sexta-feira, 30 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - QUE SEJAMOS REINTEGRADOS E ACOLHIDOS NA CASA DO PAI

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1a Leitura - Gênesis 17,1.9-10.15-22
Leitura do livro do Gênesis.
17 1 Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro;
9 Deus disse ainda a Abraão: “Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras. 10 Eis o pacto que faço entre mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar: Todo homem, entre vós, será circuncidado. 15 Disse Deus a Abraão: “Não chamarás mais tua mulher Sarai, e sim Sara. 16 Eu a abençoarei, e dela te darei um filho. Eu a abençoarei, e ela será a mãe de nações e dela sairão reis.” 17 Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e começou a rir, dizendo consigo mesmo: “Poderia nascer um filho a um homem de cem anos? Seria possível a Sara conceber ainda na idade de noventa anos?” 18 E disse a Deus: “Oxalá que Ismael viva diante de vossa face!” 19 Mas Deus respondeu-lhe: “Não, é Sara, tua mulher que dará à luz um filho, ao qual chamarás Isaac. Farei aliança com ele, uma aliança que será perpétua para sua posteridade depois dele. 20 Eu te ouvirei também acerca de Ismael. Eu o abençoarei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extraordinariamente sua descendência: ele será o pai de doze príncipes, e farei sair dele uma grande nação. 21 Mas minha aliança eu a farei com Isaac, que Sara te dará à luz dentro de um ano, nesta mesma época.” 22 Tendo acabado de falar com ele, retirou-se Deus de Abraão.
Palavra do Senhor.

Salmo - 127/128
Será assim abençoado todo aquele que respeita o Senhor.
Feliz és tu se temes o Senhor
e trilhas seus caminhos!
Do trabalho de tuas mãos hás de viver,
serás feliz, tudo irá bem!

A tua esposa é uma videira bem fecunda
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira
ao redor de tua mesa.

Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião
cada dia de tua vida.
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Evangelho - Mateus 8, 1-4
Aleluia, aleluia, aleluia. Cristo tomou sobre si nossas dores, carregou em seu corpo as nossas fraquezas (Mt 8,17).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
8 1 Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu.
2 Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, podes curar-me”. 3 Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê curado”. No mesmo instante, a lepra desapareceu. 4 Jesus então lhe disse: “Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Deus quer que tenhamos uma vida plena e cheia de graças, apesar do pecado que nos impede de usufruir de tudo quanto o Ele anseia nos conceder. Assim, pois, Jesus na sua palavra nos mostra que todas as coisas que nos acontecem, têm um sentido diante do plano do Pai. A despeito do nosso pecado, da nossa inclinação para a iniquidade, Deus nos atrai para si para nos purificar e nos dar novamente a vida que Ele deseja nos conceder. No entanto, Ele sabe que precisamos de humildade para caminhar e sermos como Ele, perfeitos e santos, por isso, espera pela nossa oração e pelo nosso pedido. Ele sabe que nós necessitamos reconhecer o nosso ser pecador dependente da sua misericórdia. Por isso, Jesus no Evangelho curou a homem que se humilhou e pediu: “Senhor, se queres, tu tens poder de me purificar”. A lepra é o pecado que nos faz viver à margem da vida em Deus e nos paralisa, nos deforma e nos torna sujos.  Se queres: é esta a condição! Deus sempre vai querer o melhor para nós, no entanto, o melhor será sempre a nossa libertação do pecado. O pecado é quem nos desarmoniza com Deus, conosco e com o nosso próximo. Deus nos perdoa de acordo com o nosso coração, mas precisamos dar o testemunho cumprindo com o que Jesus mandou: “ mas vai mostrar-te ao sacerdote....” Quando o nosso coração está contrito e arrependido nós sabemos que o Senhor nos perdoa, no entanto, o sacerdote é quem, em nome deste perdão que o Senhor nos concede, nos faz participar novamente do seio da Igreja como um passaporte para que sejamos reintegrados (as) e acolhidos (as) na casa do Pai. – O que você entende por: vai mostrar-te ao sacerdote? – Para você o que significa a confissão dos pecados? – Você tem humildade suficiente para se apresentar diante do padre e reconhecer a sua culpa?
 
 
 
 
 
Helena Serpa

A MÚSICA NA MISSA

Descubra o sentido da música em cada parte da Missa.

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1- Ritos iniciais
Canto de Entrada: é o “cartão de visita”. Deve ser feito um grande esforço para que ele tenha algo a ver com o tema daquela Missa. Se isso não for conseguido, deve ser um canto alegre, de louvor, que anime o povo a ir atrás de Jesus.
Santíssima Trindade: prepara o coração para o início da Missa e invoca a Trindade Santa, Um Único Deus em Três Pessoas distintas.
Ato Penitencial: deve ser um canto de arrependimento pelos pecados e pedido de piedade, de acordo com o texto do Missal Romano. O grande perigo desse canto reside em só cantarmos e não nos penitenciarmos. É necessário pedir que todo o orgulho caia por terra naquele momento e que o canto saia do mais profundo do nosso ser, purificando-nos totalmente.
Hino de Louvor (Glória): depois de sermos perdoados, devemos explodir de alegria no canto do glória. Não podemos cantá-lo no Advento e na Quaresma porque são tempos de penitência, mas no restante dos domingos do ano devemos cantar. Para estar de acordo com a liturgia esse canto precisa ser um louvor à Trindade Santa, de acordo com o texto do Missal Romano.
2- Rito da Palavra
Salmo Responsorial: não é qualquer Salmo. A oração não deve ser mudada porque ela é uma resposta à primeira leitura. Se não der para cantar o Salmo é melhor lê-lo, de acordo com o Lecionário.
Aclamação ao Evangelho: este não pode deixar de ser cantado. Devemos anunciar a Boa Nova que será proclamada e festejara. É como se Jesus entrasse em nosso coração como entrou em Jerusalém triunfante! Por isso motivemos o povo! É hora de cantar Aleluia!
3- Rito Eucarístico
Canto das Oferendas: é um momento de entrega. Devemos entregar nossos corações, vozes e instrumentos a Deus. Se possível, um canto interligado com o tema do dia.
Santo: o mais importante da Missa. É o maior louvor! Para se ter uma idéia, Hosana significa mil vezes aleluia! É o momento em que os anjos descem do céu para participar da Ceia do Senhor e preparar a Mesa Santa! Deve ser de acordo com o texto do Missal Romano.
Pós-Consagração: é um momento de sublime adoração. Não é um canto obrigatório, portanto o Padre deve ser comunicado antes do inicio da Missa e autorizar ou não a resposta ao “Eis o Mistério da Fé”.
Se possível é muito bom cantar as respostas da Oração Eucarística, principalmente em festas mais solenes.
4- Rito da Comunhão
Pai Nosso: há uma enorme diferença quando cantado por toda a comunidade. Quando assim o fazemos, nos tornamos mais unidos, nos sentimos mais filhos. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
Abraço da Paz: é o momento de distribuirmos a paz, somente ao que está ao nosso lado. Não é obrigatório.
Cordeiro: deve conter os dizeres do Cordeiro de Deus do Missal Romano. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
Canto de Comunhão: é chegado o momento de receber Jesus. A música deve continuar até o último fiel receber Jesus Eucarístico. Depois deve haver silêncio.
Pós-Comunhão: deve ser um canto suave e de reflexão, que pode ser de acordo com o Evangelho do dia. Não é obrigatório o canto e deve ser informado ao Padre se for cantado.
5- Ritos Finais
Canto Final: é para o povo sair da Igreja com a liturgia na cabeça e no coração. Não precisa ser cantado por todos os fiéis mas deve receber o mesmo tratamento do Ministério de Música.





