terça-feira, 30 de setembro de 2014

NINGUÉM PODE SER FELIZ SE NÃO FOR AMADO.


Amar é construir alguém querido

O amor gera a vida; o egoísmo produz a morte. A psicologia mostra hoje com toda clareza que as graves perversões morais têm quase sempre como causa principal uma ‘frustração de amor’. Os jovens se encaminham para as drogas, para o sexo vazio, para o alcoolismo e para tantas violências, porque são carentes de amor, ‘desnutridos’ de amor. A pior anemia é a do amor. Leva à morte do espírito. Ninguém pode ser feliz se não for amado; se não fizer uma experiência de amor.

Se isso é importante na infância e na adolescência, também na vida conjugal isso é verdade. E esse ‘amor conjugal’ começa a ser aprendido e treinado no namoro. Na longa viagem da vida conjugal, que começa no namoro, você precisa levar a bagagem do amor. Você amará de verdade o seu namorado não só porque ele é simpático, bonito ou porque é um atleta, mas porque você quer o bem dele e quer ajudá-lo a ser ainda melhor com a sua ajuda.
Muitas vezes, você quis e procurou uma namorada perfeita, ou um rapaz ideal, mas saiba que isso não existe. A primeira exigência do amor é aceitar o outro como ele é, com todas as suas qualidades e defeitos. Só assim você poderá ajudá-lo a crescer, amando-o como ele é.

Alguém já disse que o amor é mais forte do que a morte, e capaz de remover montanhas. O amor tem uma força misteriosa; quando você ama o outro gratuitamente, sem cobrar nada em troca, você desperta-o para si mesmo, revela-o a si mesmo, dá-lhe ânimo e vida, ‘ressuscita-o’.

É com a chama de uma vela que você acende outra. É com a doação da sua vida que você faz a vida do outro reviver.
Desde o namoro você precisa saber que ‘amar não é querer alguém construído, mas construir alguém querido’. É claro que um casal se aproxima pelo coração, mas cresce pelo amor, que transcende os sentimentos e se enraíza na razão. Todo relacionamento humano só terá sentido se implicar no crescimento dos envolvidos. De modo especial no namoro e no casamento isso é fundamental.

A ordem de Deus ao casal é esta: ‘crescei’. Deus não nos dá uma ‘ajuda adequada’ para ‘curtirmos a vida’ a dois; mas para crescermos a dois. Isso vale desde o namoro. E o que faz crescer é o ‘fermento’ do amor. Ninguém melhor do que São Paulo expressou as exigências do verdadeiro amor: ‘O amor é paciente, O amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, Não se irrita, Não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, Mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa. Tudo crê, Tudo espera, Tudo suporta. O amor jamais acabará’ (1Cor 13, 4-7).
Medite um pouco em cada linha deste hino do amor, e pergunte a si mesmo se você está vivendo isso no seu namoro. Desde o namoro é preciso ter em mente que a beleza do amor está exatamente na construção da pessoa amada. É uma missão para gente madura, com grandeza de alma.
Construir uma pessoa é educá-la em todos os aspectos, e isso é uma obra do coração.
O amor tudo suporta, tudo crê, tudo espera; o amor não passa jamais.







Prof. Felipe Aquino

QUEM SOU EU?

Esta pergunta crucial só encontra uma resposta autêntica em Jesus.

 

Esta pergunta convida o ser humano a refletir sobre sua própria identidade, ou seja: qual é o sentido da sua vida e da sua existência? O que faz aqui? Para que nasceu e para que vive? São perguntas fundamentais que toda pessoa tem no mais profundo do seu ser e às quais vale a pena responder com sinceridade.

É importante destacar que hoje em dia, em nosso mundo secularizado, há muitos que se recusam a fazer tais perguntas e questionamentos.

Refletir sobre a própria identidade é responder aos interrogantes profundos que todo ser humano tem dentro de si. Desde sempre as pessoas tentaram responder a estas perguntas, mas são muitas as maneiras de responder ao sentido da vida do homem.

Na sociedade atual, são muitos os modelos de vida sem Deus; a fé é colocada à prova. As respostas falsas ou parciais deixam o homem insatisfeito e sem uma base sólida para a sua vida e suas decisões. A experiência do vazio existencial demonstra isso.

Esta pergunta crucial para o ser humano só encontra sua resposta no Senhor Jesus, caminho, verdade e vida (cf. Jo 14, 6). Nele, o mistério do homem se esclarece; Ele manifesta plenamente o homem ao próprio homem, e lhe mostra sua altíssima vocação (GS 22).

Trata-se, então, de buscar encontrar-se com o Senhor Jesus para conhecê-lo e amá-lo. Este encontro leva o ser humano ao conhecimento e encontro pessoal pleno, bem como ao reto amor de si mesmo.

É fundamental que a pessoa se relacione com Jesus como o que Ele é: uma pessoa concreta que vai ao seu encontro, que o chama, o convoca, o convida a ser seu amigo.

É que o conhecimento pessoal não pode ser reduzido a algo simplesmente psicológico. O conhecimento pessoal parte do conhecimento de Deus e implica em reconhecer o ser humano como unidade bio-psico-espiritual.

Hoje em dia, o homem vive afastado de Deus e de si mesmo; vive muitas vezes alienado e despersonalizado, fugindo de si mesmo e do Ser supremo. Não é raro que utilize máscaras, que se apegue a papéis e que o estudo ou trabalho o escravizem. Observamos, assombrados, novas adições de vários gêneros.

A pergunta “Quem sou eu?” é um convite a plenificar a existência, vivendo a liberdade, a autenticidade e o amor a Deus, a si mesmo, aos outros e ao universo inteiro.

 

 



(Artigo publicado originalmente pelo Centro de Estudios Católicos)

LITURGIA DIÁRIA - EXEMPLO DE BOM SENSO.

Primeira Leitura (Jó 3,1-3.11-17.20-23)
Leitura do Livro de Jó.
1Jó abriu a boca e amaldiçoou o seu dia,dizendo: 3“Maldito o dia em que nasci e a noite em que fui concebido. 11Por que não morri desde o ventre materno, ou não expirei ao sair das entranhas? 12Por que me acolheu um regaço e uns seios me amamentaram? 13Estaria agora deitado e poderia descansar, dormiria e teria repouso, 14com os reis e ministros do país, que construíram para si sepulcros grandiosos; 15ou com os nobres, que amontoaram ouro e prata em seus palácios. 16Ou, então, enterrado como aborto, eu agora não existiria, como crianças que nem chegaram a ver a luz.
17Ali acaba o tumulto dos ímpios, ali repousam os que esgotaram as forças. 20Por que foi dado à luz um infeliz e vida àqueles que têm a alma amargurada? 21Eles desejam a morte que não vem e a buscam mais que um tesouro; 22eles se alegrariam por um túmulo e gozariam ao receberem sepultura.
23Por que, então, foi dado à luz o homem a quem seu próprio caminho está oculto, a quem Deus cercou de todos os lados?”
Responsório(Sl 87)
Chegue a minha oração até a vossa presença.
Chegue a minha oração até a vossa presença.
A vós clamo, Senhor, sem cessar, todo o dia, e de noite se eleva até vós meu gemido. Chegue a minha oração até a vossa presença, inclinai vosso ouvido a meu triste clamor!
Saturada de males se encontra a minh’alma, minha vida chegou junto às portas da morte. Sou contado entre aqueles que descem à cova, toda gente me vê como um caso perdido!
O meu leito já tenho no reino dos mortos, como um homem caído que jaz no sepulcro, de quem mesmo o Senhor se esqueceu para sempre e excluiu por completo de sua atenção.
— Ó Senhor, me pusestes na cova mais funda, nos locais tenebrosos da sombra da morte. Sobre mim cai o peso do vosso furor, vossas ondas enormes me cobrem, me afogam.
 
