quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SATANÁS, MITO OU REALIDADE.


-   "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado pelo Diabo."

Para aquele que crê na Sagradas Escrituras, apenas essa passagem, do meio de tantas outras, bastaria para pôr fim a qualquer faísca de dúvida sobre a existência do mal. Esse dualismo entre bem e mal sempre se fez presente nas dúvidas e indagações do homem, desde a mais remota antigüidade.

 O homem, como um ser religioso por natureza, vindo das entranhas de Deus – posto que é sua imagem e semelhança – tem uma necessidade ontológica de procurar e perfazer seu caminho rumo ao bem maior, que sempre foi e será Deus. Dele viemos e para Ele iremos, por isso, essa questão nunca deixará de ocupar o pensamento humano. Prova disso é a grande quantidade de idéias e "filosofias" que tentam explicar, muitas vezes à sua maneira, o sobrenatural. Não são poucas as correntes que tentaram taxar o mal como um produto da nossa mente ou simplesmente negá-lo, ignorando as palavras do próprio Cristo que chegou a citar várias vezes o Demônio como nosso principal inimigo. "Vigiai e orai", ensinou Jesus, pois o "Diabo é como um leão que ronda sua presa".

O Papa Paulo VI proclamou certa vez, na ocasião de uma audiência pública, que "... o mal não é somente uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Uma terrível realidade. Misteriosa e pavorosa". E termina seu discurso com a sentença: "Sai do ensinamento bíblico e da Igreja quem rejeita sua existência... ou ensina como sendo apenas uma pseudo-realidade".

Realmente, se formos descer ao ensinamento bíblico e à doutrina da Igreja, veremos que o Diabo é um ser que esteve presente na vida do homem desde a sua criação. Desde o início Satanás procurou meios para perder a alma humana e, nisso, vem parecendo incansável. É um ser invisível, pessoal, dotado de inteligência e liberdade. Empregou toda a sua vontade em vingar-se de Deus através da criatura que Ele mais ama: o homem.
Satanás e os demônios
Nisso devemos fazer uma diferenciação: na Bíblia não se confundem demônios com Satanás (com raríssimas exceções). Pode agir por meio da possessão, fenômeno físico-psíquico e espiritual, que causa padecimento do corpo e/ou da mente. Em sua tentação e seduções, tem por único e exclusivo objetivo a perdição eterna, a condenação da alma.

Satanás é o tentador no âmbito espiritual e sobrenatural. Seja qual for a maneira dele atacar o homem, deve ser encarada com seriedade e confiança na proteção divina. Evitar toda e qualquer doutrina que tente minimizar ou neutralizar a ação do malígno se faz necessário, pois só se vence um inimigo quando se conhece bem suas potencialidades. Fingir que ele não existe, ou mesmo que não oferece muito perigo, é concordar com a própria derrota. Ignorar o adversário que está às portas é consentir a própria perdição.
Muitas pessoas, no decorrer da história, deixaram-se levar por esse engano e as conseqüências foram irreversíveis.
Santa Teresa d’Ávila afirmou certa vez que o que a fez tomar por prioridade a sua salvação, foi, acima de todas as consolações divinas, a experiência que ela teve no Inferno. Deus permitiu que Teresa não só tivesse uma visão do Inferno, como outros santos tiveram, mas que ela participasse e experimentasse das sensações e do sofrimento que o Diabo havia preparado para ela no Inferno. Foi esse episódio que a fez perseguir exaustivamente a santidade de modo que tantos anos pudesse viver nunca esqueceria esses curtos momentos, mas, ao contrário, permaneceriam vivos na sua memória como se fossem recentes. Outros santos, como sabemos, travaram violentas batalhas com demônios. São Bento, nos primeiros séculos da Igreja, já ensinava o modo de escapar de ciladas demoníacas e bastava uma única imposição das suas mãos para os Espíritos Maus fugirem. Santo Antão, o Pai dos Monges, chegou inúmeras vezes a travar duelos físicos com demônios que se transformam em feras ou em guerreiros e, ao final do combate, Antão quase morto, era consolado por anjos. Santo Atanásio, seu biógrafo e que depois se tornaria bispo de Alexandria, nos deu a conhecer os ensinamentos de seu mestre. Antão foi quem, na Igreja primitiva, mais descreveu a ação desses espíritos. "Sabemos que os demônios não foram criados como demônios. Deus não faz nada mau. Também eles foram criados bons, mas decaídos da sabedoria celeste e precipitados na terra, desviaram os gentios por meio de ficções. Invejam a nós, cristãos, e movem tudo para nos fechar o acesso ao céu, a fim de que não subamos ao lugar do qual caíram.
Na história do povo de Deus
A história do povo de Deus traz várias passagens e momentos de batalha espiritual com seu maior adversário, dele se referindo de vários modos e utilizando comparações que definem muito bem o caráter pernicioso que lhe é peculiar: Diabo, o acusador, caluniador, mentiroso; Satanás, o adversário, inimigo, oponente (é a forma helenizada do hebraíco Satán); Belial, a perdição, desgraça, inutilidade. É muitas vezes comparado à serpente, para enfatizar sua astúcia e maldade, e à seres monstruosos chamados de dragões. No livro da Sabedoria, escrito pelo ano 100 a.C. procede-se a identificação da serpente com um Diábolus, inimigo do homem e antagonista de Deus. É também comumente chamado de tentador (do grego peirázôn). A mentira é o seu habitat, sua característica. O lugar onde vive e prospera . "...este tem sido homicida desde o princípio e jamais se encontrou na verdade, porque nele não há verdade". O Diabo faz perecer o Homem mediante a mentira, afastando-o da verdade, ou seja, do Deus verdadeiro e da meta verdadeira. É o príncipe deste mundo, intitulado por Jesus.

Não resta, pois, a nós nem a quem quer que seja, rotular de outro modo a existência e a ação das potências malígnas, mas nos cabe escolher e seguir prontamente os conselhos de Cristo. Se por um lado, vastas são as passagens que indicam a existência do mal, por outro, temos um maior número ainda daquelas que nos encorajam e nos dão a certeza da vitória de Jesus sobre o Reino das Trevas. "Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (...) Estou convicto de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do futuro, nem forças, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra coisa existente, poderá separar-nos do amor de Deus". Paulo, em outra ocasião, nos ensina que "em seguida será o fim, quando entregará o Reino ao Pai, quando tiver destruído todo o principado (...) como último inimigo será destruída a morte". Satanás sabe que seus dias de influência são limitados, que ele já foi vencido pela Morte e Ressurreição de Cristo. "Assim, não nos curvemos em espírito, não raciocinemos em nossa alma sobre suas artimanhas, não cedamos ao terror, dizendo: Oxalá o Demônio não venha me aterrorizar, Oxalá não me arrebate e não me atire (para baixo), Oxalá não pensemos de forma alguma em tais coisas, não nos aflijamos como se fôssemos morrer. Encorajemo-nos e alegremo-nos sempre por sermos salvos e meditemos em nossa alma que o Senhor está conosco, que os pôs em fuga derrotados. Reflitamos e ponhamos bem no coração que, estando o Senhor conosco, os inimigos nada nos fazem.".

Saber que o mal existe é necessário, porém seria loucura fazer dele o centro das nossas preocupações. O jardineiro que passa os dias preocupando-se com ervas daninhas não encontra tempo para plantar uma flor. Seu jardim torna-se sem vida, não é jardim. Vivamos sabendo que Cristo é o centro da nossa vida e que tudo o que subsiste é por sua permissão. Somos chamados a batalhar hoje, com coragem, aqui na terra, para depois participarmos das "Bodas do Cordeiro".


