domingo, 27 de agosto de 2017

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM - A ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DIVINOS

 
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A liturgia da Palavra deste Domingo nos fala da importância da honestidade e da confiança na administração das nossas responsabilidades. Deus conta conosco, mas devemos ser honestos, caso contrário, por Ele seremos reprovados (demitidos), como aconteceu com Sobna, o administrador do Palácio do Rei Ezequias (1ª leitura). Pedro, por ser como rocha, de firmeza e fé, conhecimento e sinergia com Jesus, foi escolhido para ser o grande líder da sua Igreja (Evangelho) A Sabedoria divina é a fonte que deve alimentar os fiéis portadores de responsabilidades. Sem essa comunhão, tudo se corrompe (2ª leitura).
1ª leitura: Is. 22,19-22
A comunhão com o rei na promoção do bem comum
O profeta Isaías, conhecendo as malandragens de muitos funcionários e líderes do seu tempo, sabendo que isso era profundamente prejudicial ao povo, resolve, com muita independência e liberdade, denunciar Sobna, o alto funcionário, administrador do Palácio do Rei Ezequias (século VII a.C.). Sobna tinha um alto cargo de confiança, pois era ministro do Palácio e por isso, deveria agir em profunda comunhão com o Rei que chamava-se Ezequias; um monarca honesto, muito elogiado apesar dos tempos difíceis (cf. 2 Reis 18,1-4), sensível às necessidades do povo e muito religioso (cf. Eclo. 48,16-22). Foi o Rei Ezequias que, corajosamente, empreendeu entre os judeus uma séria reforma religiosa na época do seu reinado (cf. 2 Reis 18,3-4). Ele “fez o que agrada aos olhos de Javé” e sempre conservou-se fiel (cf. 2 Reis 18,3.6). Todavia, nem todos os seus mais próximos colaboradoras pensavam como ele e, então, se corrompiam, negligenciavam suas atribuições, cuidavam de si mesmos e nem acreditavam em seus sonhos (cf. Is. 22, 15-19; Reis 18,28-31). Sobna, o infiel ministro, é destituído da sua função e demitido. Assume o seu lugar um homem chamado Eliacim que, no exercício de seu serviço deverá ser como um pai para o povo (cf. Is. 22,21); mas não será paternalista e nem populista, pois deverá gerir a responsabilidade de “abrir e fechar”, ser capaz de dizer “sim e não” conforme o justo discernimento das necessidades e em conformidade com a política do Reinado (cf. Is 22,22). É isso que lhe garante a estabilidade no cargo, contribuindo para a credibilidade e estabilidade de governo do Rei (cf. Is. 22,23).
Nossa vida
Esse texto bíblico apesar de não ter sido escrito em nossos dias, tem uma impressionante semelhança com aquilo que lemos nas crônicas da imprensa e nos telejornais todos os dias em nosso país: a corrupção... pessoas que assumem cargos de confiança traem seus líderes e o povo;  quando não, os próprios líderes que deveriam preservar a luta pela promoção da paz e da justiça para todos, “apascentam-se a si mesmos” (Ez 34,2), roubando os recursos públicos através das mais variadas estratégias. Em tempos de eleição, essa reflexão parece ser muito oportuna! Como todo servidor público, com um cargo de confiança, Sobna deveria ser um aliado do Rei na promoção da reforma empreendida. Todavia, em vez de promover o Bem Comum, cuida de si mesmo apropriando-se indevidamente de bens do Reinado: ele estava fazendo para si um túmulo num lugar privilegiado e escavando uma sepultura na rocha – objeto de luxo na época, só para os nobres e ricos! (cf. Is 22, 15-18). Esse texto nos dá profundas e precisas indicações para a vida profissional:
a) cultivar o senso de honestidade profissional: cuidado com as tentações dos desvios e negligências;
b) zelar pelo senso de comunhão com a justa “política do reinado”, falar a mesma linguagem, respeitar a confiança conferida;
