Astrólogos, fundamentalistas e até alegados extraterrestres (!) estão dando suas incansáveis "explicações" catastrofistas para o fenômeno
Mais uma vez, blogs, sites “informativos” e redes sociais misturam elementos verdadeiros com falsos,
dados da astronomia com invenções da astrologia, informações
científicas com presságios catastróficos… E, mais uma vez, a agência
espacial dos Estados Unidos, a NASA, é citada de modo ambíguo e enganoso
para espalhar o medo e a paranoia.
Na verdade, esse roteiro é tão batido que, para refutá-lo, bastaria
copiar e colar textos já publicados em praticamente todas as ocasiões
anteriores em que o fim do mundo foi “agendado”, mas acabou faltando ao próprio evento.
“Planeta X”
No ano passado foi publicado o livro Planet X – The 2017 Arrival (Planeta X – A chegada em 2017).
Seu autor, David Meade, alega ter estudado astronomia e afirma que uma
série de astros, impulsionados por “um gêmeo binário do nosso Sol”, se
aproxima da Terra perigosamente e colidirá com ela em outubro de 2017.
Ele declara ter provas científicas e, para explicar a ausência de
detecção de tal estrela, menciona o “ângulo oblíquo” da sua aproximação e
do seu próximo impacto contra o nosso Polo Sul.
A obra foi muito criticada por leitores leigos e especialistas porque
Meade partiria de dados astronômicos verdadeiros para logo enveredar
por especulações de tipo religioso, baseando-se em visões, sonhos e
interpretações pessoais da Bíblia. O autor pretende mostrar concordância
entre a Bíblia e a ciência, mas de um modo forçado que não respeita nem
uma nem a outra.
Ainda assim, a internet está sendo mais uma vez tomada por
informações que, combinadas com as desse livro, “identificaram” um sinal
do fim do mundo no eclipse solar que ocorrerá neste dia 21 de agosto.
Previsões furadas
Não é a primeira vez que as teorias em torno ao Planeta X e o fim do
mundo caçam cliques em 2017: a mesma turma já tinha “adiantado” o fim do
mundo para o dia 16 de fevereiro deste ano. Como o prezado leitor
poderá constatar, o mundo continua se acabando, mas não do jeito predito
por essa mitologia.
É relevante observar que esse tipo de “notícia” se aproveita de dados
reais: no ano passado, a NASA descobriu um objeto de meio quilômetro de
diâmetro, denominado WF9, percorrendo o espaço em alta velocidade na
direção da Terra. Os catastrofistas, no entanto, ignoraram o restante da
informação dos astrônomos: o objeto em questão passará a cerca de 52
milhões de quilômetros do nosso planeta…
Foi o astrônomo russo Dyomin Damir Zakharovich quem relacionou a
passagem do objeto WF9 com uma catástrofe planetária. Suas palavras não
podem ser mais explícitas:
“O objeto que chamam de WF9 deixou o sistema Nibiru em outubro, quando Nibiru começou a girar em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio ao redor do sol. Desde então, a NASA soube que ele atingirá a Terra. Se isto acontecer, poderia destruir cidades ou provocar um megatsunami. Todos estamos em perigo”.
Nibiru
Parte dos “teóricos” acredita que o tal Planeta X corresponde ao planeta Nibiru.
Antes de prosseguir, é necessário esclarecer que Nibiru não existe.
A NASA desmentiu a sua suposta existência mais de uma vez, destacando
com clareza que “Nibiru e outras histórias sobre planetas rebeldes são
uma farsa na internet”. Segundo os seus “defensores”, Nibiru seria o
nono planeta do Sistema Solar, de cor azul e dez vezes maior que a Terra
– e deveria ter atingido o nosso planeta em várias datas recentes.
Os amigos de conspirações espaciais, dando uma de desentendidos ao
fato de que em nenhuma dessas datas aconteceu coisa alguma que eles
haviam “previsto”, continuam mesmo assim atribuindo a Nibiru e à sua
“influência gravitacional” diversas catástrofes naturais que nos
afetaram nas últimas duas décadas.
A NASA contesta afirmando que, se Nibiru ou o Planeta X fossem reais e
se dirigissem mesmo contra a Terra, “os astrônomos estariam
acompanhando o caso há pelo menos uma década e, a essa altura, o
fenômeno já seria visível a olho nu”.
Conspirações governamentais e extraterrestres
Fontes sensacionalistas afirmam que “os governos de todo o mundo
estão se preparando secretamente para o iminente desastre”, o que
alimenta todo tipo de teoria conspiratória sobre governos ocultos e até
sobre um “exogoverno mundial” regido por extraterrestres.
Não falta nem quem afirme ter obtido dos próprios extraterrestres a
confirmação de toda essa “realidade”, a julgar por “fake news” que são
compartilhadas indiscriminadamente em redes sociais e, cada vez mais, no
WhatsApp.
Se nos dermos ao trabalho de procurar a origem das histórias sobre
Nibiru, encontraremos, sem precisar chegar às origens babilônicas que
seus defensores lhe atribuem, a figura peculiar da norte-americana Nancy
Lieder, fundadora da comunidade Zeta Talk. Ela é uma das pessoas que
asseguram ter sido contatadas por extraterrestres: em seu caso, desde
que era criança. Nancy garante que, desde então, se comunica com os
chamados “zetas”, que teriam implantado um dispositivo em seu cérebro.
Graças a isso, ela teria ficado sabendo, já na década de 1990, que o
“Planeta X” ia se chocar contra a Terra no ano de… 2003.
A emissária dos “zetas” parece ter-se baseado no popular escritor de
histórias de suspense paranormal Zecharia Sitchin (1920-2010), conhecido
por suas teorias sobre a origem extraterrestre da humanidade. Esse
autor afirmava que a cultura suméria foi criada por alienígenas
conhecidos como anunnaki ou nefilim, que viviam no desconhecido planeta…
Nibiru!
Ciência e “pós-verdade”
Em 2012, multiplicaram-se em proporções épicas os anúncios de uma
catástrofe planetária completa que teria sido prevista pelos maias e
“agendada” para o dia 21 de dezembro, data fatídica em que simplesmente
não aconteceu nada.
Nos anos seguintes, repetiram-se presságios e novos calendários para o
fim do mundo. Sem precisarmos voltar para além de 2016, foi o caso das
previsões em torno à colisão de um asteroide contra a Terra em 16 de
maio, da inversão dos polos terrestres em 29 de julho e, já em 2017, do
malogrado fim do mundo no dia 16 de fevereiro.
Os sites catastrofistas continuam brincando com o medo dos leitores
ao atribuírem ao próximo eclipse solar mais uma gama de significados que
ele não tem. Lamentavelmente, a fronteira entre ciência e pseudociência
insiste em ficar cada vez mais borrada no mundo da assim chamada
“pós-verdade”; mas, felizmente, parece que desta vez a atenção granjeada
por tanta bobagem é bem menor do que nas vezes anteriores.
Com informações de Luis Santamaría via Aleteia Espanha
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