quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ONDE ESTAVA DEUS NO MOMENTO DO MEU ACIDENTE? - PARTE I



Antes de responder a tal questionamento, é preciso entender que, todas as tragédias são uma realidade constante na história da humanidade, até mesmo as de ordem natural. Mas quer sejam naturais ou humanas, todas tem uma origem, e  todas geram sempre a mesma pergunta: Onde está Deus diante de tanta calamidade e porque permite tais acontecimentos?
Seria esse Deus um Deus de bondade como pregado pelo Cristianismo? Se sim, então porque há Sua permissão quando centenas de crianças perdem suas vidas por falta de alimentos na África e no resto do mundo? Que culpa estas tem para pagarem um preço tão alto?   E Quando outros milhares de pessoas são dizimados pelos tsunamis e terremotos catastróficos nas diversas partes do planeta? Quanto ainda aos que já nascem com algum tipo de deficiência física, mental ou alguma doença degenerativa? Estariam pagando pelos seus pecados ou dos seus pais?
Diante do exposto, abro ainda um parêntese para perguntar: Onde estava Deus no momento do meu acidente? Encontrar a resposta para essa pergunta, certamente ajudará a compreensão nas demais.
Se entendermos que vivemos em um mundo caído e com seres de mentalidade decaída gerada pela desobediência de seu primeiro habitante, abre-se assim, espaço para o entendimento.  A não observação,  e o não cumprimento por parte de Adão no Jardim do Éden de um único mandamento, trouxe o pecado ao mundo e como todo pecado também as suas consequências. A partir dai, desencadeou-se uma série de estruição e morte, onde ninguém está isento de uma hora ser assolado por algum tipo de tragédia, afetando ainda a ordem natural.
A dor, o sofrimento  e as aflições, o próprio jesus Cristo, o filho de Deus,  não só as experimentou, como falou da constante presença delas  na vida humana.
“No mundo haveis de ter aflições” (Jo 16,33) ¹
Tal observação, também foi atentada pelo apóstolo Paulo (o maior discípulo por excelência) em seus escritos, quando deixa-se perceber suas grandes dificuldades e agruras.
Embora tenhamos a certeza e o porquê da existência do mal na vida humana, ainda não temos a resposta desejada das perguntas iniciais. Deus está no controle de tudo, e mesmo que não aceitemos ou percebemos, nada, absolutamente nada acontece sem Sua permissão. Então por que acontecem?
Onde está Deus quando nos sobrevêm  o dia da angústia? Estaria a resposta no versículo 1 do Salmo 10? “Javé, por que ficas longe, e te escondes no tempo da angústia”? ²
O salmista, claro, encontrava-se em meio a uma situação de desespero e como tal, se sentia sozinho e abandonado além da terrível sensação de impotência. É comum diante da tribulação, sentir que Deus insiste em esconder-se demonstrando uma letárgica indiferença.
Precisaria Deus em toda Sua onipotência, esconder-se da obra de suas mãos?
O que acontece é que todas as vezes que o homem assim procede, é porque se esqueceu do grande amor que Deus tem por ele.  Fechado em sua ignorância e escravo de seu egoísmo, no momento em que a tribulação mais pesa sobre sua alma, ele não percebeu que foi o momento em que Deus mais se aproximou dele e mais o amou, vendo seu sofrimento, sua angústia, sua dor e sua falta de esperança. A superficialidade presente na vida humana, faz com que a descrença em Deus  e na Sua verdade se torne cada vez mais enfraquecida ou até mesmo que desapareça no momento da dificuldade.
Não seria tão trágico se tais fatos acontecessem somente aos ignorantes no conhecimento de Deus, mas, não é esta a leitura que se faz. Entre os que se dizem professar a fé em Deus, muitos destes acabam por negá-Lo através de suas atitudes e também  já não conseguem permanecer de pé no "dia mal".
Não seria por conta destes que Jesus teria citado o profeta Isaías?(Is 29,13)
A grande verdade nisso tudo, é que Deus, nunca e em nenhum momento seja ele qual for, abandonou a nenhum de seus filhos, os deixando-os entregues à própria sorte, como se ela existisse de fato.
Deus não livra o homem da tribulação,  mas o livra na tribulação. Não o livra do acidente, mas o livra no acidente. não o livra da dor, mas se faz presente na dor, e traz todo o Seu consolo. Pensar dessa forma, é pensar de forma correta sobre o imenso amor que Ele tem sobre cada um de nós.
Mas como encontrar ainda as respostas sobre os inquietantes questionamentos do início? É possível através de tanta dúvida e em meio a tribulação chegar à luz da verdade e do reconhecimento de Deus?

Traduçao Ave Maria¹
Edição Pastoral ²


Por
Wellington Dantas
(foto representativa pesquisada na internet, conservando o modelo do veículo e a semelhança do sinistro que foram reais)

A FORÇA DO DESERTO

  Na correria da vida, fonte de stress dos tempos modernos, é fundamental tirar momentos para outras experiências. Muitos vão para as chácaras, para sítios e lugares onde possam ter mais contato com a beleza e as riquezas contidas na natureza.

No tempo de Jesus, ir para o deserto era ficar na margem da sociedade, experimentar as condições dos leprosos que não podiam ter contato com os “puros” e com quem não tinha essa doença contagiante. Constituía um verdadeiro “tabu” para o povo.

