sábado, 30 de novembro de 2013

AMOR EXIGE RESPONSABILIDADE.


Banalizaram o amor! Aliás, o que hoje em dia, não foi banalizado?

Não olhamos mais algumas palavras com a devida profundidade, que elas por si mesmas, nos dizem. A troco de nada, frequentemente, ouvimos de qualquer um, a exclamação: “te amo”! Esboçamos um sorriso amarelado, e fica por isso mesmo. Meu Deus! Não nos causa nenhum impacto! Não muda o nosso dia! Nem dormimos pensando naquela pronuncia! Por que será? Você tem a resposta?
 Vamos analisar juntos esta situação, ajude-me.

Deixamo-nos acostumar com a superficialidade dos tempos modernos. Outrora até chegar na palavra amor era necessário passar por várias etapas. Hoje, perdeu-se todo o mistério que a palavra amor possui; até mesmo para iniciar um namoro, não existe mais as etapas de conhecimento, todo aquele mistério a ser desvelado pelo casal. Aos poucos, desvenda-se o clima gostoso de conquista, até chegar ao cume, o namoro. O primeiro beijo nascia depois que ambos conheciam-se bem. Deixamos a velocidade da tecnologia invadir nossos relacionamentos, os banalizando. Mas não pense que a palavra amor perdeu seu sentido profundo, o problema está em nossos sentidos, que amorteceram-se à beleza e não captam mais a riqueza da expressão.

Você pode dizer-me: “ah, apenas substituíram o verbo amar, pelo gostar no sentido do primeiro verbo!” E eu te pergunto: e o sentido do verbo amar onde ficou?

Quando eu quero perceber o sentido completo de alguma palavra, sua profundidade, procuro associá-la a alguma coisa concreto, ou seja, a uma situação que a defina bem. Por exemplo, quando penso na palavra amor, na minha mente visualizo a Cruz de Cristo, expressão maior do amor de Deus pela humanidade. Isto me faz refletir e pensar duas vezes antes de dizer que amo alguém.
    “O amor exige responsabilidade, requer doar-se ao outro, semelhante a Jesus que o fez na Cruz”
Preciso mortificar algumas atitudes, ou vontades para alcançar meu irmão através do amor. Seria inútil dizer que amo uma pessoa, e em sua primeira fraqueza julgá-la, virar o rosto para ela, e nem mais a dirigir a palavra. Eu questiono, isso é amor? Deixo você responder…
Um gesto concreto que podemos fazer é emprestar nossa língua para Deus amar as pessoas, assim veremos a força que tem as palavras: em minha adolescência, uma colega que eu não tinha muita intimidade, através de um elogio marcou minha vida. Lembro-me que eu tinha esses complexos de adolescente, em relação a minha imagem: vergonha do rosto, acne, orelha, nariz, dentes. Complexos que se não forem bem trabalhados acarretam problemas para toda a vida.
 
Em uma situação qualquer, sem jeito e, com muita timidez eu sorri. Ouvi dos lábios daquela garota que meu sorriso era lindo (Que sorriso lindo você tem!). Meu rosto se iluminou, essas palavras marcaram-me; desde então meu sorriso passou a ser largo, livre e sem complexos! Ela nem sabe disto. Posso garantir que Deus me amou em suas palavras. Ela emprestou a boca para Deus.
As palavras verdadeiras tem poder de transformar, como foi no meu caso, ou de destruir, por isso, convido você a compreender a força existente na palavras. Nosso olhar precisa ser minucioso em relação às palavras. Quiça interiorizá-las e refleti-las fosse um bom caminho. Desejo que seu “eu te amo” seja carregado de toda propriedade, que a própria palavra possui. Sempre elogie, você pode mudar o sentido de uma existência; se responsabilize por quem você diz que ama.

