segunda-feira, 31 de julho de 2023

Santo Inácio de Loyola - A força da fé.

 A força da fé

Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos abismos; e toda língua proclame, para glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor (Fl 2,10s).

Inácio nasceu na Espanha, em 1491, e faleceu na Itália, em 1556. Em sua juventude, dedicou-se ao serviço militar. Ferido gravemente em batalha, passou o longo tempo de recuperação lendo a vida de Cristo e dos santos, experiência que foi fundamental para uma mudança radical em seu ser. Estudou filosofia e teologia em Paris, onde fundou a Companhia de Jesus, os Jesuítas. É autor do famoso livro Exercícios espirituais. Celebrando sua memória, peçamos por todos aqueles que se consagram ao anúncio incansável do Reino.

Primeira Leitura: Êxodo 32,15-24.30-34

Leitura do livro do Êxodo – Naqueles dias, 15Moisés voltou do cume da montanha, trazendo nas mãos as duas tábuas da aliança, que estavam escritas de ambos os lados. 16Elas eram obra de Deus, e a escritura nelas gravada era a escritura mesma de Deus. 17Josué, ouvindo o tumulto do povo que gritava, disse a Moisés: “Há gritos de guerra no acampamento!” 18Moisés respondeu: “Não são gritos de vitória nem gritos de derrota; o que ouço são vozes de gente que canta”. 19Quando chegou perto do acampamento e viu o bezerro e as danças, Moisés encheu-se de ira e arremessou por terra as tábuas, quebrando-as no sopé da montanha. 20Em seguida, apoderou-se do bezerro que haviam feito, queimou-o e triturou-o, até reduzi-lo a pó. Depois, espalhou o pó na água e fez os filhos de Israel beberem dela. 21Moisés disse a Aarão: “Que te fez este povo, para atraíres sobre ele tão grande pecado?” 22Aarão respondeu: “Não se indigne o meu senhor. Tu bem sabes que este povo é inclinado ao mal. 23Eles me disseram: ‘Faze-nos deuses que caminhem à nossa frente, pois, quanto àquele Moisés que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu’. 24Eu, então, lhes disse: ‘Quem de vós tem ouro?’ Eles trouxeram ouro e me entregaram, e eu lancei-o no fogo e saiu este bezerro”. 30No dia seguinte, Moisés disse ao povo: “Vós cometestes um grandíssimo pecado. Mas vou subir ao Senhor para ver se de algum modo poderei obter perdão para o vosso delito”. 31Moisés voltou para junto do Senhor e disse: “Ah! Este povo cometeu um grandíssimo pecado: fizeram para si deuses de ouro. 32Peço-te que lhe perdoes esta culpa, senão, risca-me do livro que escreveste”. 33O Senhor respondeu a Moisés: “É aquele que pecou contra mim que eu riscarei do meu livro. 34E agora vai e conduze este povo para onde eu te disse. O meu anjo irá à tua frente; mas, quando chegar o dia do castigo, eu os punirei por este seu pecado”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 105(106)

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!

1. Construíram um bezerro no Horeb / e adoraram uma estátua de metal; / eles trocaram o seu Deus, que é sua glória, / pela imagem de um boi que come feno. – R.

2. Esqueceram-se do Deus que os salvara, / que fizera maravilhas no Egito; / no país de Cam fez tantas obras admiráveis, / no mar Vermelho, tantas coisas assombrosas. – R.

3. Até pensava em acabar com sua raça, / não se tivesse Moisés, o seu eleito, interposto, / intercedendo junto a ele / para impedir que sua ira os destruísse. – R.

Evangelho: Mateus 13,31-35

Aleluia, aleluia, aleluia.

Deus nos gerou pela Palavra da verdade / como as primícias de suas criaturas (Tg 1,18). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”. 33Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”. 34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo”. – Palavra da salvação.

Reflexão

O Evangelho desta segunda-feira nos fala da força e dinâmica interna (ou seja, da δύναμις de que fala S. Paulo em Rm 1, 16) da ação de Deus tanto na Igreja ao longo do tempo como na alma dos fiéis em particular. Para ilustrá-lo, Jesus recorre a duas de suas mais conhecidas parábolas: 1) a do grão de mostarda e 2) a do fermento na massa. Vejamos cada uma delas separadamente.

1. O grão de mostarda . — O Reino de Deus é semelhante à “semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim”. Esta semente, embora seja a menor de todas, “cresce e torna-se uma grande árvore” (lt. ‘factum est in arborem’). Trata-se, obviamente, de uma hipérbole ou, talvez, de uma expressão popular e corriqueira nos tempos de Cristo. Este “exagero” expressivo do qual Jesus lança mão alude ao vaticínio de Ezequiel, em que um ramo de cedro é arrebatado por Deus e plantado no cimo do monte Sião. Ali, ele “estenderá seus galhos e dará fruto; tornar-se-á um cedro magnífico, onde aninharão aves de toda espécie, instaladas à sombra de sua ramagem” (Ez 17, 22).

Assim também o grão de mostarda, espargido no mundo pelo Filho de Deus, ainda que pareça a menor das sementes, vai crescendo dia após dia, a ponto de tornar-se, para espanto de muitos, uma árvore frondosa e verdejante, sob cujos ramos as aves do céu vêm fazer abrigo. Esta semelhança entre o grão de mostarda e a Igreja se vê: a) por sua origem discreta e quase desprezível, pois a humildade é a “marca registrada” das obras de Deus, que escolhe o que é vil, estulto e fraco aos olhos do mundo para confundir os sábios e fortes da terra (cf. 1Cor 1, 27-31); b) por seu crescimento admirável, pois assim como de um grão pequenino brota uma planta vistosa, do mesmo modo a Igreja, minúscula nos seus primórdios, cresce à base da seiva vivificante da graça e da Palavra de Deus, infundida pelo Espírito Santo no coração dos seus ramos; c) por seu desenvolvimento orgânico, pois assim como a planta não é mais do que a semente já madura, assim também a Igreja que hoje vemos é a mesma que Nosso Senhor instituiu há dois mil anos sobre o fundamento dos Apóstolos.

2. O fermento na massa. — O Reino de Deus é ainda “como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”. Esta profunda e brevíssima parábola não só reitera o sentido da anterior como indica o quão grande é a força oculta do Evangelho para transformar pouco a pouco, à semelhança da levedura, as convicções e sentimentos mais íntimos da humanidade, a ponto de converter o mundo inteiro, morto pelo pecado e insípido pela falta de amor, numa massa saborosa, em um Corpo único no qual estejam reunidos, como em uma só família, todos os que Cristo conquistou por seu Sangue. Esta virtude oculta da graça não deixará de atuar “até que tudo fique fermentado”, ou seja, até que se cumpra plenamente em nós aquela vocação à perfeição na caridade a que fomos chamados. Por isso, podemos ver nesta parábola certa alusão à SS. Eucaristia, o fermento novo da pureza e da verdade, que nos purifica do fermento velho da malícia e da corrupção (cf. 1Cor 5, 7-8), penetrando-nos com a vida do próprio Cristo e assemelhando-nos cada vez mais, por sua contínua ação santificadora, à natureza do próprio Deus.

 

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domingo, 30 de julho de 2023

17º Domingo do Tempo Comum - A pérola de grande valor.