Evangelho(Lc 9,51-56)

51Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, a fim de preparar hospedagem para Jesus. 53Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” 55Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado.

Reflexão
 
Jesus tinha consciência plena da Sua Missão e sabia que estava se aproximando a hora em que iria se concretizar o plano de Deus para a salvação da humanidade. Jerusalém era o lugar onde se localizava o templo e onde os profetas prediziam que o Cordeiro de Deus seria sacrificado, por isso, Jesus tomou a firme decisão de dirigir-se àquela cidade. Os discípulos, que acompanhavam Jesus, ainda não compreendiam como seria o desfecho daquela peregrinação. Eles não alcançavam que Jesus viera congregar todos os povos e promover a unidade do Amor de Deus no vínculo da paz. Diante da recusa dos samaritanos em acolherem Jesus eles quiseram mostrar força e poder valendo-se dos dons que Ele possuía. No entanto, o pensamento de Jesus era completamente diferente do que o mundo pregava e a Sua justiça era diversa do que imaginavam os Seus discípulos. Por isso, Jesus repreendeu aos discípulos que pretendiam pedir fogo do céu para destruir os samaritanos, seus inimigos, mostrando que a caridade deve prevalecer em todas as nossas ações. Mais uma vez Jesus mostrou que Deus não quer exterminar ninguém e não se compraz em liquidar com as pessoas. Mesmo tendo todo o poder Jesus sabia ter bom senso e mudou a sua rota evitando assim o confronto com os samaritanos. Que isto nos sirva de referencial para a nossa vida quando nos depararmos com as pessoas que não nos aceitam ou recusam a nossa companhia. Passar adiante evitando o confronto é o melhor que nós podemos fazer. Muitas vezes, nós fazemos justamente o contrário, queremos medir forças, dar o troco e assim só fazemos piorar a situação. – Qual a lição que você tira para a sua vida? – Você é uma pessoa vingativa que quer dar o troco seja de que jeito for? – Você aceita perder numa discussão, num jogo, numa competição? – Você, é daquelas pessoas que evitam os conflitos ou dão tudo por uma confusão? – Você gosta de se aproveitar de situações que o (a) privilegiam.




Helena Serpa


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

SÃO MIGUEL, RAFAEL E GABRIEL

 
Sabemos – por ensinamento de Santo Tomás de Aquino, o “Doutor Angélico” – que os anjos se dividem em três hierarquias, cada uma composta por nove coros. A terceira hierarquia, composta pelos serafins, querubins e tronos, é a mais “privilegiada”, os anjos que a compõem vivem ao redor do trono de Deus, contemplando sua glória e cantando seus louvores. Pela luz que é comunicada a eles, vinda do trono de Deus, são instrumentos de aperfeiçoamento das demais hierarquias.

Os anjos da segunda hierarquia povoam os espaços celestes (cf. Ef 6,12). Encontram-se entre o céu e a terra. Ajudam a melhor governar o mundo e combatem as hierarquias infernais. São, portanto, grandes defensores da humanidade. Essa hierarquia é composta pelas dominações, virtudes e potestades.

A primeira hierarquia é composta pelos principados, arcanjos e anjos, que vivem na terra, ao lado dos homens. Os arcanjos são aqueles a quem Deus confia missões extraordinárias da fé e revelações de realidades acima da compreensão humana. Nesse coro encontram-se São Miguel, cujo nome significa “Quem como Deus?” (cf. Ap 12,10), São Rafael, “Deus cura” (cf. Tb 5,4) e São Gabriel, “Força de Deus” (cf. Lc 1,26), cujas festas eram celebradas a 29 de março, a 24 de outubro e a 24 de março respectivamente. Mas o novo calendário reuniu em uma só celebração a festa destes arcanjos, no dia 29 de setembro. Esta data foi escolhida por corresponder à da consagração a igreja dedicada a São Miguel, no século V, a seis milhas da via Salária.

São Miguel
São Miguel, antigo padroeiro da sinagoga, é agora padroeiro de toda a Igreja católica. Chefe dos arcanjos, é a figura angélica mais nobre das Sagradas Escrituras.

Foi cultuado desde os primeiros séculos da história do cristianismo. É venerado por sua coragem no momento da queda dos anjos, em que Lúcifer seduziu um terço dos anjos do céu e, ao querer tomar o trono de Deus, veio Miguel, liderando os dois terços que permaneceram fiéis a Deus, e expulsou satanás e seus anjos decaídos (cf. Ap 12,7-9).

Miguel protege o povo eleito (cf. Dn 10,13), combate contra satanás (cf. Ap 12,7ss), no juízo universal intervirá em favor do povo de Deus (cf. Dn 12,1-2).

Célebre e muito antigos são os santuários a ele consagrados em Puglia (Itália, 491) e em Mont-Saint-Michel (França). Em Roma, foi-lhe dedicado o Mausoléu de Adriano, porque no século VI, enquanto Gregório Magno fazia uma procissão para esconjurar a peste, apareceu em cima do sepulcro do imperador romano Adriano o arcanjo Miguel com a espada levantada e a peste cessou, então o povo passou a chamar o referido Mausoléu de Castelo de Sant’Angelo (Santo Anjo).

Depois, São Miguel auxiliou a alguns santos em sua missão. Citamos como exemplo Santa Joana d’Arc e São Geraldo Magela. Invoquemo-lo nas tentações e dificuldades, para que nos dê coragem de vencê-las e, nos sofrimentos, para que nos conforte.

São Gabriel
Sabe-se pouco sobre este arcanjo, mas sabe-se que Gabriel é anunciador por excelência das revelações divinas. É o anjo das belas e alegres notícias, como o nascimento de João Batista, o precursor, e depois o nascimento de Jesus. Também ele explica ao profeta Daniel como se dará a plena restauração, da volta do exílio ao advento do Messias.

Ele tem um grande prestígio até mesmo entre os maometanos.