DOM HELDER, FASCÍNIO NO MINISTÉRIO SACERDOTAL

 
“O justo medita a sabedoria e sua palavra ensina a justiça, pois traz no coração a lei de seu Deus” (Sl 36, 30). Dom Helder Câmara, durante sua vida e seu ministério sacerdotal (1931-1999), alimentou-se e nutriu-se do pão do céu, do pão dos anjos, o qual compreendeu em profundidade, já na frase em latim no santinho de ordenação: “Angelorum esca nutrivisti populorum Tuum”.  Na serenidade do amor que Deus lhe reservara por toda eternidade, cita também São Boaventura, o místico de palavras tranquilizadoras e motivadoras: “Te semper ambiat, ad te tendat, ad te perveniat, te meditetur, te loquatur...”, sem esquecer aquela que iria marcar sua maravilhosa caminhada sacerdotal: “Mãe Santíssima, abençoe o meu sacerdócio!”.
A partir de 1931, o projeto e o grande sonho do Pai, que é o da vida fraterna e solidária, tornou-se um obstinado desiderato perseguido pelo pastor dos empobrecidos, no qual todas as pessoas do mundo possam viver a vida de filhos de Deus e irmãos uns dos outros, sentando-se na mesma mesa e alimentados do mesmo pão. Dom Helder encarnou em sua própria vida esse projeto de amor, na total e absoluta disponibilidade, unindo-se ao Filho de Deus, pelos laços mais fortes, os laços da caridade e da comunhão, que foram traduzidos na sua vida de compromisso, no sentido de que na mesa todos pudessem se sentar e em volta da mesma, partilhar o mesmo alimento, ensinando-nos que a vida, “bem certinha”, dos fariseus e doutores da lei, excluía os convidados do banquete: pobre, deserdados e pecadores, estando assim, bem distante do projeto do Pai.
Uma canção, por ocasião do centenário de nascimento de Dom Helder Câmara (1909-2009), falava assim sobre o querido artesão da paz: “o dom da paz, tu és muito mais, és um dom do céu!”. Que bela e maravilhosa afirmação! Ele foi uma obra preciosa, criada por Deus e marcada com o selo de sua graça, presente no coração do povo, com a missão de transformar vidas, consciências e de semear a bondade por toda parte.

Suas ideias e todo seu trabalho e realizações, concretizado em toda sua plenitude na vida de oração, contemplação e na sua ação pastoral, totalmente encarda na vida dos seus semelhantes, especialmente nos empobrecidos, enche-nos de esperança e nos leva crer que Dom Helder se imortalizará, jamais morrerá.
O teólogo, Padre José Comblin, com a grande sabedoria de que lhe foi peculiar, quis imprimir na nossa mente e no nosso coração a imortalidade de Dom Helder, ao afirmar: “Eu sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina, daqui a mil anos. Ele lançou sementes destinadas a produzir uma messe abundante nesta época do cristianismo que está começando agora. Suas sucessivas conversões, sinalizando de certa maneira, a futura trajetória da Igreja neste momento da história da humanidade”. Na caminhada do povo de Deus tivemos figuras exemplares, que marcaram em profundidade a história, as quais foram geniais, e por isso mesmo, exerceram uma decisiva influência sobre a nossa civilização cristã.
Gostaria de me deter um pouco sobre Martinho Lutero, que viveu entre 1483-1546. Ele foi uma dessas pessoas, que durante alguns séculos significou para a grande maioria dos católicos um rebelde, um herege, o herege por excelência, aquele que provocou, na Igreja, o cisma do Ocidente e levou, com suas heresias, muitas almas à perdição. Mas para os protestantes, pelo contrário, ele foi um “segundo Paulo”, que redescobriu o Evangelho de Nosso senhor Jesus Cristo, tirando-o de baixo da mesa e colocando-o em um lugar de destaque, em lugar bem alto e elevado.
Os protestantes acentuam a profunda religiosidade do reformador. Em 1970, chegou-se a dizer que “Lutero era mais católico do que se imaginavam...”. Estava longe dele a ideia de uma separação da Igreja. Na luta em favor do Evangelho, não só contribuiu substancialmente para a purificação da Igreja Católica, mas também para o aprofundamento das questões básicas, as da Sagrada Escritura, da fé, da consciência e da existência cristã. 

Depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), num desejo de encontrar a unidade, o bispo católico de Copenhagen (Dinamarca), Hans L. Martensen, em uma Conferência sobre “Lutero e Ecumenismo hoje”, declarou também que os “católicos reconhecem hoje que Lutero, como poucos outros, foi um teólogo genial e de grande influência na história”.
Dom Helder trabalhou incansavelmente pela unidade e foi considerado um “santo rebelde”, ao mesmo tempo ensinou que a pessoa humana é sagrada, porque ela é imagem e semelhança de Deus. O sonho carregado ao longo da vida e acalentado no seu coração foi o de colocar a criatura humana em um lugar de destaque, também num lugar bem elevado. Marcou profundamente uma época e nos deixou um grande legado e lição: a lição de que o deserto da nossa vida tem que ser fertilizado pela Palavra de Deus e que a vida está acima de tudo, que ela é mais forte do que tudo, mais forte do que a morte.