 Parábola do Tesouro Escondido – Wikipédia, a enciclopédia livre

Deus habita em seu templo santo, reúne seus filhos em sua casa; é ele que dá força e poder a seu povo (Sl 67,6s.36).

Estamos reunidos como filhos e filhas de Deus para nos alimentarmos da verdadeira sabedoria, que brota de sua Palavra. Convidados a realizar o projeto de salvação que o Senhor tem para a humanidade, busquemos nesta Eucaristia celebrar e compartilhar os tesouros do seu Reino, que dão sentido e alegria à nossa vida.

Primeira Leitura: 1 Reis 3,5.7-12

Leitura do primeiro livro dos Reis – Naqueles dias, 5em Gabaon, o Senhor apareceu a Salomão em sonho, durante a noite, e lhe disse: “Pede o que desejas, e eu te darei”. 7E Salomão disse: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar. 8Além disso, teu servo está no meio do teu povo eleito, povo tão numeroso, que não se pode contar ou calcular. 9Dá, pois, ao teu servo um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal. Do contrário, quem poderá governar este teu povo tão numeroso?” 10Essa oração de Salomão agradou ao Senhor. 11E Deus disse a Salomão: “Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, 12vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti nem haverá depois de ti”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 118(119)

Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa Palavra!

1. É esta a parte que escolhi por minha herança: / observar vossas palavras, ó Senhor! / A lei de vossa boca, para mim, / vale mais do que milhões em ouro e prata. – R.

2. Vosso amor seja um consolo para mim, / conforme a vosso servo prometestes. / Venha a mim o vosso amor e viverei, / porque tenho em vossa lei o meu prazer! – R.

3. Por isso amo os mandamentos que nos destes / mais que o ouro, muito mais que o ouro fino! / Por isso eu sigo bem direito as vossas leis, / detesto todos os caminhos da mentira. – R.

4. Maravilhosos são os vossos testemunhos, / eis por que meu coração os observa! / Vossa Palavra, ao revelar-se, me ilumina, / ela dá sabedoria aos pequeninos. – R.

Segunda Leitura: Romanos 8,28-30

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 28sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 13,44-52 ou 44-46

[A forma breve está entre colchetes.]

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu te louvo, ó Pai santo, / Deus do céu, Senhor da terra: / os mistérios do teu Reino / aos pequenos, Pai, revelas! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus [Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 44“O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.] 47O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos 50e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes. 51Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. – Palavra da salvação.

Reflexão

No Evangelho de hoje, o Senhor estabelece duas belas comparações com o Reino dos Céus: ele é como um tesouro escondido no campo e como uma pérola de grande valor. Um detalhe importante que não podemos deixar despercebido é o fato de Jesus dirigir estas palavras, não às multidões, como está escrito no Lecionário, mas aos discípulos. É o próprio Evangelista quem o nota, quando escreve pouco versículos antes que o Senhor, tendo despedido a turba, entrou em casa, e seus discípulos agruparam-se ao redor dEle para perguntar-Lhe privadamente o sentido da parábola do joio no campo (cf. Mt 13, 36). Ele, que falava ao povo por meio de figuras (cf. Mt 13, 34), explica tudo de forma clara e aberta aos que O seguem de perto, visto que já começaram a crer como convém e a conhecê-lO na intimidade. É por isto, aliás, que depois de estabelecer as duas comparações referidas acima, Ele pergunta aos discípulos: "Compreendestes tudo isto?", que Lhe respondem sem demora: "Sim, Senhor" (Mt 13, 51).

Pois os que se aproximam de Cristo de coração sincero e se deixam iluminar pela tornam-se capazes, como escribas instruídos nas coisas do Reino dos Céus (cf. Mt 13, 52), de enxergar a presença do Senhor em cada passagem das Sagradas Escrituras; vêem-nO escondido em todo o Antigo Testamento, como um tesouro enterrado no campo, e O reconhecem como uma jóia de inestimável valor, pela qual vale a pena entregar tudo com alegria. Peçamos-Lhe hoje o dom da fé e a graça de O termos sempre bem perto, como um Amigo íntimo, a fim de podermos dizer um dia com São Paulo: "Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com Ele" (Fl 3, 8). Façamos também nesta quarta-feira o propósito de dedicarmos a partir de hoje um pouco mais de tempo à oração pessoal, na qual temos a alegria de encontrar-nos com Aquele que tem direito ao nosso amor e à nossa atenção contínua.

 

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sábado, 29 de julho de 2023

Santos Marta, Maria e Lázaro.

 PE. JOÃO CARLOS - BLOG DA MEDITAÇÃO DA PALAVRA: Marta, Maria e Lázaro,  discípulos e amigos de Jesus

Jesus entrou numa aldeia e uma mulher chamada Marta o recebeu em sua casa (Lc 10,38).

Marta, Maria e Lázaro moravam numa pequena aldeia, chamada Betânia. Eram muito amigos de Jesus, a quem hospedavam com frequência. Numa das visitas do Mestre, Marta ocupou-se com o serviço da casa, enquanto Maria ficou sentada aos pés do Senhor. A exemplo dessa admirável família, sejamos hospitaleiros em relação a Jesus, presente na Eucaristia, e aos nossos irmãos e irmãs.

Primeira Leitura: 1 João 4,7-16

Leitura da primeira carta de São João7Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8Quem não ama não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor. 9Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados. 11Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. 12Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado entre nós. 13A prova de que permanecemos com ele e ele conosco é que ele nos deu o seu Espírito. 14E nós vimos, e damos testemunho, que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece com ele e ele com Deus. 16E nós conhecemos o amor que Deus tem para conosco e acreditamos nele. Deus é amor: quem permanece no amor permanece com Deus, e Deus permanece com ele. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 33(34)

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo!

1. Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, / seu louvor estará sempre em minha boca. / Minha alma se gloria no Senhor; / que ouçam os humildes e se alegrem! – R.

2. Comigo engrandecei ao Senhor Deus, / exaltemos todos juntos o seu nome! / Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu / e de todos os temores me livrou. – R.

3. Contemplai a sua face e alegrai-vos, / e vosso rosto não se cubra de vergonha! / Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, / e o Senhor o libertou de toda angústia. – R.

4. O anjo do Senhor vem acampar / ao redor dos que o temem e os salva. / Provai e vede quão suave é o Senhor! / Feliz o homem que tem nele o seu refúgio! – R.

5. Respeitai o Senhor Deus, seus santos todos, / porque nada faltará aos que o temem. / Os ricos empobrecem, passam fome, / mas aos que buscam o Senhor não falta nada. – R.

Evangelho: João 11,19-27

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu sou a luz do mundo; / aquele que me segue / não caminha entre as trevas, / mas terá a luz da vida (Jo 8,12). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, 19muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22Mas, mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá”. 23Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24Disse Marta: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. 25Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?” 27Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”. – Palavra da salvação.

Evangelho opcional: Lucas 10,38-42.