São Rafael
São Rafael é citado apenas em um livro da Bíblia. É o acompanhante do jovem Tobias, daí lhe vem a função de guia de todos os que viajam. Ele ainda sugeriu a Tobias o remédio para a cura da cegueira do pai, por isso é invocado como curador e protetor dos farmacêuticos. Também orientou a libertação do demônio que agia no matrimônio de Sara, por isso é invocado como protetor dos casais.
Maria Auristela Barbosa Alves 







Bibliografia
Festa dos Anjos. Maná, ano 9, n. 41, set/94, pp.37-39, Fortaleza: Shalom.
Menezes, Goretti Bezerra de. As criaturas invisíveis de Deus. Maná, ano 3, n. 6, set/1988, pp. 20-24, Fortaleza: Shalom.
Paiva Filho, Alberto. As criaturas invisíveis de Deus. Maná, ano 4, n. 7, mar/1989, pp. 23-228, Fortaleza: Shalom.
Sgarbossa, Mario e Giovannini, Luigi. Um santo para cada dia. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1996.

A VIVACIDADE DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY, O CURA D`ARS.

A santa intransigência de Vianney tinha um motivo igualmente santo: ele amava seus paroquianos com amor de predileção.

 

Era 1827 e as multidões que chegavam à aldeia de Ars vinham de toda parte. A fama do Padre Vianney já havia se espalhado pelos quatro cantos da França. Barões, clérigos, camponeses, curiosos; todos queriam conhecer aquela figura a qual tinham por santo. Um médico, tomado pelas intrigas dos colegas, decidira visitar o sacerdote, a fim de confirmar suas injustas suspeitas. De volta à capital, Paris, não pôde dizer aos amigos outra coisa sobre o pobre cura senão: "eu vi Deus num homem".

A santidade de João Maria Vianney causava constrangimentos. Apegado desde cedo à oração, agia em tudo conforme à vontade divina, fazendo de sua vida um perpétuo louvor a Deus. Tinha um fervor imensurável. Passava horas à frente do sacrário, gastando-se em severas penitências e na meditação dos santos mistérios: "O meu terço vale mais que mil sermões". Por isso, não poupou esforços no combate às blasfêmias e à libertinagem. Era o zelo pela casa do Pai que o consumia.

Os primeiros anos de Vianney em Ars foram de grandes desafios. A pequena aldeia estava atolada no indiferentismo. Trabalhava-se no domingo, blasfemava-se no campo, a falta de modéstia e os divertimentos profanos reinavam no coração daquela gente. A situação era desesperadora. E para uma alma apaixonada como a do Cura D'Ars, assistir àquele espetáculo de imoralidades era como ver a Cristo sendo crucificado. Com efeito, tratou logo de agir.

Sem fazer concessões, apressou-se em instruir os mais novos na catequese e nas práticas piedosas. Vianney estava convencido de que a ignorância religiosa era a causa de todos os males: "Este pecado condenará mais almas do que todos os outros juntos, porque uma pessoa ignorante quando peca não conhece nem o mal que faz, nem o bem que perde". Do alto do púlpito, atacava a todos pulmões as tabernas e o trabalho no domingo. Começava uma guerra sem tréguas, e o santo não iria recuar enquanto não visse a sua paróquia, de joelhos, diante do Senhor.

"Ah! Os taberneiros, o demônio não os importuna muito, pelo contrário, despreza-os e cospe-lhes em cima". Com essas palavras, o humilde cura fustigava a bebedeira, para desespero daqueles que se lançavam a tão vergonhoso vício. E assim também procedia com o trabalho nos dias de guarda. "Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos: 'Que acabais de fazer?' - repreendia o Cura D'Ars - "eles bem poderiam responder: 'Acabamos de vender a nossa alma ao Demônio e de crucificar a Nosso Senhor… Estamos no caminho do inferno". Pouco a pouco, as blasfêmias foram desaparecendo e as tabernas se fechando. Pesava-lhes a maldição de um homem santo. "Vós vereis, profetizava, vereis arruinados todos aqueles que aqui abrirem tabernas". Mas um derradeiro combate ainda estava por vir.

Em 1823, erguia-se na pequena paróquia de Ars uma segunda capela. Atendendo à vontade do pároco, ela seria dedicada a São João Batista, santo que tomara por patrono no dia de sua Confirmação. A cerimônia de inauguração foi de grande júbilo. Contudo, para os amantes dos prazeres profanos, motivo de despeito. Vianney mandara esculpir no arco do pequeno oratório a seguinte inscrição: "A sua cabeça foi o preço de uma dança". Uma alusão ao martírio de São João Batista e uma clara reprimenda aos bailes.

A luta de Vianney contra os serões durou cerca de dez anos. A ele se opunha grande parte da comunidade, sobretudo os rapazes apegados aos encantos da luxúria. À medida que o povo se afastava das danças, com efeito, mais raiva tinham do sacerdote os fanfarrões. Chegaram a organizar encontros a fim de puni-lo, mas o brado de Vianney foi tão forte que a eles não restou outra alternativa senão ceder. "O demônio rodeia um baile como um muro cerca um jardim… As pessoas que entram num salão de baile deixam à porta o seu Anjo da Guarda e o Demônio substitui-o, de tal modo que há tantos Demônios quantos são os dançadores." Era o fim dos bailes em Ars.  

Os hereges também não tinham vez com o santo. Certo dia, um jovem de espírito petulante resolveu atacá-lo na frente da multidão. "Quem é o senhor, meu amigo?" questionou Vianney. O rapaz disse que era protestante. Com a firmeza de um verdadeiro pastor, retorquiu-lhe o santo padre: "Oh! meu pobre amigo, o senhor é pobre e muito pobre: Os protestantes nem sequer possuem santos cujos nomes possam dar aos filhos. Veem-se obrigados a pedir nomes emprestados à Igreja Católica". Foi o suficiente para que o sujeito se colocasse no seu lugar.

A santa intransigência de Vianney tinha um motivo igualmente santo: ele amava a seus paroquianos com amor de predileção. Por isso faria tudo que estivesse a seu alcance para lhes assegurar a salvação eterna. E seus esforços foram recompensados. Após poucos anos de ministério, Ars não era mais Ars. O povo havia se convertido, já não se trabalhava mais aos domingos e a igreja permanecia sempre cheia. Vencera a santidade do pobre cura. Os paroquianos compreenderam o que há tanto lhes ensinava o São Cura D'Ars: "Tão grande é o amor de Deus, é um fogo que queima na alma sem, contudo, a consumir. Ter Jesus no coração é já possuir o céu".

 

 

 



(padrepauloricardo.org)

LITURGIA DIÁRIA - VEREIS O CÉU ABERTO...

Primeira Leitura (Dn 7,9-10.13-14)
 
Leitura da Profecia de Daniel.
9Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos. 13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.

Responsório(Sl 137)
 
Perante os vossos anjos vou cantar-vos, ó Senhor!
Perante os vossos anjos vou cantar-vos, ó Senhor!
— Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras dos meus lábios! Perante os vossos anjos vou cantar-vos e ante o vosso templo vou prostrar-me.
Eu agradeço o vosso amor, vossa verdade, porque fizestes muito mais que prometestes; naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma.
Os reis de toda a terra hão de louvar-vos, quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa. Hão de cantar vossos caminhos e dirão: “como a glória do Senhor é grandiosa!”
 