Quando no Brasil, em 1964, procuravam-se navegar nas águas e nas tempestades do regime militar, foi aí que entrou Dom Helder Câmara, o grande irmão e amigo, ensinando-nos a dizer não ao governo que se instalava, ensinando com grande sabedoria, a navegar nas águas da vida, da esperança e da liberdade – É o deserto que se torna santo, abençoado e sagrado! É essa a imagem do homem de Deus, do dom da paz, tu és muito mais, um dom do céu! Guardemos a imagem do homem de Deus e patrimônio da humanidade, que jamais morrerá, conforme seu desejo: “A imagem que gostaria que ficasse de mim é a imagem de um irmão”.





Pe. Geovane

LITURGIA DIÁRIA - IMEDIATAMENTE DEIXARAM AS REDES E O SEGUIRAM.

 
Primeira Leitura (Rm 10,9-18)
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos, 9se, com tua boca, confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. 10É crendo no coração que se alcança a justiça e é confessando a fé com a boca que se consegue a salvação. 11Pois a Escritura diz: “Todo aquele que nele crer não ficará confundido”. 12Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam. 13De fato, todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo. 14Mas, como invocá-lo, sem antes crer nele? E como crer, sem antes ter ouvido falar dele? E como ouvir, sem alguém que pregue? 15E como pregar, sem ser enviado para isso?
Assim é que está escrito: “Quão belos são os pés dos que anunciam o bem”. 16Mas nem todos obedeceram à Boa Nova. Pois Isaías diz: “Senhor, quem acreditou em nossa pregação?” 17Logo, a fé vem da pregação e a pregação se faz pela palavra de Cristo. 18Então, eu pergunto: Será que eles não ouviram? Certamente que ouviram, pois “a voz deles se espalhou por toda a terra, e as suas palavras chegaram aos confins do mundo”.

Responsório (Sl 18)
— Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.
— Seu som ressoa e se espalha em toda a terra.
— Os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento a obra de suas mãos; o dia ao dia transmite esta mensagem, a noite à noite publica esta notícia.
— Não são discursos nem frases ou palavras, nem são vozes que possam ser ouvidas; seu som ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do universo a sua voz.
 
Evangelho (Mt 4,18-22)


Naquele tempo, 18quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. 20Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu, consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles, imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram.