Reflexão

Celebramos neste sábado a memória de Santa Marta de Betânia, apresentada nos Evangelhos como amiga e discípula de Nosso Senhor (cf. Lc 10, 38s). Irmã de Maria e de Lázaro, ela é popularmente conhecida por seu temperamento agitadiço, tal como a vemos retratada naquela conhecida cena em que o Senhor lhe diz: "Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária" (Lc 10, 41s). Os autores espirituais costumam ver nesse episódio uma contraposição entre a vida ativa, representada por essa ansiosa discípula, e a vida contemplativa, de que seria modelo sua irmã. Sabemos porém que a santidade compõe-se destes como que dois "pulmões", e não há santo que tenha chegado a sê-lo sem ser muito ativo, por um lado, e muito contemplativo, por outro. A dinâmica normal da vida interior, em todo o caso, impõe-nos a todos a necessidade de começarmos como Maria: primeiro, temos de ouvir a palavra de Deus, meditá-la e trazê-la para a oração; é só então, depois de nos termos posto aos pés de Cristo e O escutado atentamente, que poderemos servi-lO na pessoa do nosso semelhante.

Pois a oração, alicerce sobre o qual se ergue todo o edifício espiritual, é o que dá valor à ação e ao sacrifício (cf. Josemaría Escrivá, Caminho, nn. 81.83). Como Maria, a nossa vida espiritual começa em aparente inatividade, em oração, em amor, porque é isto que nos permitirá depois acompanhar Jesus em suas pregações por cidades e aldeias (cf. Josemaría Escrivá, op. cit., n. 89). Conscientes, assim, de que nada podemos fazer sem Aquele que nos ama e sustenta (cf. Jo 15, 5), peçamos a Deus a graça de orarmos com fruto e perseverança, a fim de, alimentados por sua palavra, O amarmos de volta e levarmos o seu Evangelho aos outros, por verdadeira caridade e com reta intenção. — Santa Marta de Betânia, rogai por nós! 

 

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sexta-feira, 28 de julho de 2023

16ª Semana do Tempo Comum = “Ouvi a parábola do semeador”

 16ª Semana comum. Evangelho do dia: Mateus 13,18-23 | Kerigma Católica News

 É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

O Senhor oferece ao povo o dom dos seus mandamentos, guia seguro que realça o amor a Deus e ao próximo. Na liturgia nos dispomos à prática dos preceitos divinos, as “palavras mais doces que o mel” que esperam encontrar acolhida na “boa terra” do nosso coração.

Primeira Leitura: Êxodo 20,1-17

Leitura do livro do Êxodo – Naqueles dias, 1Deus pronunciou todas estas palavras: 2“Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. 3Não terás outros deuses além de mim. 4Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas, debaixo da terra. 5Não te prostrarás diante destes deuses nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, 6mas uso da misericórdia por mil gerações com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. 7Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará sem castigo quem pronunciar seu nome em vão. 8Lembra-te de santificar o dia de sábado. 9Trabalharás durante seis dias e farás todos os teus trabalhos, 10mas o sétimo dia é sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu gado, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades. 11Porque o Senhor fez em seis dias o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou. 12Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o Senhor teu Deus te dará. 13Não matarás. 14Não cometerás adultério. 15Não furtarás. 16Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. 17Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 18(19B)

Senhor, só tu tens palavras de vida eterna!

1. A lei do Senhor Deus é perfeita, / conforto para a alma! / O testemunho do Senhor é fiel, / sabedoria dos humildes. – R.

2. Os preceitos do Senhor são precisos, / alegria ao coração. / O mandamento do Senhor é brilhante, / para os olhos é uma luz. – R.

3. É puro o temor do Senhor, / imutável para sempre. / Os julgamentos do Senhor são corretos / e justos igualmente. – R.

4. Mais desejáveis do que o ouro são eles, / do que o ouro refinado. / Suas palavras são mais doces que o mel, / que o mel que sai dos favos. – R.

Evangelho: Mateus 13,18-23

Aleluia, aleluia, aleluia.

Felizes os que observam a Palavra do Senhor de reto coração / e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 18“Ouvi a parábola do semeador: 19todo aquele que ouve a Palavra do Reino e não a compreende, vem o maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a Palavra e logo a recebe com alegria; 21mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição por causa da Palavra, ele desiste logo. 22A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a Palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a Palavra, e ele não dá fruto. 23A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

Interrogado pelos discípulos, expõe-lhes Cristo em privado o sentido da parábola do semeador; em S. Marcos, repreende-lhes antes a falta de inteligência: “Não entendeis essa parábola? Como entendereis então todas as outras?” (Mc 4, 13), isto é, se não compreendeis esta parábola, tão fácil de entender, como haveis de perceber o sentido das mais difíceis? Alguns autores, contudo, não veem aqui uma repreensão, mas uma única (e não dupla) interrogação: “Não entendeis esta parábola. Como então haveis de interpretar as outras?”

A semente é a Palavra de Deus (Lc 8, 11), ou a palavra do Reino, isto é, sobre o Reino (em Mateus), ou simplesmente a palavra, ὁ λόγος (em S. Marcos), o que quer dizer: a pregação evangélica (a doutrina nela contida; a graça por ela infundida; a sociedade espiritual, ou seja, a Igreja por ela formada etc.). — O que semeia é Deus, Cristo, o ministro do Evangelho.

1.º óbice: negligência e preguiça espiritual. — O que foi semeado à beira do caminho (ou seja, o que recebe a semente, pois a locução “ser semeado” diz-se propriamente da semente e do campo) é aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, isto é, não a guarda profundamente no coração, não a medita, cobrindo-a, por assim dizer, com a terra do coração; e vem o Maligno (ὁ πονηρὸς: Satanás, em S. Marcos; diabo, em S. Lucas) e rouba o que foi semeado em seu coração, isto é, a memória da doutrina recebida, os afetos piedosos, as inspirações da graça. Este impedimento é atribuído a Satanás, não porque ele não cause os outros dois, mas porque deles é autor mediato, enquanto é ele quem, neste caso, muitas vezes perturba imediata e pessoalmente, com distrações e ilusões, a imaginação dos que ouvem a palavra.

2.º óbice: inconstância. — O que caiu em terreno pedregoso (ou seja, o que recebe a semente, como antes) é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria, isto é, lhe admira a beleza, promete pô-la em prática; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento (em S. Lucas: creem até certo tempo), isto é, sem empenho, sem meditação, mas por um impulso súbito de ânimo abraça a doutrina ou acolhe a inspiração da graça; por isso, larga mão da obra começada: “Não costuma haver, de fato, ouvintes mais inconstantes do que os que, no início, parecem ser os mais fervorosos” (Maldonado); quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, escandaliza-se e desiste logo, abandonado o caminho que vinha seguindo.

Note-se com que propriedade as tribulações são comparadas à ação do sol, que aquece e faz crescer a semente lançada em terra boa, mas resseca e queima a lançada em terra má; a tribulação, com efeito, consolida e fortalece a alma bem disposta, mas enfraquece e muitas vezes espedaça a débil e de pouca fé.

3.º óbice: a concupiscência. — O que caiu (ou seja, o que recebe a semente, como antes) no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo (μέριμνα: os cuidados, as solicitações etc.), isto é, tudo aquilo de que se ocupa o homem à margem da salvação e da virtude; a ilusão da riqueza, isto é, as riquezas falazes, que assim se chamam porque facilmente seduzem o homem, fazendo-o desviar-se do bom caminho, ou também por serem instáveis como a própria fortuna; as múltiplas cobiças (em S. Marcos) e prazeres da vida (em S. Lucas), isto é, o desejo desordenado das outras coisas, a ambição, a soberba, os atrativos da carne etc., todas essas coisas sufocam a palavra, “porque com suas importunas cogitações nos estrangulam o coração” (S. Gregório, Hom. 15, 3).