c) a autoridade conferida é destinada à promoção de um serviço e este deve ser feito unicamente voltado para o bem dos outros como é o agir de um pai para com seus filhos; essa autoridade só é preservada e válida quando há o exercício equilibrado de ternura e firmeza, quando se usa a chave tanto para abrir como para fechar. O líder que sabe dizer “sim” se corrompe! Bem como é maléfica a atitude de covardia quando não se pronuncia com firmeza diante as necessidades. Quem não é capaz de “abrir e fechar”, dizer “sim e não”, não está preparado para liderar; logo vai ceder às pressões dos “amigos” que o corromperão. Por outro lado, o profissional que submete a missão que recebeu aos seus interesses pessoais é desonesto.
Salmo 138 (137)
Este salmo é uma oração de agradecimento, que assim começa: “Eu te agradeço, Javé, de todo o meu coração” (Sl 138,1). O salmista agradece a Deus, no templo, por ter experimentado o seu grande amor e sua fidelidade (cf. Sl 138,2), pois sua prece foi ouvida quando estava em grande necessidade e, agora, se sente fortalecido (cf. Sl 138,3). Deus é o senhor dos pobres e humildes, nos conserva a vida e nos livra dos perigos (cf. Sl 138,6-7). Por isso jamais devemos esquecê-lo: ele faz tudo por nós (cf. Sl 138,8).
2ª leitura: Rm 11, 33-36
ADMINISTRAR OLHANDO PARA A SABEDORIA DE DEUS
Esta segunda leitura, neste contexto de reflexão que fala de serviço e liderança, se configura como um convite para contemplarmos a sabedoria divina, em sua grandeza, profundidade, integridade e santidade (cf. Rm. 11,33). Quem se alimenta dessa fonte, vai adquirir robustez suficiente para rechaçar todo e qualquer convite à corrupção ou negligência de suas responsabilidades. O texto sagrado ressalta também o mistério das decisões divinas, ou seja, sua não conformidade com a lógica humana ou das conveniências (cf. Rm. 11,33). De fato, às vezes, por sua autoridade e sabedoria, o líder deve tomar decisões que nem sempre se harmonizam com o desejo da maioria, à lógica das circunstâncias e pressões psicológicas. Por isso, Deus a fonte da Sabedoria, deveria sempre ser acolhido como o Conselheiro das autoridades, pois tudo é para Deus, tudo é Dele e para a sua maior glória (cf. Rm 11,36). Somos seus ministros! Certamente o maior bem que deve recebemos e que devemos administrar com sabedoria e honestidade é a nossa vida.
Nossa vida
Há carência em nossa sociedade de maior aproximação entre espiritualidade e política, fé e serviço de autoridade, comunhão com princípios éticos e vida profissional. Esse é o convite prático deste texto de louvor inserido neste contexto de leituras que falam de responsabilidades, trabalho e autoridade. Sem a contemplação de Deus como o Líder Supremo, a autoridade humana (política ou religiosa) corre o sério perigo de se tornar corrupta, tirana, insensível, vaidosa, egoísta, omissa. Quem manipula “chaves” deve cotidianamente meditar sobre essa insondável sabedoria divina. Eis um grande desafio para todos nós! Com firmeza e sabedoria “abrir e fechar” honestamente.
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Evangelho: Mt. 16,13-20
 Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja; e os poderes do reino das trevas jamais poderão contra ela! (Mt 16,18)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
16 13 Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?”
14 Responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas”. 15 Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” 16 Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” 17 Jesus então lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18 E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. 20 Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.
Palavra da Salvação.
 