Indo para o deserto, Cristo supera o preconceito e vai ao encontro dos leprosos, que eram intocáveis. Jesus acaba ocupando o lugar desses doentes, agindo com autoridade e compaixão. Conforme a Lei, Ele não podia tocar no leproso, mas não levou em conta isto.
A intenção de Jesus era a reintegração dos marginalizados numa atitude totalmente além da compaixão, de neutralização dos mecanismos que geram a exclusão. Ele age com verdadeira solidariedade, tendo como base o amor ao próximo.
Essa prática não tinha em vista sucesso pessoal, mas o bem das pessoas, contra as atitudes de exclusão casadas pela cultura do tempo. Era Deus, em Jesus Cristo, visitando seu povo, superando as forças do mal, vistas como obra de espírito mau.
No deserto Jesus cura um leproso. Toca nele e diz: “sê purificado”. Ele dá um sinal do Reino, da vida e da qualidade de vida. O curado não esconde sua felicidade, fazendo Jesus assumir seu lugar no deserto para ficar distante do assédio do povo.

A prática de compaixão de Jesus faz crescer a oposição das autoridades religiosas, porque Ele mostra que fazer o bem é mais importante do que seguir as exigências da Lei dos judeus. Enquanto a Lei marginaliza os “impuros”, Jesus os integra na convivência social.
Vivemos sob a lei do mercado, da competição e da exclusão. Perdemos a mística da fraternidade e partilha. Só a força do deserto, da espiritualidade será capaz de fragilizar essa lei. O mundo saudável é conforme o sonho de Deus, que deve ser conquistado por nós.



Dom Paulo Mendes Peixoto

 por
Diocese de São José do Rio Preto/SP

CAMPANHA DE HOSPEDAGEM PARA A JMV RIO 2013:FAMÍLIAS DE ACOLHIDA


Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade” (Rom 12,10.13).

Uma das etapas principais da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é a acolhida aos peregrinos que virão de todas as partes do mundo. No segundo Domingo da Quaresma, este ano dia 4 de março, será lançada nas paróquias da Arquidiocese do Rio a Campanha de Hospedagem para a Jornada Mundial da Juventude Rio2013. Para entender melhor o que é um hospedeiro e como acontecerá a campanha, entrevistamos a responsável pelo Setor de Hospedagem, irmã Graça Maria, CNSB.


Setor de Comunicação da JMJ – Como será a hospedagem dos peregrinos para a JMJ Rio2013?

Irmã Graça Maria – As hospedagens serão em casas de família, paróquias, escolas públicas e particulares, ginásios poliesportivos, casas de festas, centros comunitários e outros locais que sejam seguros e cobertos para que o peregrino possa ser alojado para pernoite.

JMJ – Qual a mensagem da campanha?

“Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade” (Rom 12, 10.13). São Paulo resume como devem ser nossas equipes de hospedagem e famílias de acolhida.

JMJ – Como uma família é impactada ao abrir sua casa para receber um peregrino?

Irmã Graça – Ao exercitar uma das obras de misericórdia: “dar pousada ao peregrino”, a família sentirá a alegria e a oportunidade de dar testemunho e vivenciar sua fé e o dinamismo dos jovens de outras cidades, países e até mesmo continentes.

JMJ – Da mesma forma, como um peregrino é afetado por essa experiência?

Irmã Graça – “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine”. O peregrino poderá experimentar essa caridade, virtude cristã, que ultrapassa todas as diferenças de cor, raça, cultura, povo e língua.

JMJ – O que é preciso para ser um hospedeiro?

Irmã Graça – Nós estamos trabalhando com “carbono zero”. Isto significa que iremos centralizar nossos cadastros pelo portal: www.rio2013.compthospedagem. Porém, sabemos que para muitos isso poderá ser um impedimento, e por esta razão estão sendo montados plantões paroquiais para atenderem estas pessoas que querem ser família de acolhida e não tem acesso à internet.

Também aqueles que quiserem oferecer seus estabelecimentos poderão entrar em contato conosco pelo email: hosped@rio2013.com, informando o endereço do local bem como nome e telefone de contato para que possamos estar agendando uma visita e fazer posterior cadastro do mesmo.

JMJ – Posso escolher quem eu quero hospedar em minha casa?

Irmã Graça – A distribuição dos peregrinos será feita por regiões linguísticas, portanto, você receberá em sua casa o peregrino de sua região linguística.

JMJ – Preciso buscar o peregrino no aeroporto para levá-lo até minha casa?

Irmã Graça – O coordenador do Setor Hospedagem enviará as informações sobre a paróquia de sua acolhida, endereço, acesso, facilitando o peregrino sobre sua chegada e acolhida.

JMJ – Para ser família de acolhida eu preciso estar o dia inteiro em casa?

Irmã Graça – O peregrino utilizará o alojamento e casas apenas para o pernoite e higiene pessoal, ficando o mesmo, durante todo o dia, em função das programações da JMJ Rio2013.

JMJ – O alojamento estará disponível durante todo o dia?

Irmã Graça – O alojamento é exclusivo para pernoite, permanecendo fechado durante o dia (refere-se a escolas, clubes, casas de festa, ou outros tipos de hospedagem que não sejam em casas de família).

JMJ – Haverá um voluntário que fale o idioma do grupo de peregrinos no local de hospedagem?

Irmã Graça – Sim. Caberá à Coordenação de Hospedagem solicitar ao Setor Voluntariado da paróquia uma equipe devidamente preparada para auxiliar os peregrinos.

JMJ – Onde me cadastrar como família de acolhida?

Em breve no portal: www.rio2013/pt/hospedagem.

Saiba mais sobre a Hospedagem no Tire suas dúvidas.


Fonte: JMJRio2013
Local:Rio de Janeiro

LITURGIA DIÁRIA - DE QUE GERAÇÃO TU ÉS?

