quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

MOTIVAÇÕES PARA UM ANO NOVO.

Um ano novo traz novas esperanças. É um momento de reflexão, de olhar para o ano que passou e fazer uma avaliação sobre o que fizemos de bom…
Há um provérbio que diz que “um homem motivado vai a Lua, sem motivação não atravessa a rua!”.
Um ano novo traz novas esperanças. É um momento de reflexão, de olhar para o ano que passou e fazer uma avaliação sobre o que fizemos de bom, e manter para o novo ano; e o que fizemos de mal e que deve ser deixado ou corrigido. Agradecer as graças que recebemos de Deus e pedir perdão por nossos erros. Continuar a caminhada em busca da perfeição querida por Deus.
Precisamos ter metas pessoais para o novo ano, sem isso nada se realiza de bom. O objetivo geral deve ser amadurecer e crescer na fé, na espiritualidade, no amor às pessoas, no desapego das coisas transitórias; enfim, fazer a alma crescer. São Paulo nos lembra que “não importa que o corpo vá desfalecendo, desde que o espírito se renove…” E ele nos lembra ainda que “a nossa tribulação presente, momentânea e ligeira, nos prepara um peso eterno de glória sem medidas” (2 Cor 4,16).
Para isso, manter a luta constante contra os pecados, aproveitar melhor o tempo que Deus nos dá; melhorar a qualidade da oração e da meditação diária, receber bem os sacramentos, exercitar a paciência e não ficar murmurando nas contrariedades, viver na fé, confiando em Deus.  Não se deixar vencer pelo mau humor.
A escolha das metas, não muitas, deve ser feita em cima do exame do que não fizemos bem no ano que findou. O que eu preciso mudar? Ser bem objetivo e prático. Em seguida, perseguir essas metas com perseverança, pedindo a Deus a graça de cumpri-las, com calma e alegria, sabendo recomeçar se falhar, mas não desanimar e nem desistir. Santa Teresa de Jesus aconselhava: “Importa muito, em tudo, uma grande e muito determinada força de não parar até chegar à meta, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que custar, murmure quem murmurar”.
Alguém disse que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Se as nossas metas forem “pequenas”, o Ano será pequeno. Não podemos ter apenas como metas objetivos temporários: ganhar dinheiro, comprar um carro,  trocar os móveis, emagrecer, viajar mais, comer melhor, e assim por diante. Essas aspirações, se não forem tomadas como um fim, mas como um meio, não são erradas, mas insuficientes para satisfazer a nossa alma; pois ela tem sede do Infinito.
Deus tem planos para nós! E Ele mostra-nos a sua vontade em nossa vida diária, em cada acontecimento que nos envolve. Por meio deles, Deus nos corrige, purifica, ainda que muitas vezes sejam carregados de dor e de lágrimas. Isto não quer dizer que não somos felizes; ao contrário.
Jesus ensina como o cristão deve viver cada dia do ano: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33). Isto quer dizer, “Deus em primeiro lugar” no Ano Novo. “Amar a Deus sobre todas as coisas” é o Mandamento mais importante.
Então, é preciso “fazer a vontade de Deus” e aceitar o que Deus permite que ocorra em nossa vida neste Ano, sabendo viver cada acontecimento na fé. São Paulo diz que “o justo vive pela fé” (Rom 1,17), e “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6).
Não se preocupe com o futuro, viva bem o presente, na comunhão permanente com Deus que habita em nossa alma. Não somos  dignos disso, mas Ele o quer assim. Tralhando com honestidade e competência, hoje, você prepara o seu futuro  e da sua família, sem estresse.
Uma orientação segura é esta que São Paulo nos deixou:
“Tudo o que fizerdes, fazei de bom coração, não para os homens, mas para o Senhor, certos de que recebereis a recompensa das mãos do Senhor. Servi a Cristo Senhor!” (Col 3,23)
Faça tudo para o Senhor: a casa que você limpa, a roupa que você lava, o bebê que você alimenta, o marido que você consola, o doente que você opera… E terás um Ano Novo Feliz!
É isso que nós da Editora Cléofas desejamos a você que nos acompanha, neste Ano Novo da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Ano é Dele, pois Ele é o Senhor da História. Não tenha medo, Ele, ressuscitado caminhará conosco cada dia.






Prof. Felipe Aquino

LITURGIA DIÁRIA - E A PALAVRA SE FEZ CARNE.

Primeira Leitura (1Jo 2,18-21)
Leitura da Primeira Carta de São João.
18Filhinhos, esta é a última hora. Ouvistes dizer que o Anticristo virá. Com efeito, muitos anticristos já apareceram. Por isso, sabemos que chegou a última hora. 19Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos, pois se fossem realmente dos nossos, teriam permanecido conosco.
Mas era necessário ficar claro que nem todos são dos nossos. 20Vós já recebestes a unção do Santo, e todos tendes conhecimento. 21Se eu vos escrevi, não é porque ignorais a verdade, mas porque a conheceis, e porque nenhuma mentira provém da verdade.

Responsório (Sl 95)
O céu se rejubile e exulte a terra!
O céu se rejubile e exulte a terra!
Cantai ao Senhor Deus um canto novo, cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! Cantai e bendizei seu santo nome! Dia após dia anunciai sua salvação.
O céu se rejubile e exulte a terra, aplauda o mar com o que vive em suas águas; os campos com seus frutos rejubilem e exultem as florestas e as matas.
Na presença do Senhor, pois ele vem, porque vem para julgar a terra inteira. Governará o mundo todo com justiça, e os povos julgará com lealdade.
 