(via Fé Explicada)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - NA ROCHA OU NA AREIA

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1a Leitura - Gênesis 16,1-12.15-16 ou 6-12.15-16
Leitura do livro do Gênesis.
16 1 Sarai, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filho; mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada Agar,
2 disse a Abrão: “Eis que o Senhor me fez estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para ver se, ao menos por ela, eu posso ter filhos.” Abrão aceitou a proposta de Sarai. 3 Sarai tomou, pois, sua escrava, Agar, a egípcia, passado dez anos que Abrão habitava a terra de Canaã, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido. 4 Este aproximou-se de Agar e ela concebeu. Agar, vendo que tinha concebido, começou a desprezar a sua senhora. 5 Então Sarai disse a Abrão: “Caia sobre ti o ultraje que me é feito! Dei-te minha escrava, e ela, desde que concebeu, olha-me com desprezo. O Senhor seja juiz entre mim e ti!” 6 Abrão respondeu-lhe: “Tua escrava está em teu poder, faze dela o que quiseres.” E Sarai maltratou-a de tal forma que ela teve de fugir. 7 O anjo do Senhor, encontrando-a no deserto junto de uma fonte que está no caminho de Sur, 8 disse-lhe: “Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais?” “Eu fujo de Sarai, minha senhora”, respondeu ela. 9 “Volta para a tua senhora, tornou o anjo do Senhor, e humilha-te diante dela.” 10 E ajuntou: “Multiplicarei tua posteridade de tal forma, e será tão numerosa, que não se poderá contar.” 11 Disse ainda mais: “Estás grávida, e vais dar à luz um filho: dar-te-ás o nome de Ismael, porque o Senhor te ouviu na tua aflição. 12 Este menino será como um jumento bravo: sua mão se levantará contra todos e a mão de todos contra ele, e levantará sua tenda defronte de todos os seus irmãos.” 15 Agar deu à luz um filho a Abrão, o qual lhe pôs o nome de Ismael. 16 Abrão tinha a idade de oitenta e seis anos quando Agar lhe deu à luz Ismael.
Palavra do Senhor.


Salmo - 105/106
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom.
Daí graças ao Senhor, porque ele é bom,
porque eterna é a sua misericórdia!
Quem contará os grandes feitos do Senhor?
Quem cantará todo o louvor que ele merece?

Felizes os que guardam seus preceitos
e praticam a justiça em todo o tempo!
Lembrai-vos, ó Senhor, de mim lembrai-vos,
pelo amor que demonstrais ao vosso povo!

Visitai-me com a vossa salvação,
para que eu veja o bem-estar do vosso povo,
e exulte na alegria dos eleitos,
e me glorie com os que são vossa herança.
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Evangelho - Mateus 7, 21-29
Aleluia, aleluia, aleluia.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, 7 21 disse Jesus: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
22 Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?’ 23 E, no entanto, eu lhes direi: ‘Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!’ 24 Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. 25 Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. 26 Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. 27 Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína”. 28 Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina. 29 Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

O Evangelho de hoje nos leva a refletir sobre o nosso papel de cristãos comprometidos com a Palavra de Deus. Sabemos que a vontade do Pai para nós se revela por meio da Sua Palavra, no entanto, somente, a vivência concreta dos conselhos evangélicos far-nos-á cidadãos, (ãs) do reino dos céus. Dessa maneira, precisamos estar conscientes de que para entrar no reino dos céus não nos basta “orar” com palavras bonitas ou suplicar e louvar, mas viver segundo a vontade do Pai, assim diz Jesus.    Nem sempre o que desejamos e o que estamos fazendo é da vontade do Pai.  Muitas vezes, a vontade de Deus se revela   quando contrariamos a nossa própria vontade, pois, descobrimos que a Sua Palavra nos manda agir diferentemente daquilo que desejamos. A vivência da Palavra de Deus, portanto, é quem nos leva a construir a casa sobre a rocha para que nunca desabe. A casa edificada sobre a rocha é a vida do homem que caminha à luz da Palavra de Deus! Deus é a Rocha, é o Amor e todo aquele que se ajusta à Sua vontade, terá uma vida firme e confiante e as tempestades, os terremotos e os ventos não o abalarão. A Rocha é a Palavra de Jesus Cristo. A areia é a ilusão dos ensinamentos do mundo. Se não permanecermos firmes na vivência da Palavra de Jesus, se não concretizarmos com as nossas ações o que proferimos com os nossos lábios estaremos construindo a nossa história sobre falsos fundamentos e na hora da tempestade a nossa vida ruirá e vivenciaremos o fracasso. O alicerce é interior, está, pois, sedimentado dentro do nosso coração, por isso, ficaremos mais fortes interiormente quando quebrarmos as nossas estruturas próprias para seguir o projeto de Deus. Através da oração, o Senhor vai nos plasmando e nos transformando.  As dificuldades da nossa vida são momentos preciosos para saber se estamos firmes sobre a ROCHA. -  Em que alicerce você está construindo a sua vida? - Quem lhe tem ensinado a viver? – A sua vida já tem sido provada pelas chuvas e ventos fortes? - Você sente firmeza nos pés nas horas  das dificuldades?- Você acha que a sua vida está firmada sobre a Rocha  ou você é um “homem sem juízo” ? - Em que a Palavra de Deus tem o (a) instruído?
 
 
 

 Helena Serpa

A GRANDE MISERICÓRDIA DE DEUS


"Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse, Eu não te esquecerei" (Is 49, 15).
Deus é Pai. Nessas três palavras está contida toda a grandeza da divina misericórdia. E, para ser mais preciso, devo acrescentar: Deus não é apenas um pai, mas um pai e uma mãe ao mesmo tempo.

Ninguém é pai ou mãe como Deus

O amor paterno é aquele que se aplica sobre quem não existe ainda, desejando ardentemente dar- -lhe a vida. É o amor que envolve a criança com sua força, depois de tê- -la gerado; o amor que vela a todos os instantes do dia e da noite, previne todos os perigos, apoia todos os pequenos passos desse ser frágil que tenta andar, dirige-o, suportao, faz-se pequeno com esse pequeno, à espera da hora de fazer-se heroico e de imolar-se, se for preciso; o amor que às vezes pune, muitas vezes mais perdoa, e não pune senão para fazer merecer o perdão; o amor que ama até o fim e que, menosprezado, insultado, amaldiçoado, acompanha, apesar de tudo, até o extremo e com um olhar de terno apego, o filho mau e culpado; o amor, enfim - último traço que remata a pintura - que esquece sua honra de pai ultrajado, seus direitos profanados pela mais negra ingratidão, pela mais indigna conduta, para correr, ele, o ofendido, rumo ao ofensor, se vê de longe o filho pródigo voltando para ele arrependido.

Eis o amor paterno, tal qual a natureza o dá aos verdadeiros corações de pai nesta Terra.

Mas Deus tem sua maneira de ser pai e mãe ao mesmo tempo, que excede infinitamente tudo isso. Nemo tam pater, tam mater nemo: ninguém é pai, ninguém é mãe como Ele. E Ele mesmo nos diz, por meio da mais brilhante voz dos profetas do Antigo Testamento, Isaías: "Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse, Eu não te esquecerei" (Is 49, 15).

Amor sob a lei do temor e sob a lei do amor


Nada é mais instrutivo, sob este ponto de vista, que a história do profeta Jonas. Incumbido por Deus de fazer aos ninivitas o anúncio dos castigos divinos, o profeta primeiro se esquiva de sua missão e procura fugir para o ocidente dos mares, quando deveria partir para o oriente. Conduzido à força a Nínive, pela vontade do Alto, ele começa a percorrer as ruas da grande cidade, gritando com força e convicção: "Daqui a quarenta dias Nínive será destruída" (Jn 3,4). Mas o Senhor pretendia destruir essa cidade somente se ela perseverasse em sua malícia.

Ora, os ninivitas fizeram penitência sob o cilício e a cinza. Deus então os perdoou, e isso causou ao profeta grande cólera: "Eu bem o sabia" - exclama ele - "e por isso eu queria fugir para Társis. Eu sabia bem que Vós me faríeis ameaçar em vão e que pouparíeis esse povo. Porque Vós sois um Deus clemente, misericordioso, paciente, de uma compaixão extrema. Agora, Senhor, tirai-me a vida, porque é-me penoso viver depois do que acabo de ver" (Jn 4, 1-3).
"Pensas tu que é justa tua cólera?" (Jn 4,4) - responde-lhe simplesmente o Eterno. E Ele conduz Jonas para fora da cidade, do lado do nascente. Jonas ali se instala sob um espesso feixe de hera, miraculosamente pre parada por Deus para resguardá- lo dos raios abrasadores do Sol. Mas, durante a noite o Senhor faz secar a planta protetora, de maneira que o Sol, tornando a subir ao céu de manhã, dardeja seus raios sobre a cabeça do profeta. Grande aflição deste, que de novo deseja a morte. "Ah, bem!" - diz-lhe o Senhor - "tu te afliges e te irritas pela perda de uma planta que não plantaste, nem cultivaste, e Eu faria perecer toda esta multidão de homens de Nínive dos quais sou o Criador e o pai?" (Jn 4,10).
Eis como, sob a Lei do temor, Deus entendia seu papel de pai. Mas, sob a nova Lei, seu amor de Pai, sua misericórdia, vão revestir-se de uma forma capaz de lançar nossos espíritos e nossos corações em maravilhamentos sem fim. Ele irá - mistério adorável e três vezes incompreensível - ao ponto de abafar, se podemos dizer assim, o amor sem nome que une-O no Céu a seu Verbo, a seu Filho, e entregá-Lo a nós como vítima, para que, em seu sangue, se opere nossa Redenção.