Evangelho(Jo 1,47-51)
 
Naquele tempo, 47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: “Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi”. 49Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. 50Jesus disse: “Tu crês porque te disse: “Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!” 51E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. 


 Reflexão

Hoje nós celebramos três arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. O Evangelho é próprio da festa.
A palavra anjo significa enviado, mensageiro; eles são os mensageiros de Deus para nós.
A Bíblia fala mais de trezentas vezes a respeito dos anjos. E a Igreja sempre acreditou na existência deles. A presença dos anjos em nossa vida é mais um sinal do amor infinito de Deus por nós, e da sua criatividade em promover a nossa felicidade e salvação.
Os anjos estão muito ligados à nossa tradição católica brasileira. Basta ver as nossas igrejas de estilo barroco e colonial, quantos anjos têm.
No Antigo Testamento, os anjos aparecem muitas vezes como simples manifestações de Deus. A expressão “Anjo de Javé”, que aparece muito no Antigo Testamento, designa o próprio Javé (Deus) enquanto se manifesta aos homens.
Nós não sabemos como que os anjos são realmente. Isso nos ultrapassa e não nos foi revelado, talvez porque nem precisa. Mas alguma coisa sabemos. Eles são espíritos, criados por Deus para nos ajudar: “Não são todos eles (os anjos) espíritos que estão encarregados de um ministério, enviados a serviço daqueles que deverão herdar a salvação?” (Hb 1,14).
As representações dos anjos em forma de crianças com asas são puramente imaginárias. É um modo que a tradição cristã encontrou para expressá-los.
Quanto aos três arcanjos da festa de hoje, S. Miguel (Quem é como Deus?) é o arcanjo que se insurgiu contra satanás e seus seguidores (Jd 9; Ap 12,7; Zc 13,1-2). Ele é o defensor dos amigos de Deus (Dn 10,12.21) e o protetor do seu povo (Dn 12,1).
S. Gabriel (Força de Deus) é um dos espíritos que estão diante de Deus (Lc 1,19), revela a Daniel os segredos do plano de Deus (Dn 8,16; 9,21-22), anuncia a Zacarias o nascimento de João Batista (Lc 1,11-20) e a Maria o nascimento de Jesus. S. Gabriel é o mensageiro de Deus, que dá sempre boas notícias.
S. Rafael (Deus cura) está também entre os sete anjos que estão diante do trono de Deus (Tb 12,15; Ap 8,2). Ele acompanha e protege Tobias nas peripécias de sua viagem e cura-lhe o pai cego. A missão de S. Rafael é nos proteger.
A Igreja peregrina sobre a terra associa-se às multidões dos anjos que na Jerusalém celeste contam a glória de Deus (Ap 5,11-14).
Dia 29 de setembro recorda a dedicação da basílica de S. Miguel, em Roma, inaugurada no séc. V.
No Evangelho de hoje Jesus fala: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. É uma referência ao sonho de Jacó (Cf Gn 28,12). Ele viu o céu aberto, uma escada que ligava a terra ao céu, e os anjos de Deus subindo e descendo. Embaixo estava o Filho do Homem, isto é, Jesus, colocando a escada. Na verdade, a escada é o próprio Jesus, que recuperou a ligação entre a terra e o céu, ligação que fora rompida pelo pecado original. A escada simboliza também todas as manifestações de Deus aos homens: a natureza, os acontecimentos da história, os profetas, a Bíblia... e também os anjos. Por essa escada “é chuva que à terra desce, é prece que sobe ao céu”.
Certa vez, em um orfanato ouvia-se um murmúrio excitado, porque uma senhora estava para chegar e levar a pequena Ana Paula com ela para a sua casa. A menina ainda estava confusa em seus pensamentos.
“Você quer ir comigo para casa e ser minha filha?” perguntou a senhora falando delicadamente. “Eu não sei”, respondeu Ana Paula timidamente. “Mas eu vou dar a você roupas bonitas e muitas outras coisas. Você terá um quarto só seu e uma mesa com cadeira”.
Depois de um pequeno momento em silêncio, a menina falou com ansiedade: “Mas o que terei de fazer para ganhar tudo isso?” Com lágrimas correndo pelo rosto, a senhora lhe disse: “Apenas amar-me e ser minha filha”. Disse isso enquanto abraçava a menina junto a seu peito.
Deus nos adotou como filhos e filhas e nos dá tanta coisa, inclusive os anjos como protetores. E tudo o que ele pede de nós é que o amemos e lhe obedeçamos.
S. Gabriel trouxe para nós a maior alegria do mundo, transmitindo a Maria Santíssima a grande notícia vinda de Deus, de que ela foi escolhida para ser a Mãe do Messias. Na primeira parte da Ave Maria, nós repetimos, agradecidos, aquelas palavras do arcanjo S. Gabriel.      






Pe Queiroz

domingo, 28 de setembro de 2014

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM - TRABALHAR NA VINHA.

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou e que quer propor a todos os homens. Diante da proposta de Deus, nós podemos assumir duas atitudes: ou dizer “sim” a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com Deus – um compromisso que signifique um empenho real e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na Babilónia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. Cada crente deve tomar consciência das consequências do seu compromisso com Deus e viver, com coerência, as implicações práticas da sua adesão a Jahwéh e à Aliança.
O Evangelho diz como se concretiza o compromisso do crente com Deus… O “sim” que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas intenções, sem implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente, sério e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. O verdadeiro crente não é aquele que “dá boa impressão”, que finge respeitar as regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a vontade de Deus.
A segunda leitura apresenta aos cristãos de Filipos (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) o exemplo de Cristo: apesar de ser Filho de Deus, Cristo não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas assumiu a realidade da fragilidade humana, fazendo-se servidor dos homens para nos ensinar a suprema lição do amor, do serviço, da entrega total da vida por amor. Os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito, na entrega total ao Pai e aos seus projectos.


LEITURA I – Ez 18,25-28

Leitura da Profecia de Ezequiel

Eis o que diz o Senhor:
«Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’.
Escutai, casa de Israel:
Será a minha maneira de proceder que não é justa?
Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto?
Quando o justo se afastar da justiça,
praticar o mal o vier a morrer,
morrerá por causa do mal cometido.
Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado,
praticar o direito e a justiça,
salvará a sua vida.
Se abris os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido,
há-de viver e não morrerá».