Evangelho (Jo 1,1-18)
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
Glória a vós, Senhor.
1No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. 2No princípio, estava ela com Deus. 3Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. 4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la.
6Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: 9daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano.
10A Palavra estava no mundo – e o mundo foi feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. 11Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. 12Mas, a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo.
14E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. 15Dele, João dá testemunho, clamando: “Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim”. 16De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo.
18A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer

Reflexão

Nós estamos no último dia do ano. Vamos olhar para trás e agradecer. Agradecer a vida nossa e de nossos queridos, agradecer a saúde, a família, as amizades e tantas outras coisas. Não nos esqueçamos de agradecer a Redenção, que é o maior presente que ganhamos. Jesus é “Emanuel”: Deus conosco.
O Evangelho da Missa de hoje, além de introdução ao Evangelho de S. João, é também síntese deste Evangelho. A página tem sublime altura teológica e nos relata o nascimento histórico de Jesus com a Encarnação de Deus, eterno e criador de todas as coisas. Por isso, Jesus é chamado de Palavra, pois a palavra manifesta algo que não vemos, que é a idéia de quem fala.
O Evangelho contém três partes, entre as quais se intercala o testemunho de João Batista sobre Cristo, a Luz do mundo: 1) A existência eterna da Palavra criadora de Deus. 2) A vinda dessa Palavra ao mundo, a força transformadora dela no meio do mundo pecador, e a resposta deste mundo a ela, que tem duas direções opostas: “O mundo não quis conhecê-la... Mas aqueles que a receberam...” É a incredulidade e a fé que se opõem. 3) A Encarnação é um modo novo de presença de Deus entre os homens, mais próxima e pessoal do que a criação. É isto que celebramos no Natal.
Também está aqui o mistério mais profundo e o ponto inicial do seguimento de Jesus: a fé cristã.
O versículo 14: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” constitui o cume do Novo Testamento. A Palavra se fez carne, isto é, sujeitou-se à debilidade, á mortalidade e impotência humana. O imenso e eterno criador do mundo com suas galáxias, torna-se uma criatura que chora, que tem fome e sede. É assim que Deus consegue uma total proximidade com o homem. É o mistério do amor de Deus por nós, tão grande que nunca o entenderemos plenamente. A partir de agora, Jesus Cristo, a Palavra viva do Pai, será o lugar de encontro entre Deus e os homens, pois é igual a nós em tudo, exceto no pecado.
Deus se serviu da condição humana para salvar o homem. Hoje, ele continua se servindo da nossa condição humana para levar a todos essa salvação. Cabe a nós beber com alegria desta fonte de Água Viva, que começou no Natal, e levá-la aos outros.
“Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” É uma síntese da triste resposta a Deus, não só por parte do povo judeu mas do mundo inteiro. Se a mensagem libertadora da Encarnação de Deus ainda não mudou a face do nosso planeta, ninguém pode julgar-se isento de responsabilidade no conflito entre a luz e as trevas.
Por causa das trevas do nosso coração, ainda não captamos o mistério de amor e a mensagem de conversão a Deus e aos irmãos que o Natal nos transmitiu. “A Luz veio, mas os homens preferiram as trevas à Luz, porque suas obras eram más”. Quem age errado prefere as trevas para que suas obras não sejam manifestas. O certo é que ainda não acolhemos direito a divina visita que bateu à nossa porta. “De tal modo amou Deus ao mundo que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,16).
Certa vez, um jovem rei, durante uma caçada no campo, travou conversa com um jovem pastor que lhe parecia simpático. Depois do bate papo, o príncipe quis fazer amizade com o rapaz. Mas este, consciente da distância social que os separa, recusou tal amizade. Então o jovem rei arranjou uma maneira mais eficaz. Foi para casa e voltou disfarçado em pastor, como se fosse da mesma classe social do simpático jovem. E surgiu a amizade.
Deus fez conosco como este jovem: tornou-se igual a nós para que lhe sejamos amigos e amigas. Mas, infelizmente, ele está conosco, igualzinho a nós, e não nos tornamos seus amigos, nem o conhecemos.
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4). Nós agradecemos a Maria sua valiosa colaboração na nesse plano salvador de Deus, e pedimos a ela que nos ajude a acolher bem a visita que Deus nos faz.






Pe Queiroz




terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O PRIMEIRO PRESÉPIO.

"Eis para vós o sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura."
Como os pastores, apressemos nossos passos para adorar Aquele que está no presépio, envolto em faixas. Adoremos Aquele que se fez pobre e agora dorme, inerme, sobre as palhas da manjedoura.
O cartunista João Spacca traduz neste HQ a alegria e a devoção de São Francisco de Assis ao contemplar o nascimento de Cristo: "Vinde, adoremos o Menino de Belém!"
















Equipe Christo Nihil Praeponere

LITURGIA DIÁRIA - ANA PÔS-SE A LOUVAR A DEUS E A FALAR DO MENINO.

Primeira Leitura (1Jo 2,12-17)
Leitura da Primeira Carta de São João.
12Eu vos escrevo, filhinhos: os vossos pecados foram perdoados por meio do seu nome. 13Eu vos escrevo, pais: vós conheceis aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevo, jovens: vós vencestes o maligno.
14Já vos escrevi, filhinhos: vós conheceis o Pai. Já vos escrevi, jovens: vós sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno. 15Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. 16Porque tudo o que há no mundo – as paixões da natureza, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo.
17Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.