Na Nova Aliança, Deus nos enche de benefícios e graças

A Encarnação, a Redenção, esses prodígios de amor do qual - diz- nos o Apóstolo - ninguém nesta terra jamais saberá toda a altura, toda a largura, toda a profundidade, eis a verdadeira medida da misericórdia de Deus por nós! Será demais, então, repetir com o Salmista que grande é a misericórdia divina, grande a multidão de suas compaixões?

1 - Grande, ela o é no espaço. Ela se estende a todos, não exclui ninguém. "Senhor" - diz o Salmista - "Senhor, vossa bondade chega até os céus" (Sl 35,6); "acima dos céus se eleva a vossa misericórdia" (Sl 107,5). Ora, da mesma forma que a abóbada celeste nos envolve a todos, e de todas as partes, assim é a divina misericórdia.

2 - Grande, ela o é no tempo. Salvo razões muito especiais, ela deixa aos homens, aos pecadores, o tempo de reconhecer sua culpa, de se converter, de se resgatar: "Eu não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida" (Ez 33,11).

3 - Enfim, falando como o reiprofeta, grande é a misericórdia divina na multidão de suas operações, de suas comiserações. Que chuva, que dilúvio de graças naturais e sobrenaturais ela derrama cada dia sobre o menor de nós! "A filosofia observa que, em nossa existência, o primeiro momento não acarreta necessariamente o segundo, e que a mão de Deus, por uma criação contínua, precisa nos manter incessantemente sobre este abismo do nada, do qual saímos e para o qual tendemos a retornar" (Mgr. Le Camus, Théologie populaire de N.S.J.C., 2ª Confér., Dieu).

Cada novo instante acrescentado à nossa vida, cada batida de nosso coração é, portanto, um benefício da misericordiosa Providência do Criador. Apesar do repouso no qual Ele entrou no sétimo dia, depois da Criação, sua misericórdia está sem cessar em atividade em torno de nós. Quem contará essas maravilhosas atenções e operações da misericórdia em relação a nós?

Ora, esses benefícios naturais, por mais abundantes que sejam, são talvez infinitamente menos numerosos que os socorros sobrenaturais prodigalizados à nossa alma: Graças atuais de luz, de força, de resignação, de compunção, que sei eu? Quem dirá o que foi preciso de graças para povoar o Céu de todos os santos que lá reinam com Deus, dos quais um grande número é de indignos pecadores? Para um só pecador - seja ele Santo Agostinho, ou seja qualquer um de nós - quem dirá o oceano de Graças com o qual Deus o inunda para reconduzi-lo a Si?

Oh! À vista desta grande, desta grandíssima misericórdia do Senhor, não hesiteis mais, almas pecadoras, ide até Ele com confiança. Quaisquer que sejam vossos pecados, mesmo vossos crimes, por mais arraigados que sejam vossos hábitos culposos, por mais desesperadoras que sejam vossas misérias, vinde, atirai tudo isso, e atirai-vos vós mesmos, nas mãos da divina misericórdia.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - CUIDADO COM OS FALSOS PROFETAS

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1a Leitura - Gênesis 15,1-12.17-18
Leitura do livro do Gênesis.
15 1 Depois desses acontecimentos, a palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão, nestes termos: “Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande.” 2 Abrão respondeu: “Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco.” 3 E ajuntou: “Vós não me destes posteridade, e é um escravo nascido em minha casa que será o meu herdeiro.” 4 Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: “Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas.”
5 E, conduzindo-o fora, disse-lhe: “Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz. Pois bem, ajuntou ele, assim será a tua descendência.” 6 Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça. 7 E disse-lhe: “Eu sou o Senhor que te fiz sair de Ur da Caldéia para dar-te esta terra.” 8 “O Senhor Javé, como poderei saber se a hei de possuir?” 9 “Toma uma novilha de três anos, respondeu-lhe o Senhor, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho.” 10 Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra; mas não cortou as aves. 11 Vieram as aves de rapina e atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as expulsou. 12 E eis que, ao pôr-do-sol, veio um profundo sono a Abrão, ao mesmo tempo que o assaltou um grande pavor, uma espessa escuridão. 17 Quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas. 18 Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão: “Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates:
Palavra do Senhor.

Salmo - 104/105
O Senhor se lembra sempre da aliança.

Dai graças ao Senhor, gritai seu nome,
anunciai entre as nações seus grandes feitos!
Cantai, entoai salmos para ele,
publicai todas as suas maravilhas!

Gloriai-vos em seu nome que é santo,
exulte o coração que busca a Deus!
Procurai o Senhor Deus e seu poder,
buscai constantemente a sua face!

Descendentes de Abraão, seu servidor,
e filhos de Jacó, seu escolhido,
ele mesmo, o Senhor, é nosso Deus,
vigoram suas leis em toda a terra.
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Evangelho - Mateus 7,15-20
Aleluia, aleluia, aleluia. Ficai em mim e eu em vós ficarei, diz Jesus; quem em mim permanece há de dar muito fruto (Jo 15,4s).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
7 15 Disse Jesus: “Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? 17 Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. 20 Pelos seus frutos os conhecereis”.
Palavra da Salvação.


 Reflexão

Jesus não impôs a seleção dos seus seguidores. O convite é para todos. Por isso, a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, compõe-se de «bons e de maus». Naturalmente, não tardaram a surgir dificuldades na comunidade, e impôs-se o discernimento ou distinção dos espíritos.
Na Igreja, povo de Deus, surgiram profetas que gozaram de grande estima, mas também falsos profetas. Havia que saber distingui-los. O critério para essa distinção era o fruto que produziam. A imagem da árvore encontra-se noutros textos bíblicos, por exemplo, em Is 61, 3, Jr 2, 21, Mt 15, 3, Jo 15, 1-8. A árvore boa dá bons frutos; a árvore má dá maus frutos.
A página do Gênesis, que escutamos, é profunda e suscitou cuidada reflexão de Paulo. Abraão é apresentado como exemplo de fé: «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça», escreve o Apóstolo (Gl 3, 6; Rm 4, 3). No nosso texto, em que já podemos entrever o mistério de Cristo e da vida cristã, também descobrimos a esperança de Abraão, e a sua adesão ao mistério da caridade de Deus. O Patriarca escuta a palavra do Senhor: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande» (v. 1). Com esta palavra, Deus reaviva a fé de Abraão, que tem de ultrapassar as circunstâncias imediatas, que não parecem oferecer perspectivas de futuro: «Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer, de Damasco» (v. 2). Mas o Senhor insiste: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas» (v. 4). Imediatamente Deus faz sair Abraão da sua tenda para contemplar o céu estrelado: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» (v. 5). Abraão acreditou e a sua fé tornou-o justo.
As palavras de Deus, que em sentido imediato se referem a Isaac, em última análise preanunciam Cristo, o herdeiro de Abraão por excelência, e a multidão de filhos de Abraão, que hão-de ser todos os que vierem a acreditar em Cristo. É o que diz Paulo na Carta aos Gálatas: «Os que dependem da fé é que são filhos de Abraão» (Gl 3, 7).
Abraão acreditou em Deus. Nós havemos de escutar a palavra de Cristo para acreditarmos e encontrarmos a plenitude da vida. O texto do Gênesis, que hoje escutamos, não só evoca a palavra do Senhor, mas também a sua ação, que conclui a aliança. O sacrifício misterioso, acompanhado simultaneamente por uma manifestação de terror e de esperança, é sinal profético do sacrifício de Cristo, que estabelecerá a nova e eterna Aliança. Assim Abraão é já misteriosamente introduzido no mistério de Cristo, e sê-lo-
á ainda mais profundamente no momento do sacrifício de Isaac. Abraão escuta a Deus e, pela sua obediência, vê o dia de Cristo e enche-se de alegria, como dirá Jesus no evangelho de João.
O exemplo de Abraão guia-nos na direção certa, a da fé na palavra do Senhor e no fruto do Espírito, que transforma a vida em modo consequente à fé.
A primeira e mais importante aliança, para nós, é a do Batismo, que nos torna filhos de Deus e prontos a renunciar ao demônio e às suas seduções. O bom fruto que Deus espera de nós, e que testemunhemos a boa qualidade da árvore que somos, é a fidelidade constante aos nossos compromissos batismais: «Com todos os nossos irmãos cristãos confessamos… que Cristo é o Senhor, no qual o Pai nos manifestou o seu amor e que continua presente no mundo para o salvar» (Cst 9). Esta confissão de fé em Jesus Cristo Senhor só é possível se permanecermos unidos a Ele e recebermos d´Ele a seiva divina, que é o seu Espírito.