AMBIENTE

Ezequiel, o “profeta da esperança”, exerceu o seu ministério na Babilónia no meio dos exilados judeus. O profeta fez parte dessa primeira leva de exilados que, em 597 a.C., Nabucodonosor deportou para a Babilónia.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados foi encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrolou-se a partir de 586 a.C. e prolongou-se até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, privados de Templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estavam desiludidos e duvidavam de Jahwéh e do compromisso que Deus tinha assumido com o seu Povo. Nessa fase, Ezequiel procurou alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e libertador não tinha abandonado nem esquecido o seu Povo.
Até esta altura, Israel reflectia a sua relação com Deus em termos colectivos e não em termos individuais. A catequese de Israel considerava que a Aliança tinha sido feita, não com cada israelita individualmente, mas com toda a comunidade. Assim, as infidelidades de uns (inclusive dos antepassados) traziam sofrimento e morte a toda a comunidade; e a fidelidade de outros (inclusive dos antepassados) era fonte de vida e de bênção para todos.
Os exilados liam à luz desta perspectiva teológica o drama que tinha caído sobre eles. Consideravam que eram justos e bons, que não tinham pecado e que estavam ali a expiar os pecados de toda a nação. Havia até um refrão muito repetido por esta altura: “os pais comeram as uvas verdes, mas são os dentes dos filhos que ficam embotados” (Ez 18,2b). Parece ser uma reprovação velada à acção de Deus que, na perspectiva da teologia da época, fez dos exilados o bode expiatório de todas as infidelidades da nação. É justo, isto? Está certo que os justos paguem pelos pecadores?
É a estas questões que o profeta Ezequiel vai tentar responder.

MENSAGEM

Na verdade, os membros do Povo de Deus que estão exilados na Babilónia não podem “sacudir a água do capote” e presumir de justos e inocentes: não há justos e inocentes neste processo, uma vez que todos, sem exceção, são responsáveis por atitudes de infidelidade a Jahwéh e de desrespeito pelos seus mandamentos. Fará algum sentido que os exilados acusem Jahwéh de ser injusto, depois de terem violado sistematicamente a aliança e terem cometido tantos pecados e infidelidades (vers. 25)?
Para além disso, Israel não pode continuar a esconder-se atrás de uma responsabilidade colectiva, que implica todos, mas não responsabiliza ninguém. Chegou a altura de cada membro do Povo de Deus se sentir pessoalmente responsável diante de Deus pelas suas acções e pelos compromissos assumidos no âmbito da Aliança. Cada membro do Povo de Deus tem de descobrir que, quando fizer escolhas erradas e se obstinar nelas, sofrerá as consequências; e que quando abandonar os caminhos de egoísmo e de pecado e optar por Deus e pelos seus valores, encontrará a vida (vers. 26-28).
Significa isto que o pecado de um membro da comunidade não afecta os outros irmãos, membros da mesma comunidade? É claro que afecta. O pecado introduz sempre elementos de desequilíbrio, de desarmonia, de egoísmo, de ruptura, que atingem todos aqueles que caminham connosco… Mas o que Ezequiel aqui pretende sublinhar é que cada homem ou mulher tem de sentir-se pessoalmente responsável diante de Deus pelas suas opções e pelos seus actos.
Esta superação da mentalidade colectiva, dando lugar à responsabilidade individual, é um dos grandes progressos na história teológica de Israel. Doravante, o Povo aprenderá a reagir em termos individuais e não em termos de massa. Está aberto o caminho para uma Nova Aliança: uma Aliança que não é feita genericamente com uma comunidade, mas uma Aliança pessoal e interior, feita com cada crente.

ATUALIZAÇÃO

Considerar, na reflexão, os seguintes desenvolvimentos:

• Antes de mais, a leitura convida-nos a tomar consciência de que um compromisso com Deus é algo que nos implica profundamente e que devemos sentir pessoalmente, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. No nosso tempo – no tempo da cultura do plástico, do “light”, do efêmero – há alguma tendência a não assumir responsabilidades, a não absolutizar os compromissos (no mundo do futebol e da política há até uma máxima que define a flutuabilidade, a incoerência, a contradição em que as pessoas se movem: “o que é verdade hoje, é mentira amanhã”). Mas, com Deus, não há meias tintas: ou se assume, ou não se assume. Como é que eu sinto esses compromissos que assumi com Deus no dia do meu Baptismo e que ao longo da vida, nas mais diversas circunstâncias, confirmei? Trata-se de algo que eu levo a sério e que eu aplico coerentemente a toda a minha existência e às opções que faço, ou de algo que eu só me lembro quando se trata de fazer uma bonita festa de casamento na igreja ou de cumprir a tradição e baptizar os filhos?

• O profeta Ezequiel convida-nos também a assumir, com verdade e coerência, a nossa responsabilidade pelos nossos gestos de egoísmo e de auto-suficiência em relação a Deus e em relação aos irmãos. Entre nós, no entanto, muitas vezes “a culpa morre solteira”. Há homens e mulheres que não têm o mínimo para viver dignamente? A culpa é da conjuntura económica internacional… Há situações de violência extrema e de injustiça? A culpa é do governo que não legisla nem coloca suficientes polícias nas ruas… A minha comunidade cristã está dividida, estagnada e não testemunha suficientemente o amor de Jesus? A culpa é do Papa, ou do bispo, ou do padre… E a minha culpa? Eu não terei, muitas vezes, a minha quota-parte de responsabilidades em tantas situações negativas com que, dia a dia, convivo pacificamente? Eu não precisarei de me “converter”?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25)

Refrão: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador:
em vós espero sempre.

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias  e das vossas graças que são eternas.
Não recordeis as minhas faltas  e os pecados da minha juventude.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,  por causa da vossa bondade, Senhor.

O Senhor é bom e recto,  ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça  e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.


LEITURA II – Filip 2,1-11

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses

Irmãos:
Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia,  então, completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração.
Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros.
Tende em vós os mesmos sentimentos  que havia em Cristo Jesus.
Ele, que era de condição divina,  não Se valeu da sua igualdade com Deus,  mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,  tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,  obedecendo até à morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus O exaltou  e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes,  para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem,  no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

AMBIENTE

Filipos, cidade situada no norte da Grécia, era uma cidade habitada maioritariamente por veteranos romanos do exército. Estava organizada à maneira de Roma e era uma espécie de Roma em miniatura. Os seus habitantes gozavam dos mesmos privilégios dos habitantes das cidades de Itália.
A comunidade cristã de Filipos foi fundada por Paulo no verão de 49, no decurso da sua segunda viagem missionária. Numa das estadias de Paulo na prisão (em Éfeso?), a comunidade enviou um dos seus membros para o ajudar e uma generosa quantia em dinheiro para prover às necessidades do apóstolo.
Apesar de ser uma comunidade viva, piedosa e generosa, a comunidade cristã de Filipos não era uma comunidade perfeita. O desprendimento, a humildade, a simplicidade, não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios romanos que compunham a comunidade.
É neste enquadramento que podemos situar o texto que esta leitura nos apresenta. Trata-se de um texto que, em termos literários, apresenta duas partes. A primeira (vers. 1-5), em prosa, contém recomendações concretas de Paulo aos Filipenses acerca dos valores que devem cultivar. A segunda (vers. 6-11), em poesia, apresenta aos Filipenses o exemplo de Cristo (trata-se, provavelmente, de um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs e que Paulo integrou no texto da carta).