 
Comunidade Shalom

TEOLOGIA DA VIDA COTIDIANA.


Existem pessoas que, presas nas dificuldades e no trabalho, na agitação e na atividade incessante da vida cotidiana, só no dia de domingo vão poder ler e refletir com calma sobre meditações teológicas como esta.

Não deveríamos aproveitar pelo menos o domingo - que pode ser também algo como um respiro do homem em meio a sua cotidianidade- a oportunidade de esboçar algumas reflexões sobre uma teologia da vida cotidiana, de colocar sob a luz da fé cristã e de considerar como perguntas para a teologia alguns assuntos de cada dia, como o trabalho e o descanso, o comer e o dormir e todas aquelas coisas que pertencem a esse âmbito?

Naturalmente, sempre com a reserva de que em umas poucas palavras se pode dizer muito pouco, inclusive sobre estas coisas simples, já que o mais fácil costuma ser na verdade o mais difícil para a teoria e para a práxis.

Por agora falemos apenas algo breve sobre a teologia da vida cotidiana em geral.

A primeira coisa é que uma teologia não pode pretender fazer do cotidiano um feriado. Esta teologia diz antes de tudo: “deixe tranqüila a vida cotidiana ser cotidiana”. Nem pelos elevados pensamentos da fé nem pela sabedoria da eternidade se pode ou se deve converter a vida cotidiana em um feriado.

O cotidiano deve ser mantido como tal, sem dulcificações nem idealizações. Só assim será para os cristãos o que deve ser: o espaço da fé, a escola da sobriedade, o exercício da paciência, o santo desmascaramento das palavras grandiloqüentes e dos falsos ideais, a silenciosa oportunidade de amar de verdade e de ser fiel, a verificação do realismo que é a semente da mais plena sabedoria.

A segunda é, porém, que a simples cotidianidade, assumida honestamente, esconde em si o milagre eterno e o silencioso mistério que chamamos Deus e sua graça sigilosa, precisamente quando e na medida em que o cotidiano permanece como tal. Posto que tudo isso constitui a vida cotidiana que o ser humano faz, e onde estiver o ser humano, ele em seu agir livre e responsável, abrirá as profundidades recônditas da realidade.

Também as pequenas coisas cotidianas são ou deveriam ser verdadeiramente como uma porção interna do essencial, inserida em uma vida realmente humana, ou seja, em uma vida que pela fé, a esperança e o amor dirigidos a Deus com a completa e mais radical liberdade, tem o peso do Deus eterno ao qual ela se agarra.

A Ele o temos, em última instância, não por nossos ideais, nem por nossas elevadas palavras, nem pela contemplação de nós mesmos, mas pela ação que nos arranca de nosso egoísmo, pela preocupação pelos outros que nos faz esquecer de nós mesmos, pela paciência que nos faz mansos e sábios.

Quem como ser humano acolhe o tempo, que é tão breve, no coração da eternidade que leva dentro de si, capta rapidamente que também as pequenas coisas têm profundidades inefáveis, que são arautos da eternidade, que são sempre mais que elas mesmas, como gotas de água em que se reflete a totalidade do céu, como símbolos que indicam mais além de si, como mensageiros que se antecipam e que, como arrebatados pela mensagem que portam, preanunciam a infinitude adveniente, como sombras, que já vem sobre nós, da verdadeira realidade, porque, em efeito, o verdadeiramente real já está próximo.

E por tudo isso vale a terceira: deve-se estar sempre como se fosse domingo, bem disposto para as pequenezes e as humildes coisas sem o brilho da vida cotidiana. Elas nos irritam só se as enfrentamos irritados; nos tornam obtusos só se não as compreendemos; tornam-se rotineiras e banais só se não as entendemos bem e as tratamos de maneira equivocada. Tornam-nos sóbrios, talvez nos cansam e nos decepcionam, mas nos fazem modestos e serenos.

Porém, isso é precisamente o que devemos chegar a ser, o que temos que aprender ainda que esta aprendizagem nos pareça difícil; é o único que nos pode dispor para nos encaminhar rumo à autêntica festa da vida eterna que a graça de Deus, e não nossa própria força, nos prepara. As coisas cotidianas, em todo caso, não têm que nos tornar amargos nem malignamente céticos. Porque o pequeno é a promessa do grande, e no tempo vai se gestando a eternidade. Porém, isto vale para os dias de semana tanto quanto para o domingo.


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Karl Rahner, S.J. Teólogo, acadêmico e escritor A tradução é de Fernando Berríos Medel, com a colaboração de Sergio Silva Gatica, SS.CC. Artigo publicado também na revista Mensaje .

A

DEUS É MAIS ÍNTIMO DE NOSSA VONTADE QUE NÓS MESMOS.


I Tess 4,1-8
O cristão é chamado à liberdade de tornar disponível para Deus a sua vida, cultura, vocação e profissão, a fim de que Ele realize o projeto único e perfeito que tem para sua vida. Não há autêntica liberdade para o homem que vive para si mesmo, mas somente para aquele que vive em Deus e para Deus.
É, assim, vazio e transitório todo projeto humano que não está compreendido no projeto único de Deus para sua vida. Romper todos os laços que não seja depender só dele para conquistar a verdadeira liberdade é o que caracteriza a atividade espiritual do cristão.

Somos diariamente colocados diante da veneração das grandezas passageiras e levados à visão do que é eterno e seguro, colocados diante da lembrança da morte e convidados à ressuscitar com Cristo, colocados diante das nossas fragilidades e convidados, por Sua enorme confiança, a tão altas missões! Presos a Ele pelos laços do amor, porque só ele tem a vida, mas, ao mesmo tempo livres para optar ou não por ele e pela sua vontade para as nossas vidas.
Cristo nos faz livres, mas permanece espontânea e eternamente preso a nós na Eucaristia. Trocou de lugar conosco e nos convida a viver este colóquio, esta troca constante de liberdades, esperando alguém que lhe responda: - Senhor, eu recebo a tua liberdade e em troca Te dou a minha!


Com minha benção.
Pe. Emílio Carlos Mancini.+
Diretor Espiritual da RCC São Carlos
Vigário Episcopal Novas Comunidades.


A†

LITURGIA DIÁRIA - MUITOS FORAM CURADOS.


Primeira Leitura: Colossenses 1, 1-8
XXII SEMANA COMUM
(verde - ofício do dia)
 
Início da carta de São Paulo aos Colossences - 1Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, 2aos irmãos em Cristo, santos e fiéis de Colossos: a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai! 3Nas contínuas orações que por vós fazemos, damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, 4porque temos ouvido falar da vossa fé em Jesus Cristo e da vossa caridade com os irmãos, 5em vista da esperança que vos está reservada nos céus. Esperança que vos foi transmitida pela pregação da verdade do Evangelho, 6que chegou até vós, assim como toma incremento no mundo inteiro e produz frutos sempre mais abundantes. É o que acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes anunciar a graça de Deus e verdadeiramente a conhecestes, 7pela pregação de Epafras, nosso muito amado companheiro no ministério. Ele nos ajuda como fiel ministro de Cristo. 8Foi ele que nos informou do amor com que o Espírito vos anima. - Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial(51)
REFRÃO: Confio na clemência do meu Deus agora e sempre!