Responsório (Sl 95)
O céu se rejubile e exulte a terra!
O céu se rejubile e exulte a terra!
— Ó família das nações, dai ao Senhor, ó nações, dai ao Senhor poder e glória, dai-lhe a glória que é devida ao seu nome!
Oferecei um sacrifício nos seus átrios, adorai-o no esplendor da santidade, terra inteira, estremecei diante dele!
Publicai entre as nações: Reina o Senhor! Ele firmou o universo inabalável, e os povos ele julga com justiça.
 
Evangelho (Lc 2,36-40)
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 36havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
37Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
Reflexão

Este Evangelho nos apresenta uma mulher muito idosa, a profetiza Ana. Ela soube esperar a hora de Deus, e viu finalmente cumprida a sua esperança, e premiado o seu constante serviço ao Senhor através de jejuns e orações.
Ana e Simeão têm muitas coisas em comum. Ambos eram leigos, isto é, não pertenciam ao corpo sacerdotal, mas ao grupo dos simples, a quem o Pai revela os mistérios de Cristo e do Reino de Deus. E ambos sabiam ler, através dos sinais, a presença de Deus na humanidade do seu Filho, Cristo Jesus.
Por isso, o descobrem e o comunicam aos outros, do mesmo modo que os pastores de Belém ou os astrólogos do Oriente, enquanto o mistério continua oculto para os sábios, os vaidosos e os auto-suficientes.
Lendo o Antigo Testamento, nós observamos que aparecem muitas profetizas: Miriam, Débora, Judite, Ester, Hulda... Isso, apesar da cultura machista da época. Essas profetizas são destacadas na Bíblia como guardiãs da Aliança entre Deus e o povo.
Num momento de virada da História, lá estava Ana no Templo, acolhendo a novidade que é o Filho de Deus, e anunciando-o a todos que encontrava. São duas fragilidades que se encontram: O recém nascido e a mulher idosa que o anuncia. Deus gosta de usar a fraqueza humana como seu instrumento.
“Derramarei o meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão. Sim, meus servos e minhas servas anunciarão o meu nome” (Jl 3,1).
“O Reino de Deus é como o fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado” (Mt 13,33). Como o fermento que atua na massa, assim é a mulher atuando na sociedade e transformando-a em Reino de Deus. As mulheres atuam nas Comunidades cristãs com uma força incrível, especialmente na família, onde o seu trabalho é lento mas irresistível como o fermento.
No ambiente profundo do Natal, adquire atualidade a família, com os seus valores básicos e permanentes, como célula que é da sociedade e da Igreja.
A família é uma instituição sempre passível de aperfeiçoamento, e em constante evolução. Ela é insubstituível, porque é o melhor e mais adequado clima para o crescimento e a maturidade pessoal de todos os seus membros, através do amor e da doação.
Este é o caminho evangélico de realização do ser humano, como pessoa e como cristão. O amor é, e será sempre, a origem e alma da família, como reflexo do amor de Cristo para com o seu povo, a Igreja. É também um reflexo da força criadora de Deus, visível na paternidade e na maternidade humana.
E o evangelista Lucas termina este Evangelho com um resumo da infância e juventude de Jesus: “O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”. A Encarnação segue a sua marcha normal. Jesus é uma criança como as outras. Não é nem um super-homem nem um herói mitológico. Nasceu e cresceu no seio de uma família, como qualquer um de nós.
A frase de Lucas resume os três elementos básicos da educação de uma criança: proporcionar-lhe o crescimento na saúde, na sabedoria e na graça de Deus. Dar condições para que a criança cresça no corpo, isto é, que ela receba o que é melhor para a sua saúde. A criança não sabe o que é melhor para a sua saúde, por exemplo, o que e quando comer, mas os pais sabem.
Dar também condições para que a criança cresça na sabedoria, que inclui o estudo, a ciência, mas vai além. Ter sabedoria é saber vivenciar aquilo que se vai aprendendo de bom para a vida.
E dar condições para que a criança cresça na fé e na graça de Deus, através do catecismo, ensinado em casa e na sala de catequese. Dentro de casa a fé é transmitida principalmente pelo bom exemplo.
S. Paulo resume o modo como os pais devem educar os filhos: “Proclama a Palavra, insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a doutrina (2Tm 4,2s). Em outras palavras, S. Paulo diz: “Insiste, repreende, ensina, transmite a doutrina, com toda paciência e firmeza”. Essas são as virtudes chaves de uma boa educação.
- Paciência porque cada criança, cada jovem tem o seu momento próprio de conversão, que é graça de Deus, portanto escapa ao nosso controle. E essa mudança de comportamento é lenta., não acontece de uma hora para outra.
- Firmeza porque os pais não podem mostrar insegurança, voltando atrás ou, pior ainda, indo na onda dos filhos. A turminha é malandra e muitas vezes querem educar os pais. Querem corrigir e ditar para os pais o modo de educar.
Seguindo essas orientações de S. Paulo, haverá uma educação sem rupturas nem traumas, mas firme como a rocha.
Havia, certa vez, na Idade Média, um castelo inexpugnável situado no alto de uma rocha. Esse castelo foi sitiado por um exército. Após várias semanas, comando do exército esperava a qualquer momento a rendição, pois acreditava que os alimentos do castelo tinham se esgotado. No acampamento do exército, os soldados estavam angustiados e irrequietos, pois o cerco parecia não ter mais fim, e questionavam se valia a pena insistir.
No castelo, só restava um boi e um saco de farinha para alimentar centenas de pessoas que ainda resistiam bravamente ao cerco. O comandante do castelo decide tomar uma medida desesperada, que para seus homens parecia pura insensatez: matou o boi, encheu-lhe a cavidade abdominal com a farinha e ordenou que jogassem tudo pelo rochedo abaixo sobre o acampamento inimigo.
O comandante do exército tomou aquilo como uma mensagem e, acreditando que o castelo ainda estava bem abastecido, levantou o cerco e retirou-se.
Assim como a profetiza Ana, as pessoas idosas precisam ser corajosas e demonstrar a sua força, como fez o comandante do castelo. Pois, junto com Deus, os fracos são fortíssimos e invencíveis.
Mesmo que sejamos de idade muito avançada, como a profetiza Ana, não deixemos de exercer a nossa vocação profética. É o que pedimos aos dois profetas, Simeão e Ana, e à Rainha dos Profetas, Maria Santíssima.