A espinhos são adequadamente comparados estes maus desejos, porque pungem como espinhos (isto é, perturbam e angustiam o coração com anseios quase intermináveis, e muitas vezes o cruciam com o remorso de faltas passadas), e ferirem: com quantos pecados não atormentam a alma, coberta de chagas!

O que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende, guarda-a profundamente no coração e a medita; esse produz fruto, isto é, a põe em prática. Chama-se boa não só a terra que, por natureza, é boa, mas a que é bem cultivada, arada, purgada; a natureza e a vontade humanas, com efeito, são boas por si mesmas, mas alguns, por falta de cuidado, a tornam semelhante a uma estrada batida; ou, por falta de arado, a um terreno pedregoso; ou ainda, por falta de enxada, a um campo abrolhado. — De acordo com S. Lucas, na terra boa são os que ouvem a palavra com coração reto e bom, retêm-na e dão fruto pela paciência, isto é, pela constância e perseverança.

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 347-348, n. 238.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

16ª Semana do Tempo Comum - Sob o manto de parábolas.

 Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais  também chamou de apóstolos.” – Lectionautas Brasil

É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

Na Bíblia, a montanha é o lugar em que o Senhor se revela. Subir ao monte pode significar o itinerário espiritual que toda pessoa necessita percorrer rumo à Fonte da liberdade e da vida. Entremos nesse processo de conversão, acolhendo e celebrando os mistérios de Deus e de seu Reino.

Primeira Leitura: Êxodo 19,1-2.9-11.16-20

Leitura do livro do Êxodo 1No dia em que se cumpriam três meses da saída do Egito, Israel chegou ao deserto do Sinai. 2Partindo de Rafidim, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Israel armou ali suas tendas, defronte da montanha. 9E o Senhor falou a Moisés: “Virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando eu falar contigo e creia sempre em ti”. 10Tendo Moisés transmitido ao Senhor as palavras do povo, o Senhor lhe disse: “Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã. Eles devem lavar as suas vestes 11e estar prontos para o terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá diante de todo o povo sobre a montanha do Sinai”. 16Quando chegou o terceiro dia, ao raiar da manhã, houve trovões e relâmpagos. Uma nuvem espessa cobriu a montanha, e um fortíssimo som de trombetas se fez ouvir. No acampamento o povo se pôs a tremer. 17Moisés fez o povo sair do acampamento ao encontro de Deus, e eles pararam ao pé da montanha. 18Todo o monte Sinai fumegava, pois o Senhor descera sobre ele em meio ao fogo. A fumaça subia como de uma fornalha, e todo o monte tremia violentamente. 19O som da trombeta ia aumentando cada vez mais. Moisés falava e o Senhor lhe respondia através do trovão. 20O Senhor desceu sobre o monte Sinai e chamou Moisés ao cume do monte. E Moisés subiu. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Dn 3

A vós louvor, honra e glória eternamente!

1. Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / Sede bendito, nome santo e glorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

2. No templo santo onde refulge a vossa glória. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E em vosso trono de poder vitorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

3. Sede bendito, que sondais as profundezas. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E superior aos querubins vos assentais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

4. Sede bendito no celeste firmamento. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

5. Obras todas do Senhor, glorificai-o. / A ele louvor, honra e glória eternamente! – R.

Evangelho: Mateus 13,10-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Graças te dou, ó Pai, / Senhor do céu e da terra, / pois revelaste os mistérios do teu Reino aos pequeninos, / escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 10os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. 12Pois à pessoa que tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem será tirado até o pouco que tem. 13É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque, olhando, eles não veem e, ouvindo, eles não escutam nem compreendem. 14Desse modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir sem nada entender. Havereis de olhar sem nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. 16Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, desejaram ouvir o que ouvis e não ouviram”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

 A finalidade dos sermões parabólicos de Nosso Senhor não parece ser outra além da que flui espontaneamente da natureza de uma parábola, ou seja, propor e descrever, a partir de algo sensível tomado quer da natureza (v.gr., um grão de mostarda, os lírios do campo), quer da sociedade humana (v.gr., as bodas de um filho, o arrendamento de uma vinha), uma verdade de ordem superior, em matéria de fé ou moral. Há entretanto uma passagem dos sinóticos que parece contradizer esse fim. É aquela em que Jesus, logo após a parábola do semeador, responde aos discípulos por que falava às turbas por semelhanças e figuras (Mt 13, 13): “Porque olhando, eles não vêem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías (6, 9): ‘Havereis de ouvir, sem nada entender’” etc.; em Marcos (4, 12): “Desse modo, eles olham sem ver, escutam sem compreender”; em Lucas (8, 10): “De forma que vendo não vejam, e ouvindo não entendam”. Para compreender o sentido dessa passagem, deve-se notar o seguinte. 1.º) As parábolas de Cristo eram, em si mesmas, aptas para ensinar a verdade, e com esse objetivo, como se vê pela índole delas e pelo espírito pedagógico que anima todo o Evangelho, foram propostas por Nosso Senhor. — 2.º) Às vezes, porém, se valia Jesus deste método de ensino para expor a doutrina do Reino de maneira enigmática, sob o manto de certa obscuridade. Atestam-no explicitamente os evangelistas, ao menos no caso das parábolas do lago (cf. Mt 13, passim), embora seja provável que o Senhor o tenha feito noutras ocasiões. — 3.º) Este como que ocultamento da verdade procedia não tanto da vontade de Cristo como da indisposição dos ouvintes. Por isso, cumpre distinguir: a) aos discípulos e israelitas piedosos, que buscavam a verdade e a justiça, as parábolas serviam como instrumento não de punição, mas de iluminação; b) aos escribas e fariseus, que buscavam qualquer palavra mal colocada para acusarem o Mestre, essa pregação enigmática tinha como efeito ocultar de facto a verdade, para que não fossem atiradas aos porcos as pérolas da doutrina divina (cf. Mt 7, 6).

E as turbas? Também delas escondeu Cristo a verdade revelada? Acaso lhes falou por parábolas tendo em vista algum outro fim que não o de as instruir e iluminar? À primeira vista, parece que não. Se, com efeito, lermos a versão de S. Marcos, que refere neste ponto as intenções de Cristo em termos mais duros que os demais evangelistas, não veremos nas turbas indícios de infidelidade e obstinação, mas, pelo contrário, de docilidade e desejo de escutar o Evangelho. Como, pois, o mansíssimo Jesus seria capaz de esconder a verdade das turbas que a Ele acorriam? Observe-se que: 1.º) as turbas acudiam a Jesus movidas não tanto por desejo de justiça e verdade como pela ânsia desordenada de bem-estar terreno; 2.º) os evangelistas fazem questão de notar que, naquele dia, Jesus não ensinou o Evangelho a não ser por parábolas (cf. Mt 13, 34; Mc 4, 33s); 3.º) isto supõe, nas diferentes classes de ouvintes, diferentes luzes e capacidades, como se diz logo em seguida: “Porque a vós é dado compreender” etc. (Mt 13, 11); 4º) esta dissimulação da verdade não era, como diz o próprio Marcos (4, 33), penalidade, mas misericórdia: “Era por meio de numerosas parábolas desse gênero que ele lhes anunciava a palavra, conforme eram capazes de compreender” (καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν), isto é, de modo imperfeito, por uma revelação algo obscura, segundo o exíguo entendimento deles. Cristo, portanto, ocultou de certo modo a doutrina do Reino, não para deixar cegas as turbas, mas para lhes insinuar a verdade e estimular o desejo de uma compreensão mais plena. Assim, não lhes revelando abertamente os mistérios, como no Sermão da Montanha, evitava a um tempo lançar o que é santo aos cães e induzir os ouvintes, crendo-se já suficientemente instruídos, a maior soberba e infidelidade [1]. É mais correto dizer, pois, que Cristo falava às turbas em parábolas, não para que não entendessem e ficassem cegas, mas porque já eram cegas e pouco dispostas para acolher as verdades do Reino.