A fé e o serviço de liderança de Pedro
O texto do evangelho de hoje tem uma grande relação com a primeira leitura e vice-versa. Jesus promete a Pedro o serviço de liderança da Igreja nascente, a comunidade dos doze. Vejamos alguns dados a serem refletidos:
a) O contexto: antes de tudo parece-nos muito significativo o contexto no qual acontece essa promessa. Jesus e seus discípulos estão em pleno trabalho pastoral, onde percebem, de perto, o clamor das massas martirizadas pela pobreza e desorientação, fome de pão e de esperança, abatidos pela dureza e indiferença dos fariseus promotores da dominação religiosa (cf. Mt. 15,29-39; 16,1-12). Como no contexto do seu Batismo inaugurando a sua missão (cf. Mt. 3,13-17), Jesus não está em Jerusalém, o centro político-religioso e não faz caso de uma solenidade. Com isso Jesus quer dizer que essa liderança a ser constituída, deve ser diferente, não tem outra missão que aquela de promover zelosamente o Reino de Deus para os pobres, dando continuidade à sua missão (cf. Lc. 4,14-19). Essa autoridade a ser constituída, em Pedro, terá legitimidade à medida que o mesmo for um promotor da paixão pelo Reino da Justiça Divina. Para isso, deverá manter-se longe dos privilégios de um líder político dos reinos deste mundo. Essa promessa se cumpre após a Ressurreição (cf. Jo 21,15-17).
b) A profissão de fé de Pedro: no centro desse evento está a profissão de fé de Pedro. Jesus faz uma espécie de sondagem para saber o que dizem dele. Isso em nada tira ou acrescenta à consciência que ele tem de si mesmo. Ele quer favorecer uma oportunidade para que aqueles que estão ao seu redor verbalizem suas convicções a seu respeito. À diferença daquilo que diz o povo que acreditava que Jesus seria um profeta ressuscitado (Elias, Jeremias ou João Batista), Pedro faz um ato de fé tomando a palavra em nome dos colegas: “Tu é o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt. 16,16). Jesus gostou dessa atitude porque percebeu a sinceridade de Pedro que não estava “fazendo média” para captar a benevolência de Jesus. Pedro não é um “bajulador”! É um homem honesto, sincero, conhece a Jesus e sabe declarar-se rendendo-se à Verdade. Pedro tem convicção do que está afirmando sobre Jesus porque sua fé está alicerçada em seu testemunho do extraordinário agir de Jesus (milagres, fez experiência!), porque o segue, caminha com Ele. Quando Jesus lhe diz “não foi a carne ou o sangue que te revelaram isso”, está lhe dizendo, em outras palavras, “Pedro, que bom que você não é um porta-recados! Mas tem convicção própria, tem fé!”
c) A declaração de Jesus: a contra-partida de Jesus é surpreendente pois faz a promessa de entregar a Pedro uma grande responsabilidade: a liderança dessa nova comunidade. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja...”. O verbo é colocado no futuro (edificarei).  Essa declaração de Jesus foi estimulada pela profissão de fé de Pedro que revelou-lhe a consistência da sua fé: profunda e sincera, decidida e generosa (pedra). O mais nobre alicerce de qualquer agrupamento humano é o senso de fé, de confiança, de comunhão, de honestidade e de sinceridade de cada pessoa. Quando isso não existe a associação se desmancha e todos de dispersam. Com a Igreja nascente será diferente! Já ultrapassou a 2000 anos! O conteúdo da promessa tem mais dois importantes dados: “as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela”... (Mt. 16,18),  o inferno era a morada dos mortos, mas aqui representa as potências do mal, os opositores do Reino de Deus, os inimigos; eles nunca dominarão a Igreja porque esta é assistida pelo Espírito Santo que atualiza no seu seio a presença de Jesus (cf. Mt. 28,20: “eu estarei com vocês  todos os dias” – Jo 14,18: “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”)  e “tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt. 16, 19). A função de Pedro é aquela de ser ministro (1ª leitura) e por isso tem as “chaves”, símbolo de autoridade, de poder, de legitimidade para aprovar ou desaprovar, permitir ou proibir, aceitar ou rejeitar. Vale à pena ressaltar que essa autoridade Petrina, que se perpetua na figura dos papas, não é absoluta (como qualquer ministro!). Terá legitimidade à medida da comunhão com o Mestre e foi sob essa condição que Jesus outorgou esse poder a Pedro. A autoridade Petrina está submissa ao poder o Espírito Santo, fonte do Reino de Deus. Mas tudo o que decidir sabiamente (em matéria de fé e moral) terá aceitação divina.
Nossa vida
Somos convidados a fazer a nossa declaração de fé pessoal! Quem é Jesus para mim? A fé de Pedro estava embasada em sua experiência próxima a Jesus, como testemunha ocular de sua vida extraordinária. Em que se sustenta a sua nossa fé? De que maneira se dá essa relação com Jesus? Não há séria liderança se esta não for alicerçada na fé, na confiança e numa profunda comunhão com a causa de tudo. Ser líder significa ter consciência da dupla função de “abrir e fechar”, “ligar e desligar”. Isso, por vezes, poderá causará impacto negativo nos opositores. Mas se a decisão estiver em comunhão com os critérios do Reino de Deus, a perseguição será fator de bem-aventurança (Mt. 5,13).
 
 
 
Antônio de Assis Ribeiro - SDB (Pe. Bira)

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