Dehonianos


ESTÁ NO FUNDO DO POSSO? NÃO SAIA DAÍ SEM APRENDER TUDO!

Sim, o fundo do poço é uma grande oportunidade.

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Não saia daí sem aprender tudo!
O fundo do poço é, definitivamente, um lugar indesejável. Mas algumas pessoas que passaram por lá ressurgiram com tanta força que, depois que deram a volta por cima, ficou até difícil de acreditar que realmente estiveram lá.
No fundo do poço, não tem mais espaço para vaidades ou futilidades. É um lugar de aprendizado e limpeza da alma.
Quem sai do fundo do poço tendo aprendido tudo que poderia aprender sai fortalecido, limpo, disposto a não cometer os mesmos erros, a fim de mudar sua história e, o principal, em vez de ficar se lamentando, sai agradecido por toda sua evolução.
Está no fundo do poço?
Então não queira sair daí sem aprender todas as lições.







(Flávio Augusto, Geração de valor)

terça-feira, 27 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - ...PÉROLAS AOS PORCOS

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1a Leitura - Gênesis 13,2.5-18
Leitura do livro do Gênesis.
13 2 Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro.
5 Lot, que acompanhava Abrão, possuía também ovelhas, bois e tendas,6 e a região não lhes bastava para aí se estabelecerem juntos. 7 Por isso houve uma contenda entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os dos rebanhos de Lot. Os cananeus e os ferezeus habitavam então naquela terra. 8 Abrão disse a Lot: “Rogo-te que não haja discórdia entre mim e ti, nem entre nossos pastores, pois somos irmãos. 9 Eis aí toda a terra diante de ti; separemo-nos. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para esquerda.” 10 Lot, levantando os olhos, viu que a toda a planície de Jordão era regada de água (o Senhor não tinha ainda destruído Sodoma e Gomorra) como o jardim do Senhor, como a terra do Egito ao lado de Tsoar. 11 Lot escolheu toda a planície do Jordão e foi para o oriente. Foi assim que se separam um do outro. 12 Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma.13 Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor. 14 O Senhor disse a Abrão depois que Lot o deixou: “Levanta os olhos, e do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. 15 Toda a terra que vês, eu a darei a ti e aos teus descendentes para sempre. 16 Tornarei tua posteridade tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade. 17 Levanta-te, percorre a terra em toda a sua extensão, porque eu te hei de dar.” 18 Abrão levantou as suas tendas e veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e ali edificou um altar ao Senhor.
Palavra do Senhor.


Salmo - 14/15
Senhor, quem morará em vosso monte santo?
“Senhor, quem morará em vossa casa?”
É aquele que caminha sem pecado
e pratica a justiça fielmente;
quem pensa a verdade no seu íntimo
e não solta em calúnias sua língua.

Que em nada prejudica o seu irmão
nem cobre de insultos seu vizinho;
que não dá valor algum ao homem ímpio,
mas honra os que respeitam o Senhor.

Não empresta o seu dinheiro com usura
nem se deixa subornar contra o inocente.
Jamais vacilará quem vive assim!

Resultado de imagem para Mateus 7,6.12-14
Evangelho - Mateus 7,6.12-14
Aleluia, aleluia, aleluia. Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 6 “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
12 Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas. 13 Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. 14 Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram”.
Palavra da Salvação.


 Reflexão


Mateus apresenta-nos dois provérbios de difícil compreensão, por várias razões: vêm logo depois de Jesus nos ter proibido julgar os outros e nos ter mandado aplicar a medida com moderação, compreensão e perdão; não encontramos provérbios paralelos na literatura judaica que nos ajudem a compreender estes; apenas lemos no Talmud: «não entregueis a um pagão as palavras da Lei» e «não coloqueis coisas santas em lugares impuros», mas não ajudam muito no nosso caso. Os sacrifícios oferecidos no templo eram chamados «santos»; as pérolas, sob o ponto de vista comercial, eram preciosas. As palavras «santo» e «pérolas» provavelmente indicavam o Evangelho, a Boa Nova. Os «cães» e os «porcos», por sua vez, não eram os pagãos, como alguns dizem, mas todas aqueles que, pagãos ou não, desprezavam a Boa Nova, tal como os porcos desprezam as pérolas.
O evangelista aponta, depois, a regra de ouro: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v.12). Este princípio encontra-se noutras religiões, nomeadamente no judaísmo. Mas com uma diferença: no judaísmo é formulado negativamente: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a Ti» É uma diferença importante, porque, «não fazer» é sempre algo negativo. Mas a maior diferença é que Jesus eleva essa regra a princípio universal.
Depois, Jesus cita os provérbios das duas portas e dos dois caminhos, usados entre os moralistas da época para indicar o caminho da virtude, estreito e difícil, e o do vício, espaçoso e fácil. Mas Jesus introduz uma mudança: a porta e o caminho estreitos, da renúncia, do seguimento, da cruz, levam à vida; a porta e o caminho espaçosos, da satisfação dos apetites desordenados, levam à perdição. Há que escolher.
O desapego, a que a fé leva o crente, dá-lhe uma grande liberdade de espírito. Os ricos, muitas vezes, andam preocupados em conservar e aumentar as suas riquezas. Abraão, pelo contrário, está mais preocupado em ter boas relações com os seus vizinhos, do que em ter abundância de pastos, de água e de rebanhos. Quer evitar conflitos com o seu sobrinho Lot e, com grande liberdade de espírito, antecipa a regra de ouro proclamada por Jesus: «o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles» (v. 12). Abraão diz ao sobrinho: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda» (vv. 8-9). Deixar ao outro escolher é o melhor modo de evitar conflitos. Mas não é uma decisão fácil, porque vemos melhor os nossos direitos, e os deveres dos outros, do que os seus interesses. Lot escolhe o fértil vale do Jordão, enquanto Abraão se contenta com a parte montanhosa e árida de Canaã. Podemos ver neste episódio uma aplicação ante literam do ensinamento de Jesus: «Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida» (vv. 13-14). Jesus é, como sabemos, o caminho, o caminho estreito, que passa pela Cruz, mas que chega à Vida, à vida divina que é Ele mesmo. Jesus é também a porta estreita do desapego, do abandono, da abnegação, que nos dá acesso à Felicidade, à Bem-aventurança, que, ao fim e ao cabo, é Ele mesmo, com o Pai e o Espírito Santo.
Lot escolheu o «caminho espaçoso», o caminho fácil, que, no seu termo, conduzia a Sodoma e a Gomorra, símbolos da corrupção e da perdição. Abraão optou pelo «caminho estreito», que levava a Canaã, a Terra Prometida: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre» (vv. 14-15).
Esta página leva-nos, mais uma vez, a meditar sobre a nossa situação neste mundo. Há sempre dois caminhos diante de nós: o que leva à vida e o que leva à morte. Há que optar por um deles. Em termos atuais, diríamos que temos de escolher entre o que nos agrada, o que nos satisfaz imediatamente, sem nos interessarmos pelos outros, e o que é justo e reto, o que é conforme à vontade de Deus e ao bem dos irmãos. Esta segunda opção pode parecer-nos dura e exigente no começo. Mas alarga-nos o coração e os horizontes. Leva à felicidade. Assim, vemos antecipadamente realizadas em Abraão as palavras de Jesus: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35).
A nossa vida de oblação exige a opção pelo caminho apertado e pela porta estreita, em união com Cristo, vivendo a oblação de Cristo. Mas, essa opção, antes de ser fruto do nosso esforço, da nossa generosidade e boa vontade, é fruto do amor de Deus, da graça, da oração: é dom do Coração de Cristo, é sustentada pela Espírito.







Dehonianos


VIVEMOS UM TEMPO DE SECRETA ANGÚSTIA: O AMOR É MAIS FALADO QUE VIVIDO

Este é um retrato da sociedade atual. Depende de você querer viver assim... ou não.