1. Eu sou, porém, como a virente oliveira na casa de Deus: confio na misericórdia de Deus para sempre. - R.
2. Louvar-vos-ei eternamente pelo que fizestes e cantarei vosso nome, na presença de vossos fiéis, porque é bom. - R.
Evangelho: Lucas 4, 38-44

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 38Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta; e pediram-lhe por ela. 39Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a. Ela levantou-se imediatamente e pôs-se a servi-los. 40Depois do pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias lhos traziam. Impondo-lhes a mão, os sarava. 41De muitos saíam os demônios, aos gritos, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Mas ele repreendia-os severamente, não lhes permitindo falar, porque sabiam que ele era o Cristo. 42Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado. As multidões o procuravam e foram até onde ele estava e queriam detê-lo, para que não as deixasse. 43Mas ele disse-lhes: É necessário que eu anuncie a boa nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha missão. 44E andava pregando nas sinagogas da Galiléia. - Palavra da salvação.
catolicanet.com


Homilia - Pe Bantu

Lucas acentua o sofrimento da sogra de Simão Pedro e a autoridade de Jesus ao expulsar a febre; realça, assim, o caráter milagroso do evento. Jesus se decide abandonar a sinagoga. Por que razão não se diz. Mas pelo que se pode entender, Ele quer transformar e fazer do ambiente familiar, simbolizado pela casa da sogra de Simão, no lugar de oração, de cura e libertação. De paz e justiça, de amor e partilha de alegria e sucessos, de misericórdia e perdão. Faz do ambiente familiar o lugar de saúde e vida. Portanto a casa, lar, família é o lugar privilegiado para se construir as nossas sociedades. Assim, numa sociedade como a nossa onde o conceito de família está devazo, Cristo chama o casal cristão a ser estrutura sustentadora de uma família capaz de encontrar relações novas, não ditadas pela carne e o sangue, mas pela vida nova que Cristo confere pelo Batismo. Isto reduz o egoísmo, e faz com que cresça a caridade, dom do Espírito e se realize a Igreja doméstica.
Jesus toma conhecimento da doença que afeta os casais e aí ele foi, parou ao lado da cama dela e deu uma ordem à febre. Este gesto apela primeiro pelo zelo apostólico dele e por outra me chama a mim pastor de alma a visitar, entrar e abeirar-me dos leitos de muitos homens e mulheres que estão doentes e deitados sem forças para levantar a cabeça, o corpo e servir os seus como deveriam fazer.
Veja que na casa a mulher, personificada na sogra de Simão, é valorizada na sua prática do serviço, que é a característica fundamental do Reino. Outro pormenor a considerar é que a cena narrada se passa num sábado, dia do culto na sinagoga. Neste dia todo trabalho cessava, e só era permitido caminhar-se uma curta distância. Ao pôr-do-sol termina o dia do sábado, começando o primeiro dia da semana. É a introdução do domingo, o dia por excelência para nós cristãos. O povo, liberado das restrições legais prefiguradas pelo sábado legal, que ao invés de salvar, condenava, de dar vida matava, acorre a Jesus, que os curava, os liberta e salva. Esta deve ser a minha e a tua atitude: Fazendo-te recordar o que falávamos ontem, nas culturas antigas, muitas doenças físicas e mentais eram atribuídas a um ser imaginário, o demônio. Jesus, porém, na sua prática, vai revelando que os males da humanidade resultam, principalmente, do poder opressor, da falta de carinho, amor, ternura, paz, justiça, reconciliação, diálogo, atenção e falta de Deus na comunidade família que deveria construtora de vidas novas.
Neste trabalho é preciso que a comunidade e os evangelizadores saibam que ela está a serviço de Deus e não a busca de privilégios ou de poder. Que ela tenha as portas abertas para todos. O meu e o teu serviço é levar todos os enfermos, quer os da família de sangue quer não: todos os que tinham amigos enfermos, com várias doenças, os levaram a Jesus. Ele pôs as suas mãos sobre cada um deles e os curou.
A ti me dirijo recordando-te que como apóstolo és enviado e ordenado para anunciar a Palavra de modo que trazendo todos os enfermos quer corporais quer espirituais possam ser curados e entendam Deus na Pessoa do Seu Filho, Jesus Cristo, acolhe, liberta, perdoa e anuncia a verdade do Reino: a Vida Eterna. Esta missão do Filho de Deus te compromete e interpela a seres o homem, a mulher que acolhendo maus e bons, sejas a mão, a braço, a boca, o coração e a mente convertendo-te em discípulo e missionário do Mestre para o mundo conheça a Verdade e conhecendo a Verdade se possa salvar. Peçamos hoje a Deus o ardor missionário.
Pai, que a presença de Jesus em minha vida seja motivo de libertação, de modo que eu possa servir com alegria o meu próximo, especialmente, os mais necessitados.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CURA, O MINISTÉRIO DO AMOR!


Jesus veio ao mundo para nos salvar de tudo, para nos curar de toda e qualquer enfermidade: "O Espírito de Deus está sobre mim porque ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me para proclamar aos cativos a libertação e aos cegos a recuperação da vista, para restituir aos oprimidos a liberdade, e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lc 4,17c-19).

Tipos de cura

"Levando em conta que o homem tem três dimensões: corpo, alma e espírito (cf. 1Ts 5,23), compreendemos que existem os males físicos, os da alma ou interiores e os espirituais. Se somos atingidos em qualquer área interior, necessitamos de uma cura interior; se somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas doutrinas e apartando-nos da sã doutrina da salvação, precisamos de uma cura espiritual ou libertação; se somos atingidos no corpo com alguma enfermidade, necessitamos de uma cura física." (Perdigão, 2002).

No Manual do Ministério de Cura e Aconselhamento da Comunidade Shalom, as autoras afirmam que "todo ser humano, uns mais outros menos, tem necessidade de cura interior; isto porque todos temos feridas internas, muitas vezes ocultas, imperceptíveis, mas que podem influenciar de modo muito negativo nosso caráter, nosso comportamento, as nossas vidas, impedindo-nos de alcançar a integridade emocional, ou seja, de viver uma vida emocional equilibrada e relacionamentos sadios, e de crescer em santidade." (Mohana e Perdigão, 2000, p. 31).

Perfil do ministro de cura
Somente quem experimenta o Amor pode transbordá-lo. Só quem vivenciou a dor pode penetrar no mistério da dor dos irmãos. "O sofrimento, tão presente no nosso mundo, sob tantas formas, também está presente para desencadear no homem o amor, o dom de si mesmo em favor dos que sofrem. O mundo do sofrimento humano anseia, sem cessar, um outro mundo diverso: o mundo do amor humano. A pessoa que sofre é capaz de compadecer-se do outro que sofre igualmente. E provavelmente deve esta compaixão e doação de si ao seu próprio sofrimento, ou seja, realiza com mais verdade o 'colocar-se no lugar do outro que sofre'" (Mohana e Perdigão, 2000, p. 94).

Por isso, este é um ministério muito especial, e o ministro necessita de amadurecimento humano, de uma vida de profunda intimidade com Deus - através da oração pessoal e estudo da Palavra diários, da freqüência aos sacramentos, sobretudo Eucaristia e Confissão, e amizade com Maria - e de uma grande dedicação. O nosso olhar precisa sempre ser purificado pelo Espírito Santo, nossas palavras devem ter a suavidade mariana e todo o nosso ser precisa estar voltado para Cristo Jesus, nosso único Salvador, e centrado nele.

Isso nos faz focalizar os acontecimentos da vida de cada irmão ou irmã na ótica de Deus e não na nossa limitada visão humana. Na vida do que crê, nada é em vão nem por acaso; cada acontecimento é permissão de Deus, por isso, deve ser transformado em um grande louvor, mesmo aquilo que consideramos mau! "Tudo concorre para o bem dos que  amam a Deus" (Rm 8,28).