Primeira Leitura: Jonas 3, 1-10

X SEMANA COMUM
(cor verde - ofício do dia da II semana)

Leitura da profecia de Jonas - 1A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas nestes termos: 2Vai a Nínive, a grande cidade, e faze-lhe conhecer a mensagem que te ordenei. 3Jonas pôs-se a caminho e foi a Nínive, segundo a ordem do Senhor. Nínive era, diante de Deus, uma grande cidade: eram precisos três dias para percorrê-la. 4Jonas foi pela cidade durante todo um dia, pregando: Daqui a quarenta dias Nínive será destruída. 5Os ninivitas creram (nessa mensagem) de Deus, e proclamaram um jejum, vestindo-se de sacos desde o maior até o menor. 6A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. 7Em seguida, foi publicado pela cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto: Fica proibido aos homens e aos animais, tanto do gado maior como do menor, comer o que quer que seja, assim como pastar ou beber. 8Homens e animais se cobrirão de sacos. Todos clamem a Deus, em alta voz; deixe cada um o seu mau caminho e converta-se da violência que há em suas mãos. 9Quem sabe, Deus se arrependerá, acalmará o ardor de sua cólera e deixará de nos perder! 10Diante de uma tal atitude, vendo como renunciavam aos seus maus caminhos, Deus arrependeu-se do mal que resolvera fazer-lhes, e não o executou. - Palavra do Senhor.


Salmo Responsorial(50)

REFRÃO: Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!
1. Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidão de vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado. - R.
2. Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza. De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito. - R.
3. Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis. Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar. - R.


Evangelho: Lucas 11, 29-32
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 29Afluía o povo e ele continuou: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará outro sinal senão o sinal do profeta Jonas. 30Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração. 31A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão. 32Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas. - Palavra da salvação.
catolicanet.com

Homilia - Pe Bantu

No tempo de Jesus as pessoas procuravam sinais do Messias enviado de Deus, e as autoridades pediam que Jesus realizasse um sinal que provasse que ele era de fato o Messias Mt 12,38. Segundo Lucas, Jesus recusa até mesmo apontar o sinal da ressurreição.
Ora vejam, os ninivitas se arrependeram e se converteram com a pregação de Jonas. Jesus veio como um sinal do Pai para a humanidade. Ele é maior do que Jonas e maior que Salomão que atraiu reis pela sua sabedoria. A quem Jesus chama de geração má? Será que fazemos parte dessa geração? A geração má é aquela que é constituída de uma multidão de gente que não crê na Palavra de Deus e não segue os ensinamentos de Jesus, esperando por alguma coisa que venha a acontecer e que seja visível aos seus olhos e sensível ao toque. É a geração daqueles (as) que querem um sinal para acreditar, que só vão, vendo, mas que não enxergam o que está um pouco além da mesma vidinha insignificante e sem objetivo do ter, do prazer, do poder, do divertir-se, do amealhar.

Nós achamos que fazemos parte da geração que tem Jesus como sinal, mas mesmo assim muitas vezes necessitamos de outros sinais para acreditar na força e no poder de Deus. Jesus nos abre os olhos: Os ninivitas acreditaram nas palavras de Jonas; a rainha do sul (rainha de Sabá) seguiu os conselhos de Salomão, e todos foram salvos. Eu e tu?
A quem devemos ouvir para não fazermos parte dessa geração que caminha para o mal? Convido-te a fazer uma reflexão da tua vida e pense se há alguma mensagem do Evangelho que tu não acreditas e por isso não tentas viver como Jesus ensinou? Devemos refletir ainda: tu ainda esperas algum outro sinal a não ser o sinal da Cruz?

A palavra de Deus te basta para que tu voltes atrás e te arrependas e tenhas vida nova? Tu sabes que foste assinalado com o selo do Espírito Santo de Deus? De tipo de geração tu fazes parte, boa ou má?
Escute a advertência de Jesus: a rainha de Sabá (1 Reis 10,1) e os ninivitas (Jonas 3,4-10) irão condenar os que rejeitam a Jesus.
Tome consciência! Oxalá seja diferente das autoridades. Jesus é mais sábio que o rei Salomão e muito maior do que Jonas, mas as autoridades não lhe dão ouvidos e não se convertem. Preferem continuar servindo aos seus próprios e mesquinhos interesses, em vez de se colocarem a serviço do projeto de Jesus que, através da justiça, constrói nova sociedade e nova história. Assim fazendo, as autoridades confirmam que estão contra Jesus, isto é, do lado de Satanás, que cria o reino da injustiça. Saia desta geração, desde partido converta-te para a geração dos que buscam a fase do Deus de Jacob, venha para Jesus e terás a vida em plenitude que é fruto da Justiça de Deus!


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

QUARESMA: MOMENTO PARA DESCOBRIR QUE O AMOR É POSSIVEL.

- Na Quarta-Feira de Cinzas, começaremos um período litúrgico importante da nossa fé católica: a Quaresma. O tempo da Quaresma, eminentemente penitencial, em preparação para a Páscoa, é o propício momento em que todos nós, fiéis batizados, somos convidados a intensificar a vida de oração, penitência e caridade, com realce especial para o jejum e a abstinência. Contudo, só se compreende a Quaresma através do olhar de um Deus que se encarna, morre e ressuscita por amor a cada um de nós. Isto mesmo, Deus mergulha na epopeia e tragédia da vida humana para nos resgatar das correntes do pecado e dar-nos a vida eterna.
A Quaresma está intimamente conectada com o desejo de felicidade e o infinito, latentes em cada coração humano. Sem ela não se entende o ser cristão, sem ela não se entendem os mistérios da indigência e da grandeza humana. Constata-se por muitos espaços da vida humana um mar de tristezas e frustações. A depressão, segundo dizem, é o mal de nosso século. Nunca sentimos tanta falta de infinito, e nunca estivemos tão presos ao efêmero, ao passageiro, ao transitório, aquilo que não gera relações humanas, valorizando demasiadamente o virtual e nos esquecendo do real, da dor, das misérias, da pobreza, da violência e das misérias morais que relativizam o belo, o sagrado, gerando a cultura do descartável.