 
 
 
 

Padre Queiroz

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

BENDITO SEJA DEUS.

 
Como é agradável a Nosso Senhor uma criatura assim resignada, humilde, paciente! É uma pérola do Coração de Jesus!

Santa Teresa se oferecia a Deus cinquenta vezes por dia, para que o Senhor dispusesse dela como quisesse, e se propunha a abraçar o que Nosso Senhor lhe enviasse, fosse a prosperidade ou a adversidade. Eis o que é importante na vida de perfeição. Só isso basta para santificar em pouco tempo uma alma. Na prosperidade, todo o mundo está disposto a conformar-se com a Vontade Divina. Na adversidade, bem poucos.

Demos graças a Deus quando a sua misericórdia nos cumula de favores e bens temporais. É muito bela a gratidão e atrai novas bênçãos do Céu! Mas… Não nos esqueçamos de que a adversidade é também uma graça, e das maiores. Se dissermos também nas adversidades? Imitemos o Santo Profeta Jó e seremos agradáveis ao Senhor.

“Um só Bendito seja Deus, nas contrariedades, dizia o Pe. João D’Ávila, vale mais do que mil orações de graças quando estamos na prosperidade e tudo nos corre bem.” [breviario_da_confianca_]

Nas alegrias e consolações? Bendito seja Deus!

Na doença ou na saúde? Bendito seja Deus!

Nas trevas ou na luz? Bendito seja Deus!

Como é agradável a Nosso Senhor uma criatura assim resignada, humilde, paciente! É uma pérola do Coração de Jesus!

Mons. Ascânio Brandão

Trecho retirado do livro: O Breviário da Confiança 







Prof Felipe Aquino

AS LIÇÕES DA SAGRADA FAMÍLIA

A família atual só poderá se reencontrar e salvar a sociedade se souber olhar para a Sagrada Família e copiar o seu modo de vida

 

 

 

O Papa João Paulo II, na Carta às Famílias, chamou a família de “Santuário da vida” (CF, 11). Santuário quer dizer “lugar sagrado”. É ali que a vida humana surge como que de uma nascente sagrada, e é cultivada e formada. É missão sagrada da família: guardar, revelar e comunicar ao mundo o amor e a vida.

O Concílio Vaticano II já a tinha chamado de “a Igreja doméstica” (LG, 11) na qual Deus reside, é reconhecido, amado, adorado e servido; nele também foi ensinado que: “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47).

Jesus habita com a família cristã. A presença do Senhor nas Bodas de Caná da Galileia significa que o Senhor “quer estar no meio da família”, ajudando-a a vencer todos os seus desafios; e Nossa Senhora ali o acompanha com a sua materna intercessão.

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher “à sua imagem e semelhança” (Gen 1,26), Ele os quis “em família”. Por isso, a família é uma realidade sagrada. Jesus começou sua missão redentora da humanidade na Família de Nazaré. A primeira realidade humana que Ele quis resgatar foi a família; Ele não teve um pai natural aqui, mas quis ter um pai adotivo, quis ter uma família, e viveu nela trinta anos. Isso é muito significativo. Com a presença d’Ele na família – Ele sagrou todas as famílias.

Conta-nos São Lucas que após o encontro do Senhor no Templo, eles voltaram para Nazaré “e Ele lhes era submisso” (cf. Lc 2,51). A primeira lição que Jesus nos deixou na família é a de que os filhos devem obedecer aos pais, cumprindo bem o Quarto Mandamento da Lei. Assim se expressou o Papa João Paulo II:

“O Filho unigênito, consubstancial ao Pai, ‘Deus de Deus, Luz da Luz’, entrou na história dos homens através da família” (CF, 2).

Ao falar da família no plano de Deus, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que ela é “vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai” (CIC, 2205). E na sua mensagem de Paz, do primeiro dia do Ano Novo (2008) o Papa Bento XVI deixou claro que sem a família não pode haver paz no mundo. E o Papa fez questão de ressaltar que família é somente aquela que surge da união de um homem com uma mulher, unidos para sempre, e não uma união homossexual que dá origem a uma falsa família.

“A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, 2207).

A Família de Nazaré sempre foi e sempre será o modelo para todas as famílias cristãs. Acima de tudo, vemos uma família que vive por Deus e para Deus; o seu projeto é fazer a vontade de Deus. A Sagrada Família é a escola das virtudes por meio da qual toda pessoa deve aprender e viver desde o lar.

Maria é a mulher docemente submissa a Deus e a José, inteiramente a serviço do Reino de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra” (Lc 1,38). A vontade dela é a vontade de Deus; o plano dela é o plano de Deus. Viveu toda a sua vida dedicada ao Menino Deus, depois ao Filho, Redentor dos homens, e, por fim, ao serviço da Igreja, a qual o Redentor instituiu para levar a salvação a todos os homens.