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O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.
O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.
Em tempos de Facebook e Twitter, não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar.
Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos; as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo.”
Zygmunt Bauman






(via Revista Pazes)

segunda-feira, 26 de junho de 2017

LITURGIA DIÁRIA - JULGAMENTO E MEDIDA

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1a Leitura - Gênesis 12,1-9
Leitura do livro do Gênesis.
12 1 O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.
2 Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. 3 Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti.” 4 Abrão partiu como o Senhor lhe tinha dito, e Lot foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos, quando partiu de Harã. 5 Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã, e partiram para a terra de Canaã. Ali chegando, 6 Abrão atravessou a terra até Siquém, até o carvalho de Moré. Os cananeus estavam então naquela terra. 7 O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: “Darei esta terra à tua posteridade.” Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido. 8 Em seguida, partindo dali, foi para a montanha que está ao oriente de Betel, onde levantou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente e Hai ao oriente. Abrão edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o seu nome. 9 Continuou depois sua viagem, de acampamento em acampamento, para Negeb.
Palavra do Senhor.


Salmo - 32/33
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
Feliz o povo cujo Deus é o Senhor
e a nação que escolheu por sua herança!
Dos altos céus o Senhor olha e observa;
ele se inclina para olhar todos os homens.

Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem
e que confiam, esperando em seu amor,
para da morte libertar as suas vidas
e alimenta-los quando é tempo de penúria.

No Senhor nós esperamos confiantes,
porque ele é nosso auxílio e proteção!
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!
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Evangelho - Mateus 7,1-5
Aleluia, aleluia, aleluia. A palavra do Senhor é viva e eficaz: ela julga os pensamentos e as intenções do coração (Hb 4,12).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
7 1 Disse Jesus: “Não julgueis, e não sereis julgados.
2 Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. 3 Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? 4 Como ousas dizer a teu irmão: ‘Deixa-me tirar a palha do teu olho’, quando tens uma trave no teu? 5 Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão”.
Palavra da Salvação.

 Reflexão

Vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgares; e sereis medidos com a mesma medida com que medirdes”!  Esta deve ser para nós uma regra de ouro! Jesus nos ensina a ter coerência nas nossas atitudes e no julgamento que fazemos em relação às ações dos outros. Muitas vezes ficamos inquietos e apreensivos tentando compreender se alcançaremos um bom lugar perto de Deus e como é que seremos julgados. No entanto, nós percebemos que não é difícil avaliar a nossa situação após a nossa morte. Trocando em miúdos podemos, então, deduzir que a regra de ouro para nós é, o “a começar em mim”. Tudo o que nós esperamos dos outros, precisamos também viver.  Quando olhamos para o outro e logo “enxergamos” as suas falhas, nós inconscientemente estamos descobrindo também as nossas limitações, por isso, o erro do outro chama tanto a nossa atenção e tem tanto peso para nós.   Precisamos, pois estar conscientes de que todos nós temos limitações, mas também temos a capacidade para grandes transformações. Desse modo, as advertências de Jesus nos servem para que olhemos menos para os defeitos dos nossos irmãos e irmãs e descubramos em nós mesmos (as) o que precisa ser transformado para o bem e a edificação do reino de Deus através das nossas atitudes. – Como você tem medido as ações do seu próximo? – Você tem meditado sobre si mesmo (a)?   – Você se acha autossuficiente e incapaz de cometer “grandes pecados”? – O que você considera um grande pecado? – Você tem o costume de fazer julgamentos mesmo que sejam somente no seu pensamento? – Como você acha que será julgado (a)? Assim como você julga?  
 
 
 
 
 
Helena Serpa


EXISTE CRISE DE IDENTIDADE? O QUE É ISSO?

O conceito de identidade da pessoa humana é elaborado a partir de contribuições genéticas, mas também econômicas, sociológicas, filosóficas, teológicas

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Para se falar da crise de identidade, é preciso primeiro entender o significado de identidade. Fala-se em identidade ontológica, psicológica, genética, sexual, relacional e social. O ser humano é um complexo extraordinário que o constitui como pessoa humana. As diversas identidades da pessoa humana (genética, ontológica, psicológica, metafísica) encontram-se na pessoa e estão inextricavelmente entrelaçadas.
A identidade da pessoa humana não é simplesmente representativa, seu conceito é elaborado a partir de contribuições genéticas, sociológicas, filosóficas e teológicas. O conceito de identidade foi empregado, pela primeira vez, por Erik Erikson (1902 – 1994), em sua obra ‘Juventude e Crise de Identidade’, publicado em 1968, sendo que o termo “identidade” se refere à totalidade da pessoa e integra os componentes biológicos, psicológicos e sociais.
A identidade, entretanto, não é estática, ela evolui de acordo com as modificações que o ser humano, desde seu nascimento e infância, passa para atingir uma identidade adulta, ou seja, um eu maduro, uma identidade integrada. A falta de integração de todas as partes desse eu (masculino/feminino, bom/mau, superego admirado/superego desprezado) consequentemente cria um falso eu.1

A identidade é individual

Sendo a identidade um conceito mutável e dinâmico, atravessa diversas fases de reestruturação em coincidência com alguns períodos da vida do indivíduo, que podem ser críticos e que exige reestruturação da identidade.2 A identidade é um dos aspectos mais importantes de um indivíduo. Cada pessoa desenvolve a sua. Possuímos características distintas, as quais nos diferenciam dos outros e estão relacionadas à nossa história de vida pessoal. Na identidade de pessoa, há aquilo que é o ser, a essência, que permanece, e a história que é dinâmica e evolui.
Desde que fomos concebidos no seio de nossa mãe, vamos tecendo nossa identidade. A identidade ontológica do ser humano não se altera, aquilo que ele é, pessoa, imagem e semelhança de Deus, com dignidade intrínseca, é estável, inalterável; o que realmente pode ocorrer é uma alteração de ordem psicológica, social e histórica.
Compreender a identidade ontológica do homem é reafirmar o caráter singular do respeito à sua identidade e dignidade como requisito para sua igual consideração como pessoa, livre de qualquer forma de manipulação. A identidade ontológica constitui um bem da pessoa, uma qualidade intrínseca de seu ser e, então, um valor moral sobre o qual funda o direito/dever de promover e defender a integridade da identidade pessoal e sua dignidade.
Entendemos que todo indivíduo é um ser único, irrepetível, com composição genética própria, distinta da dos demais indivíduos, e que a identidade genética seria então a base biológica da identidade de pessoa, porém, esta não se resume ao genético, pois tem como referencial tanto o aspecto biológico como o meio.

Formação da personalidade

Cada surgimento de uma pessoa no mundo é sempre uma nova criação. À identidade estática ou genética acrescentar-se-ão, desde o momento inicial da vida, outros elementos que vão modelar uma certa e original personalidade. A partir da concepção, estão dadas todas as possibilidades futuras que permitirão a projeção social de uma determinada personalidade social.
Tudo isso nos indica que o ser humano, em sua identidade de pessoa, é mais do que ter um genótipo humano, significa que ela tem uma identidade de pessoa ou antropológica, tem um aspecto transcendental. Por isso, é cada vez mais necessário salvaguardar a pessoa em sua totalidade, seu valor, bem como sua identidade única e irrepetível, que constitui o cerne, o núcleo do direito a ser respeitado em sua excelência.
É certo que a identidade pessoal é construída ao longo da história da pessoa com influências “externas”, como educação, família, cultura e meio ambiente; e tudo é resultado de uma ação plural coparticipada. O conceito de identidade da pessoa humana é elaborado a partir de contribuições genéticas, mas também econômicas, sociológicas, filosóficas, teológicas etc.

O homem e o Criador

Fazendo uma leitura atenta do pensamento de Lévinas e Dussel à luz da antropologia cristã, entendemos que a identidade do homem, em nível ontológico, vai se firmando na relação com o Criador e com o semelhante, é o encontro inteligente e afetivo do Criador com a criação e de toda a criação, a identidade que se firma como reflexo de sua ação no mundo e o torna responsável pelo futuro da humanidade.
A contribuição da teologia dá-se na elaboração do conceito de vida, no resgate da pessoa humana imagem e semelhança de Deus e no conceito de identidade da pessoa que não se prende apenas ao biológico, social, psicológico etc., mas que é elaborado também a partir de princípios teológicos.

E quando não tenho certeza de quem sou?

