma pode continuar vivendo no pecado, mas, com a oração mental bem feita, não poderá permanecer nele muito tempo: ou deixará a oração ou deixará o pecado".[11] À alma absorta e embevecida não resta ocasião para pensar em si mesma, pois só se ocupa do que diz respeito ao Amado, como afirma São Bernardo: "rara é essa hora, e o tempo que nela se gasta é sempre breve, pois, por mais dilatado que seja, parece um sopro".[12]

"O amor é fruto da oração fundada na humildade".[13] Por ser esta forma de oração tão sublime, devemos pedi-la com verdadeira submissão, restituindo a Deus todos os benefícios que por meio dela recebemos.
Esse método de oração deve ser assíduo e perseverante. A alma que procura levar uma vida rumo à perfeição, entregando-se inteiramente ao apostolado, mas desprezando a oração mental, longe está da brisa da santidade, afirmam os teólogos. Continua o Doutor Melífluo:
Eu, por minhas forças, não posso chegar a esse amor, a essa união e contemplação tão levantada; só peço que Ele ma conceda a mim. Só o Senhor por sua bondade e gratuita liberalidade nos há-de levantar a este ósculo de seus divinos lábios, asacerdote arautos rezando o terço.jpg esta altíssima oração e contemplação.[14]

A oração afetiva ocupa o terceiro grau da oração. Ela é uma espécie de meditação simplificada e orientada ao coração, na qual predominam os afetos da vontade sobre o discurso do entendimento. Ela representa um profundo descanso para a alma, uma vez que diminui o rude labor da meditação discursiva. Em relação a esse pormenor, incomparáveis são as vantagens espirituais concedidas neste terceiro grau: uma união mais íntima e profunda com Deus, pela qual nos aproximamos cada vez mais do objeto amado; um desenvolvimento especial das virtudes infusas em conexão com a caridade, além de consolos e suavidades sensíveis que servem de estímulo e alento para a prática das virtudes cristãs.

Esses preciosos auxílios, entretanto, poderão ver-se comprometidos, caso não se faça bom uso deles. O verdadeiro fervor reside na vontade, não na sensibilidade. Desta forma, a alma poderá usar das consolações, mas não viver somente delas. Do contrário, passará a ter uma gula espiritual, como explica São João da Cruz, que impulsiona a buscar na oração afetiva a suavidade dos consolos sensíveis ao invés do estímulo para a prática austera das virtudes.[15] Os frutos da oração afetiva não são medidos pela quantidade de consolações sensíveis, mas pelas manifestações cada vez mais intensas das virtudes. "Ó Jesus, haverá quem não queira tão grande bem, especialmente se já passou pelo mais trabalhoso? Não, nenhum de nós!".[16]
Simples visão, olhar amoroso a Deus ou às coisas divinas que acende na alma o fogo do amor: eis o quarto grau da oração, conhecido como oração de simplicidade. Os três primeiros graus pertencem à ascética na qual se sobressai o esforço. Já o quarto representa a transição progressiva e gradual da ascética à mística, que é ação direta da graça. Nesse estágio a alma é levada por um ardente desejo de glorificar a Deus e de buscá-Lo em pequenos afazeres, unindo-se a Ele com um olhar carregado de amor, como afirma Santa Teresa:

Só quero que vos compenetreis bem do seguinte: para aproveitar neste caminho e subir às moradas desejadas, o essencial não é pensar muito - é amar muito. Escolhei de preferência o que mais vos conduzir ao amor. Talvez nem saibamos o que é amar, o que me espanta. Não consiste o amor em ser favorecido de consolações. Consiste, sim, numa total determinação e desejo de contentar a Deus em tudo, em procurar, o quanto pudermos, não ofendê-Lo e em rogar-Lhe pelo aumento contínuo da honra e glória de seu Filho e pela prosperidade da Santa Igreja Católica.[17]
Nessas circunstâncias, a alma é convidada a mergulhar em seu interior, baseando-se na grande verdade de que "Deus está dentro de nós mesmos",[18] o que prepara a alma para saber escutar a voz do Altíssimo. Cada grau da oração significa um novo avanço rumo ao Reino dos Céus; na oração de simplicidade, com menos trabalho e esforço, a alma consegue resultados mais intensos.[19]

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Notas: - 
 
1] SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 39, a. 5.
[2] SANTA TERESA DE JESUS. Livro da vida. Trad. Maria José de Jesus. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 72.
[3] Ibid. II-II, q.83, a. 13.
[4] SANTA TERESA DE JESUS. Castelo interior ou Moradas. 11. ed. São Paulo: Paulus, 2003, p. 23.
[5] Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q. 83, a. 13.
[6] ROYO MARÍN, Antonio. Teología de la perfección cristiana. 5. ed. Madrid: BAC, 1968, p. 655. (Tradução da autora).
[7] SANTA TERESA DE JESUS. Castelo interior ou Moradas. Op.cit. p.42.
[8] ROYO MARÍN. La oración del cristiano. Op. cit. p. 26. (Tradução da autora).
[9] Id. Teología de la perfección cristiana. Op. cit. p. 662.(Tradução da autora).
[10] Loc. cit. (Tradução da autora).
[11] Ibid. p.663. (Tradução da autora).
[12] SÃO BERNARDO, apud RODRIGUES, Afonso. Op. cit. p. 19.
[13] SANTA TERESA DE JESUS. Livro da vida. Op. cit. p. 73.
[14] SÃO BERNARDO, apud RODRIGUES, Afonso. Op. cit. p. 23.
[15] Cf. ROYO MARÍN. Teología de la perfección cristiana. Op. cit. p. 674-677.
[16] SANTA TERESA DE JESUS. Castelo interior ou Moradas. Op. cit. p. 56.
[17] Ibid. p. 75.
[18] Ibid. p. 87.
[19] Cf. ROYO MARÍN. Teología de la perfección cristiana. Op. cit. p. 681.