Porque nossa missão é tão importante, são pedidas algumas coisas para que alguém ingresse no ministério: ter participado do curso de engajamento geral da Obra; fazer parte de um grupo de oração da Obra Shalom e discernir com o coordenador, núcleo e/ou formador que esse é o seu ministério; ter feito ou estar fazendo o curso de Formação Básica; participar do curso específico para o ministério.

Depois do ingresso, é pedido que o ministro: participe, semanalmente, das reuniões de formação do ministério; atenda em pelo menos um turno por semana em uma das casas da Obra; atenda nos eventos e em domicílio ou no hospital, conforme envio e orientação da coordenação do ministério.

Cada vez que servimos neste ministério, saímos mais fortificados, pois alimenta a nossa fé ver que irmãos totalmente derrotados pelos acontecimentos da vida são reerguidos pela mão poderosa do nosso Deus. Vidas que ali chegam sem sentido saem renascidas, recriadas. É maravilhoso nos tornar "intermediários" entre Deus e o homem, ver passar pelas nossas mãos a graça de Deus para dar um rumo, um caminho à vida de muitos!

 

por
Comunidade Shalom

VERDADEIRAS E FALSAS CRUZES.



Dor que faz bem e dor que faz mal


Há um fato indiscutível, e é que o sofrimento é nosso companheiro ao longo de todo o caminho da vida. E há um segundo fato, igualmente incontestável: conforme as pessoas - conforme a qualidade da alma das pessoas -, o sofrimento esmaga ou faz crescer, destrói ou amadurece.


Essa ambivalência da dor - que pode edificar ou arrasar - indica às claras que o problema, para qualquer ser humano, não reside no sofrimento que Deus envia ou permite que apareça na nossa vida, mas na atitude com que aceitamos ou rejeitamos essa cruz, que Deus nos propõe abraçar. Como sucedeu junto de Cristo no Calvário, a cruz rejeitada afundou o mau ladrão, e a cruz aceitada com humildade, com fé e com amor, salvou o bom.


Mas, ao lado dessas cruzes enviadas ou permitidas por Deus há outras que nem Deus quer nem nós queremos, mas aparecem. São as “falsas cruzes”, que nada trazem de bom. Em que consistem?


Trata-se das “cruzes” que nós mesmos “fabricamos”, “inventamos”, e que nunca deveriam ter existido. São as que aparecem só como conseqüência da nossa mesquinhez e dos nossos defeitos. A pessoa egoísta, ciumenta, invejosa, teimosa…, sofre muito e faz sofrer os outros. Mas esses sofrimentos não são “cruzes”, no sentido cristão da palavra. São apenas a destilação amarga do nosso egoísmo. Com certeza não são a vontade de Deus; pelo contrário, trata-se de pecados mais ou menos graves, que evidentemente Deus não quer, mas nós colocamos como pedras no caminho da vida.


Se fôssemos fazer as contas, veríamos que a maioria desses sofrimentos “fabricados” indevidamente por nós brotam de uma dupla fonte: a fonte do amor-próprio e a fonte do amor pequeno.


A fonte do amor-próprio


O amor-próprio é uma fonte de péssimas cruzes. Como o orgulho nos faz sofrer! Que feridas infeccionadas não provoca! Basta uma lufada de ar - uma pequena desconsideração ou indelicadeza -, e o amor-próprio sente-se atingido como por um punhal.


Uma pessoa orgulhosa é incapaz de tolerar sem ficar magoada - sem se meter num calvário de sofrimentos íntimos - a menor humilhação, mesmo a causada involuntariamente. Fica alterada, abatida; grava a mágoa na memória e a vai remoendo lá dentro; cultiva-a na imaginação, aquece-a ao fogo da autocompaixão, vai engrossando-a à força de lhe dar importância, e termina fazendo dela uma tortura insuportável.


Bastava que fosse um pouco mais humilde, que soubesse relevar minúcias, que se esforçasse um pouco por compreender, por desculpar, por oferecer a Deus as pequenas contrariedades, e não teria nem um miligrama dessa cruz ruim, que não é a cruz de Cristo.


Se a pessoa orgulhosa sofre com tormentos fabricados pelo orgulho, que dizer da invejosa? Sempre comparando-se com os outros, sente subirem-lhe ao coração ondas de melancolia, depressões enciumadas, revoltas contra a sorte e até protestos íntimos contra a Providência de Deus. Essa pessoa invejosa, que chora frustrações, foi ela própria a criadora da sua falsa “cruz”. Se tivesse um coração mais generoso, vislumbraria, feliz e agradecida - na mesma situação em que só vê infortúnios e injustiças da vida -, dez mil bondades de Deus e motivos de ação de graças, um panorama de miúdas e saborosas alegrias, que em vez de lágrimas ou revolta lhe poriam canções dentro da alma.


A fonte do amor pequeno


Vejamos agora a segunda fonte de cruzes doentias: a do amor pequeno.


Já de início, poderíamos dizer que existe um sinal infalível de que o nosso amor é pequeno: o mau humor. Para quem ama pouco, toda a doação, toda a paciência, toda a compreensão solicitada pelo próximo é excessiva e aborrecida, qualquer sacrifício causa revolta ou malestar. O amor grande pratica generosidades grandes e nem se apercebe do sacrifício que faz. Como dizia Santo Agostinho: “Quando se ama, ou não se experimenta trabalho, ou o próprio trabalho é amado”.


Pelo contrário, o amor pequeno transforma uma palha numa “cruz” insuportável. Então, um sacrifício que caberia “dentro de um sorriso, esboçado por amor” 2, não cabe na vida e explode em forma de sofrimento irritado, com contínuos resmungos, queixas constantes e incessantes protestos. O mau humor é a sombra do amor pequeno, o sinal que o dá a conhecer.


Se olharmos de perto o que há por trás desse mau humor, veremos que, em noventa por cento dos casos, é simplesmente a pura e simples realidade da vida, com as suas incidências, lutas, dificuldades e esforços normais. Por outras palavras, o que há na raiz do mau humor é apenas a falta de aceitação da realidade, e da vontade de Deus no dia-a-dia.


É triste lamentar, como se fossem coisa do outro mundo, dificuldades que são normais. Não é nenhuma contrariedade inesperada o fato de que os outros tenham asperezas de caráter, de que o cumprimento do dever canse, de que alcançar metas profissionais custe muito, de que conseguir melhorar os nossos próprios defeitos ou os defeitos dos que nos cercam - especialmente os da mulher, do marido, dos filhos - seja algo lento e demorado. No entanto, é muito comum que, ao constatá-lo, nos sintamos indispostos, nos deixemos levar pelo aborrecimento, pela impaciência, pelo protesto, e percamos o bom humor. Reações de todo desproporcionadas e ridículas, pois lá onde nós imaginamos grandes “cruzes” está apenas a “vida”, a vida que, com um pouco mais de amor e bom humor, ficaria pontilhada de alegrias e coroada de ações de graças.


Cristo pede-nos que tomemos com amor a cruz de cada dia (Lc 9, 23), é certo, mas - lembrando o que dizia João Paulo I - essa cruz deveria ser carregada com o “sorriso cotidiano” e não fazendo dela a “tragédia cotidiana”. No entanto, muitos conseguem mudar o sorriso em tragédia.


Bastam-lhes para tanto duas coisas: em primeiro lugar, amar pouco, como já víamos. Em segundo lugar, viver mergulhados num mundo de imaginações escapistas e sonhos irreais.