 Reflexão

Hoje é com alegria que nós celebramos a festa do Apóstolo Santo André. Ele nasceu em Betsaida, na Galiléia. A vocação de Santo André está narrada no Evangelho acima, que é próprio da festa dele.
O Evangelho narra Jesus chamando quatro Apóstolos: Simão Pedro, André, João de Tiago.
Como é bom ser chamado por Deus! Nós também somos chamados. Todos sem exceção, porque, se fomos criados por Deus, é porque ele tinha em mente uma vocação para nos dar.
Nós admiramos a resposta pronta dos quatro. Pronta e decidida, porque todos eles perseveraram até a morte. Chama a nossa atenção também as renuncias deles, para poderem seguir a Jesus: deixaram bens materiais como redes, barcos, deixaram a família... e ganharam cem vezes mais.
Outro detalhe importante é que todos estavam trabalhando. Deus gosta de chamar quem está trabalhando, porque vocação é trabalho. Quem não gosta de trabalhar, não vai perseverar no chamado de Deus.
Inclusive, Jesus não os tirou do trabalho; apenas mudou um pouquinho: Pedro e André estavam pescando, tornaram-se pescadores de homens. Tiago e João estavam consertando as redes, continuaram cuidando da grande rede que é a Igreja.
Santo André é citada várias vezes nos Evangelhos. Jo 6,5-12 narra que um dia havia uma grande multidão ouvindo Jesus. Como estava ficando tarde e estavam longe de qualquer povoado, Jesus perguntou a Filipe: “Onde vamos comprar pão para todo este pessoal? Filipe respondeu: Nem duzentos denários de pão bastariam para dar um pedacinho a cada um! André, irmão de Simão Pedro, disse: Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dói peixes. Mas, que é isso para tanta gente?... Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes.” Resultado: todos comeram e ainda sobraram doze cestos.
Veja a grande diferença entre as duas atitudes: a de Filipe e a de André. Filipe disse que não tinha jeito de resolver o problema; André, apesar de ver a desproporção entre o que ele tinha e o necessário, apresentou a Jesus o que ele tinha, e Jesus multiplicou. Deus gosta de multiplicar as coisas, depois que demos o primeiro passo, apresentando-lhe o pouco que temos.
Que Santo André nos ajude a imitá-lo, não só em relação a alimento, mas a tudo. É só apresentar o pouquinho que temos ou que podemos, Deus multiplica. Deus profere que o primeiro passo na solução dos problemas seja dado por nós.
Cada vez que há um problema para resolver em nossas Comunidades, aparecem as duas reações: a de Filipe, negativa, e a de André, positiva.
André apresentou a Jesus aqueles cinco pãezinhos, jogando no escuro, porque ele não sabia o que Jesus ia fazer. A fé consiste exatamente nisso: dar um passo no escuro, caminhar como se visse o invisível.
As nossas famílias, as nossas Comunidades e o nosso bairro estariam bem melhores se nós apresentássemos os nossos cinco pãezinhos. As pastorais costumam fazer isso, e maravilhas acontecem.
Diz a tradição que Santo André foi um Apósstolo zeloso e um grande pregador do Evangelho. Ele pregou em muitas regiões, e finalmente morreu crucificado na Acaia, que é um município da Grécia, localizado na fronteira do País.
Assim como chamou a Santo André, Deus nos chama a todos nós, neste tempo do advento, para darmos um passo à frente na vida cristã. Cada um de nós vai escolher o setor para dar esse passo: a família, a Comunidade, a vida na sociedade...
Havia, certa vez, um rapaz que todos os dias ia para o trabalho de trem. Em determinado lugar, o trem passava por um longo e alto viaduto, onde se podia ver o interior de alguns apartamentos de prédios localizados ao lado da avenida.
Começou a chamar a atenção do rapaz uma senhora idosa que sempre que ele passava, ela estava deitada sobre uma cama. A senhora certamente convalescia de alguma enfermidade, era o que ele pensava.
Em um domingo, o jovem resolver visitar aquela mulher. Comprou um belo presente e levou para ela. Logo ao chegar, contou-lhe que a via todos os dias pela janela do trem. Descobriu que ela morava apenas com uma neta que trabalhava durante o dia.
Para surpresa sua, na segunda-feira, quando ele passou ela estava sorrindo e acenando para ele, apesar de não o distinguir, devido à sua vista fraca.
O gesto de amor do moço deu ânimo àquela senhora e jogou mais luz na sua vida. Este rapaz teve um gesta parecido com o de Santo André, tanto ao respondeu ao chamado de Jesus, como na cena da multiplicação dos pães.

Maria Santíssima era também uma mulher de muita fé, o que a levava a tomar iniciativas. Uma cena parecida com esta da multiplicação dos pães é a das Bodas de Cana. Santa Maria e Santo André, rogai por nós.
Pe Queiroz

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SOMOS BONS OU MAUS LADRÕES.