 

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 204-205, n. 132.https://padrepauloricardo.org/episodios/sob-o-manto-de-parabolas

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Memória de São Joaquim e Sant’Ana

 Memória de São Joaquim e Sant'Ana, pais de Nossa Senhora

Festejamos Santa Ana e São Joaquim, pais da Virgem Maria: Deus lhes concedeu a bênção prometida a todos os povos.

Joaquim e Ana são os pais de Maria e avós de Jesus. Santa Ana é cultuada no Oriente desde o século 6º e, no Ocidente, a partir do século 10º. São Joaquim, por sua vez, recebe a veneração dos fiéis desde o século 14. Celebrando essa memória, valorizemos, com total atenção e cuidado, todos os avós de nossa sociedade.

Primeira Leitura: Eclesiástico 44,1.10-15

Leitura do livro do Eclesiástico1Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 10Estes são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos. 11Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança. 12A descendência deles mantém-se fiel às alianças 13e, graças a eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua glória jamais se apagará. 14Seus corpos serão sepultados na paz, e seu nome dura através das gerações. 15Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia vai celebrar o seu louvor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 131(132)

O Senhor vai dar-lhe o trono / de seu pai, o rei Davi.

1. O Senhor fez a Davi um juramento, / uma promessa que jamais renegará: / “Um herdeiro que é fruto do teu ventre / colocarei sobre o trono em teu lugar!” – R.

2. Pois o Senhor quis para si Jerusalém / e a desejou para que fosse sua morada: / “Eis o lugar do meu repouso para sempre, / eu fico aqui: este é o lugar que preferi!” – R.

3. “De Davi farei brotar um forte herdeiro, / acenderei ao meu ungido uma lâmpada. / Cobrirei de confusão seus inimigos, / mas sobre ele brilhará minha coroa!” – R.

Evangelho: Mateus 13,16-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Esperavam estes pais a redenção de Israel, / e o Espírito do Senhor estava sobre eles (Lc 2,25). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16“Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, desejaram ouvir o que ouvis e não ouviram”. – Palavra da salvação.

Reflexão

Se estivesse em nosso poder escolher ou fazer nossa própria mãe, acaso não a formaríamos de tal modo que ela fosse, a um tempo, alheia ao defeito que mais nos aborrece  e enriquecida com as qualidades que mais nos enlevam? Pois à honra do filho, diz a Escritura, pertence a honra da mãe (cf. Pr 17, 6), nem há no mundo outra coisa que um homem estime mais do que sua mãe. Ora, Jesus Cristo, que escolheu para si uma Mãe desde a eternidade e no tempo a modelou com as próprias mãos, decerto a fez de tal índole que ela fosse completamente estranha ao pecado, que Ele detesta acima de tudo, e adornadíssima de todo gênero de virtudes, nas quais está o seu único contentamento. Ela foi, portanto, concebida sem pecado original, a única dentre os mortais a ser enriquecida com tamanho privilégio. Com efeito, não convinha que a Mãe do Deus puríssimo, a qual esmagaria a cabeça da serpente, fôra alguma vez escrava do diabo, inimiga de Deus e ré da Geena; mas que, assim como o primeiro Adão saíra de uma terra virgem e pura, ainda não sujeita a maldição alguma, também Cristo, segundo Adão, assumisse a carne da Virgem Mãe, livre de absolutamente toda mancha de pecado.

Ora, acaso não era grande a nobreza da Arca da aliança (cf. Ex 36), feita de paus de acácia incorruptíveis e revestida de ouro puríssimo por dentro e por fora, a fim de guardar as tábuas do Decálogo, a vara de Aarão que desabrochara e um ephi de maná? Com quanto esmero, por conseguinte, não quis o Senhor embelezar aquela Virgem de cujo puríssimo sangue o Deus de toda majestade formaria para si um corpo, em cujo útero moraria por nove meses, de cujos seios se alimentaria e com a qual viveria por trinta anos seguidos? Admiremos pois esta Virgem, fruto abençoado de S. Joaquim e Sant’Ana, a veneremos e amemos intensamente, esforçando-nos por dar a conhecer ao mundo as suas glórias; e a invoquemos com confiança, para que, por sua Imaculada Conceição, ela nos alcance de seu Filho caríssimo a purificação de todos os nossos pecados e nos conserve doravante imunes da menor mancha de pecado [1].

Referências

  1. O texto desta homilia é uma tradução levemente adaptada de uma meditação do Pe. Frans de Costere, S.J. (c. 1532-1619), in: A. J. Haehnlein (ed.), Mariologia. Wirceburgi, sumptibus Stahelianis, 1859, pp. 7-8.

terça-feira, 25 de julho de 2023

São Tiago Maior, Apóstolo - Festa

 Festa de São Tiago Maior, Apóstolo

Andando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que consertavam suas redes. E ele os chamou (Mt 4,18.21).

Tiago, o Maior, era filho de Zebedeu e irmão do apóstolo João. Chamado pelo Mestre enquanto pescava com o pai e o irmão, recebeu a missão de ser “pescador de gente”. Participou intensamente da vida pública do Senhor, tornando-se testemunha de vários milagres e acontecimentos, como a cura da sogra de Pedro, a transfiguração, a ressurreição da filha de Jairo e a agonia de Jesus no horto das Oliveiras. É o primeiro apóstolo a derramar seu sangue pela fé em Cristo. A seu exemplo, abandonemo-nos nas mãos de Deus com renovada confiança e singular esperança.

Primeira Leitura: 2 Coríntios 4,7-15

Leitura da segunda carta de São Paulo aos Coríntios – Irmãos, 7trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse poder extraordinário vem de Deus e não de nós. 8Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; 9perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; 10por toda parte e sempre, levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos. 11De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal. 12Assim, a morte age em nós, enquanto a vida age em vós. 13Mas, sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: “Eu creio e, por isso, falei”, nós também cremos e, por isso, falamos, 14certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. 15E tudo isso é por causa de vós, para que a abundância da graça em um número maior de pessoas faça crescer a ação de graças para a glória de Deus. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 125(126)

Os que lançam as sementes entre lágrimas / ceifarão com alegria.

1. Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, / parecíamos sonhar; / encheu-se de sorriso nossa boca, / nossos lábios, de canções. – R.

2. Entre os gentios se dizia: “Maravilhas / fez com eles o Senhor!” / Sim, maravilhas fez conosco o Senhor, / exultemos de alegria! – R.

3. Mudai a nossa sorte, ó Senhor, / como torrentes no deserto. / Os que lançam as sementes entre lágrimas / ceifarão com alegria. – R.

4. Chorando de tristeza, sairão, / espalhando suas sementes; / cantando de alegria, voltarão, / carregando os seus feixes! – R.