José era o pai e esposo fiel e trabalhador, homem “justo” (Mt 1, 19), homem santo, pronto a ouvir a voz de Deus e cumpri-la sem demora. Foi o defensor do Menino e da Mãe, os tesouros maiores de Deus na Terra. Com o trabalho humilde de carpinteiro deu sustento à Família de Deus, deixando-nos a lição fundamental da importância do trabalho, qualquer que seja este.  

Em vez de escolher um pai letrado e erudito para Jesus, Deus escolheu um pai pobre, humilde, santo e trabalhador braçal. José foi o homem puro, que soube respeitar o voto perpétuo de virgindade de sua esposa, segundo os desígnios misteriosos de Deus.

A Família de Nazaré é para nós, hoje, mais do que nunca, modelo de unidade, amor e fidelidade. Mais do que nunca a família hoje está sendo destruída em sua identidade e em seus valores. Surge já uma “nova família” que nada tem a ver com a família de Deus e com a Família de Nazaré.

As mazelas de nossa sociedade –, especialmente as que se referem aos nossos jovens: crimes, roubos, assaltos, sequestros, bebedeiras, drogas, homossexualismo, lesbianismo, enfim, os graves problemas morais e sociais que enfrentamos, – têm a sua razão mais profunda na desagregação familiar a que hoje assistimos, face à gravíssima decadência moral da sociedade.

Como será possível, num contexto de imoralidade, insegurança, ausência de pai ou mãe, garantir aos filhos as bases de uma personalidade firme e equilibrada e uma vida digna, com esperança?

Como será possível construir uma sociedade forte e sólida onde há milhares de “órfãos de pais vivos”? Fruto da permissividade moral e do relativismo religioso de nosso tempo, é enorme a porcentagem dos casais que se separam, destruindo as famílias e gerando toda sorte de sofrimento para os filhos. Muitos crescem sem o calor amoroso do pai e da mãe, carregando consigo essa carência afetiva para sempre.

A Família de Nazaré ensina ainda hoje que a família desses nossos tempos pós-modernos só poderá se reencontrar e salvar a sociedade se souber olhar para a Sagrada Família e copiar o seu modo de vida: serviçal, religioso, moral, trabalhador, simples, humilde, amoroso… Sem isso, não haverá verdadeira família e sociedade feliz.




Prof. Felipe Aquino

LITURGIA DIÁRIA - APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLO.

 
Primeira Leitura (1Jo 2,3-11)
Leitura da Primeira Carta de São João.
Caríssimos, 3para saber que conhecemos Jesus, vejamos se guardamos os seus mandamentos. 4Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 5Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado. O critério para sabermos se estamos com Jesus é este: 6quem diz que permanece nele, deve também proceder como ele procedeu.
7Caríssimos, não vos comunico um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8No entanto, o que vos escrevo é um mandamento novo – que é verdadeiro nele e em vós – pois que as trevas passam e já brilha a luz verdadeira. 9Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. 10O que ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas, e não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos.

Responsório (Sl 95)
O céu se rejubile e exulte a terra!
O céu se rejubile e exulte a terra!
Cantai ao Senhor Deus um canto novo, cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! Cantai e bendizei seu santo nome!
Dia após dia anunciai sua salvação, manifestai a sua glória entre as nações, e entre os povos do universo seus prodígios!
Foi o Senhor e nosso Deus quem fez os céus: diante dele vão a glória e a majestade, e o seu templo, que beleza e esplendor!
 
Evangelho (Lc 2,22-35)
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. 23Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor. 25Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, 26e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
27Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29“Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.
33O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti uma espada te transpassará a alma”.