MENSAGEM

Na primeira parte (vers. 1-5), Paulo, em tom solene, pede aos altivos romanos que constituem a comunidade de Filipos que não se deixem dominar pelo orgulho, pela auto-suficiência, pela vaidade, pela ambição, que só provocam egoísmo e divisão. Recomenda-lhes que vivam unidos, que se amem e que sejam solidários, pois foi isso que Cristo, não só com palavras, mas com a própria vida, ensinou aos seus discípulos.
Na segunda parte (vers. 6-11), Paulo vai referir-se, com mais pormenor, ao exemplo de Cristo. Para apresentar esse exemplo, Paulo recorre, então, ao tal hino litúrgico, que celebrava a “Kenosis” (“despojamento”) de Cristo e a sua exaltação.
Cristo Jesus – nomeado no princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Dado que os Filipenses são cristãos, quer dizer, dado que Cristo é o protótipo a cuja imagem estão configurados, têm a iniludível obrigação de comportar-se como Cristo. Como é o exemplo de Cristo?
O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu – cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta de Adão responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
Em traços precisos, o hino define o “despojamento” (“kenosis”) de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse “abaixamento” assumiu mesmo foros de escândalo: Ele aceitou uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projectos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez d’Ele o “Kyrios” (“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece Jesus como “o senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história.
É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida que Paulo faz aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos; esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à glorificação, à vida plena.

ATUALIZAÇÃO

Para reflexão, podem considerar-se as seguintes indicações:

• Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados em muitos dos nossos ambientes contemporâneos. De acordo com os critérios que presidem ao nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?

• Paulo tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da lógica de Deus?


ALELUIA – Jo 10,27

Aleluia. Aleluia.

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor;
Eu conheço-as e elas seguem-Me.


EVANGELHO – Mt 21,28-32
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes
e aos anciãos do povo:«Que vos parece?
Um homem tinha dois filhos.Foi ter com o primeiro e disse-lhe:
‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’.Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’.Depois, porém, arrependeu-se e foi.O homem dirigiu-se ao segundo filhoe falou-lhe do mesmo modo.
Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’.Mas de facto não foi.
Qual dos dois fez a vontade ao pai?»Eles responderam-Lhe: «O primeiro».Jesus disse-lhes:«Em verdade vos digo:
Os publicanos e as mulheres de má vidairão diante de vós para o reino de Deus.
João Baptista veio até vós,ensinando-vos o caminho da justiça,e não acreditastes nele;mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram.E vós, que bem o vistes,não vos arrependestes, acreditando nele».

AMBIENTE

O texto que nos é proposto neste domingo situa-nos em Jerusalém, na etapa final da caminhada terrena de Jesus. Pouco antes, Jesus entrara em Jerusalém e fora recebido em triunfo pela multidão (cf. Mt 21,1-11); no entanto, o entusiasmo inicial da cidade foi sendo substituído, aos poucos, por uma recusa categórica em acolher Jesus e o seu projeto.
Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo – os líderes religiosos judaicos – aparecem como o motor da oposição a Jesus. Eles não estão dispostos a reconhecer Jesus como o Messias de Deus e a aceitar que Ele tenha um mandato de Deus para propor aos homens uma nova realidade – a realidade do Reino. Há uma tensão no ar, que anuncia a proximidade da paixão e da morte de Jesus.
No quadro que antecede o episódio que nos é hoje proposto – mas que está em relação directa com ele – os líderes judeus encontraram-se com Jesus no Templo; perguntaram-Lhe com que autoridade Ele agia e quais eram as suas credenciais (cf. Mt 21,23-27). Jesus respondeu-lhes convidando-os a pronunciarem-se sobre a origem do baptismo de João. Os líderes judaicos não quiseram responder: se dissessem que João Baptista não vinha de Deus, tinham medo da reacção da multidão (que considerava João um profeta); se admitissem que o baptismo de João vinha de Deus, temiam que Jesus lhes perguntasse porque não o aceitaram… Diante do silêncio embaraçado dos seus interlocutores, Jesus deu-lhes a entender que não tinha uma resposta para lhes dar, enquanto eles continuassem de coração fechado, na recusa obstinada da novidade de Deus (anunciada por João e proposta pelo próprio Jesus).
Na sequência, Jesus vai apresentar três parábolas, destinadas a ilustrar a recusa de Israel em acolher a proposta do Reino. Com elas, Jesus convida os líderes da nação judaica a reflectir sobre a situação de “gueto” em que se instalaram e a reconhecerem o sem sentido das suas posições fixistas e conservadoras. O nosso texto é a primeira dessas três parábolas.

MENSAGEM

A parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e das propostas de Deus.
O primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar “na vinha”. A sua primeira resposta foi negativa: “não quero”. No contexto familiar da Palestina do tempo de Jesus, trata-se de uma resposta totalmente reprovável, particularmente porque uma atitude deste tipo ia contra todas as convenções sociais… Enchia um pai de vergonha e punha em causa a sua autoridade diante dos familiares, dos amigos, dos vizinhos. No entanto, este primeiro filho acabou por reconsiderar e por ir trabalhar na vinha (vers. 28-29).
O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “vou, sim, senhor”. Deu ao pai uma resposta satisfatória, que não punha em causa a sua autoridade e a sua “honra”. Ficou bem visto diante de todos e todos o consideraram um filho exemplar. No entanto, acabou por não ir trabalhar na vinha (vers. 30).
A questão posta, em seguida, por Jesus, é: “qual dos dois fez a vontade do pai?” A resposta é tão óbvia que os próprios interlocutores de Jesus não têm qualquer pejo em a dar: “o primeiro” (vers. 31).
A parábola ensina que, na perspectiva de Deus, o importante não é quem se comportou bem e não escandalizou os outros; mas, de acordo com a lógica de Deus, o importante é cumprir, realmente, a vontade do pai. Na perspectiva de Deus, não bastam palavras bonitas ou declarações de boas intenções; mas é preciso uma resposta adequada e coerente aos desafios e às propostas do Pai (Deus).
É certo que os fariseus, os sacerdotes, os anciãos do Povo, disseram “sim” a Deus ao aceitar a Lei de Moisés… A sua atitude – como a do filho que disse “sim” e depois não foi trabalhar para a vinha – foi irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas, do ponto de vista do cumprimento da vontade de Deus, a sua atitude foi uma mentira, pois recusaram-se a acolher o convite de João à conversão. Em contrapartida, aqueles que, de acordo com o “política e religiosamente correcto” disseram “não” (por exemplo, os cobradores de impostos e as prostitutas), cumpriram a vontade do Pai: acolheram o convite de João à conversão e acolheram a proposta do Reino que Jesus veio apresentar (vers. 32).
Lida no contexto do ministério de Jesus, esta parábola dava uma resposta àqueles que O acusavam de acolher os pecadores e os marginais – isto é, aqueles que, de acordo com as “convenções”, disseram não a Deus. Jesus deixa claro que, na perspectiva de Deus, não interessam as convenções externas, mas a atitude interior. O que honra a Deus não é o que cumpre ritos externos e que dá “boa impressão” às massas; mas é o que cumpre a vontade de Deus.
Mais tarde, a comunidade de Mateus leu a mesma parábola numa perspectiva um pouco diversa. Ela serviu para iluminar a recusa do Evangelho por parte dos judeus e o seu acolhimento por parte dos pagãos. Israel seria esse “filho” que aceitou trabalhar na vinha mas, na realidade, não cumpriu a vontade do Pai; os pagãos seriam esse “filho” que, aparentemente, esteve sempre à margem dos projectos do Pai, mas aceitou o Evangelho de Jesus e aderiu ao Reino.