O que impede o coração humano de encontrar a felicidade? Muitas são as respostas, muitos estudos são apresentados diariamente nos meios de comunicação. Buscam-se explicações psicológicas, sociais, econômicas, políticas etc. Mas, são poucos os que chegam ao fundo do problema. A verdadeira e plena felicidade só será alcançada quando passarmos pela via quaresmal, que é o caminho de purificação e penitência que nos liberta, através da graça, dos grilhões do pecado.
O pecado é o maior obstáculo. Infelizmente, estamos imersos numa cultura que o comercializa. O mais triste é que, buscando a felicidade, a humanidade parece afundar-se cada vez mais no lodo e morre sufocada pelo veneno do pecado, que destrói almas e sonhos. E é a própria sociedade que promove esse tipo de vida, se questiona acerca dos porquês dessas realidades que contaminam o orbe sem se importar com as condições econômicas ou sociais das pessoas.

A maior alienação é a incapacidade de perceber o quanto o ser humano se quebra quando se entrega ao pecado. Existe uma desintegração espiritual que se manifesta na sociedade e prolifera em estruturas. O pecado nasce pessoal e, em proporção com a matéria, gravidade e circunstâncias, gera o mal social.
O reconhecimento de nossas misérias e fraquezas diárias é o primeiro passo para o encontro profundo consigo mesmo e com Deus. O pecado é a desintegração da nossa natureza e aliena nossa vida da realidade eterna, à qual todos nós somos chamados. A penitência não é masoquismo, mas reconhecer de modo concreto e visível a nossa indigência e necessidade. Ela nos coloca no caminho do perdão, que é o resgate da unidade perdida pelo mal.

O salmo penitencial 51(50) exclama com beleza poética o drama do pecado e a recuperação do rei Davi. A primeira coisa que o pecado ataca é nossa consciência, ou seja, a capacidade de perceber e distinguir o mal e o bem. O rei Davi possui a graça de ter um grande amigo, o profeta Natã. Este, sem medo das consequências e guiado pela força do Espírito Santo, acusa Davi do seu pecado. A paz e a felicidade voltam ao rosto do rei de Israel apenas quando ele reconhece e deseja reparar o mal cometido.
O pecado nos coloca no sono mais profundo e nos impede de encontrar a paz que deve reinar em nossas vidas. Só através da paz, que nasce do encontro arrependido com Cristo misericordioso, poderemos encontrar a felicidade. Os verdadeiros amigos são aqueles que nos ajudam a despertar e a ver a realidade em toda sua complexidade, como fez Natã com Davi. Eles são capazes disso, não porque sabem mais ou são mais capacitados mas, sim, porque nos amam. Como está escrito em Eclesiástico: “O amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro”. (Eclo 6,14)
A crise de felicidade está proporcionalmente relacionada com uma crise de amizade. Poucos encontram verdadeiros amigos. Muitas vezes não sabemos ser bons amigos. Neste clima de preparação para a Jornada Mundial da Juventude no Rio, conclamo ao jovem: desperte através do encontro com Cristo, o dom da amizade. Não se pode ser cristão sozinho. Jovem evangeliza jovem. Com razão impacta, positivamente, milhões de pessoas a participação nas Jornadas Mundiais da Juventude, no encontro com Cristo juntamente com o santo padre o papa. Nessas jornadas, os jovens descobrem que a amizade já existe entre eles, pois todos possuem em comum o grande amigo Jesus Cristo, aquele que nunca nos abandona.

Dizem que hoje as pessoas não querem se relacionar, desejam apenas se “conectar”, pois é mais fácil colocar o outro em “off”. O medo em criar laços sólidos brota, em muitos casos, da incerteza do amor. O pecado apaga de nossas vidas a certeza de que é possível amar. A fragmentação de nosso ser, oriunda do pecado, nos impede de confiar no outro.
Assim, neste importante tempo de Quaresma despertemos novamente o desejo de felicidade. Purifiquemos nossas almas do pecado que obstaculiza o encontro com Cristo, amigo capaz de nos guiar com passos seguros. Como o rei Davi, peçamos a Deus piedade por nossos pecados. Não tenhamos medo de reconhecer nossas transgressões.

Deus conhece nosso ser, ama a verdade e nos ensina a sabedoria. Ele nos dá a felicidade, o júbilo e nos purifica de todas as iniquidades, fazendo-nos “mais brancos do que a neve”. Sobretudo, Deus cria em cada um de nós um coração novo, através da penitência e do perdão sacramental. A via quaresmal bem vivida despertará em nós um espírito firme e devolverá o júbilo da salvação (cf. Sal 51).
Que nesta Quaresma tenhamos a coragem de fazer uma passagem profunda de purificação do pecado para a graça, no caminho bonito do itinerário do seguimento e discipulado do Redentor!



Dom Orani João Tempesta


por
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro/RJ

DIFUNDIR A SAÚDE.


A Campanha da Fraternidade deste ano já está sensibilizando a sociedade sobre os cuidados que se devem ter com relação à saúde, precioso dom de Deus. O brasileiro trabalha cinco meses por ano para pagar impostos ao Governo e são trilhões de reais arrecadados, mas a saúde pública fica relegada a segundo plano. Como bem está no Hino da Campanha da Fraternidade: “Ah! Quanta espera, desde as frias madrugadas, / Pelo remédio para aliviar a dor! / Este é teu povo, em longas filas nas calçadas, / A mendigar pela saúde, meu Senhor!”.
Além de exigir do Governo mais atenção aos que padecem sofrimentos horrípilos e jazem na miséria, cumpre uma conscientização geral para que, por todos os meios, cada um zele pelo próprio bem-estar físico, inclusive melhorando os hábitos alimentares. Muitas vezes, porém, se esquece também que há uma correlação estreita entre a saúde, o equilíbrio interior e o bem estar. Que é, porém, a tranqüilidade de ânimo ou o sossego espiritual senão a ausência de conflitos, de paixões conscientes que afloram do inconsciente, causas primordiais de muitas perturbações? Que melhor e mais profunda eutimia pode trazer à mente que a graça santificante, ou seja, a participação na vida divina, a posse de Deus, a união com o Ser Supremo? Este é um ponto fundamental: olha tranqüilamente a vida, não te aborreças nem te preocupes, ou seja, desprende-te de teus complexos, acalma tuas iras. Íntimo e profundo é o influxo do pecado com seu cortejo de tristezas e complexos, fonte de dores e sofrimentos. 