Evangelho: Mateus 20,20-28

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu vos designei para que vades e deis frutos, / e o vosso fruto permaneça, assim disse o Senhor (Jo 15,16). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 20a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. 21Jesus perguntou: “O que tu queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”. 24Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande torne-se vosso servidor; 27quem quiser ser o primeiro seja vosso servo. 28Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
S. Tiago Maior, cuja festa a Igreja hoje comemora, foi irmão de outro Apóstolo, S. João, o discípulo amado (cf. Jo 13, 23; 19, 26; 20, 2; 21, 7.20). Os evangelhos se referem aos dois como “filhos de Zebedeu” (cf. Mt 4, 21; Mc 1, 19; 10, 35; Lc 5, 10), e a mãe deles, Maria Salomé (cf. Mc 16, 1), foi uma das mulheres que permaneceram aos pés da cruz de que pendia o Salvador do mundo (cf. Mt 27, 56). A tradição nos conta que, depois de tentar embalde evangelizar os povos hispânicos — no território correspondente à atual Península Ibérica —, Tiago se lembrou de recorrer ao auxílio da Virgem SS., ainda viva. Maria lhe teria aparecido na cidade de Saragoça, às margens do rio Ebro, no alto de uma coluna, a fim de o consolar e dar-lhe perseverança no apostolado. Trata-se da primeira aparição mariana de que temos notícia, além de ser a origem da devoção a Nossa Senhora do Pilar, celebrada aos doze de outubro. A SS. Virgem lhe teria confiado ainda a missão de construir naquela região um templo em sua honra e revelado, por fim, que ele seria o primeiro dos Apóstolos a ter a glória de beber do mesmo cálice que Cristo, derramando o próprio sangue por aquele que se encarnou e morreu para nos merecer a vida eterna. Cumpriu-se assim, por intermédio de Maria, o pedido que Salomé fizera a Jesus muitos anos antes: “Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda” (Mt 20, 21). Esta mãe quis para um filho uma primazia terrena, num reino puramente político; mas Cristo, cujo Coração não se deixa vencer em generosidade e cuja mente não se prende à lógica dos homens, deu a Tiago um privilégio muito maior do que um trono à sua direita: deu-lhe a graça de ser o primeiro, como predileto da graça, a provar com sangue a grandeza de sua caridade. — Que S. Tiago e Nossa Senhora do Pilar intercedam por nós e nos alcancem a graça de perseverarmos no cumprimento dos nossos deveres cristãos, a ponto de tudo entregarmos, como vítimas de amor, a fim de lucrar a Cristo.

 

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segunda-feira, 24 de julho de 2023

16ª Semana do Tempo Comum - Cristo, o novo Jonas.

 EVANGELHO DO DIA – 18/07/2016 - Rádio América

É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

Mesmo diante de obstáculos que parecem insuperáveis, somos convidados a depositar total confiança em Deus, com base nas palavras da liturgia: “O Senhor combaterá por vós, e vós, ficai tranquilos”. Cantemos ao Senhor, que, dia a dia, acompanha nossa vida com sinais do seu amor.

Primeira Leitura: Êxodo 14,5-18

Leitura do livro do Êxodo – Naqueles dias, 5foi anunciado ao rei dos egípcios que o povo tinha fugido. Então, mudaram-se contra ele os sentimentos do faraó e dos seus servos, os quais disseram: “Que fizemos? Como deixamos Israel escapar, privando-nos assim dos seus serviços?” 6O faraó mandou atrelar o seu carro e levou consigo o seu povo. 7Tomou seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com os respectivos escudeiros. 8O Senhor endureceu o coração do faraó, rei do Egito, que foi no encalço dos filhos de Israel, enquanto estes tinham saído de braço erguido. 9Os egípcios perseguiram os filhos de Israel com todos os cavalos e carros do faraó, seus cavaleiros e seu exército, e encontraram-nos acampados junto do mar, perto de Fiairot, defronte de Beel-Sefon. 10Como o faraó se aproximasse, levantando os olhos, os filhos de Israel viram os egípcios às suas costas. Aterrorizados, eles clamaram ao Senhor. 11E disseram a Moisés: “Foi por não haver sepulturas no Egito que tu nos trouxeste para morrermos no deserto? De que nos valeu ter sido tirados do Egito? 12Não era isto que te dizíamos lá: ‘Deixa-nos em paz servir os egípcios’? Porque era muito melhor servir aos egípcios do que morrer no deserto”. 13Moisés disse ao povo: “Não temais! Permanecei firmes e vereis o que o Senhor fará hoje para vos salvar; os egípcios, que hoje estais vendo, nunca mais os tornareis a ver. 14O Senhor combaterá por vós, e vós, ficai tranquilos”. 15O Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha. 16Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. 17De minha parte, endurecerei o coração dos egípcios, para que sigam atrás deles, e eu serei glorificado às custas do faraó e de todo o seu exército, dos seus carros e cavaleiros. 18E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do faraó, dos seus carros e cavaleiros”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Ex 15

Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória!

1. Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória: / precipitou no mar Vermelho o cavalo e o cavaleiro! / O Senhor é minha força, é a razão do meu cantar, † pois foi ele, neste dia, para mim libertação! / Ele é meu Deus e o louvarei, Deus de meu pai e o honrarei. – R.

2. O Senhor é um Deus guerreiro, o seu nome é “onipotente”: † os soldados e os carros do faraó jogou no mar. / Seus melhores capitães afogou no mar Vermelho. – R.

3. Afundaram como pedras e as ondas os cobriram. † Ó Senhor, o vosso braço é duma força insuperável! / Ó Senhor, o vosso braço esmigalhou os inimigos! – R.

Evangelho: Mateus 12,38-42

Aleluia, aleluia, aleluia.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 38alguns mestres da Lei e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal realizado por ti”. 39Jesus respondeu-lhes: “Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. 41No dia do juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra esta geração e a condenarão, porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas. 42No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará contra esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está quem é maior do que Salomão”. – Palavra da salvação.

Reflexão

V. 38-39. Alguns dos circunstantes, escribas e fariseus, diziam a Jesus: “Mestre queremos ver um sinal” do céu (cf. Lc 11, 16) “realizado por ti”, isto é, alguma visão celeste ou milagre esplendoroso, como os que se esperavam ver no tempo do Messias. Jesus porém, como afluíssem as multidões (cf. Lc 11, 29), respondeu-lhes: “Uma geração má e adúltera”, por ter rompido várias vezes a aliança firmada com Deus (cf. Is 1, 21; 50, 1; Ez 16; Os 2, 5 etc.), “busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas”, quer dizer, pedem milagres, não por desejo de conhecer a verdade, mas por vã curiosidade; no entanto, o Senhor se recusou a aceder ao pedido deles, nem lhes deu outro sinal além daquele que liam ter sido feito por Jonas. — Do v. 40 inferem alguns autores que Cristo se refere à ressurreição: “Com efeito, assim como Jonas […], assim também o Filho do Homem” etc.; Maldonado e, depois dele, a maior parte dos autores o interpretam em referência não tanto à ressurreição como à pregação do Reino de Deus, o que parece concordar melhor com os versículos seguintes e a versão paralela de S. Lucas: “Como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração” (Lc 11, 30). O sinal prometido por Nosso Senhor, por conseguinte, é o próprio profeta Jonas ou, antes, a renovação em Cristo da mesma missão divina, sua milagrosa liberação da morte e a pregação do arrependimento, mas com a seguinte diferença: enquanto no tempo do primeiro Jonas os ninivitas deram dignos frutos de penitência, os fariseus se negaram a obedecer ao novo Jonas, de longe superior ao primeiro, que dele era tipo e figura. — V. 41-42. No dia do Juízo, os ninivitas e a rainha de Sabá (dos sabeus, na Arábia Feliz), indicada perifrasticamente como rainha do Sul (isto é, da parte meridional da Arábia), se levantará ressuscitada para testemunhar contra os contemporâneos de Cristo; os pagãos, com efeito, obedientes à pregação de Jonas, fizeram penitência: enquanto uma rainha veio “dos confins da terra”, isto é, de uma região longínqua, para ouvir a sabedoria de Salomão e adorar o Deus verdadeiro (cf. 1Rs 10, 1), os judeus não quiseram sequer dar ouvidos a Cristo, infinitamente maior do que Jonas e Salomão [1], por ser verdadeiramente Deus, e não um simples profeta.