 Reflexão


Levaram o Menino a Jerusalém, a fim de O apresentarem ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor” (Lc 2, 22).
Conforme a Lei, sobre a mulher gestante incidiam várias exigências a serem cumpridas quando do nascimento da criança. A consagração dos primogênitos era feita no ato da circuncisão, no sexto dia do nascimento (Ex 22,28s; Lv 12,3). A purificação da mãe acontecia trinta e três dias depois da circuncisão.
No Templo de Jerusalém, por ocasião da purificação de Maria, o justo Simeão profetiza sobre o menino Jesus, que será sinal de contradição. Uma das características marcantes de Jesus em seu ministério foi o conflito com as tradições da Lei e com os chefes religiosos. O empenho em libertar os pequenos e humildes oprimidos sob o jugo da Lei levou-o à morte de cruz, momento culminante em que uma espada traspassa a alma de sua mãe.
A Igreja, hoje, revive o mistério da Apresentação de Jesus no Templo. Revive-o com a admiração da Sagrada Família de Nazaré, iluminada pela plena revelação daquele “Menino” que como a primeira e a segunda leitura acabaram de nos recordar, é o juiz escatológico prometido pelos profetas (cf. Ml 3, 1-3), o “Sumo Sacerdote misericordioso e fiel”, que veio para “expiar os pecados do povo” (Hb 2, 17).
O Menino, que Maria e José levam com emoção ao Templo, é o Verbo encarnado, o Redentor do homem, da história!
Hoje, comemorando o acontecimento que nesse dia teve lugar em Jerusalém, também nós somos convidados a entrar no Templo, para meditar sobre o mistério de Cristo, unigênito do Pai que, com a sua Encarnação e a sua Páscoa, tornou-se o primogênito da humanidade redimida.
Desta maneira, no Evangelho de hoje prolonga-se o tema de Cristo luz, que caracteriza as solenidades do Natal e da Epifania.
“Luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel” (Lc 2, 32). Estas palavras proféticas são proferidas pelo velho Simeão, inspirado por Deus quando toma o Menino Jesus nos seus braços. Ele preanuncia ao mesmo tempo em que “o Messias do Senhor” realizará a sua missão como um “sinal de contradição” (Lc 2, 34). Quanto a Maria, a Mãe, também Ela participará pessoalmente na paixão do seu Filho divino (cf. Lc 2, 35).
Por conseguinte, na solenidade do dia de hoje, celebramos o mistério da consagração: consagração de Cristo, consagração de Maria e consagração de todos aqueles que se põem no seguimento de Jesus por amor do Reino.
O ícone de Maria que contemplamos enquanto oferece Jesus no Templo, prefigura o ícone da Crucifixão, antecipando também a sua chave de leitura, Jesus, Filho de Deus, sinal de contradição. Com efeito, é no Calvário que alcança o seu cumprimento a oblação do Filho e, unida a esta, também a da Mãe. A mesma espada atravessa ambos, a Mãe e o Filho (cf. Lc 2, 35). A mesma dor, o mesmo amor.
Ao longo deste caminho, a Mãe de Jesus tornou-se Mãe da Igreja. A sua peregrinação de fé e de consagração constitui o arquétipo para a peregrinação de cada batizado. Como é consolador saber que Maria está ao nosso lado, como Mãe e Mestra, no itinerário de nossa vida de batizados! Além do plano afetivo, encontra-se ao nosso lado mais profundamente na eficácia sobrenatural demonstrada pelas Escrituras, pela Tradição e pelo testemunho dos Santos, muitos dos quais seguiram Cristo no caminho exigente dos conselhos evangélicos.
Cada ano, no Tempo Litúrgico do Natal, recorda a imensidão do amor de Deus por nós. É preciso acreditar e viver esse amor e a ele entregar-se sem reservas. Assim como Simeão realizou sua esperança, também nós podermos contar sempre com a presença redentora de Cristo. Deixemos, pois, que Deus nos ame, para que sejamos, de fato, transformados, pois Ele continua amorosamente presente no meio de nós.

Ó Maria, Mãe de Cristo e nossa Mãe, agradecemos-te o cuidado com que nos acompanhas ao longo do caminho da vida, enquanto te pedimos: “Neste dia, volta a apresentar-nos a Deus, nosso único bem, a fim de que a nossa vida, consumida pelo Amor, seja um sacrifício vivo, santo e do teu agrado. Amém!






CN


sábado, 27 de dezembro de 2014

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ.


Tema da Festa da Sagrada Família
A liturgia deste domingo propõe-nos a família de Jesus como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares… Como a família de Jesus – diz-nos a liturgia deste dia – as nossas famílias devem viver numa atenção constante aos desafios de Deus e às necessidades dos irmãos.
O Evangelho põe-nos diante da Sagrada Família de Nazaré apresentando Jesus no Templo de Jerusalém. A cena mostra uma família que escuta a Palavra de Deus, que procura concretizá-la na vida e que consagra a Deus a vida dos seus membros. Nas figuras de Ana e Simeão, Lucas propõe-nos também o exemplo de dois anciãos de olhos postos no futuro, capazes de perceber os sinais de Deus e de testemunhar a presença libertadora de Deus no meio dos homens.
A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram ser “Homem Novo”. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

LEITURA I – Sir 3,3-7.14-17a (versão grega: 3,2-6.12-14)
Leitura do Livro de Ben-Sirá Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe.
Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração.
Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida.
Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

AMBIENTE
O Livro de Ben Sira (também chamado “Eclesiástico”) é um livro de carácter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objectivo deixar aos candidatos a “sábios” um conjunto de indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor é um tal Jesus Ben Sira, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C.…
A época de Jesus Ben Sira é uma época conturbada para o Povo de Deus. Os selêucidas dominavam a Palestina e procuravam impor aos judeus, com agressividade, a cultura helénica. Muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais consentâneos com a “modernidade”. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus corria, assim, sérios riscos… Neste contexto, Jesus Ben Sira – um “sábio” tradicional – escreve para preservar as raízes do seu Povo. No seu livro, apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para a felicidade.

MENSAGEM
O nosso texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
A palavra que preside a este conjunto de conselhos do “sábio” Ben Sira é a palavra “honrar” (repete-se 5 vezes, nestes poucos versículos). O que é que significa, exactamente, “honrar os pais”?
A expressão leva-nos ao Decálogo do Sinai (“honra teu pai e tua mãe” – Ex 20,12). Aí, o verbo utilizado é o verbo “kabad”, que costuma traduzir-se como “dar glória”, “dar peso”, “dar importância”. Assim, “honrar os pais” é dar-lhes o devido valor e reconhecer a sua importância; é que eles são os instrumentos de Deus, fonte de vida.
Ora, reconhecer que os pais são os instrumentos através dos quais Deus concede a vida deve conduzir os filhos à gratidão; e a gratidão não é apenas uma declaração de intenções, mas um sentimento que implica certas atitudes práticas. Jesus Ben Sira aponta algumas: “honrar os pais” significa ampará-los na velhice e não os desprezar nem abandonar; significa assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11); significa não fazer nada que os desgoste; significa escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; significa ser indulgente para com as limitações que a idade ou a doença trazem…
Dado o contexto da época em que Ben Sira escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam cuidadosamente e que os mais novos, às vezes, negligenciam.
Como recompensa desta atitude de “honrar os pais”, Jesus Ben Sira promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.