Muitos são os que reclamam do real - que é a vida, sempre rica em possibilidades de amar, de crescer por dentro, de fazer o bem - e passam a instalar-se, esterilmente, no mundo irreal das hipóteses: se eu tivesse essas outras condições pessoais, essa sorte, essa oportunidade profissional…; se a minha mulher fosse mais bonita, pacífica e econômica…; se o meu país tivesse uma economia mais confiável… E, assim, enquanto vivem no mundo do “tomara que”, atolam-se no que São Josemaria Escrivá chamava a “mística do oxalá”. Desse modo, estragam a realidade, que é a única que existe e que a cada instante nos oferece ocasiões de amar e de servir e, como conseqüência, de sermos felizes.


Quem reclama sem razão da cruz cotidiana perde a cruz de Deus e encontra a “cruz” do diabo. São cheias de sabedoria aquelas palavras da Imitação de Cristo que dizem: “Se levas com gosto a cruz, ela te levará. Se a levas a contragosto, acabas por torná-la mais pesada para ti e a ti mesmo te sobrecarregas. Se rejeitas uma cruz, sem dúvida encontrarás outra, e possivelmente mais pesada” 3.


Penso que essas reflexões podem ajudar-nos a distinguir, na nossa vida, entre as “verdadeiras” e as “falsas” cruzes. Peçamos a Deus que não nos permita atolar nas cruzes falsas, para que possamos amar as verdadeiras, que nos elevam até Deus.


(Adaptação de um capítulo do livro de F. Faus Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens).





A

EM QUE É QUE A MEDITAÇÃO É CRISTÃ?



Nós meditamos porque acreditamos em Cristo, cremos em como Ele vive e em como Ele vive em nós. Acreditamos que Ele apela a que renunciemos ao nosso EU e a que O sigamos até ao Reino de Deus.
É a nossa fé que faz com que a nossa meditação seja cristã. Ela também é cristã porque está centrada na consciência humana de Jesus, no mais profundo do nosso ser.
Como cristãos, meditamos com outros cristãos e em comunidade. As nossas vidas são guiadas e enriquecidas pelas Escrituras, pelos sacramentos e por todas as inúmeras maneiras de prestar auxílio aos outros, no amor e na compaixão de Cristo.
O fundamento teológico da meditação tem por base a teologia do Evangelho. Jesus, pela sua vida, sua morte e ressurreição, abriu-nos o caminho para Deus. E enviando-nos o Espírito Santo em nós, tornou-se o nosso guia e o nosso caminho.
Jesus não ensinou nenhum método de oração. No entanto, apercebemo-nos, através da sua palavra sobre a oração no “Sermão da montanha”, que a meditação é um meio de o encontrar e de o seguir.
1. Ele diz que a oração, as boas acções não devem ser apenas exteriores (Mt 6, 1-4). Não se trata de parecer santo ou de suscitar a admiração dos outros, nem de nos sentirmos santos e por isso Mateus diz “...não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita...” (Mt 6, 3). A nossa oração deve ser humilde e não centrada em nós mesmos.
2. A oração deve ser interior. Aquele que desejar que a sua oração se torne demasiadamente pública é um hipócrita. Jesus diz-nos para irmos para “o nosso quarto” (Mt 6, 5-6) e para rezarmos em silêncio nesse “lugar secreto”. A palavra secreto significa misterioso e o quarto significa metaforicamente o interior do nosso próprio coração.
3. Enquanto oramos, devemos evitar as “vãs repetições” (Mt 6, 7), pois não é por muito falarmos que Deus nos ouve melhor.
4. A oração não tem por objectivo pedir coisas a Deus, pois Ele sabe o que nos é necessário muito antes de Lho pedirmos (Mt 6, 8).
5. É preferível procurar os tesouros espirituais do reino, do que o bem-estar material (Mt 6, 20)
6. Devemos aprender a não nos inquietarmos com o futuro e ter confiança em Deus (Mt 6, 25). A inquietação é inimiga da oração e faz com que nos centremos demasiadamente em nós, impedindo-nos de ter consciência do dom que sempre esteve depositado com amor no nosso coração.
7. Finalmente, Jesus ensinou-nos que a oração consiste em primeiro lugar em centrar o nosso espírito no Reino de Deus (Mt 6, 33). Por outras palavras, a estar atento ao que é essencial.
Na meditação pomos em prática os ensinamentos de Jesus sobre a oração: humildade, interioridade, silêncio, confiança, espiritualidade, paz, atenção.
“Não vos inquietais com o dia de amanhã”, diz-nos Jesus. Na meditação, cessamos de pensar no passado ou no futuro e aprendemos a viver intensamente o momento presente.
Infelizmente, Deus parece-nos muitas vezes ausente, porque nós não estamos no momento presente, que é o “aqui e o agora”. Passamos uma boa parte das nossas vidas fechada em pensamentos que se reportam ao passado e ao futuro.
É unicamente no momento do presente que podemos encontrar Deus, o Deus que diz “EU SOU”.
A experiência da contemplação é simplesmente: estar consciente do momento presente. Não pretendemos alcançar o domínio de técnicas ou de teorias complexas e difíceis para poder meditar. Temos apenas de “voltar a casa” e de “acordar”. É nisto que o mantra nos ajuda.

A

LITURGIA DIÁRIA - A MORTE DE JOÃO BATISTA.


Primeira Leitura: Jeremias 1, 17-19
 MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA
(vermelho, pref. próprio - ofício da memória)

Leitura do livro do profeta Jeremias - Naqueles dias, 17Tu, porém, cinge-te com o teu cinto e levanta-te para dizer-lhes tudo quanto te ordenar. Não temas a presença deles; senão eu te aterrorizarei à vista deles; 18quanto a mim, desde hoje, faço de ti uma fortaleza, coluna de ferro e muro de bronze, (erguido) diante de toda nação, diante dos reis de Judá e seus chefes, diante de seus sacerdotes e de todo o povo da nação. 19Eles te combaterão mas não conseguirão vencer-te, porque estou contigo, para livrar-te - oráculo do Senhor. - Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial(70)
 REFRÃO: Minha boca anunciará vossa justiça.
1. É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio; que minha esperança não seja para sempre confundida. Por vossa justiça, livrai-me, libertai-me; inclinai para mim vossos ouvidos e salvai-me. - R.
2. Sede-me uma rocha protetora, uma cidadela forte para me abrigar: e vós me salvareis, porque sois meu rochedo e minha fortaleza. Meu Deus, livrai-me da mãos do iníquo, das garras do inimigo e do opressor, - R.
3. porque vós sois, ó meu Deus, minha esperança. Senhor, desde a juventude vós sois minha confiança. Em vós eu me apoiei desde que nasci, desde o seio materno sois meu protetor; em vós eu sempre esperei. - R.
4. Minha boca proclamará vossa justiça e vossos auxílios de todos os dias, sem poder enumerá-los todos. - R.
5. Vós me tendes instruído, ó Deus, desde minha juventude, e até hoje publico as vossas maravilhas. - R.
Evangelho: Marcos 6, 17-29

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele tempo, 17Pois o próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. 18João tinha dito a Herodes: Não te é permitido ter a mulher de teu irmão. 19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, não o conseguindo, porém. 20Pois Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo; protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente o ouvia. 21Chegou, porém, um dia favorável em que Herodes, por ocasião do seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galiléia. 22A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. 23E jurou-lhe: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino. 24Ela saiu e perguntou à sua mãe: Que hei de pedir? E a mãe respondeu: A cabeça de João Batista. 25Tornando logo a entrar apressadamente à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista. 26O rei entristeceu-se; todavia, por causa da sua promessa e dos convivas, não quis recusar. 27Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere, 28trouxe a sua cabeça num prato e a deu à moça, e esta a entregou à sua mãe. 29Ouvindo isto, os seus discípulos foram tomar o seu corpo e o depositaram num sepulcro. - Palavra da salvação.
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Homilia - Pe Bantu
No dia de hoje, 29 de Agosto, a tradição cristã recorda o martírio de São João Baptista, o maior entre os nascidos de mulher, segundo o elogio do próprio Messias. Ele prestou a Deus o testemunho supremo do sangue, imolando a sua existência pela verdade e a justiça; com efeito, foi decapitado por ordem de Herodes, a quem tinha ousado dizer que não era lícito casar com a mulher do seu irmão, como acabamos de ouvir nos texto sagrado.