ACTUALIZAÇÃO

Para a reflexão, ter em conta os seguintes desenvolvimentos:

• Antes de mais, a parábola dos dois filhos chamados para trabalhar “na vinha” do pai sugere que, na perspectiva de Deus, todos os seus filhos são iguais e têm a mesma responsabilidade na construção do Reino. Deus tem um projecto para o mundo e quer ver todos os seus filhos – sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, de formação intelectual – implicados na concretização desse projecto. Ninguém está dispensado de colaborar com Deus na construção de um mundo mais humano, mais justo, mais verdadeiro, mais fraterno. Tenho consciência de que também eu sou chamado a trabalhar na vinha de Deus?

• Diante do chamamento de Deus, há dois tipos de resposta… Há aqueles que escutam o chamamento de Deus, mas não são capazes de vencer o imobilismo, a preguiça, o comodismo, o egoísmo, a auto-suficiência e não vão trabalhar para a vinha (mesmo que tenham dito “sim” a Deus e tenham sido baptizados); e há aqueles que acolhem o chamamento de Deus e que lhe respondem de forma generosa. De que lado estou eu? Estou disposto a comprometer-me com Deus, a aceitar os seus desafios, a empenhar-me na construção de um mundo mais bonito e mais feliz, ou prefiro demitir-me das minhas responsabilidades e renunciar a ter um papel activo no projecto criador e salvador que Deus tem para os homens e para o mundo?

• O que é que significa, exactamente, dizer “sim” a Deus? É ser baptizado ou crismado? É casar na igreja? É fazer parte de uma confraria qualquer da paróquia? É fazer parte da equipa que gere a Fábrica da Igreja? É ter feito votos num qualquer instituto religiosos? É ir todos os dias à missa e rezar diariamente a Liturgia das Horas? Atenção: na parábola apresentada por Jesus, não chega dizer um “sim” inicial a Deus; mas é preciso que esse “sim” inicial se confirme, depois, num verdadeiro empenho na “vinha” do Senhor. Ou seja: não bastam palavras e declarações de boas intenções; é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz. Como me situo face a isto: sou um cristão “de registo”, que tem o nome nos livros da paróquia, ou sou um cristão “de facto”, que dia a dia procura acolher a novidade de Deus, perceber os seus desafios, responder aos seus apelos e colaborar com Ele na construção de uma nova terra, de justiça, de paz, de fraternidade, de felicidade para todos os homens?

• Nas nossas comunidades cristãs aparecem, com alguma frequência, pessoas que sabem tudo sobre Deus, que se consideram família privilegiada de Deus, mas que desprezam esses irmãos que não têm um comportamento “religiosamente correcto” ou que não cumprem estritamente as regras do “bom comportamento” cristão… Atenção: não temos qualquer autoridade para catalogar as pessoas, para as excluir e marginalizar… Na perspectiva de Deus, o importante não é que alguém se tenha afastado ou que tenha assumido comportamentos marginais e escandalosos; o essencial é que tenha acolhido o chamamento de Deus e que tenha aceitado trabalhar “na vinha”. A este propósito, Jesus diz algo de inaudito aos “santos” príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo: “os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o Reino de Deus”. Hoje, que é que isto significa? Hoje, quem são os “vós”? Hoje, quem são os “publicanos e mulheres de má vida”?


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.
O rito penitencial poderá ser preparado com mais cuidado, para não ser vivido de maneira demasiado mecânica e rotineira. As intenções penitenciais podem ser ditas mais lentamente para melhor serem interiorizadas, os silêncios podem permitir a cada um entrar nesta atitude de conversão à qual nos chama o Senhor.

3. PALAVRA DE VIDA.
É sempre fácil fazer belas promessas e proferir belas declarações. O que conta são os actos. Quantas mães disseram ao seu filho de quando em vez: “Pára de me dizer que gostas de mim… Prova-me!”. Muitas vezes exprimimos a Deus a nossa confiança através de uma bela profissão de fé, muitas vezes reafirmamos-Lhe o nosso amor através de belas orações, mas Ele espera que Lhe manifestemos esta confiança e este amor. Não basta dizer os actos de fé, de esperança e de caridade. É preciso pôr em acção a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade. Então, seremos verdadeiros praticantes, pondo em prática o que ouvimos e vivemos na missa.

4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
O Salmo Responsorial. No interior da liturgia da Palavra, o salmo não é uma peça mestra, pois ele exprime a mensagem da primeira leitura. Mas é muitas vezes um tempo de meditação e de oração, é o caso de hoje. Não basta contentar-se em ler o salmo, é preciso lê-lo bem. Salmodiar este texto não é difícil, o cântico favorece a interiorização. O solista deve preparar-se muito bem para cantar o salmo, cujo refrão é cantado pela assembleia. Se alguém souber tocar flauta, poderá acompanhar a melodia do solista ou tocar algumas notas depois do refrão, antes de cada estrofe.

5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Tomar parte numa acção caritativa… Procuremos tomar a nossa quota-parte numa acção caritativa da paróquia, no bairro ou na cidade, um serviço particular a prestar nesta semana… Não temos a tendência, muitas vezes, de deixar que as equipas “especializadas” façam e, quanto a nós, ficarmos apenas no dizer?

sábado, 27 de setembro de 2014

NÃO EXISTE CRISTIANISMO SEM CRUZ.