 

 

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones BiblicæNovum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 341-342, n. 233.

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domingo, 23 de julho de 2023

16ª Semana do Tempo Comum - A malícia dos fariseus.

 Maldita malícia!

É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

Mesmo diante de obstáculos que parecem insuperáveis, somos convidados a depositar total confiança em Deus, com base nas palavras da liturgia: “O Senhor combaterá por vós, e vós, ficai tranquilos”. Cantemos ao Senhor, que, dia a dia, acompanha nossa vida com sinais do seu amor.

Primeira Leitura: Êxodo 14,5-18

Leitura do livro do Êxodo – Naqueles dias, 5foi anunciado ao rei dos egípcios que o povo tinha fugido. Então, mudaram-se contra ele os sentimentos do faraó e dos seus servos, os quais disseram: “Que fizemos? Como deixamos Israel escapar, privando-nos assim dos seus serviços?” 6O faraó mandou atrelar o seu carro e levou consigo o seu povo. 7Tomou seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com os respectivos escudeiros. 8O Senhor endureceu o coração do faraó, rei do Egito, que foi no encalço dos filhos de Israel, enquanto estes tinham saído de braço erguido. 9Os egípcios perseguiram os filhos de Israel com todos os cavalos e carros do faraó, seus cavaleiros e seu exército, e encontraram-nos acampados junto do mar, perto de Fiairot, defronte de Beel-Sefon. 10Como o faraó se aproximasse, levantando os olhos, os filhos de Israel viram os egípcios às suas costas. Aterrorizados, eles clamaram ao Senhor. 11E disseram a Moisés: “Foi por não haver sepulturas no Egito que tu nos trouxeste para morrermos no deserto? De que nos valeu ter sido tirados do Egito? 12Não era isto que te dizíamos lá: ‘Deixa-nos em paz servir os egípcios’? Porque era muito melhor servir aos egípcios do que morrer no deserto”. 13Moisés disse ao povo: “Não temais! Permanecei firmes e vereis o que o Senhor fará hoje para vos salvar; os egípcios, que hoje estais vendo, nunca mais os tornareis a ver. 14O Senhor combaterá por vós, e vós, ficai tranquilos”. 15O Senhor disse a Moisés: “Por que clamas a mim por socorro? Dize aos filhos de Israel que se ponham em marcha. 16Quanto a ti, ergue a vara, estende o braço sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. 17De minha parte, endurecerei o coração dos egípcios, para que sigam atrás deles, e eu serei glorificado às custas do faraó e de todo o seu exército, dos seus carros e cavaleiros. 18E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu for glorificado às custas do faraó, dos seus carros e cavaleiros”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Ex 15

Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória!

1. Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória: / precipitou no mar Vermelho o cavalo e o cavaleiro! / O Senhor é minha força, é a razão do meu cantar, pois foi ele, neste dia, para mim libertação! / Ele é meu Deus e o louvarei, Deus de meu pai e o honrarei. – R.

2. O Senhor é um Deus guerreiro, o seu nome é “onipotente”: os soldados e os carros do faraó jogou no mar. / Seus melhores capitães afogou no mar Vermelho. – R.

3. Afundaram como pedras e as ondas os cobriram. Ó Senhor, o vosso braço é duma força insuperável! / Ó Senhor, o vosso braço esmigalhou os inimigos! – R.

Evangelho: Mateus 12,38-42

Aleluia, aleluia, aleluia.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / Não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 38alguns mestres da Lei e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal realizado por ti”. 39Jesus respondeu-lhes: “Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. 41No dia do juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra esta geração e a condenarão, porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas. 42No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará contra esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está quem é maior do que Salomão”. – Palavra da salvação.

Reflexão

"Uma geração má e adúltera busca um sinal" — diz Jesus aos fariseus no Evangelho de hoje —, "mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas". Donde essa dureza do Senhor? Por que Ele, que quer misericórdia e não sacrifício, dirige palavras tão ásperas àqueles homens curiosos? Para compreendermos essa atitude do Senhor diante dos mestres da Lei, precisamos compreender primeiramente a diferença entre um pecado de malícia e um pecado de fraqueza. Os pecados de fraqueza são os que praticamos devido à debilidade de nossas forças para resistir às más inclinações e aos nossos apetites desordenados; trata-se, em resumo, de uma falta cometida em decorrência de uma violenta paixão. Entretanto, para que o pecado seja de fraqueza, essa paixão a cujo impulso nossa vontade (enfraquecida pelo pecado original) acaba por ceder deve ser antecedente, ou seja, anterior ao nosso livre consentimento. Do contrário, ter-se-á o pecado dito de malícia, proveniente da maldade do nosso coração, que livre e intencionalmente escolhe pecar.

É neste último caso que se enquadram os fariseus e é justamente por isso que Jesus os repreende de forma dura e severa. Esses mestres e doutores, gente devota e bem comportada, conhece o conteúdo da Lei, sabe o que anunciaram os profetas, veem a olhos vistos os milagres e prodígios de Cristo, ouvem a sublimidade do Evangelho, e no entanto, por maldade e dureza de coração, rejeitam o Filho do Homem. Eles pedem hoje ao Senhor um milagre a mais; mas de que lhes aproveitará, se já tomaram partido, se já se decidiram por desprezá-lO? Jesus trouxera Lázaro, podre e mal cheiroso, de volta à vida; e o que armaram os fariseus? A morte do ressuscitado! "Mestre", dizem, "queremos ver um sinal realizado por ti". E vem-lhes a justa resposta: "Geração má e adúltera", que até contra o Deus que dizem adorar ousam investir com malícia e ardis! Que o nosso coração esteja, pois, longe do dos fariseus; não consintamos de forma nenhuma com o pecado, por "mínimo" que seja, nem façamos dele um projeto de vida. Peçamos também à Virgem Imaculada que nos preserve do veneno da malícia e nos alcance de seu Filho a força para, resistindo às tentações, superarmos com o auxílio da graça a debilidade desta nossa pobre condição. 

 

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16º Domingo do Tempo Comum - Por que não arrancar o joio de uma vez?