A medicina psicossomática canta as belezas do espírito alegre na conquista da saúde. Se o trauma psíquico causa a oclusão da coronária, a neurose da angústia nas enfermidades congênitas do coração e na estenose mitral e outros males, que recurso mais eficaz, que meio mais eficiente a ser difundido do que a vivência da teologia da paz da consciência. Resguardar a saúde é, portanto, deixar de fazer uma propaganda dos preservativos que não preservam de nada e que são um incitamento ao desprezo do sexto e do nono mandamentos da Lei de Deus, aumentando os conflitos interiores. É não promover a bebida alcoólica que leva a uma vida devassa e a uma série de vícios hediondos.

Cumpre levar a mensagem do Evangelho por toda parte, acreditando no testamento de Cristo que é o preceito do amor e fazendo compreender que onde está o amor aí está Deus, conduzindo deste modo os corações à imperturbabilidade, ostentando-lhes os caminhos refulgentes de uma íntima adesão à divindade. É, deste modo que a muitos se aponta o caminho da regeneração, a mensagem da harmonia e ajuda a sarar o corpo, a vivificar o espírito. Apontar aos sofredores a ventura inefável que flui da sublime posse de Deus é auxiliá-los para que os medicamentos produzam mais rapidamente os seus efeitos, lutando sempre para que os poderes públicos zelem pela saúde de todos. Isto será possível quando houver menos corrupção que desvia verbas volumosas e impede que haja melhores hospitais e neles um atendimento digno de pessoas humanas que são tratadas tantas vezes pior que os animais que possuem clínicas especializadas, enquanto seres humanos morrem por falta de atendimento adequado até na porta dos hospitais.






Fonte: Côn José Geraldo Vidigal de Carvalho*


LITURGIA DIÁRIA - PAI NOSSO


Primeira Leitura: Isaías 55, 10-11


I SEMANA DA QUARESMA

(roxo - ofício do dia)


Leitura do livro do profeta Isaías - Isto diz o Senhor, 10Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, 11assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão. - Palavra do Senhor.




Salmo Responsorial(33)


REFRÃO: O Senhor liberta os justos de todas as angústias.

1. Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome. Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores. - R.

2. Olhai para ele a fim de vos alegrardes, e não se cobrir de vergonha o vosso rosto. Vede, este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou. - R.

3. Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores. O Senhor volta a sua face irritada contra os que fazem o mal, para apagar da terra a lembrança deles. - R.

4. Apenas clamaram os justos, o Senhor os atendeu e os livrou de todas as suas angústias. O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. - R.



Evangelho: Mateus 6, 7-15


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 7Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. 9Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; 10venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. 11O pão nosso de cada dia nos dai hoje; 12perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; 13e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. 14Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. 15Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. - Palavra da salvação.
catolicanet.com

Homilia - Pe Bantu

O tempo da Quaresma nos convida à mais profunda comunhão com Jesus em sua ousadia de viver o amor sem limites, promovendo a vida e vida em abundância.

“Escolha, pois a vida” (Dt 30,19). É o tema da Campanha da Fraternidade. Começo por dizer que o maior bem do ser humano, é a Vida. É a partir desse dom de Deus concedido ao ser humano, que o homem pode desenvolver suas capacidades e, sobretudo a de amar.

O amor comunica vida e liberta. Contudo suscita a repressão dos poderosos que se beneficiam da exploração dos oprimidos e empobrecidos. Doar-se no amor supõe mudança de vida e abandonar os esquemas de segurança e defesa oferecidos por este mundo, lançando-nos, em oração, nos braços do Pai. É neste âmbito que surge a Oração do Pai Nosso que Jesus ensina aos seus discípulos: quando rezardes dizei, Pai Nosso...( Mt 6,7-15 ).

A oração cristã consiste em estabelecer uma relação amorosa com Deus. Uma relação de amor dá-se num contexto de confiança, de transparência, de profundidade. Nem sempre o ser humano é capaz disto, quando se trata de relacionar-se com Deus, na oração. É comum a tentação de querer argumentar com ele, de transformá-lo em depósito de reclamações, lamúrias e de considerá-lo solução para todas as pendências humanas.

Jesus denunciou certas tendências erradas no tocante à oração e indicou uma pista para fazê-la de maneira consistente. A oração é um diálogo com o Pai, que não se coloca na mesma altura do orante: Ele é santo e está no céu, embora esteja muito perto de quem reza. Diante dele, exige-se uma atitude de reverência e humildade.

O anseio fundamental de quem reza deve ser de que o Reino do Pai aconteça na história humana e todas as pessoas se submetam a seu projeto. Por outro lado, ele sabe que tudo tem sua origem no Pai, inclusive o pão de cada dia, considerado fruto da preocupação paterna e materna de Deus pelo ser humano.

Na oração, não vamos nos deter na multiplicidade de nossas necessidades. Em atitude filial diante do Pai, comprometemo-nos em testemunhar seu amor, em nos engajarmos com a instauração de seu Reino, dóceis à sua vontade. Embora frágeis, temos a iniciativa pessoal de perdoar, o que nos habilita a pedir o perdão. Mas, nesta mesma fragilidade, necessitamos de pedir a ajuda para vencer as provações (tentações) e pedir o afastamento do maligno. Pela oração fazemos nossas as opções de Jesus nas tentações logo após seu batismo.

