segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ECLIPSE DE 21 DE AGOSTO: DIZEM QUE É SINAL DO FIM DO MUNDO EM OUTUBRO

Astrólogos, fundamentalistas e até alegados extraterrestres (!) estão dando suas incansáveis "explicações" catastrofistas para o fenômeno

Mais uma vez, blogs, sites “informativos” e redes sociais misturam elementos verdadeiros com falsos, dados da astronomia com invenções da astrologia, informações científicas com presságios catastróficos… E, mais uma vez, a agência espacial dos Estados Unidos, a NASA, é citada de modo ambíguo e enganoso para espalhar o medo e a paranoia.
Na verdade, esse roteiro é tão batido que, para refutá-lo, bastaria copiar e colar textos já publicados em praticamente todas as ocasiões anteriores em que o fim do mundo foi “agendado”, mas acabou faltando ao próprio evento.

“Planeta X”

No ano passado foi publicado o livro Planet X – The 2017 Arrival (Planeta X – A chegada em 2017). Seu autor, David Meade, alega ter estudado astronomia e afirma que uma série de astros, impulsionados por “um gêmeo binário do nosso Sol”, se aproxima da Terra perigosamente e colidirá com ela em outubro de 2017. Ele declara ter provas científicas e, para explicar a ausência de detecção de tal estrela, menciona o “ângulo oblíquo” da sua aproximação e do seu próximo impacto contra o nosso Polo Sul.
A obra foi muito criticada por leitores leigos e especialistas porque Meade partiria de dados astronômicos verdadeiros para logo enveredar por especulações de tipo religioso, baseando-se em visões, sonhos e interpretações pessoais da Bíblia. O autor pretende mostrar concordância entre a Bíblia e a ciência, mas de um modo forçado que não respeita nem uma nem a outra.
Ainda assim, a internet está sendo mais uma vez tomada por informações que, combinadas com as desse livro, “identificaram” um sinal do fim do mundo no eclipse solar que ocorrerá neste dia 21 de agosto.

Previsões furadas

Não é a primeira vez que as teorias em torno ao Planeta X e o fim do mundo caçam cliques em 2017: a mesma turma já tinha “adiantado” o fim do mundo para o dia 16 de fevereiro deste ano. Como o prezado leitor poderá constatar, o mundo continua se acabando, mas não do jeito predito por essa mitologia.
É relevante observar que esse tipo de “notícia” se aproveita de dados reais: no ano passado, a NASA descobriu um objeto de meio quilômetro de diâmetro, denominado WF9, percorrendo o espaço em alta velocidade na direção da Terra. Os catastrofistas, no entanto, ignoraram o restante da informação dos astrônomos: o objeto em questão passará a cerca de 52 milhões de quilômetros do nosso planeta…
Foi o astrônomo russo Dyomin Damir Zakharovich quem relacionou a passagem do objeto WF9 com uma catástrofe planetária. Suas palavras não podem ser mais explícitas:
“O objeto que chamam de WF9 deixou o sistema Nibiru em outubro, quando Nibiru começou a girar em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio ao redor do sol. Desde então, a NASA soube que ele atingirá a Terra. Se isto acontecer, poderia destruir cidades ou provocar um megatsunami. Todos estamos em perigo”.

Nibiru

Parte dos “teóricos” acredita que o tal Planeta X corresponde ao planeta Nibiru.
Antes de prosseguir, é necessário esclarecer que Nibiru não existe. A NASA desmentiu a sua suposta existência mais de uma vez, destacando com clareza que “Nibiru e outras histórias sobre planetas rebeldes são uma farsa na internet”. Segundo os seus “defensores”, Nibiru seria o nono planeta do Sistema Solar, de cor azul e dez vezes maior que a Terra – e deveria ter atingido o nosso planeta em várias datas recentes.
Os amigos de conspirações espaciais, dando uma de desentendidos ao fato de que em nenhuma dessas datas aconteceu coisa alguma que eles haviam “previsto”, continuam mesmo assim atribuindo a Nibiru e à sua “influência gravitacional” diversas catástrofes naturais que nos afetaram nas últimas duas décadas.
A NASA contesta afirmando que, se Nibiru ou o Planeta X fossem reais e se dirigissem mesmo contra a Terra, “os astrônomos estariam acompanhando o caso há pelo menos uma década e, a essa altura, o fenômeno já seria visível a olho nu”.

Conspirações governamentais e extraterrestres

Fontes sensacionalistas afirmam que “os governos de todo o mundo estão se preparando secretamente para o iminente desastre”, o que alimenta todo tipo de teoria conspiratória sobre governos ocultos e até sobre um “exogoverno mundial” regido por extraterrestres.
Não falta nem quem afirme ter obtido dos próprios extraterrestres a confirmação de toda essa “realidade”, a julgar por “fake news” que são compartilhadas indiscriminadamente em redes sociais e, cada vez mais, no WhatsApp.
Se nos dermos ao trabalho de procurar a origem das histórias sobre Nibiru, encontraremos, sem precisar chegar às origens babilônicas que seus defensores lhe atribuem, a figura peculiar da norte-americana Nancy Lieder, fundadora da comunidade Zeta Talk. Ela é uma das pessoas que asseguram ter sido contatadas por extraterrestres: em seu caso, desde que era criança. Nancy garante que, desde então, se comunica com os chamados “zetas”, que teriam implantado um dispositivo em seu cérebro. Graças a isso, ela teria ficado sabendo, já na década de 1990, que o “Planeta X” ia se chocar contra a Terra no ano de… 2003.
A emissária dos “zetas” parece ter-se baseado no popular escritor de histórias de suspense paranormal Zecharia Sitchin (1920-2010), conhecido por suas teorias sobre a origem extraterrestre da humanidade. Esse autor afirmava que a cultura suméria foi criada por alienígenas conhecidos como anunnaki ou nefilim, que viviam no desconhecido planeta… Nibiru!

Ciência e “pós-verdade”

Em 2012, multiplicaram-se em proporções épicas os anúncios de uma catástrofe planetária completa que teria sido prevista pelos maias e “agendada” para o dia 21 de dezembro, data fatídica em que simplesmente não aconteceu nada.
Nos anos seguintes, repetiram-se presságios e novos calendários para o fim do mundo. Sem precisarmos voltar para além de 2016, foi o caso das previsões em torno à colisão de um asteroide contra a Terra em 16 de maio, da inversão dos polos terrestres em 29 de julho e, já em 2017, do malogrado fim do mundo no dia 16 de fevereiro.
Os sites catastrofistas continuam brincando com o medo dos leitores ao atribuírem ao próximo eclipse solar mais uma gama de significados que ele não tem. Lamentavelmente, a fronteira entre ciência e pseudociência insiste em ficar cada vez mais borrada no mundo da assim chamada “pós-verdade”; mas, felizmente, parece que desta vez a atenção granjeada por tanta bobagem é bem menor do que nas vezes anteriores.






Com informações de Luis Santamaría via Aleteia Espanha

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