A identidade da pessoa está inserida em uma rede de relações próximas e distantes, nos sentidos vertical e horizontal e, em conjunto, todos necessitamos de proteção. No entanto, descobrir quais efeitos sobre as pessoas em particular e sobre a humanidade em geral, agora e no futuro, sobre os quais os cientistas sociais deveriam investigar exige reflexão prévia e cuidadosa análise dos resultados possíveis e seus prováveis significados para o ser humano.
Às vezes, deixamo-nos levar pelos condicionamentos sociais, até que, no final, conseguimos descobrir nossa própria identidade, uma identidade única, nossa, própria, que alimentaremos de forma positiva até o fim dos nossos dias. Mas o que acontece quando não temos muita certeza de quem somos? As dúvidas nos rodeiam, sentimo-nos inseguros e começamos a sentir que existimos sem existir. Uma série de pensamentos que dirigem a um vazio e a uma solidão aterradora.
O processo de construção de identidade é contínuo, e, ao longo do tempo, podemos nos deparar com situações conflitantes, gerando crises de identidade. Essas crises têm reflexo direto na forma como a pessoa se percebe, identifica-se ou não. O processo de crise pode desembocar em situações conflitantes da consciência de si, da perda da sua identidade, levando muitas pessoas a se colocarem em atitudes de ateísmo como desejo de emancipação e libertação.

Identidade sexual

A identidade sexual, considerada como um dos aspectos mais importantes e complexos compreendidos dentro da identidade pessoal, quando em desajuste, pode gerar crise na pessoa. De acordo com médicos e psiquiatras, sexo biológico, gênero, orientação e expressão são elementos que formam o comportamento sexual humano e estes devem estar relacionados, e o indivíduo se identifica em todos os aspectos com o seu “gênero de nascença”.
A crise de identidade pode levar esse indivíduo a não se identificar com o sexo biológico; daí, surgem os que chamam de multiplicação de gêneros, ou seja, o gênero com a qual uma pessoa se identifica ou se autodetermina, independe do sexo biológico. As distorções de pensamento contribuem para esse quadro, distorcendo o sentimento e o ponto de vista acerca de si mesmo.

O que nos leva a uma crise de identidade?

Para um dos maiores estudiosos do tema, o psicanalista Erik Erikson, crise de identidade é um tempo de exploração intensa das diferentes maneiras de olhar para si mesmo. Crises de identidade podem ser resultado de vários fatores como de ordem psicológica, espiritual, existencial, social, familiar, hormonal etc.
É possível obter mudanças significativas no quadro negativo que uma pessoa faz de si mesma por meio da terapia. Ao aprender a identificar corretamente o tipo de “pensamento desajustado”, a pessoa pode agir de forma construtiva sobre as distorções de pensamentos, que podem estar criando conflitos em determinada fase da vida.
A identidade de pessoa é a maneira de ser, como a pessoa se realiza em sociedade, com seus atributos e defeitos, com suas características e aspirações, com sua bagagem cultural e ideológica, é o direito que tem todo o sujeito de ser ele mesmo.
Podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo. A identidade é instável, contraditória, fragmentada, inconsistente, inacabada. Como afirma Stuart Hall, existe, hoje, uma crise de identidade, pois os quadros de referências tornaram-se instáveis, as identidades unificadas e estáveis então se fragmentando. Com essa análise, postula-se que não existe uma identidade, mas identidades.3

Sujeito fragmentado

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas nos últimos anos. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Essas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.4
Nesse contexto, Hall assinala que assim se instala uma crise de identidade, uma vez que o que antes estava centrado e estável, não o está mais; isso gera um sujeito fragmentado. Esse seria o sujeito pós-moderno: não possuindo uma identidade essencial ou permanente.5 A identidade torna-se uma “celebração móvel”, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. 6

Estabilidade psicológica

Queremos com isso dizer que o sujeito precisa de um conjunto de valores e princípios psicologicamente estáveis para manter-se indivíduo (indivisível ou constante) diante do mundo e dos outros (diferente); e para ver-se como indivíduo em meio às representações psicológicas e sociais que experimenta ou vivencia.
Por outro lado, interagindo com um contexto sociocultural diversificado, múltiplo e até mesmo instável, precisa desenvolver esquemas psicológicos de inserção mais ou menos bem sucedidos dentro desse contexto e sua trama, para que se veja sendo alguém e ocupando um lugar no mundo. Em suma, o sujeito precisa ter certa estabilidade psicológica para formar sua identidade e, ao mesmo tempo, conviver com o plural, o incerto e o mutável do contexto social pós-moderno.

 





Referências:
1 VERDE, J. B. e GRAZIOTTIN, A. Transexualismo: o enigma da identidade. São Paulo: Paulus, 1997, p. 20.
2 Cf. VERDE; GRAZIOTTIN, op. cit.
3 HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz T.(org) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 2ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
4 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005, p. 9.
5 Cf. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.
6 HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005. p. 12-13.
Por Padre Mário Marcelo ( Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP). Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética),  
 via Canção Nova 

domingo, 25 de junho de 2017

12º DOMINGO DO TEMPO COMUM - NÃO TENHAIS MEDO!

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As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver como discípulo, dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está sempre no horizonte do discípulo… Mas garantem também que a solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da salvação.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento – Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e fidelidade – as propostas de Deus para os homens.
No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: “não temais”. Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.

LEITURA I – Jer 20,10-13
Leitura do Livro de Jeremias
Disse Jeremias:
“Eu ouvia as invectivas da multidão: ‘Terror por toda a parte! Denunciai-o, vamos denunciá-lo!’
Todos os meus amigos esperavam que eu desse um passo em falso:
‘Talvez ele se deixe enganar e assim poderemos dominar e nos vingaremos dele’.
Mas o Senhor está comigo como herói poderoso e os meus perseguidores cairão vencidos.
Ficarão cheios de vergonha pelo seu fracasso, ignomínia eterna que não será esquecida.
Senhor do Universo, que sondais o justo e perscrutais os rins e o coração, possa eu ver o castigo que dareis a essa gente, pois a Vós confiei a minha causa.
Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, que salvou a vida do pobre das mãos dos perversos”.

AMBIENTE
Jeremias, o profeta nascido em Anatot por volta de 650 a.C., exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário da actividade do profeta é, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém).
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei – preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de Deus – leva a cabo uma impressionante reforma religiosa, destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
No entanto, em 609 a.C., Josias é morto em combate contra os egípcios. Joaquim sucede-lhe no trono. A segunda fase da actividade profética de Jeremias abrange o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.).
O reinado de Joaquim é um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Nesta fase, o profeta aparece a criticar as injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e a infidelidade religiosa (traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas: procurar a ajuda dos egípcios significava não confiar em Deus e, em contrapartida, colocar a esperança do Povo em exércitos estrangeiros). Jeremias está convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas e que está iminente uma invasão babilónica que castigará os pecados do Povo de Deus. É sobretudo isso que ele diz aos habitantes de Jerusalém… As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá, fica então Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se precisamente durante este reinado.
Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egipto. Jeremias não está de acordo que se confie em exércitos estrangeiros mais do que em Jahwéh. Mas nem o rei nem os notáveis lhe prestam qualquer atenção à opinião do profeta. Considerado um amargo “profeta da desgraça”, Jeremias apenas consegue criar o vazio à sua volta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jer 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jer 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jer 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilónia (586 a.C.).
Jeremias é o paradigma dos profetas que sofrem por causa da Palavra. De natureza sensível e cordial, homem de paz, que anseia pelo sossego da família e pelo convívio com os amigos, Jeremias não foi feito para o confronto, a agressão, a violência das palavras ou dos gestos; mas Jahwéh chamou-o para “arrancar e destruir, para exterminar e demolir” (Jer 1,10), para predizer desgraças e anunciar, com violência, destruição e morte (cf. Jer 20,8). Como consequência, foi continuamente objecto de desprezo e de irrisão e todos o maldiziam. Os familiares, os amigos, os reis, os sacerdotes, os falsos profetas, o povo inteiro, todos se afastavam, mal ele abria a boca. E esse homem bom, sensível e delicado sofria terrivelmente pelo abandono e pela solidão a que a missão profética o condenava.
Jeremias estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Jahwéh e sabia que não teria descanso se não a proclamasse com fidelidade. Mas nos momentos mais negros de solidão e de frustração, o profeta deixou, algumas vezes, que a amargura que lhe ia no coração lhe subisse à boca e se transformasse em palavras. Dirigia-se a Deus e censurava-o asperamente por causa dos problemas que a missão lhe trazia. Chegou a comparar-se a uma jovem inocente e ingénua, de quem Deus se apoderou e a quem forçou a fazer algo que o profeta não queria (cf. Jer 20,7-9).
No Livro de Jeremias aparecem, a par e passo, queixas e lamentos do profeta, condenado a essa vida de aparente fracasso. Alguns desses textos são conhecidos como “confissões de Jeremias” e são verdadeiros desabafos em que o profeta expõe a Jahwéh, com sinceridade e rebeldia, a sua desilusão, a sua amargura e a sua frustração (cf. Jer 11,18-23; 12,1-6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18). O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma dessas “confissões”.