O suplicante também tem consciência da paciência do Pai com suas fragilidades e pecados. Pois, o Pai está sempre disposto a perdoar e a confiar na sinceridade do arrependimento do pecador. Em contrapartida, este reconhece a importância de perdoar a fragilidade e o pecado de seu semelhante. Enfim, o grande desejo do orante é não se deixar levar pela maldade que o afasta do Pai e o leva a prescindir dele.

Senhor Jesus, coloca sempre em meus lábios orações que me abram para o Pai e, também, para o mundo que me rodeia para que a cada dia se realize a vossa vontade: que todos tenham vida e a tenham em abundância.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O SOL DO MEIO DIA.

O Salmo 23 (ou, pela numeração da septuaginta, o salmo 22), talvez o mais belo dos Salmos, revela a promessa de uma vida plena e perfeita, por isso atrai a atenção de muitas pessoas, o que o torna um dos mais conhecidos até mesmo por aqueles que não crêem.
É bastante comum vê-lo como nome de fantasia em alguns comércios ( Oficina Salmo 23, panificadora Salmo 23 e etc.), Para-brisas de carros e para-choques de caminhões, como também não é incomum encontrar nas estantes das casas, Bíblias abertas com a página deste Salmo, em sua maioria até empoeiradas pelo desuso. Versículo impresso e exposto em quadros nas paredes da sala de entrada de muitos lares também não é algo raro. Não se questiona a citação desse salmo ou que seja de outro, mas a profundidade da confiança daqueles que o expõe.  
É um Salmo de confiança, descrito por alguém que conhece verdadeiramente o seu Pastor. Assim, por confiar, busca nesse Pastor seus cuidados e sua proteção. A partir dessa confiança, é possível contemplar os pastos verdejantes, as águas tranquilas, uma alma refrigerada, um cajado que consola, uma mesa preparada na presença de inimigos, um cálice transbordante, bondade e misericórdia.
 A confiança é a diferença entre o que pode ser a sua vitória ou o seu fracasso. 
Conhecer o Pastor é a certeza de uma vida plena. “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará”. Pra que nada falte, é preciso reconhecer o Senhor como seu pastor. O salmo evidencia exatamente todo esse cuidado de Deus por aqueles que Nele confiam. 
Reconhecer o Pastor é reconhecerem-se ovelhas, e como tal, entender que se vive peregrinando pelas veredas deste mundo sombrio e por serem fracas e limitadas, dependem totalmente do seu Pastor. 
Está com o vento a favor, com as correntes favoráveis, a beleza do texto fica exposta e provoca a euforia de publicá-los das mais variadas formas e até ler para quem ainda não os conhece. Mas até que ponto estes eufóricos reconhece o pastor?
Muitas ovelhas acreditam viver  uma vida, em que atestam conhecer o pastor descrito pelo salmista, mas ainda não tiveram a oportunidade de cruzar o seu vale tenebroso. 
Olhar a beleza do salmo por ângulo oposto,  se torna possível quando menos se espera, quando menos se espera, a ovelha encontra-se tomada e lançada dentro do “vale das sombras da morte”. O vale é imprevisível. É o “dia mal” descrito por Paulo na Carta aos Efésios. 
É a tão temível “noite escura”. A abertura para a perca das três virtudes teologais. O declínio da fé, o desvio de uma rota. O amor resfria e a esperança, se dissipa como a gota de orvalho após a chuva.
Porta de entrada para a segunda morte. (destino daqueles que não tiverem seus nomes inclusos no livro da vida. Ap 20,11-15). Momento que a luz da verdade começa a ser ofuscada, perdendo seu brilho e sua intensidade, tornando o homem vulnerável, fraco e cego não enxergando mais essa verdade que o levaria as promessas descritas no salmo. A mente entra em colapso e sofre um eclipse total. 
Ser envolto pelo vale das sombras, é ser dominado pela dor, pelo medo, insegurança, sofrimento, desespero e perda total da confiança no pastor. É o vale da sombra da morte ou vale tenebroso conforme algumas traduções, que envolve por completo. 
O ainda pastor de rebanhos e autor do texto Davi, por várias vezes cruzou por esse vale com seu rebanho. O vale realmente existe em Israel. É um desfiladeiro íngreme, estreito e profundo, fonte de sua inspiração para descrever as agruras que sobrevêm ao homem, mas também, de uma vida plena quando se lança sem medos nos braços do Pastor.  
Josué menciona o “vale da calamidade”. Por Oséias, “vale da aflição”. “Vale das lágrimas” pelo Salmo 84. A verdade é que, uma vez que se encontre dentro desse vale, só restará escuridão, medo e desespero. O vale da sombra, é o momento de maior aflição vivenciada pelo homem. Pode está na descoberta de uma doença grave, do desequilíbrio de uma família, na dor da perda ou ainda no desvio dos retos caminhos do Senhor.  
Um momento difícil, deveras complicado, pois há o  desejo de gritar por Deus, clamar por sua misericórdia , quando Este parece não ouvi-lo, e mesmo diante do seu esforço, nada parece acontecer, então inicia o esfriamento, a incerteza do quanto você vale para Deus, e consequentemente o desânimo. Manifesta-se assim, o terrível sentimento de abandono.  
Sozinho e sem esperança, nada mais resta se não entregar-se aos desejos mais sórdidos ou em algumas mentes menos resistentes, até à morte.  
O desejo de cada vez aprofundar-se na escuridão, somado aos mais variados tipos de tentações todas com muita intensidade, pode ser conclusivo para crer que sua morada será o próprio vale, recebendo o passaporte para a segunda morte (de onde não há ressurreição Ap 20,14) .  
Já não existem forças para lutar ou gritar sabendo que não será ouvido, Jaz agora um vale de conflitos e de aflições. É morte que nos faz sombra. É o terror do lugar que nos infunde e nos consome, é o aniquilamento.