ATUALIZAÇÃO
A reflexão deste texto pode fazer-se a partir dos seguintes dados:
• Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos do Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar a nossa gratidão?
• Apesar da sensibilidade moderna aos direitos humanos e à dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com frequência, situações de abandono, de marginalização, de solidão, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo, o abandono, o “virar as costas” àqueles a quem devemos “honrar”?
• É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar (e o seu internamento num lar) resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho ou a velha”… Sem julgarmos nem condenarmos ninguém, que sentido é que faz “desfazermo-nos” daqueles que foram, para nós, instrumentos do Deus criador e fonte de vida?
• O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um desafio ridículo à nossa modernidade e às nossas certezas?
• Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa (quando não a nossa humanidade), o que significam os valores que recebemos dos nossos pais? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores, ou estamos dispostos a renegá-los ao primeiro aceno dos “valores da moda”?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)
Refrão 1: Felizes os que esperam no Senhor, e seguem os seus caminhos.
Refrão 2: Ditosos os que temem o Senhor, ditosos os que seguem os seus caminhos.
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida.

LEITURA II – Col 3, 12-21
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência.
Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro.
Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também.
Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição.
Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo.
E vivei em acção de graças.
Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai.
Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor.
Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza.
Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor.
Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
AMBIENTE
A Igreja de Colossos, destinatária desta carta, foi fundada por Epafras, um amigo de Paulo, pelos anos 56/57. Tanto quanto sabemos, Paulo nunca visitou a comunidade…
Hoje, não é claro para todos que Paulo tenha escrito esta carta (o vocabulário utilizado e o estilo do autor estão longe das cartas indiscutivelmente paulinas; também a teologia apresenta elementos novos, nunca usados nas outras cartas atribuídas a Paulo); por isso, é um tanto ou quanto difícil definirmos o ambiente em que este texto apareceu…
Para os defensores da autoria paulina, contudo, a carta foi escrita quando Paulo estava prisioneiro, possivelmente em Roma (anos 61/63). Epafras teria visitado o apóstolo na prisão e deixado notícias alarmantes: os colossenses corriam o risco de se afastar da verdade do Evangelho, por causa das doutrinas ensinadas por certos doutores de Colossos. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas (o que parece indicar tendências judaizantes) com especulações acerca do culto dos anjos e do seu papel na salvação; exigiam um ascetismo rígido e o cumprimento de certos ritos de iniciação, destinados a comunicar aos crentes um conhecimento mais adequado dos mistérios ocultos e levá-los, através dos vários graus de iniciação, à vivência de uma vida religiosa mais autêntica.
Sem refutar essas doutrinas de modo directo, o autor da carta afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.
O texto que nos é hoje proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (1ª parte), o autor avisa os colossenses de que a união com Cristo traz consequências a nível de vivência prática (2ª parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado e o “revestir-se do Homem Novo”.

MENSAGEM
O que é que significa, concretamente, “revestir-se do Homem Novo”?
Para o autor da carta, viver como “Homem Novo” é cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas, a exemplo de Cristo que sempre manifestou uma grande capacidade de perdão. Estas virtudes, que devem ornar a vida do cristão, são exigências e manifestações da caridade, que é a fonte de onde brotam todas as virtudes do cristão.
Catálogos de exigências como este apareciam também nos discursos éticos dos gregos… O que é novo aqui é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade, no dom da vida.
Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, o autor da carta aplica o que acabou de dizer ao âmbito mais concreto da vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos (a referência à submissão das esposas deve ser entendida na perspectiva da linguagem e da prática da época); aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o normal desenvolvimento das suas capacidades… Para uns e para outros, é essa “caridade” (“agapê”) – entendida como amor de doação, de entrega, a exemplo de Jesus que amou até ao dom da vida – que deve presidir às relações entre os membros de uma família.
É desta forma que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem transformado por Cristo e que vive segundo Cristo.

ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes elementos:
• Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de doação, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?
• A nossa primeira responsabilidade vai, evidentemente, para aqueles que connosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor, que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por um deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos dele?
• As mulheres não gostam de ouvir Paulo pedir-lhes a submissão aos maridos… No entanto, não devem ser demasiado severas com o autor desta carta: ele é um homem do seu tempo, que usa a linguagem do seu tempo e que coloca as coisas nos termos à volta dos quais se organizavam as comunidades familiares da época… Não podemos exigir ao autor desta carta (que escreve há quase dois mil anos) a mesma linguagem e a mesma sensibilidade que temos hoje, a propósito destas questões. Apesar de tudo, convém recordar que o autor da Carta aos Colossenses não se esquece de pedir aos maridos que amem as suas mulheres e que não as tratem com aspereza: sugere, desta forma, que a mulher tem, em relação ao marido, igual dignidade.

ALELUIA – Col 3,15a.16a
Aleluia. Aleluia.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.


EVANGELHO – Lucas 2,22-40
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».
O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia.
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; - e uma espada trespassará a tua alma -
assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
Havia também uma profetiza, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser.
Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro.
Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações.
Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
Entretanto, o Menino crescia e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria.
E a graça de Deus estava com Ele.