MENSAGEM
O profeta começa por descrever o quadro que o rodeia… A multidão, farta de escutar anúncios de castigos e de terrores, resolve pôr um ponto final no derrotismo de Jeremias e prepara-se para o calar. Jeremias, o “terror por toda a parte” (é dessa forma irónica que a multidão o designa, parodiando uma expressão de que o profeta se servia para anunciar as desgraças que estavam para chegar), vai ser preso, julgado e silenciado. Todo o ambiente faz pensar na montagem de um esquema de julgamento sumário e de linchamento popular. O profeta corre, portanto, sérios riscos de vida… No entanto, aquilo que mais dói a Jeremias é que até os seus amigos mais íntimos lhe voltaram as costas e juntaram-se aos que maquinavam a sua perda. O profeta – que nunca pretendeu magoar ninguém, mas somente anunciar com fidelidade a Palavra de Deus – sente-se só, abandonado, marginalizado, perdido na mais negra solidão (vers. 10).
No entanto, o lamento de Jeremias é bruscamente cortado por um inesperado hino de louvor a Jahwéh, expressão extraordinária da confiança no Deus que não falha (vers. 11-13). É preciso dizer que estes versículos estão aqui um tanto ou quanto deslocados: provavelmente, eles foram pronunciados por Jeremias noutro contexto e aqui inseridos pelo editor final do livro (no texto original, aos vers. 7-10 seguir-se-iam os vers. 14-18). De qualquer forma, este hino reproduz a certeza de que, apesar do sofrimento e da incompreensão que tem de enfrentar, o profeta não está só: ele confia em Deus, no seu poder, na sua justiça, no seu amor; e sabe que Deus nunca abandona o pobre que n’Ele confia (aqui “pobre” não deve ser lido em sentido material, mas no sentido de desprotegido, perseguido injustamente pelos poderosos).

ATUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes questões:
• Ser profeta não é um caminho fácil: o exemplo de Jeremias é elucidativo (como também o é o testemunho de Óscar Romero, Luther King, Gandhi e tantos outros profetas do nosso tempo). O “mundo” não gosta de ver ser posta em causa a sua “paz podre”, não está disposto a aceitar que se questionem os esquemas de exploração e injustiça instituídos em favor dos poderosos, nem que se critiquem os “valores” de alguns “iluminados” fazedores da opinião pública. O “caminho do profeta” é, portanto, um caminho onde se lida permanentemente com a incompreensão, com a solidão, com o risco… É, no entanto, um caminho que Deus nos chama a percorrer, na fidelidade à sua Palavra. Temos a coragem de seguir esse caminho? As “bocas” dos outros, as críticas injustas, a solidão que dói mais do que tudo, alguma vez nos impediram de cumprir a missão que o nosso Deus nos confiou?
• No baptismo, fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou? Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e Se dirige aos homens?
• A experiência profética é um caminho de luta, de sofrimento, muitas vezes de solidão e de abandono; mas é também um caminho onde Deus está. O testemunho de Jeremias confirma que Deus nunca abandona aqueles que procuram testemunhar no mundo, com coragem e verdade, as suas propostas. Esta certeza deve trazer ânimo e dar esperança a todos aqueles que assumem, com coerência, a sua missão profética.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 68 (69)
Refrão: Pela vossa grande misericórdia, atendei-me, Senhor.
Por Vós tenho suportado afrontas, cobrindo-se meu rosto de confusão.
Tornei-me um estranho para os meus irmãos, um desconhecido para a minha família.
Devorou-me o zelo pela vossa casa e recaíram sobre mim os insultos contra Vós.
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica, no momento propício, meu Deus.
Pela vossa grande bondade, respondei-me, em prova da vossa salvação.
Tirai-me do lamaçal, para que não me afunde, livrai-me dos que me odeiam e do abismo das águas.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos, buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres e não despreza os cativos.
Louvem-n’O o céu e a terra, os mares e quanto neles se move.

LEITURA II – Rom 5,12-15
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram.
De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo.
Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei.
Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir.
Mas o dom gratuito não é como a falta.
Se pelo pecado de um só pereceram muitos, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a muitos homens.

AMBIENTE
No final da década de 50 (a carta aos Romanos apareceu por volta de 57/58), a “crise” entre os cristãos oriundos do mundo judaico e os cristãos oriundos do mundo pagão acentua-se. Os cristãos de origem judaica consideravam que, além da fé em Jesus Cristo, era necessário cumprir as obras da Lei de Moisés, a fim de ter acesso à salvação; mas os cristãos de origem pagã recusavam-se a aceitar a obrigatoriedade das práticas judaicas. Era uma questão “quente”, que ameaçava a unidade da Igreja.
Neste cenário, Paulo procura mostrar a todos os crentes a unidade da revelação e da história da salvação: judeus e não judeus são, de igual forma, chamados por Deus à salvação; o essencial não é cumprir a Lei de Moisés – que nunca assegurou a ninguém a salvação; o essencial é acolher a oferta de salvação que Deus faz a todos, por Jesus.
O texto que nos é proposto faz parte da primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36). Depois de demonstrar que todos (judeus e não judeus) vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20) e que é a justiça de Deus que a todos salva, sem distinção (cf. Rom 3,21-5,11), Paulo ensina que é através de Jesus Cristo que a vida de Deus chega aos homens e que se faz oferta de salvação para todos (cf. Rom 5,12-8,39).

MENSAGEM
Para deixar bem claro que a salvação foi oferecida por Deus aos homens através de Jesus Cristo, Paulo recorre aqui a uma figura literária que aparece, com alguma frequência, nos se
us escritos: a antítese. Em concreto, Paulo vai expor o seu raciocínio através de um jogo de oposições entre duas figuras: Adão e Jesus.
Adão é a figura de uma humanidade que prescinde de Deus e das suas propostas e que escolhe caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, desarmonia, pecado. Porque a humanidade preferiu, tantas vezes, esse caminho, o mundo entrou numa economia de pecado; e o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, em sentido global – quer dizer, não tanto como morte físico-biológica, mas sobretudo como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (que é a fonte da vida autêntica).
Cristo propôs um outro caminho. Ele viveu numa permanente escuta de Deus e das suas propostas, na obediência total aos projectos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência e faz nascer um Homem Novo, plenamente livre, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova provada de que a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade… Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena (salvação).
Não é claro que Paulo se esteja a referir aqui àquilo que a teologia posterior designou como “pecado original” (ou seja, um pecado histórico cometido pelo primeiro homem, que atinge e marca todos os homens que nascerem em qualquer tempo e lugar). O que é claro é que, para Paulo, a intervenção de Cristo na história humana se traduziu num dinamismo de esperança, de vida nova, de vida autêntica. Cristo veio propor à humanidade um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projectos; é esse caminho que conduz o homem em direcção à vida plena e definitiva, à salvação.

ATUALIZAÇÃO
• A história do nosso tempo está cheia de exemplos de homens e mulheres que entregaram a vida para realizar o projecto libertador de Deus no mundo e que foram considerados pela cultura dominante gente vencida e fracassada (embora, com alguma frequência, depois de mortos sejam “recuperados” e apresentados como heróis). Jesus Cristo mostra, contudo, que fazer da vida um dom a Deus aos homens não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho libertador, que introduz no mundo dinamismos de vida nova, de vida autêntica, de vida definitiva. Eu estou disposto a arriscar, a fazer da minha vida um dom, para que a vida plena atinja e liberte os meus irmãos?
• Alguns acontecimentos que marcam o nosso tempo confirmam que uma história construída à margem de Deus e das suas propostas é uma história marcada pelo egoísmo, pela injustiça e, portanto, é uma história de sofrimento e de morte. Quando o homem deixa de dar ouvidos a Deus, dá ouvidos ao lucro fácil, destrói a natureza, explora os outros homens, torna-se injusto e prepotente, sacrifica em proveito próprio a vida dos seus irmãos. Qual o nosso papel de crentes neste processo? O que podemos fazer para que Deus volte a estar no centro da história e as suas propostas sejam acolhidas?
• A modernidade ensinou-nos que a fonte da salvação não é Deus, mas o homem e as suas conquistas. Exaltou o individualismo e a auto-suficiência e ensinou-nos que só nos realizaremos totalmente se formos nós – orgulhosamente sós – a definir o nosso caminho e o nosso destino. No entanto, onde nos leva esta cultura que prescinde de Deus e das suas sugestões? A cultura moderna tem feito surgir um homem mais feliz, ou tem potenciado o aparecimento de homens perdidos e sem referências, que muitas vezes apostam tudo em propostas falsas de salvação e que saem dessa experiência de busca mais fragilizados, mais dependentes, mais alienados?
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ALELUIA – Jo 15,26b.27a
Aleluia. Aleluia.