Diante de tanta desesperança, para o autor sempre existirá a certeza da confiança. Por mais concreto que seja o impossível, ainda assim, ele se mantém firme, e mesmo sem ser ouvido seu grito é constante e cada vez mais intenso, pois sempre acredita que uma hora o será. É a confiança. Acreditar sempre é imperativo para se vencer. Em outro “salmo, Davi expressa o “gritar” como forma de mover o céu: “ Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seus ouvidos”*.
Não se pode esquecer também dos gritos intensos e audaciosos do cego por Jesus, quando todos os madavam que se calasse.
Em muitas situações, gritar pelo Pastor, é reconhecê-lo como seu Salvador. Aquele que o protege e o guarda em meios a todas as aflições presente no mundo.
E quando nada acontece? Pelo menos aparentemente, ou melhor, até acontecem, as coisas só pioram após o grito. Tudo parece ser contrário. Onde está a confiança e a esperança no Deus da misericórdia, da benevolência?
A esperança não é algo que se compra ou que se pega. Mas é sim, algo que se pode antecipar. Ter esperança é ter fé. Ter fé é a certeza da vitória antes que esta aconteça. (Hb 11,1) 
Uma coisa é certa, as ovelhas conduzidas por Davi, apenas passavam por esse vale das sombras, não permaneciam. O vale é temporário, não é um posto de permanência. Assim como a dor, o medo, o sofrimento, a angústia, o desvio.  
“O choro pode durar a noite inteira, mas a alegria vem ao amanhecer”. Sl 30,5

Se não há esperança, esse tempo (se curto ou longo) no vale poderá ser suficiente para a ruina completa. Mas estando ela presente, então resplandecerá como o eterno sinal do amor de Deus.
"Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação" II Corintios 4,17

Quando tudo parecer  perdido, em meio a tanta dor e sofrimento, lembra-te do restante do versículo: “nenhum mal temerei pois junto a mim estais”.  
Dentre as muitas frases de Aiden Wilson Tozer(pastor do séc. 18), uma se faz oportuno.

"para fazer em nós a suprema obra de sua graça, Deus vai tirar do nosso coração tudo aquilo que mais amamos. Tudo aquilo que nos leva a confiarmos em nós mesmos. Cinzas amontoadas jazerão onde nossos tesouros mais preciosos costumavam estar".  
Toda tribulação traz em si seu grande ensinamento e a edificação espiritual, tornando o homem mais completo nesse processo de aprendizado contínuo.  
Existe um desígnio de Deus em tudo que acontece ao homem. Mesmo que seja contrário à Sua vontade, mesmo que viva e faça parte desse vale de lágrimas, mesmo que seja uma vida arbitrária, mas em tudo há sua permissão. Permite, pois sabe que deste grande mal ele pode tirar um bem infinitamente maior. 
A ovelha sobrevive em um mundo cão. Um mundo de espinhos e dardos inflamados pelo demônio. Um mundo de guerras injustificadas, de fome, de violência e de morte. Um mundo de um amor que passa por um resfriamento constante. Um mundo que vive seu vale da sombra, sua apostasia. 
Quem poderá subsistir? Quem poderá permanecer de pé?
Um fator importante e que também não pode ser esquecido pela leitura do salmo, é que, o vale existente em Israel, somente recebe a luz do sol em sua base, quando este atinge o meio dia. É quando a luz excede por completo ao vale atingindo seu interior. 
É nesse momento que se pode fazer do vale, seu grande testemunho. É quando se deve crer que mesmo em meio a sensação de abandono, mesmo entregue a mais densa escuridão, existe um fio de esperança. E lemos: “pois junto a mim estais”. E recordamos o profeta que diz: "Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti" Isaías 43,2 
Deus nunca abandonou o homem diante de suas misérias, seja qual for o seu pecado. Aquela sensação de impotência cominada com o sentimento de solidão era tão somente conflitos gerados por uma mente desesperada . Uma mente alicerçada sem a firmeza de uma base rochosa, sinônimo de uma fé enfraquecida.
Viver a fé em Jesus Cristo único e verdadeiro Pastor quando tudo está bem, pode levar a pessoa a viver uma fé enganada. O louvor, a oração, a adoração podem ser somente superficial. A ausência do fervor, da dedicação e doação ao serviço, pode ser sinal da existência de uma fé limitada. 
Seja qual for o vale pelo qual passe ou venha a passar, não se está sozinho na travessia. Mesmo que se sinta no mais completo abandono, mesmo que tenha sido objeto de escárnio por três ou quatro línguas puritanas escondidas por trás das paredes de concreto de sua congregação religiosa e que, reunidos atraem sobre si, o peso do seu próprio julgamento, mesmo que pra onde olhe não veja saída porque só enxerga sombras, lembre-se de olhar pra cima, espere o sol do meio dia, e a luz da verdade que um dia brilhou dentro de si, resplandecerá com maior intensidade que antes, deixando confundidos todos os ensimesmados que se vangloriam por ainda acreditarem que o suficiente é permanecer escondido entre as paredes e performances exteriorizadas do seu movimento religioso, falando do evangelho que os aproximam somente pelos lábios, mas que seus corações voltam-se precisos na emissão de juízos, pois desconheceram a definição de amar.
Lembrem-se, somente aquele que provou o mais profundo dos abismos, vivenciando uma angústia que nos torna incapazes para descrevê-la, pode nos ensinar que a sua profundeza abismal e limitada experienciado no Getsêmani, foi maior  do que a sua e a minha.
Algum insano pode dizer: “ah, mas ele era Deus e não homem”. Não, toda sua agonia foi suportada como homem e não como Deus. Em contrário, Ele teria chamado legiões de anjos para batalhar em seu favor.
Jesus experimentou o mais profundo da angústia e da aflição, mas as a suportou até o fim.
Que sirva para todas as ovelhas em seus momentos de vale das sombras, olhar para a cruz, e encontrar a consolação.