AMBIENTE
O interesse fundamental dos primeiros cristãos não se centrou na infância de Jesus, mas na sua mensagem e proposta; por isso, conservaram especialmente as recordações sobre a vida pública e a paixão do Senhor.
Só num estádio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Coligiram-se, então, escassas informações históricas sobre a infância de Jesus e amassou-se esse material com reflexões e com a catequese que a comunidade fazia acerca de Jesus. O chamado “Evangelho da Infância” (de que faz parte o texto que nos é hoje proposto) assenta nessa base; parte de algumas indicações históricas e desenvolve uma reflexão teológica para explicar quem é Jesus. Nesta secção do Evangelho, Lucas está muito mais interessado em dizer quem é Jesus, do que em fazer uma reportagem histórica sobre a sua infância.
Lucas propõe-nos, hoje, o quadro da apresentação de Jesus no Templo. Segundo a Lei de Moisés, todos os primogénitos (tanto dos homens como dos animais) pertenciam a Jahwéh e deviam ser oferecidos a Jahwéh (cf. Ex 13,1-2. 11-16). O costume de oferecer aos deuses os primogénitos é um costume cananeu que, no entanto, Israel transformou no que dizia respeito aos primogênitos dos homens… Estes não deviam ser oferecidos em sacrifício, mas resgatados por um animal, imolado ao Senhor.
De acordo com Lev 12,2-8, quarenta dias após o nascimento de uma criança, esta devia ser apresentada no Templo, onde a mãe oferecia um ritual de purificação. Nessa cerimónia, devia ser oferecido um cordeiro de um ano (para as famílias mais abastadas) ou então duas pombas ou duas rolas (para as famílias de menores recursos). É neste contexto que o Evangelho de hoje nos situa.

MENSAGEM
A cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão no mundo.
Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família de Jesus à Lei do Senhor (vers. 22.23.24), como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o início da sua caminhada entre os homens, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. A missão de Jesus no mundo passa por aí – pelo cumprimento rigoroso da vontade e do projeto do Pai.
No Templo, duas personagens acolhem Jesus: Simeão e Ana. Eles representam esse Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus sobre o seu Povo.
De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” (vers. 25). As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus que oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel” (vers. 28-32). Jesus é, assim, reconhecido pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou – não só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As palavras que Simeão dirige a Maria (“este menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma” – vers. 34-35) aludem, provavelmente, à divisão que a proposta de Jesus provocará em Israel e ao resultado dessa divisão – o drama da cruz.
Ana é também uma figura do Israel pobre e sofredor (“viúva”), que se manteve fiel a Jahwéh (não se voltou a casar, após a morte do marido – vers. 37), que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (vers. 38). A palavra utilizada por Lucas para falar de libertação é a palavra grega “lustrosis” (“resgate”), utilizada no Êxodo para falar da libertação da escravidão do Egipto (cf. Ex 13,13-15; 34,20; Nm 18,15-16). Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador, que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da liberdade. A apresentação no Templo de um primogênito celebrava precisamente a libertação do Egito e a passagem da escravidão para a liberdade (cf. Ex 13, 11-16).
O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e que atestam, portanto, a sua divindade (vers. 40).
Em conclusão: Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. O objectivo de Jesus é cumprir integralmente o projecto do Pai… E esse projecto passa por levar os homens da escravidão para a liberdade e em apresentar a proposta de salvação de Deus a todos os povos da terra, mesmo àqueles que não pertencem tradicionalmente à comunidade do Povo de Deus.

ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes questões:
• Neste episódio do “Evangelho da Infância”, Lucas apresenta-nos uma família – a Sagrada Família – que vive atenta aos apelos de Deus e que se empenha em cumprir cuidadosamente os preceitos do Senhor. Por quatro vezes (vers. 22.23.24.27), Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor – o que sugere a importância que a Palavra de Deus assume na vida da família de Nazaré. Trata-se, na perspectiva de Lucas, de uma família que escuta a Palavra de Deus e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de Deus. Maria e José perceberam provavelmente que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família feliz, que encontra na Palavra indicações seguras acerca do caminho que deve percorrer e que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Que importância é que a Palavra de Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro das nossas famílias cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?
• Segundo a Lei judaica, todo o primogênito devia ser consagrado e dedicado ao Senhor. Também Jesus é apresentado no Templo e consagrado ao Senhor. Nas nossas famílias cristãs há normalmente uma legítima preocupação com o proporcionar a cada criança condições ótimas de vida, de educação, de acesso à instrução e aos cuidados essenciais… Haverá sempre uma preocupação semelhante no que diz respeito à formação para a fé e em proporcionar aos filhos uma verdadeira educação para a vida cristã e para os valores de Jesus Cristo? Os pais cristãos preocupam-se sempre em proporcionar aos seus filhos um exemplo de coerência com os compromissos assumidos no dia do Batismo? Preocupam-se em ser os primeiros catequistas dos próprios filhos, transmitindo-lhes os valores do Evangelho? Preocupam-se em acompanhar e em potenciar a formação e a caminhada catequética dos próprios filhos, em inseri-los numa comunidade de fé, em integrá-los na família de Jesus, em consagrá-los ao serviço de Deus?
• Simeão e Ana, os dois anciãos que acolhem Jesus no Templo de Jerusalém, não são pessoas desiludidas da vida, que vivem voltadas para o passado sonhando com um tempo ideal que já não volta; mas são pessoas voltadas para o futuro, atentas ao Deus libertador que vem ao seu encontro, que sabem ler os sinais de Deus naquele menino que chega e que testemunham diante dos seus conterrâneos a presença salvadora e redentora de Deus no meio do seu Povo. Os anciãos – quer pela sua maturidade, sabedoria e equilíbrio, quer pelo tempo de que normalmente dispõem – podem ser testemunhas privilegiadas dos valores de Deus, intérpretes dos sinais de Deus, profetas credíveis que obrigam o mundo a confrontar-se com os desafios de Deus. É preciso que não vivam voltados para o passado, refugiados numa realidade que aliena, transformados em “estátuas de sal”, mas que vivam de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a sua sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é passageiro e acessório.