Um antigo hino do poeta cristão Veneziano Fortunato, Vexilla regis, exalta Jesus com estas palavras: "Regnavit a ligno Deus".
Deus reina desde o madeiro. É com esta realidade que nos confrontamos na narrativa de São Lucas, no evangelho do último domingo - Solenidade de Cristo, Rei do Universo. Deus surge crucificado, mas, ao mesmo tempo, glorioso. Sua coroa são os espinhos; seu trono é a cruz; seu manto é o seu sangue. Uma imagem desafiadora: Cristo Rei e Sacerdote a se doar por inteiro na glória de sua paixão.
Que sentimento deve nos causar essa cena? Nós, supostamente católicos, que todos os dias vamos à missa, estamos conscientes de que a chave para o Reino de Deus chama-se cruz?
Duas outras imagens particulares destacam-se também no calvário. Ao lado de Cristo vemos as figuras dos malfeitores. De um lado São Dimas, o bom ladrão; do outro, o escarnecedor. Este blasfema contra o Céu e contra a Terra, exigindo de Jesus um milagre que salve a Ele e os demais. Aquele, reconhecendo a realeza do Deus que se fez vítima imolada, pede apenas o inacreditável: uma lembrança, uma lembrança e nada mais - "Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado" (Cf. Lc 23, 42).
A realidade destes dois personagens é quase que um resumo de nossa vida. Para um deles, o Reino de Cristo já se faz presente aqui na Terra; para o outro, não. Ambos vivendo a mesma tragédia, a mesma desgraça física, e somente um é capaz de experimentar já nesta vida o reinado de Cristo, ao passo que o outro vive o inferno.
Durante todo o texto que se segue, São Lucas repete as palavras "Cristo" e "Rei" quatro vezes. E é na boca dos que zombam de Jesus que o evangelista as coloca. No letreiro: "rei dos judeus". Entre os algozes: "Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!" (Cf. Lc 23, 36). E para o mau ladrão: "Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!" (Cf. Lc 23, 39).
Mais do que insultos, as palavras desses escarnecedores são preces de incrédulos: são blasfêmias. Não por acaso elas aparecem em outra ocasião na vida de Cristo, mas desta vez, nas tentações do diabo: "Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pão" (Cf. Mt 4, 3).
Bento XVI, no livro Jesus de Nazaré, lembra que "esta exigência a respeito de Deus, de Cristo e da Igreja tem sido constantemente mantida ao longo de toda a história"01. Trata-se de um materialismo piedoso. O homem, confrontado pela dor e pela cruz, exige de Deus pequenos milagres que aliviem seus sofrimentos. Ele não pensa no céu, na eternidade. Ele quer a salvação aqui e agora. Quer transformar as pedras em pães; e por isso mesmo acaba gerando pedras em vez de pães. Essa atitude, certamente, não leva ao paraíso terrestre, mas conduz ao inferno que já não está muito longe.
Em São Dimas, por outro lado, encontramos outra realidade. Reconhecendo suas falhas e a inocência do que jaz ao seu lado, pagando por um crime que não cometeu, pede apenas a recordação. Ele sabe que, no meio da tragédia em que vive, uma simples lembrança de Deus é o suficiente para apaziguar qualquer angústia e tribulação. O Pai nunca esquece de seus filhos. Com efeito, numa intimidade bastante particular, suplica ao Filho deste mesmo Pai que se recorde dele quando estiver em seu reino.
"Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso" (Cf. Lc 23, 43). É a resposta de Cristo para o bom ladrão. Com sua simplicidade, São Dimas roubou o céu. Eis o destino de todo cristão: viver antecipadamente aqui na Terra a salvação eterna por meio da docilidade para com Deus, ou então, virando as costas para o céu, praguejar contra a cruz do dia a dia, trazendo para dentro de sua casa as chamas do inferno.
De fato, resta-nos o que diz o Senhor no livro de Deuteronômio: "Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição" (Cf. Dt. 11, 26).







Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
  1. RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007.

DOUTOR EM TEOLOGIA DESTACA PONTOS-CHAVE DO NOVO DOCUMENTO DO PAPA.

 
 
No dia 24 de novembro, o Papa Francisco promulgou sua primeira Exortação Apostólica: Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), na qual recolhe o fruto das reflexões que marcaram o “Sínodo da Nova Evangelização para a transmissão da fé”, que aconteceu de 7 a 28 de outubro de 2012. Podemos considerar este o primeiro documento oficial do seu pontificado, já que a Encíclica Lumen Fidei foi escrita em conjunto com Bento XVI. De fato, nesta Exortação Apostólica, podemos sentir, em cada capítulo, as ênfases e o jeito de Francisco.

O texto chama à atenção já a partir do título que anuncia uma evangelização alegre. O Papa tem insistido que se enclausurar no individualismo leva à tristeza. Já o diálogo e a doação de si geram profunda alegria. É claro que não se trata de mera euforia sentimental.

O anúncio do Evangelho, acompanhado do testemunho de pobreza e solidariedade com os pobres, produz, no coração do evangelizador, uma "alegria teologal", ou seja, fruto do Espírito que habita dentro de cada um de nós.

Evangelizar é mais do que anunciar e convencer; é dialogar e converter-se para a fraternidade e a comunhão. Francisco insiste que para isso é necessária uma conversão pastoral e missionária de toda a Igreja, deixando de lado estruturas que já não correspondem à finalidade inicial. Fala, atrevidamente, em "conversão do papado", para aquela finalidade original que Jesus quis lhe dar. Fala também de uma "saudável descentralização", valorizando as conferências episcopais de cada país.

Um dos sinais deste Evangelho da alegria é ter "igrejas de portas abertas". O Papa insiste que os que buscam a Deus não podem encontrar igrejas de portas fechadas. De modo quase atrevido, Francisco afirma que é preciso ter portas abertas aos sacramentos, "remédios para os fracos e não prêmio para os perfeitos".