A tentação de apresentar um cristianismo sem cruz revela-se, aos poucos, decepcionante, porque é somente na cruz que se descobre o amor de Deus.
A cruz possui um significado inegociável para o cristianismo. É somente por meio do Cristo crucificado que se pode compreender “o poder de Deus” (cf. 1 Cor 1, 24) e a sua ação salvífica entre os homens. Por isso, na pregação evangélica de Jesus, tudo se resume a esta exortação: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (cf. Mt 16, 24). Não se trata de mera retórica, mas da apresentação de um dado incontestável: não há redenção sem cruz. O homem que quiser se salvar, deverá, necessariamente, apegar-se às cruzes do dia a dia, renunciando-se a si mesmo, tal qual o Filho do Homem fez no lenho da salvação.
Após aquele encontro fatídico na estrada para Damasco, São Paulo pôde perscrutar o significado autêntico da renúncia anunciada por Jesus. Viu que a lógica da cruz consiste num abandono confiante no “Evangelho da graça”, o qual nos apresenta a salvação não como prêmio que se conquista por meio de esforços puramente humanos. É dom gratuito; Deus confunde a “sabedoria” humana ao doar-se inteiramente ao homem — “o que é tido como debilidade de Deus é mais forte que os homens” (cf. 1 Cor 1, 24). São Paulo, por sua vez, fazendo frente às tendências de sua época, não deixou de anunciar aos seus interlocutores a “loucura” e o “escândalo” do madeiro santo: “Porque a linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem; mas poder de Deus para os que se salvam, isto é, para nós” (cf. 1 Cor 1, 18-23).
Nas pegadas do Apóstolo das gentes, a Igreja sempre procurou incutir na sociedade o necessário e urgente apelo do Crucificado, sobretudo quando estes esforços sofriam oposição da mentalidade pagã e autossuficiente do período. Ela testemunhou pelo derramamento de sangue — tal qual São Pedro, que se deixou crucificar de cabeça para baixo, achando-se indigno de ter uma morte igual à de Jesus —, pela vida abastada e longe das comodidades do mundo — a exemplo dos monges eremitas e dos irmãos e irmãs do Carmelo —, como também pela atualização diária e milagrosa do próprio sacrifício de Jesus, através da celebração da Santa Eucaristia. Em poucas palavras, pode-se dizer que a pregação da Igreja se fundamentou ordinariamente neste pequeno, mas não menos verdadeiro, princípio: “Quando vires uma pobre Cruz de madeira, só, desprezível e sem valor... e sem Crucificado, não esqueças que essa Cruz é a tua Cruz” [1].
Por outro lado, grande e persistente foi a oposição sofrida pelo anúncio do Cristo crucificado ao longo da história. Algo que não surpreende, todavia. Dada a realidade do pecado original, que faz com que os homens tenham os pensamentos do mundo e não os de Deus (cf. Mt 16, 23), o ser humano “é continuamente tentado a desviar o seu olhar do Deus vivo e verdadeiro para o dirigir aos ídolos (cf. 1 Ts 1, 9), trocando ‘a verdade de Deus pela mentira’ (cf. Rm 1, 25)” [2]. De fato, para uma mentalidade submissa àquilo que São João chamava de “concupiscência da carne”, “concupiscência dos olhos” e “soberba da vida”, isto é, os ídolos que o mundo oferece, a cruz pode parecer uma realidade muito pouco atraente e sem sentido [3]. Nestes dois últimos séculos, em que não raras vezes os santos padres tiveram de lidar com propostas subversivas, dentro e fora da Igreja, cuja finalidade principal era substituir o Cristo crucificado por uma concepção cristã praticamente ateia, esse drama se revela ainda mais grave.
É particularmente notório um episódio da luta de Pio XI contra a ideologia nazista. Por ocasião da visita de Hitler a Roma, tendo se espalhado, a pedido de Mussolini, as suásticas do nacional-socialismo por toda a cidade eterna, o Papa Ratti ordenou que nenhuma bandeira fosse exposta nas sacadas do Vaticano, foi para Castel Gandolfo, e mandou escrever no L’Osservatore Romano que o ar de Roma estava irrespirável e que a ele não agradava nem um pouco ficar num lugar onde havia uma cruz que não era a de Cristo. Algo semelhante ocorreu com João Paulo II, quando da sua viagem à Nicarágua, em 1983. O governo sandinista, apoiado por padres ligados à Teologia da Libertação, havia organizado um infeliz protesto contra o papa. Na missa campal, foram colocados no altar, de propósito, cartazes de guerrilheiros em vez do crucifixo. O então secretário pessoal do santo papa, Cardeal Stanislaw Dziwisz, conta em suas memórias [4]:
[...] O Santo Padre, praticamente sozinho, enfrentou o tumulto e fez frente aos provocadores. Foi inesquecível a cena em que os sandinistas agitavam suas bandeiras rubro-negras, enquanto ele, de cima do palco, opunha-se a eles, levantando na direção do céu o báculo com o crucifixo na ponta.
Também dentro da Igreja esses confrontos contra a cruz de Cristo não faltaram. Nas sessões do Concílio Vaticano II, infelizmente, muitos foram os que sugeriram o abandono do sinal da cruz durante a liturgia, por este supostamente já não mais corresponder ao espírito do homem moderno [5]. Nas universidades de teologia, por sua vez, “a maneira blasfema como então se zombava da cruz como sendo um sadomasoquismo” era de se lamentar [6]. O então padre Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, escreve a respeito: “Vi o rosto horrível, sem disfarce, dessa piedade ateia; vi o terror psicológico, desenfreado, com o qual se conseguia sacrificar toda consideração moral como restante de um espírito burguês, quando se tratava da meta ideológica” [7].
Como nos tempos de São Paulo, a sociedade moderna não é simpática à mensagem da cruz de Cristo. Ao contrário, há certamente aquele número de indivíduos que, ludibriados pelas promessas ideológicas, depositam a própria esperança em obras e esforços humanos, a fim de alcançar um paraíso aqui na terra. É a tentação do neopelagianismo. Mutatis mutandis, como também não pensar nos “profetas” da técnica, verdadeiros gurus do modernismo, que, “fiando-se demasiadamente nas descobertas atuais”, julgam desnecessária a mensagem evangélica, dando margem ao ceticismo e ao agnosticismo [8]? And last, but not least, que dizer das seitas e heresias que proliferam, fazendo com que o cristianismo e, por conseguinte, a Igreja deixem de ser a Mater et Magistra da sociedade, como gostava de definir São João XXIII, para se converter em uma mera instituição filantrópica ou sentimentalista?
A Igreja deve seguir o caminho do Esposo. Renegar a cruz seria como que um adultério. A tentação de apresentar um cristianismo sem cruz, no intuito de satisfazer o gosto da clientela, aos poucos, mostra-se frustrante. Sem o Cristo crucificado se perde o dom gratuito do Pai que, amando o mundo de tal maneira, entrega Seu Filho único em holocausto. É nisto que conhecemos o amor. Não há mensagem mais urgente, mais necessária, mais imprescindível para o homem que a mensagem do amor de Deus. Nenhum esforço humano, nenhuma sabedoria humana, nenhuma teologia da “libertação” ou da “prosperidade” é realmente capaz de libertar o homem e fazer com que ele progrida na santidade. É Cristo crucificado que nos traz a redenção, porque foi para isto que Ele se manifestou: “para destruir as obras do demônio” (cf. 1 Jo 3, 8).
É, pois, na morte crucificada que se encontra a verdadeira vida. 










Por Christo Nihil Praeponere

Referências:

  1. Caminho, n. 178.
  2. João Paulo II, Carta Enc. Veritatis Splendor (6 de agosto de 1993), n. 1
  3. cf. 1 Jo 2, 16
  4. SVIDERCOSCHI; DZIWISZ; Gian Franco, Stanislaw. Uma vida com Karol. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, pág. 109.
  5. WILTGEN, Ralph. O Reno se lança no Tibre— O Concílio desconhecido. Niterói: Permanência, 2007, pág. 43.
  6. RATZINGER, Joseph. Lembranças da minha vida. São Paulo: Paulinas, 2007, pág. 118.
  7. Ibidem
  8. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes (7 de dezembro de 1965), n. 57