 Jesus é o Senhor!: EVANGELHO SÃO MATEUS 13:24-43 - 16° DOMINGO DO TEMPO  COMUM - ANO "A" 2014

É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

Na Eucaristia fazemos a experiência da bondade e da justiça de Deus. Paciente e misericordioso conosco, ele vem em nosso auxílio com seu Espírito, para que o joio existente em nosso interior e à nossa volta não nos desanime do anúncio do seu Reino. Celebremos, agradecidos ao Senhor – que é bom, clemente e fiel -, tendo presentes, em especial, nossos avós e todos os idosos, neste dia a eles dedicado.

Primeira Leitura: Sabedoria 12,13.16-19

Leitura do livro da Sabedoria13Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto. 16A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. 17Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. 18No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração, pois, quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. 19Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 85(86)

Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

1. Ó Senhor, vós sois bom e clemente, / sois perdão para quem vos invoca. / Escutai, ó Senhor, minha prece, / o lamento da minha oração! – R.

2. As nações que criastes virão / adorar e louvar vosso nome. / Sois tão grande e fazeis maravilhas: / vós somente sois Deus e Senhor! – R.

3. Vós, porém, sois clemente e fiel, / sois amor, paciência e perdão. / Tende pena e olhai para mim! / Confirmai com vigor vosso servo. – R.

Segunda Leitura: Romanos 8,26-27

Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 26o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor com gemidos inefáveis. 27E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Mateus 13,24-43 ou 24-30

[A forma breve está entre colchetes.]

Aleluia, aleluia, aleluia.

Eu te louvo, ó Pai santo, / Deus do céu, Senhor da terra: / os mistérios do teu Reino / aos pequenos, Pai, revelas! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus[Naquele tempo, 24Jesus contou outra parábola à multidão: “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora. 26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ 28O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ 29O dono respondeu: ‘Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!'”] 31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”. 33Jesus contou-lhes ainda outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”. 34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo”. 36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” 37Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. 40Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos ouça”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 
O Evangelho deste 16.º Domingo do Tempo Comum narra a parábola do joio e do trigo, que, embora semelhante à do semeador (proclamada no domingo passado), possui um significado bastante distinto. Enquanto, na narrativa do semeador, a semente simboliza a Palavra de Deus, nesta, a semente representa diferentes classes de pessoas no mundo.

A parábola deste domingo nos mostra, pois, que Deus “semeou” nesta Terra pessoas boas e justas: primeiro na criação, com nossos primeiros pais, Adão e Eva; depois, no anúncio do Evangelho, com a eleição dos doze Apóstolos, que dariam início à Igreja. O trigo designa, portanto, a humanidade em estado de justiça e santidade, segundo o projeto original de Deus, desde toda a eternidade.

A parábola nos diz, porém, que à semeadura de Deus se seguiu a intromissão do inimigo, interpretada por S. Tomás de Aquino, no Comentário ao Evangelho de São Mateus, da seguinte forma. O inimigo vem “enquanto todos dormiam” (v. 25), isto é, quando o homem se dispersa e deixa de vigiar, e “semeou joio no meio do trigo” (v. 25), de sorte que alguns se corromperam: Adão e Eva, no princípio; Judas Iscariotes, entre os Doze. 

Na sequência do texto, ao ser questionado pelos empregados se deveriam arrancar o joio semeado pelo inimigo, o dono da plantação, símbolo de Deus, responde negativamente: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo” (v. 29).

Nosso Senhor nos mostra assim que, embora vivamos em estado de graça, a serviço de Deus durante esta peregrinação terrena, teremos de conviver (o que não quer dizer aceitar nem aplaudir) com erros e injustiças. É impossível erguer neste mundo um paraíso perfeito, e os que se atrevem a tentá-lo acabam criando, no lugar, um inferno pior do que o próprio mundo. São “justiceiros genocidas”.

A Igreja, ao contrário do que pregam muitos ideólogos, não pretende plantar um jardim de delícias terrenas, com sombra e água fresca para todos. O que ela ensina é o dever, de um são realismo, de colocar toda esperança no Senhor, o único que, com sua graça, pode vencer a maldade que existe fora e, sobretudo, dentro de nós, até o dia em que Ele, consumada a história humana, vier separar de uma vez para sempre o joio do trigo.

Os que promovem ideologias utópicas julgam os demais com excessiva facilidade. Nosso Senhor, porém, nos adverte contra a imprecisão desses juízos temerários: “Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo”. Por isso, antes de dar sentença contra este ou aquele, precisamos permanecer vigilantes sobre nós mesmos, nesta luta interior em que realmente se decide se somos trigo de Deus ou joio do demônio.

Até aqui, de mãos dadas com S. Tomás de Aquino, podemos extrair três lições sobre os motivos de Deus não arrancar logo o joio de sua colheita, permitindo que junto aos bons cresçam também muito maus. 1.º) Per malos exercitantur boni: porque, convivendo com os maus, os bons podem crescer em virtudes e resistir pacientes à maldade; 2.º) Qui modo malus est, postea bonus fit: porque, para a graça, há joio que ainda pode tornar-se trigo, ou seja, os maus ainda estão em tempo de converter-se a Deus de todo coração, do que é exemplo S. Paulo Apóstolo, como ele mesmo afirma: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20); 3.º) Aliqui videntur mali, et non sunt: porque o nosso juízo é muito limitado, por isso tendemos a nos precipitar e, temerários, a julgar maus os que são bons, arrogando-nos um conhecimento dos corações que é próprio de Deus.

Quanto ao último ponto, vale a pena recordar outras palavras de São Paulo, ao reconhecer que não julga nem a si próprio: “A mim pouco se me dá ser julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo. De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor” (1Cor 4, 3-4).

Com essa parábola, Jesus toca numa das grandes incógnitas da história da Igreja: o “mistério de Judas”. É provável que todos nós, em algum momento, já nos tenhamos perguntado: afinal, por que Jesus suportou a presença de Judas entre os seus Apóstolos, mesmo sabendo de seus pecados, internos e externos, e de sua futura traição? O que equivale, no fundo, a esta outra inquietação, ainda mais comum: por que Deus permite, ainda hoje, que tantos Judas, sendo traidores, permaneçam na Igreja sob a aparência de fiéis apóstolos?

Ainda que não dê a essas inquietações uma resposta que desfaça de todo nossas preocupações e dúvidas, a parábola lança luzes sobre este mistério, e nos recorda a necessidade de pôr em Deus a nossa esperança. Nosso Senhor permitiu que Judas permanecesse no colégio apostólico: 1.º) para que, pela presença dele, os Apóstolos tivessem ocasião de crescer em virtude; 2.º) porque ainda havia tempo de ele se converter, como ocorreu com Pedro, que também traíra o Mestre; 3.º) porque não queria que os Apóstolos se precipitassem em seus juízos, mas confiassem tudo ao parecer do justo Juiz, o único que conhece o íntimo dos corações.

Que esta parábola desperte em nós a certeza de que, em tudo, Deus tem um propósito para nossas vidas, inclusive ao permitir a maldade e as provações que nos cercam. Coloquemos, pois, a nossa esperança no Senhor, que retribuirá a cada um segundo suas obras no momento certo e previsto.

Oração. — Senhor, Vós que não quereis arrancar precipitadamente o joio que nos cerca, fazei-nos aproveitar este tempo de misericórdia para crescermos em virtude, emendarmos nossas vidas e, cheios de esperança, nos prepararmos para o vosso justíssimo julgamento. Amém.

 

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