O Espírito da verdade dará testemunho de Mim, diz o Senhor,
e vós também dareis testemunho de Mim.

EVANGELHO – Mt 10,26-33
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: “Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma.
Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda?
E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais: valeis muito mais do que os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens
também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus”.

AMBIENTE
Continuamos no mesmo ambiente em que o Evangelho do passado domingo nos situava. Os discípulos – que Jesus chamou e que responderam positivamente a esse chamamento, que escutaram os ensinamentos e que testemunharam os sinais de Jesus – vão ser enviados ao mundo, a fim de continuarem a obra libertadora e salvadora de Jesus. Contudo, antes de partir, recebem as instruções de Jesus: é o “discurso da missão”, que se prolonga de 9,36 a 11,1.
Mateus escreve durante a década de 80. No império romano reina Domiciano (anos 81 a 96), um imperador que não está disposto a tolerar o cristianismo. No horizonte imediato das comunidades cristãs, está uma hostilidade crescente, que rapidamente se converterá em perseguição organizada contra o cristianismo (no ano 95, por iniciativa de Domiciano, começa uma terrível perseguição contra os cristãos em todos os territórios do império romano).
A comunidade cristã a quem Mateus destina o seu Evangelho (possivelmente, a comunidade cristã de Antioquia da Síria) é uma comunidade com grande sensibilidade missionária, verdadeiramente empenhada em levar a Boa Nova de Jesus a todos os homens. No entanto, os missionários convivem, dia a dia, com as dificuldades e as perseguições e manifestam um certo desânimo e uma certa frustração. Os crentes não sabem que caminho percorrer e estão perturbados e confusos.
Neste contexto, Mateus compôs uma espécie de “manual do missionário cristão”, que é o nosso “discurso da missão”. Para mostrar que a actividade missionária é um imperativo da vida cristã, Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continua&cedilão da obra libertadora de Jesus. Define também os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do “Reino”.
MENSAGEM
O tema central da nossa leitura é sugerido pela expressão “não temais”, que se repete por três vezes ao longo do texto (cf. Mt 10,26.28.31). Trata-se de uma expressão que aparece com alguma frequência no Antigo Testamento, dirigida a Israel (cf. Is 41,10.13; 43,1.5; 44,2; Jer 30,10) ou a um profeta (cf. Jer 1,8). O contexto é sempre o da eleição: Jahwéh elege alguém (um Povo ou uma pessoa) para o seu serviço; ao eleito, confia-lhe uma missão profética no mundo; e porque sabe que o “eleito” se vai confrontar com forças adversas, que se traduzirão em sofrimento e perseguição, assegura-lhe a sua presença, a sua ajuda e protecção.
É precisamente neste contexto que o Evangelho deste domingo nos situa. Ao enviar os discípulos que elegeu, Jesus assegura-lhes a sua presença, a sua ajuda, a sua protecção, a fim de que os discípulos superem o medo e a angústia que resultam da perseguição. As palavras de Jesus correspondem à última bem-aventurança: “bem-aventurados sereis quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós” (Mt 5,12).
Este convite à superação do medo vai acompanhado por três desenvolvimentos.
No primeiro desenvolvimento (vers. 26.27), Jesus pede aos discípulos que não deixem o medo impedir a proclamação aberta da Boa Nova. A mensagem libertadora de Jesus não pode correr o risco de ficar – por causa do medo – circunscrita a um pequeno grupo, cobarde e comodamente fechado dentro de quatro paredes, sem correr riscos, nem incomodar a ordem injusta sobre a qual o mundo se constrói; mas é uma mensagem que deve ser proclamada com coragem, com convicção, com coerência, de cima dos telhados, a fim de mudar o mundo e tornar-se uma Boa Nova libertadora para todos os homens e mulheres.
No segundo desenvolvimento (vers. 28), Jesus recomenda aos discípulos que não se deixem vencer pelo medo da morte física. O que é decisivo, para o discípulo, não é que os perseguidores o possam eliminar fisicamente; mas o que é decisivo, para o discípulo, é perder a possibilidade de chegar à vida plena, à vida definitiva… Ora, o cristão sabe que a vida definitiva é um dom, que Deus oferece àqueles acolheram a sua proposta e que aceitaram pôr a própria vida ao serviço do “Reino”. Os discípulos que procuram percorrer com fidelidade o caminho de Jesus não precisam, portanto, de viver angustiados pelo medo da morte.
No terceiro desenvolvimento (vers. 29-31), Jesus convida os discípulos a descobrirem a confiança absoluta em Deus. Para ilustrar a solicitude de Deus, Mateus recorre a duas imagens: a dos pássaros de que Deus cuida (que revela a tocante ternura e preocupação de Deus por todas as criaturas, mesmo as mais insignificantes e indefesas) e a dos cabelos que Deus conta (que revela a forma particular, única, profunda, como Deus conhece o homem, com a sua especificidade, os seus problemas, as suas dificuldades). Deus é aqui apresentado como um “Pai”, cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus “filhos”, em entendê-los e em protegê-los. Ora, depois de terem descoberto este “rosto” de Deus, os discípulos têm alguma razão para ter medo? A certeza de ser filho de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do discípulo em empenhar-se – sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições – na missão. Nada – nem as dificuldades, nem as perseguições – conseguem calar esse discípulo que confia na solicitude, no cuidado e no amor de Deus Pai.
As últimas palavras (vers. 32-33) da leitura que hoje nos é proposta contêm uma séria advertência de Jesus: a atitude do discípulo diante da perseguição condicionará o seu destino último… Aqueles que se mantiveram fiéis a Deus e aos seus projectos e que testemunharam com desassombro a Palavra encontrarão vida definitiva; mas aqueles que procuraram proteger-se, comodamente instalados numa vida morna, sem riscos, sem chatices, e também sem coerência, terão recusado a vida em plenitude: esses não poderão fazer parte da comunidade de Jesus.

ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, podem considerar-se as seguintes questões:
• O projecto de Jesus, vivido com radicalidade e coerência, não é um projecto “simpático”, aclamado e aplaudido por aqueles que mandam no mundo ou que “fazem” a opinião pública; mas é um projecto radical, questionante, provocante, que exige a vitória sobre o egoísmo, o comodismo, a instalação, a opressão, a injustiça… É um projecto capaz de abalar os fundamentos dessa ordem injusta e alienante sobre a qual o mundo se constrói. Há um certo “mundo” que se sente ameaçado nos seus fundamentos e que procura, todos os dias, encontrar formas para subverter e domesticar o projecto de Jesus. A nossa época inventou formas (menos sangrentas, mas certamente mais refinadas do que as de Domiciano) de reduzir ao silêncio os discípulos: ridiculariza-os, desautoriza-os, calunia-os, corrompe-os, massacra-os com publicidade enganosa de valores efémeros… Como a comunidade de Mateus, também nós andamos assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a pena continuar a remar contra a maré… A todos nós, Jesus diz: “não temais”.
• O medo – de parecer antiquado, de ficar desenquadrado em relação aos outros, de ser ridicularizado, de ser morto – não pode impedir-nos de dar testemunho. A Palavra libertadora de Jesus não pode ser calada, escondida, escamoteada; mas tem de ser vivamente afirmada com palavras, com gestos, com atitudes provocatórias e questionantes. Viver uma fé “morninha” (instalada, cómoda, que não faz ondas, que não muda nada, que aceita passivamente valores, esquemas, dinâmicas e estruturas desumanizantes), não chega para nos integrar plenamente na comunidade de Jesus.
• De resto, o valor supremo da nossa vida não está no reconhecimento público, mas está nessa vida definitiva que nos espera no final de um caminho gasto na entrega ao Pai e no serviço aos homens; e Jesus demonstrou-nos que só esse caminho produz essa vida de felicidade sem fim que os donos do mundo não conseguem roubar.
• A Palavra de Deus que nos foi hoje proposta convida-nos também a fazer a descoberta desse Deus que tem um coração cheio de ternura, de bondade, de solicitude. Se nos entregarmos confiadamente nas mãos desse Deus, que é um pai que nos dá confiança e protecção e é uma mãe que nos dá amor e que nos pega ao colo quando temos dificuldade em caminhar, não teremos qualquer receio de enfrentar os homens.





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