Falando da morte de João Baptista, o papa João Paulo II diz na Carta Encíclica Veritatis splendor (cf. n. 91) que o martírio constitui um sinal preclaro da santidade da Igreja. Efectivamente, ele “representa o ponto mais alto do testemunho a favor da verdade moral. Se são relativamente poucas as pessoas chamadas ao sacrifício supremo, há porém um testemunho coerente que todos os cristãos devem estar prontos a dar em cada dia, mesmo à custa de sofrimentos e de graves sacrifícios. Assim tu meu irmão, minha irmã, não podes e nem deves fugir. Gostaria que soubesses que desde o início do cristianismo percebemos que três elementos estão quase sempre unidos: testemunho, profecia e doação da própria vida. É verdadeiramente necessário um compromisso, com estas três vias, por vezes heróicas, para não ceder, até mesmo na vida quotidiana: em casa com o marido, com os filhos, colegas do trabalho, com os familiares de perto ou de longe. É necessário saber que às dificuldades nos levam ao compromisso para viver na totalidade o Evangelho.

O exemplo heróico de João Baptista nos deve fazer pensar nos mártires da fé que, ao longo dos séculos, seguiram corajosamente as suas pegadas. De modo especial, voltemos à mente aos numerosos cristãos que, no mundo inteiro, foram vítimas do ódio, e da perseguição religioso. Mesmo hoje, nalgumas partes do mundo, os fiéis continuam a ser submetidos a duras provações, em virtude da sua adesão a Cristo e à sua Igreja.

Os impérios opressores que existiram na história continuaram deixando seus mártires. Seus projetos elitistas e imperialistas fizeram com que seus chefes continuassem a embriagar-se com o sangue dos mártires.

Portanto, o martírio não deve ser buscado por ninguém. Em última palavra, o martírio é uma graça de Deus. Mas, dele não se deve fugir, se é necessário dar o testemunho e para defender a vida do povo. Jesus também nos ensina que não devemos ter medo daqueles que matam o corpo. Por isso, dar a vida é a melhor forma de amor, a exemplo de Jesus que nos amou até o extremo. O máximo do amor é dar a vida pelos seus. Deste modo, a vida não é tirada, mas é dada livremente.

Foi isso que fez São João Batista em meio à crueldade que ameaçava a fidelidade conjugal, lutou e sendo testemunha e testemunho fiel derramou o seu sangue, pagando com a própria vida.

Ontem como hoje, o banquete dos criminosos continua sendo regado a sangue, como foi o de Herodes como nós ouvimos no Evangelho de hoje. Por isso, lembrar o morte de João Batista é não deixar morrer sua história, é recordar o seu testemunho, sua profecia e sua coragem; é lembrar que, se preciso for, todos devemos estar dispostos a lavar as nossas vestes e as branquear no sangue do Cordeiro (Ap 7,14),

domingo, 28 de agosto de 2011

HOMILIA DOMINICAL - COMO SEGUIR JESUS?