As consequências de afirmações como esta devem ser encaradas com “prudência e audácia”. A Exortação afirma ainda que as portas abertas da Igreja servem para que os cristãos saiam para as ruas e praças para dialogar com quem se afastou.

Francisco aponta algumas tentações dos agentes de pastoral: individualismo, crise de identidade, perda do fervor, pragmatismo administrativo, pessimismo estéril. Critica quem mantém um certo ar de superioridade por “ser fiel a um estilo católico do passado” ou que cultiva, de maneira ostentosa, a liturgia ou a doutrina, preocupando-se mais com o prestígio da Igreja do que com as pessoas. Chama isso de Igreja corrupta e mundana, disfarçada com roupas espirituais ou pastorais. Como vemos, não se trata de apenas mais um documento oficial da Igreja; é o coração e a mente de Francisco que migraram de suas homilias e discursos para um texto do Magistério.

Há muitos outros temas que são afrontados corajosamente na Evangelii Gaudium. Pede que se ultrapasse a “teologia de escritório” para uma teologia inculturada e comprometida com o povo. Diz que a homilia não é uma palestra nem deve ser moralista ou doutrinadora, mas fazer arder os corações. O Papa adverte para a “cultura do descartável” do nosso mundo atual. Recorda que não é possível separar evangelização de promoção humana: “Quero uma Igreja pobre para os pobres”, repete citando diversas categorias de excluídos que merecem especial atenção. O Papa fala ainda da busca insistente pela paz, pelo diálogo e superação de todo fundamentalismo.

O último capítulo fala dos “evangelizadores com o Espírito”. Esta força interior nos permite anunciar o Evangelho com audácia em todo tempo e lugar e até mesmo "contra a corrente". No final, invocando Maria como a Mãe do Evangelho, Francisco afirma que a evangelização da Igreja tem um estilo marcadamente mariano, porque, cada vez que a contemplamos, voltamos a acreditar no potencial "revolucionário da ternura e do carinho".









Padre João Carlos Almeida, mais conhecido como padre Joãozinho, scj, é sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, os Dehonianos. Doutor em Teologia e em Educação, já escreveu 35 livros com temas que vão de espiritualidade à teologia e formação de lideranças. Compositor inspirado, padre Joãozinho já produziu mais de 30 CDs. Atualmente, reside em Taubaté (SP) e é professor na Faculdade Dehoniana.

LITURGIA DIÁRIA - QUANDO VIRDES ACONTECER ESSAS COISAS...

Primeira Leitura (Dn 7,2-14)
Leitura da Profecia de Daniel.
“Eu, Daniel, 2tive uma visão durante a noite: eis que os quatro ventos do céu revolviam o vasto mar, 3e quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, emergiam do mar. 4O primeiro era semelhante a um leão, e tinha asas de águia; ainda estava olhando, quando lhe foram arrancadas as asas; ele foi erguido da terra e posto de pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem. 5Eis que surgiu outro animal, o segundo, semelhante a um urso, que estava erguido pela metade e tinha três costelas nas fauces entre os dentes; ouvia-se dizer: ‘Vamos, come mais carne’. 6Continuei a olhar, e eis que assomou outro animal, semelhante a um leopardo; tinha no dorso quatro asas de ave e havia no animal quatro cabeças. E foi-lhe dado poder. 7Depois, eu insistia em minha visão noturna, e eis que apareceu o quarto animal, terrível, estranho e extremamente forte; com suas dentuças de ferro, tudo devorava e triturava, calcando aos pés o que sobrava; era bem diferente dos outros animais que eu vi antes, e tinha dez chifres. 8Eu observava estes chifres, e eis que apontou entre eles outro chifre pequeno, e, em compensação, foram arrancados três dos primeiros chifres; e eis que neste chifre pequeno havia uns olhos como olhos de homem e uma boca que fazia ouvir uma fala muito forte. 9Eu continuava olhando até que foram postos uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa.
10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal, e os livros foram abertos. 11Eu estava olhando para o lado das palavras fortes que o mencionado chifre fazia ouvir, quando percebi que o animal tinha sido morto, e vi que seu corpo fora feito em pedaços e tinha sido entregue ao fogo para queimar; 12percebi também que aos restantes animais foi-lhes tirado o poder, sendo-lhes prolongada a vida por certo tempo.
13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.