“De fato, por ter ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados”.(Hb 18,2)


*citações Bíblia da Ave Maria

Por
Wellington Dantas (Matéria adaptada, publicada em 15.06.11 no semeandorccpdf.blogspot.com)

DEUS HABITA NA ALMA QUE ESTÁ EM GRAÇA.



Há um efeito da graça santificante que excede infinitamente a própria graça: a inabitação da Santíssima Trindade na alma do justo.

É uma das verdades mais claramente manifestas no Novo Testamento:
"Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e nele faremos nossa morada"(Jo 14,23).
"Deus é caridade, e o que vive em caridade permanece em Deus, e Deus nele" (1 Jo,4,16).
"Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós"(1 Cor3,16-17).
Como se vê, a Sagrada Escritura emprega várias fórmulas para exprimir a mesma verdade: Deus habita na alma que está em graça. Essa inabitação é atribuída ao Espírito Santo que é o Amor essencial no seio da Santíssima Trindade.
Com muita clareza o grande teólogo Pe. Antonio Royo Marín, OP, resume a essência dessa inabitação da Santíssima Trindade na alma do justo: "No cristão, a inabitação equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, se bem que não seja ela, mas sim a graça santificante, a que nos constitui formalmente filhos adotivos de Deus. A graça santificante penetra e embebe formalmente nossa alma, divinizando-a. Mas a divina inabitação é como a encarnação em nossas almas do absolutamente divino: do próprio ser de Deus tal como é em si mesmo, uno em essência e trino em pessoas"(Fr. Antônio Royo Marín OP, Somos hijos de Dios, BAC, Madrid, 1977, p. 48).

Para compreender a divina inabitação na alma, assinalaremos as diversas formas de presenças de Deus:
1. Presença pessoal ou Hipostática
É própria e exclusiva de Jesus Cristo enquanto homem. N'Ele a pessoa divina do Verbo não reside como em um templo, mas constitui sua própria personalidade. Apesar de existir n'Ele duas naturezas, a divina e a humana, Nosso Senhor Jesus Cristo possui uma só personalidade: a divina.
2. Presença Eucarística
"No augusto Sacramento da Santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, está presente verdadeira, real e substancialmente, sob a aparência destas realidades sensíveis" (DS 1651).
O ubi eucarístico afetando de modo direto e imediato o corpo de Cristo, afeta também as três Pessoas da Santíssima Trindade: o Verbo, por sua união pessoal com a humanidade de Cristo, e o Pai e o Espírito Santo, em virtude da divina circunsessão ou presença mútua das três divinas Pessoas entre Si, que as faz absolutamente inseparáveis.
3. Presença da visão
Deus está presente em todas as partes por essência, presença e potência, mas não Se deixa ver. No Céu, com a visão beatífica pode considerar-se como presença especial de Deus, distinta das demais, porque Deus deixa-Se ver.
4. Presença de imensidade
Deus está realmente presente em todas as partes e em todas as coisas. Não existe um lugar ou criatura onde Deus não Se encontra, mesmo tratando-se de uma pedra ou até um demônio. Ele poderá estar presente por essência (dando o ser), por presença (permanecendo sempre ante seu divino olhar) e por potência (submetendo inteiramente a seu divino poder).
5. Presença de inabitação
É a presença íntima de Deus, uno e trino, como Pai e Amigo, na alma justificada pela graça.
Qual a diferença entre a presença de inabitação e a presença de imensidade?
Antes de tudo, a presença especial de inabitação pressupõe a presença geral de imensidade, sem a qual aquela não seria possível. Entretanto, é acrescentado a esta presença de imensidade duas coisas fundamentais: a paternidade e a amizade divinas. A primeira decorrente da graça santificante; a segunda, da caridade sobrenatural.
a) A Paternidade
Não se pode dizer que Deus seja Pai das criaturas na ordem puramente natural. Embora todas tenham saído de suas mãos criadoras - se bem que para a criação dos seres vivos, Deus tenha se servido de outras criaturas, como instrumento - Deus torna-Se Autor ou Criador mas não Pai. O artista que esculpir uma estátua em um tronco de madeira será o autor da estátua, mas de modo nenhum será o pai da estátua. Para ser pai é preciso transmitir a própria vida, isto é, a própria natureza específica a outro ser vivente da mesma espécie.
Para Deus ser nosso Pai, além de Criador, era preciso que nos transmitisse sua própria natureza divina em toda a sua plenitude (como em Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus por natureza) ou, ao menos, uma participação real ou verdadeira da mesma (é o caso da alma justificada).
Em virtude da graça santificante, que nos dá uma participação misteriosa, mas muito real e verdadeira, da natureza divina (cfr. 2 Pe1,4), a alma justificada se faz verdadeiramente filha de Deus por uma adoção intrínseca muito superior às adoções humanas, puramente jurídicas e extrínsecas. E a partir deste momento, Deus, que já residia na alma por presença geral de imensidade, começa a estar nela como Pai e a olhá-la como sua verdadeira filha.
A presença de imensidade é comum a tudo quanto existe; a de inabitação, porém, é própria e exclusiva dos filhos de Deus. Supõe sempre a graça santificante, não podendo dar-se sem ela .
b) A Amizade
Juntamente com a graça santificante é infundida na alma a caridade sobrenatural. Esta estabelece uma verdadeira e mútua amizade entre Deus e os homens: é sua própria essência. Deus começa a estar nela não só como Autor, mas também como verdadeiro Amigo.
Portanto, a presença íntima de Deus, uno e trino, como Pai e Amigo, constitui a própria essência da inabitação da Santíssima Trindade na alma justificada pela graça santificante e pela caridade sobrenatural.


por
GaudiumPress