O profeta Jeremias, num momento de crise pessoal, confessa ter sido seduzido por Deus: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir...”. Sua opção pela justiça de Deus custou-lhe muito sofrimento. Teve que suportar zombarias por todo lado. Sentiu que a Palavra do Senhor tornara-se para ele “fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro”. “Mas a voz de Deus era como um fogo ardente no seu peito. Não conseguia reprimi-la... Tal é a sorte do profeta. Paulo, ressalta o comportamento no dia a dia do cristão. A vida cristã se caracteriza por uma contínua busca da vontade de Deus, uma cotidiana adesão ao seu projeto, como uma resposta total e fiel ao chamado, à vocação, às orientações de sua Palavra e da Boa-Nova de Jesus. Jesus explica aos seus discípulos qual é o rumo de seu messianismo. Pensa no Servo Sofredor de Deus, que liberta o mundo por sua dedicação até a morte... Mas ninguém é obrigado a segui-lo. “Se alguém quiser me seguir”, diz Jesus. Portanto, trata-se de uma escolha pessoal. Optar por segui-lo significa a mesma sorte e o mesmo destino que ele: renunciar a si mesmo e tomar a cruz... O resultado final de tal opção é: ‘encontrar a vida’. O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser diferente do destino do mestre. O evangelho de hoje é claro. “Para estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo é deixar de lado toda ambição pessoal. Carregar a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca o surgimento do Reino... Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de valores e critérios de decisão. A mania do sucesso, o prazer de dominar, de aparecer, de mandar... já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a cruz, até o fim”.
A liturgia do 22º domingo do tempo comum convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”: o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida (cruz).
Na primeira leitura, um profeta de Israel (Jeremias) descreve a sua experiência de “cruz”. Seduzido por Jahwéh, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projetos. Nesse “caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição… É essa a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Jahwéh no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.
A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver em consequência.
No Evangelho, Jesus avisa os discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida (até a morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
1ª leitura: Jer. 20,7-9 - Ambiente
Jeremias nasceu em Anatot (a norte de Jerusalém), por volta de 650 a.C. Ainda novo (por volta de 627/626 a.C.), sentiu que Deus o chamava a ser profeta. A atividade profética de Jeremias prolongou-se até depois da destruição de Jerusalém pelos babilônios (586 a.C.). O cenário da atividade do profeta foi, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém). Jeremias viveu numa época histórica bastante conturbada. Foi um período de grande instabilidade, de injustiças sociais gritantes, de infidelidade religiosa. Quer Joaquim (609-597 a.C.) quer Sedecias (597-586 a.C.) foram reis fracos, incapazes de responder com êxito às exigências da conjuntura internacional e de manter uma política de neutralidade em relação às grandes potências da época (sobretudo o Egito e a Babilônia). Jeremias – convencido de que Judá estava a ser infiel a Deus ao deixar de confiar em Jahwéh e ao colocar a sua segurança e a sua esperança nas mãos dos povos estrangeiros – criticou duramente os líderes do Povo e anunciou uma invasão estrangeira, destinada a castigar os pecados de Judá.
A pregação de Jeremias não foi, no entanto, apreciada pelo Povo e pelos líderes. Considerado um “profeta da desgraça”, Jeremias apenas conseguiu criar o vazio à sua volta e viu os amigos, os familiares, os conhecidos voltarem-lhe as costas. Conheceu a solidão, o abandono, a maledicência… Acusado de traição e encarcerado (cf. Jer. 37,11-16), o profeta chegou a correr perigo de vida (cf. Jer. 38,11-13).
Jeremias é o paradigma dos profetas que sofreram por causa da sua missão. De natureza sensível e cordial, homem de paz, Jeremias não foi feito para o confronto, para a violência das palavras ou dos gestos; mas Jahwéh chamou-o para “arrancar e destruir, para exterminar e demolir” (Jer. 1,10), para predizer desgraças e anunciar destruição e morte (cf. Jer. 20,8). Como consequência, foi continuamente objeto de desprezo e de irrisão e todos o maldiziam e se afastavam mal ele abria a boca. E esse homem bom, sensível e delicado sofria terrivelmente pelo abandono e pela solidão a que a missão profética o condenava.
Jeremias estava, verdadeiramente, apaixonado pela Palavra de Jahwéh e sabia que não teria descanso se não a proclamasse com fidelidade. Mas, nos momentos mais negros de solidão e de frustração, o profeta deixou, algumas vezes, que a amargura que lhe ia no coração lhe subisse à boca e se transformasse em palavras. Então, dirigia-se a Deus e censurava-O asperamente por causa dos problemas que a missão lhe trazia.
No Livro de Jeremias aparecem, a par e passo, queixas e lamentos do profeta, condenado a essa vida de aparente fracasso. Alguns desses textos são conhecidos como “confissões de Jeremias” e são verdadeiros desabafos em que o profeta expõe a Jahwéh, com sinceridade e rebeldia, a sua desilusão, a sua amargura e a sua frustração (cf. Jr. 11, 18-23; 12,1-6; 15,10.15-20; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18). O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma dessas “confissões”.
Mensagem
O texto apresenta-nos uma desconcertante oração de Jeremias num momento dramático de desilusão e de desânimo (quando, preso pelos ministros de Sedecias e atirado para uma cisterna, se afundava no lodo? – cf. Jr. 38,4-6).
Esta estranha oração adota a forma de denúncia ou de acusação do profeta ao seu Deus. Essa acusação é formulada através da imagem da “sedução”: é como se Jahwéh tivesse namorado o profeta até ao ponto de o seduzir (o verbo “pth”, aqui utilizado, aparece em Ex 22,15 para falar da sedução de uma jovem solteira). Deus insinuou-Se na vida do profeta, pressionou-o, subjugou-o, dominou-o e o profeta não soube como resistir às investidas de Deus (o verbo “ykl”, utilizado no vers. 7 para definir a forma como Deus atuou em relação ao profeta, significa “exercer o poder”, “prevalecer sobre alguém”, “dominar”). O profeta, embalado pelas promessas desse Deus sedutor, incapaz de resistir ao seu “charme” e aos seus jogos de sedução, pressionado, dominado, violentado, entregou-se completamente nas suas mãos e dedicou toda a vida ao seu serviço.
O que é que o profeta ganhou com essa entrega? Nada. Esse Deus que o seduziu, que o forçou a dedicar a vida ao serviço profético, abandonou-o miseravelmente e deixou-o entregue aos insultos e às zombarias dos seus adversários. O profeta está desiludido e decepcionado… Essa desilusão irrompe em resolução firme de resistir à voz do sedutor: “não voltarei a falar nele, não falarei mais em seu nome” (v. 9). Conseguirá o profeta levar até ao fim o seu propósito?
Não. O amor por Deus e pela sua Palavra está tão vivo no coração do profeta que é inútil resistir: “procurava contê-lo, mas não podia” (v. 9). A Palavra de Deus é um fogo devorador, que consome o coração do profeta e que não o deixa demitir-se da missão e esconder-se numa vida cômoda e instalada. Ao profeta resta, portanto, continuar ao serviço da Palavra, enfrentando o seu destino de solidão e de sofrimento, na esperança de, ao longo da caminhada, reencontrar esse amor de Deus que um dia o seduziu e ao qual o profeta nunca saberá renunciar.
Atualização
A história de Jeremias é, em termos gerais, a história de todos aqueles que Deus chama a ser profetas. Ser sinal de Deus e dos seus valores significa enfrentar a injustiça, a opressão, o pecado e, portanto, pôr em causa os interesses egoístas e os esquemas sobre os quais, tantas vezes, se constrói a história do mundo; por isso, o “caminho profético” é um caminho onde se lida, permanentemente, com a incompreensão, com a solidão, com o risco. Deus nunca prometeu a nenhum profeta um caminho fácil de glórias e de triunfos humanos. Temos consciência disso e estamos dispostos a seguir esse caminho?
No batismo, fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou? Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e se dirige aos homens?
Neste texto – e, em geral, em toda a vida de Jeremias – impressiona-nos o espaço fundamental que a Palavra de Deus ocupa na vida do profeta. Ela tomou conta do seu coração e dominou-o totalmente. É uma “paixão” que – apesar de ter trazido ao profeta uma história pessoal de sofrimento e de risco – não pode ser calada e sufocada. Que espaço ocupa a Palavra de Deus ocupa na minha vida? Amo, de forma apaixonada, a Palavra de Deus? Estou disposto a correr todos os riscos para que a Palavra de Deus alcance a vida dos meus irmãos e renove o mundo?
O lamento de Jeremias não deve escandalizar-nos; mas deve ser entendido no contexto de uma situação trágica de sofrimento intolerável. É o grito de um coração humano dolorido, marcado pela incompreensão dos que o rodeiam, pelo abandono, pela solidão e pelo aparente fracasso da missão a que devotou a sua vida. É o mesmo lamento de tantos homens e mulheres, em tantos momentos dramáticos de solidão, de sofrimento, de incompreensão, de dor. É a expressão da nossa finitude, da nossa fragilidade, das nossas limitações, da nossa humanidade. É precisamente nessas situações que nos dirigimos a Deus (às vezes até com expressões menos próprias) e Lhe dizemos a falta que Ele nos faz e o quanto a nossa vida é vazia e sem sentido se Ele não nos estender a sua mão. Esses momentos não são, propriamente, momentos negativos da nossa caminhada de fé e de relação com Deus; mas são momentos (talvez necessários) de crescimento e de amadurecimento, em que experimentamos a nossa fragilidade e descobrimos que, sem Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.
2ª leitura: Rm. 12,1-2 - Ambiente
Depois de apresentar a sua catequese sobre o projeto de salvação que Deus tem para todos os homens (cf. Rm. 1,18-11,36), Paulo vai descer a considerações de caráter mais prático, destinadas a mostrar como deve viver aquele que é chamado à salvação.