Responsório (Dn 3,75s.)
— Louvai-o e exaltai-o, pelos séculos sem fim!
— Louvai-o e exaltai-o, pelos séculos sem fim!
— Montes e colinas, bendizei o Senhor!
— Plantas da terra, bendizei o Senhor!
— Mares e rios, bendizei o Senhor!
— Fontes e nascentes, bendizei o Senhor!
— Baleias e peixes, bendizei o Senhor!
— Pássaros do céu, bendizei o Senhor!
— Feras e rebanhos, bendizei o Senhor!
 
Evangelho (Lc 21,29-33)

Naquele tempo, 29Jesus contou-lhes uma parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores. 30Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. 31Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. 32Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração. 33O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.


Quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto.
Neste Evangelho, Jesus continua nos falando a respeito do final dos tempos.
“Essas coisas”, a que ele se refere, são os problemas sociais e cósmicos citados um pouco antes,neste mesmo discurso: guerras, mortandades, terremotos, maremotos...
Quando as folhas das árvores caem, e começam a aparecer os brotinhos das novas folhas e dos frutos, esses brotinhos são os sinais pelos quais sabemos que a primavera está chegando. Da mesma forma, aquelas calamidades são os sinais de que a nossa salvação está próxima.
Quando Jesus fala: “Tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração”, ele se refere, não ao fim do mundo, mas à queda de Jerusalém e à abertura do Evangelho e do Reino de Deus aos não judeus.
Jesus exclui toda tentativa de precisão cronológica do fim do mundo. Isso desqualifica qualquer especulação adventista nesse sentido.
A segunda vinda de Jesus será tão clara como um relâmpago, desses relâmpagos grandes que brilham de um ao outro lado do horizonte. Portanto, ninguém deve preocupar-se com isso. Naquele tempo, havia uma idéia muito generalizada de que o fim do mundo estava próximo, por isso que Jesus faz essas explicações.
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.” Essa afirmação vai além da questão de quando será o fim do mundo. A nossa esperança, baseada no Evangelho, é eterna e ultrapassa esse mundo material e provisório em que vivemos. O verdadeiro fim do mundo acontece para quem não segue a Jesus, pois está ao léu deste mundo, que tem como fruto a destruição e a morte. O cristão fiel sempre vê uma luz no fim do túnel, e essa luz chama-se ressurreição, que lhe abre as portas para o mundo novo e eternamente feliz.
Devemos andar sempre vigilantes, a fim de percebermos as vindas de Jesus ao nosso encontro, que acontece das mais diversas formas. A tecnologia tem receptores de mensagens dos mais diversos tipos. Mas, para captarmos essa mensagem, que é a vinda de Jesus, o mundo não está preparado nem nos prepara. Entretanto, é aí que reside o segredo da felicidade!
Certa vez, no século passado, um padre foi a uma Comunidade rural muito distante da sede da paróquia, para a festa de S. Sebastião, o padroeiro da Comunidade. O padre foi a cavalo.
Ele chegou à Comunidade dia 19 de janeiro de 1935. A Comunidade chama-se S. Sebastião do Formoso, que fica atualmente no município de Jaborandi – BA. O nome do padre é Oto Maria Gonçalves. Ao chegar, Pe. Oto atendeu às confissões, fez os batizados e foi descansar para, no dia seguinte, presidir a um casamento, celebrar a Missa festiva e dirigir a procissão. Mas, ao anoitecer, Pe. Oto começou a vomitar sangue. Vomitou muito sangue mesmo.
Os noivos pediram a ele que fizesse logo o casamento, pois ele podia não agüentar até o dia seguinte. Pe. Oto respondeu: “Podem ficar tranqüilos. Amanhã eu vou fazer o casamento de vocês, vou celebrar a Missa e dirigir a procissão, tudo direitinho”.
De fato, no outro dia ele se levantou, fez o casamento, rezou a Missa e dirigiu a procissão, tudo na maior alegria e festa. E naquela tarde morreu. Quantas vezes nós, porque uma unha está doendo, já não saímos de casa para levar a Eucaristia a um doente!
O Pe. Oto cumpriu a missão dele direitinho, até o fim, e Deus o apoiou na última hora.
Maria Santíssima era uma mulher vigilante, e vivia sempre preparada para o encontro com o Senhor. Santa Mãe de Deus, rogai por nós!
Quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto.
 
 

(Padre Queiroz)