Essas indicações práticas aparecem na segunda parte da Carta aos Romanos (cf. Rm. 12,1-15,13). Aí Paulo apresenta um longo discurso exortativo, no qual convida os romanos (e os crentes em geral) a comportar-se de acordo com as exigências da sua condição de batizados. Aderir a Cristo e acolher a salvação que Ele veio oferecer não significa ficar no simples campo das verdades teóricas e abstratas (por muito bonitas e profundas que elas possam ser), mas exige um comportamento coerente com os valores de Jesus e com a vida nova que Ele oferece. A adesão a Jesus implica assumir atitudes, nos vários momentos e situações da vida diária, que sejam a expressão existencial desse dinamismo de vida nova que resulta do batismo.
O texto que hoje nos é proposto é a introdução à segunda parte da Carta e a esta reflexão prática sobre as exigências do caminho cristão. Apresentam-se como uma espécie de ponte entre a parte teórica (primeira parte da carta) e a parte prática (segunda parte da carta).
Mensagem
A bondade e o amor de Deus (de que Paulo tratou abundantemente nos capítulos anteriores) convida a uma resposta do homem. Como é que deve ser essa resposta?
Paulo convida os crentes a oferecerem-se a si mesmos (literalmente “os vossos corpos”. “Corpo” não designa, aqui, essa entidade distinta da alma, mas a pessoa na sua totalidade, enquanto ser em relação. É o homem enquanto ser que se relaciona com Deus, com os outros homens e com o mundo). Os cristãos são aqueles que se entregam completamente nas mãos de Deus e que, em todos os instantes da sua existência, vivem para Deus. Essa oferta será um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. É esse “culto espiritual” (pode traduzir-se também como “culto lógico” ou “culto razoável”) que Deus espera do homem. O adjetivo utilizado por Paulo para referir-se ao culto é utilizado em contextos análogos, tanto por autores judeus como por autores gregos, para marcar a diferença entre um culto formal e exterior, que não compromete o homem e o culto verdadeiro, que brota do coração e que compromete o homem inteiro (cf. Am. 5,21-25; Os 6,6; Jo 4,23-24). Os crentes devem, portanto, oferecer inteiramente as suas vidas a Deus; e é esse o culto que Deus espera desses sobre quem derrama a sua misericórdia e a quem oferece a salvação.
Na perspectiva de Paulo, o que é que significa o homem oferecer inteiramente a sua vida a Deus?
Significa, em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo” – isto é, manter uma distância crítica em relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais este mundo de egoísmo e de pecado se constrói. Significa, em segundo lugar, uma mudança de coração, de mentalidade e de inteligência, que possibilite ao homem discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade, os seus caminhos.
O “culto espiritual” de que Paulo fala é, portanto, a entrega a Deus da totalidade da vida do homem. Na sua relação com Deus, com os outros homens e com o mundo, o cristão deve renunciar aos caminhos do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência, da injustiça e do pecado; e deve procurar conhecer os projetos de Deus, acolhê-los no coração e viver em coerência total com as suas propostas.
Atualização
Como é que o crente deve responder aos dons de Deus? Com atos rituais solenes e formais, com orações ou gestos tradicionais repetidos de forma mecânica, com a oferta de uma “esmola” para os cofres da Igreja, com uma peregrinação a um santuário? Paulo responde: o culto que Deus quer é a nossa vida, vivida no amor, no serviço, na doação, na entrega a Deus e aos irmãos. Respondemos ao amor de Deus entregando-nos nas suas mãos, tentando perceber as suas propostas, vivendo na fidelidade aos seus projetos. Como é o culto que eu procuro prestar a Deus: é um somatório de gestos mecânicos, rituais e externos, ou é uma vida de entrega e de amor a Deus e aos homens meus irmãos?
“Não vos conformeis com este mundo” – pede Paulo. O cristão é alguém que não pactua com um mundo que se constrói à margem ou contra os valores de Deus. O cristão não pode pactuar com a violência como meio para resolver os problemas, nem com a lógica materialista do sucesso a qualquer custo, nem com as leis do neo-liberalismo que deixam atrás uma multidão de vencidos e de sofredores, nem com as exigências de uma globalização que favorece alguns privilegiados mas aumenta as bolsas de miséria e de exclusão, nem com a forma de organização de uma sociedade que condena à solidão os velhos e os doentes… Eu sou um comodista, egoisticamente instalado no meu cantinho a devorar a minha pequena fatia de felicidade, ou sou alguém que não se conforma e que luta para que os projetos de Deus se concretizem?
“Transformai-vos pela renovação espiritual da vossa mente” – diz Paulo. Estou instalado nos meus preconceitos, nas minhas certezas e seguranças, nos meus princípios imutáveis, ou estou sempre numa permanente escuta de Deus, dos seus caminhos, dos seus projetos e propostas?
Evangelho: Mt. 16,21-27
O episódio que o Evangelho de hoje nos propõe vem na sequência daquele que lemos e refletimos no passado domingo. Então (cf. Mt. 16,13-20), a comunidade dos discípulos expressava a sua fé em Jesus como o “Messias, Filho de Deus” (é sobre essa fé – diz Jesus – que a Igreja será edificada); agora, Jesus vai explicar a esse grupo de discípulos o sentido autêntico do seu messianismo e da sua filiação divina.
Continuamos, ainda, no âmbito da “instrução sobre o Reino” (cf. Mt. 13,1-17,27); no entanto, iniciamos, com este episódio, uma secção onde se privilegia a catequese sobre esse destino de cruz que aparece no horizonte próximo de Jesus (cf. Mt. 16,21-17,27).
Nesta fase, as multidões ficaram para trás e os líderes já decidiram rejeitar Jesus. Quem continua a acompanhar Jesus, de forma indefectível, é o grupo dos discípulos. Eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Jesus vai, no entanto, explicar-lhes que o seu messianismo não passa por triunfos e êxitos humanos, mas pela cruz (cf. Mt. 16,21-17,21); e vai avisá-los de que viver como discípulo é seguir esse caminho da entrega e do dom da vida (cf. Mt. 17,22-27).
Mateus escreve o seu Evangelho para comunidades cristãs do final do séc. I (anos 80/90). São comunidades instaladas, que já esqueceram o fervor inicial e que se acomodaram num cristianismo morno e pouco exigente. Com a aproximação de tempos difíceis (no horizonte próximo estão já as grandes perseguições do final do séc. I), é conveniente que os crentes recordem que o caminho cristão não é um caminho fácil, percorrido no meio de êxitos e de aplausos, mas é um caminho difícil, que exige diariamente a entrega e o dom da vida.
Mensagem
O nosso texto pode, claramente, dividir-se em duas partes. Na primeira (vs. 21-23), Jesus anuncia aos discípulos a sua paixão; na segunda (vs. 24-28), Jesus apresenta uma instrução sobre o significado e as exigências de ser seu discípulo.
A primeira parte começa com o anúncio de Jesus de que o caminho para a ressurreição passa pelo sofrimento e pela morte na cruz. Não é uma previsão arriscada: depois do confronto de Jesus com os líderes judeus e depois que estes rejeitaram de forma absoluta a proposta do Reino, é evidente que o judaísmo medita a eliminação física de Jesus. Jesus tem consciência disso; no entanto, não se demite do projeto do Reino e anuncia que pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro (e dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade) significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus dirige-Se a Pedro com alguma dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas consequências (de que a cruz é a expressão mais radical). Ao pedir a Jesus que não embarque nos projetos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mt. 4,3-10); por isso, Mateus coloca na boca de Jesus a mesma resposta que, então, Ele deu ao diabo: “Retira-te, Satanás”. As palavras de Pedro – como as do diabo anteriormente – pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus. Na segunda parte, Jesus apresenta uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega e de dom da vida.
O que é que significa, exatamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu egoísmo e auto-suficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança, de bem-estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
O que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-l’O? A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida – de forma total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes. No final desta instrução, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz” (vs. 25-27). Em primeiro lugar, Jesus convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas (v. 25).
Em segundo lugar, os discípulos são convidados a perceber que a vida que gozam neste mundo não é a vida definitiva. Não devem, pois, preocupar-se em preservá-la a qualquer custo: devem é procurar encontrar, já nesta terra, essa vida definitiva que passa pelo amor total e pelo dom a Deus e aos outros. É essa a grande meta que todos devem procurar alcançar (v. 26). Em terceiro lugar, os discípulos devem pensar no seu encontro final com Deus: nessa altura, Deus dar-lhes-á a recompensa pelas opções que fizeram… Esta alusão ao momento do juízo não é rara em Mateus: ele recorre, com alguma frequência, a esta motivação para fundamentar as exigências éticas da vida cristã.
Atualização
Na reflexão, considerar os seguintes dados:
Frente a frente, o Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro?
Jesus tornou-Se um de nós para concretizar os planos do Pai e propor aos homens – através do amor, do serviço, do dom da vida – o caminho da salvação, da vida verdadeira. Neste texto (como, aliás, em muitos outros), fica claramente expressa a fidelidade radical de Jesus a esse projeto. Por isso, Ele não aceita que nada nem ninguém O afaste do caminho do dom da vida: dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente. Que significado e que lugar ocupam na minha vida os projetos de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de Deus a meu respeito e a respeito do mundo? Estou atento a esses “sinais dos tempos” através dos quais Deus me interpela? Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus interesses e projetos pessoais?
Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser batizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.
O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho